Ordem Lógica e Histórica Em Hegel e Marx - José Crisóstomo de Souza

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Sobre o capital de Marx

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ISSN- 1980-8372REVISTA ELETRNICA ESTUDOS HEGELIANOSRevista Semestral do Sociedade Hegel Brasileira - SHBAno 2 - N. 03 Dezembro de 2005

ORDEM LGICA E ORDEM HISTRICA, EM HEGEL E MARXJos Crisstomo de Souza (UFBa - Brasil)

Este trabalho toma como fio duas interpretaes opostas do nosso assunto; a de Althusser, no Ler O Capital, e a de Engels, em A Contribuio Critica da Economia Poltica, de Karl Marx. O texto principal de Marx com o qual se cotejam essas posies a Introduo de 57 (parte 3), que procuramos analisar e interpretar em vrios de seus pontos. Tivemos de recorrer tambm Cincia da Lgica e Filosofia do Direito, de Hegel, j que a questo da convergncia/divergncia entre Marx e Hegel est implicada no nosso tema, e posta explicitamente tanto por Althusser como por Engels como, alis, tambm pela prpria Introduo, de Marx. Procuramos, alm disso, ver nos prprios textos de O Capital e da Contribuio, o que poderia ser indcio esclarecedor sobre o nosso assunto. Definimos este trabalho como Nota porque nele no apresentamos propriamente uma concluso nossa, embora manifesta objeo ou assentimento a alguns pontos das interpretaes de que tratamos. No caso de Althusser, de fato fazemos mais ressalvas; no caso de Engels, procuramos esclarecer melhor qual a sua posio, que pode aparecer muito simplificada em algumas de suas prprias formulaes. Nossa interpretao de Marx tambm, por assim dizer, tateante; no nos expressamos de forma taxativa, embora avancemos algumas idias sobre pontos da Introduo ou mesmo de O Capital. O trabalho merece tambm, o nome de Nota pela sua forma, algo inacabada. Quanto ao modo de citar, mencionamos a obra ao p-de-pgina quando ela aparece a primeira vez, e da para frente indicamos apenas o nmero da pgina, entre parnteses, do que estamos citando o nosso prprio texto deixando claro de que obra se trata. Ainda uma coisa: talvez por hbito jornalstico, traduzimos todas as citaes de lngua estrangeira, o que, considerado o pblico a que se destina o trabalho, poderia ter sido melhor no termos feito...*** O problema de que tratamos aqui mostra seu carter polmico, no apenas por encontrar diferentes respostas nos intrpretes de Marx, como tambm por ser questionada em seus prprios termos, como um falso problema. Embora reconhecendo que se trata de uma das questes mais debatidas de O Capital a de saber se nessa obra h identidade entre a ordem lgica ou de deduo das categorias e a ordem histrica real , Althusser afirma que os intrpretes, em sua maioria, no conseguem estabelec-la em seus termos adequados, no campo da problemtica exigida por ela[1]. Trata-se de um procedimento familiar de Althusser, que tenta aproveitar a conhecida observao de A Ideologia Alem: no s na resposta havia mistificao, mas na prpria questo. Ele acredita que O Capital nos d vrias respostas sobre a identidade e no-identidade da ordem lgica com a ordem histrica com o que podemos concordar; bem assim a Introduo de 57 mas so respostas sem questo explcita, que deve ainda ser formulada. Essa formulao, para Althusser, tem sido inadequadamente situada no campo de uma problemtica empirista ou no campo de uma problemtica hegeliana. No primeiro caso, procura-se provar que a ordem lgica, sendo por essncia idntica ordem real, existente na realidade da ordem real como sua prpria essncia s pode acompanhar a ordem real; no segundo caso, que a ordem lgica, deve acompanhar a ordem lgica (p. 48). Em ambos os casos, os intrpretes se veriam obrigados a violentar certas respostas de Marx, que manifestamente contradizem suas hipteses. Mesmo sem descartar essa ltima concluso de Althusser, nos parece que ele simplifica exageradamente, na sua classificao, as respostas possveis questo, como formulada tradicionalmente; em parte desconhecendo as posies, por exemplo, de Engels, ou mesmo a hegeliana. Sem discutirmos aqui a propriedade de chamar de empirista uma posio que l uma ordem lgica no real. Althusser sustenta que o problema da relao entre a ordem da gnese histrica real e a ordem de desenvolvimento dos conceitos no discurso cientifico, um problema imaginrio; propondo, em vez disso, colocar a questo no campo da problemtica terica marxista de distino radical entre o objeto real e o objeto do conhecimento, a qual acarreta a distino radical entre a ordem de aparecimento das categorias no conhecimento e, por outro lado, na realidade histrica (p.49). Para ela, o que Marx faz na Introduo de 57 tomar com toda fora a distino absoluta entre o objeto do conhecimento e o objeto real, contra a confuso hegeliana da identificao dos dois e do processo real com o processo de conhecimento. Marx faria isso ao dizer que: Hegel caiu na iluso de conceber o real como resultado do pensamento que se sintetiza em si, se aprofunda em si, e se move por si mesmo; enquanto que o mtodo que consiste em elevar-se do abstrato ao concreto no seno uma maneira de proceder do pensamento para se apropriar do concreto, para reproduzi-lo como concreto pensado [geistig Konkretes]. Mas esse no de modo nenhum o processo da gnese do prprio concreto. A mais simples categoria econmica pressupe a populao.