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12/10/2012 Contatos [email protected] DE: FERNANDO LIRA OS BRINQUEDOS NO REINO DA GRAMÁTICA

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12/10/2012

Contatos [email protected]

DE: FERNANDO

LIRA OS BRINQUEDOS NO REINO DA GRAMÁTICA

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OS BRINQUEDOS NO REINO DA GRAMÁTICA

PERSONAGENS:

REI ANALFABETO

PRÍNCIPE ALFABETO I

METÁFORAS

MINISTRO DA MORFOLOGIA

MINISTRO DA FONÉTICA

MINISTRO DA SINTAXE

SACERDOTISA SEMÂNTICA

FREI VOCABULÁRIO

GUARDA 1

GUARDA 2

SIM

NÃO

CENA 1

(O Rei entra em cena afobado e seguindo:o de perto, o conselheiro Metáforas)

REI: Onde estão meus óculos... Meus óculos... Onde estão meus óculos? (Invade a

plateia e tira os óculos de alguma criança) Ah! Achei! Nossa, não consigo ler nada!

METÁFORAS: Majestade, Vossa Alteza não usa óculos.

REI: Não uso óculos, e como não consigo ler estas letras miúdas?

METÁFORAS: Lamento contrariá-lo, mas Vossa Alteza não sabe ler!

REI: SSSH, fala baixo! Quer que todo o país saiba?... Eu tenho a impressão que você

sempre está tentando me desmoralizar!

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METAFORAS: Mas, meu caro Rei, hoje em dia, qualquer criança com mais de cinco

anos sabe ler.

REI: O que você está me dizendo? Não acredito que uma criança saiba mais que um

Rei! Quero provas!

METÁFORAS: (Para a plateia) Atenção, quem sabe ler, levante a mão! Viu só?

REI: Tudo mentira!

METAFORAS: Se Vossa Alteza deseja mais provas... (Para a plateia) Gostaria que

um voluntário lesse este documento para o Rei.

(O METÁFORAS deve incentivar que alguma criança venha ler)

VOLUNTÁRIO: Decreto Lei: Ao completar 18 anos, o Príncipe Alfabeto Primeiro

deverá assumir o trono da Gramática no lugar de seu tio, Analfabeto - O Único.

Conforme os desejos dos falecidos pais do príncipe: Rainha Alfa e o Rei Beto.

REI: Quem disse que vou deixar o trono? A Gramática não pode ser governada por um

jovem, um moleque, que ainda mija na cama e bebe na mamadeira, que experiência ele

tem de governo? Preciso tomar uma atitude enérgica imediatamente! Chame o príncipe!

METÁFORAS: Sim, majestade!

(Conselheiro sai)

CENA 2

REI: (Com raiva) Bando de incompetentes, se não fosse por mim, ANALFABETO - O

ÚNICO, o país estaria perdido... O príncipe não pode assumir o trono. Preciso fazer

com que ele desista da ideia de ser Rei.

(O príncipe Alfabeto entra no salão, enquanto o Rei está de costas)

ALFABETO: Mandou me chamar, Majestade?

REI: (Brando) Sim, meu caro sobrinho, diga uma coisa, você sabe ler?

ALFABETO: Claro, meu tio. Tive aulas com os melhores professores da Gramática.

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REI: (À parte) Droga! Isto é muito perigoso!... (Muda o tom) Querido sobrinho, se você

deseja ser um verdadeiro monarca, deve desaprender tudo que os professores lhe

ensinaram!

ALFABETO: Desaprender?

REI: Sim! Assista à televisão!

ALFABETO: Televisão?

REI: O dia todo: de manhã, à tarde, à noite... É um santo remédio para desaprender o

que os idiotas dos seus professores lhe ensinaram!

ALFABETO: Que horror!

REI: Horror, nada! Será maravilhoso, você com a vista ruim, com notas baixas,

reprovado em todas as matérias, cada dia desaprendendo, desaprendendo cada vez mais,

até que comece a detestar os livros e as letras. Então, você estará pronto para reinar!

ALFABETO: Desculpe, Majestade, se para reinar eu tenho que me tornar um... Um

ANALFABETO, prefiro não ser rei!

REI: Se este é o seu desejo, que assim o seja! Agora vá... E não se esqueça de ligar a

televisão!

