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Textos

Jornalista André DibFlexeiras(Al), Coruripe(AL), Taquarana (AL), União dos Palmares ( AL), Viçosa( AL), Correntes (PE), Igaci ( AL), Estrela de Alagoas ( AL), Piranhas ( AL), Petrolância ( PE), Itacuruba(PE), Salgueiro(PE), Granito (PE), Princesa Isabel (PB).

Jornalista Luiz Carlos Pinto da Costa JuniorChã de Alegria (PE), Limoeiro (PE), Bom Jardim (PE), Orobó (PE), Casinhas (PE), Riacho das Almas (PE), Caruaru(PE), Bezerros(PE), Bonito(PE), Agrestina (PE), S.Caitano (PE), Brejo da Madre Deus (PE), Pesqueira (PE), Venturosa (PE), Pedra (PE), Arcoverde (PE) e Monteiro (PB).

Jornalista Inácio FrançaTodos da PB (Riacho de Sto Antônio,Boqueirão, Esperança, Remígio, Aparecida , S,Francisco, Uiraúna, Santarem, Nazarezinho, Monte Horebe, Brejo da Cruz, Cabedelo, Lucena, Bananweiras, Damião, Barra de Sta. Rosa, Poço Dantas, Picuí).

Técnicos

Alagoas Mateus Sá Leitão de Castro Soares | Fotógrafo Camila Lima | Estudante de Jornalismo Paulo Fernando de Santana Oliveira | Operador de vídeo Pernambuco Raul Gustavo Soares Peregrino | Fotógrafo Luiz Carlos Pinto da Costa Junior | Jornalista Caio Azevedo Monte | Estudante de Jornalismo Rafael Travassos Pires | Operador de vídeo Fabiano José Reis França | Contra regra

Paraíba Felipe Peres Calheiros | Diretor vídeo Sandokan da Silva Xavier | Fotógrafo Aprendiz Lucas Cordeiro Cardim | Estudante de Jornalismo Luiz Hélio Barreto da Silva Nen Filho | Fotógrafo Renato Barbosa da Silva | Contra regra

Sumário

6 ALAGOAS Municípios Aprovados

8 Flexeiras10 Coruripe12 Taquarana14 União dos Palmares16 Viçosa 18 Igaci20 Piranhas22 Estrela de Alagoas

24 PAraíba Municípios Aprovados

26 Riacho de Santo Antônio28 Boqueirão30 Remígio32 Esperança34 Brejo do Cruz36 Uiraúna 38 Santarém40 Poço Dantas42 São Francisco44 Aparecida46 Nazarezinho48 Monte Horebe50 Cabedelo52 Lucena54 Bananeiras56 Damião58 Princesa Isabel60 Picuí62 Monteiro64 Barra de Santa Rosa

66 Pernambuco Municípios Aprovados

68 Bom Jardim 70 Orobó72 Casinhas 74 Chã de Alegria76 Limoeiro78 Riacho das Almas80 Bezerros82 Bonito84 Caruaru86 Petrolândia88 São Caitano90 Agrestina92 Brejo da Madre de Deus94 Arcoverde96 Itacuruba98 Correntes100 Granito102 Venturosa104 Salgueiro106 Pesqueira108 Pedra

110 Lista dos municípios participantes da Edição 2008 do Selo UNICEF

Equipe UNICEF

Ana Maria Azevedo | Coordenadora Interina do Escritório Recife, Jornalista responsável pela edição final dos materiais de comunicação da Caravana do Selo 2008

Jane Santos | Gestora de Programas e Coordenadora da Caravana em Pernambuco

Maria da Conceição Cardozo | Especialista em Monitoramento e Avaliação e Coordenadora da Caravana na Paraíba

Inácio França | Oficial Assistente e Jornalista responsável pela elaboração de textos na Paraíba e edição de textos em Alagoas e Pernambuco

Lúcia Paiva | Assistente Administrativa e Coordenadora da Caravana Alagoas/Pernambuco

Telmo Barros | Assistente de Projetos e apoio logístico da Caravana

Irinéia Freitas | Recepcionista e apoio logístico da Caravana

Daniel Lima | Motorista e contra-regra da Caravana Alagoas/Pernambuco

Revisão OrtográficaLe Fil Comunicação Digital

Projeto Gráfico Via Design Comunicação Estratégica

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Sob forma de sorrisos, cores e danças de centenas de crianças e adolescentes de 49 municípios aprovados com o Selo UNICEF em Alagoas, Paraíba e Pernambuco apresento este livro sobre a Caravana do Selo, mais um volume da coleção Faz e Conta do escritório do UNICEF em Recife. O que se fez no período de 05 a 17 de dezembro 2008 será contado como forma de registro das comemorações locais com a conquista do Selo. Uma aprovação baseada na participação das crianças, adolescentes, suas famílias e no trabalho efetivo de inúmeras equipes de saúde, educação e assistência social, liderados por gestores públicos e pelo Conselho Municipal das Crianças e Adolescentes, a partir do monitoramento e avaliação de 23 indicadores e realização dos temas de Participação Social.

Os 49 municípios receberam o reconhecimento do UNICEF devido ao alcance de resultados significativos no esforço de melhorar a qualidade de vida das crianças e adolescentes do semiárido. Eles tomaram por base os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e aderiram ao Selo, contando com o UNICEF no desenvolvimento de capacidades, na comunicação e no monitoramento das políticas públicas. Nos três estados, 293 municípios participaram desde abril de 2007, o que resultou na aprovação de 08 municípios em Alagoas, 20 na Paraíba e 21 em Pernambuco, no dia 02 de dezembro 2008. Nesta data, em Recife, a representante do UNICEF no Brasil, Marie-Pierre Poirier, anunciou os ganhadores em solenidade no Palácio do Campo das Princesas, na presença do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ministros e governadores dos 11 estados do semiárido. No total, dos 1.130 municípios participantes da edição 2008 do Selo, 259 foram certificados.

Após o anúncio oficial e a grande confraternização, as três vans da Caravana do Selo seguiram três roteiros: Alagoas e alto sertão de Pernambuco; Pernambuco ( agreste e 1 município no sertão paraibano) e Paraíba ( diversas regiões do estado). Em cada município um encontro festivo, seguido de caminhada com as crianças e equipes e/ou solenidades e apresentações culturais, além de exposições de fotos e trabalhos educativos. Tudo organizado pelo município, cabendo ao UNICEF a entrega do troféu, dos certificados de participação ao prefeito(a), articulador(a) e ao CMDCA(Conselho Municipal dos Direitos da Criança e Adolescente), incluindo os relatórios de monitoramento e avaliação. Nas falas, o registro dos avanços dos modos de integrar e reconhecer a participação comunitária - ocasião para destacar os desafios a serem enfrentados pelos municípios e a necessidade de continuar a promover os direitos das crianças e dos adolescentes.

Para registrar a grande mobilização, cada veículo da Caravana conduzia duas pessoas do UNICEF (coordenadora e assistente), um jornalista e um estudante de jornalismo, um fotógrafo e, na Paraíba, um aprendiz de fotógrafo, além de equipe de vídeo. 0 primeiro produto – um cd com fotos de todas as atividades locais - foi enviado a cada município em fevereiro de 2009. Também foi produzido um vídeo como incentivo à continuidade do trabalho realizado, com registro das belas cenas da Caravana.

Agora é a vez do livro. Os textos jornalísticos nascem de observações, entrevistas e discursos oficiais, incluindo registros sobre os avanços nos indicadores de saúde, educação ou proteção e

também dos desafios que se apresentam para os novos períodos. Cada jornalista nos traz um olhar sobre a cidade e sua gente.

Como coordenadora interina e responsável direta pela Caravana, realizei a edição final, contando com a Via Design e Mateus Sá, encarregado da equipe de fotógrafos.

No trabalho jornalístico, vale registrar a parceria com a Universidade Federal de Pernambuco que indicou três estudantes do Departamento de Comunicação para acompanharem a Caravana. O produto deles está no blog: www.lugaresevozes.blogspot.com e aqui colocamos alguns exemplos desse olhar juvenil. A parceria inclui o aprendiz de fotógrafo Sadokan Xavier, participante de um projeto social em Recife.

E a Caravana não aconteceria sem a integrada equipe do UNICEF, em consonância com os articuladores(as) do Selo em todos os momentos. A cada um deles nossos agradecimentos. Todo o processo exigiu planejamento, logística e dedicação.

Por fim, expresso a satisfação em realizar a Caravana 2008. Nos caminhos, a concretização da missão do UNICEF em promover os direitos de cada criança e cada adolescente. Identificamos experiências, desejos, vontades de transformar a realidade - a mudança está em curso e espero que a leitura traga aos leitores os sinais.

Ana Azevedo - Coordenadora Interina Alagoas-Paraíba-Pernambuco

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•••Flexeiras | ALQuinta-Feira | 4 de Dezembro de 2008

Chegamos a Flexeiras, primeiro destino da nossa Caravana. Como jornalista, eu estava curioso e um tanto inquieto, pois ali iniciava uma jornada de 1.765 km que percorreria 14 cidades contempladas com o Selo UNICEF Município Aprovado em Alagoas e Pernambuco. Os demais integrantes da Caravana cuidavam de seus afazeres: Mateus Sá, o fotógrafo, e Paulo Sano, o cinegrafista, preparavam seus equipamentos; Ana Azevedo, coordenadora do escritório do UNICEF em Recife, com o apoio da estudante de jornalismo Camila Lima, repassavam os índices que mais uma vez tornaram Flexeiras um lugar melhor para crianças e adolescentes – a cidade já tinha sido contemplada em 2006, pela primeira edição do Selo. O experiente Daniel Lima, também do UNICEF, orientava o motorista da van nos melhores caminhos para chegarmos ao local da recepção. Flexeiras tem pouco menos de 12 mil habitantes e nos últimos dois anos se destacou, entre outros pontos, em atividades que envolvem esporte, cidadania, cultura e identidade étnico-racial. Números que rapidamente saíram do papel na entrada da cidade, onde encontramos uma grande construção no meio de um descampado. Era o estádio de esportes, novinho em folha. Assim que entramos na cidade, fomos recebidos pela população com muita festa e fogos de artifício. Entre as crianças, os educadores e os funcionários envolvidos na mobilização, estavam também a prefeita Maria Izabel Souza e o padre Raul Moreira Filho. Na caminhada para o palco, montado para a entrega do prêmio e as apresentações culturais, a fanfarra tocou músicas bonitas

“O mérito é de todos que trabalharam para conquistar esse prêmio”

Maria Izabel Souza Prefeita

e diferentes, como Noite Feliz, Aquarela do Brasil, Asa Branca, e... Chupa que é de uva. Foi um cortejo com muita gente do qual fez parte o grupo de Capoeira Tradição e outro, formado somente por jovens vestidos de preto. Quem seriam eles? A resposta viria logo quando os jovens subiram ao palco para uma apresentação de hip hop, apenas um dos espetáculos do grupo de Balé Folclórico coordenado por Claudemir dos Santos do qual participam 75 jovens, dentre eles dançarinos e músicos. Em seguida, o grupo de Dança de Rua Tecnotronic, liderado pelo DJ David Brown, organizou uma roda de B.boys que arrancou gritos do público. Os meninos do grupo de axé também mostraram sua arte mas pararam no meio da dança pois havia chegado o momento da entrega do Selo. Ana Azevedo, do UNICEF, fez a entrega do troféu do Selo à prefeita da Cidade de Flexeiras, Maria Izabel Souza, e ressaltou que o Município provou merecê-lo pois os indicadores mostram que houve aumento dos atendimentos de pré-natal (de 38,1% para 62,6%), do percentual de adolescentes de 14 a 15 anos com ensino fundamental concluído (de 5,8 para 34,3%) e redução da distorção série-idade no ensino fundamental diurno (de 61,4% para 17,4%). Mas nem tudo são flores em Flexeiras: no mesmo período, o índice de mortalidade infantil subiu de 30% para 33%. Além disso, os grupos artísticos lamentaram a ausência de um espaço cultural para ensaios e apresentações. “Tenho certeza de que eles estarão aqui de novo”, garantiu a menina Laís Caroline, de 8 anos, com desenvoltura, ao microfone. “O mérito é de todos que trabalharam para conquistar esse prêmio”, garantiu Dona Isa, a prefeita, antes de seguir até nossa van, onde foi colado um adesivo com o nome de Flexeiras, a primeira parada da etapa alagoana da Caravana do Selo.

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O portal de entrada de Coruripe saúda os visitantes com as seguintes palavras: “o maior e mais belo litoral de Alagoas”- frase que exalta a beleza monumental desse pedaço de terra e mar, distante 85 km da capital Maceió. A chegada da Caravana mobilizou boa parte da população. As crianças eram a maioria e estavam agrupadas de acordo com os vários projetos socioeducativos mantidos na cidade, dentre os quais destacamos: Associação Pequenos Talentos, Capoeira Guerreiros, Farol da Cidadania, Construir o Futuro, Jiu Jitsu de Cariva, Jovem Eleitor, Futuros Atletas, Pequenos Talentos, Comunicação para a Cidadania. A cidade demonstrou ser bastante organizada em suas atividades de interesse público. Ao longo do caminho, chamou atenção a escola municipal que oferece reciclagem para os professores, assim como uma biblioteca pública com acesso à internet, a presença da Eco Mangue e mais oito ONGs com foco na criança e adolescente além do espaço cultural responsável por preservar a história e os folguedos locais, atividades que explicam, em parte, a liderança de Coruripe em pontuação no seu grupo do Selo. A comitiva foi liderada por Ana Azevedo, do UNICEF, o prefeito Marx Beltrão e demais autoridades municipais. Enquanto a fanfarra mirim Halleyxiandro Lessa tocava o Bolero de Ravel e o clássico Jesus Cristo, de Roberto Carlos, a caravana era conduzida à praça, local onde foi montado um palanque ao lado da igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, um dos cartões postais da cidade. No rosto da população estava estampado o orgulho de ver suas crianças desfilando.

•••Coruripe | ALQuinta-Feira | 4 de Dezembro de 2008

“Esporte será matéria obrigatórias nas escolas. Queremos o melhor para as nossas crianças”

Marx Beltrão Prefeito

“É uma satisfação indescritível receber o Selo UNICEF. Ele vem confirmar nosso trabalho pela causa da criança e do adolescente. A luta foi grande mas tivemos a colaboração de todos vocês”, disse o presidente do Conselho Municipal de Direito, Agapinto Santana. A moradora Genésia Pereira da Silva aproveitou a ocasião da festa para lembrar de que existem alguns pontos a melhorar na cidade: “Precisamos de um centro de recuperação para os jovens, pois aqui não há programas para tratamento de usuários de drogas”, disse, fazendo ainda o alerta de que existem grupos de extermínio agindo na cidade. O prefeito Marx Beltrão ressaltou que para a próxima edição do Selo a prioridade será o esporte, único tema do eixo de participação social em que Coruripe ficou fora: “Esporte será matéria obrigatória nas escolas. Queremos o melhor para as nossas crianças”, disse o prefeito. Um pouco antes de seguir viagem, a equipe da Caravana visitou a exposição das escolas públicas, montada na praça localizada em frente à igreja. Uma parte foi organizada pela Escola Guttemberg Breda que mostrou o resultado das atividades do projeto Comunicação para a Cidadania. Ana Azevedo e outros membros da Caravana parabenizaram os professores que se dedicaram à melhoria da educação em Coruripe os quais foram informados sobre práticas de incentivo à leitura e participação comunitária.

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A população de Taquarana nos recebeu de braços abertos, na rua 21 de setembro, bem embaixo da sombra de uma frondosa figueira. Ao som da banda marcial Santa Cruz, a comitiva contou com porta-bandeira, estandarte e até palhaços utilizando perna-de-pau. “Taquarana me faz crescer”, dizeres das camisetas e faixas que comemoravam a conquista do Selo UNICEF Município Aprovado. Para registrar esse esperado momento, 10 jovens da equipe de comunicação do comitê pró-selo estavam lá, tomando nota e fotografando tudo. Depois, tudo vira notícia no site do Selo, e também no programa de rádio veiculado de segunda a sexta, na Taquarana FM. Uma das garotas dessa turma esperta é Daiane Régis dos Santos que do alto dos seus 13 anos foi eleita para conduzir a cerimônia da entrega do Selo. O trânsito - inclusive um carro de boi que serviu de descanso para o palhaço - teve que parar para ver a banda passar, agora ao som do frevo Vassourinhas. Naquele momento, não havia mais como não notar o Maestro Milton, figura cheia de talento e energia que circulava entre músicos e público vestido com camisa e calças brancas, paletó preto, óculos escuros e trompete em punho. Ele foi um dos principais agitadores do cortejo que nos conduziu até a Praça João Paulo II, bem em frente à prefeitura, onde estava montado o palco. Neste local, foi armada uma grande cobertura para proteger as pessoas do forte sol. Chegamos, a Banda Mirim Santa Cruz tocou o Hino Nacional. Entre as lojas ao redor havia faixas com os dizeres:

•••Taquarana | ALSexta-Feira | 5 de Dezembro de 2008

“A cidade está nas nuvens de felicidade. Há muito tempo este objetivo estava sendo sonhado. Sei o que isso representa para vocês, ver com alegria o rosto de uma criança feliz”

Alay Correia Prefeito

“Selo UNICEF: resultado do compromisso da administração, oportunidade para todos”. Em seguida, foi a vez da banda Harmonia da Flauta tocar o hino de Taquarana. Após receber a premiação, o prefeito Alay Correia fez um discurso emocionante: “A cidade está nas nuvens de felicidade. Há muito tempo este objetivo estava sendo sonhado. Sei o que isso representa para vocês, ver com alegria o rosto de uma criança feliz”, disse, sem conter o choro. Os números que levaram Taquarana a receber o reconhecimento do UNICEF demonstram que a cidade melhorou bastante no que diz respeito à educação, cultura e saúde. No entanto, a articuladora Ana Paula chamou atenção para o que precisa ser melhorado na cidade: “Vamos lutar ainda mais para atingir os objetivos que ainda estão no vermelho”. Um deles, de acordo com o resultado do eixo de participação social, é aumentar a participação dos cidadãos na política e no orçamento público da cidade. Após as formalidades, a festa continuou com grupo de capoeira, coco de roda da Comunidade Quilombola Mameluco, uma tourada entre o boizinho e o palhaço e um inusitado coral de surdos e mudos, que interpretou a música Depende de Nós, em libras. Enquanto isso, Maestro Milton falou um pouco sobre seu trabalho. Ele trabalha com 150 crianças em três projetos, além de lecionar em toda a rede municipal “Aqui é assim - aprendeu a ler e escrever, já entra na aula de música”. José Ferreira Filho, nome de batismo do Maestro Milton, tem origem humilde. Quando começou a carreira musical, como aluno mais destacado do Maestro Fernando, tinha 17 anos. Hoje, com formação em psicopedagogia, coloca sua vocação e história de vida para incentivar outros talentos.

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•••União dos Palmares | ALSexta-Feira | 05 de Dezembro de 2008

As crianças de União dos Palmares promoveram uma saraivada de apitos para receber a Caravana do Selo UNICEF. A monumental “zoada” de cornetinhas só foi superada pelo barulho dos fogos de artifício. Quem fez o desfile foi a Banda Marcial Clássica Mário Gomes de Barros, conduzida pelo Maestro Lamparina. No caminho passamos pela rodoviária, onde literalmente todos pararam “pra ver a banda passar”. Antes de chegar ao palco, o nome de uma lan house - Zumbi Net - chamou minha atenção e fez lembrar de que estamos na terra do Quilombo dos Palmares, residência oficial dos líderes negros Ganga Zumba e Zumbi. Desde 2006, foi fundado na Serra da Barriga, local exato do quilombo, o Parque Memorial Quilombo dos Palmares, lugar mais do que especial para mergulhar na imensidão que é a cultura afro-brasileira. Chegamos à praça em frente à prefeitura onde o prefeito Areski Freitas, mais conhecido como Kil, recebeu de Ana Azevedo, do UNICEF, o troféu do Selo. É importante destacar a presença da Secretária Estadual de Educação, Claudete Monteiro, que veio especialmente para participar da cerimônia. Entre o público presente estavam representantes da Casa da Família, Fórum Comunitário, Pastoral da Criança e do projeto Educação para a Convivência na Zona da Mata. Em uma das faixas estava escrito: “A sociedade palmarina se sente orgulhosa pela conquista do Selo UNICEF”.

“Zumbi deixou uma história que não acabou, pois a luta dele era acabar com o preconceito. Ele deixou uma marca que nos inspira a fazer nosso futuro, e trabalhar com o UNICEF também nos dá essa inspiração”

Heleno de Oliveira, 19 anos, integrante do grupo de hip hop Belief Boys

Em seu discurso, Kil disse ter colocado o Selo em segundo plano: “Pensei - se a gente conseguir melhorar a qualidade de vida, o Selo será consequência”. Presente no evento, a articuladora Rosemary de Moraes elogiou a interação entre governo e sociedade civil e advertiu para indicadores que precisam melhorar: “principalmente a saúde, o saneamento de algumas localidades e a criação de um Conselho de Cultura e um Conselho para a mulher”. Para encerrar a festa, subiu ao palco o grupo de hip hop Belief Boys (Garotos da Fé), ou simplesmente BB. A música contagia, e a poesia faz pensar: “Salve Zumbi, a história continua, União dos Palmares, terra da liberdade”, diz a letra. Depois da apresentação, conversei com Heleno de Oliveira, 19 anos, um dos coordenadores do BB. Ele disse que o grupo é incentivado pela escola municipal Maria Mariá, da comunidade de Santa Fé, que oferece não só o local para ensaio mas também roupas e transporte. “Zumbi deixou uma história que não acabou pois a luta dele era acabar com o preconceito. Ele deixou uma marca que nos inspira a fazer nosso futuro e trabalhar com o UNICEF também nos dá essa inspiração”, disse Heleno. Enquanto isso, o prefeito Kil e Ana Azevedo colavam o adesivo de União dos Palmares na nossa van. Hora de partir para outro destino dessa longa viagem.

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•••Viçosa | ALTerça-Feira | 9 de Dezembro | de 2008

Foi grande a satisfação em conhecer Viçosa, uma jóia da cultura incrustada no sertão alagoano. A população nos aguardava na Praça das Amêndoas, mais precisamente em frente ao Baú de Leitura, projeto sediado numa casa com muitos livros, tapetes e almofadas para a criançada ter um bom lugar para ler. Nada mais justo na cidade em que Graciliano Ramos viveu parte da juventude, e mais tarde serviu de cenário para gravação do filme inspirado em São Bernardo, um de seus romances mais famosos. “É o local mais frequentado de Viçosa”, disse Maria da Conceição, uma das coordenadoras. “Chegamos a atender mais de mil crianças por mês”, informa o prefeito Peri Brandão. “Um livro parece mudo, mas nele a gente descobre tudo”, completa Peri. E foram justamente os pequenos participantes do projeto que conduziram o desfile. A cena foi bonita de ver: ao som da Fanfarra Maria Nazaré Batista, dez meninos e meninas fantasiados fizeram o “abre-alas”, vestidos de brincantes do reisado, pastoril, xaxado, quadrilha e da cavalhada. Os demais estavam fantasiados de personagens da literatura: Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho, a Fada Madrinha, vários bichinhos, a boneca Emília e o Visconde de Sabugosa. “Tivemos todos os nossos folguedos restaurados pela escola de folclore e música, onde criamos novos grupos de guerreiros, banda de pífanos e nossos meninos tocam Vivaldi e Villa Lobos”, conta o prefeito com orgulho, enquanto caminhamos para a Praça Apolinário Rebêlo, local da cerimônia de entrega do Selo. Chegando lá, outra surpresa: ao contrário das demais cidades, as crianças subiram no palanque, e

“Não se trata de vitória contra o inimigo, é uma vitória contra a miséria, contra a ignorância. Uma vitória traduzida em números verdadeiros, números da vida”

Peri Brandão Prefeito

as autoridades permaneceram no chão. Minutos depois, a Orquestra Nuno Pimentel tocou o hino de Viçosa. Os comunicadores do projeto Jovem Fazendo a Diferença estavam atentos a tudo, para depois transmitir as boas novas pelas rádios Viçosa FM e Princesa das Matas FM. “Não se trata de vitória contra o inimigo, é uma vitória contra a miséria, contra a ignorância. Uma vitória traduzida em números verdadeiros, números da vida”, disse o prefeito Peri, antes de entregar flores às articuladoras municipais. Representando o UNICEF, Lúcia Paiva também recebeu flores e aplausos. Enquanto o grupo de capoeira Arte Ligeira se apresentava debaixo de uma grande árvore, percebi que estávamos rodeados de poesia, inscritas em painéis que homenageiam seus autores: Bolero, Sidinês, Denilson Silva, Dall Montenegro, Jader Tenório Manuel Neném, Passinho, Basílio Sá e os mestres Sebastião Guerreiro, Osório, Jaime, Bia, Luis Góis. A estátua dourada de Zé do Cavaquinho reluzia ao sol, em evocação ao falecido fundador do Trovador Berrante, reduto de políticos, intelectuais e artistas como o ator Mário Lago que esteve lá para a filmagem de São Bernardo, em 1972, e escreveu uma reportagem-dedicatória ao novo amigo: “Se Lisboa tem Fernando Pessoa, nós temos Zé do Cavaquinho”, brinca o prefeito, enquanto apresenta o espaço, que ainda ostenta uma espirituosa coleção de placas de rua: Rua do Passarinho, Rua do Cochilo, Rua do Palhaço, Rua do Cravo, Rua do Banho... será que elas existem de verdade? Com tanta história e um conjunto cultural que inclui galerias, mini-museu de arte sacra e escola de música, é difícil entender porque Viçosa não pontuou no tema Cultura e Identidade Étnico-racial. Outro ponto que precisa ser melhor trabalhado é a taxa de mortalidade infantil, a qual aumentou de 27,5% para 33,7%, bem como a de mortalidade de jovens até 19 anos por causas externas, que aumentou de 16% para 32,2%. Assim, esta cidade que é berço de músicos, poetas populares e escritores, poderá cada vez mais ser considerada cidade amiga da criança e do adolescente.