[2] Althusser entende que aqui Marx mostra que aquela distino diz respeito no apenas aos dois objetos, mas tambm aos seus prprios processos de produo um se passa inteiramente no real e o outro inteiramente um produto do crebro e que esses processos se efetuam segundo ordens diferentes, em que as categorias pensadas que reproduzem as categorias reais no ocupam o mesmo lugar que ocupam na ordem da gnese histrica real (pp. 41-42). Essa concluso final a que aqui nos interessa, mas tambm a que objeto de disputa. Por outro lado, trivial dizer que para Marx os dois objetos se distinguem e que os seus processos de produo no so um mesmo. Quanto ao resto, o ponto que Marx quer frisar nesse trecho da Introduo de 57 ainda que, embora o concreto aparea no pensamento como resultado, no como ponto de partida, ele pr-existe ao pensamento, como substrato... mesmo da mais simples categoria econmica. Ele no produto do pensamento. Mas esse prprio esclarecimento de que a reproduo espiritual do real no a sua efetiva produo sugere que h uma semelhana entre os dois processos, que leva a confuso hegeliana! S assim se entende que ele introduza o trecho com a frase Por isso que Hegel caiu na iluso... que Althusser, por sinal, suprime. Alm do mais, tampouco para Hegel as duas ordens de que estamos tratando so perfeitamente idnticas, o que Marx certamente sabia; mas isso veremos mais adiante. No existindo relao entre as duas ordens, diz Althusser, tampouco existiria a correspondncia invertida que Della Volpe e sua escola sustentam como essencial para compreenso da teoria de O Capital e da teoria do conhecimento marxista, e que repousa num conhecido trecho da Introduo: Seria, pois, impraticvel e errneo colocar as categorias econmicas na ordem segundo a qual tiveram historicamente uma ao determinante. A ordem em que se sucedem se acha determinada, ao contrrio, pelo relacionamento que tem umas com as outras na sociedade burguesa moderna, e que precisamente o inverso do que parece ser uma relao natural, ou do que corresponde srie do desenvolvimento histrico. No se trata da relao (posio) que as relaes econmicas assumem historicamente na sucesso das diferentes formas de sociedade. Muito menos na sua ordem de sucesso na idia (Proudhon) (representao nebulosa do movimento histrico). Trata-se da sua hierarquia no interior da moderna sociedade burguesa (p. 122).No trecho anterior, Marx dizia que a categoria-substrato-concreto da qual a categoria simples uma relao algo j dado. o sujeito real que permanece subsistindo... fora do crebro, ele diz pouco adiante. E acrescenta: Por isso tambm no mtodo terico [da economia poltica], o sujeito a sociedade deve figurar sempre na representao como pressuposio (p.117). Portanto, Marx mantm a um paralelismo lgico-histrico, ou uma correspondncia metodolgico-histrico; mesmo tratando de uma situao de precedncia do concreto em relao ao abstrato! Agora nesse outro trecho, Marx no est tratando das categorias-substrato (que devem figurar sempre como pressuposto, no como ponto de partida, ou comeo); ele est tratando das categorias de um outro tipo, das categorias determinantes, ou que correspondem a uma produo determinante, ou enfim categorias que tiveram historicamente uma ao determinante. A primeira ordem a que ele se refere no a histrica, mas a que corresponde relao natural; e a sociedade burguesa na sua prpria viso representa uma poca em que o elemento criado (em oposio ao natural) predominante e esse elemento naquela sociedade o capital. Quanto ordem do desenvolvimento histrico propriamente dita, tambm o que foi determinante ontem, hoje se torna determinado e secundrio; e naturalmente passa de explicador a explicado. No se compreende [hoje] a renda da terra sem o capital, entretanto compreende-se o capital sem a renda da terra (p.122). Parece claro que o determinante que explica o determinado e, nesse sentido, a ordem deve ser do que determinante para o que no mais isto , a ordem inversa. Marx no est tratando de quaisquer categorias nem de uma seqncia qualquer. Ele tem em vista particularmente capital versus renda da terra, ou propriedade da terra, ou outra categoria comparvel. Logo em seguida ele acrescenta: [O Capital] deve constituir o ponto inicial e o ponto final a ser desenvolvido [grifo nosso] antes da propriedade da terra. Ponto inicial e ponto final aqui no so propriamente o comeo e o fim de O Capital; basta folhear a obra, para ver, ela comea pela mercadoria e deveria terminar pelo mercado mundial e as crises. E naquela frase mesma esta a questo: Como que deve ser desenvolvido o capital? Voltaremos a esse ponto. Ainda sobre a correspondncia invertida de Della Volpe. Colocada naqueles termos, possvel que a sua interpretao se choque com a diversidade de respostas dadas por Marx questo, quer em O Capital que na Introduo. E parece defensvel, como quer Althusser, que a inverso a que se refere Marx no deva sem mais ser tomada literalmente, a palavra por conceito, isto , por uma afirmao rigorosa que adquira seu sentido no por ter sido proferida, mas por pertencer de pleno direito a um campo terico determinado (Althusser, p. 50)[3]. Mais difcil, porm de defender nos parece ser a desqualificao althusseriana da nossa questo, como um falso problema, que Marx teria descartado, etc. Na Introduo, Marx no s mostra em que