(O príncipe sai de cena)

REI: Ótimo! Deu certo... O príncipe caiu como patinho! Como ele pode pensar em ser

REI da Gramática. De agora em diante, governarei com mão de ferro. Aquele que

souber ler neste país será tratado como traidor da pátria. (Para a plateia) E isto serve

para vocês também seus pestinhas, não quero ver ninguém lendo. Está decretado o

ANALFABETISMO no país!

(O Rei sai de cena)

CENA 3

(O príncipe entra cautelosamente, com um livro e uma sacola)

ALFABETO: Acho que a barra está limpa. Agora posso ler sossegado!

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(O príncipe está lendo o livro, quando o Guarda 1 entra sorrateiramente por trás)

GUARDA 1: O que você está fazendo, Príncipe Alfabeto?

ALFABETO: Nada, demais... (Esconde o livro)

GUARDA1: O que você está escondendo?

ALFABETO: Eu, nada?

GUARDA 1: Mostre a sua mão?

(Alfabeto mostra uma mão)

GUARDA 1: Quero ver a outra?

(Ele mostra a outra mão, mas sempre com o livro escondido nas costas)

GUARDA 1: O que é aquilo ali? (Aponta para o céu)

ALFABETO: O quê? Onde?

(O guarda avança e toma o livro de Alfabeto)

GUARDA 1: Ahã, foi o que pensei, um livro!

ALFABETO: Livro? Que livro?

GUARDA 1: Este aqui que estava na sua mão!

ALFABETO: Ah! Isto não é um livro!... Não tá vendo que é uma rapadura?

GUARDA 1: Uma rapadura?

ALFABETO: Claro? Quadrado, duro, pesado... (Dá uma lambida) E doce, vamos

prove!

GUARDA 1: Sei não!

ALFABETO: É da minha coleção!

GUARDA 1: Coleção? Eu nunca ouvi falar que se colecionam rapaduras!

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ALFABETO: Ora, as pessoas colecionam de tudo, por que eu não posso colecionar

rapaduras? Vou confessar uma coisa, eu também, no começo, confundia rapaduras com

livros. Mas com o tempo você se acostuma!

GUARDA 1: E é?

ALFABETO: Vai por mim!

GUARDA 1: Príncipe, dá para arranjar uma das suas para eu começar minha coleção!

ALFABETO: Tudo bem. (Procurando na bolsa, cheia de livros) Deixe-me ver...

Rapadura de História, não! Rapadura de Geografia... Não... Ah, achei! Vou lhe arranjar

esta rapadura de Matemática. Mas se você for pego, não deve revelar que fui eu quem

lhe deu! Está me ouvindo bem? Posso confiar? Se você me trair, quando eu me tornar

Rei, mando-lhe cortar a língua!

GUARDA 1: Glup! Isso nunca vai acontecer, meu principezinho, sempre lhe serei fiel!

(Sai com o livro na mão)

ALFABETO: Ufa, quase que sou pego. Bem, onde eu estava? Ah! Página dez.... Certo

dia, uma bela fada...

(Apaga-se a luz)

CENA 4

(A Fonética está cantando, preparando uma nova palavra no seu enorme caldeirão. Os

outros ministros entram em cena, sem que a Fonética perceba)

FONÉTICA: E dá uma baixadinha, põe a mão no joelho e dá três pulinhos... Mais uma

letra, (Coloca um cedilha e dá uma provada) Hum, acho que falta uma cedilha. (Pega

um cedilha e coloca no caldeirão, canta) Dá uma mexidinha cá, mexidinha lá... Será

que está bom? Hum, ah! (Prova) Agora, está no ponto.

(A fonética tira a palavra EDUCAÇÃO e estende no varal. Ela se assusta quando vê a

presença dos outros)

FONÉTICA: Ai, vocês me matam de susto!

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SINTAXE: Fonética, minha amiga, se me permite um conselho, você está muito

descuidada, veja este cabelo, todo quebrado!

FONÉTICA: Como eu posso me cuidar na cozinha? Qualquer uma no meu lugar fica

neste estado! Você, Sintaxe, fala isso porque seu trabalho é muito tranquilo, é só juntar

as palavras que eu invento!

SINTAXE: Tranquilo é uma ova! Você pensa que trabalho intelectual não cansa!

MORFOLOGIA: Mas você tem uma péssima mania de mudar os nomes que eu mando

para você... Quero os meus direitos autorais!

SINTAXE: Ah! Estas burocráticas não me cansam! Morfologia, você não entende nada

das leis da Gramática! Vá estudar mais que é melhor!