Viçosa | Por Camila Lima

O sol de rachar ressaltava as cores da festa organizada para receber a Caravana do Selo Unicef. Atletas de futsal marchavam com seus uniformes vermelhos e medalhas douradas que reluziam com a mesma intensidade que os brincos e colares das baianas que, a caráter, seguiam o cortejo. Batuqueiros e dançarinos apresentavam a música afro com roupas coloridas e adornos de palhas e búzios. O pastoril vinha em seguida e a banda feminina de pífanos acompanhava sem parar de tocar. Um dos personagens da cultura popular, que se denominava Mateu, era uma expressão à parte. Vestido com um blusão de chita, trazia um chapéu cônico com diversos espelhos na cabeça e um medalhão no peito. O seu olhar e a forma de sorrir eram, no entanto, o que mais destacava. As meninas desfilavam com vestidos rodados brancos, amarelos, vermelhos, com babados, fitas, flores, laços. Enquanto isso, a borboleta do pastoril posava, toda charmosa, para a foto. Todos caminhavam compassados, suavam juntos. Celebravam, através da cultura, os avanços alcançados na garantia dos direitos da criança e do adolescente. Viçosa foi um dos municípios aprovados pelo Selo Unicef 2008. Entre outras áreas, apresentou progressos significativos na saúde e na educação. O percentual de mulheres grávidas com sete ou mais atendimentos pré-natais aumentou, enquanto o número de adolescentes grávidas caiu. Mais crianças e adolescentes estão frequentando escolas e as taxas de distorção idade-série e de abandono escolar reduziram. O número de domicílios atendidos por sistemas de abastecimento de água para o consumo humano expandiu. Motivos para comemorar não faltavam.

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•••Igaci | ALQuarta-Feira | 10 de Dezembro de 2008

Chegamos em Igaci numa manhã com algumas nuvens e muito sol. Na entrada da cidade, próximo à linha do trem, músicos vestidos de azul e amarelo da Fanfarra do Colégio Monsenhor Macedo aguardavam nossa chegada para começar o desfile.Fomos saudados de braços abertos pelo jovem prefeito Agnaldo Cavalcanti e sua comitiva, que nos conduziu até à Praça Cônego Luís Farias Torres, onde havia uma igreja e o palanque montado para a cerimônia. Uma pena que a sombra das três tendas não pôde ser aproveitada pelo povo de Igaci, que para conferir a entrega do Selo, suportou o sol a pino sem proteção alguma. Também faltou atenção com os músicos da banda de Pífanos Mestre Léo Bino, que esperaram um tempão para tocar, de pé, expostos ao severo calor do meio-dia. Sem se importar com a “ordem estabelecida”, uma garotinha com no máximo cinco anos de idade, fita amarrada na cintura e sandálias vermelhas, rompeu o cordão de isolamento, na maior naturalidade e, de braços cruzados, ouviu o discurso das autoridades. Na ocasião estava presente o professor Edmilson de Souza, presidente do Fórum Alagoano de Conselhos Tutelares. Entre outros pontos ele lembrou a recente inauguração do conselho municipal: “Igaci se colocou de forma dinâmica. Por se preocupar com a causa da criança e adolescente, todos estão de parabéns”, disse o professor. Após os aplausos, um grupo de jovens entoou o hino da cidade. E também apresentou a paródia “A conquista do Selo”, escrita por Maria da Silva, funcionária da Escola Municipal Antônio Caetano de Souza, especialmente para a ocasião.

“Sabe era uma missão difícil, mas a AAGRA abraçou / e ajuda ela buscou / e encontrou / apoio total da educação / da Secretaria de Saúde / Conselho Tutelar, na Assistência Social / Educandário Jesus Mestre / e o nosso promotor / diretores e professores (...) E nós estamos felizes, queremos agradecer / a todos que trabalharam / se dedicaram com amor e o Selo UNICEF Igaci conquistou (bis) A AAGRA que está na paródia é a sigla para Associação de Agricultores Alternativos, uma das principais articuladoras pró-Selo. “A gente se engajou tanto... Receber o Selo é bom mas a gente tem que trabalhar mais ainda”, disse Genésio Henrique, um dos integrantes da instituição. Realmente, Igaci fez por merecer. No relatório do Selo UNICEF, a cidade pontuou nos quatro temas de participação social; reduziu a mortalidade infantil, o número de adolescentes grávidas entre 10 e 19 anos, a desnutrição em crianças com menos de dois anos e a distorção idade-série no ensino fundamental. Além disso, o percentual de adolescentes com o ensino fundamental concluído aumentou de 9,4% para 40,5%. Rosa Maria de Lima Silva, presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e Adolescente, explicou como a cidade atingiu essas metas: “Mobilizamos escolas, associações de bairro e instituições. Todas as escolas ensinam cultura brasileira e promovem seminários. Levamos as crianças para conhecer o rio e as incentivamos a contar histórias da família na sala de aula”. “As 30 escolas de Igaci trabalham com crianças com deficiência”, disse a Secretária de Educação, Lúcia Barbosa. “Além disso, aprofundamos o ensino ligado ao meio-ambiente e esporte. No ginásio e no estádio temos aula de futebol, vôlei, capoeira e judô”. Nesse sentido, vale destacar a experiência de Charles Anderson de Albuquerque, professor e mobilizador de esporte nas 12 comunidades de Igaci: “No começo só tinha uma bola. Trabalhava com 30 meninos do Sítio Coité das Dinhas. Hoje, promovemos eventos e oficinas em Igaci, Arapiraca, Palmeira dos Índios, Quebrangulo, Piranhas e Estrela de Alagoas”. A Caravana seguiu viagem, mas a festa parecia não ter hora para terminar.

“Mobilizamos escolas, associações de bairro e instituições. Todas as escolas ensinam cultura brasileira e promovem seminários. Levamos as crianças para conhecer o rio e as incentivamos a contar histórias da família na sala de aula”

Rosa Maria de Lima Silva, presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e Adolescente

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•••Piranhas | ALQuinta-Feira | 11 de Dezembro de 2008

Em Piranhas, beira do Rio São Francisco, a festa começou bem cedo. Antes mesmo das 9 horas, quando chegamos ao ponto de encontro na Avenida Delmiro Gouveia, quem nos recepcionou foi uma banda de pífano da melhor qualidade. Prova de que a cidade, além de preservar sua riqueza histórica e natural, também sabe cuidar de sua cultura. Os músicos vieram do Piau (povoado com 8 mil habitantes – a população de Piranhas é de 26 mil) e fizeram um cortejo simples e bonito, que nos levou até o Ginásio Poliesportivo Vereador Demócrito Damasceno Ventura, que estava lotado de crianças. “O Selo UNICEF 2008 representa a força, a coragem e a persistência dos piranhenses na melhoria da qualidade de vida das crianças, adolescentes e da família”, dizia uma das faixas carregada por uma dezena de meninos e meninas vestidos com uniforme escolar. Em certos momentos da caminhada, quem carregava o troféu com o Selo dourado que seria entregue ao prefeito Inácio Loiola, não foi a representante do UNICEF mas uma sorridente estudante da cidade. No ginásio, foi a vez da Filamôrnica Mestre Elísio mostrar seu talento. Diante da mesa formada pelo prefeito, Lúcia Paiva (UNICEF), Patrícia Marques (Conselho Municipal da Criança e Adolescente), Sandra Roberta (Articuladora) e Juliana Vergetti (Secretária Adjunta de Assistência Social de Alagoas e representante do governador no Pacto Um Mundo para a Criança e o Adolescente do SAB), a jovem Camila Raquel, da comunidade do Piau, destacou a necessidade de que todos os processos continuem. O jovem Cícero Aquino, de 14 anos, participou ativamente do projeto Esporte e Cidadania e também deu o seu recado. E Lúcia Paiva, Assistente Administrativa e Coordenadora da Caravana Alagoas/Pernambuco destacou: “No início de 2007 estive

Piranhas já conquistou várias vitórias, mas essa é o maior presente, por ser de reconhecimento internacional”

Prefeito Inácio Loiola

aqui participando de uma das primeiras atividades pró-Selo. Disse que queria voltar, e aqui estou. Quero parabenizar Piranhas pela redução da mortalidade infantil e da desnutrição. Além disso, a cidade avançou na educação, a distorção idade/série evoluiu 33,0% e o número de adolescentes com ensino fundamental concluído evoluiu 17,0% ”. Ao receber o troféu e os documentos que certificam Piranhas como Município Aprovado, o prefeito declarou: “Tenho dito que o problema que aflige o Brasil é o das desigualdades regionais, que têm como resultado a desigualdade social. Um ponto para se debelar esse problema tem sido a municipalização das ações, e o país tem avançado graças a isso. Nesse sentido, o Selo UNICEF é um orgulho para os municípios. Piranhas já conquistou várias vitórias, mas essa é o maior presente, por ser de reconhecimento internacional”. Valdirene Correia da Silva, Secretária de Assistência Social de Piranhas, disse que não há fórmula ou segredo para chegar ao reconhecimento do UNICEF: “Nossa mobilização começou nas escolas, onde nós trabalhamos a educação para o meio-ambiente, com metodologia específica para cada localidade. Todas elas se envolveram. Na parte de saúde, todos os médicos e funcionários participaram de reuniões e palestras com os pais, em que trataram de controle de natalidade, saúde bucal e gestação”, completou Valdirene. Bárbara Vivas, que trabalha como a articuladora pró-Selo, registrou a participação do Instituto Xingó, mantido pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), estatal de forte presença na região por conta da usina hidrelétrica. “Ela mantém uma sementeira com mais de 800 espécies nativas da caatinga e cedeu técnicos para acompanhar a distribuição de mudas nas escolas”, disse Bárbara. Em visitas à sementeira, que funciona desde 1987 e produz 200 mil mudas por ano, os estudantes aprendem a identificar as plantas típicas da região: quipenbe, angico de caroço, aroeira, ipê roxo, carcarazeiro, imburana, barriguda, catingueira... “A iniciativa é uma compensação ambiental pela construção da hidrelétrica. Fazemos o plantio nas escolas e capacitamos professores. O objetivo maior é preservar o bioma da caatinga”, explicou o engenheiro florestal Marcos Vinícius. Mais uma vez, é chegada a hora da despedida. Ao som da Banda de Pífanos do Piau, naturalmente.

“Nossa mobilização começou nas escolas, onde nós trabalhamos a educação para o meio-ambiente, com metodologia específica para cada localidade.

Secretária de Assistência Social de Piranhas Valdirene Correia da Silva,

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•••Estrela de Alagoas | ALQuinta-Feira | 11 de Dezembro de 2008

O relógio marcava 15h quando Estrela de Alagoas despontou na estrada. A pequena cidade de 16 mil habitantes nos recebeu com uma batucada diferente, feita pelos Sucateiros Travessos da oficina de música do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) , que tocam em tambores reciclados a partir de tonéis e outros recipientes de lata ou plástico. Chegamos na Praça Luís Duarte, e a providencial sombra das árvores refrescava o fim de tarde. Enquanto aguardava a entrega do Selo UNICEF, que Estrela conquistou pela segunda vez, vimos a exposição dos alunos da Escola Simplício Aquino do Nascimento. Eram desenhos de rostos dos dez negros mais importantes do Brasil, baseados em recente pesquisa nacional, que elegeu Gilberto Gil, Elisa Lucinda, Lázaro Ramos, Isabel Filardis, Walter Rosa, Milton Gonçalves, Emanoel Araújo, Joaquim Barbosa, Glória Maria e Emanuela de Paula. Logo ao lado, figuravam Zumbi dos Palmares, Ogum, Oxalá, Xangô, Exú e Osim. Francisco Correia Ferro, capoeirista de 68 anos, foi um dos que assistiram com atenção a entrega do Selo. Ele faz parte do grupo Águia Negra que hoje conta com 82 alunos. “Capoeira não tem idade. Ela cria destreza no corpo e na mente. Tem criança de cinco anos que treina com a gente”, falou o veterano, ao lado da filha Suzane e do genro Jackson, o professor da turma. Lúcia Paiva, falou: “Pela segunda vez nós entregamos o Selo UNICEF a Estrela de Alagoas. Quero destacar dois avanços, a redução tanto da mortalidade infantil quanto da desnutrição. No semiárido, a redução foi três vezes maior do que no resto do país. Isso quer dizer que nosso trabalho está no caminho certo” e logo na sequência fez a entrega do troféu do Selo ao prefeito José Teixeira.

“Queremos que o jovem de Estrela seja protagonista da sociedade, que vá atrás de seus sonhos”,

Anderson Gomes Diretor do grupo de teatro

Jarbas Alves, representante do Gabinete Civil do Governo de Alagoas ,afirmou: “É um grande prazer estar aqui e ver que é possível melhorar a qualidade de vida do povo. Vamos batalhar para que na próxima edição sejam não oito, mas 80 municípios de Alagoas a receber o Selo”. Faixas de agradecimento registravam o trabalho de Josefa Domingos, articuladora do Selo. Em seguida, começaram as apresentações de maculelê e capoeira, teatro e música. O grupo de teatro encenou uma versão nordestina da peça Romeu e Julieta. O diretor do grupo, Anderson Gomes, explicou que um dos objetivos é provocar reflexão sobre a violência contra a mulher, a partir da técnica do teatro do oprimido, de Augusto Boal: “Queremos que o jovem de Estrela seja protagonista da sociedade, que vá atrás de seus sonhos”, disse Anderson. Estrela de Alagoas se destacou pelo atendimento a mulheres grávidas, pelo alto percentual de adolescentes com o ensino fundamental concluído bem como pela redução da distorção idade-série no ensino fundamental diurno. Já o professor municipal Carlos Geraldo Soares de Lima alerta para um grave problema: o acesso à água potável: “Aproveitamos água de chuva e dos mananciais. Tem casa que leva cinco meses para chegar água. Na escola temos horta comunitária, que morreu por falta d’água”, lamenta o professor. Sinal de que trabalho não falta para que, como deseja a Secretária de Educação e Cultura, Margarete Santos Lima, Estrela de Alagoas continue a conquistar a aprovação do UNICEF.

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Rejane Maria da Silva gosta de gente. Há três anos, perto de completar meio século de vida, cansou da rotina monótona proporcionada pelo serviço de auxiliar de enfermagem, em postos de saúde de Campina Grande, e decidiu mudar de vida ao tomar conhecimento da seleção pública para Agente Comunitário de Saúde, em Riacho de Santo Antônio. Foi aprovada e, mesmo vivendo num dos menores municípios paraibanos, com 1.800 habitantes, Rejane passou a levar a vida “agitada” que sempre sonhou. Uma hora antes da chegada da Caravana do Selo, ela já estava no Centro Social esperando pela festa. “Pense num prêmio merecido!”. Como agente de saúde, ela sabe do que fala. E, para que não restem dúvidas, em voz alta dava exemplos dos resultados das políticas públicas do município: “As mães daqui não ligavam para vacina nenhuma, a gente tinha que empurrar todas elas para o posto de saúde. Hoje em dia, isso mudou. A gente trabalhou tanto, conversou tanto, que elas acompanham a carteira da vacinação e procuram a gente para vacinar os meninos na época certa”. Pouco antes de entregar o trófeu ao prefeito José Roberto de Lima, diante de quase 200 pessoas que acotovelavam-se no saguão do Centro Social, Conceição Cardozo, do UNICEF, confirmou os avanços mencionados por Rejane na área de saúde, expressos no crescimento de 40,6% para 78,8% do percentual de mulheres grávidas com acesso ao pré-natal. Conceição lembrou, porém, que ainda era preciso garantir o acesso das crianças riachoantonienses à escola de qualidade, pois no período monitorado

•••Riacho de Santo Antônio | PBQuinta-Feira | 04 de Dezembro de 2008

“Não basta garantir o acesso. Sabemos que é preciso oferecer quali-dade, jornada ampliada e reforço escolar para manter a criança em sala de aula”.

Articuladora municipal do Selo, Ana Lúcia da Conceição

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pelo Selo a taxa de abandono piorou, saltando de 8,3% para 15%. A articuladora municipal do Selo, Ana Lúcia da Conceição, mãe de três filhos que estudam em escolas públicas, reconheceu que a população de Riacho de Santo Antônio tem consciência desse desafio e que ele está sendo enfrentado. “Não basta garantir o acesso. Sabemos que é preciso oferecer qualidade, jornada ampliada e reforço escolar para manter a criança em sala de aula”, admitiu a articuladora durante a visita que a equipe da Caravana fez ao laboratório de Informática e à biblioteca da Escola Municipal Josefa Lima da Silva. Enquanto os discursos das autoridades se sucediam em frente ao Centro Social, dezenas de crianças brincavam na rua de paralelepípedos, varrida pelo vento morno que arrastava nuvens amarelas de poeira. Todos já estavam de férias mas foram acompanhar a festa. Janderson Marlon da Silva, aluno da 5ª série, contou que tem 11 anos e sonha em jogar futebol no Campinense ou no São Paulo, seus times de coração. Fora as peladas com os amigos no campinho próximo à escola, o que ele mais gosta são das aulas de português. Aos 12 anos, Laine Santos da Silva tem sonhos mais sóbrios: quer ser juíza de Direito. Sua preferência é por matemática, mas discorda de Janderson. Para ela, a melhor coisa da cidade são todas as professoras das escolas. A merenda variada, composta por sopa de carne, papa de aveia, angu, arroz com soja, macarronada e hambúrguer também merece elogios.

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•••Boqueirão | PBQuinta-Feira | 04 de Dezembro de 2008

Caso uma vidente tivesse revelado à assistente social Lúcia Batista, no final da década de 80, que estaria à frente da equipe responsável por um prêmio capaz de proporcionar reconhecimento internacional ao município de Boqueirão, provavelmente ela iria ignorar o conteúdo de tal profecia. Há duas décadas suas ambições eram bem mais modestas. Atualmente responsável pela articulação do Selo UNICEF Município Aprovado, na época Lúcia dirigia uma ONG chamada Nova Quilombo, tentando vencer o preconceito da elite local, que discriminava o trabalho com as crianças de ruas e os adolescentes considerados mais “difíceis”. “Sei que para Boqueirão o Selo tem uma importância maior, mas para mim é a coroação de uma história de vida. No tempo da ONG, nossa equipe era vista como gente que defendia gente imprestável, vagabundos. Hoje, uma daquelas meninas que recebiam reforço escolar é minha secretária-adjunta”. A articuladora se refere a Célia Regina Gonçalves, de 35 anos, que contou aos integrantes da Caravana do Selo como foi o esforço para montar a estrutura da Secretaria de Assistência Social, inexistente no município de 16 mil habitantes e situado a 180 quilômetros de João Pessoa, até o prefeito Carlos José Castro Marques fazer o convite a Lúcia Batista. Lúcia e Célia, que também é cantora de forró, asseguram que o mais difícil não foi elaborar e informatizar o cadastro do Bolsa-Família e trabalhar durante meses numa sala emprestada pela Câmara Municipal: “O mais complicado é mudar a cultura do assistencialismo e superar a resistência das pessoas que

“Sei que, para Boqueirão, o Selo tem uma importância maior, mas para mim é a coroação de uma história de vida. No tempo da ONG, nossa equipe era vista como gente que defendia gente imprestável, vagabundos. Hoje, uma daquelas meni-nas que recebiam reforço escolar, é minha secretária-adjunta”

Lúcia Batista Assistente Social

pedem e querem receber tudo de mão beijada”, explicam a Secretária e sua adjunta. Segundo elas, a resistência acontece, por exemplo, quando alguém procura ajuda e é encaminhado para um curso de Costura Industrial, um dos muitos oferecidos pela prefeitura. Apesar das dificuldades, os resultados já podem ser percebidos em algumas áreas, com o combate ao trabalho infantil na roça, travado junto com a Secretaria de Educação. A festa preparada para a entrega do troféu, numa casa de eventos particular, foi um exemplo da integração entre os setores da Assistência Social e de Educação do município. A maior parte das crianças que integravam os espetáculos de dança, por exemplo, estuda de manhã nas escolas municipais e, à tarde, se dedica à dança ou aos esportes nas oficinas e cursos oferecidos pela Assistência Social. Foi o caso das irmãs Micaela e Michele Pereira Ramos, de 11 e nove anos, respectivamente. As duas praticam balé desde que tinham cinco anos de idade, num curso oferecido pela prefeitura cujas aulas acontecem na creche municipal: “Gosto muito de dançar. Quando é dia de balé, eu saio da aula na escola já pensando em me apressar para a aula de dança”, revela a menina mais velha, Micaela. A mãe das duas pequenas dançarinas, a dona-de-casa Eliane Pereira Ramos, é testemunha das mudança na vida das filhas por conta do curso de balé. “Eu lembro que antes da dança Micaela passava todas as tardes em casa, sem fazer nada ou vendo televisão. Mesmo nos dias em que não tem aula, elas dançam em casa, treinando os passos ou ensaiando para o espetáculo”, revela a mãe. A integração entre esses dois setores foi decisiva para os resultados percebidos nas escolas. O percentual de adolescentes com até 15 anos que concluíram o segundo grau cresceu de 9,4% para pouco mais de 25%, o que contribuiu para reduzir a taxa de distorção idade-série de 41,7% para 18,8%. Durante a cerimônia de entrega dos troféus, a articuladora Lúcia Batista recebeu os dados oficiais do desempenho do município e sintetizou em uma frase o principal motivo que levou Boqueirão a conquistar o Selo UNICEF: “O Selo foi conquistado porque todo mundo ajuda”.

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•••Remígio | PBSexta-Feira | 05 de Dezembro de 2008

Foi preciso a van multicolorida da Caravana entrar na cidade de Remígio pela rodovia BR-104 para que a população acreditasse na conquista do Selo UNICEF. A incredulidade era tamanha que até a equipe responsável pelas atividades do Selo duvidava do resultado. A Secretária de Educação, Socorro Souto Delfino, resumiu a ansiedade que tomou conta do município de 17 mil habitantes: “A expectativa era grande, tínhamos certeza apenas que iríamos fazer uma boa pontuação. Não imaginávamos que daria para ganhar”. Ao lado da articuladora da Secretária, a articuladora do Selo, Nilma Suely de Souza Melo, relembra o dia que ficaram sabendo da conquista: “O prefeito recebeu o recado e ligou para o UNICEF, mas ficou tão emocionado que não entendeu tudo o que escutou, achou inacreditável. Eu mesma telefonei e fiquei confusa de tanta felicidade. Só depois de algumas horas é que caiu a ficha e eu entendi o tamanho da nossa vitória”. A caminhada que uniu os integrantes da Caravana - professores e centenas de alunos das escolas públicas - parou o trânsito da estrada que corta a cidade e liga Campina Grande à região do brejo paraibano. Todos seguiram para o ginásio Oberaldão, onde aguardavam o prefeito Luís Cláudio Régis e muitos participantes que explicam o fato de Remígio ter conquistado o Selo UNICEF Município Aprovado. Além de dados objetivos como a universalização da cobertura vacinal e do percentual de 102,3% de crianças de até um ano com Registro Civil, as políticas de inclusão social geraram os mais expressivos resultados do pequeno município paraibano. E a festa promovida nas ruas da cidade e no ginásio refletiu bem as práticas inclusivas.

“A expectativa era grande, tínhamos certeza apenas que iríamos fazer uma boa pontuação. Não imaginávamos que daria para ganhar”

Socorro Souto Secretária de Educação

Logo ao lado do palco, as professoras e as crianças da Associação Vida de Criança eram um exemplo dessas práticas. A ONG fundada por religiosos capta recursos entre os empresários e comerciantes locais para oferecer noções de higiene bucal e acompanhamento escolar para as crianças das comunidades de Buraco da Gia, Barreira, Matadouro e Vila do Campo, as mais pobres do município. Os professores visitam todas as famílias para identificar as crianças que serão atendidas. A prefeitura participa complementando o trabalho da sociedade civil, pois mantém as professoras Adriana Pereira de Souza e Maria da Paz, ambas da rede municipal de ensino, que são responsáveis pelo reforço escolar o qual acontece de maneira articulada com os colégios. Entre os números artísticos que se apresentaram na quadra, alguns dos 125 jovens e adolescentes atendidos pelo Programa Pró-Jovem deram outro exemplo de iniciativa de inclusão social. Os alunos do professor Edson Possidônio, um ator profissional especializado em trabalhos com portadores de deficiência, foram aplaudidos de pé após apresentarem uma coreografia criada com o objetivo de incluir todos os participantes das oficinas de dança contemporânea, na qual Francisco de Assis dos Santos, o Quico, teve o papel de protagonista, em sua cadeira de rodas. “Nosso trabalho é focado nas barreiras, nas dificuldades que todos enfrentamos na vida, e como ultrapassar esses obstáculos com a ajuda do coletivo. Quando todos atuam para que Quico supere suas barreiras, também aprendem como vencer os preconceitos que enfrentam”, explica Possidônio, integrante de uma equipe que oferece oficinas e cursos de karatê, esportes, dança, teatro, desenho artístico, publicidade, música e inclusão digital. Durante a solenidade em que recebeu o troféu do Selo UNICEF Município Aprovado, o prefeito Cláudio Régis dividiu os méritos pela conquista com os Conselheiros Tutelares e Conselheiros de Direitos, o Promotor Público da cidade, professores, diretores de escolas, equipes do Programa de Saúde da Família (PSF) e com o cartório de Registro Civil do município. Em seguida, aproveitou a oportunidade para pedir a “boa vontade da Câmara para aprovar a lei que cria e regulamenta o Fundo da Criança e do Adolescente, afinal o Selo nos deu a possibilidade de ver que há muitas crianças em risco, mas que há também alternativas para resolver os problemas”.

