Os burros bem arreados

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A S fortalezas dos governan- tes no poder estão iguais a castelos de contos de fadas es- corados por pilastras rachadas ao excesso de peso no telhado empenado pelas goteiras do desdouro e ao acúmulo máxi- mo dos remendos nas paredes fendidas na base sobre as lajes trincadas dos porões infiltra- dos pela umidade do indeco- roso. O teto está vindo abaixo no cimo dos aposentos rendo- sos nas ilicitudes luxuosas. Olhado de fora, tudo treme frá- gil no sólido em tudo que pare- ce firme. Mas a festa dos insen- satos continua animada no re- quinte dos salões decorados para as solenidades em noites de suas condecorações insig- nes comemoradas em dias de seus velórios políticos. O Brasil rasgou no meio a sua história de República ao escrever o parlamentarismo e o presidencialismo em con- cubinato do casuísmo enxer- tado na Carta Magna. O povo brasileiro perdeu a cidadania de poder decidir para a auto- nomia no dever de obedecer. Estamos em uma colônia ci- vilizada pela burocracia de burocratas montados nos cargos públicos e cujos diplo- mas paramenta-os à imagem de burros bem arreados. A Nação anda para trás nas leis sem justiça. O Estatuto do Desarmamento armou os in- divíduos marginais e desar- mou os cidadãos ordeiros. O Estatuto da Infância e do Ado- lescente dificultou o emprego para menores de idade nas empresas e facilitou o trabalho informal para crianças a servi- ço do crime. O Estatuto dos Di- reitos Humanos é desvirtuado em benefício dos sem razão ao direito e sem preceito humano nas barbáries sem atenuantes nas atrocidades. O País tropeça parado no Es- tado de Direito refém do Esta- do Paralelo dos bandidos dan- do ordens a autoridades e im- pondo a vigência das normas da criminalidade atapetada nos gabinetes oficiais ao for- mato da clandestinidade eriça- da no estrado das vias públicas. A tendência no consenso coletivo é todos responsa- bilizarem a outros pelas inde- cências morais que são culpas de cada pessoa omissa na so- ciedade. Não há como se ne- gar, com honestidade, que os exemplos da safadeza vêm de grupos no alto das elites do- minantes para os redutos quedados nos baixios das ple- bes inconformadas. O elo de ligadura da cumpli- cidade na diversidade das ano- malias comportamentais dos segmentos humanos é incon- testável. Os assaltos dos juros bancários modelaram o figuri- no dos assaltantes de caixas eletrônicos. Os grupos de exter- mínio das polícias Militar e Ci- vil formataram o estilo dos gru- pos de extermínio da bandida- gem nas execuções de morte a policiais. O aviltamento nas di- ferenças de preços dos veículos nas lojas das concessionárias referenda a rapinagem dos car- ros roubados à encomenda, a preços de pechinchas, das ca- sas de desmanche. A liberdade condicional dos facínoras co- muns e reincidentes na me- liança retrata os larápios im- portantes e intocáveis nas rein- cidências da impunidade. A la- droagem das castas nobres nas vivendas do poder público ori- ginou a roubação das orbes pe- riféricas na órbita dos casebres. A Pátria mancomunou-se no consentimento dos repas- ses das corrupções aos tufos e às migalhas em todo o territó- rio nacional. Inoculou-se no inconsciente coletivo a psiquê do amedrontamento tácito na gente brasileira. Paira no ar o receio de vinditas dos malfei- tores e paralisa as consciên- cias na mentalidade de se vi- ver em salvo a quaisquer cus- tos da sanha dos embruteci- dos no mercenarismo. O ambiente é preocupante. O Estado de Direito está de- sorganizado nos governos im- potentes na repressão ao Estado Paralelo do crime organizado. A preocupação é geral. Mas não adianta ficar jogando pe- dras nos que estão lá no alto, porque elas sempre caem nos que estão cá embaixo. Nem se resolve a situação das pendên- cias desonrosas com soluções por decretos fundamentados em teorias, porque são revoga- dos pelo realismo das práticas. A apreensão está insuportá- vel. A polícia age intimidada no bojo de ações movidas pelo Ministério Público. Os bandi- dos atuam estimulados nas pencas de alvarás judiciais de soltura. As famílias vivem in- tranquilas com a falta de segu- rança em toda parte. Mais prio- ritária que a emergência da construção de obras físicas é a primazia da urgência de se re- construir o moral no Brasil. Passa da hora de as chefias das autoridades conclamarem as figuras notáveis dos centros de decisões na sociedade para a formação de um Conselho de Civilidade municiado de ideias criativas da paz e voz altiva para ressaltar o clamor das maiorias silenciosas e esvaziar as exalta- ções das minorias barulhentas. O desassossego decorrente da falta de garantias de vida é generalizado em todas as esfe- ras da globalidade no universo humano. Percebe-se a crescen- te fermentação da doutrina da revolta propagando a eclosão social precedente à insubordi- nação popular que traz os rasti- lhos que, se não forem apaga- dos a tempo, vão acendendo, de faíscas a faíscas deslocadas pelo sopro dos ventos das mu- danças à chama que gera os in- cêndios das guerras civis. O clima político está propí- cio. Estrelas políticas com luz forte nas abóbodas do poder central em Brasília, atraídas pe- la gravidade das constelações do Supremo, vagam desgover- nadas às vésperas de serem en- golidas pelo buraco negro no cosmos do mensalão. Há uma espiral em movimento de lide- ranças reduzidas a mitos extin- tos em seu recente inferno as- tral nas urnas eleitorais. Existe um contingente de oficiais com laços de influência nas caser- nas, conspirando contra a Co- missão da Verdade que apura os crimes vestidos de farda na ditadura militar. A Pátria está molhada na Cachoeira que continua esborrifando a sua água na Praça dos Três Poderes e escorre para os leitos dos bas- tidores governamentais e se empoça nas administrações estaduais e municipais. O Estado de Direito manda, o Estado Paralelo desman- da. O Estado Paralelo desobe- dece, o Estado de Direito obe- dece. O Estado Paralelo tem to- das as escapadas dos motins da corrupção, o Estado de Direito não tem nenhuma saída do cerco dos corruptos. A única condição igualitária é que o Es- tado de Direito tem associados no Estado Paralelo e o Estado Paralelo tem parceiros no Esta- do de Direito. E no contraditó- rio dos feitos, o que o Estado de Direito faz, o Estado Paralelo desfaz. É o armistício no concí- lio do respeito recíproco ao po- der do armamento com uso li- mitado no legal do Poder de Direito e ao poderio armado de utilização franqueada no ilegal do Poder Paralelo. Não é vaticínio macabro de ave agoureira. É visão de con- dor no altiplano dos aconteci- mentos históricos. Se o castelo dos contos de fadas não remo- ver o material apodrecido nos alicerces, os governantes irão viver dias sendo assombrados por seus próprios fantasmas políticos, como os personagens de O Solar das Almas Perdidas , de Dorothy Macardle, onde ha- via um estigma maligno, só desvendado no fatídico fim e que, no caso das herdades go- vernamentais, já está decifrado. É a bruxa Corrupção. S OMENTE o socorro busca- do nas pessoas honestas, competentes e eficientes do povo será capaz de acudir os governos das doenceiras con- tagiosas do Estado Paralelo. É o que o governador deve fazer. Rápido. Inteiro. O Estado de Di- reito em Goiás precisa receber tratamento intensivo em suas enfermidades internas. BATISTA CUSTÓDIO REPRODUÇÃO OS BURROS BEM ARREADOS