MORFOLOGIA: Você é muito exibida!

SINTAXE: Nesse nível não dá para conversar

(Rei entra em cena)

REI: Muito bem, sejam breves, por que vocês me chamaram?

FONÉTICA: Majestade, se me permite dizer, desse jeito nosso país vai parar!

REI: De que jeito?

FONÉTICA: Ora, Vossa Alteza suspendeu os investimentos em nossas áreas! Sem

estes investimentos não poderemos produzir palavras, iremos à falência!

REI: Besteira, nós temos um estoque de palavras para mais de mil anos! E além do

mais precisamos investir em outras áreas!... Vamos investir em armas!

SINTAXE: Para que arma mais poderosa que uma palavra?

REI: Papo furado, minha cara, ninguém faz revolução com palavras! O inimigo ronda

nosso castelo, temos que ficar preparados!

MORFOLOGIA: Nós não temos inimigos, Majestade!

REI: Temos, o povo é nosso inimigo!

MORFOLOGIA: Que decadência!

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REI: O que vocês estão cochichando?

SINTAXE: Nada, Majestade, apenas falarmos de sua enorme sapiência!

CENA 5

(Entra o Guarda 1, preso por outro guarda)

GUARDA 1: Solte-me seu idiota, seu burro!

REI: Mas o que significa isto?

GUARDA 2: Majestade, peguei este traidor lendo!

REI: Lendo?

GUARDA 2: Eis a prova do crime! (Mostrando um livro)

REI: Um livro, aqui na corte? Leve-o, corte a língua dele e jogue aos jacarés!

GUARDA 1: Majestade, isto não é um livro?

REI: Como não é um livro?

GUARDA 1: É uma rapadura! Prove!

REI: (Provando) Eca... Tem gosto de papel!

GUARDA 1: É assim mesmo Majestade, no começo a gente estranha, mas depois a

gente não quer outra coisa. Vá, dê mais uma mordidinha!

FONÉTICA: Deixe-me ver... Hum... O cheiro é familiar... E o som, será que é? (Abre o

livro, fecha com força) Ah! Este som sou capaz de reconhecer em qualquer lugar do

mundo... (Solta no chão) Aha... Tem todos os sons de um livro que cai no chão.

REI: Então, realmente se trata de um livro, caro Ministro da Fonética?

FONÉTICA: É provável...

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MORFOLOGIA: (Tirando o livro das mãos da FONÉTICA) Um momentinho! Não

podemos julgar o livro apenas pelos sons que ele produz, ele tem mais do que isso...

Deixe-me examinar melhor. (Com uma lupa) É necessário perceber sua forma.

(Observar) Verificar sua estrutura, observar se tem palavras.

SINTAXE: No entanto, não basta ter palavras para ser um livro! Mas quando as

palavras vem distribuídas em páginas, ordenadas, formando frases, obedecendo a regras

entre elas... Hum, este espécime é muito estranho!

REI: Vocês me confundem! Afinal de contas! Isto é ou não um livro? Quem me

responde? Você me diga! O que é isto? Tem certeza?

(Rei sai para a plateia para saber se as crianças identificam como um livro. Pede para

folheá-lo, cheirá-lo. Mostra uma rapadura e pede para comparar. Até que o Rei toma

sua decisão)

REI: Ó, traidor da pátria, que minha fúria caia sobre você!

GAURDA 1: Piedade, piedade, meu nobre Rei. Eu fui enganado pela minha ignorância!

REI: Vamos homem, pronuncia o nome do traidor, o traidor que o enganou.

GUARDA 1: Não posso. Se confessar, perco a língua!

REI: Você perderá de qualquer forma! Só que comigo ainda será jogado aos jacarés, se

não me disser o nome de quem lhe deu o livro!

GUARDA 1: O príncipe Alfabeto!

REI: Estou satisfeito, leve-o e lhe corte a língua! Traga meu sobrinho até minha

presença!

CENA 6

(O príncipe é trazido à presença do Rei)

REI: Eis, enfim, o traidor!

ALFABETO: Não existe traidor maior do que aquele que nega ao próprio povo o

conhecimento das palavras!

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REI: E ainda é insolente!... Vamos, diga-me, sobrinho, o que você faria se estivesse no

meu lugar?

ALFABETO: Certamente, não governaria como o meu tio!

