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87 Uma alquimia especial misturou qualidades e forjou uma personalidade cativante, traço inconfundíel desse advogado notável e querido, conhecido como pai do CESA e de trabalhos brilhantes. PERFIL | Orlando Di Giacomo Filho Por Flávia Benvenga Hamilton Penna Revista Fórum CESA - ano • n. 5 • p. 87-90 • out./dez. 007 87

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Uma alquimia especial misturou qualidades e forjou uma personalidade cativante, traço inconfundíel desse advogado notável e querido,

conhecido como pai do CESA e de trabalhos brilhantes.

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Orlando Di Giacomo Filho

Por Flávia Benvenga

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Ele tem o dom de unir adversários em um mesmo time, de quebrar o gelo e fazer amigos. Quem já con-viveu e convive com o advogado Orlando Di Giacomo Filho, sócio de Demarest & Almeida, em São Paulo, não cansa de exaltar seu jei-to afável e sua forte qualidade de conciliador. Tanto que é considera-do o “inventor” e “pai” do CESA – a entidade que colocou na mesma mesa nomes consagrados do Direi-to brasileiro que na vida profissio-nal, muitas vezes, poderiam lutar bravamente em lados opostos.

“O Orlando agrega as pessoas, e faz isso com naturalidade e com-petência. Ele é muito querido, quase uma unanimidade, figura muito humana, além de ser um profissional competente”, atesta Naum Rotenberg, advogado, sócio de Demarest & Almeida, em São Paulo, e a pessoa que contratou o jovem Orlando, �� anos atrás, para integrar a importante sociedade de advogados. “Não é à toa que dedi-cou sua carreira às causas coletivas, direcionando o trabalho para as sociedades de advogados”, salienta Rotenberg.

De acordo com sócio, no dia-a-dia do escritório, Orlando não escon-de ou sufoca o seu forte “lado ami-go”. Pelo contrário. “Interessado, presente e atencioso, ele faz tudo o que pode pelo outro e muitas ve-zes surpreende, faz mais do que se espera”. Seu interesse em auxiliar os colegas a crescerem profissio-nalmente é notório, especialmen-

te com relação aos estagiários. Ele executa um trabalho interessante com esse grupo em Demarest & Almeida, e obtém ótimos resulta-dos: organiza ciclos de palestras, dá conferências, e os estimula a participar do jornal do escritório, que é coordenado por ele.

Qual é o segredo desse profissional que conseguiu unir grandes con-correntes no “clubinho do Orlan-do” – como José M. Pinheiro Neto chamava carinhosamente o CESA em seus primórdios – construir uma carreira brilhante e longeva em Demarest & Almeida? A resposta, certamente, está na extensa lista de adjetivos garimpados por seus ami-gos e colegas para defini-lo – que-rido, generoso, competente. Esta alquimia peculiar, o transforma em um advogado único, com a marca registrada da conciliação. Para ele, agregar competidores é algo quase normal, natural – e sem segredos: “Você quebra o gelo entre os con-correntes e cria novas alianças pro-dutivas, abre novas possibilidades e soluções”, observa o próprio Or-lando. Desses primeiros encontros que formariam o CESA começa-ram a surgir acordos importantes. “Todos sentavam juntos, grandes e pequenos, opositores e aliados; passamos a falar a mesma língua, a trocar experiências e a evoluir juntos. Foi uma parceria de todas as sociedades. E é assim até hoje. Começamos com cerca de �7 es-critórios de advocacia. Hoje, em nossa festa tradicional de final de ano, vão mais de 800 pessoas”.

Os primeiros tempos, porém, não foram fáceis. Orlando teve de lan-çar mão de todas as suas habilida-des para fazer o “filho” CESA cres-cer e amadurecer. “Ele percebeu que havia a necessidade de se dis-cutir assuntos em comum e manter uma relação entre os advogados das sociedades”, lembra Clemencia Beatriz Wolthers, diretora executi-va do CESA. “Por isso, teve a gran-de idéia de criar a entidade.” Até então, os escritórios nunca haviam se juntado. Os sócios das grandes sociedades eram corteses uns com os outros. Encontravam-se na hora do almoço no Jockey Clube, mas eram conversas rápidas. Não havia o hábito de sentar e discutir as prin-cipais questões profissionais que eram compartilhadas por todos.