medida as duas ordens no correspondem (como exemplos que, entretanto, nem sempre contrariam Hegel), mas distingue tambm uma medida em que o curso do pensamento abstrato que se eleva do mais simples ao complexo corresponde ao processo histrico efetivo (p. 118). Ele investiga, portanto, uma correspondncia, mesmo sem avanar uma resposta de tipo engelsiano metafsica, se se quiser. Depois de mostrar que a mais simples categoria econmica, como o valor de troca pressupe um todo vivo e concreto j dado, uma populao produzindo em determinadas condies, certos tipos de famlias, etc; depois de mostrar que, apesar de o valor de troca como categoria possuir uma existncia antediluviana, o sujeito real, a sociedade, permanece existindo fora do crebro e deve figurar como pressuposto; Marx pe explicitamente a questo (que, portanto, no respondeu ainda nem descartou): Estas categorias simples [logicamente anteriores, JCS] no possuem tambm uma existncia independente histrica ou natural anterior s categorias mais concretas? (p. 117). Sua resposta inicial no parece desqualificante ou taxativa em qualquer outro sentido: a dpend, diz Marx. Lembremos que at aqui Marx j dissera que o mtodo cientfico exato se eleva do abstrato, simples, ao concreto, complexo. Alis, mais uma prova de que ele est falando de outra coisa quando antepe capital a renda da terra como ponto inicial: capital no uma categoria simples ou elementar; basta recordar as trs definies que Marx dele apresenta na primeira parte da Introduo (instrumento, trabalho acumulado e o especifico) (p. 105)[4]. Por outro lado, se capital fosse uma categoria simples, como poderia constituir o ponto final no curso do abstrato do concreto? Mas, voltando ao que dizamos, Marx parte da observao de que o mtodo cientfico vai das categorias mais tnues, das abstraes ou conceitos mais simples, ao que mais concreto e complexo. Em seguida faz a ressalva de que o concreto pr-existente na realidade; e por isso, tambm no mtodo, deve figurar como pressuposto. Depois, como dissemos, formula a pergunta se categorias simples como valor-de-troca, independentemente de suporem um substrato concreto, no precedem s categorias mais concretas. Poderamos dizer aqui que Marx est se referindo s categorias-relao, e no as categorias substrato ou as categorias-determinantes; com efeito ele mostra claramente linhas adiante que est tratando de categorias que so a expresso de relaes (118). A primeira resposta de Marx, j dissemos, : a dpend. A segunda, embora evidentemente sem esgotar a pergunta, uma resposta afirmativa: As categorias mais simples so a expresso de relaes nas quais o concreto pouco desenvolvido pode ter se realizado sem haver ainda estabelecido a relao ou o relacionamento mais complexo, enquanto o concreto mais desenvolvido conserva a mesma categoria numa relao subordinada (118). Os exemplos em que Marx se baseia aqui so a posse, em relao propriedade, e o dinheiro em relao ao capital. Ele prossegue: Desse ponto de vista, pode-se dizer que a categoria mais simples pode exprimir relaes dominantes de um todo menos desenvolvido, ou relaes subordinadas de um todo mais desenvolvido, relaes que j existiam antes que o todo tivesse se desenvolvido, no sentido que se expressa numa categoria mais concreta. Nesta medida, o curso do pensamento abstrato que se eleva do mais simples ao complexo corresponde ao processo histrico efetivo [grifo JCS] (118).Diante disso, como pode Althusser sustentar que Marx passa o temo a mostrar... que a ordem real contradiz a ordem lgica? (50). verdade que Marx conclui o pargrafo da inverso, citado mais acima, com a observao de que no se trata da relao [posicin, segundo a traduo da Siglo XXI] que as relaes econmicas assumem historicamente na sucesso das diferentes formas de sociedade...; trata-se da sua hierarquia no interior da moderna sociedade burguesa (122). Para Althusser, ele assim no deixa persistir qualquer equvoco, dado que ficamos sabendo que esse debate sobre a correspondncia direta ou inversa dos termos das duas ordens nada tem a ver com o problema analisado (49-50). Ora, o que vimos at aqui nos autoriza a dizer que Marx fala sim da correspondncia entre as duas ordens; e que a concluso de Althusser cai no erro, que ele aponta nos outros intrpretes, de violentar certas respostas de Marx. Mas acreditamos que mesmo aquele ponto, da categoria ou produo determinante como primeira, pode ser melhor esclarecido de maneira a no deixar soltas as diferentes respostas na sua diversidade no prprio texto da Introduo, cuja idia a, sugerimos, pode ser abreviadamente a seguinte: a determinao histrica aproximada, da cadeia categorial, no a nica, ou melhor, no deve ser tomada abstratamente; ela se conjuga com a determinao (das categorias e da cadeia) por uma forma de produo dominante, na sociedade que se trata de compreender, e essa outra determinao no elimina a anterior. A produo ou categoria dominante se antepe, j vimos, como logicamente anterior, s categorias que foram dominantes antes dela na cadeia histrica. Essa interpretao se respalda no prprio pargrafo com que Marx introduz aquele ponto, trecho que, de outra sorte, permaneceria meio inexplicado: Do mesmo modo que em toda cincia histrica, social em geral; preciso ter sempre em conta, a propsito do curso das categorias