ORGANIZAÇÃO SOCIAL RURAL.docx

4
 ORGANIZAÇÃO SOCIAL RURAL Normalmente, o que motiva o ser humano a se organizar é a necessidade de enfrentar desafios. Os processos de organização social no campo estão em grande parte relacionados ao enfrentamento de desafios. Tais desafios podem ser entendidos sob diversas formas: luta pela terra, reivindic açã o de crédito e ass ist nc ia téc nica par a a produç ão, melhoria da infra!es trutur a "estradas, elet rif ic açã o#, gar antia dos serviços sociais b$sicos "educação e sa%de#, dentre outros. & organização social rural pode ser traduzida sob formas espec'ficas, conforme o per'odo da hist(ria em que ocorrem e pelo ob)etivo que motiva esta organização. *essa forma, fazendo um r$pi do passeio na hist (ri a do +rasil, temos como eemplos, importantes movimentos de organização como as -olnias no sul do +rasil, constitu'das em sua maioria por imigrantes europeus, as /igas -amponesas no nordeste, em espec ial em 0ernambuco e bem anterior os 1uilombos e o movimento de -anudos, este especificamente no 2ertão +aiano. Todos estes processos de organização social rural serviram como referncia para que formas de organizaç3es mais atuais se constitu'ssem, tais como &ssociaç3es 4urais, 2indicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras 4urais, -ooperativas 4urais e os movimentos de luta pela terra, dentre eles o 52T . *entre essas formas de organização, destacamos as -ooperativas 4urais. No +rasil, os relatos sobre o cooperativismo o conta de que as primeiras cooperativas agropecu$rias sugiram no ano de 6789. Na +ahia como em qualquer outro lugar, eistem eperincias de sucesso e insucesso no -ooperativismo. 5uitas vezes as eperincias fracassadas dificultam o ressurgimento e avanço de novas eperincias em cooperativismo. Na região cacaueira temos algumas situaç3es desse tipo e apenas para citar, o eempl o da -O04-&-&; e outr os eempl os menores como o da -&5;4 no munic'pio de ;na, dentre outros. vitaremos aqui, a pretensão de analisar os dois eemplos mencionados, entretanto o que se pode perceber é que em regi3es onde o sentimento de organização social est$ condicionado apenas a solucionar aquele problema imediato, por eempl o, apenas a conqui st a da terra , o crédito ou demandas mais imediatas, sem um sentimento coletivo de meta de longo prazo, tem levado ao insucesso de mui tas eperi ncias de orga niz açã o social e não somente de formas de organização como -ooperativas, mas também &ssociaç3es e 2indicatos. 0ara ilustrar o que acabamos de mencionar, citamos o caso de diversas &ssociaç3es 4urais formadas ap enas pa ra a ob te ão de crédi to ou ou tro benef'cio governamental, como uma casa!de!farinha, um trator e coisas do gnero. 4etomando o caso do cooperativismo, na atualidade enfrentamos além da falta de um sentimento mais forte de construção coletiva de longo prazo, uma realidade econmica violentamente opressora, que pouco valoriza o trabalho do campo. & luta pela sobrevivncia neste conteto imp3e cada vez mais atitudes individualistas, reforçadas pelo imediatismo imposto pelas necessidades da população.