Onze Anos | Por Lucas Cardim

Na quadra esportiva de Remígio, mais de mil cidadãos celebram, com razão, os avanços na educação. Entre índices de abandono escolar, número de crianças entre 4 e 5 anos na escola, adolescentes que concluíram o ensino médio e distorção entre idade e série, todos os percentuais foram reduzidos ou aumentaram de maneira positiva para a cidade. Longe dos números e das letras, uma pessoa com nome e rosto observa as apresentações. Onze anos, mãos ásperas, pés sujos e lábios rachados pelo sol, observa maravilhado uma festa da qual não faz parte. Questionado se estuda, Onze anos afirma com a cabeça que sim, os lábios cortados incomodam. Diz, nervoso, ter saído do colégio aos sete e voltado há um ano e meio, gagueja e não sabe dizer o nome da escola nem tampouco nomes de professoras. Onze anos está cansado, acordou às cinco da manhã, deu comida aos cavalos e veio andando, cerca de dois quilômetros, até a cidade. Envergonhado pelos olhares alheios enquanto senta na arquibancada, intimidado pelas perguntas, salga os olhos. Acorda com frio, Fazenda Capim Dourado, trata cavalos, passa a manhã e parte da tarde trabalhando pesado. Onze anos é mais baixo que os meninos de sua idade, em sua cabeça um boné estampa a palavra Cowboy, muito embora não saiba ler nem escrever em português e sejam os cavalos que o tomam a infância. O menino, de rosto cansado, volta a prestar atenção na festa. Remígio merece comemorar. Quase triplicou o percentual de jovens com ensino fundamental completo, de 7,7% para 22,6%; reduziu a distorção idade série de 55,1% para 17,4 % e baixou para 9,2% a taxa de abandono escolar na rede municipal.

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•••Esperança | PBSexta-Feira | 05 de Dezembro de 2008

Ganhar prêmios em consequência dos resultados de suas políticas públicas foi algo frequente na cidade de Esperança, nos últimos anos. Além das duas edições do Selo UNICEF (2006 e 2008), o município recebeu do Governo Federal prêmios pela excelência da gestão da merenda escolar bem como e do Programa Bolsa-Família. Da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), ganhou prêmio pela gestão do Programa Saúde da Família. Mesmo com tantos prêmios, a chegada da Caravana do Selo não teve nada de rotineira. Antes mesmo dos integrantes da equipe deixarem a van, foi fácil perceber que a festa organizada seria apoteótica. A caminho do ginásio, as dezenas de meninas usando vestidos de baianas, outras vestindo trajes do candomblé, os integrantes da banda marcial, os capoeiristas e as crianças dos grupos de teatro infantil, faziam um colorido e diversificado cortejo pelas ruas da cidade de 28 mil habitantes, distante 156 quilômetros da capital paraibana. Enquanto a equipe coordenada pela articuladora do Selo, Marilene Diniz de Farias, preparava a cerimônia, o prefeito João Delfino explicava com a autoridade de quem conquistou o Selo UNICEF duas vezes, como é possível encontrar soluções para a saúde e a educação: “Todo político tem o discurso de que educação é prioridade. Basta sair do discurso e ir para a prática. O gestor municipal precisa entender que criança em escola de qualidade é um ato que implica em saúde. Da mesma forma que o ato de amamentar é um ato de educação”, explicou o prefeito com a voz calma e pausada, que não deixava transparecer qualquer euforia pela conquista.

“A gente fez campanha na rádio da escola e nas emissoras da cidade para convencer os adoles-centes com mais de 16 anos a tirarem o título de eleitor”

Roberta Alves da Silva, 13 anos Presidente do Grêmio Estudantil da Escola Municipal Dão Palmeira

Os números demonstram que o prefeito Delfino levou o discurso para a prática. O município tem um dos cinco melhores IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) da Paraíba e, de acordo com Ministério da Educação, em 2007 as escolas municipais atingiram metas que estavam previstas para 2011. Entre os indicadores monitorados pelo Selo UNICEF, merecem destaque a taxa de distorção idade-série que caiu de 29,4% para 13,5%. A frase de efeito sobre a importância da amamentação encontra eco no percentual de grávidas com atendimento pré-natal que melhorou de 27,7% para 64,6% no período monitorado. As conversas com as meninas e os meninos que acompanhavam as apresentações nas arquibancadas do ginásio, revelaram que há outras razões para explicar a conquista de Esperança. A presença maciça dos adolescentes, não só na festa mas principalmente nas atividades de participação social do Selo, é uma delas. Franzina e com o ar de séria conferido pelos óculos, a Presidente do Grêmio Estudantil da Escola Municipal Dão Palmeira, recorda como foi que ela e seus colegas contribuíram para o município ganhar o Selo UNICEF. Antes, Roberta Alves da Silva, de 13 anos, conta que apesar da timidez e do fato de ser “miúda” para a idade, venceu a eleição para a presidência do grêmio “de roldão”. Foram 379 votos contra 93: “O grêmio tem um programa de rádio no pátio da escola. Todo recreio a rádio toca música, os alunos mandam recados e a gente dá as notícias da cidade e do Selo. A gente fez campanha na rádio da escola e nas emissoras da cidade para convencer os adolescentes com mais de 16 anos a tirarem o título de eleitor”. A manutenção da rádio já não custa um centavo para os cofres públicos. Segundo Roberta, os integrantes da diretoria do Grêmio vendem anúncios para as lojas do centro da cidade, que patrocinam o programa em troca da veiculação de comerciais com propaganda sobre liquidações e promoções. Colega de sala de Roberta, Lidiane Alves de Melo, de 14 anos, é a primeira-secretária do grêmio. Se a presidente tem vocação para líder, é Lidiane quem, de acordo com suas próprias palavras, “administra as coisas, negocia com a diretora e organiza os eventos”. A camisa comemorativa do Selo, por exemplo, foi produzida com recursos de uma rifa idealizada pela dupla Roberta-Lidiane e vendida para a população de Esperança.

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•••Brejo do Cruz | PBTerça-Feira | 09 de Dezembro de 2008

Quem vive em Brejo do Cruz orgulha-se de duas coisas: do sucesso do compositor Zé Ramalho, filho mais ilustre do município, como atesta o arco instalado sobre a estrada, e da bela e onipresente Pedra da Turmalina, colina rochosa aos pés da qual a cidade cresceu. Contudo, a julgar pela acolhida aos integrantes da Caravana, é provável que agora o troféu do Selo UNICEF Município Aprovado faça parte da seleta lista de objetos de orgulho dos moradores do lugar, distante 382 quilômetros de João Pessoa. Famílias, profissionais de saúde e os alunos de todas as escolas do município lotaram as arquibancadas do ginásio esportivo, construído de modo a aproveitar a paisagem proporcionada pela Turmalina e a brisa fresca que amenizava os efeitos do calor. Enquanto esperavam a chegada do prefeito, Francisco Dutra Sobrinho, para começar o evento, integrantes das várias equipes que atuaram nas atividades do Selo revelavam que o segredo do município foi a integração entre os setores de Assistência Social, Saúde e Educação. A Secretária de Saúde, Soraya Nunes dos Santos Pereira, explica que muitos dos obstáculos na implementação das políticas públicas em sua área precisam ser enfrentados também nas escolas, junto às crianças e adolescentes. A Secretária cita vários exemplos: “A política de prevenção do HIV-Aids inclui distribuição de preservativos, mas sempre ouvimos gente dizendo que não precisa porque sabe se cuidar. As campanhas em favor da amamentação esbarram em argumentos de que o leite materno é fraco, além disso mulheres com mais de 40 anos têm preconceito em relação ao exame preventivo contra câncer de mama ou de útero”. Segundo a Secretária, para superar esses preconceitos, a Saúde precisa contar com o apoio de professoras e diretoras

da escola. A ideia é que as crianças levem para casa novas informações e conhecimento com base científica. Os dados dos indicadores monitorados pelo Selo UNICEF demonstram que a estratégia deve estar funcionando, afinal o percentual de adolescentes de 15 a 19 anos grávidas caiu de 24,7% para 19,9%, e a taxa de mortalidade infantil melhorou de 27,4 para 20,9 óbitos por 1000 nascidos vivos. A Secretária de Educação, Maria Aparecida Rodrigues, elogia a integração estimulada pela metodologia do Selo UNICEF, mas diz que o Brejo do Cruz tem mais de um motivo para comemorar a conquista. “Além da vitória propriamente dita, também estamos felizes com os resultados das atividades de participação social”, explica a Secretária, revelando que o esforço para pontuar em Esportes & Cidadania levou o município a resgatar grupos de capoeira tradicionais que estavam desarticulados. “Contratamos professores de capoeira para dar aulas de Educação Física. Transformamos a atividade em política pública de educação”, ressaltou Maria Aparecida. Mãe de dois filhos matriculados em escolas municipais, Marcilene Lima Pereira acredita que a capoeira e os outros esportes fazem parte da solução para resolver um problema gerado pela principal atividade econômica do município de 13 mil habitantes, a produção artesanal de redes e mantas, cuja fama atravessou as fronteiras do estado. “Quando os meninos daqui completam 14 ou 15 anos, largam os estudos para viajar com os pais vendendo rede. Acho que só o esporte pode segurar esses meninos na escola”, diz Marcilene, com a autoridade de quem, por conta própria, organizou uma escolinha e um time de futebol para que seus filhos e os amigos deles pudessem desenvolver uma atividade nas horas longe da sala de aula.

Além da vitória propriamente dita, também estamos felizes com os resultados das atividades de participação social

Maria Aparecida Rodrigues Secretaria de Educação.

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•••Uiraúna | PBTerça-Feira | 09 de Dezembro de 2008

A van colorida da Caravana chegou atrasada 10 minutos à praça Padre França, local marcado para o início das comemorações em Uiraúna, município distante 472 quilômetros de João Pessoa. Mesmo assim, a praça estava completamente vazia, o que provocou estranheza entre os integrantes da equipe que já começavam a se perguntar se tinham parado na cidade certa. Foi preciso a coordenadora da Caravana, Conceição Cardozo, ir até a Secretaria de Saúde, instalada na mesma praça, para descobrir que a articuladora do Selo, Simone Rodrigues, resolveu adiar o evento em uma hora. Motivo? O impiedoso sol do sertão paraibano. Assim que a sombra cobriu uma parte da praça, grupos formados por dezenas de crianças de todas as idades começaram a dar o tom e as cores da festa. Fantasiadas, algumas meninas com idades entre seis e nove anos anunciaram orgulhosas que iriam se apresentar no ginásio municipal, destino de uma passeata que começou assim que o sol tórrido deu lugar ao mormaço do final de tarde. Durante a caminhada puxada pela banda marcial, chamava atenção uma moça de roupas escuras cercada por meninos e meninas usando quimonos brancos. Era Maria dos Remédios da Silva Estrela, professora de dança e karatê de 125 crianças e adolescentes cujas famílias dependem da Bolsa-Família para sobreviver. Faixa-preta e vencedora de competições estaduais, Remédios deixou de lado a profissão de esteticista para compartilhar o que havia aprendido como atleta: “Transformei o hobby em profissão porque a gestão municipal encara como investimento social as despesas com a formação das crianças”, resumiu.

“O Selo UNICEF é um trunfo. Agora, Uiraúna chega a Brasília com moral”

João Bosco Nonato Fernandes Prefeito

Atividades de jornada complementar para os alunos de famílias beneficiadas pelo Bolsa-Família, como oficinas de artes marciais, dança e teatro, ajudaram a reduzir a taxa de distorção idade-série no município de 44,7% para 18,5%. Na saúde, o trabalho integrado com a Assistência Social proporcionou a queda da taxa de mortalidade infantil de 17,4 para 11,6 óbitos por 1000 nascidos vivos. Vale registrar o avanço no percentual de grávidas com atendimento pré-natal completo que chegou a 80,2%. A Secretária de Saúde Maria das Dores Alencar Sarmento explicou que além da integração, a cobertura de 100% do município pelo Programa Saúde da Família (PSF) foi outro fator importante para que esses números fossem alcançados: “O município tem seis equipes de PSF, todas com equipes de Saúde Bucal, inclusive”. Personagem conhecido em todo o município por sua simpatia, José Itamar de Freitas é uma unanimidade entre seus conterrâneos que o conhecem pelo apelido de Carneirinho. Seu carisma foi fundamental para que se tornasse agente de saúde há cinco anos, quando houve uma seleção para a função. “Ainda temos que superar a falta de qualificação para enfrentar alguns problemas específicos e a dificuldade de acesso a alguns lugares, mas tudo isso fica em segundo plano quando a gente tem consciência de que está prevenindo doenças e ajudando as mães a salvar seus filhos da desnutrição apenas com o leite materno”, desabafou Carneirinho. Após receber o troféu, o prefeito João Bosco Nonato Fernandes afirmou que deixaria a prefeitura com o sentimento de dever cumprido. E foi categórico para definir a importância da conquista: “O Selo UNICEF é um trunfo. Agora, Uiraúna chega a Brasília com moral”. A prefeita eleita, Glória Geane Oliveira Fernandes, concorda, mas revelou que sente que iria assumir o cargo com uma responsabilidade ainda maior: “Tenho certeza que o Selo irá abrir portas para a cidade, pois a partir de agora todos irão ter certeza que a administração municipal tem compromisso com suas crianças, mas isso também significa que teremos de trabalhar em dobro”.

“Transformei o hobby em profissão porque a gestão municipal encara como investimento social as despesas com a for-mação das crianças”

Maria dos Remédios da Silva Estrela, professora de dança e karatê

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•••Santarém | PBQuarta-Feira | 10 de Dezembro de 2008

A entrega do Selo UNICEF em Santarém reservou uma surpresa que não se repetiu em nenhum outro município do semiárido paraibano: chuva, muita chuva, com direito a raios e trovões. A enxurrada, rara na região, foi considerada um autêntico milagre por ter ocorrido em pleno mês de dezembro. Nenhum dos santarenses presentes à escola estadual que serviu de cenário para a festa, conseguiu lembrar de uma chuvarada no último mês do ano. A Caravana acabou levando os créditos pelo presságio de um bom inverno. Antes da festa e do temporal, as crianças e adolescentes se divertiram com o palhaço Bolinha, um profissional que veio de Cajazeiras pedalando por mais de 30 quilômetros sua incrementada bicicleta Peteka. O palhaço, contratado pela prefeitura para animar o evento, brincava com as crianças enquanto o prefeito Valceny Hermínio conversava com os integrantes da Caravana, intercalando dados da administração municipal com imagens poéticas. “Santarém é um município jovem, tem apenas 14 anos de emancipado e está crescendo como um adolescente. Por isso, aqui mudamos um pouco o lema do Selo que ficou assim: ‘Meu município cresce comigo’. Essa frase é perfeita para Santarém”, contou o entusiasmado prefeito. Com apenas 2.600 habitantes e aproximadamente 700 moradores na diminuta zona urbana encravada entre as serras do extremo oeste da Paraíba, a estrutura do município é bastante precária, tanto que o próprio prefeito precisa ir às ruas para executar políticas públicas. “Eu mesmo saio com as equipes recolhendo recipientes com água que podem juntar mosquitos da dengue e vou até as escolas para convencer os pais a participarem das atividades escolares dos filhos. Com

“Santarém é um município jovem, tem apenas 14 anos de emancipado e está crescendo como um adolescente. Por isso, aqui mudamos um pouco o lema do Selo que ficou assim: ‘Meu município cresce comigo’. Essa frase é perfeita para Santarém”.

Valceny Hermínio Prefeito

poucos recursos, tive que priorizar Educação e Saúde - não dá para fazer tudo de uma vez”. Os resultados dessas escolhas foram monitorados pela equipe do Selo UNICEF: a taxa de mortalidade infantil foi zero em 2007, fato diretamente relacionado aos elevados percentuais (acima de 100%) de crianças de até um ano vacinadas com a Tríplice Viral e a Tetravalente. Nas escolas, os números também são expressivos: a taxa de abandono escolar no ensino fundamental caiu de 12,9% para 4,5%. As palavras de algumas integrantes do grupo de xaxado Cangaceiros do Sertão, principal atração da festa de entrega do troféu do Selo, confirmaram outro resultado significativo identificado pelo Selo: o percentual de adolescentes com até 15 anos que concluíram o ensino fundamental saltou de irrisórios 8,3% para quase 40% no período monitorado. As irmãs Milene e Gislene Leandro Duarte, com 16 e 14 anos, estão cursando, respectivamente, a 1ª série do ensino médio e o último ano do ensino fundamental. Assim como outros adolescentes, foram atraídas pelo ritmo e também pela fama conquistada pelos Cangaceiros do sertão em dezenas de apresentações Nordeste afora. As duas têm consciência de que, dançando, ajudam a perpetuar a cultura regional. Mesmo assim, não permitem que os ensaios atrapalhem os estudos e os sonhos de um futuro melhor. “Quero ser juíza de Direito”, afirma a caçula Gislene. Mais tímida, Milene revela apenas que está estudando para fazer vestibular. Só não diz para quê, mas sabe que o futuro parece tão promissor quanto o inverno antecipado pela enxurrada que inundou o pátio da escola, levou os meninos a brincarem nos pequenos rios que se formaram nos corredores laterais e obrigou a Caravana a esperar pelo sol forte, companhia que até aquele momento tinha sido inevitável nas estradas da Paraíba.

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•••Poço Dantas | PBQuarta-Feira | 10 de Dezembro de 2008

As chuvas da manhã cessaram antes do meio-dia e, deixando eufóricos os agricultores e amenizando o calor, não foram suficientes para atrapalhar o tráfego nas estradas de terra da região. Com o caminho em boas condições, a Caravana chegou a um dos mais isolados municípios do sertão paraibano, Poço Dantas, distante 500 quilômetros da capital, para entregar o segundo troféu do Selo UNICEF aos poçodantenses. A equipe do UNICEF ainda não tinha desembarcado na praça em frente à igreja, único lugar sombreado da cidade, quando foi recepcionada pelo bem-humorado coro de crianças e professoras que tal qual torcedores de futebol, repetiam: “ê, virou freguês/Poço Dantas ganhou o Selo outra vez”. Antes mesmo da festa começar já dava para saber que nenhum sorriso seria mais largo e mais generoso do que o de Johnny Alves da Silva, um garoto de seis anos cuja foto em grandes dimensões estampava a lateral da van usada pela Caravana do Selo. Em dezembro de 2006, quando a caravana visitou Poço Dantas para entregar o Selo UNICEF, Johnny estava entre as muitas crianças que acompanharam a festa comandada por palhaços e pernas-de-pau. Seu sorriso iluminado chamou a atenção do fotógrafo Luca Barreto, que o clicou várias vezes. Na hora de escolher as fotos que iriam decorar a van da Caravana 2008, as imagens do garoto seduziram os designers. Foi seu pai, o funcionário público João Alves da Costa, quem viu a foto assim que o veículo estacionou na praça. Orgulhoso, trouxe o filho para se ver. Mais sorrisos no rosto de

Johnny. Mais uma vez, Luca Barreto o fotografou, desta vez quase hipnotizado pela sua própria imagem. “Desde ontem eu sabia que a foto dele tava no carro. Um vizinho viu lá em Uiraúna e me avisou”, contou João, dizendo que estava feliz pelo filho e pelo município. “Poço merece. As escolas daqui são muito boas, com muito espaço e bem organizadas”. E foram exatamente os resultados obtidos na educação que mais contribuíram para o “bis” do município. A taxa de abandono escolar, por exemplo, caiu de 23,5% para 8,8% e mais de 90% das escolas adotaram material contextualizado para a convivência com o semiárido, princípio pedagógico no qual Poço Dantas já se tornou referência para os educadores da região. O envolvimento dos professores e a participação dos alunos foi fundamental para garantir pontos em todas as atividades do eixo de Participação Social. Apesar da experiência acumulada na conquista da primeira edição do Selo, a articuladora e Secretária de Educação, Gilderlândia de Souza Oliveira, confessou que a segunda conquista foi ainda mais suada. “O tempo todo tivemos muito receio, pois sabíamos que era preciso melhorar ainda mais os indicadores. Existe muito a ser feito, acredito que nosso principal desafio é dar continuidade aos projetos para que eles se transformem em políticas públicas”, explicou. Na praça, o clima da festa era de descontração, tanto que Conceição Cardozo, do UNICEF, aproveitou para concordar com a articuladora e fez uma rápida análise dos indicadores do município, destacando que talvez seja necessária uma maior integração da área de Saúde no esforço para a melhoria de vida das crianças e adolescentes. Como o prefeito Itamar Moreira não conseguiu retornar a tempo de uma viagem a Brasília, o troféu do Selo UNICEF foi recebido pela Secretária de Ação Social, Ana Lúcia Fernandes, que fez uma síntese do que significava o prêmio para Poço Dantas: “O Selo é uma ferramenta para a gestão municipal. Todos os nossos projetos enviados a Brasília em 2007 e 2008 fizeram menção à conquista que tem importância maior do que dinheiro”.

“O Selo é uma ferramenta para a gestão municipal. Todos os nossos projetos enviados a Brasília em 2007 e 2008 fizeram menção à conquista que tem importância maior do que dinheiro”.

Ana Lúcia Fernandes Secretária de Ação Social

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•••São Francisco | PBQuinta-Feira | 11 de Dezembro de 2008

São Francisco tem 3.700 habitantes e está separada de João Pessoa por 432 quilômetros de estradas asfaltadas. Estes números sugerem tratar-se de uma pequena cidade, como tantas outras do semiárido, porém são dados que omitem muito mais do que revelam. Há motivos de sobra para um visitante surpreender-se no município. Foi isso que a equipe da Caravana percebeu durante as horas em que permaneceu na cidade para entregar o Selo UNICEF. Para quem chega a São Francisco com idéias preconce-bidas sobre a região ou administração pública, a primeira surpresa está logo na entrada da cidade. Em vez do já tradicional portal de concreto, muitas vezes de gosto duvidoso, a primeira edificação da cidade, do lado direito da estrada, é um prédio com dois pavimentos revestido de cerâmica branca, azul e amarela, ao lado, um ginásio esportivo tinindo de novo. É a Escola Chico Coréia, com salas climatizadas para os professores, janelões para favorecer a ventilação, carteiras intactas e quadros brancos em todas as salas de aula. No centro da cidade, a praça principal com a acanhada casa de paredes desbotadas onde funciona a prefeitura. Numa das extremidades da praça, a igreja que – mais uma surpresa – não é a construção mais imponente da área central da cidade. A biblioteca, essa sim, é o prédio que mais se destaca. Recém-construída em formato cilíndrico e com três andares, tem estantes cobertas com livros didáticos e dos principais romancistas e poetas da literatura brasileira, sala de leitura e jornais da semana disponíveis para qualquer leitor interessado. Tudo com ar-condicionado central. As crianças adoram. Empolgados com a estrutura dos prédios, os integrantes da Caravana fotografaram, filmaram e entrevistaram as pessoas

“Aqui em São Francisco, aprendemos que é preciso ir além do horizonte”

Eva Sandra Silveira de Oliveira Professora

que participaram do esforço pela conquista do Selo. Logo na primeira conversa, mais uma surpresa: a professora do 5 º Ano, Eva Sandra Silveira de Oliveira, não dá a mínima para a excelente infra-estrutura da escola onde trabalha: “Essa escola não é diferenciada por causa do prédio e sim por causa da metodologia. Nós tiramos os alunos da sala de aula, os levamos para o campo, o aprendizado se dá com os dois pés na realidade e a cabeça sonhando. Nós formamos seres pensantes. Aqui em São Francisco, aprendemos que é preciso ir além do horizonte”. Os alunos da professora Eva, todos com 10 anos de idade, confirmam que as cerâmicas da escola e o ar-condicionado da biblioteca são conseqüências da atenção que se dá à educação no município. Emerson Soares de Souza diz que gosta da diretora mas recorda o dia em que sua turma saiu andando pelos município “para conversar com as mulheres buchudas”. Natália Queiroga de Souza conta que, nesse dia, foram “conhecer as vidas das famílias e de uma mulher com um filho deficiente”. Depois de revelar que a coisa que mais gosta na escola “é a bagunça”, Aparecida Oliveira Dantas admite aprender muito quando as aulas são “na rua e nas casas das pessoas”. Os resultados monitorados pela equipe do Selo UNICEF refletem essa preocupação. A distorção idade-série caiu de 28,8% para 9,7%, enquanto que a taxa de abandono do ensino fundamental, que já era baixa com 3%, foi a 2,3% em 2007. Os indicadores de saúde mostram, contudo, que o desenvolvimento da qualidade de vida em São Francisco resulta de políticas públicas integradas: a taxa de mortalidade infantil caiu de 16.7 óbitos por 1000 nascidos vivos para zero. O percentual de crianças desnutridas não passa de 1%. A enfermeira do Programa de Saúde da Família (PSF), Cláudia Maria Lopes de Araújo, revela que o município ultrapassou todas as metas dos indicadores estabelecidos pelo Ministério da Saúde, além de garantir acompanhamento pré-natal com, no mínimo, dois exames de ultrassonografia durante a gravidez. “Com o laboratório de análises clínicas municipal inaugurado esse ano, vai ficar tudo mais fácil”. Por fim, o prefeito José Rofrants garantiu que não é o principal responsável pela conquista do município. Ao lado da articuladora Jacileide Lopes Conserva, ele compartilhou os méritos: “O Selo UNICEF foi conquistado pelas igrejas, pelas associações comunitárias, pelos funcionários públicos, pelos técnicos de vigilância epidemiológica. O prêmio é de todos nós”.