econmicas, que o sujeito, neste caso a sociedade burguesa moderna, est dado tanto na realidade efetiva como no crebro; que as categorias exprimem portanto formas de ser, determinaes de existncia, freqentemente aspectos isolados da sociedade, dessa sociedade determinada, desse sujeito, e que, por conseguinte, inclusive do ponto de vista cientfico, esta sociedade de maneira nenhuma se inicia somente a partir do momento em que se trata dela como tal. Isto deve ser fixado porque d imediatamente uma direo decisiva s sees que precisam ser estabelecidas (...). Em todas as formas de sociedade se encontra uma produo determinada, superior a todas as demais, e cuja situao aponta sua posio e influncia sobre as outras. uma luz universal de que se embebem todas as cores, e que as modifica em sua particularidade. Porque Marx volta a dizer que o concreto (a sociedade) est previamente dado fora do crebro? Que no se inicia quando se comea a falar dela? Em que isso determina o curso das categorias econmicas? O que isso tem a ver com a precedncia do capital com relao a categorias anteriormente dominantes na histria? Marx quer dizer, segundo nos parece, que no estudo da sociedade burguesa, as categorias simples e primeiras (tambm historicamente primeiras, suponhamos) existem como formas de ser ou aspectos isolados da sociedade burguesa (onde o capital dominante). Quando comeamos a explicar a sociedade burguesa pela mercadoria no a estando ns produzindo, sendo ela j dada (a sociedade burguesa, digo.) essa mercadoria j um aspecto da sociedade burguesa, e a forma de conceb-la e principalmente de articul-la deve ser determinada por esse fato. A mercadoria de que Marx trata aponta e deve apontar para a constituio do capital, que domina a sociedade, e no h porque antepor a este a renda da terra ou a propriedade da terra. Essa correo do caminho histrico certamente bem mais do que a simples eliminao de ziguezagues ou a supresso de contingncias perturbadoras de que fala Engels, como veremos adiante; mas parece ser menos do que o abandono radical de toda correspondncia entre a ordem lgica e a ordem histrica enquanto ambos marchariam do simples ao complexo, como sentido geral; e enquanto o desenvolvimento do conceito de capital encontra uma certa correspondncia com a histria. Afinal de contas, a concluso prtica a que Marx chega a de que o capital deve vir primeiro... do que a renda da terra. Sua expresso : [O Capital] deve constituir o ponto inicial e o ponto final e ser desenvolvido antes da propriedade da terra. Todos dois, est dito, devem ser desenvolvidos, no se constituindo, portanto o capital em comeo imediato, como j lembramos mais acima. De qualquer forma, Althusser parece forar a argumentao, ao ignorar certos elementos que j citamos e ao pretender tirar concluses mais gerais do que permitem os prprios elementos que oferece. Nenhum dos intrpretes de Marx desconhece que O Capital no comea pela renda da terra, mas fica ainda a questo: qual o curso seguido por Marx no desenvolvimento do conceito de capital? Ou na passagem da mais-valia relativa mais-valia absoluta? E acaso a prpria concluso de Marx de toda investigao que leva a efeito na parte III da Introduo no apresenta um plano para sua exposio onde a ordem das sees vai do simples/abstrato ao complexo/concreto, sem excluir paralelismos histricos? (cf. p. 122) Mas qual ento para Althusser a ordem de exposio de Marx? A ordem em que a Gliedrung (articulao) de pensamento produzida nada tem a ver com a histria, uma ordem especfica, que ele prefere chamar de ordem de anlise terica, ordem da sntese (entre aspas) dos conceitos necessrios para a produo desse concreto-de-pensamento que a teoria de O Capital (p. 50). Assim, ele no considera que Marx, no seu texto explicitamente intitulado O Mtodo da Economia Poltica (parte III da Introduo), chama de anlise o processo que vai do concreto representado, da representao catica do todo, a conceitos cada vez mais simples, abstraes cada vez mais tnues, at atingirmos determinaes as mais simples que o mtodo caracterstico dos economistas do sculo XVII. O caminho inverso, que manifestamente o mtodo cientifico exato, Marx o caracteriza como o processo de sntese que faz aparecer o concreto no pensamento (116)[5]. Quanto especificidade da ordem de demonstrao de Marx, ela est vinculada, para Althusser, questo da forma de ordem exigida em dado momento da histria do conhecimento, pelo tipo de cientificidade existente, ou, se preferirmos, pelas normas de validade terica admitidas pela cincia em sua prpria prtica, como cientficas (51). Enfim, para ele, o discurso de Marx em seu princpio estranho ao discurso de Hegel; seu mtodo de exposio inteiramente diferente da lgica hegeliana; Marx inventou integralmente uma forma nova de ordem de anlise demonstrativa. O fato de que o autor de O Capital trate repetidamente o seu mtodo como pr-existente, tendo sido seu trabalho aplic-lo aos problemas econmicos, que pense t-lo tomado (de alguma forma) de Hegel, no representa maior problema para Althusser (cf. pp. 53-54). No entanto, no momento mesmo em que procura demarcar diferenas com Hegel, na Introduo, Marx acompanha o mestre em boa medida, no que diz respeito questo mesma que aqui nos interessa, da correspondncia/diferena ordem lgica ordem histrica. A proximidade entre