REI: Muito bem, as palavras são como as ideias: somem no ar! Corte a língua deste

terrorista!

(Um carrasco entra e Alfabeto é ajoelhado. Ouve-se o som dos tambores. O carrasco

está com uma faca levantada. O Rei puxa a língua do príncipe. Quando o carrasco vai

partir a língua. Alfabeto levanta-se)

ALFABETO: Meu Rei, eu tenho direito a um último pedido!

REI: Não aceito nenhum pedido seu!

ALFABETO: Por piedade, eu vos peço, em nome de sua prima Alfa, minha mãe, e de

seu irmão e meu pai, Beto. Considere um pedido meu, antes que eu perca a língua.

REI: Já que é um pedido familiar, vou acatar. Que não seja grande este pedido!

ALFABETO: Nada demais! Já que vou perder a língua e nunca mais poderei sentir o

delicioso sabor que é pronunciar as letras... Gostaria de poder me despedir de algumas

letras que formam as palavras.

REI: Argue, tem gosto para tudo neste mundo! Vá lá, mas seja breve, estas coisas me

cansam muito!

ALFABETO: Bem gostaria de me despedir das vogais: Adeus A de avião, avestruz.

Adeus E de elegante, educado. Ah, o I de inteligente, inventivo. O O. Oh! Olhos,

orvalho. U, de único, último...

(O Rei e os guardas bocejam e dormem enquanto ele está falando das letras)

ALFABETO: Eu sabia que as letras aqui nesta corte sempre dão sono. Agora, vocês

vão continuar para que possa fugir. Continuemos com as consoantes B de bola, C de...

Vamos continuem, D de Dado...

(Alfabeto sai de cena, gritando as letras)

REI: (Falando dormindo) F de fugitivo... Ahão, o quê Fugitivo... Cadê o príncipe, o

que aconteceu comigo? Onde está o Príncipe? Acordem seus imbecis, o Príncipe fugiu.

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GUARDA 2: P de Príncipe. Onde está o príncipe?

ANALFABETO: Vocês deixaram o Príncipe fugir, quero que vasculhem todo o

palácio real, não deixem ele sair do castelo.

CENA 7

(O Príncipe chega a uma floresta, cansado)

ALFABETO: Graças, se não fossem as crianças, eu jamais conseguiria escapar!... Mas

que floresta mais estranha!... Será que irei encontrar algum amigo?... Há alguém aqui?

ECO: (Off) Há alguém aqui, aqui!

ALFABETO: (Assustado) Quem falou?

ECO: (Off) Quem falou, falou?

(Sim e Não aparecem e agarram o Príncipe)

ALFABETO: Ei, o que vocês pensam que estão fazendo? Quem são vocês?

SIM: Sim.

NÃO: Não.

ALFABETO: Que é isto, uma brincadeira?

SIM: Sim.

NÃO: Não.

ALFABETO: Mas vocês precisam me dizer como é que se brinca!

SIM: Sim.

NÃO: Não.

(Eles começam a mexer no bolso de Alfabeto)

ALFABETO: Não adianta, eu não tenho nada de valor!

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SIM: Sim.

NÃO: Não.

ALFABETO: Vocês só sabem dizer Sim e Não?

SIM: Sim.

NÃO: Não.

(Entra uma mulher com um capuz)

SEMÂNTICA: Todo o povo só sabe dizer Sim e Não. O Rei proibiu que o povo

aprendesse palavras diferentes de Sim e Não.

ALFABETO: Sacerdotisa da Semântica, você está viva, o Rei me disse que...

SEMÂNTICA: Eu sei! O Rei espalhou para todo mundo que a Semântica tinha

morrido! A verdade é que eu escapei da maldade do Rei e hoje vivo nesta floresta,

esperando o dia que você libertará o povo do Analfabetismo!

ALFABETO: Mas eu? E como farei isso!

SEMÂNTICA: Faça a revolução!

ALFABETO: Revolução, mas como?

SEMÂNTICA: Com as palavras!

SIM: Sim, sim!

(Saem de cena)

CENA 8

(O Frei Vocabulário entra na Floresta. Ele está procurando frases e restos de palavras

no chão, ele junta e coloca no saco algumas palavras e outras ele come)

FREI: (Comendo) Ah! Esta sílaba vai para os pobres e esta para o servo do senhor.

Como os ricos desperdiçam palavras! E esta para o servo do senhor e esta para os

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pobres Ah! Não acredito: um ditongo, eu sou louco por um ditongo à milanesa! Ah!