Transcript of ORGANIZAÇÃO SOCIAL RURAL.docx

ORGANIZAO SOCIAL RURALNormalmente, o que motiva o ser humano a se organizar a necessidade de enfrentar desafios.Os processos de organizao social no campo esto em grande parte relacionados ao enfrentamento de desafios. Tais desafios podem ser entendidos sob diversas formas: luta pela terra, reivindicao de crdito e assistncia tcnica para a produo, melhoria da infra-estrutura (estradas, eletrificao), garantia dos servios sociais bsicos (educao e sade), dentre outros.A organizao social rural pode ser traduzida sob formas especficas, conforme o perodo da histria em que ocorrem e pelo objetivo que motiva esta organizao. Dessa forma, fazendo um rpido passeio na histria do Brasil, temos como exemplos, importantes movimentos de organizao como as Colnias no sul do Brasil, constitudas em sua maioria por imigrantes europeus, as Ligas Camponesas no nordeste, em especial em Pernambuco e bem anterior os Quilombos e o movimento de Canudos, este especificamente no Serto Baiano.Todos estes processos de organizao social rural serviram como referncia para que formas de organizaes mais atuais se constitussem, tais como Associaes Rurais, Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, Cooperativas Rurais e os movimentos de luta pela terra, dentre eles o MST.Dentre essas formas de organizao, destacamos as Cooperativas Rurais.No Brasil, os relatos sobre o cooperativismo do conta de que as primeiras cooperativas agropecurias sugiram no ano de 1907. Na Bahia como em qualquer outro lugar, existem experincias de sucesso e insucesso no Cooperativismo. Muitas vezes as experincias fracassadas dificultam o ressurgimento e avano de novas experincias em cooperativismo.Na regio cacaueira temos algumas situaes desse tipo e apenas para citar, o exemplo da COPERCACAU e outros exemplos menores como o da CAMUR no municpio de Una, dentre outros. Evitaremos aqui, a pretenso de analisar os dois exemplos mencionados, entretanto o que se pode perceber que em regies onde o sentimento de organizao social est condicionado apenas a solucionar aquele problema imediato, por exemplo, apenas a conquista da terra, o crdito ou demandas mais imediatas, sem um sentimento coletivo de meta de longo prazo, tem levado ao insucesso de muitas experincias de organizao social e no somente de formas de organizao como Cooperativas, mas tambm Associaes e Sindicatos.Para ilustrar o que acabamos de mencionar, citamos o caso de diversas Associaes Rurais formadas apenas para a obteno de crdito ou outro benefcio governamental, como uma casa-de-farinha, um trator e coisas do gnero.Retomando o caso do cooperativismo, na atualidade enfrentamos alm da falta de um sentimento mais forte de construo coletiva de longo prazo, uma realidade econmica violentamente opressora, que pouco valoriza o trabalho do campo. A luta pela sobrevivncia neste contexto impe cada vez mais atitudes individualistas, reforadas pelo imediatismo imposto pelas necessidades da populao.As necessidades imediatas da populao no meio rural so elementos que favorecem o surgimento de uma organizao social. De modo contraditrio essas necessidades imediatas, uma vez atendidas, ou seja, mesmo que o desafio seja superado de forma incompleta, podem levar ao enfraquecimento ou total paralisao de uma organizao social. Outros elementos que ajudam enfraquecer uma organizao social rural so: a) a conquista de algum resultado, sem uma ao coletiva e solidria das pessoas que constituem aquela organizao social; b) a ao poltica eleitoreira de indivduos que esto mais interessados em si mesmos; c) a ao corrupta de supostas lideranas, etc..Tudo o que j foi descrito at o momento se transforma em novos desafios para a organizao social rural. Retomaremos o exemplo do cooperativismo com um breve relato da experincia atual da Cooperativa dos Produtores Rurais de Una, a COOPERUNA.Esta Cooperativa nasceu da necessidade de superao de dois desafios enfrentados poca, por agricultores do municpio de Una. O primeiro desafio era a comercializao direta de seus produtos, livrando-se das amarras dos intermedirios (atravessadores) e o segundo desafio, uma maior disponibilidade de assistncia tcnica em suas propriedades.Entretanto desde o momento de sua criao, a COOPERUNA j nascia frgil, pela pouca clareza de seu corpo de filiados e filiadas, em relao a uma meta de longo prazo para o projeto de cooperativismo que acabavam de iniciar e tambm, pela pouca compreenso acerca de cooperativismo. Ao longo desses quase cinco anos de existncia dessa Cooperativa, percebe-se que a mesma nascia como sendo uma tbua de salvao para os desafios ali ento apresentados, trazendo consigo a presena de outras Instituies que certamente entrariam com todo o apoio