“O Selo UNICEF foi conquistado pelas igrejas, pelas asso-ciações comunitárias, pelos funcionários públicos, pelos técnicos de vigilância epidemi-ológica. O prêmio é de todos nós”

José Rofrants Prefeito

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•••Aparecida | PBQuinta-Feira | 11 de Dezembro de 2008

No município que cresce graças à produção e comércio de mantas e redes artesanais junto à BR-230, não há sequer vestígios da chuva que caiu sobre a região na manhã anterior. A Caravana chegou ao ginásio esportivo de Aparecida junto com as “delegações” de crianças e adolescentes das escolas públicas ou beneficiadas pelos programas sociais. A equipe que atuou na mobilização pelo Selo ainda finalizava os preparativos para a festa. O calor do início da tarde sertaneja não era capaz de arrefecer a animação das educadoras, agentes de saúde, professores e assistentes sociais que conduziram as atividades do Selo UNICEF no município. A professora Maria da Guia dos Santos, por exemplo, aproveitou a presença dos integrantes da Caravana para agradecer e explicar seu trabalho. Responsável pelas atividades do tema Cultura & Identidade Étnico-racial, enquanto acompanhava a chegada dos grupos de dança que iriam se apresentar na festa, Maria da Guia explicou a importância da metodologia do Selo para seu trabalho pedagógico. “O Selo respaldou o trabalho que eu desenvolvia isolada na escola do assentamento Acauã. Depois da iniciativa do UNICEF, meu trabalho passou a ser considerado importante tanto pela prefeitura quanto pela comunidade”, explicou a professora que também coordena um grupo de Consciência Negra em Aparecida. “Antes, as escolas só organizavam alguma atividade do gênero quando chegava o 20 de Novembro, o Dia da Consciência Negra. Uma das ações que mais mobilizou a juventude foi um concurso de beleza negra, que mexeu com a autoimagem das moças e rapazes negros. Tenho certeza que

A responsabilidade é ainda maior depois desses resultados”

Deusimar Pires Ferreira Prefeito eleito

iremos dar continuidade às atividades, agora como uma política permanente da Secretaria de Educação”. Enquanto a professora Maria da Guia revelava seu entusiasmo, as crianças e algumas funcionárias da prefeitura se alvoroçaram quando a equipe da Caravana começou a distribuir os cartões postais com imagens de crianças de alguns municípios que conquistaram a edição 2006 do Selo. Tanta agitação porque um dos postais retratava um grupo de crianças da creche municipal, personagens de uma reportagem especial sobre o Selo UNICEF, publicada pelos jornais da rede Associados em 2007. A festa acabou sendo a mais informal de todas as solenidades de entrega do troféu na Paraíba. Como o prefeito Júlio César Queiroga de Araújo estava ausente, recebendo mais um prêmio de excelência da merenda escolar em Brasília, os protagonistas foram as próprias mulheres que mobilizaram a cidade de Aparecida pelo Selo. Gente como Elaine Martins de Sá, Cláudia Costa, Jorgiana Bonifácio, a professora Maria da Guia e a articuladora municipal Edna Oliveira da Paz que, sob aplausos dos adolescentes, deram a volta olímpica no ginásio com o troféu erguido. Uma volta olímpica onde o único homem era Audijonas Badu, que também trabalhou nas atividades culturais. Discreto, o prefeito eleito Deusimar Pires Ferreira preferiu não participar da volta olímpica, mas assegurou que continuará a investir para que o município conquiste o terceiro Selo UNICEF: “A responsabilidade é ainda maior depois desses resultados”. O novo prefeito demonstrou estar ciente de que terá de manter a melhoria dos indicadores do município, cujo percentual de meninas de 15 a 19 anos grávidas caiu de 29,8% para 20,7% e 0% de taxa de mortalidade de adolescentes e jovens por causas externas. Depois da festa, a alegria continuou na creche municipal. A Caravana foi até lá conhecer as crianças cujos sorrisos ilustraram os cartões distribuídos como brindes nos 49 municípios vencedores do Selo em Alagoas, Paraíba e Pernambuco. Tainara, Geovana, Edilene e Viviane não esconderam o orgulho ao ver a própria imagem nos cartões e fizeram questão de posar para uma nova sessão de fotos, desta vez com todas as outras crianças que passam as tardes na bem equipada creche.

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Depois de Poço Dantas e Aparecida, mais um município certificado nas duas edições do Selo UNICEF aguardava a Caravana. Em Nazarezinho, com 7.200 habitantes e situado a 456 quilômetros de João Pessoa, novamente, as crianças lembravam da alegria vivida na festa de dois anos antes. Foi o caso da menina Ana Lúcia, de 4 anos de idade, que em 2006 foi carregada nos braços pelos gigantes pernas-de-pau. Seu tio, o agente de saúde Francisco Gilson da Silva, contou que assim que chegou ao Centro Social e viu o veículo decorada com adesivos coloridos, a garota “lembrou na hora e começou a chamar pelos palhacinhos”. Francisco aproveita a oportunidade para assegurar que há justiça no reconhecimento do UNICEF à implementação das políticas públicas de proteção social, saúde e educação em Nazarezinho: “A cobertura do PSF no município é de 100% (o monitoramento do Selo demonstra que não chega a tudo isso. Na verdade, a cobertura é de 96,3%) e todas as equipes têm médicos diariamente e dentistas que fazem saúde bucal preventiva. Lá no sítio Olho D’água, todo mundo já passou pelo dentista”, revela o tio de Ana Lúcia. Os indicadores monitorados pelo UNICEF durante dois anos confirmam que Francisco tem razões para se orgulhar do seu trabalho. O percentual de atendimento pré-natal completo, por exemplo, mais do que duplicou, saltando de 18,2% para 38,6%. A articuladora do Selo, a assistente-social Eugênia Rodrigues, explica que o segredo está na integração entre os vários setores do município envolvidos diretamente no atendimento e na proteção da criança: “Além de servir para injetar ânimo na equipe, o Selo foi fundamental para indicar esse caminho da ação articulada”, explicou Eugênia.

•••Nazarezinho | PBSexta-Feira | 12 de Dezembro | às 09:15

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Presidente da secção paraibana da União dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME), a Secretária de Educação Maria Auxiliadora Avelino Mendes acredita que as políticas integradas e as atividades do Selo causaram em Nazarezinho um fenômeno recente: “Percebo um grande envolvimento dos alunos na vida da cidade. As crianças passaram a participar mais, se preocupar com questões importantes”. Para ilustrar seu raciocínio, ela cita como exemplo o grupo de teatro Anjos da Limpeza, formado durante as atividades de Educação Ambiental do Selo UNICEF 2006 que foi a principal atração da cerimônia de entrega do troféu da edição 2008. Segundo Auxiliadora, os “anjos” permaneceram mobilizados e sua atuação teve continuidade a partir da iniciativa dos professores e das crianças e adolescentes das escolas. “Foi um incêndio na serra que motivou os meninos a manter o grupo para combater a queimada. Hoje, é possível dizer que a escola está cuidando da mata e isto é maravilhoso, pois escola só com pó de giz não resolve nada. A partir dessa experiência, os meninos incentivaram seus pais agricultores a abandonar a prática da queimada”, empolga-se Auxiliadora. Tamanha mobilização reflete-se também na taxa de abandono do ensino fundamental que caiu de 21,5% para 8,9% nas 19 escolas do município. Como o prefeito Franscisco Mendes Luiz não pôde participar da festa porque havia viajado para resolver questões familiares, após a apresentação dos Anjos da Limpeza, Conceição Cardozo, do UNICEF, entregou o troféu ao vice-prefeito Francisco de Assis Ribeiro e à primeira-dama Maria Luiza Mendes Luiz.

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“Percebo um grande en-volvimento dos alunos na vida da cidade. As crian-ças passaram a participar mais, se preocupar com questões importantes”

Maria Auxiliadora Avelino Mendes Secretária de Educação

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•••Monte Horebe | PBSexta-Feira | 12 de Dezembro de 2008

O casario pintado com cores claras tornava ainda mais intensa a luminosidade do sol de dezembro em Monte Horebe, município no alto das serras que dividem a Paraíba do Ceará. A primeira impressão é a de que o calor e a luz eram a explicação para as ruas vazias. Sem ter a quem pedir informações, os integrantes da Caravana circularam a esmo pela cidade deserta até que um motoqueiro solitário informou: “Tá todo mundo no clube municipal”. Melhor notícia impossível, pois o clube era exatamente o local marcado para a solenidade de entrega do troféu do Selo ao prefeito Erivan Dias Guarita. O motociclista não exagerou muito. É verdade que nem todos os 4.300 habitantes estavam no amplo salão mas centenas de pessoas se espremiam sentadas nas cadeiras, no chão ou em pé. Praticamente todas as autoridades municipais, incluindo até mesmo lideranças políticas, da oposição ao prefeito, fizeram questão de testemunhar o momento do reconhecimento dos esforços de Monte Horebe pelo UNICEF. Enquanto os discursos se sucediam, o articulador municipal Albertino da Silva dizia acreditar que a razão para a conquista do município estava nos resultados da Educação. E ele estava certo. Com 100% das escolas utilizando material didático contextualizado para a convivência com o semiárido, os horebenses conseguiram reduzir a distorção idade-série de 57,2% para 14,6%. Albertino explica que a pré-escola teve atenção prioritária, com a construção de creches e contratação de professoras qualificadas de Educação Infantil: “Temos duas

professoras em cada sala de aula, o que dá mais segurança aos pais e melhora o aprendizado”, explica. Esses investimentos elevaram a taxa de atendimento de crianças de 4 a 5 anos na escola, de 33,5% para 60,6% das crianças nessa faixa etária. Esses dados revelam um fato curioso. É que a melhoria na qualidade do atendimento às crianças em sala-de-aula conta com um reforço que veio de longe, mas precisamente da cidade japonesa de Takaoka, a quase 17 mil quilômetros de distância. Trata-se da professora Ana Cláudia Dias Ivasaki, uma horebense que, depois de casar-se com um descendente de japoneses em São Paulo, migrou para o Japão para trabalhar como dekassegui junto com o marido. Com o pé-de-meia poupado durante cinco anos em Takaoka, o casal optou pela tranqüilidade da terra natal da professora. Com o marido dedicado ao comércio numa loja de roupas, Ana Cláudia se tornou a primeira voluntária da cidade, trabalhando como professora na escola estadual Venâncio Dias. Há pouco mais de um ano, foi contratada pela prefeitura e montou o projeto pedagógico Farmácia Viva, no qual, junto com seus alunos, cultiva plantas medicinais no terreno da escola, gerando uma mobilização que se revelou fundamental para as atividades do Selo. “As famílias participam enviando mudas de plantas que os pais e avós conhecem, depois as crianças levam outras plantas para suas casas; com isso as hortas estão se multiplicando pelas pequenas propriedades. O conhecimento popular está sendo perpetuado toda vez que uma dessas crianças faz um chá ou rega uma plantinha”, afirma a professora, que já começou a mobilizar os pais para cobrar da administração municipal um programa de reforço escolar gratuito: “Hoje, as mães usam dinheiro do Bolsa-Família para bancar o reforço”, diz. Ana Cláudia diz “brigar” com os pais de seus alunos para convencê-los de que seus filhos precisam ter outras perspectiva além de ser cortador de cana em São Paulo: “A cultura daqui é essa: as pessoas acham que o único destino possível é ser bóia-fria e ter um trabalho temporário longe daqui”, queixa-se. A julgar pela determinação de Maria Síndares da Silva, mãe de Adriana, de 14 anos, Cosmo, de 13 e de Igor, de quatro, o futuro de Monte Horebe pode ser diferente: “Meu marido é canavieiro e passa seis, sete meses cortando cana longe de casa. Eu luto para que meus filhos estudem, se divirtam e sejam professores”.

“As famílias participam enviando mudas de plantas que os pais e avós conhecem, depois as crianças levam outras plantas para suas casas; com isso as hortas estão se multiplicando pelas pequenas propriedades. O conhecimento popular está sendo perpetuado toda vez que uma dessas crianças faz um chá ou rega uma plantinha”.

Ana Cláudia, professora na escola estadual Venâncio Dias

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•••Cabedelo | PBSegunda-Feira | 15 de Dezembro de 2008

Mudou a paisagem na terceira semana da Caravana do Selo UNICEF. Em Cabedelo, na região metropolitana de João Pessoa, a brisa que sopra do mar azul ameniza o calor do verão. Pela primeira vez na Paraíba o troféu será entregue pertinho do oceano, mais precisamente no belo Teatro Santa Catarina que já estava lotado de adolescentes, professores, agentes de saúde, conselheiros tutelares e quase todos os secretários municipais cujas pastas estão ligadas à proteção social da criança. No palco do teatro, músicos locais e grupos culturais, como o coral formado por crianças do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, animavam a festa, pontuada por rápidos discursos. Na platéia, um jovem de 20 anos admite que resolveu interromper por um instante os estudos para o vestibular de Educação Física, a fim de poder acompanhar a festa. Luciano Cavalcanti da Silva, filho de um pedreiro que nunca permitiu que ele ou seus irmãos trocassem os livros pelo trabalho, conta que sempre estudou em escolas públicas. Por essa razão, recorda como melhorou a educação no município. “O material didático, os professores e o laboratório de informática melhoraram muito. Antes de fazer o segundo grau (ensino médio) na escola estadual Abreu e Lima, estudei até a 8ª série na escola municipal Plácido de Almeida. Quando eu saí de lá, até uma rádio tinha e os alunos participavam de tudo”, afirma Luciano, revelando que essa escola foi uma das que mais contribuíram nas atividades de participação social do Selo UNICEF: “O que tem de melhor nessa escola municipal é que todo mundo lá participa das decisões importantes, é como se fosse uma família”.

“O material didático, os professores e o laboratório de informática melhoraram muito. Antes de fazer o segundo grau (ensino médio) na escola estadual Abreu e Lima, estudei até a 8ª série na escola municipal Plácido de Almeida. Quando eu saí de lá, até uma rádio tinha e os alunos participavam de tudo”

Luciano Cavalcanti da Silva, estudante

Pouco depois, o locutor anuncia os nomes dos professores e diretores de escola que estão presentes, acompanhando a cerimônia com seus alunos. Uma prolongada salva de palmas, com direito a urros típicos de torcedores de futebol diante de um ídolo, toma conta do teatro quando é anunciado o nome do diretor Ronilton Silva de Amorim, diretor da Plácido de Almeida, a escola mencionada por Leonardo. O diretor, porém, garante que o ótimo ambiente na sua escola é resultado de um esforço coletivo: “O que existe na maioria das escolas do município é um modelo democrático de gestão escolar, onde os estudantes e suas famílias participam e são ouvidos antes de cada decisão. A democracia é praticada tanto nos conselhos escolares quanto nas assembléias gerais”, revela Ronilton que também é professor de Educação Física. Coincidência ou não, a mesma profissão que seu ex-aluno deseja seguir. Alguns dos indicadores que proporcionaram a conquista de Cabedelo estão relacionados à democracia nas escolas. No quesito que mede o grau de funcionamento dos Conselhos Escolares, o município alcançou todos os 100 pontos possíveis. É provável que a taxa de abandono do ensino fundamental (6,2%) seja consequência dessa forma de administrar. O prefeito José Francisco Régis também optou por um discurso semelhante ao do diretor Ronilton: “Esse troféu não deve ficar comigo, mas deve ir para as mãos das pessoas que lutaram por ele, como os professores, os agentes de saúde e as assistentes sociais. Graças a essas pessoas, nosso trabalho foi reconhecido”, discursou o prefeito, que tem motivos de sobra para compartilhar os méritos pelo Selo UNICEF. Além dos bons resultados em educação, o município possui bons indicadores em saúde (102,9 das crianças com menos de um ano foram vacinadas com a tríplice viral e 99,9%, com tetravalente, por exemplo).

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•••Lucena | PBSegunda-Feira | 15 de Dezembro de 2008

E Lucena é semiárido? A pergunta faz sentido quando, a caminho da sede do município, se olha o cenário ao redor da balsa onde a van multicor da Caravana do Selo UNICEF faz a travessia no ponto em que as águas do rio Paraíba encontram-se com o Atlântico. O coqueiral e as águas mornas da foz do rio justificam a dúvida quanto ao próximo município a receber o troféu do Selo, se o mesmo pertence à região de cultura tão rica, mas tão marcada pela irregularidade das chuvas e pela vulnerabilidade de suas crianças. As dúvidas se dissipam antes mesmo do desembarque em Lucena. Uma faixa divulgando a “4ª Grande Corrida de Jegue” dá a certeza que estamos realmente no semiárido paraibano. Ainda na balsa, em plena travessia, o grupo de teatro da Secretaria de Educação deu o ar da graça, com crianças e adolescentes encenando esquetes sobre o drama da exploração sexual e dos estragos do alcoolismo nas famílias do município. Após a apresentação, a professora de Teatro de Rua, Giselda Candeia, confessou que a encenação seria no momento do desembarque, mas os adolescentes resolveram improvisar quando perceberam que a Caravana havia chegado com quase uma hora de antecedência. A festa para a entrega do Selo aconteceu na quadra da Escola Américo Falcão, a poucos metros do mar. Aliás, vale registrar que a maior parte dos 11.000 habitantes vive espalhada em uma estreita faixa de terreno entre extensas fazendas de coqueiros e belas praias. À beira-mar também estão a prefeitura, as lojas do pequeno comércio local e o Centro de Atividades Múltiplas, onde funcionam o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e as Casas dos Conselhos.

“A gestão enfatizou as ações de vigilância em saúde nas equipes do Programa Saúde da Família, com o mecanismo de busca ativa nas comunidades e as ações voltadas para aumentar a cobertura do pré-natal”

Aparecida Barreto Coordenadora da Atenção Básica

Lucena foi o único município no qual não apenas um, mas dois prefeitos receberam o troféu das mãos de Conceição Cardozo, do UNICEF. O prefeito reeleito Antônio Mendonça Monteiro Júnior e o prefeito em exercício Paulo Moraes (na verdade vice-prefeito que assumiu a administração com o licenciamento do prefeito que disputou a reeleição longe do cargo). Bastante emocionado, Antônio Júnior, ou Bolão, como é chamado por todos, afirmou que aquele dia era “um dos mais importantes da história do município”. Coordenadora da Atenção Básica do município, a administradora em Saúde Aparecida Barreto, concorda com o prefeito e explica como o município conseguiu avançar em sua área de atuação a ponto de reduzir a taxa de mortalidade infantil de 28,6 óbitos por 1000 nascidos vivos para 12,6 por 1000. “A gestão enfatizou as ações de vigilância em saúde nas equipes do Programa Saúde da Família (PSF), com o mecanismo de busca ativa nas comunidades e as ações voltadas para aumentar a cobertura do pré-natal”, contou. Segundo ela, essa ênfase se traduz desde o momento da seleção dos profissionais de Saúde, contratados a partir de sua experiência e currículo nesse tipo de ação. A Educação também obteve resultados significativos, com 94,4% dos professores de educação infantil com habilitação em nível superior e um aumento de 9,1% para 25,7% do percentual de adolescentes de até 15 anos com ensino fundamental concluído. Os elogios à política de Educação partiram de Andréa Carrer, profissional que não faz parte dos quadros da Secretaria, mas atua na ONG Apoitchá, parceira do UNICEF e participante ativa pela mobilização em Lucena: “A gestão da Educação é diretamente responsável por essa conquista. A Secretária Maria José de Lima é uma gestora que não espera acontecer e se envolve diretamente no cotidiano da rede de ensino. Nas atividades de formação e capacitação dos professores, ela chega a cortar o pão para o lanche e a carregar móveis.”

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•••Bananeiras | PBTerça-Feira | 16 de Dezembro de 2008

O Selo UNICEF tem sua própria voz em Bananeiras, a 114 quilômetros de João Pessoa. É a voz de Adriana Pedro da Silva, de 14 anos, que concluiu o 9º ano e já se prepara para disputar uma vaga nas faculdades de Jornalismo da Paraíba. Na primeira vez em que o município conquistou o Selo, em 2006, ela tinha apenas 11 anos, ocasião em que se engajou imediatamente no programa de rádio que contava pontos no tema Comunicação. Sua identificação com o tema foi proporcional ao sucesso do programa de notícias produzido pelos adolescentes. Em nenhum momento o programa foi interrompido. Ao contrário, a emissora de rádio Integração do Brejo passou a disponibilizar, diariamente, uma hora para o grupo de 13 adolescentes que se revezam na locução e nas tarefas de produção e redação das notícias. O fato da Secretária Municipal de Educação, Gilvanisa Maia, também ser radialista acabou transformando o programa em instrumento pedagógico, pois os alunos entram diretamente em contato com temas como o funcionamento do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente ou a política de Assistência Social. Todas as atividades são acompanhadas pelos professores da rede municipal de ensino. Adriana sempre teve lugar cativo na equipe de estudantes que conduz o programa desde sua criação. Filha dos agricultores Ademir Pedro da Silva e Luzia Luís da Silva, ela é o orgulho dos pais que já chegaram a viver com os cinco filhos dentro de

“Tenho muito orgulho por ser a administradora que recebeu duas vezes o reconhecimento do UNICEF mas nada se compara à satisfação de perceber as mudanças nas vidas das nossas crianças”

Prefeita Marta Ramalho

um Fusca abandonado: “Quero ser repórter, essa é minha vocação, tenho certeza. Sempre me interessei pelo assunto e o programa do Selo UNICEF foi a primeira oportunidade que surgiu. Quero ajudar meus pais e meus irmãos fazendo o que eu gosto”, conta Adriana que demonstra bastante intimidade com tudo que diz respeito ao Selo, pois até durante as capacitações dos articuladores ela esteve presente. Apesar da pouca idade, Adriana já tem tanta experiência com o público que aceitou o desafio de ser a locutora oficial da festa de entrega do troféu do Selo UNICEF 2008 para a prefeita Marta Ramalho, em um palco instalado na praça principal da cidade. Nada mais coerente para quem é a voz do Selo no município: “Tenho muito orgulho por ser a administradora que recebeu duas vezes o reconhecimento do UNICEF, mas nada se compara à satisfação de perceber as mudanças nas vidas das nossas crianças”, ressaltou a prefeita. Os resultados monitorados pela equipe do UNICEF indicam que essas transformações são significativas. O percentual de crianças com menos de dois anos desnutridas, caiu de 4,9% para 1,2%. Já o percentual de crianças vacinadas está perto dos 100% (98,7% para a vacina tetravalente e 92,5% para a tríplice viral). No quesito Educação, a taxa de distorção de idade-série teve redução ainda maior: de 52,5% para 21% no período avaliado pelo Selo. Ao analisar os números, o articulador do Selo no município, o psicólogo Jivago Fialho, divide os méritos com seus colegas da administração municipal. Na hora de avaliar sua participação no processo, ele não esconde a emoção: “Estar à frente do Selo é uma oportunidade de muito aprendizado. Eu sou psicólogo clínico e, para mim, esse aprendizado se deu no contato direto e permanente com as crianças e os adolescentes”. O que emociona Jivago são palavras como as de Juliana Carla Nascimento, uma novata do programa da rádio Integração: “Eu não sonho em ser jornalista nem radialista, não. Eu me interesso pelo programa porque me sinto mais respeitada”.

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•••Damião | PBTerça-Feira | 16 de Dezembro de 2008

Alana Ranísia, Daiane, Daniele, Edenice, Joelma, Micaela, Silvana, Taís e Tânia passaram um ano aprendendo música e ensaiando durante as horas que passavam nas oficinas do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI). Depois de tantos ensaios, a primeira apresentação pública do coral das meninas aconteceu durante a festa de entrega do troféu do Selo UNICEF, realizada em pleno sol de dezembro, numa das apertadas ruas da pequena Damião, município com 4.800 habitantes, localizado a 155 quilômetros da capital paraibana. As meninas do coral têm idades entre 9 e 11 anos e, junto com Weslândia, que estava com catapora no dia da estréia, se ofereceram como voluntárias para participar das aulas com a professora Maria Aparecida Silva Souza. O coral é apenas a face mais visível das atividades do PETI no município que, graças à integração entre as atividades de educação e dos programas sociais, conseguiu elevar de 3,8% para 49,4% o percentual de adolescentes de até 15 anos com ensino fundamental concluído. O excelente resultado, contudo, não revela como o município investe no futuro. Quem explica é a Secretária de Educação, Josineide Silva Pontes, uma pedagoga com várias especializações em Universidades Federais e Estaduais: “Antes, a Educação Infantil aqui em Damião estava na informalidade e agora ela esta legalizada, incorporada ao Sistema Municipal de Ensino. Ao mesmo tempo, um convênio com a Universidade Estadual da Paraíba e com o Instituto Ayrton Senna possibilitou a formação superior para todos os nossos professores, incluindo cursos de especialização”. O monitoramento do Selo UNICEF confirmou: 100% dos professores são habilitados em nível médio ou superior. Segundo

Josineide, além disso os melhores professores são lotados em classes de educação infantil: “Priorizar a educação das crianças pequenas significa, a médio prazo, reduzir o analfabetismo na 4ª série. E já conquistamos um resultado a curto prazo: todas as nossas crianças estão na 1ª série aos 6 anos”. Também houve investimentos em Educação Especial, principalmente para vencer o preconceito das próprias famílias que teimam em considerar que não vale a pena mandar para a escola os filhos portadores de deficiências. Nos intervalos das várias músicas executadas pela Banda Marcial Leonisa Paulino, que renasceu durante a mobilização pelo Selo, ocorreram os discursos das autoridades municipais, incluindo o prefeito Geoval de Oliveira, a prefeita eleita Eleonora Soares Diniz, alguns vereadores e a articuladora municipal do Selo, Edvan da Silva Casado. A articuladora Edvan, que antes do início da cerimônia estava banhada em suor de tanto correr no esforço para que tudo ocorresse conforme o planejado, revelou que muitos dos resultados monitorados pelo UNICEF enchiam de orgulho a equipe do município. Não é para menos. A taxa de mortalidade infantil, por exemplo, por dois anos consecutivos foi de zero, isso mesmo, zero mortes por 1000 nascidos vivos: “Estamos satisfeitos, porém posso garantir que não trabalhamos para ganhar um Selo ou um troféu. Trabalhamos para que todos tenham o direito de viver bem no nosso lugar”, define a articuladora.

“Antes, a Educação Infantil aqui em Damião estava na informalidade e agora ela esta legalizada, incorporada ao Sistema Municipal de Ensino”.