Até que, em 7 de janeiro de 198�, Orlando convidou, através de uma carta, vários advogados para uma reunião. “E deu certo. Todos com-pareceram; nem cabíamos na sala”, recorda Orlando. “Terminado esse primeiro encontro, o Mário Sérgio Duarte Garcia propôs: ‘vamos con-versar mais’. Todos acharam que precisávamos marcar outra reu-nião. Definimos um novo encontro para o mês seguinte, numa sala da OAB”, explica. A partir desse en-contro, durante um ano e meio, Orlando, informalmente, traba-lhou para fundar o CESA, em um pequeno espaço concedido pela seccional paulista da Ordem.

No início, Orlando Di Giacomo Fi-lho, que seria eleito primeiro pre-sidente do CESA – a contra-gosto, pois não queria assumir esse posto – fazia tudo praticamente sozinho: convocava, agendava reuniões, escrevia atas, selecionava os te-mas para discussões, coordenava e organizava. “Trabalhava sábado, domingo e feriados. E isso tudo agravado pela falta de uma sede e estrutura de apoio para desenvol-ver uma entidade. Exigia muito, mas foi gratificante”, reconhece. “Hoje, o CESA já está adulto, cami-nha com as próprias pernas, e um pessoal muito bom está à sua fren-te. Espero que continue crescendo e desempenhando um excelente trabalho. Estou satisfeito!”

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A formação

Antes disso, para se tornar o ad-vogado reconhecido, Orlando Di Giacomo Filho estudou Direito na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), onde foi alu-no de Franco Montoro – um pro-fessor que o marcou bastante “por sua trajetória profissional”. Em sua família não havia advogados. Seu pai era o que corresponde hoje ao economista. Orlando perce-beu que o Direito lhe interessava quando cursava o Clássico. Não foi complicado decidir pela carreira que trilharia, porém foi necessário batalhar para conquistá-la. Duran-te a faculdade precisou trabalhar, mas logo no primeiro emprego se manteve na área jurídica. “Fiz um concurso no Fórum, passei e me tornei escrevente. Adquiri muita experiência em processos”, conta.

Ainda na vida estudantil, Orlan-do se interessou pela advocacia empresarial. Ele cursava inglês na União Cultural Brasil – Estados Uni-dos e, como chegava sempre antes do início das aulas, se dirigia à bi-blioteca, onde lia artigos empresa-riais e tudo o mais que encontrava a respeito das grandes organizações. “Gostava muito de inglês e me in-clinava para o direito empresarial. Almejava trabalhar num ramo no qual pudesse conciliar esses dois interesses: a língua inglesa e minha curiosidade pelas empresas. Aca-bou dando certo porque vim para o Demarest e pude desenvolver es-ses dois lados”. Sua ida para o escritório aconteceu por intermédio de um dos sócios,

Naum Rotenberg, que o conhecia do Fórum. “O Orlando foi contra-tado por mim, e não me desculpo por isso até hoje”, brinca. “O cul-pado sou eu! Ele tinha o perfil que procurávamos, era adequado para a vaga.” Quando entrou para De-marest & Almeida só havia cinco advogados trabalhando, Orlando foi o sexto. “Era o início, tinha uma área relacionada ao direito empre-sarial, talvez a mais forte do escritó-rio, outra para o contencioso, onde trabalhei, e o tributário”, conta. “Atuei por muitos anos no con-tencioso. Fui o primeiro advogado dessa área em Demarest. Com o tempo, o setor cresceu e minha equipe foi aumentando”, recorda Orlando.

Dessa época, o advogado lembra de alguns casos marcantes como o de um senhor que faleceu e, além da família, ele mantinha um relacionamento paralelo com uma amante. Depois da morte dele, a amante exigiu metade da herança. “Foi um assunto delicado”, lembra. “Hoje, essa questão já está mais clara, mas naquele período, era muito complicado. O caso durou cerca de cinco anos para se definir. Eu representava a família e vence-mos. Não houve divisão do patri-mônio”. Outro caso muito com-plicado, em 1977, foi o conflito entre duas grandes instituições: o BID (Banco Interamericano para o Desenvolvimento) e uma outra en-tidade americana. “A defesa durou �8 horas ininterruptas de negocia-ção. Dormimos por lá – no escri-tório Pinheiro Neto, que trabalhou junto no caso. Não dava tempo de voltar para casa”, recorda.

