Os Céticos

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Os céticos, às vezes, sentem um prazer ladino diante da estupidez massa. Normalmente, o cético sincero é um humilde. Mas a humildade intelectual deteriora-se facilmente em soberba – o cético torna-se um i Sócrates foi humilssimo. Mas também me!alomanaco. " es#uizofrenia do é fen$meno de f%cil percep&'o – um sorriso malicioso ou certo estreitam olhos, como se a vis'o, de repente, turvasse. ( inevit%vel) o cético, d involunt%ria, e*pressa sua perple*idade. + ertas vezes, ele precisa mos % #ual#uer coisa de sadismo em todo o processo. +/ maso#uismo, pois o é um animal #ue carre!a a culpa do mundo na consci0ncia. / eu n'o con evitar o estreitamento de meus pobres olhos cansados ao ler esta matéri /stad'o. Os 1ladiadores s'o uma espécie de milcia de coroinhas. O e*ército 2!re3a 4niversal ostenta todos os tra&os da ima!ina&'o totalit%ria) a m profano e do divino, discurso e disciplina bélicos articulados à fé ce! concreta e barulhenta de como é f%cil usar a reli!i'o para fundamentar for&a bruta. /is a a de!enera&'o mental #ue o discurso reli!ioso e*tre capaz de produzir na cabe&a pastosa da 3uventude. " dem0ncia dos 1ladiadores vem bem a calhar. Numa época em #ue se acusa o islamismo de ser uma reli!i'o essencialmente m%, subtrai-se a v he!em$nica do discurso reli!ioso em !eral. 6ual#uer reli!i'o pode ser instrumentalizada para le!itimar a barb%rie. O islamismo n'o é essencia mau. omo #ual#uer outra mitolo!ia, ele pode ser interpretado promover massacres. " reli!i'o, en#uanto forma de pensar totalit%ria, p bem a isso. 7oda reli!i'o ostenta, em al!um lu!ar, a mancha de san!ue h N'o é apenas o 2sl' #ue estimula o radicalismo. ( a reli!i'o. 6uando se membro de uma seita, h% apenas duas posi&8es antpodas a se ocupar) ou ovelha ou a de lobo. No vdeo h% as ovelhas, aplaudindo, e os lobos, ma 9acilmente trocam-se as posi&8es. Os soldadinhos da 2!re3a 4niversal n'o ostentam armas. N'o ostenta por#ue n'o é permitido le!almente. Mas a ló!ica #ue os move é a mesma # motiva a a&'o de !rupos radicais isl:micos. 9ormam ;las e berram palavr ordem como se levassem embai*o do bra&o a baionetadivina. /st'o e*citadssimos para cuspir a palavra de <eus na lin!ua!em irre pólvora. " militariza&'o da reli!i'o é fen$meno conhecido de #ual#uer um #u tenha debru&ado um pouco sobre a história. Nada h% de novo sob o sol. S #uer motivar soldados, d0 a eles uma ideia besta #ual#uer. /m seu nome, matar'o e morrer'o. 6ual#uer mitolo!ia serve)mar*ismo, nacionalismo, racismo, cristianismo, islamismo. 5recisa ser um discurso totali respostas a todas as #uest8es e #ue aponte um sentido =nico para a vida seres humanos s'o famintos por smbolos #ue reduzam a comple*i mundo e #ue fa&am a e*ist0ncia ter uma dire&'o certa. /, numa época sed por mitos, é ainda mais f%cil en!anar a humanidade trou*a. 7udo isso o cético 3% sabe. O cético sabe #ue a história é uma su erros e #ue os perodos de paz antecedem a turbul0ncia. O si!no sob o # vive é o da cat%strofe. edo ou tarde, as luzes apa!ar-se-'o e a rua, n

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Uma reflexão a respeito do ceticismo enquanto forma de vida