certos trechos de Hegel e a parte III da Introduo chega a ser flagrante. Na Cincia da Lgica, Hegel afirma a distino entre o que primeiro na realidade e o que primeiro no curso do pensamento, considerando um erro grave, tambm segundo a sua dialtica, confundir as duas coisas: Um erro capital consiste em crer que o princpio natural, ou seja, o comeo, de onde se parte no desenvolvimento natural ou na histria do indivduo que se vai formando, seja o verdadeiro e o princpio no conceito (...) A filosofia no deve ser uma narrao do que sucede, mas o conhecimento do que a verdadeiro (p. 263)[6]. Hegel volta a distinguir a ordem temporal da ordem lgica, na Filosofia do Direito, coincidindo com Marx na afirmao da precedncia do concreto-substrato na histria, e de seu comparecimento no curso do conhecimento como resultado. O trecho coincide plenamente com a argumentao marxiana sobre porque no comear o estudo da economia poltica pela populao, argumentao com que abre a parte III (O mtodo da economia poltica) da Introduo. difcil imaginar que Marx no tivesse em mente o seguinte trecho, em que Hegel, depois de afirmar a identidade entre a determinidade de um conceito e seu modo de existncia (num sentido mais especulativo), prossegue: Mas deve ser observado que os momentos cujo resultado uma forma mais determinada do conceito, precedem a ele no desenvolvimento filosfico da Idia como determinaes do conceito, mas no vm antes dele no desenvolvimento temporal das formas de experincia [pgf. 32]. (...) Posso dizer que a ordem temporal em que efetivamente aparece [a srie de formas existentes da experincia] diferente da ordem lgica [a srie de pensamentos]. Assim, por exemplo, no podemos dizer que a propriedade existiu antes da famlia; contudo, a despeito disso, a propriedade deve ser estudada primeiramente. (...) Pode-se perguntar aqui por que no comeamos no ponto mais alto, isto , com o conceito verdadeiro. A resposta que o que estamos procurando precisamente a verdade na forma de um resultado e, para esse propsito, essencial comear tomando o prprio conceito abstrato. ( 32, adio, p. 233). Diante disso, podemos talvez questionar Althusser aqui telegraficamente em trs passos. Em primeiro lugar, a semelhana entre Hegel e Marx parece contrariar a separao radical que ele quer fazer entre os dois, ao dizer que o discurso do segundo estranho ao do primeiro, ou que o mtodo de exposio daquele inteiramente diferente da lgica deste. Em segundo, Althusser poderia no estar caracterizando bem a posio hegeliana, segundo a qual, para ele, a ordem real, que no passa... da existncia real da ordem lgica, deve acompanhar a ordem lgica (p. 48). E, finalmente, se Althusser ainda mantm Hegel como um paradigma por excelncia da relao entre as duas ordens, isto , se em Hegel as distines entre as duas ordens no excluem uma relao entre as mesmas (to estreita, poderamos acrescentar), ento, talvez, tambm em Marx, ao contrrio do que pensa Althusser, as distines poderiam no descartar uma relao ou correspondncia; tanto mais se levarmos em conta as coincidncias entre os dois nas distines que fazem.Com isso deixamos Althusser pelo momento e vejamos, no outro extremo, a posio engelsiana sobre o nosso problema, apresentada no comentrio que Engels fez da Contribuio da Economia Poltica de Marx. Engels a declara simplesmente que o mtodo lgico de Marx no , na realidade, seno o mtodo histrico, despojado apenas da sua forma histrica e das contingncias perturbadoras [7] o que pretende corresponder ao curso da Contribuio, mas muito mais do qualquer coisa dita por Marx na Introduo de 57. Ali onde comea a histria, prescreve Engels, deve comear tambm a cadeia do pensamento, e o desenvolvimento ulterior desta no ser mais do que a imagem reflexa, em forma abstrata e teoricamente conseqente, da trajetria histrica (310). Essa identidade to taxativamente afirmada por Engels pode o que nos parece obscurecer os matizes da sua prpria interpretao.A resenha de Engels vai na linha de valorizao da herana hegeliana, da tese da aplicao por Marx da dialtica hegeliana desmistificada. Segundo ele, antes de Marx a escola hegeliana oficial apenas manipulava os artifcios mais simples da dialtica do mestre, aplicada a torto e a direito (308), e como reao instaurou-se na cincia o reinado da metafsica com suas categorias imutveis. (A esse respeito pode-se talvez considerar toda a Introduo como um manifesto contra a imutabilidade das categorias especialmente a parte I tanto quanto contra qualquer maneira simplista, linear ou esquemtica de compreender a sua historicidade na parte III). O modo de pensamento de Hegel, porm estava acima daquele de todos os demais filsofos, pelo formidvel sentido histrico que o animava; o desenvolvimento de suas idias marchando sempre paralelamente com o desenvolvimento da histria universal (310). Retirando ento da lgica hegeliana a medula que encerrava as verdadeiras descobertas de Hegel neste campo, Marx restaurou o mtodo dialtico, despojado da sua roupagem idealista, na simples nudez em que aparece como a nica forma exata do desenvolvimento do pensamento. Depois de descobertos, o mtodo e, de acordo com ele, a crtica da economia poltica, podiam entretanto ser abordados de dois modos: o lgico e o histrico.A partir daqui Engels comea a fazer suas consideraes sobre as