Meus Deus, perdoe este servo que tem fome de palavras! Eu não consigo me controlar!

(Sim e Não aparecem diante do Frei)

FREI: Por Jesus, quem são vocês? Estão querendo me roubar!

SIM: Sim!

NÃO: Não!

FREI: Se é comida que vocês querem, eu tenho aqui umas palavrinhas do Senhor. Elas

podem diminuir sua fome. (Pega uma bíblia)

SIM: Sim, sim.

NÃO: Não! Não! (Abre a boca)

FREI: Já sei, vocês também querem comer as palavras!

SIM: Sim!

FREI: (Abrindo o saco) Bem, para você um delicioso ponto de interrogação.

SIM: (Come e faz interrogação teatralmente de várias maneiras: alegria, dúvida)

SIM? SIM? SIM?

FREI: Muito bom! Vejo que você gostou da interrogação! E para você, este suculento e

apetitoso ponto de exclamação!

NÃO: (Come e faz exclamação teatralmente de várias maneiras: medo, ódio, tristeza,

etc) Não! Não! Não!

FREI: Excelente!

(Alfabeto e Semântica aproximam-se)

ALFABETO: Ora, ora, quem eu vejo por aqui, o bom Frei Vocabulário!

FREI: Príncipe Alfabeto! É você mesmo! Puxa, já é homem, tem a cara do seu pai, que

Deus o tenha!

ALFABETO: Mas diga-me lá, por onde tem andado?

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FREI: Quase que me acabo. Quando o Rei Analfabeto assumiu o trono, ele tratou de

monopolizar tudo. Acabou minha função de guardar as palavras no Dicionário Real!

Então, passei à nobre missão de levar a palavra de Deus aos pobres!

ALFABETO: Muito bom! Então, Frei, quer dizer que é no Dicionário que o Rei guarda

todas as palavras da Gramática?

FREI: Isto mesmo. O Dicionário é o grande tesouro de palavras do Reino da

Gramática!

SEMÂNTICA: É isto, Alfabeto, temos que conseguir o dicionário! Com ele em sua

posse, todas as palavras da Gramática poderão ser entregues ao povo.

FREI: Eu sei onde o Rei esconde o Dicionário! Eu posso entrar no castelo e trazê-lo até

vocês!

SEMÂNTICA: Não, é muito perigoso! Antes, preciso planejar uma estratégia com o

nosso espião na corte!

ALFABETO: Nós temos um espião?

SIM: Sim?

SEMÂNTICA: Temos sim. Mas, para a sua segurança e a dele, é bom que somente eu

saiba a sua identidade!

NÃO: Não!

SEMÂNTICA: Alfabeto, é hora de agir, tome a frente de seu povo antes que outro

aventureiro o faça!

ALFABETO: Muito bem: povo da Gramática, é chegada a hora de nossa libertação. De

hoje em diante, qualquer abastecimento de palavras do Rei será confiscado e entregue

aos pobres de palavras. Viva a revolução!

NÃO: Não!

SIM: Sim?

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CENA 9

(O Rei entra no palácio, como se não desejasse ser pego de surpresa. Tira, debaixo do

assento do trono, o Dicionário)

REI: (Ajoelhado) Ah! Dicionário, Dicionário meu, existe algum Rei mais rico em

palavras do que eu? Existe algum Rei no mundo que governa sentado nas palavras? (Diz

para si) Não, apenas tu: ANALFABETO - O Único... Hum, adoro vocês, palavrinhas...

São tão bonitinhas... Olha que coisa miudinha esta palavra... E esta tão grande, já é uma

mocinha! Cheirosas... (Lambe) Gostosas, hum, que delícias. Eu amo vocês todas,

mesmo que eu não saiba ler, vocês são como se fossem minhas filhinhas...

(METÁFORAS entra, o Rei se assusta e guarda o dicionário imediatamente)

METÁFORAS: Majestade...

REI: (Ajoelhado como se estivesse rezando) Na hora de nossa morte, amém!... Nunca

mais interrompa o Rei quando ele está rezando!

METÁFORAS: Mas é urgente?

REI: O que há de tão urgente?

METÁFORAS: Majestade, o Príncipe Alfabeto lidera o povo contra Vossa Majestade!

Ele está tirando as palavras dos ricos e dando aos pobres!