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Artigo do jornalista Batista Custódio espelha a realidade política do País e revela uma das administrações públicas mais corrompidas, Goiás.

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AS fortalezas dos governan-tes no poder estão iguais a

castelos de contos de fadas es-corados por pilastras rachadasao excesso de peso no telhadoempenado pelas goteiras dodesdouro e ao acúmulo máxi-mo dos remendos nas paredesfendidas na base sobre as lajestrincadas dos porões infiltra-dos pela umidade do indeco-roso. O teto está vindo abaixono cimo dos aposentos rendo-sos nas ilicitudes luxuosas.Olhado de fora, tudo treme frá-gil no sólido em tudo que pare-ce firme. Mas a festa dos insen-satos continua animada no re-quinte dos salões decoradospara as solenidades em noitesde suas condecorações insig-nes comemoradas em dias deseus velórios políticos.

O Brasil rasgou no meio asua história de República aoescrever o parlamentarismo eo presidencialismo em con-cubinato do casuísmo enxer-tado na Carta Magna. O povobrasileiro perdeu a cidadaniade poder decidir para a auto-nomia no dever de obedecer.Estamos em uma colônia ci-vilizada pela burocracia deburocratas montados noscargos públicos e cujos diplo-mas paramenta-os à imagemde burros bem arreados.

A Nação anda para trás nasleis sem justiça. O Estatuto doDesarmamento armou os in-divíduos marginais e desar-mou os cidadãos ordeiros. OEstatuto da Infância e do Ado-lescente dificultou o empregopara menores de idade nasempresas e facilitou o trabalhoinformal para crianças a servi-ço do crime. O Estatuto dos Di-reitos Humanos é desvirtuadoem benefício dos sem razão aodireito e sem preceito humanonas barbáries sem atenuantesnas atrocidades.

O País tropeça parado no Es-tado de Direito refém do Esta-do Paralelo dos bandidos dan-do ordens a autoridades e im-pondo a vigência das normasda criminalidade atapetadanos gabinetes oficiais ao for-mato da clandestinidade eriça-da no estrado das vias públicas.

A tendência no consensocoletivo é todos responsa-

bilizarem a outros pelas inde-cências morais que são culpasde cada pessoa omissa na so-ciedade. Não há como se ne-gar, com honestidade, que osexemplos da safadeza vêm degrupos no alto das elites do-minantes para os redutosquedados nos baixios das ple-bes inconformadas.