relaes entre as duas ordens, por uma questo mais particular: ele inclui a questo do paralelismo entre o desenvolvimento lgico e o desenvolvimento histrico da literatura sobre a economia poltica [8]. Como na histria, do mesmo modo que no seu reflexo literrio, diz ele, as coisas se desenvolvem, tambm, a grandes traos, do mais simples para o mais complexo. No desenvolvimento histrico da literatura sobre a economia poltica as categorias econmicas aparecem na mesma ordem do seu desenvolvimento lgico (310). Mais adiante, Engels afirma que na Contribuio a crtica das diferentes definies, mais ou menos unilaterais ou confusas, j est contida, no essencial, no desenvolvimento lgica e pode ser resumida brevemente (312).Esta descoberta de um sentido que pode ser chamado de lgico no desenvolvimento histrico do conhecimento, pode talvez encontrar certa comprovao no trabalho de Marx. Na Introduo, ele compara o caminho de ida da representao catica do todo, do concreto representado, a abstraes cada vez mais simples, e de volta ao concreto como rica totalidade de determinaes diversas, ao percurso histrico da cincia econmica. Como vimos, os economistas do sculo XVII comeam pelo todo vivo... [e] terminam por descobrir, por meio da anlise, certo nmero de relaes gerais abstratas que so determinantes.... Posteriormente, esses elementos isolados, uma vez mais ou menos fixados ou abstrados, do origem aos sistemas econmicos, que se elevam do simples... at o Estado... e o mercado mundial (p. 116).Mais adiante (p. 119), Marx descobre um sentido lgico, dessa vez na direo da abstrao, no desenvolvimento da categoria de trabalho na sua simplicidade, na literatura econmica; e aponta uma base histrica para esse desenvolvimento. O sistema monetrio, diz ele, situava a riqueza de forma objetiva, como dinheiro; o sistema manufatureiro ou comercial marcou um grande progresso ao colocar a fonte de riqueza na atividade subjetiva, no trabalho comercial e manufatureiro; o sistema dos fisiocratas admitiu uma forma de trabalho como criadora da riqueza, e o prprio objeto, no sob a forma dissimulada de dinheiro, como produto; Adam Smith representou um enorme progresso ao rejeitar toda determinao particular da atividade criadora da riqueza, considerando apenas o trabalho puro e simples, embora recaindo de quando em quando no sistema fisiocrtico. Por fim, Marx diz que o trabalho indiferente resultado de um desenvolvimento histrico real, no apenas um resultado intelectual (cf. p. 119).Voltando a Engels e deixando a questo especfica da histria do conhecimento: Haveria o modo lgico e o modo histrico de aplicao do mtodo dialtico. No segundo, acompanha-se o desenvolvimento real das coisas, mas se enfrentam certas dificuldades: A histria se desenvolve com freqncia aos saltos e ziguezagues..., se colheriam materiais de escassa importncia..., se teria que romper, muitas vezes a ilao lgica (310). Por isso, o mtodo indicado para o estudo da sociedade burguesa (cuja histria ainda no fora escrita) era o lgico: Com esse mtodo, partimos sempre da relao primeira e mais simples que existe historicamente, de fato; portanto, aqui, da primeira relao econmica que encontramos [Engels est falando das categorias-relao, J.C.S.]. Logo, iniciamos a sua anlise [grifo J.C.S.]. Encontramos ento contradies que exigem uma soluo, contradies que tero tambm surgido na prtica e nela tero tambm encontrado, provavelmente, a sua soluo. Esta se verifica criando uma nova relao, e assim por diante (310-311).Se se pode talvez dizer de Engels que aqui ele generaliza sobre as relaes entre o lgico e o histrico a partir de um s exemplo, que o do estudo que Marx faz da economia poltica na Contribuio, mais difcil negar completamente um certo paralelismo entre a histria e o curso da demonstrao de Marx, na Contribuio ou em O Capital.Quanto ao primeiro aspecto, a generalizao de Engels visvel na sua prpria especificao do caso da economia: partimos sempre da relao primeira e mais simples que existe historicamente, de fato; portanto, aqui, da primeira relao econmica que encontramos. Na verdade, na Introduo, o prprio Marx parece sugerir a possibilidade de extenso da aplicao do seu mtodo, ao observar que Hegel comea corretamente sua Filosofia do Direito com a posse como a mais simples relao jurdica do sujeito (p. 117). Mais adiante, Marx alude a toda cincia histrica, social em geral (p. 121), o que parece delimitar aquela extenso. Quanto ao segundo aspecto, a economia poltica de Marx a Contribuio, mas tambm O Capital comea de fato pela mercadoria, que se nos apresenta sob os dois pontos de vista do valor de uso e do valor de troca. Mas aqui se trata da mercadoria que j adquiriu o seu pleno desenvolvimento, no aquela que comea a se desenvolver trabalhosamente nos atos primignios da troca entre duas comunidades primitivas o prprio Engels quem nos diz (Engels 311). Pouco antes ele falara do mtodo lgico como imagem corrigida da histria, onde cada fator pode ser estudado no ponto de desenvolvimento da sua plena maturidade, na sua forma clssica (Engels 310).No obstante isso, Engels acha que as contradies que surgem no processo de troca da mercadoria, de que a Contribuio trata, refletem ao mesmo tempo as dificuldades que surgem da natureza da relao de intercmbio direto, do simples ato de troca, e as impossibilidades