Josineide Silva Pontes Secretária de Educação

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•••Princesa Isabel | PBTerça-Feira | 16 de Dezembro de 2008

A pequena Princesa Isabel desponta caatinga adentro, no alto da Serra da Borborema. A cruz da Igreja é visível já na entrada da cidade, cujo filho mais ilustre é o talentoso e saudoso Chico Soares, o Canhoto da Paraíba. Em cima de uma caminhonete, uma banda de frevo nos recebeu com alegria. Tudo colorido por vários balões de festa. Na frente da casa de shows, estava Papai Noel e, quem diria, quatro Mamães Noel – algumas usando óculos escuros, porque ninguém é de ferro e o sol é de rachar. Enquanto a fanfarra toca uma versão de My way, seguimos acompanhados pelo prefeito Thiago Pereira. O destino da carreata é o ginásio poliesportivo que fica próximo à praça da igreja, paramentada de brinquedos, como pula pula e escorrega. Dentro do ginásio, tecidos coloridos afixados no teto traduzem a alegria e orgulho dos princesenses naquele momento. Tudo muito bonito mas nada comparado à surpresa de encontrar, atrás da mesa das autoridades, um cartaz com as cinco prioridades que servem de base para o programa do UNICEF no Brasil: sobreviver e se desenvolver, aprender, proteger (se) do HIV - Aids, crescer sem violência e ser prioridade absoluta nas políticas públicas. Do outro lado do ginásio, a criançada faz a festa na Casa de Papai Noel. Do lado de cá, duas meninas com flores no cabelo apresentaram uma faixa pintada a mão: “Cultura da mandioca – miscigenação negro, branco, índio” que serviu de cenário para a bem-humorada performance com meninas vestidas de cozinheira, que dançaram e cantaram a música “Farofa-fá”. “Como é bonito vocês todos aqui para receber esse troféu. Princesa trabalhou para que esses cinco verbos possam

ser conjugados, e assim continuem”, disse Lúcia Paiva, em nome do UNICEF. Em retribuição, a menina Lindaura que estuda no Programa de Erradicação do Trabalho (PETI), leu a seguinta poesia: Criança feliz é criança livre Pra se sujar, brincar e também estudar Sou feliz por morar em Princesa Esta cidade tão bonita Aqui tem tudo que a criança precisa

“O UNICEF está em Princesa não só para entregar o troféu mas para nos apresentar outros desafios”, diz o prefeito, que aponta para a “manutenção do Selo que a gente luta de cabeça erguida”. Já o articulador Ricardo Pereira do Nascimento agradeceu a todos, nome por nome, que trabalharam pela melhoria dos indicadores. Na sequência, se apresentaram grupos de xaxado, cangaceiros e dança africana, em referência ao Quilombo do Livramento que fica próximo à cidade. Estranhamente, Princesa Isabel não pontuou no eixo Cultura e Identidade Étnico-Racial. Por outro lado, diminuíram a taxa de mortalidade infantil e a distorção idade-série no ensino fundamental diurno municipal. A agente comunitária de saúde, Ana Paula Nunes, disse que o município não deixa a desejar nessa área. “Orientamos as mães a fazer no mínimo seis exames pré-natal. Quando a criança nasce, acompanhamos todas as vacinas e vamos na casa das famílias para medir o peso. Também orientamos as mamães para amamentação e higiene corretas”. Por outro lado, como diz o prefeito Thiago, a “luta” não pode parar. Uma moradora da Lagoa da Cruz, zona rural de Princesa, criticou a falta de saneamento básico e tratamento de água: “Usamos a que vem do açude Ibiapina, que está sujo. Os agentes distribuem cloro mas nem todos sabem usar”, diz a mulher, uma mãe de família que não quis se identificar. Era mais de meio dia quando, com o sol a pino, foi colado o adesivo de Princesa Isabel na van do UNICEF. Após essa última missão, partimos todos com a sensação de dever cumprido.

“O UNICEF está em Princesa não só para entregar o troféu, mas para nos apresentar outros desafios”

Thiago Pereira Prefeito

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•••Picuí | PBQuarta-Feira | 17 de Dezembro de 2008

Quando o sol raiou em Picuí, o gramado do estádio municipal Amauri Sales de Melo havia se transformado num parque de diversões. Vários brinquedos infláveis e coloridos atraíram a atenção da criançada da cidade que no início da manhã, já fazia fila junto aos portões de acesso. No centro do campo o palco onde, horas depois, Conceição Cardozo, do UNICEF, entregaria o troféu do Selo à articuladora Gilda Vasconcelos Germano, devido à ausência do prefeito Rubens Germano Costa. Enquanto a festa rolava, animada pelas apresentações da banda marcial formada por beneficiados dos programas sociais e de outras atrações locais, as centenas de crianças aproveitavam o dia mais especial das férias correndo para todos os lados, se dividindo entre os brinquedos, o carrinho de pipoca, o sorveteiro e a mesa com água e refrigerante. No meio da algazarra, Marco Antônio Dantas contava com satisfação os detalhes da sua rotina de trabalho como agente de saúde. “Vacina tem todos os dias. Não digo que 100% dos meninos sejam vacinados mas 99% acho que sim”, especula Dantas, abrindo um largo sorriso quando é informado que de acordo com o monitoramento do Selo UNICEF, no caso da vacina tetravalente, o percentual das crianças com menos de um ano vacinadas é realmente de 100% e, no caso da tríplice viral, é de 87,3% das crianças: “Quase que eu acerto”, brinca o agente. “Além de vacinar as crianças, faço caminhadas com os idosos, ensino a fazer alongamento e acompanho a dieta”, revela, acrescentando que há 10 anos sua área de atuação abrange 10 sítios na zona rural, incluindo o Boa Sorte, onde mora. Em Picuí, 95,5% dos 19 mil habitantes são atendidos por 7 equipes do Programa Saúde da Família. Esse percentual

deve chegar a 100% ainda em 2009, quando será instalada a oitava equipe do PSF do município. Ao receber as planilhas com os resultados do município, a articuladora Gilda Germano explica que o trabalho integrado entre o PSF e as escolas foi fundamental para reduzir o percentual de crianças desnutridas de 6,9% para 2,4%: “Apoiamos bastante o trabalho integrado e articulado entre as secretarias”. Aos pés da escada que dá acesso ao palco, um pouco mais distante do corre-corre das crianças, um grupo de professoras, diretoras de escolas e supervisoras da Secretaria de Educação revela que o projeto Meu Sublime Sertão de Educação Ambiental, um dos pontos altos de Picuí na conquista do primeiro Selo UNICEF em 2006, teve continuidade por conta do tema Educação para a Convivência com o semiárido, na segunda edição do Selo, ao longo dos anos de 2007 e 2008. Para que a conversa pudesse ser mais tranquila, as professoras convidaram a equipe do UNICEF para debater o assunto em uma das salas da escola vizinha ao estádio. Na roda de conversa que durou pouco mais de uma hora, as educadoras informaram que mais de 400 profissionais de Educação se envolveram diretamente com o desenvolvimento do tema Educação para a Convivência: “O Selo interferiu em nosso planejamento pedagógico, pois complementou e fortaleceu um trabalho que vínhamos desenvolvendo”, disse a supervisora Rosélia Maria de Araújo Lima. A professora Suzana Macedo conta quais foram os efeitos em sala de aula: “Meus alunos ficaram extremamente motivados. Em casa, as crianças, por menores que sejam, sensibilizaram os adultos para o tema”. Na escola do Sítio Pedreiras essa sensibilização foi tão intensa que os alunos, professores e a comunidade tiveram participação ativa na Conferência Municipal do meio-ambiente. “Vamos dar uma dimensão ainda maior ao tema, pois enviamos para o Instituto Nacional do semiárido, em Campina Grande, um projeto piloto de Educação Integral, contextualizada para o semiárido”, afirmou a professora Maria da Guia Lucena. Em outra escola, o projeto rendeu frutos para o desenvolvimento do tema Esportes & Cidadania: “Com o dinheiro do lixo reciclável que foi recolhido e vendido, os alunos compraram uma bola para o projeto de esportes do Selo”, anunciou a professora Vandeilma D’arc Araújo dos Santos.

“O Selo interferiu em nosso planejamento pedagógico, pois complementou e fortaleceu um trabalho que vínhamos desenvolvendo”.

Rosélia Maria de Araújo Lima Supervisora

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•••Monteiro | PBQuarta-Feira | 17 de Dezembro de 2008

A julgar pelo que se via na festa que a cidade de Monteiro, na Paraíba, preparou para receber o Selo Município Aprovado, não há como negar que a educação é um dos eixos centrais que justificam a chancela do UNICEF. Depois de ser conduzida pelas largas ruas da cidade pela Filarmônica Municipal Sebastião de Oliveira Brito, a Caravana chegou ao Arraial Zé Marcolino, no centro da cidade. O lugar estava abarrotado de experiências que demonstravam que a educação contextualizada e a atenção à cidadania foram condutores das ações do Poder Público. Uma das experiências mais interessantes foi organizada pelo professor Eduardo Rodrigo Araújo da Silva, que com 52 alunos da Escola Abdon Gomes da Silva, realizou o mapeamento e a catalogação da vegetação natural e exótica presente na região. O trabalho é integrado à programação das outras disciplinas. O mesmo grupo começará em 2009 o levantamento de medicamentos fitoterápicos que podem ser produzidos a partir das plantas disponíveis no município. Essas são apenas algumas das experiências educacionais que fomentam a convivência com o semiárido e sua preservação. “A importância desse aprendizado está, entre outras coisas, em atingir os pais dessa geração e fazê-los ver a necessidade de preservação do ambiente natural”, observa o professor Eduardo. Se a Educação Contextualizada e as iniciativas de formação da cidadania pontuaram positivamente entre os indicadores, o mesmo se pode dizer daquilo que é relativo à arte e cultura. E nesse terreno, nunca é demais lembrar que a cidade de Monteiro é o lugar onde nasceu Severino Pinto, conhecido como Pinto do Monteiro, cognominado “A Cascavel do Repente”, uma das lendas da poesia popular nordestina.

“A importância desse aprendizado está, entre outras coisas, em atingir os pais dessa geração e fazê-los ver a necessidade de preservação do ambiente natural”

Eduardo Rodrigo Araújo da Silva Professor

A Companhia Alternativa de Dança, composta por alunos da rede pública da cidade, apresentou um espetáculo baseado na vida do repentista e pontuada por versos dele, contando a história do garoto que nasceu na rua e foi batizado em Monteiro; da origem italiana de seus avós; dos duelos poéticos com o cantador Lourival Batista e boa parte da superlativa vida do poeta. Tayzlan Breno de Andrade, um dos jovens atores da Companhia, resumia bem a importância daquele espetáculo: “Essa peça é uma forma de valorizar nossa tradição, nossa história, o que temos de mais rico e de passar essa memória à frente”, disse. Todos os integrantes da Companhia prestaram vestibular no final de 2008 e foram aprovados em diferentes áreas. E o caso de Fernanda de Araújo Ventura que inicia no segundo semestre de 2008 o curso de Ciências Contábeis. “A dança e o teatro na minha vida são sinônimos de prazer”. Em seguida, na mesma celebração geral da cidade com ela mesma, foi a vez do coral infantil Pingo de Ouro da Escola Estadual Miguel Santa Cruz. O repertório de músicas regionais e MPB comoveu todos os visitantes, professores e os pais, esses com os olhos marejados de orgulho: “A maior contribuição do trabalho do coral é a vivência em grupo, é o auto-reconhecimento e o resultado de todo esse trabalho se espalha como uma nuvem, envolvendo todos em volta”, explicava entre sorrisos a maestrina Claudilene Mendes. A entrega do Selo UNICEF Município Aprovado foi a última das cerimônias oficiais da prefeita Doutora Lourdinha: “A educação sempre foi pra mim uma questão existencial. Sempre esteve ligada à minha experiência, às minhas esperanças, à minha história, de modo que o Selo de certa maneira reflete essa preocupação pessoal e à necessidade histórica da cidade em gerar pessoas capazes”, afirmou. A bela tarde de homenagens, de teatro e música, e satisfação de educadores e administradores acabou em um forró tocado por um trio de músicos do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), do qual foi impossível ao mais desajeitado dos integrantes da Caravana escapar.

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•••Barra de Santa Rosa | PBQuarta-Feira | 17 de Dezembro de 2008

A van da equipe “paraibana” da Caravana do Selo UNICEF chegou à última parada da jornada mais de uma hora antes do horário marcado para o início da festa no ginásio municipal. Tempo para ficar à sombra de uma árvore na principal praça da cidade e observar os arbustos cortados por um jardineiro bem criativo em forma de animais como bois, cangurus, dinossauros, galinhas e camelos. No ginásio, uma surpresa: 18 grupos culturais formados por alunos das escolas públicas santa-rosenses esperavam para se apresentar aos integrantes da Caravana. Havia de tudo um pouco: grupos de dança, uma impressionante banda marcial, esquetes de teatro da educação infantil, sanfoneiro, zabumbeiro, capoeiristas, mostra de artesanato e outras expressões da rica cultura local. Enquanto os artistas mirins e juvenis passavam pelo centro da quadra, a diretora de escola Cláudia Diniz explicava a razão do elevado número de apresentações: “No início do ano letivo as escolas preparam suas atividades e planejam como vão trabalhar a questão cultural. É uma grande oportunidade apresentar o resultado desse esforço diante dos profissionais do UNICEF”. Apesar de resultados significativos na gestão da Saúde, como os mais de 100% de crianças vacinadas com Tetravalente e Tríplice Viral, os indicadores de Educação destacam-se nas planilhas da equipe de Monitoramento & Avaliação do Selo. Cláudia explica que esses dados são reflexos de um processo de transformação que começou “de baixo para cima”, no qual ocorreu até uma “invasão” de um prédio público.

No início da administração do prefeito Evaldo Costa Gomes, as professoras das 26 escolas do município de 13 mil habitantes se uniram para garantir que uma delas ocupasse o comando da Secretaria de Educação, o que acabou acontecendo quando a supervisora Regina Diniz foi nomeada para a função.“A tradição aqui era de gestores mais interessados em cortar custos do que em apresentar projetos para alavancar recursos. Cansamos disso”, afirma Cláudia. A educação de Barra de Santa passou a ser administrada de forma coletiva pelas próprias educadoras que conseguiram recursos para capacitações, formação continuada (100% dos professores da educação infantil têm nível médio ou superior), programas de letramento e laboratórios de informática. Pela primeira vez, o município pôde acompanhar os jogos escolares, cuja proposta pedagógica integra esportes e cultura popular. O fato mais emblemático da luta das professoras de Barra de Santa Rosa foi a tomada das instalações do clube da Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB), abandonada desde que a economia local naufragou em consequência da praga do bicudo nas lavouras de algodão. “Era um absurdo uma estrutura daquelas com piscina, quadra e salões em ruínas, ficar largada. Então, 150 professoras foram até o Banco do Brasil para pedir as chaves ao gerente, que concordou com nossa proposta e nos entregou a AABB. Fizemos um mutirão, lavamos tudo e até enchemos a piscina. Hoje, são os alunos das escolas municipais que usam o clube”, conta Cláudia, explicando que a “invasão” foi formalizada depois através de um convênio entre a prefeitura e o programa AABB Comunidade. A parceria entre o prefeito e suas educadoras levou, por exemplo, a taxa de distorção idade-série cair de 59,3% para 20,2%. Além disso, todas as escolas do município têm conselhos escolares funcionando. É provável que esses resultados expliquem a verdadeira ovação, digna de uma celebridade de TV, dos alunos e pais que lotavam as arquibancadas do ginásio no momento em que Evaldo Gomes foi convidado para ocupar seu lugar a mesa para receber o troféu do Selo UNICEF. Emocionado, ele revelou aos seus conterrâneos: “Gostaria que vocês pudessem experimentar a emoção que estou sentindo por receber esse reconhecimento”.

“No início do ano letivo, as escolas preparam suas atividades e planejam como vão trabalhar a questão cultural. É uma grande oportunidade apresentar o resultado desse esforço diante dos profissionais do UNICEF”

Cláudia Diniz Diretora de escola

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•••Bom Jardim | PESexta-Feira | 05 de Dezembro de 2008

A cidade de Bom Jardim parou seus carros; os comerciantes fecharam as portas de suas lojas; professores se ausentaram das escolas, boêmios interromperam a volta para casa, funcionários públicos esvaziaram as repartições, os barbeiros das esquinas paralisaram as tesouras e as grávidas suspenderam o passeio vespertino. Quando a Caravana do Selo UNICEF chegou, por volta das 14 horas, a essa cidade do agreste pernambucano localizada a 83 quilômetros do Recife, uma festa fez com que seus moradores colocassem em suspensão as ordens do dia. E, de fato, havia motivos para comemorar. O município conseguiu elevar o percentual de adolescentes de 14 e 15 anos com ensino fundamental concluído e, também na Educação, a cidade se destacou com uma boa taxa de atendimento de crianças de 4 e 5 anos na pré-escola. Uma das mais notáveis iniciativas em Educação é a de 12 professores que trabalham com 60 alunos especiais, com idades variando dos três aos 45 anos. O trabalho, desenvolvido no Anexo da Escola XIX de Julho, inclui aulas de dança, música e contribui para desenvolver habilidades de comunicação dos assistidos: “Fazemos um esforço concentrado para que os nossos alunos especiais participem de todas as atividades possíveis, e que tenham um material pedagógico adequado”, afirma a professora Adriana de Araújo. Outra iniciativa que também foi apresentada no dia da entrega do Selo é o curso de balé que a professora Diandra de Melo oferece a 18 crianças na Escola São Francisco de Assis. O projeto, autônomo, desde fevereiro de 2009 tem uma sala própria. “O balé é uma atividade que ajuda na formação

da autoestima das crianças, o que se reflete tanto na sua performance escolar e em seus relacionamentos noutras esferas, quanto na família, com os amigos da vizinhança ou da escola”, afirma a professora. Também se apresentaram o Grupo de Flautas Colibris, teatro de rua, capoeira, a banda marcial Manoel Pessoa dos Santos, da Escola Doutor Moacir, além das apresentações do balé e do grupo de alunos especiais. Os espetáculos expressaram os progressos feitos na educação na cidade. Não à toa 600 camisas alusivas ao Selo, distribuídas entre os moradores, foram usadas com orgulho quando a Caravana passou pelas ruas, na animada carreata organizada pela prefeitura: “Estou usando essa camisa, eu e meus companheiros aqui na rua, por estarmos orgulhosos e muito felizes por essa conquista. É um reconhecimento geral para a cidade”, disse o comerciante Erick Henrique. Na área da Saúde, os resultados apontam para vitórias e conquistas a serem sedimentadas nos próximos anos. O município conseguiu reduzir a taxa de mortalidade infantil, manter o percentual de adolescentes grávidas de 15 a 19 anos e oferecer o teste anti-HIV e o tratamento antirretroviral para gestantes soropositivas. “Certamente que não podemos apenas nos envaidecer e ficar nisso. Sabemos que há muito a fazer e podemos fazer a cidadania acontecer para as crianças e adolescentes de Bom Jardim”, disse o articulador do Selo e o Secretário de Assistência Social, José Célio de Andrade, e completou: “O governo, as associações de bairro e de moradores, famílias, escolas, o Conselho de Direitos, o Conselho Tutelar, enfim, todos precisam se integrar e trabalhar em prol da idéia da conquista da cidadania porque ainda existem pessoas dedicadas à justiça social”. “Minha expectativa é que nos próximos anos tenhamos um salto na qualidade nas áreas de saúde, educação e nas ações de assistência social. Estamos para instalar tele-centros em 72 escolas municipais e um centro vocacional do Governo Federal, orçado em R$ 500 mil, que já está em fase de implantação”, finalizou a Secretária de Educação, Marineide Braz.

“Certamente que não podemos apenas nos envaidecer e ficar nisso. Sabemos que há muito a fazer e podemos fazer a cidadania acontecer para as crianças e adolescentes de Bom Jardim”

José Célio de Andrade Articulador do Selo e Secretário de Assistência Social

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•••Orobó | PESexta-Feira | 05 de Dezembro de 2008

A Caravana UNICEF não podia imaginar que a cidade de Orobó iria organizar uma das mais afetuosas recepções, ao longo dos 1.200 quilômetros de estrada que seriam percorridos ao final da jornada. Contribuiu para isso não somente o calor que natural e serenamente banhava de suores os convivas da verdadeira festa que tomou conta das ruas da cidade do agreste pernambucano, localizada a 86 quilômetros do Recife. A tradição de bandas e fanfarras da cidade deu um tom próprio à celebração pela conquista. A caravana foi recebida por volta das 10h35 diante da Escola Estadual Professora Rita Maria da Conceição e pela sua fanfarra, na comunidade Manoel Aprígio. Imaginávamos que a banda nos acompanharia até a quadra de esportes da cidade, local da cerimônia de entrega dos troféus e certificados. Mas a banda nos levou a outro ponto de encontro, onde outra banda nos esperava, a da Escola Leonardo Pimentel Municipal. Depois de tocar algumas músicas, essa banda nos levou até a Igreja Nossa Senhora da Conceição, padroeira da cidade, e uma terceira banda marcial, a José Geraldo de Aguiar, fez sua apresentação. Coube a ela nos conduzir, com clarinetes e clarins, à quadra municipal para encontro com a Banda 11 de setembro que esperava a caravana passar. No percurso de dois quilômetros, a cidade rendeu homenagens à própria conquista por meio de uma de suas maiores expressões culturais – existem 18 bandas e fanfarras na cidade. Guirlandas e sobrancelhas cuidadosamente adornadas, paetês e penteados, instrumentos brilhando, luvas brancas, botas de veludo escuro, fitas colorindo anjos na calçadas e bandeirolas cortando a

luz inclemente de uma manhã clara de dezembro. Na quadra de esportes, além da Banda Municipal 11 de Setembro, havia palhaços, uma Emília sem o seu Visconde de Sabugosa, o grupo de capoeira Cordão de Ouro, estudantes, muitos estudantes, e um leve cheiro de cachorro quente ao molho de tomate. A primeira a tomar a palavra foi Valdenice dos Santos Aguiar, Secretária de Educação e também a articuladora local: “Receber o Selo não é motivo de orgulho pessoal, deve ser encarado como um orgulho coletivo, de cada um dos que fazem parte da administração municipal, estudantes, professores, pais de alunos, profissionais da saúde”, afirmou. “Estamos começando a vencer a batalha contra a mortalidade infantil e somente isso já seria motivo de orgulho para cada cidadão de Orobó”, completou. De fato, a taxa de mortalidade da cidade caiu, bem como o percentual de adolescentes grávidas, além disso, aumentou o percentual de crianças com aleitamento materno exclusivo até quatro meses. O reflexo pode ser verificado na redução do percentual de crianças menores de dois anos de idade desnutridas. Orobó também consegue disponibilizar o teste anti-HIV para gestantes e oferecer o tratamento anti-retroviral para gestantes positivas, além de fazer profilaxia para evitar a transmissão vertival. Na área educacional, a cidade tem suas conquistas e desafios pela frente. A taxa de abandono do ensino fundamental da rede municipal regrediu, assim como aumentou a taxa de escolarização líquida de seis a 14 anos no ensino fundamental. O percentual de professores de educação infantil habilitados em nível médio ou superior aumentou, assim como o percentual de escolas usando material didático contextualizado. A cultura das bandas e fanfarras pode ser um mecanismo para vencer os desafios que ainda se impõem. A trajetória da própria Secretária de Educação e articuladora do Selo, Valdenise, é prova disso: “Sempre tive vontade de tocar numa banda mas não podia, porque era muito pobre. Hoje vejo que as bandas podem incentivar o trabalho coletivo, a integração do aluno com a escola e a performance escolar”, afirma. Para o vice-prefeiro Jorge Marinho, “o Selo carimba o trabalho da administração municipal. Ser reconhecido pela gestão das políticas públicas indica que Orobó tem plenas condições de se emancipar de fato de condições históricas de subordinação”, afirmou.

“Receber o Selo não é motivo de orgulho pessoal, deve ser encarado como um orgulho coletivo, de cada um dos que fazem parte da administração municipal, estudantes, professores, pais de alunos, profissionais da saúde”

Valdenice dos Santos Aguiar, Secretária de Educação e articuladora do Selo

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•••Casinhas | PESegunda-Feira | 08 de Dezembro | de 2008

Quando chegou a hora dos primos André e Túlio Santana da Silva subirem ao palco, o dia lá fora já havia escurecido rapidamente. Pouco tempo havia decorrido desde quando a Caravana entrou no perímetro do município de Casinhas, com seus 13 mil habitantes. Foi um dia longo pra a equipe do UNICEF, que já havia passado por Chã de Alegria e Limoeiro. Com menos calor e a brisa noturna suavemente morna se instalando, a carreata preparada pela prefeitura reuniu um bom número de pedestres. André e Túlio, ambos com sete anos, estavam ali para entoar um repente. A apresentação dos dois expressava bem a articulação integrada entre a comunidade, a administração municipal e os diversos programas de complementação e proteção existentes tanto na esfera dos estados quanto na esfera federal. Aliás, todos os alunos do ensino fundamental em Casinhas participam de programas socioeducativos, o que por si só é um dos itens que concorreram para a obtenção do Selo. André e Túlio começaram a declamar seus repentes há dois anos, apoiados pela então professora Maria José da Silva Barbosa, na Escola Luiz Ventura: “Foi fácil ver que os dois possuem talento para colocar em versos nossas tradições e vivências”, afirma a professora. Casinhas fica a 131 quilômetros do Recife, encravada no agreste, na microrregião Alto Capibaribe e, limitada ao norte com a Paraíba, ao sul com Bom Jardim e Surubim, ao leste com Orobó e a oeste com Vertente do Lério. A entrega do Selo UNICEF Município Aprovado aconteceu no ginásio coberto ao lado da Prefeitura, onde dezenas de crianças e adolescentes esperavam a cerimônia com apresentações bem ensaiadas de números de dança, música, e até uma encenação teatral. Comidas típicas haviam sido preparadas e também lanche!