REI: Maldição! Quero a língua do Príncipe imediatamente. Dobre a recompensa. DEZ

MIL PALAVRAS para quem capturar o príncipe com ou sem língua.

CENA 10

(O Frei está abrindo os baús de palavras confiscadas)

FREI: Nossa, quantas palavras, estou ficando com água na boca! Meu Deus, perdoe

este pecador, mas a carne é fraca, eu não consigo me controlar. (Enche a boca de

palavras) Puxa, faz tempo que não como uma proparoxítona. Não acredito: um hiato!

(Está com a boca cheia de palavras, quando entram Alfabeto, Sim e Não)

ALFABETO: Que vergonha, Frei Vocabulário, comendo as palavras dos pobres!

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(A semântica entra)

SEMÂNTICA: Meu Príncipe, o rei aumentou o valor de sua língua, precisamos agir

com rapidez antes que alguém o traia em troca de algumas palavras. O nosso espião

disse que o Rei se recolhe para dormir todas as noites às sete horas! Nesse horário, não

temos muitos guardas.

FREI: É um bom momento para eu entrar no castelo e pegar o Dicionário Real!

ALFABETO: Eu vou com você, Frei!

SEMÂNTICA: Não, é muito perigoso. Se você for pego, estamos perdidos. O povo

precisa do Alfabeto vivo!... Eu tenho um plano para você!

(O Príncipe abre um cartaz em forma de mapa onde o reino está dividido em partes

como se fossem as regiões da Gramática)

SEMÂNTICA: Veja, eis o mapa político da Gramática; aqui fica a Fonética, é a

química da Gramática. Ela é responsável pela criação dos sons, das letras, das sílabas,

das palavras. Depois que as sílabas estão prontas, elas são enviadas para a Morfologia,

uma burocrática, responsável pela classificação das palavras. A Sintaxe é a mais

intelectual de todas as três. Ela junta as palavras para formarem as frases, os períodos,

as orações.

ALFABETO: Ótimo, já sei como acabar com todas as forças do Rei! Frei, traga o

Dicionário Real até nós. Escute Frei, eu quero esse Dicionário completo! Não vá comer

nenhuma palavra!

FREI: Pode confiar, meu caro Príncipe. Vou rezar várias Ave-Marias, para que eu não

caia em tentação!

(O Frei sai)

ALFABETO: Companheiros, a luta continua!

CENA 11

(O Metáforas entra no salão real, exasperado)

METÁFORAS: Majestade, os nossos Ministros foram sequestrados. Temos apenas

algumas palavras estocadas para poucos dias!

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REI: Raios! Temos que descobrir um meio de inventar novas palavras.

METÁFORAS: Mas como, majestade? Só a Fonética é que conhecia a fórmula de criar

os sons e as sílabas das palavras.

REI: Metáforas, invente você novas palavras! Vamos, crie, seu idiota!

METAFORA: Eu, Majestade?

REI: Vamos, crie novas palavras, seu METÁFORAS de meia tigela! (Corre com o

cetro, ao redor do trono, atrás de Metáforas)

METÁFORAS: Deixe-me ver... Nata... Natalégico, sacaraba, ...Beliga...

REI: Mas que diabos querem dizer estas palavras?

METÁFORAS: Sei lá, eu inventei agora! Depois a gente pensa no significado!

REI: Não se meta a besta! Vamos, dê logo um sentido a estas palavras!

METÁFORAS: Mas majestade, o senhor é que é o Rei. E o Rei dá às palavras o

significado que lhe convém!

REI: É verdade! Eu sou Rei! E as palavras terão o significado que eu quiser! Assim

sendo, natalégico quer dizer incompetente, sacaraba vai significar cansado e beliga será

soneca. Agora suma, seu natalégico. Estou muito sacaraba e preciso tirar uma beliga...

CENA 12

(O salão está vazio. O Frei entra, sorrateiramente, como um farejador)

FREI: Elas estão aqui... Posso sentir o cheiro delas... Ah! Está esquentando... Ah!

Achei... O precioso Dicionário... Quantas palavras, dos mais diversos sabores... Ave

Maria, cheia de graça... Se eu tirar só uma palavrinha, será que alguém vai notar?

Afinal, são tantas palavras... Isto me deu uma fome tremenda... Não, meu Deus! Não

deixe que eu caia em tentação...