com que necessariamente se choca esta primeira forma tosca de cmbio (p. 312). A soluo dessas impossibilidades se encontra transferindo-se a uma mercadoria especial o dinheiro - a qualidade de representar o valor de troca de todas as demais mercadorias Esse de fato resumidamente o curso inicial de Marx, tanto na Contribuio quanto em O Capital. E Engels ento conclui: Vemos, pois que, com esse mtodo, o desenvolvimento lgico no se v obrigado, de modo algum, a mover-se no reino do puramente abstrato. Pelo contrrio, precisa ilustrar-se com exemplos histricos, manter-se em contato constante com a realidade. Por isso, esses exemplos so aduzidos com grande variedade e consistem tanto em referncias trajetria histrica real, nas diversas etapas de desenvolvimento da sociedade, como em referncias literatura econmica (p. 312). A Contribuio apresenta de fato uma srie de referncias literatura econmica histrica bem como histria da sociedade e da economia. o caso desse precioso trecho sobre o desenvolvimento da forma valor atravs de suas contradies: O comrcio base de troca direita, forma natural do processo de troca, apresenta muito mais a transformao incipiente dos valores de uso em mercadorias do que a das mercadorias em dinheiro (...). Vimos que o valor de troca de uma mercadoria se caracteriza tanto mais como valor de troca quanto maior a srie de seus equivalentes, ou quanto mais ampla a esfera da troca da mercadoria. A expanso paulatina do comrcio de trocas, com a intensificao do intercmbio e a multiplicao das mercadorias que concorrem neste comrcio, faz desenvolver a mercadoria como valor de troca, impele formao do dinheiro, atuando assim como um fator de dissoluo do comrcio de trocas diretas. Os economistas costumam derivar o dinheiro das dificuldades exteriores com as quais se defronta o comrcio de troca, mas a se esquecem de que essas dificuldades surgem do desenvolvimento do valor de troca, e, por isso, do trabalho social como trabalho geral. Por exemplo, as mercadorias como valores de uso no so divisveis livremente, o que elas devem ser como valores de troca. Ou ento, pode acontecer que a mercadoria de A seja valor de uso para B, mas a mercadoria de B no seja valor de uso para A; ou que os possuidores de mercadorias necessitem mutuamente de propores desiguais de valor de suas mercadorias indivisveis a serem trocadas mutuamente. Em outras palavras, com o pretexto de tratar do comrcio de trocas diretas, os economistas fazem uma idia de alguns aspectos da contradio, que o modo de ser da mercadoria envolve como unidade imediata de valor de uso e valor de troca. Por outro lado, prendem-se conseqentemente ao comrcio base de troca como a forma adequada do processo de troca das mercadorias que, segundo eles, estaria vinculado apenas a certos incmodos de carter tcnico, para cuja soluo o dinheiro seria um expediente habilmente inventado (152-3). O Capital tambm comea pela mercadoria, desdobrada em seus dois fatores, valor de uso e valor, expresso do duplo carter do trabalho materializado na mercadoria; e o desenvolvimento da forma valor ou do valor de troca se inicia pela forma simples, singular ou acidental (fortuita) de valor [este o ttulo da seo que trata da primeira forma de valor]. A expresso fortuita (Reginaldo SantAnna, Ed. Civilizao) ou acidental (Regis Barbosa e Flvio Kothe) parece associar essa primeira forma, por onde comea Marx, com a primitiva troca incipiente como se teria dado em seus primrdios mesmo no tratamento abstrato que lhe dado. Ao final dessa seo (Civilizao p.70), Marx usa uma linguagem em que o lgico parece de alguma forma ecoar o histrico, apesar do carter lgico largamente predominante em O Capital [9]: A forma simples do valor da mercadoria tambm a forma-mercadoria elementar do produto do trabalho, coincidindo, portanto, o desenvolvimento da forma mercadoria com o desenvolvimento da forma valor. Percebe-se primeira vista, a insuficincia da forma simples de valor, forma embrionria que atravessa uma srie de metamorfoses para chegar a forma preo. A expresso do valor de uma mercadoria A atravs de uma mercadoria B qualquer, serve apenas para distinguir o valor de A do seu prprio valor- de- uso, colocando A em relao de troca exclusiva com outra mercadoria particular qualquer dele diferente; no traduz sua igualdade qualitativa e proporcionalidade quantitativa com todas as outras mercadorias... Todavia, a forma simples de valor converte-se, por si mesma, numa forma completa.No nos parece descabido ver aqui uma aproximao da forma simples com a troca incipiente e do desenvolvimento daquela com a extenso dessa. E do mesmo modo que a forma simples, a forma seguinte, total, extensiva ou desdobrada do valor, tambm vai apresentar seus defeitos (p. 72); passando forma geral do valor e finalmente forma dinheiro. Isso a primeira parte do primeiro livro de O Capital. Na segunda, o dinheiro se transforma em capital. A terceira trata da produo de mais-valia absoluta, a quarta, da produo de mais-valia relativa. Tudo parecendo caminhar do mais simples ao mais complexo e acompanhar a largos traos a ordem histrica. O que Althusser acha disso? Referncias bibliogrficas:Introduo Crtica da economia Poltica de 57. Trad. Edgar Malagodi. In: Marx, coleo Os Pensadores, abril cultural, So Paulo, 1978, p. 103-125.