Diversas crianças beneficiadas por programas sociais de proteção e de complementação de ensino eram acompanhadas pelas respectivas professoras, como é o caso das docentes Amparo da Silva Almeida e Jalma da Silva Ferreira: “O resultado efetivo que podemos ver com esses programas de acompanhamento intensivo, depois de algum tempo, é o maior aproveitamento escolar e aprendizado mais rápido”, explica a professora Amparo. Com esse acompanhamento intensificado desde cedo, Casinhas poderá em pouco tempo erradicar a distorção idade-série que, aliás, foi um dos indicadores que pontuaram positivamente para a obtenção da segunda edição do Selo UNICEF Município Aprovado. O mesmo processo precisa ser continuado, inclusive para manter a redução na taxa de abandono escolar no ensino fundamental, item que também avançou e concorreu para a conquista do Selo. Uma das iniciativas de maior sucesso em Casinhas é o Baú de Leitura. Cerca de 1.500 alunos das áreas rurais do município são beneficiados com esse programa, que leva livros às áreas mais distantes para empréstimos durante um período de 30 dias. Como salientou a articuladora do Selo Maria Dalva Marcos, “essa segunda conquista significa portas abertas para apoios a políticas direcionadas à criança e ao adolescente. Mas é também a indicação de que precisamos continuar em uma articulação intersetorial que envolva a administração pública, e também a sociedade civil organizada, empresários, educadores e todos os cidadãos”, afirmou. Enquanto isso, a festa organizada por educadores, estudantes e administradores municipais fez bonito nos quatro cantos do cenário armado. Uma variedade de manifestações deu o recado bem dado: orgulho e confiança de estar no caminho certo nos cuidados com a infância e a juventude naquele pedacinho do semiárido pernambucano. As festividades que celebraram a obtenção do Selo UNICEF Município Aprovado entraram noite adentro e foram encerradas com um lanche de pratos típicos da região. A equipe do UNICEF ainda teria um pequeno trecho de estrada até o município de Caruaru, onde passaria a noite.

“O resultado efetivo que podemos ver com esses programas de acompanhamento intensivo depois de algum tempo é o maior aproveitamento escolar e aprendizado mais rápido”

Amparo Almeida, Professora

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•••Chã de Alegria | PESegunda-Feira | 08 de Dezembro de 2008

A pequena Lara Soane, de apenas três meses de idade, ressonava nos braços da mãe, Ana Cristina, quando a Caravana do UNICEF chegou a Chã de Alegria. Ainda que adormecida, Lara expressava bem o motivo pelo qual o município da Mata Norte do Estado de Pernambuco seria o palco de um carnaval fora de época naquele dia 8 de dezembro de 2008: é que a cidade conseguiu melhorar as condições de vida de suas crianças e adolescentes. Em particular, os dados que indicam o aumento no percentual das mulheres que fizeram pré-natal nos últimos dois anos. Absorta nos braços da mãe, Lara dormia sob a proteção de um chapéu claro de linho contra o sol inclemente das 10 horas do verão no semiárido. A cidade, cujo percentual de mulheres grávidas com 7 ou mais atendimentos de pré-natal passou de 43,8% para 50,9%, também conseguiu nos últimos dois anos reduzir o percentual de crianças menores de dois anos de idade desnutridas, de 7,5% para 2,4%. “Acho que a reabertura da maternidade Virgínia Guerra foi importante para mim e outras mães de Chã de Alegria”, diz Ana Cristina. Outros indicadores também informam os avanços em Chã de Alegria, como é o caso da taxa de escolarização e a distorção idade-série. No primeiro caso, a taxa de escolarização de jovens com idades entre 6 e 14 anos foi de 102,6% para 137%, indicando que diversos alunos de municípios vizinhos completavam sua alfabetização em Chã de Alegria; já a distorção idade-série no ensino fundamental diurno teve uma redução de 47,3% para 15,8%. Nesse processo, o trabalho de educação centrado no esporte e na formação de cidadania é fundamental”,

avalia o professor Linaldo Gomes, da Escola Ministro Marcos Freire. “Em nossa escola concentramos esforços em oferecer aulas de futebol para todas as crianças de ambos os sexos. E verificamos que atividades como essa permitem aumentar a capacidade de concentração dos alunos, melhorar seu rendimento e evitar a evasão”, diz. O professor ainda fez questão de lembrar que o envolvimento de toda a família no processo é fundamental, “pois assim os pais podem acompanhar o calendário escolar e o rendimento da criançada”. Perto de onde o professor falava se concentrava o Grupo de Flauta Eco da Esperança, do Colégio Dr. Aderbal Jurema. A turma, coordenada pela professora Roberta Tálita da Silva, que existe há um ano e meio, tem um repertório de 20 músicas, já se apresentou em diversas cidades da região e representa um incentivo especial em ir à escola para Maria Taís Ferreira Ramos e Maria Marta de Barros Florência. As duas, alunas do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), como boa parte dos que se concentravam no ponto de encontro definido para dar início à caminhada pela cidade, eram só sorrisos e ansiedade: “Nós adoramos participar do grupo de flauta porque é um incentivo a mais”, dizia Maria Taís. Já eram 11 horas da manhã quando um desfile com bandas, grupos escolares enfeitados de guirlandas e brilhos generosos, professores apressados, crianças inquietas, gritos e travessuras cruzavam as ruas de Chã de Alegria em direção à quadra de esportes do município. Lá, uma Catirina colocava ordem na casa e as crianças na arquibancada obedeciam. Do lado de fora, mestre Biu Pascoal e seu maracatu rural esquentavam os tamborins, enquanto na quadra coberta diversas apresentações marcavam de alegria a entrega do Selo UNICEF Município Aprovado. O prefeito Cláudio Estácio Honório da Costa reiterava a importância do Selo para o município: “ele é o resultado de um trabalho coletivo dos administradores e mostra o estatuto ético de um compromisso com a infância e adolescência que credencia o município diante de agências de fomento e dos governos Federal e Estadual”, afirmou.

“O Selo é o resultado de um trabalho coletivo dos administradores e mostra o estatuto ético de um compromisso com a infância e adolescência que credencia o município diante de agências de fomento e dos Governos Federal e Estadual”

Cláudio Estácio Honório da Costa Prefeito do município

Desejos em Chã de Alegria | Por Caio Azevedo

Jaiurte tem 14 anos e desejos. É um rapaz alto, inteligente, atencioso e tem um sorriso tímido que revela seus dentes com aparelho de borrachas brancas e vermelhas. Leva no peito um pequeno colar com o escudo do time de São Paulo. Talvez esse seja o motivo do seu riso: seu time é recém-campeão. Ele mora em Chã de Aldeia, um dos muitos sítios, ou distritos, do município de Chã de Alegria e veio à cidade para acompanhar a caminhada da caravana do selo UNICEF: “Eu não sei direito o que é, lá na escola eles disseram que a cidade ia receber o selo e que isso era bom”. Sua prova de história teve de esperar um dia. Cursa primeiro ano do ensino médio no PETI (Programa de Erradicação de Trabalho Infantil), implantado há dez anos em Chã de Alegria. Lá, Jaiurte aprende a tocar flauta, tem aulas de arte, pintura e esportes. Infelizmente, essa não é a realidade de todos os jovens do local: a região tem muita cana de açúcar e, quando a mão de obra é escassa, crianças aprendem cedo a manejar o facão. Jaiurte garante que esse número diminuiu muito, mas ainda existe: “As famílias que têm filhos na escola recebem Bolsa Família, isso ajuda muito”, afirma. Jaiurte quer que o São Paulo seja campeão novamente, terminar o ensino médio e cursar Direito. Onde? “Não sei, isso eu penso depois”, responde se esquivando. Kelly, 13, Gerlane, 14, e Simony, 13, também estudam no PETI e jogam handebol há pouco mais de um mês. Que pensam do futuro? “Quero continuar a jogar handebol. A gente já ganhou de seis a um“, responde Gerlane. Pensar no futuro é sempre complicado, mas esses meninos afirmam não querer sair de Chã de Alegria.

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•••Limoeiro | PeSegunda-Feira | 08 de Dezembro de 2008

O Colombo Sport Club, na cidade de Limoeiro, ficou pequeno naquele dia 8 de dezembro de 2008. Com taxa de mortalidade infantil no mesmo patamar das regiões mais ricas do país, o município comemorava, ainda, o aumento no percentual de atendimentos pré-natal e uma excelente redução no percentual de adolescentes grávidas. Há, de fato, muito a comemorar. Se há 12 anos a taxa de mortalidade infantil era de 50 para cada mil nascidos vivos, em 2007 Limoeiro registrava 13,5 falecimentos para cada mil crianças nascidas vivas. A Caravana do Selo UNICEF foi recebida com uma salva de fogos de artifício logo no início da tarde, após deixar Chã de Alegria. Os festejos se concentraram no Clube, o que foi uma decisão sadia, especialmente para as crianças, haja vista a alta temperatura e o sol que queimava as ruas da cidade. Uma alta temperatura e a clareza também nas palavras davam, aliás, o tom das falas dos que saudavam a conquista do Selo UNICEF Município Aprovado. “O que temos agora é um compromisso maior, pois o reconhecimento do Selo nos aponta para a necessidade de, no mínimo, manter esses indicadores nos níveis em que eles se encontram. E falo não mais como prefeito, mas como cidadão pois os próximos gestores também precisarão manter o nível de avanços conquistados até agora”, salientou o prefeito Luís Raimundo Duarte. Um bom indício de que esse caminho pode se concretizar foi dado justamente pela próxima administração do município, que esteve presente durante a entrega do Selo.

É a segunda vez que Limoeiro ganha esse reconhecimento do UNICEF: “Temos chances notáveis de continuar um trabalho de efetivo impacto na vida atual e no futuro das crianças e adolescentes de nossa região, pois a perspectiva que usamos é a de longo prazo, na qual é necessário assegurar certas garantias nos dias atuais, mas que também posam dar frutos em médio e longo prazo”, afirmou a articuladora e Secretária de Assistência Social, Geórgia Maria Duarte. Os indicadores apontam justamente para a prática de políticas públicas em que a saúde é um dos focos principais. Nesse sentido, estão o aumento no número de domicílios com água encanada (atualmente em 72,3%), o avanço no percentual de crianças, com um ano de idade, vacinadas com tríplice viral (106,9%), a cobertura do Programa Saúde da Família (PSF), bem como o acesso a tratamento antirretroviral para gestantes soropositivas e ao protocolo de prevenção da transmissão vertical, foram fatores decisivos que fizeram a diferença para Limoeiro. Para Jane Santos, do UNICEF, os avanços obtidos pela administração de Limoeiro são muito bons: “O nível de mortalidade caiu a números verificados nas cidades mais ricas do país”, disse. “Os indicadores mostram que a evolução de Limoeiro está no rumo certo para a melhora da qualidade de vida de crianças e adolescentes”, completou. Entre os desafios, o município precisará avançar no aumento do percentual de crianças com menos de um ano com vacina tetravalente, aumentar o percentual de crianças com aleitamento materno exclusivo até quatro meses e elevar o percentual de domicílios atendidos pelo sistema de abastecimento de água para consumo. A expertise do trabalho intersetorial para a obtenção dos indicadores ao Selo UNICEF Município Aprovado, nos últimos anos, certamente deverá contribuir para superar essas dificuldades. “A obtenção do Selo aumenta nosso compromisso enquanto administradores da coisa pública, compromisso esse que já era grande desde o início. O principal desafio é manter a qualidade dos serviços oferecidos à população em geral e às crianças e adolescentes de nossa cidade”, afirmou o prefeito Luiz Raimundo.

“A obtenção do Selo aumenta nosso compromisso enquanto administradores da coisa pública, compromisso esse que já era grande desde o início. O principal desafio é manter a qualidade dos serviços oferecidos à população em geral e às crianças e adolescentes de nossa cidade”

Luiz Raimundo Prefeito

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•••Riacho das Almas | PETerça-Feira | 09 de Dezembro de 2008

A Caravana não poderia ter chegado em dia mais adequado a Riacho das Almas, localizada a 131 quilômetros do Recife: era dia de entrega das notas do semestre e a criançada ficaria sabendo se fora aprovada de ano. O município preparou-se para uma apresentação de gala. Colocou suas bandas e fanfarras escolares na rua, destravou portas e janela dos cantos onde abrigava suas crianças da poeira e do sol castigante, chamou suas bandas de pífano, seus dançarinos e resolveu explicar porque foi merecedora do Selo UNICEF Município Aprovado. Se era dia de apreensão para os estudantes, era de satisfação para aqueles que batalharam diretamente pela obtenção da chancela do UNICEF: “Essa premiação não é da articuladora, nem do prefeito. É um reconhecimento aos avanços e resultados positivos produzidos por uma gestão intersetorial, o que é, em outras palavras, o reconhecimento de um trabalho em grupo, cuja efetividade se dá na melhoria das condições de vida de crianças e adolescentes”, afirmou a articuladora do Selo no município, Scheyla Maria Silva Gonçalves Os grandes trunfos da administração podem ser verificados através dos indicadores de Gestão, em sua maioria pontuando positivamente no resultado final. Todos os indicadores que tratam da participação social também renderam pontos positivos para o município. Alheio ao detalhamento dessa matemática institucional, Maiara da Conceição, João Paulo, Maria Aparecida e Vinícius não estavam ali, no teatro da Escola Mário Mota, como meros componentes de um grupo de dança estudantil. “Já dançamos

há cinco anos. A maior parte das peças é baseada na cultura nordestina, usando ritmos de raiz africana e indígena”, disseram. No dia em que a Caravana foi a Riacho das Almas, a apresentação do grupo, que se chama Dançarte e existe desde 2003, era toda guiada pelo ritmo de toques do Candomblé. Antes de o Dançarte mostrar a que veio, foi a vez da Banda de Pífanos Riachense, com alunos da Escola Mário Mota. O grupo mostrou de forma mais que competente o que pode fazer um quinteto tendo em mãos um repertório formado por baiões, xotes e xaxados, sob orientação de um bom professor. “Eu aprendi o pífano com o grande Zé do Pífano e foi isso que me ajudou a sair da rua e a fazer coisas boas. Por isso, hoje me dedico a formar esses grupos de pífano na cidade”, conta o orientador do grupo, Marcos Antônio da Silva, o Marcos do Pífano. Tanto o Dançarte quanto a Banda de Pífanos Riachense materializam uma política, apoiada pelo UNICEF, de proteção, de formação integrada e de valorização da cultura e da identidade étnico-racial. Como noutros municípios, na ocasião deste segundo Selo UNICEF, a administração do local está mudando de mãos: “Perdemos a eleição, mas ganhamos a partida, pois a busca pelo Selo UNICEF Município Aprovado nos incita a fazer mudanças estruturais na forma de organização do governo, mas também na forma de se educar e de se amparar a infância e a juventude”, afirmou o prefeito Mário Mota Limeira Filho.

“Perdemos a eleição, mas ganhamos a partida, pois a busca pelo Selo UNICEF Município Aprovado nos incita a fazer mudanças estruturais na forma de organização do governo, mas também na forma de se educar e de se amparar a infância e a juventude”

Mário Mota Limeira Filho Prefeito

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•••Bezerros | PEterça-Feira | 09 de Dezembro de 2008

Em um dia com muito sol, a caravana do UNICEF foi recebida na Praça da Matriz, onde um palco colorido foi montado para as apresentações que já garantiram a Bezerros um lugar de destaque entre as manifestações culturais de Pernambuco. Mais que isso, a cultura no município, localizado a 101 quilômetros do Recife, foi integrada como fator de inclusão, de formação da identidade e despertar do sentimento de pertencimento. Não é por acaso que muitas das crianças que se apresentaram dentro da programação festiva do Selo UNICEF Município Aprovado, se referiam à história de sua gente e a importância de conhecê-la. Era isso o que diziam Jonatas Loan de Lima e Silva (7 anos) e Isabela Fernanda Martins (13 anos), ambos do Grupo de Dança Folcpopular, do Centro Escolar Municipal à Criança e Adolescente (CEMAIC): “Depois que aprendi a dançar forró, maracatu e maculelê, minha vida mudou porque aprendi quem são meus antepassados e hoje sei que Bezerros é como se fosse minha história”, dizia uma Isabela toda adornada de dançarina africana sob o sol do agreste. O grupo funciona há sete anos e promove atividades de dança. “O reflexo dessas atividades no poder de concentração, na performance na escola, na disciplina geral e no relacionamento com os pais é notável”, afirma a professora de dança Mileide Santos Silva. E de fato, o Folcpopular deu seu recado na manhã do dia 9 de dezembro em pleno dia de trabalho em Bezerros, que parou para ver, ouvir e dançar. As menins e meninos do grupo de dança apresentaram vários

números de danças com inspiração negra, frevo e dança moderna. Experiências como as da profesora Mileide Santos e dos pequenos dançarinos apontam para a necessidade daquilo que a articuladora do Selo e diretora de Cultura Luciana Dutra chama de “fortalecimento da rede de proteção por meio de trabalho intersetorial”. “O Selo foi conquistado por meio de uma capacidade de articulação entre trabalhos que já vinham acontecendo em setores diferentes, de modo que é uma conquista importante, mas que não foi difícil, pois as ações similares já existiam previamente”. Para Mileide, o grande desafio daqui para frente é intensificar a inclusão de crianças e adolescentes do município e manter o bom nível dos indicadores obtidos nos últimos dois anos. Jane Santos, do UNICEF, fez questão de salientar o avanço do município de Bezerros: “a cidade deu um exemplo na queda da mortalidade, nos empreendimentos culturais e na redução da desnutrição”. Houve aumento do percentual de alunos do ensino fundamental participando de programas socioeducativos – e estamos falando de 30 escolas e creches municipais e mais seis escolas estaduais, o que é um feito impressionante. A mesma tarefa de fomentar a inclusão de crianças e adolescentes por meio da cultura vem sendo posta em prática através de 20 grupos de dança, bacamarteiros, hip hop, capoeira, entre outros. Hoje, quase todas as crianças do município desenvolvem alguma atividade desse tipo. Na verdade, Bezerros conseguiu pontuar em praticamente todos os indicadores de gestão – com aumento da cobertura do Programa Saúde da Família (PSF), aperfeiçoando o funcionamento dos Conselhos Escolares, ampliando o uso de material didático contextualizado, com ações efetivas para oferta de tratamento antirretroviral para gestantes soropositivas e prevenção de transmissão vertical. “O Selo nos indica que caminhamos no sentido certo quando a meta é prover a melhoria de vida das crianças e adolescentes de Bezerros”, pontuou o prefeito Marcondes de Lima Borba.

“O Selo nos indica que caminhamos no sentido certo quando a meta é prover a melhoria de vida das crianças e adolescentes de Bezerros”

Marcondes de Lima Borba Prefeito

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•••Bonito | PEQuarta-feira | 10 de dezembro de 2008

Quando a Caravana chegou a Bonito não se poderia prever a recepção que a cidade havia preparado para a equipe do Selo UNICEF Município Aprovado. Uma tarde calma e clara banhava o calçamento, sobre o qual poucos passantes arriscavam desfilar. Uma sonolência pós-almoço entorpecia os atendentes nas lojas, os vendedores de picolé e até os cachorros na praça da Matriz. Pouco a pouco, foram chegando os ilustres convidados, como se a cidade voltasse a si depois de uma profunda sesta. Quem chegou primeiro foi a Banda Musical do Biu, cujos acordes se ouvia com antecedência de alguns quarteirões. A cadência altiva das marchinhas e dos hinos e a ordeira disciplina verde-oliva com a qual os músicos são vestidos, já acordava da letargia as ruas que a banda deixara para trás. Quando finalmente chegou à praça central de Bonito, estudantes das escolas da cidade, professores, agentes de saúde, médicos, músicos, escritores, donas de casa, comerciantes, vereadores, policiais, frentistas, vendedores de picolé e um locutor já haviam despertado. E então teve início a cerimônia de entrega do Selo. “Com o perdão pelo trocadilho, Bonito, localizado a 132 quilômetros do Recife, fez bonito”, disse Jane Santos, do UNICEF: “Uma das áreas em que mostrou uma evidente evolução nos cuidados com a infância e adolescência pode ser percebida no aumento dos atendimentos de pré-natal, na redução do percentual de adolescentes grávidas, na redução da desnutrição infantil. Globalmente, a evolução dos indicadores está relacionada às políticas públicas que permitem a integração das ações da máquina pública. Mas em última instância, essa performance depende dos personagens anônimos que colocam a mão na massa”, completou Jane.

E um típico personagem desses anônimos são os agentes de saúde: “De fato, nós somos o elo entre as intenções do governo e os cidadãos”, disse a agente Solange Alves. “A gravidez entre adolescentes ainda é comum, mas tem diminuído e o maior desafio, nesses casos, é convencer para a permanência na sala de aula”, completa. Fazendo jus a sua riqueza histórica – Bonito foi palco de um conflito armado no qual o governo central, ainda uma monarquia, reprimiu o movimento liderado pelo ex-soldado Silvestre José dos Santos, que pregava o sebastianismo como forma de superar a miséria –, as atividades nas escolas municipais do eixo Cultura e Identidade Étnico-racial foram elementos que contribuíram para a obtenção do Selo. Além da Banda Musical do Biu, outros personagens deram muita cor à festa que Bonito armou. Estava lá a Banda Marcial Valdomiro de Lima, assim como os judocas campeões que Bonito produziu nos últimos anos, todos querendo fazer e mostrar sua parte na festa: “Não vou dizer que é fácil fazer o judô aqui, mas não é impossível. O que é impossível? Amo minha profissão e o que ela pode fazer pelos outros, principalmente crianças e adolescentes da cidade em que eu nasci”, enchia-se de orgulho José Virgílio de Barros e Silva, da Associação Virgílio de Judô. Desde 1976, Virgílio se dedica a incentivar a prática do judô em Bonito. Coube à prefeita da cidade, Maria Lúcia Heráclito, expressar o significado da festa que Bonito preparou: “O Selo é uma afirmação, feita por uma entidade isenta, da seriedade da administração municipal na gestão da coisa pública e dos avanços obtidos. Ele aponta para a necessidade de se pensar a política como instrumento de conquista do bem estar da população e mais especificamente das crianças e adolescentes da cidade”, afirmou. O articulador do Selo, Honório Justino Júnior, médico, tem uma analogia para explicar o arranjo de forças necessário para a obtenção do Selo: “A corrida pelo Selo é como um grande campeonato de futebol. No final das contas, os grandes vencedores são as crianças e adolescentes. Por sua parte, secretários e diretores são os jogadores, o articulador é uma espécie de técnico que coloca esses personagens para conversar e o prefeito é o grande gestor disso tudo”, afirma.

“O Selo é uma afirmação, feita por uma entidade isenta, da seriedade da administração municipal na gestão da coisa pública e dos avanços obtidos. Ele aponta para a necessidade de se pensar a política como instrumento de conquista do bem estar da população e mais especificamente das crianças e adolescentes da cidade”

Maria Lúcia Heráclito Prefeita

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•••Caruaru | PEQuarta-Feira | 10 de Dezembro de 2008

Fazia uma bela manhã de sol no dia em que a Caravana fez a entrega do Selo UNICEF na cidade de Caruaru, às 10h15 da manhã. A prefeitura havia armado um palco no centro da cidade e destacado uma fanfarra para acompanhar a Caravana até o local em que a cerimônia aconteceria. Com razoáveis resultados na área da saúde e da educação, Caruraru conseguiu fazer com que suas secretarias trabalhassem de forma articulada, o que contribui para uma gradativa melhora das condições de vida de crianças e adolescentes. Um dos trunfos da cidade é a atenção à prevenção da AIDS. O município conseguiu oferecer a disponibilidade do teste anti-HIV para gestantes, e também o tratamento antirretroviral para gestantes soropositivas, além do protocolo para evitar a transmissão vertical: “As campanhas e o tratamento preventivo são muito bem estruturados nas grandes metrópoles, mas sua capilarização no agreste e em outras regiões interioranas é um desafio para o país que ainda não foi superado”, salientou Jane Santos, do UNICEF. Além desse trunfo, Caruaru ainda registra bons resultados nos indicadores de saúde infantil, como é o caso do percentual de crianças com menos de um ano com vacina Tetravalente e vacinadas com Tríplice Viral. Entretanto, a taxa de mortalidade infantil relativamente alta, e o percentual de adolescentes grávidas de 10 a 14 anos e de 15 a 19 anos, praticamente não se modificou, revelando alguns dos desafios que os administradores precisam encarar com urgência.

Na área educacional há conquistas recentes e desafios à frente. O aumento da taxa de escolarização líquida de 6 a 14 anos e de 14 a 15 anos no ensino fundamental, é um dos resultados positivos que o município obteve nos últimos anos. O mesmo se pode dizer da redução da distorção idade-série no ensino fundamental diurno da rede municipal No dia da entrega do Selo,Wellington Barbosa, pai de duas crianças matriculadas na rede pública municipal, dava o testemunho da importância da educação aos seus filhos – Levy Barbosa e Wesley Barbosa, com cinco e dez anos respectivamente: “Eles são campeões estaduais de karatê e são ótimos alunos”. Na cidade existem 300 crianças praticando karatê que estudam na rede municipal de ensino. O professor de karatê Santana Filho diz que “existe uma substancial diferença de aproveitamento escolar entre a criança que desenvolve alguma modalidade esportiva e aquela que não o faz”. Para a articuladora do Selo, Elisabete Cristina Ferreira, a conquista indica um avanço do município no sentido de conseguir ampliar políticas públicas, além de trazer mais visibilidade e confiança à administração pública municipal. Ela cita uma das conquistas do modelo integrado de gestão municipal colocado em prática nos últimos anos: “A Secretaria de Educação implementou toda a política da criança e do adolescente de forma a seguir a respectiva legislação. Isso só foi possível graças à articulação com outras secretarias para fazer valer o Estatuto da Criança e do Adolescente”, diz. “Pretendemos agora criar um novo Conselho Tutelar ao longo de 2009. A cidade tem 300 mil habitantes e por isso é necessário mais um”. Para o prefeito Manoel Teixeira, o município que recebe o Selo UNICEF Município Aprovado dá uma prova pública do bom uso dos recursos públicos: “O Selo é um sinal idôneo, é uma referência mundial da qualidade da gestão das políticas para crianças e adolescentes”, completou.