(O Rei entra)

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REI: Mas o que está havendo por aqui?... O quê? Frei Vocabulário... Você está

tentando roubar o Dicionário Real!

FREI: Eu...

REI: Guardas, socorro, guardas! Prendam este ladrão! Torturem-no!

CENA 13

(O Rei e Metáforas começam a torturar o Frei)

REI: Onde se esconde o Alfabeto?

FREI: Não adianta, que nada contarei!

REI: Vamos, responda!

FREI: Vocês não vão conseguir me arrancar uma só palavra!

REI: Arre, corte a língua desta mula! Ele não vai falar!

METÁFORAS: Espere, Majestade! Deixe ele comigo, que tenho certeza que ele vai

abrir a boca!

REI: Que seja breve! Continue sozinho, Metáforas, eu não tenho estômago para estas

torturas! Espero você no salão real.

(O Rei sai)

METÁFORAS: Frei Vocabulário... Se o senhor cooperar, nós lhe daremos um prato de

palavras para o senhor se deliciar!

FREI: Não pense que me compram com umas poucas palavras!

METÁFORAS: Não acredito que o senhor vai perder o suflê de substantivos.

FREI: Suflê de Substantivos?

METÁFORAS: Sim, refogado com molho de adjetivos...

FREI: Huum... Pare!

METÁFORAS: E para acompanhar, um purê de verbos e de advérbios. Para beber, um

suco das mais puras preposições...

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FREI: Ai, vocês querem me matar!

METÁFORAS: E para sobremesa!

FREI: Não... Ainda tem sobremesa?

METÁFORAS: Um sorvete de conjunções, com uma cobertura de artigos, numa

casquinha feita de pronomes possessivos.

FREI: Ai... Meu Deus, perdoa-me... Eu conto tudo... Eu faço tudo por estas

guloseimas!

CENA 14

(O Rei está a inventar novas palavras! Ele começa a ficar louco)

REI: Barguenia, bonita palavra. Perdoso, séria elegante... Zpereio...

METÁFORAS: Majestade!

REI: Espere, Metáforas! Ouça esta palavra que acabo de inventar. Barguenia, que tal?

METÁFORAS: Muito bonita, mas o que significa?

REI: (Disperso) Ainda não sei? Sabe, meu caro METÁFORAS, de agora em diante, eu

produzirei todas as palavras, novas e velhas, gostei da brincadeira! Trocar tudo!

Precisamos atrapalhar o inimigo!

METÁFORAS: Majestade, o prisioneiro revelou onde podemos encontrar o Príncipe.

Peço permissão para ir com alguns guardas à captura do Príncipe.

REI: Vá, vá e me deixe com minhas palavras...

(Metaforas sai e o Rei permanece criando)

REI: Trono vai se chamar violão. Mesa, vou chamar de cama. Combina mais... Afinal,

é nela onde a gente come. Sorvete será chamado de guarda-chuva. Castelo de

galinheiro...

(O Rei sai)

CENA 15

(Metáforas e um guarda estão na floresta)

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GUARDA 2: Desculpe, conselheiro, mas não darei mais nenhum passo! Esta floresta é

mal assombrada.

METÁFORAS: Besteira, fantasmas não existem! Não faça como os outros guardas que

não tiveram a coragem de entrar na floresta. Você não pode me deixar aqui sozinho!

GUARDA: Que foi isto? O senhor ouviu?

METÁFORAS: Não ouvi coisa nenhuma, você está se assustando à toa!

(Sim e Não entram em cena com lençóis como se fossem fantasmas, com vozes

tenebrosas)

SIM: Siiim.

NÃO: Não!

GUARDA: Uau, o Diabo é quem fica aqui!

(Sim e Não saem correndo atrás do Guarda)

ALFABETO: Veja só, quem eu vejo aqui: o conselheiro e torturador do Rei! (Segura

na gola de Metáforas) O que você fez com o Frei Vocabulário?

METÁFORAS: Não se preocupe com o Frei, ele está sendo muito bem tratado. Mandei

que os guardas o empanturrassem de palavras. O Frei com a boca ocupada é muito mais

seguro para nós!

ALFABETO: Nós? Que história é essa?

(Semântica entra em cena)

SEMÂNTICA: Príncipe Alfabeto, não machuque o nosso espião!

ALFABETO: O quê? Este babão do Rei é o nosso espião? Você ficou louca,

Semântica!