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Os cticos, s vezes, sentem um prazer ladino diante da estupidez da massa. Normalmente, o ctico sincero um humilde. Mas a humildade intelectual deteriora-se facilmente em soberba o ctico torna-se um insolente. Scrates foi humilssimo. Mas tambm megalomanaco. A esquizofrenia do ctico fenmeno de fcil percepo um sorriso malicioso ou certo estreitamento dos olhos, como se a viso, de repente, turvasse. inevitvel: o ctico, de forma involuntria, expressa sua perplexidade. (Certas vezes, ele precisa mostr-la.) H qualquer coisa de sadismo em todo o processo. (E masoquismo, pois o ctico um animal que carrega a culpa do mundo na conscincia.) E eu no consegui evitar o estreitamento de meus pobres olhos cansados ao ler esta matria do Estado.Os Gladiadores so uma espcie de milcia de coroinhas. O exrcito da Igreja Universal ostenta todos os traos da imaginao totalitria: a mescla do profano e do divino, discurso e disciplina blicos articulados f cega. Prova concreta e barulhenta de como fcil usar a religio para fundamentar o uso da fora bruta. Eis a a degenerao mental que o discurso religioso extremista capaz de produzir na cabea pastosa da juventude.A demncia dos Gladiadores vem bem a calhar. Numa poca em que se acusa o islamismo de ser uma religio essencialmente m, subtrai-se a vocao hegemnica do discurso religioso em geral. Qualquer religio pode ser instrumentalizada para legitimar a barbrie. O islamismo no essencialmente mau. Como qualquer outra mitologia, ele pode ser interpretado de forma a promover massacres. A religio, enquanto forma de pensar totalitria, presta-se bem a isso. Toda religio ostenta, em algum lugar, a mancha de sangue humano. No apenas o Isl que estimula o radicalismo. a religio. Quando se membro de uma seita, h apenas duas posies antpodas a se ocupar: ou a de ovelha ou a de lobo. No vdeo h as ovelhas, aplaudindo, e os lobos, marchando. Facilmente trocam-se as posies.Os soldadinhos da Igreja Universal no ostentam armas. No ostentam porque no permitido legalmente. Mas a lgica que os move a mesma que motiva a ao de grupos radicais islmicos. Formam filas e berram palavras de ordem como se levassem embaixo do brao a baioneta divina. Esto excitadssimos para cuspir a palavra de Deus na linguagem irrecusvel da plvora. A militarizao da religio fenmeno conhecido de qualquer um que se tenha debruado um pouco sobre a histria. Nada h de novo sob o sol. Se voc quer motivar soldados, d a eles uma ideia besta qualquer. Em seu nome, mataro e morrero. Qualquer mitologia serve: marxismo, nacionalismo, racismo, cristianismo, islamismo. Precisa ser um discurso totalitrio, que d respostas a todas as questes e que aponte um sentido nico para a vida. Os seres humanos so famintos por smbolos que reduzam a complexidade do mundo e que faam a existncia ter uma direo certa. E, numa poca sedenta por mitos, ainda mais fcil enganar a humanidade trouxa. Tudo isso o ctico j sabe. O ctico sabe que a histria uma sucesso de erros e que os perodos de paz antecedem a turbulncia. O signo sob o qual ele vive o da catstrofe. Cedo ou tarde, as luzes apagar-se-o e a rua, na qual anda s, mergulhar em escurido. Ele sabe que em toda ovelha h uma besta carnvora, cuja saciedade s se d com carne infiel.O ctico uma criatura condenada, portanto. O ceticismo, como eu o entendo, no apenas uma postura epistemolgica, isto , relacionada cincia. Fala-se que ctico o sujeito que precisa ver para crer. Ou que a cincia ctica, pois necessita sustentao emprica. O ceticismo pode, no entanto, ser uma filosofia de vida. O ctico verdadeiro metafisicamente ctico. No como So Tom, a quem bastou enfiar o dedo nas chagas de Cristo para se fanatizar. O verdadeiro ctico um So Tom que, aps ter conspurcado a ferida divina, permanece incrdulo. um So Tom de mau humor, castigado por uma descrena transcendental. O egosmo cobra caro. A solido, companheira permanente do ctico, sua sombra, tambm cnica. Mas, entretanto, recompensa seus abjetos servos: s vezes com um sorriso malicioso, s vezes com olhos oblquos de desprezo.