“O Selo é um sinal idôneo, é uma referência mundial da qualidade da gestão das políticas para crianças e adolescentes”

Manoel Teixeira Prefeito

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•••Petrolândia | PEQuinta-Feira | 11 de Dezembro de 2008

Chegamos em Petrolândia às 16h10. A cidade preparou uma bela recepção para a turma do UNICEF. Em frente ao prédio da prefeitura, tudo acontecia ao mesmo tempo: trio elétrico no embalo do frevo, bonecos gigantes, banda marcial, maracatu, capoeira, palhaços e uma criançada tão esperta que ninguém conseguiu dizer se era artista ou arteira! As crianças rebolavam no bambolê, corriam dos bonecos, e provocavam tanto os adultos que todo mundo entrou na brincadeira. Três delas, fantasiadas de Chaves, Quico e Chiquinha eram as mais espoletas: fizeram todo tipo de artimanha e ataques surpresa pelo longo caminho até o Grêmio Lítero Recreativo de Petrolândia. Mateus Sá, nosso fotógrafo, não se conteve, e subiu na traseira do caminhão para produzir uma sequência de fotos como poucos sabem fazer. Literalmente, de tirar o chapéu, pois o sombreiro de palha que ele usava saiu voando pela rua! Tanta alegria correspondeu aos bons números contidos no relatório do UNICEF. A desnutrição, por exemplo, diminuiu de 9,1% para 3,3% das crianças menores de dois anos. E no eixo de participação, a cidade conseguiu pontuar nos quatro temas: “É uma riqueza para nosso município”, disse Isaura Brasil, diretora da creche Arco Íris, onde cuida de 83 crianças. “Fiz vários projetos para diminuir a desnutrição na Casa da Criança Nutrida. Lá, oferecemos duas refeições balanceadas, para 300 crianças de até sete anos. Outro projeto é o da merenda escolar, que complementa em

quase 50% os alimentos necessários diariamente”, disse a nutricionista municipal, Ana Patrícia Jaques. Na rua, o sol se recolhia em luzes alaranjadas. Dentro do grêmio, a festa acabara de começar. As autoridades todas estavam na mesa: o prefeito Antonio Marcos de Souza, o Pastor Ricardo (presidente do Conselho da Criança e Adolescente), a articuladora Isabel Sales de Lima. Mas ninguém pegou no microfone antes das crianças e jovens. Teve capoeira, o Coral De Angelis e cantiga de roda, em que uma garotinha vestida de Branca de Neve gostou tanto das cantigas de roda que sentou bem no meio com o dedo na boca, embalada pela música. As formalidades ainda tiveram que esperar a cantata de Natal em libras, em performance das crianças do Centro Beethoven, uma peça de teatro sobre o aquecimento global, dança de ritmos nordestinos (coco, toré, maculelê, xaxado e maracatu), a declamação de literatura de cordel, e a receita do Bolo da Cidadania, preparada pelas crianças de uma das 55 escolas municipais. Por fim, o menino Artur Antonio Melo, acompanhado pelos teclados do companheiro Ivo de Souza, cantou uma paródia da famosa canção Asa Branca, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira:

“O Selo UNICEF é conhecido mundialmente concedeu à nossa cidade melhoria à criança e adolescente”

Era noite quando, finalmente, o prefeito Antônio Marcos de Souza se pronunciou: “O aprendizado que tivemos nestes dois anos já é um grande prêmio. Precisamos continuar investindo, para um dia dizer que nesta cidade toda criança é bem tratada”. Prestes a terminar a gestão, pediu a todos que “continuem vestindo a camisa do UNICEF”.

“O aprendizado que tivemos nestes dois anos já é um grande prêmio. Precisamos continuar investindo, para um dia dizer que nesta cidade toda criança é bem tratada”

Antônio Marcos de Souza Prefeito

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•••São Caitano | PEQuinta-Feira | 11 de Dezembro de 2008

Os 34 mil habitantes do município de São Caitano, distante 160 quilômetros do Recife, estão acostumados a ver suas crianças como destaques de reportagens na mídia nacional. A principal contribuição nesse sentido foi dada pela Banda de São Caitano, também conhecida como Banda Sinfônica do Agreste, que se tornou conhecida nacionalmente, graças a sua música e organização. A cidade teve avanços significativos em diversos indicadores e os dados oficiais demonstram isso. Como avaliou Jane Santos, do UNICEF, “há muito o que comemorar e há grandes chances para superar com mais vigor os desafios e suprir as necessidades que o relatório do Selo aponta”. Nesse sentido, a cidade está no rumo certo e isso é inquestionável. A taxa de mortalidade caiu, como resultado, inclusive, do aumento de atendimentos pré-natal, da redução da desnutrição de crianças com menos de dois anos, e do aumento dos domicílios com acesso a água. Relacionado a isso está a redução do percentual de adolescentes grávidas. Na área de educação, São Caitano conseguiu uma performance à parte. Praticamente todos os indicadores são positivos: a taxa de escolarização de crianças e adolescentes subiu – no caso dos adolescentes com ensino fundamental, superou os 100%. Houve uma drástica redução da distorção idade-série e uma redução quase pela metade da taxa de abandono escolar. Durante os festejos pela obtenção (pela segunda vez) do Selo UNICEF Município Aprovado, diversos corais se apresentaram. O prefeito Jadiel Cordeiro Braga observou:

“Os corais foram formados durante o período de férias em anos anteriores. Durante esse período as crianças continuam precisando da merenda e de atividades lúdicas e esportivas. Resolvemos, então, investir na área musical”, disse. Com cinco quadras de esportes sendo construídas na área rural e mais duas na área urbana, a educação recebeu um tratamento mais atencioso: todas as crianças e adolescentes e seus educadores têm transporte público e gratuito à sua disposição. “Uma das atividades de maior aproveitamento em nosso trabalho são as aulas de música”, afirma a educadora do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), Janaína Santana. Quase 200 crianças recebem educação musical nas oficinas do PETI em São Caitano, além de participarem de oficinas de capoeira, esportes e artesanato. Parte desse trabalho é impulsionado pelo exemplo da Fundação Música e Vida, uma instituição sem fins lucrativos que é a primeira escola de música do interior do estado de Pernambuco e que se notabilizou há alguns anos com a Banda dos Meninos de São Caitano. Outra iniciativa que estava sendo demonstrada na celebração pelo obtenção do Selo UNICEF Município Aprovado foi o grupo de dança Boneco de Pano, que reúne alunos de diversas escolas municipais e estaduais. “Todas essas atividades para as crianças e adolescentes, ajudam não somente na formação e amadurecimento, mas também reduzem as chances de exposição de jovens à criminalidade”, observa a professora Eclécia Carla Gomes. Além do espetáculo Boneca de Pano – brincadeira nordestina, o grupo se apresenta dançando xotes, forrós, tango.

“Os corais foram formados durante o período de férias em anos anteriores. Durante esse período as crianças continuam precisando da merenda e de atividades lúdicas e esportivas. Resolvemos então investir na área musical”

Jadiel Cordeiro Braga Prefeito

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•••Agrestina | PEQuinta-Feira | 11 de Dezembro de 2008

A comunidade que viria a se tornar o município de Agrestina ainda não tinha esse nome quando dona Amara já tocava mazuca. Hoje com 107 anos muito bem contados, dona Amara é a inconteste primeira dama dessa variação do côco, praticada pelos escravos que viviam na região desde o século XIX. A perpetuação desse folguedo popular parece garantida e isso, por si só, já seria motivo de comemoração: em Agrestina aprende-se a tocar e cantar mazuca na escola. Fruto da interação entre negros fugidos e índios que conviviam nos quilombos, a mazuca é uma reminiscência valiosa demais para ser desprezada. Que o diga Valdir Manoel da Silva, o Cotia, que somente em 2008 ensinou o ritmo a 55 crianças atendidas pelo Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI): “Procuramos contribuir com a formação da identidade e do sentimento de pertencimento de nossas crianças”, diz Cotia. Mas nem só de mazuca se constitui a herança cultural deixada pelos antepassados. Agrestina ainda é berço do grupo Pé de Serra do Quilombo, da vila de mesmo nome, onde vivem cerca de 300 pessoas e é reconhecida como comunidade quilombola pela Fundação Palmares. Foi esse o grupo que recebeu a caravana do UNICEF às portas da cidade e que a acompanhou até a praça onde fica a matriz de Santo Antônio. Ao som do maracatu, os 20 integrantes do grupo percussivo são acompanhados pelo instrumentista João Batista da Silva: “A música é um instrumento de resistência e de resgate da cultura afro-brasileira na região”, diz. A chegada na praça comprovou para todos os integrantes da caravana que Agrestina sabe preparar uma festa. Além do

grupo Mazuca de Agrestina, que esperava sua hora para se apresentar no palco armado pela prefeitura, a Banda Marcial Edileuza Ribeiro e a Banda Musical Pulquério José de Souza, se revezavam tocando. Na formação desta última estava o jovem Jadiel Silva, trompetista e neto do ilustre músico da cidade e que dá nome à banda. Apesar de tocar há apenas três anos, o jovem Jadiel, de 15 anos, é o principal solista do grupo, que, embora não seja propriamente uma banda de jazz, executa alguns números desse estilo. “A música garante, até pelo menos certa idade, que eles não se envolvam com drogas ou com violência. É uma garantia de bem-estar e de proteção assegurada durante essa fase importante da formação da personalidade, que vai até o final da adolescência”, explica Josenilson Silva, instrutor da banda. Os versos sincopados da mazuca, a pulsação jazzística da banda musical e a batida fermentada do grupo Pé de Serra do Quilombo, davam a medida exata de algumas razões pelas quais o município pôde receber o Selo UNICEF Município Aprovado. Os jovens integrantes dessas bandas, todos participam de programas sócio-educativos integrados às atividades da escola em que estudam, seja na área da cidade, seja na área rural. “Poderia dizer que a cidadania é nossa principal meta. A qualidade dos serviços, programas e atendimentos que a administração tem para oferecer é o que garante essa conquista”, afirma Graça Mendes, articuladora do Selo em Agrestina. A taxa de escolarização líquida de 6 a 14 anos com ensino fundamental evoluiu 27,5%. Também é digno de nota a evolução do percentual de adolescentes de 14 a 15 anos com ensino fundamental concluído – passou de 9,6% para 33,2%. Condições para superar os desafios na educação Agrestina tem 94,7% dos professores de educação infantil da rede municipal são habilitados em nível médio ou superior. O prefeito José Mendes da Silva, cujo mandato chegou ao fim em 2008, se diz realizado com a obtenção do Selo UNICEF: “O Selo é uma demonstração do valor de nosso trabalho e com isso queria fazer notar a queda da mortalidade infantil e a construção de novas escolas. O trabalho vai ficar e acreditamos que será dado continuidade à melhora das condições de vida das crianças e dos adolescentes de nossa cidade”, disse.

“...A cidadania é nossa principal meta. A qualidade dos serviços, programas e atendimentos que a administração tem para oferecer é o que garante essa conquista”

Graça Mendes Articuladora do Selo

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•••Brejo da Madre de Deus | PEsexta-Feira | 12 de Dezembro de 2008

O município de Brejo da Madre de Deus, encravado em um agreste de serras, de verde e de águas, adorna ainda mais a região com um casario simpático e relativamente bem conservado. As mães com seus filhos estão no centro de uma das melhores experiências do país de uso do Kit Família Brasileira Fortalecida. O material, usado pelo Núcleo de Apoio Social à Família, foi fundamental para que Carla Vaneza Ribeiro da Silva pudesse cuidar melhor de seus filhos: “Tanto o material quanto as visitas periódicas das assistentes sociais da prefeitura me orientaram no sentido de saber a forma de alimentar melhor minhas crianças, cuidados básicos de saúde e a entender que o comportamento delas pode indicar necessidades que eu não notava antes”, diz. Para Carla, as informações que recebeu, e ainda recebe, para o cuidado com os filhos mudou sua relação com os pequenos e foi o principal fator para que ela se tranqüilizasse e os seus filhos pudessem crescer com saúde. Esse tipo de atendimento em Brejo da Madre de Deus atinge 120 famílias somente na zona urbana, há três anos. São disponibilizados além de assistente social, professores e psicólogos que fazem visitas semestrais e realizam acompanhamento individual nos núcleos de saúde. O programa integra uma rede de proteção que educa pais e eleva o bem estar das crianças do município. Essa é uma das ações que justificou a conquista do Selo UNICEF Município Aprovado por Brejo da Madre de Deus. Um cuidado com um bem da mais alta valia: as próximas gerações. Os resultados efetivos, bem como os desafios, aparecem em números. A taxa de mortalidade infantil caiu, bem como aumentou o

percentual de mulheres grávidas com sete ou mais atendimentos de pré-natal. Ainda assim, são claros os desafios mais adiante: Brejo terá que diminuir os percentuais de adolescentes grávidas com idades entre 10 e 14 anos, bem como entre 15 e 19 anos. O caminho para a manutenção e melhora dos indicadores parece estar claro no município, pois os programas de assistência social demonstram a integração de várias frentes da administração municipal. Uma dessas ações é a Casa da Amizade, que visa à integração de jovens em situação de vulnerabilidade social no mercado de trabalho e erradicação das distorções idade-série por meio de várias atividades, como cursos de fotografia, corte e costura e computação. Na mesma linha outras duas ações fizeram a diferença para Brejo da Madre de Deus: o Centro da Criança e do Adolescente e o Pernambuco no Batente. O primeiro atende 60 jovens dos sete aos 14 anos em parceria com o Governo do Estado. O Centro funciona pela manhã e tem como prioridade a ampliação do tempo na escola com oficinas de teatro, música e dança. Já o Pernambuco no Batente, iniciado em setembro de 2008, tem como meta atingir 200 pessoas beneficiadas pelo Programa Bolsa Família e busca a elevação da escolaridade com cursos de informática. “Todos esses programas, que possuem um inegável impacto sobre a população e especialmente sobre os jovens da cidade, foram em grande parte viabilizados por já termos conquistado anteriormente o Selo UNICEF Município Aprovado. De modo que essa é, sem dúvida, um reconhecimento ao trabalho articulado por diversas frentes que concorrem com mecanismos de conquista da cidadania”, afirmou Sônia Maria Catel, articuladora do Selo. A Caravana do UNICEF foi recebida na quadra esportiva da escola Municipal Maria da Glória, onde foram apresentadas as ações sociais da administração municipal, grupos de dança, teatro e percussão. A festa preparada pela cidade dava bem a medida das ações que têm transformado a qualidade de vida de crianças e adolescentes do município: “Acredito que as melhorias nos últimos anos em termos da qualidade da gestão, que se refletem na qualidade dos serviços de saúde, educação e de amparo social, vieram para ficar. São conquistas da população que precisam ser mantidas e expandidas. E o Selo é um reconhecimento isento disso tudo”, afirmou o prefeito Roberto Asfora.

“Acredito que as melhorias nos últimos anos em termos da qualidade da gestão, que se refletem na qualidade dos serviços de saúde, educação e de amparo social, vieram para ficar. São conquistas da população que precisam ser mantidas e expandidas. E o Selo é um reconhecimento isento disso tudo”

Roberto Asfora Prefeito

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•••Arcoverde | PESexta-Feira | 12 de Dezembro de 2008

A praça Winston Siqueira, que os filhos mais antigos de Arcoverde conhecem por Praça Virgínia Guerra, transformou-se em um mosaico vivo de brincadeiras, ritmos, risadas, luzes, crianças correndo, disputando bola, jogando capoeira, dançando maracatu e côco; moças e moços passeavam na luz fina de uma tarde fria entre paqueras e cochichos; uma banda marcial dobrava clarinetes festivos enquanto um palhaço atirava risadas, e gigantes meninos com pernas de pau caçoavam dos outros, risonhos em poder tocar o céu. Foi assim que a Caravana do Selo UNICEF Município Aprovado encontrou Arcoverde, em um final de um dia quente e cansativo. O município, agora bi-campeão, teve uma boa performance nos indicadores de Impacto Social, tendo reduzido a Taxa de Mortalidade Infantil e aumentado o percentual de atendimentos pré-natal. O mosaico vivo que brincava à luz fraquinha de final de tarde na praça renomeada, confirmava o que os números dizem: Arcoverde conseguiu reduzir a desnutrição e aumentar o atendimento de crianças de 4 e 5 anos na escola. Um dos grupos que recebeu a Caravana foi o Brincantes Cênicos, que já existe há quatro anos e que iniciou suas atividades em uma parceria com a Secretaria de Assistência Social. Montados em pernas de pau, os 15 adolescentes e crianças da trupe já fizeram apresentações em várias cidades. Para um dos integrantes, Márcio Vieira da Silva, as atividades com o grupo revelaram como ele pode usar a arte: “Participar das apresentações, do preparo do figurino, dos ensaios, pensar toda a apresentação é o que eu quero fazer profissionalmente, por isso participar dos Brincantes é um motivo de orgulho, mas também de aprendizado”, diz. A Ciranda Estrela Guia, o grupo de danças regionais Cangaceiros do Rio Branco, o grupo de capoeira coordenado

pelo mestre Camaleão - apelido de Thiago Alexandre dos Santos -, reunindo alunos dos programas Pró-Jovem e PETI, tinham jovens em situações diferentes e com a mesma força de vontade: “Essas atividades ajudam no conhecimento da cultura formadora da localidade mas também contribuem na formação da identidade”, afirma a professora de dança Iris Darc da Silva. Bernadete Cruz Barros, monitora da Ciranda Estrela Guia, da qual fazem parte 30 crianças e adolescentes atendidas pelo PETI, disse que todas essas ações reforçam a ideia da educação como formação de cidadania: “E os resultados efetivos em curto tempo são a queda da reprovação, aliás em 2008 ninguém de nossas turmas foi reprovado, consequência de um processo mais amplo de ganho de responsabilidade, concentração e consciência”, afirma. Não é surpresa observar que é elevado o percentual de alunos do ensino fundamental em Arcoverde participando de programas socioeducativos, além disso o percentual de alunos matriculados em escolas com Conselhos Escolares em funcionamento já alcança os 100%. No mesmo sentido, as taxas de escolarização de 6 a 14 anos no ensino fundamental e o percentual de adolescentes de 14 e 15 anos com ensino fundamental concluído, refletem o trabalho de uma administração que investiu na educação. Arcoverde ostenta indicadores positivos com relação à taxa de mortalidade infantil, que vem caindo; ao aumento de pré-natais realizados, e na redução do número de adolescentes grávidas de 10 a 14 anos. “São números positivos, certamente, e os resultados efetivos nós só podemos colher em médio e longo prazo. Portanto, o Selo UNICEF Município Aprovado tem que ser visto como a confirmação de um caminho que precisa ser aprofundado”, disse o prefeito Zeca Cavalcanti. A articuladora local, Maria Edivane da Silva Gomes, observou que “a primeira vez em que a cidade obteve o Selo representou um ganho de experiência para organizar políticas direcionadas exclusivamente para crianças e adolescentes. Isso nos permitiu garantir cada vez mais os espaços de direito da criança”, explicou. A festa entrou pela noite, a praça ficou pequena, mesmo com seus dois nomes, o frio da região do vale do Ipanema se estabelecia em definitivo e a Caravana teve que pegar a estrada novamente.

“A primeira vez em que a cidade obteve o Selo representou um ganho de experiência para organizar políticas direcionadas exclusivamente para crianças e adolescentes. Isso nos permitiu garantir cada vez mais os espaços de direito da criança”

Maria Edivane da Silva Gomes Articuladora local

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•••Itacuruba | PESexta-Feira | 12 de Dezembro de 2008

Às 9h43, cruzamos uma faixa na entrada de Itacuruba: “Caravana Unicef, seja bem vinda ao Jardim Sertanejo”. A pequena cidade de cerca de 4 mil habitantes tem motivos para comemorar. Os indicadores do Selo UNICEF mostram que a desnutrição caiu de 12% para 1,8%, e que a taxa de mortalidade infantil, podem acreditar, é nula! No ponto de encontro, uma comitiva nos esperava de guarda-sol nas cabeças, pois o sol não perdoa, e ninguém é de ferro... menos os vaqueiros e seus chapéus de couro, que lideravam a turma de crianças vestidas e pintadas de motivos tribais, uniforme das escolas ou do time de futebol da cidade. Logo atrás, dois palhaços conduziam a carroça enfeitada pelo projeto Garagem Cultural (www.projetogaragemcultural.blogspot.com), mantido pelo grupo Juventude Atitude. Compareceram também representantes das três comunidades quilombolas e as senhoras do programa Idoso Feliz. À frente de Lúcia Paiva, do UNICEF, e do prefeito Romero Magalhães Lima, a pequena Naiara, de oito anos, é levada numa cadeira de rodas. Nas mãos, ela leva um artesanato de barro, feito em homenagem ao UNICEF: três crianças de braços abertos. Enquanto andamos, o articulador Ricardo Torres de Sá contou um pouco sobre o trabalho desenvolvido para conquistar o Selo UNICEF, que só foi possível graças ao esforço coletivo: “O Garagem Cultural ficou com a tarefa de tirar o título de eleitor para os jovens da cidade. As comunidades quilombola deram

sustentação ao programa educacional para convivência com o semiárido. Também precisamos quebrar alguns tabus. Antes, somente crianças do mesmo sexo e etnia jogavam no mesmo time”. Na altura do Cartório Único de Itacuruba, a banda manobrou em direção ao grande ginásio enfeitado para a entrega do Selo. Em seu discurso, Lúcia ressaltou a preservação da cultura local através da valorização da cultura quilombola e pankararus (tribo indígena da região). Presente no evento, Dona Joaquina da Silva Lima é a prova viva disso. Ela faz parte dos pankararus de Petrolândia, e está formando uma tribo em Itacuruba: “Temos muita vontade de dividir a sabedoria de Deus, para evitar o mal”, disse Dona Quinô, como é mais conhecida. “A cidade trabalhou pelas crianças e adolescentes”, disse Lúcia, para então entregar os certificados que comprovam o bom desempenho de Itacuruba: “Este é um diploma para nós, pois registra o reconhecimento pelo esforço de todos. Nós tínhamos os piores indicadores do estado em 2005, e hoje revertemos isso”, disse o prefeito. Mas nem tudo são flores em Itacuruba. Os indicadores dizem que a taxa de atendimento a crianças com idade entre 4 e 5 anos nas escolas, diminuiu de 93% para 49,5%, e a taxa de mortalidade de jovens até 19 anos subiu para 59,1%. Após colar o adesivo na van do UNICEF, o prefeito Romero contou os planos para o futuro: erradicar o analfabetismo, e criar um programa de turismo pedagógico, graças à implantação de um complexo de observação celeste patrocinado pelo Observatório Nacional.

“Este é um diploma para nós, pois registra o reconhecimento pelo esforço de todos. Nós tínhamos os piores indicadores do estado em 2005, e hoje revertemos isso”

Romero Magalhães Lima Prefeito

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•••Correntes | PETerça-Feira | 09 de Dezembro de 2008

O baque do maracatu não deixou dúvidas que pisamos em território pernambucano. Era a performance do Estrela Nascente, um dos grupos que receberam a Caravana que acabava de chegar à pequena Correntes. Fomos recepcionados em frente à Secretaria de Educação, com faixas que diziam: “Correntes agradece com carinho a comissão do Selo UNICEF”. Com pouco mais de 16 mil habitantes, a cidade não tem sinal de telefone celular, mas criança é o que não falta. Vestidas com a farda das escolas, elas acompanharam a banda marcial, o maracatu, o grupo de capoeira e também o grupo da terceira idade. O cortejo foi prestigiado por várias autoridades e gestores da cidade. O prefeito, Ronaldo Amaral, estava ladeado pela esposa, Jane, a filha Patrícia e o irmão Ricardo, que responde pela Secretaria de Ação Social. A caminhada se encerrou em frente ao Mercado Público, onde os grupos se revezaram nas apresentações. Nem todos os “correntinos” (é assim que se chama quem nasce lá) puderam assistir a cerimônia de entrega do Selo, pois o local escolhido, o salão da Câmara dos Vereadores, comporta somente 275 pessoas sentadas. Além do prefeito, compunham a mesa Maria da Betânia Pedrosa (Secretária de Cultura e Desportos), Fábio Alexandre Camilo de Lima (representante do Conselho da Criança e Adolescente) e a articuladora Lenice Couto, que foi bastante aplaudida, em agradecimento pelo bom trabalho. Júnior Lúcio, prefeito eleito e prestes a tomar posse, também compareceu.“Correntes avançou, e fez por merecer. Se destacou na

diminuição da mortalidade infantil e no combate à desnutrição”, disse Lúcia Paiva, do UNICEF, antes de entregar o troféu para o prefeito Ronaldo, que foi ovacionado. “Temos que fazer todo o esforço possível para melhorar a educação e a saúde, assim como todos os segmentos que levam ao desenvolvimento”, ressaltou o prefeito. Logo depois, Lúcia e Daniel entregaram o kit de esporte e lazer do UNICEF: “O esporte é uma ferramenta social”, disse Lúcia. Um bom conselho para que, na próxima edição do Selo, Correntes some pontos no tema Esporte e Cidadania. Em termos de educação musical, no entanto, a cidade vai muito bem. E boa parte desse sucesso se deve à dupla formada pelo frenético Maestro Bodinho, de 74 anos, e a jovem professora Jaosana do Sax. Juntos, eles respondem pela formação de 80 alunos entre nove e 17 anos. Nos indicadores do eixo de impacto social do UNICEF, a saúde também apresentou sinais de melhora. “Ampliamos o Programa Saúde da Família, que visitou todas as residências da cidade. Além disso, 93% das crianças estão vacinadas, oferecemos orientação dietética, prevenção de doenças diarréicas e respiratórias”, disse o Secretário de Ação Social, Ricardo Amaral. Encerrando as atividades, Lúcia Paiva convidou o prefeito para colar o adesivo de Correntes na van da Caravana, que já estava pronta para mais uma vez pegar a estrada.