METÁFORAS: Meu príncipe, um bom espião precisa bajular o Rei para ganhar sua

confiança!... Eu vim para avisá-lo de que o Rei está completamente louco. Está trocando

tudo que é palavra da Gramática!

SEMÂNTICA: Precisamos impedir que sua loucura contamine o país! Se isto

acontecer, perderemos o controle da Gramática.

ALFABETO: Vamos invadir o castelo agora!

SIM: Siiiim!

NÃO: Não!

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(Eles saem)

CENA 16

(O Rei está discursando numa mistura de palavras sem sentido, ora com raiva, ora

alegre)

REI: (Totalmente enlouquecido) Meu povo, as bananas não podem viver com as peras,

porque os abacaxis estão tomando o poder do quintal. Os gatos comem o violão, as

galinhas sentam com os porcos e comem o mel da abelha. Vamos todos juntarmos

nossos penicos e fazer xixi de cabeça para baixo!

(Os Revolucionários invadem o salão real)

ALFABETO: Meu tio, não adianta resistir, toda a Gramática está em nosso poder.

Renda-se, por favor!

REI: Nunca pegará minha escova de dente! Vampiros, me suguem!

METÁFORAS: Depressa, fechem as portas, ele está chamando os guardas.

(Os demais ficam em círculo, no centro, como duelo, apenas o Rei e Alfabeto)

ALFABETO: Agora, é somente eu e você!

REI: Que as muriçocas venham! O que é o que é que cai em pé e corre deitado?

ALFABETO: Esta é fácil? É a chuva que cai em pé e corre deitada, meu tio?

REI: Errou! É uma minhoca de paraquedas! Agora, me responda: onde é que a boca

vem antes do nariz?

ALFABETO: Onde é que a boca vem antes do nariz?

REI: Sim, seu sabichão. Onde é que a boca vem antes do nariz?

ALFABETO: Eu não sei! Eu não sei!

REI: Quem sabe? Só eu, o REI é que sabe! Este homem não pode ser Rei. Vou

perguntar pela última vez! Onde é que a boca vem antes do nariz? Ahã?

(O Frade entra correndo, com a boca cheia de palavras. Está com a barriga enorme)

FREI: É no dicionário. No dicionário é que a palavra boca vem antes da palavra nariz!

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REI: Ah! Assim não vale! Ele soprou, ele soprou! (Senta no chão como uma criança

emburrada) Ah! Assim, eu não brinco mais!

ALFABETO: O Dicionário, onde está o Dicionário, Frei?

FREI: Ele está... Ele está... (Dá um grande arroto) Acho que comi demais! (Desmaia)

SEMÂNTICA: Temos que achar o dicionário, antes que as tropas do Rei cheguem!

Onde é que ele esconde o dicionário?

REI: (Para a plateia) SSSH, vocês não vão falar nada, não é, seus moleques! Eu corto

a língua de vocês!

SIM: Siiim.

NÃO: Não!

ALFABETO: Afinal de contas, onde o Rei esconde o dicionário?

(Espera-se que a plateia participe)

ALFABETO: É isto, no trono!

REI: Não, meu dicionário não!

(Alfabeto pega o dicionário e ergue para o alto)

ALFABETO: Pelos poderes da palavra, eu tenho o Dicionário!

SIM: Siiim.

NÃO: Não!

CENA 17

(O Rei chora muito como criança)

REI: Ah! Meu sobrinho, perdoe este seu velho tio! Eu sempre tive vergonha porque

não sabia ler! Minha cabeça e minha vista doem muito quando vou ler!

ALFABETO: Meu tio, eu não guardo rancor, iremos mandá-lo para uma escola de

recuperação e logo, logo, o senhor estará curado! E quanto a vocês. (Para a plateia)

Meu povo, todas as palavras serão liberadas, em todas as línguas. (O Príncipe brinca

com as crianças) Se você quiser falar inglês, use a língua. (Pede que alguma criança

use a língua) Se quer falar espanhol, use os pés. (Pronuncia uma palavra, como Olé¹),

Alemão, é com a garganta; Chinês, é com os olhos; e Italiano, é com as mãos: ravioli,

canelone. (A semântica entrega-lhe um papel) De agora em diante, teremos

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IGUALDADE, FRATERNIDADE E LIBERDADE. Eu, Alfabeto I, instauro o

Alfabetismo na Gramática.

TODOS: Viva o Alfabetismo!

SIM: Siiim!

NÃO: Não!

FIM