necessrio para implementao da Cooperativa. Em outras palavras, essas Instituies garantiriam a base mnima para que a COOPERUNA iniciasse a comercializao de seus produtos, oferecendo o melhor preo e outras vantagens que at ali no existiam, tais como adiantamento de compra da produo. De certa forma, a COOPERUNA, aps a sua fundao, obteve um apoio importante de pelo menos duas Instituies: da Prefeitura Municipal de Una atravs de sua Secretaria de Agricultura, com a sesso de um imvel por mais de trs anos para se instalar e do IESB com a contratao de dois profissionais para o suporte tcnico comercializao e assistncia tcnica, um veculo utilitrio a servio da Cooperativa na maior parte do tempo, equipamentos e mobilirio e recursos financeiros para iniciar o processo de comercializao.Entretanto, a COOPERUNA teve grandes dificuldades no processo de comercializao. Tal dificuldade no se traduziu na ausncia de produtos, mas sim, na falta de capital de giro e adicionalmente, na pouca fidelidade dos seus filiados para com a Cooperativa. Essa dificuldade foi naquele momento e continua sendo at hoje, uma combinao de alguns fatores: a) a inexistncia de um projeto consciente e coletivo de longo prazo, por parte dos agricultores, para o desafio da comercializao e da valorizao de seu trabalho no campo; b) o elevado grau de empobrecimento de muitas famlias no meio rural, o que lhes dificulta seguir a lgica de comercializao via Cooperativa; c) a desinformao dos agricultores referente ao cooperativismo; d) a pouca disponibilidade de lideres para a gesto da Cooperativa; dentre outros.Apesar do enfrentamento de tantos desafios, lies so apreendidas todos os dias. Enquanto uma forma de organizao social, a Cooperativa precisa se comportar de forma profissional para que neste contexto de globalizao, possa estar preparada para enfrentar tanto os atuais desafios que sero gradativamente superados, quanto os novos desafios.Neste sentido a COOPERUNA tem feito um esforo. A Cooperativa realizou avanos importantes desde a sua fundao, embora ainda requeira uma ao continuada para implementao e consolidao de uma gerncia administrativa, financeira e contbil que oriente suas lideranas e ao mesmo tempo possa responder s exigncias da legislao fiscal estabelecida para as sociedades cooperativas. A partir deste momento, no qual a COOPERUNA passa a ser exigida na regularidade de suas contas e nos procedimentos comerciais e fiscais, tem sido decisivo um suporte mais efetivo de uma gerncia administrativa e comercial de forma a reduzir a fragilidade diante dos rigores da legislao. Estes esforos permitiram a comercializao de 30 toneladas de cacau, 45 toneladas de pimenta do reino e 12 toneladas de guaran em 2002, dando a COOPERUNA um status de segundo maior exportador de especiarias de Una, naquele ano.Complementar a esta experincia, a busca de uma unificao comercial com cooperativas similares presentes no Baixo Sul da Bahia, criando uma Cooperativa Central, denominada CCES Cooperativa Central de Empreendedores do Sul da Bahia, ressalta um dos princpios do cooperativismo, ou seja, a cooperao entre cooperativas, fortalecendo cada uma das cooperativas participantes, servindo como processo educativo e ao mesmo tempo, sugerindo a COOPERUNA, num cenrio de mdio e longo prazo, o papel de protagonista de algumas aes no campo do desenvolvimento institucional, mercados e desenvolvimento rural sustentvel, que podero ser irradiadas para alm das fronteiras do municpio de Una. Entretanto, vale ressaltar que o fortalecimento da COOPERUNA no aspecto especfico dos mercados, apesar de alguns esforos que vm sendo desenvolvidos, ainda carece de aportes monetrios pontuais e de uma gerncia comercial que ajude a diretoria na busca e conquista de mercados para seus produtos. Na atualidade e neste contexto, comercializar sem um aporte significativo em capital de giro e sem um suporte gerencial significa manter a COOPERUNA com baixa capacidade competitiva em relao s empresas concorrentes locais.O relato sobre a COOPERUNA, enquanto uma experincia de organizao social rural na regio cacaueira, serve apenas para refletir o quanto grande o desafio de se estabelecer qualquer forma de organizao social, quando os principais beneficirios no tm a conscincia e a clareza de para onde desejam seguir e o que esto dispostos a enfrentar de forma solidria e compartilhada. Pensar a organizao social, qualquer que seja a sua forma, num horizonte de longo prazo e integrada aos objetivos comuns das pessoas que formam a base dessa organizao continua sendo um grande desafio.Texto elaborado para a 26 Semana do Fazendeiro, Uruuca - Bahia, por Lus de Lima Barbosa, Coordenador do Ncleo de Polticas Pblicas do IESB.Entendido como o meio rural.