“Temos que fazer todo o esforço possível para melhorar a educação e a saúde, assim como todos os segmentos que levam ao desenvolvimento”

Ronaldo Amaral Prefeito

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•••Granito | PESegunda-Feira | 15 de Dezembro de 2008

A forte chuva que caiu durante nossa passagem por Granito não diminuiu o ânimo da população da cidade, que aguardava ansiosa a chegada da Caravana UNICEF. Na hora da entrega do Selo, a quadra poliesportiva Miguel Orlando Justino estava tão lotada que parecia final de campeonato. O barulho do toró (chuva forte) na cobertura de zinco só fez aumentar a agitação das crianças, que se divertiram com os palhaços, dançaram com a música e ficaram bastante felizes com um caminhão cheio de brinquedos, trazidos pelo Papai Noel em pessoa! Pouco antes, quando chegamos na cidade de 7.500 moradores, a cena era outra: não tinha tanta gente assim e era o Sol quem reinava absoluto. Tanto que uma senhora cobriu a cabeça de seu bebê com uma toalha. No caminho, o grupo aumentou bastante. Dentro do ginásio, o palhaço Poupancinha recebia a todos. Ao lado do ginásio uma estrutura novinha em folha chamou a atenção. Trata-se do Parque da Juventude, formado pela escola, pista de cooper, campo de futebol, futsal, basquete e academia de ginástica. “Está funcionando desde a semana passada”, disse Miguel Orlando Justino, Secretário de Esportes e Conselheiro Municipal dos Direitos da Criança e Adolescente. E não é só no quesito esportivo que Granito pode se orgulhar, pois ela passou em todos os temas de participação social, o que significa cidadania também para os adultos. “O desafio é manter essa conquista”, disse Justino. Outro indicador de impacto merece destaque: a taxa de atendimento a crianças de 4 e 5 na escola aumentou de 16,4% para 95,2%. Mas ainda há muito o que melhorar: a mortalidade

infantil cresceu de 15,6% para 19,2%, e 41% dos domicílios não contam com acesso a água para consumo humano. Antes de falar no microfone, o prefeito João Bosco foi bastante aplaudido: “A sensação é a de dever cumprido. Conseguimos dar o primeiro passo. Outros virão”, disse o prefeito. Ao receber seu certificado, a articuladora Francisca Antonia de Santos falou por todos: “nós abraçamos esta causa para viver numa sociedade melhor e mais digna”. A professora e gestora de uma das escolas municipais de Granito, Francisca Antônia de Souza, explicou que a conquista do Selo não foi tão difícil, pois o trabalho já estava sendo feito anos antes: “Só faltava levar para a metodologia do UNICEF. Formamos equipes e demos uma guinada no método pedagógico, que funcionava, mas estava um pouco solto. Percebemos que não dá pra trabalhar isoladamente. Hoje trazemos não só os alunos, mas a comunidade para as escolas para trabalhar hortas comunitárias e valorização do meio-ambiente”. Um dos projetos que promovem esse encontro se chama Família na Escola, que acontece a cada dois meses nas dez escolas públicas de Granito. Após a colagem do adesivo da cidade na nossa Van, pegamos a estrada novamente. De tão entretida, a criançada nem percebeu. Papai Noel e seus presentes falaram mais alto.

“Nós abraçamos esta causa para viver numa sociedade melhor e mais digna”

Francisca Antonia de Santos Articuladora do Selo

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•••Venturosa | PESegunda-Feira | 15 de Dezembro de 2008

O calor que fazia naquela tarde em que Venturosa recebeu de braços e sorrisos abertos a Caravana do Selo, só é comparável à própria ternura dos anfitriões. Uma carreata conduziu a equipe do UNICEF até o Ginásio Poliesportivo Delmiro Alexandre Silva, onde uma festa havia sido preparada pela prefeitura. Mas parecia que uma cidade inteira de crianças se escondia da poeira, do cansaço, do suor e do infatigável sol lá de fora, e se refrescava com os picolés de R$ 0,20 e de mil sabores indecifráveis – e que acabaram seduzindo também a suada equipe da Caravana. O principal elemento da celebração pela conquista do Selo UNICEF Município Aprovado era, certamente, a alegria das crianças e adolescentes do município – sua matéria prima e resultado final a um só tempo. Alguns indicadores evidenciam isso e outros mostram espaços ainda a trilhar na busca da melhoria da qualidade de vida dos jovens do município. É assim, por exemplo, com a vacinação, que alcança mais de 100% das crianças de Venturosa (Tetravalente e Tríplice Viral). A cidade, que também conseguiu implementar uma excelente cobertura do Programa Saúde da Família, ainda aumentou o percentual de alunos matriculados em escolas municipais com Conselhos Escolares. Enquanto isso, no Ginásio Poliesportivo, os integrantes da Banda da Escola Municipal Doutor Manassés Alves Bezerra corriam contra o tempo – as casacas pesadas de veludo verde abertas, um chapéu londrino na cabeça, os instrumentos sendo afinados - e tentavam se encontrar todos para alinhar uma formação. O Grupo Nego Fujão, de capoeira Angola, dava seu show, com crianças de até 11 anos: “A atividade que desenvolvemos ajuda a canalizar energias

que as crianças possuem e ainda incentiva o estudo, porque além da atividade física fazemos um trabalho de orientação”, explicava o instrutor Givanildo Dias Galindo. As atrações se revezavam no hiato da espera da banda, que se preparava. Chegou a vez do Grupo Luiz Gonzaga, que fez uma bonita homenagem ao Rei do Baião. Formado por seis estudantes de diferentes escolas municipais de Venturosa, que têm em comum a paixão pela dança, seus integrantes são assistidos pelo Programa Nacional de Inclusão de Jovens (Projovem). Aliás, é fácil notar a evolução do percentual de alunos do ensino fundamental participando de programas socioeducativos. Em dois anos, Venturosa conseguiu, levar de 10,9% para 99,3% - o que significa que praticamente todos os estudantes do município participam de algum programa social integrado às atividades das escolas: “Todos nós somos apaixonados por dança. É o que nos une e o que todos nós queremos fazer profissionalmente”, afirmava o líder, Amaro José da Silva, logo depois da apresentação. A festa já se encaminhava para seu auge, quando a banda começou a tocar do lado de fora do Ginásio seus primeiros acordes. As arquibancadas tomadas de alunos, pais, professores, diretores de escolas, funcionários públicos, judocas, caratecas, capoeiristas. Mães, muitas mães e crianças de colo, sob a cadência disciplinar de um conjunto harmônico de bumbos, surdos, taróis e caixa que mantinham em suspensão os artifícios de dois trompetes, um trombone, saxofone e o som adocicado de um xilofone. A banda entrou triunfante e orgulhosa. “O Selo é um reconhecimento não somente à administração municipal, pois esta não conseguiria resultados não fossem as especificidades e os talentos naturais que a própria população possui. E o que é decisivo para que isso venha a público é o trabalho coletivo, intersetorial que viabiliza políticas públicas permanentes e frutíferas”, analisava a articuladora do Selo, Sônia Regina Soares Tenório. O prefeito, Eudes Tenório Cavalcanti, complementava: “o Selo nos traz mais responsabilidades, sobretudo em manter o atendimento à criança e ao adolescente e melhorar a qualidade dos serviços à população de uma forma geral”.

“O Selo nos traz mais responsabilidades, sobretudo em manter o atendimento à criança e ao adolescente e melhorar a qualidade dos serviços à população de uma forma geral”

Eudes Tenório Cavalcanti Prefeito

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•••Salgueiro | PESegunda-Feira | 15 de Dezembro de 2008

A prefeita de Salgueiro, Cleuza Pereira, nos recebeu de chapéu de palha, laço azul, blusa florida e rodeada por mais de 100 crianças. Todas estavam de fardamento escolar, e isso me lembrou o discurso de Dona Cleuza no Recife, feito na presença do presidente Lula. Ela representava todos os prefeitos de municípios aprovados pelo Selo UNICEF. “Esta semana, em Conceição das Crioulas, não pude conter as lágrimas porque uma criança de cinco anos lia em alto e bom tom uma cartinha dirigida a mim, agradecendo as melhorias realizadas em sua escola. Guardei aquele papelzinho como um dos mais caros prêmios ou troféus que eu poderia ter colhido”, disse a prefeita, que começou a carreira como professora rural. Na mesma solenidade, ela comparou o índice de mortalidade infantil de 1993 com o de hoje, uma diferença de quase 90%. E lembrou que sentiu na pele esse drama, pois, dos 13 filhos de sua mãe, apenas seis se criaram: “Nos alegramos porque não se trata de uma iniciativa isolada, mas da consciência de gestores e população (...) que acolheram os ideais do UNICEF como estratégia de governo, com metas definidas, buscadas coletivamente”. Por isso, antes mesmo de chegar a Salgueiro já havia curiosidade em torno do que iríamos encontrar. Antes de tudo, no entanto, a prefeita subiu na van e nos apresentou a cidade bi-campeã na conquista do Selo UNICEF. Três ônibus lotados de crianças e uma unidade móvel do SUS completaram o cortejo. Pela janela, desfilavam curiosos nomes do comércio: Bar da Moça, Cesta do Povo, Cervejaria Don Cabrito, Passa aqui uai (um bar), Academia Corpo e Alma... Chamou a atenção a estátua de Padre Cícero na frente de um mercadinho com o mesmo nome. A prefeita explica que o líder

religioso é um dos responsáveis pela fundação da cidade: “Em 1835 ele comprou as terras daqui, e doou para os Salesianos”. Quando chegamos na praça da Igreja Matriz, nos encontramos com o garoto Mike Silva Monteiro, apresentado como o futuro prefeito de Salgueiro. Aos 12 anos, ele gosta de acompanhar a Prefeita da Cidade, Cleuza em seus compromissos, e vê nela um modelo a ser seguido: “Acho bonito o trabalho dela. Queria ser seu neto”, disse Mike, que também pretende estudar medicina e já suspeita por onde começar: “quero hospitais mais adequados”. Na escadaria da igreja, os baixinhos da creche Cristo Redentor abriram a programação cantando com a banda de flautas. Duas meninas ostentavam na blusa a bandeira de Salgueiro. Os outros, vestiam as letras que formam a palavra UNICEF. Eles entoaram várias músicas: “Noite Feliz”, “Vida de Viajante”, “Existe Natal”... O hino de Salgueiro foi cantado pela menina Angélica Spíndola, de 11 anos. No alto da escadaria estavam a Prefeita Cleuza e o futuro Prefeito Marcone, assim como Padre Remi de Vettor (Pastoral da Criança), Amélia Figueiroa (Conselho Municipal de Direitos), vários Secretários, o mobilizador de esporte Jairton Matos, e a representante do UNICEF na Caravana, Lúcia Paiva, que abriu a cerimônia com as seguintes palavras: “É uma honra estar em Salgueiro ao lado da mulher que recebeu o troféu do selo UNICEF da mão do presidente Lula. Temos a certeza de que com este trabalho estamos garantindo o futuro do Brasil”. “O Selo é uma metodologia, e não um projeto solto no ar. Ele torna visível o esforço das pessoas em torno de uma ideia. Salgueiro tem um orçamento pequeno e para superar a desigualdade nos valemos de criatividade”, disse a prefeita. Enquanto isso, o troféu dourado passava de mão em mão, por todas as pessoas que trabalharam para conquistá-lo. Uma delas, Dona Marinalva, não se conteve e chorou com o Selo nas mãos. Ela trabalha com a juventude rural e é diretora do hospital que coordena os agentes de saúde. Assistindo a tudo estavam representantes de todos os projetos sociais da cidade, como o PETI, BB Comunidade, Projovem, Proac, Ciranda da Criança, Centro da Juventude e Conexão Criança. Este último é um projeto de comunicação fundado há quatro anos, responsável por informar tudo o que está ligado ao Selo.

“Esta semana, em Conceição das Crioulas, não pude conter as lágrimas porque uma criança de cinco anos lia em alto e bom tom uma cartinha dirigida a mim, agradecendo as melhorias realizadas em sua escola. Guardei aquele papelzinho como um dos mais caros prêmios ou troféus que eu poderia ter colhido”

Cleuza Pereira Prefeita de Salgueiro

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Quando Douglas Michael Leite da Silva sai de casa todos os dias, sempre apressado para não perder a primeira aula na Escola José Marcelino Xavier, invariavelmente sabe como será o restante do seu dia. Depois do período na instituição, segue para o PETI, onde terá aulas de música (ele faz parte de um coral) e outras atividades, durante todo o dia. Depois volta pra casa, e vai brincar com o irmão antes de dormir. Douglas Michael só sente falta de uma coisa: “não tem menina bonita”. Quando Douglas levanta da cama, outro morador de Pesqueira, José Valdir de Lima, 44 anos, já está acordado há algumas horas – para ajudar sua mulher a preparar o desjejum dos cinco filhos, limpar e preparar sua pipoqueira, armazenar milho para um dia inteiro de peregrinação, certificar-se do gás, da manteiga de garrafa e do sal. Só depois de levar os filhos à escola é que o pipoqueiro ganha a rua. Do outro lado da cidade, na aldeia da tribo Xukuru, o pequeno repentista Antônio Carlos Martins dos Santos, 11 anos, também começa o dia. Segue para a Escola Municipal Potiguar Matos. Voltará para casa perto das 12 horas, almoçará, cochilará um pouquinho e passará a tarde entre as tarefas escolares, o preparo de alguns repentes para a próxima apresentação e a ajuda nas tarefas de casa. Na manhã em que a Caravana do Selo UNICEF Município Aprovado passou em Pesqueira, estavam Douglas, José Valdir e Antônio na Praça Jurandir de Brito. Douglas, ansioso por sua primeira apresentação no coral. José Valdir, lamentando não ter trazido a filha para ver aquela festa toda de bandas marciais, danças e desfiles, enquanto vendia mais um saquinho de pipoca.

•••Pesqueira | PESegunda-Feira | 15 de Dezembro de 2008

Antônio, esperando paciente sua hora de fazer mais um repente – de família de músicos, já conhece mais de perto o palco. A educação é a linha que costura as diferentes histórias dos três pesqueirenses, e ao mesmo tempo é o fio condutor da obtenção do Selo UNICEF Município Aprovado pela cidade – aliás, pela segunda vez: “Embora a educação tenha recebido uma atenção especial, não podemos dizer que o Selo é fruto do trabalho de apenas uma Secretaria, mas de um esforço articulado, intersetorial”, avisa a articuladora local, Cleide Oliveira. Prefeita eleita, Cleide diz que a luta para a obtenção do terceiro Selo será ainda mais difícil: “Continuaremos o trabalho em educação, mas precisamos reverter os pontos negativos atuais”. Entre eles, a mortalidade infantil, a qual estão associados os números da vacinação infantil e o percentual de mulheres com acompanhamento pré-natal, todos fatores que precisam ser melhorados nos próximos anos. Para o prefeito João Eudes Machado Tenório, “a próxima administração municipal tem ainda mais condições de avançar, pois os indicadores de educação são bem melhores do que os verificados no início da gestão”. Além disso, segundo ele, a prefeitura tem hoje de forma mais clara o diagnóstico das áreas que requerem um esforço concentrado e articulado entre várias secretarias: “A questão é aplicar o dinheiro público no lugar certo”, afirma. O repente declamado pelo pequeno Antônio Carlos falava da serra em que mora sua família há várias gerações, da cidade de Pesqueira e de seu povo, os Xukurus. Antes dele, seguiram-se apresentações da banda marcial, grupos de dança e de teatro. E, chegada a hora de subir ao palco com seus amigos do coral, um Douglas relaxado e brincalhão fazia algazarra com os colegas. Cantaram canções natalinas e dispersaram logo em seguida, na algaravia de férias de final de ano. Entre um saquinho de pipoca e outro, José Valdir comentava sobre a importância dos programas assistenciais do governo - “anos atrás a cidade era coalhada de famílias pedindo esmolas. Hoje, boa parte desse pessoal vive mais decentemente e tem os filhos na escola”. Talvez por causa do calor cortante, José não vendeu muitas pipocas - “as pessoas preferem um picolezinho nesse sol”-, e antes da festa na praça acabar já desmontava sua pipoqueira e seguia para casa, almoçar com a criançada e sua mulher.

“Embora a educação tenha recebido uma atenção especial, não podemos dizer que o Selo é fruto do trabalho de apenas uma Secretaria, mas de um esforço articulado, intersetorial”

Cleide Oliveira, articuladora

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•••Pedra | PETerça-Feira | 16 de Dezembro de 2008

Quando a Caravana do Selo UNICEF chegou ao município de Pedra, localizado a 232 quilômetros do Recife, em uma manhã quente e muito iluminada, a manjedoura armada na Matriz estava desfalcada de sua personagem mais importante. Por algum motivo, o Menino Jesus não estava como de costume, com as pernas pedalando e aquele gesto intrigante nos braços armados, deitado em berço esplêndido. Como não havia nenhum corre-corre ou alarde, e o guarda que fazia às vezes diante da capela parecia calmo, é possível concluir que o paradeiro do pequeno Jesus de gesso fosse conhecido por todos. O fato é que as ruas da pequena cidade do Vale do Ipanema estavam repletas de crianças vindas de várias localidades do município, portanto seria bem possível encontrar em meio àquela meninada um certo filho de Deus fugido da manjedoura. Como que para comprovar o avanço em diversos indicadores sociais, estavam à espera de seu momento muitas crianças e adolescentes de grupos de percussão, dançarinos, educadores e atores, todos já comemorando a obtenção do Selo UNICEF Município Aprovado: “Com uma taxa de mortalidade que caiu pela metade em dois anos e com um aumento expressivo da taxa de escolarização de crianças e adolescentes, o município da Pedra praticou uma política consciente que se reflete nos números que foram analisados por um sistema de monitoramento de políticas públicas”, afirmou Jane Santos, do UNICEF. É admirável, por exemplo que o percentual de alunos do ensino fundamental participando de programas socioeducativos tenha passado de 15,2%, dois anos atrás, para os atuais 98,8%: “A integração da criançada nesses programas e o uso da arte como

metodologia de socialização tem uma importância estratégica aqui”, afirma a educadora Michele Sabrina Alcântara de Lima, coordenadora do grupo de dança A Cor da Cultura: “As condições gerais de violência, a falta de emprego para os pais e as consequentes dificuldades de sobrevivência dessas famílias, a falta de condições básicas de saúde e de perspectivas de futuro geram comportamentos violentos nas crianças, algo que precisa ser trabalhado da forma mais lúdica possível. A dança tranquiliza as crianças mais rebeldes”, afirma ela. A Cor da Cultura atende aproximadamente 60 alunos da comunidade Parque da Vaquejada - uma invasão no Bairro do Prateado - que estudam na Escola Firmo Cavalcanti. Para o articulador do Selo, o Secretário de Governo Genecy Leal, “a discussão dos direitos da Criança e do Adolescente nunca pode acabar, pois as demandas sempre se renovam e aí deve estar presente o Poder Público para atender tais demandas”, afirmou. Do lado de fora da Câmara Municipal, a garotada já brincava com os seus brinquedos costumeiros – mais coloridos talvez naquele dia graças aos figurinos e ao sol muito intenso. Capoeiristas traçavam tesouras enquanto os pequenos dançarinos mostravam seus xotes e xaxados. O cuidado com os figurinos, a ordeira sequência das apresentações e, sobretudo, o orgulho em mostrar sua arte mirim estava estampada no rosto de cada um dos pequenos moradores da cidade. Do alto da laje que lhe dá nome, um enorme céu azul abobalhava os integrantes da Caravana. “Estamos tentando e penso que estamos conseguindo colocar em prática uma lógica de construção da cidadania. Disso faz parte a criação ou a melhora de serviços e equipamentos sociais que permitam à população ser sujeito ativo da própria história”, refletia o vereador Elias Soares: “O Selo UNICEF Município Aprovado torna claro para os administradores as possibilidades que se abrem para o trabalho integrado entre instâncias do governo e atores com formação diferenciadas dentro do próprio poder público”, concluiu. Já no início da tarde, quando as comemorações pela obtenção do Selo UNICEF Município Aprovado chegaram ao fim, a praça voltava a ficar vazia outra vez. O mesmo guarda que vigiava a Matriz balançava a mesma cadeira do início da manhã, ainda alheio à fugida que o Cristo menino dera para brincar na praça.

“A integração da criançada nesses programas e o uso da arte como metodologia de socialização tem uma importância estratégica aqui”

Michele Sabrina Alcântara de Lima, educadora e coordenadora do grupo de dança A Cor da Cultura

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ALAGOAS

Água BrancaArapiracaAtalaiaBatalhaBelémCacimbinhasCampo AlegreCarneirosChã PretaCoité do NóiaCoruripeDois RiachosEstrela de AlagoasFeliz DesertoFlexeirasGirau do PoncianoIbateguaraIgaciJoaquim GomesJundiáJunqueiroLagoa da CanoaMajor IzidoroMar VermelhoMaragogiMaravilhaMaribondoMata GrandeMinador do NegrãoMonteirópolisNovo LinoOlho D’Água das FloresOlivençaOuro BrancoPalestinaPalmeira dos Índios

Pão de AçucarPaulo JacintoPiranhasPoço das TrincheirasPorto Real do ColégioQuebranguloRio LargoSantana do IpanemaSão José da TaperaSão Miguel dos CamposSenador Rui PalmeiraTanque D’ArcaTaquaranaTeotônio VilelaTraipuUnião dos PalmaresViçosa

PARAÍBA

Água BrancaAlagoa GrandeAlagoa NovaAlcantilAlgodão de JandaíraAlhandraAmparoAparecidaArarunaAreialAroeirasAssunção BananeirasBarra de Santa RosaBayeuxBelémBernardino Batista

Boa VenturaBoa VistaBonito de Santa FéBoqueirãoBorboremaBrejo do CruzCaaporãCabaceirasCabedeloCacimba de DentroCaiçaraCajazeirasCajazeirinhasCampina GrandeCampo de SantanaCapimCaraúbasCarrapateiraCaturitéConceiçãoCondadoCongoCoremasCruz do Espírito SantosCubatiCurral de CimaCurral VelhoDamiãoDesterroEmasEsperançaFagundesFrei MartinhoGuarabiraIgaracyImaculadaIngáItabaiana

ItaporangaItatubaJacaraúJuarez TávoraJunco do SeridóJuripirangaJuruLagoa Lagoa de DentroLastroLivramentoLogradouroLucenaMãe D’ÁguaMariMataracaMatinhasMato GrossoMaturéiaMogeiroMonte HorebeMonteiroMulunguNatubaNazarezinhoNova OlindaNova PalmeiraOlivedosOuro VelhoParariPassagemPatosPedra BrancaPedra LavradaPedras de FogoPedro RégisPicuíPocinhos

Poço DantasPombalPrataPrincesa IsabelQueimadasRemígioRiachãoRiachão do PoçoRiacho de Santo AntônioRiacho dos CavalosRio TintoSalgadinhoSalgado de São FelixSanta CruzSanta LuziaSanta RitaSanta TerezinhaSantarémSão BentinhoSão BentoSão FranciscoSão João do TigreSão José da Lagoa TapadaSão José do Brejo do CruzSão José do SabugiSão Miguel de TaipuSerra da RaízSertãozinhoSousaSuméTaperoáTeixeiraTriunfoUiraúnaUmbuzeiroVarzéaVieirópolisZabelê

PERNAMBUCO

Afogados da IngazeiraAfrânioAgrestinaAlagoinhaAliançaAltinhoAngelimAraripinaArcoverdeBelém do São FranciscoBelo JardimBetâniaBezerrosBodocóBom ConselhoBom JardimBonitoBrejinhoBrejo da Madre de DeusBuenos AiresBuíqueCabrobóCachoeirinhaCalçadoCalumbiCamutangaCanhotinhoCarnaibaCarnaubeira da PenhaCarpinaCaruaruCasinhasCedroChã de AlegriaChã GrandeCondado

CorrentesCumaruCupiraDormentesExuFeira NovaFerreirosFlôresGaranhunsGlória do GoitáGranitoGravatáIbimirimIguaraciInajáIngazeiraIpubiItacurubaItambéItapetimJataúbaJatobáJoão AlfredoJuremaLagoa de ItaengaLagoa do CarroLagoa dos GatosLagoa GrandeLajedoLimoeiroManariMoreilândiaOrobóOrocóOuricuriPalmeirinaPanelasParnamirim

PassiraPedraPesqueiraPetrolândiaPetrolinaPoçãoQuipapáRiacho das AlmasSairéSalgadinhoSalgueiroSanharóSanta CruzSanta Cruz da Baixa VerdeSanta Cruz do CapibaribeSanta Maria da Boa VistaSão Bento do UnaSão CaitanoSão JoãoSão José do EgitoSão Vicente FérrerSerra TalhadaSertânia SolidãoSurubimTabiraTacaratuTimbaúbaTrindadeTriunfoTuparetamaVenturosaVertente do LérioVertentesVicência

Municípios Participantes da Edição 2008 do selo

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Parceiros do Pacto: Um Mundo para a Criança e o Adolescente do Semiárido

AlagoasComitê estadual Pacto AlagoasAv. Comendador Calaça,1399 – Poço – MaceióFone: (82) 33152885 – CEP: 57025640E-mail: [email protected]

ParaíbaComitê estadual do Pacto ParaíbaSecretaria de Educaçao da Paraíba Centro administrativo estadualBloco1 – Sexto andar – JaguaribeCEP 58019-900 – João Pessoa-PBFone (83) 3218-4285/4280

PernambucoNúcleo Executivo do Comitê Estadual do Pacto Um Mundo para a Criança e o Adolescente do SemiáridoAv. Cruz Cabugá nº 665 – Santo Amaro CEP: 50040-000 – Fone: (81) 3183.3000 E-mail: [email protected]

UNICEF RecifeAlagoas | Paraíba | PernambucoRua Henrique Dias, S/N – Ed. do IRH Térreo – DerbyRecife/PE – 52010-100Telefone: (81) 3059 5700 – Fax: (81) 3059 5719E-mail: [email protected]

UNICEF – BrasíliaSEPN 510, Bloco A – 2º andar Brasília, DF – 70750-521CEP 70312-970 Telefone: (61) 3035 1900 – Fax: (61) 3349 0606E-mail: [email protected]

Para mais informações, acesse os sites:www.unicef.org.brwww.selounicef.org.br

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