O elo de ligadura da cumpli-cidade na diversidade das ano-malias comportamentais dossegmentos humanos é incon-testável. Os assaltos dos jurosbancários modelaram o figuri-no dos assaltantes de caixaseletrônicos. Os grupos de exter-mínio das polícias Militar e Ci-vil formataram o estilo dos gru-pos de extermínio da bandida-gem nas execuções de morte apoliciais. O aviltamento nas di-ferenças de preços dos veículosnas lojas das concessionáriasreferenda a rapinagem dos car-ros roubados à encomenda, apreços de pechinchas, das ca-sas de desmanche. A liberdadecondicional dos facínoras co-

muns e reincidentes na me-liança retrata os larápios im-portantes e intocáveis nas rein-cidências da impunidade. A la-droagem das castas nobres nasvivendas do poder público ori-ginou a roubação das orbes pe-riféricas na órbita dos casebres.

A Pátria mancomunou-seno consentimento dos repas-ses das corrupções aos tufos eàs migalhas em todo o territó-rio nacional. Inoculou-se noinconsciente coletivo a psiquêdo amedrontamento tácito nagente brasileira. Paira no ar oreceio de vinditas dos malfei-tores e paralisa as consciên-cias na mentalidade de se vi-ver em salvo a quaisquer cus-tos da sanha dos embruteci-dos no mercenarismo.

Oambiente é preocupante.O Estado de Direito está de-

sorganizado nos governos im-potentes na repressão ao EstadoParalelo do crime organizado.

A preocupação é geral. Masnão adianta ficar jogando pe-dras nos que estão lá no alto,porque elas sempre caem nosque estão cá embaixo. Nem se

resolve a situação das pendên-cias desonrosas com soluçõespor decretos fundamentadosem teorias, porque são revoga-dos pelo realismo das práticas.

A apreensão está insuportá-vel. A polícia age intimidada nobojo de ações movidas peloMinistério Público. Os bandi-dos atuam estimulados naspencas de alvarás judiciais desoltura. As famílias vivem in-tranquilas com a falta de segu-rança em toda parte. Mais prio-ritária que a emergência daconstrução de obras físicas é aprimazia da urgência de se re-construir o moral no Brasil.

Passa da hora de as chefiasdas autoridades conclamaremas figuras notáveis dos centrosde decisões na sociedade para aformação de um Conselho deCivilidade municiado de ideiascriativas da paz e voz altiva pararessaltar o clamor das maioriassilenciosas e esvaziar as exalta-ções das minorias barulhentas.

O desassossego decorrenteda falta de garantias de vida égeneralizado em todas as esfe-ras da globalidade no universohumano. Percebe-se a crescen-te fermentação da doutrina darevolta propagando a eclosãosocial precedente à insubordi-nação popular que traz os rasti-lhos que, se não forem apaga-dos a tempo, vão acendendo,de faíscas a faíscas deslocadaspelo sopro dos ventos das mu-danças à chama que gera os in-cêndios das guerras civis.

O clima político está propí-cio. Estrelas políticas com luzforte nas abóbodas do podercentral em Brasília, atraídas pe-la gravidade das constelaçõesdo Supremo, vagam desgover-nadas às vésperas de serem en-golidas pelo buraco negro nocosmos do mensalão. Há umaespiral em movimento de lide-ranças reduzidas a mitos extin-tos em seu recente inferno as-tral nas urnas eleitorais. Existeum contingente de oficiais comlaços de influência nas caser-nas, conspirando contra a Co-missão da Verdade que apuraos crimes vestidos de farda naditadura militar. A Pátria estámolhada na Cachoeira que

continua esborrifando a suaágua na Praça dos Três Poderese escorre para os leitos dos bas-tidores governamentais e seempoça nas administraçõesestaduais e municipais.

OEstado de Direito manda,o Estado Paralelo desman-

da. O Estado Paralelo desobe-dece, o Estado de Direito obe-dece. O Estado Paralelo tem to-das as escapadas dos motins dacorrupção, o Estado de Direitonão tem nenhuma saída docerco dos corruptos. A únicacondição igualitária é que o Es-tado de Direito tem associadosno Estado Paralelo e o EstadoParalelo tem parceiros no Esta-do de Direito. E no contraditó-rio dos feitos, o que o Estado deDireito faz, o Estado Paralelodesfaz. É o armistício no concí-lio do respeito recíproco ao po-der do armamento com uso li-mitado no legal do Poder deDireito e ao poderio armado deutilização franqueada no ilegaldo Poder Paralelo.

Não é vaticínio macabro deave agoureira. É visão de con-dor no altiplano dos aconteci-mentos históricos. Se o castelodos contos de fadas não remo-ver o material apodrecido nosalicerces, os governantes irãoviver dias sendo assombradospor seus próprios fantasmaspolíticos, como os personagensde O Solar das Almas Perdidas,de Dorothy Macardle, onde ha-via um estigma maligno, sódesvendado no fatídico fim eque, no caso das herdades go-vernamentais, já está decifrado.É a bruxa Corrupção.

SOMENTE o socorro busca-do nas pessoas honestas,

competentes e eficientes dopovo será capaz de acudir osgovernos das doenceiras con-tagiosas do Estado Paralelo. É oque o governador deve fazer.Rápido. Inteiro. O Estado de Di-reito em Goiás precisa recebertratamento intensivo em suasenfermidades internas.

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