Expert em gerenciamento

Chegou um determinado momen-to em que alguém precisava se de-dicar ao gerenciamento da banca de advogados. E o escolhido foi o Orlando. “Assumi essa tarefa e de-pois o escritório evoluiu ainda mais e contratou profissionais específi-cos para os setores financeiro, ad-ministrativo e Recursos Humanos”, explica. “É uma atividade bem eclética, que transpassa por todas as áreas: reuniões com clientes, administração de honorários, as-suntos ligados ao financeiro, busca de soluções para os problemas da empresa e da equipe também.”

Até hoje, Orlando concilia o traba-lho de advogado com o gerencia-mento do escritório com 900 fun-cionários – contando com as filiais. Sua rotina é atribulada, pois ele se envolve com diversos outros as-suntos. “Além do CESA e da OAB, faço o jornal do escritório, oriento os estagiários e me dedico ao que vai aparecendo”, revela. Costuma

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dizer, brincando, que trabalha num regime de “Pronto-Socorro”. “Não tenho agenda, vou resolvendo na hora, de acordo com o que che-ga. Isso é típico do gerenciamento mesmo”.

As instituições citadas também contam com participação e o em-penho de Orlando. No CESA, além

alegre, contente, de alto-astral”, diz Alberto.

Orlando costuma dizer, brincando, que é “desapropriado”, por não ter filhos nem esposa. “Além disso, sou filho único e talvez essa seja a razão pela qual tenho tantos ami-gos e uma vida social tão intensa. Como não tenho irmãos, os procu-

um banho e se arruma para o traba-lho. “Hoje, sou meio marajá”, brin-ca. O horário de chegada ao escri-tório é em torno de 9h�0. Quando começa as atividades, no entanto, não pára mais. “É uma correria, não consigo sair antes das 19h”. À noite, dedica-se à vida social. “Sou macaco de auditório, adoro cine-ma. Aprecio também concertos e

ro fora da família. Só para ter uma idéia tenho 18 afilhados! E sou um ótimo padrinho. Preocupo-me com eles e os acompanho de per-to. Falamos por telefone, saímos para jantar, mantemos em contato sempre. Isso é muito gratificante.”

Orlando gosta também de acordar cedo. Todos os dias às 5h50 ruma ao Clube Paulistano para fazer sua caminhada. Volta para casa, toma

de ex-presidente, o advogado é di-retor executivo e coordena o comi-tê Ensino Jurídico e Relações com Faculdades, um dos mais atuantes do Centro de Es-tudos. Na Ordem dos Advogados do Brasil, é membro das Comissões de Sociedades de Advogados tan-to do Conselho Federal com da seccional em São Paulo. Isso não significa, porém, que Orlando dei-xe de lado a sua vida pessoal. Essa seara ele também administra com perfeição.

“O Orlando sabe viver a vida. É uma pessoal formidável e muito querida”, afirma a amiga e advogada Anna Cecília Pinheiro Malta Campos. Filha de José M.

Pinheiro Neto, Anna Cecília afirma que os dois advogados se enten-diam muito bem e se conheceram atuando em causas comuns aos es-critórios. Anna Cecília e o marido, o advogado Alberto Malta Campos, mantêm uma intensa amizade com Orlando, que é padrinho de casa-mento de ambos e de batismo do filho deles. “Saímos bastante juntos, nos encontramos pelo menos uma vez por semana. Ele está sempre

vou a quase todos da Sala São Paulo. E, sempre que dá, viajo”.

As viagens, aliás, são um capítulo especial na vida de Orlando. Quando tira férias sempre escolhe roteiros insólitos. No ano passado, por exemplo, foi para Jordânia, Síria e Líbano. Este ano viajou para Coréia, Malásia e Cingapura. Mais um detalhe: sempre sozinho. “É um momento no qual fico comigo mesmo. Às vezes, quero estar calado. Tenho necessidade de ficar só em razão de ter tantas pessoas em meu redor no dia-a-dia profissional”, explica.

Sobre o futuro, Or-lando deseja conti-nuar trabalhando,

ver o escritório Demarest & Almei-da e o CESA evoluírem, sempre, e manter sua agenda bem adminis-trada para dar atenção às outras seis entidades das quais é membro: IBA (Internacional Bar Association), AASP (Associação dos Advogados de São Paulo), IASP (Instituto dos Advogados de São Paulo), OAB sec-cionais São Paulo e Rio de Janeiro e do Instituto Pro-Bono, onde é um dos sócios fundadores.

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