Elementos Fundamentales para la Critica de La Economia Poltica, Marx, Siglo Veintiuno, Buenos Aires, 1973.

Ler O Capital, Althusser et alii, Trad. Nathaniel Caxeiro, Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1979.

Para a Crtica da Economia Poltica (a Contribuio). Trad. Edgar Malagodi, in Marx, col. Os Pensadores, Abril cultural, So Paulo, 1978.

O Capital, Karl Marx. Trad. Regis Barbosa e Flvio Kothe, Abril Cultural, So Paulo, 1983.

O Capital, Karl Marx. Trad. Reginaldo SantAnna, civilizao Brasileira, Rio de Janeiro, 1980.

Cincia de la Lgica, G. W.F. Hegel. Trad. De Rodolfo Moudolfo, Hachette, Buenos Aires, 1956.

Hegels Philosophy of Right, Oxford, Londres 1980.

The Philosophy of Marx, W.L. McBride, Hutchinson, Londres, 1977.

O que Dialtica, J. M. Brohm, Antdoto, Lisboa, 1979.

Karl Marx Economista, E. M. Urea, Edies Loyola, So Paulo, 1981.

Lgica Dialtica, P. V. Kopnin, Grijalbo Mxico, 1966.

[1] De O Capital Filosofia de Marx, em Ler O Capital (p 11 a 74), Althusser, Louis; Rancire, Jacques; Macherey, Pierre. Zahar, Rio de Janeiro, 1979, vol.1, p. 48.[2] Introduo Contribuio Critica da Economia Poltica (ou Introduo de 1857, ou Introduo Geral), in Marx, coleo Os Pensadores, Abril Cultural, So Paulo, 1987, p.122.[3] Althusser nos remete ao ensaio de Rancire (que vem a seguir no Ler O Capital) para esclarecimento da questo desse inverso. Ali, Rancire faz consideraes gerais sobre o conceito de inverso do movimento real no movimento aparente ou entre a determinao cientfica e a determinao fenomnica a partir da afirmao de Marx (O Capital, livro I, p. 620, Civilizao) de que todas as cincias, exceto a economia poltica, reconhecem que as coisas apresentam freqentemente uma aparncia oposta a [inversa da, JCS] sua essncia; afirmao transformada por Rancire em lei geral da cientificidade marxista, com a substituio do advrbio freqentemente por rigorosamente. Alm disso, Rancire trata de descartar como analgicos e no-rigorosos os outros usos da categoria de inverso, por Marx, que aproximam o texto dO Capital ao dos Manuscritos, especificamente categoria de alienao.[4] Cf. Hegel, na Pequena Lgica, 229: Quanto mais rico o objeto a definir, isto , quanto mais aspectos de exame oferece, tanto mais diversas so as definies possveis.[5] Os diferentes intrpretes escolhem diferentes caracterizaes para o mtodo de Marx, numa variedade surpreendente. Apenas para ilustrar: o seu modo de investigao (Forschungsweise), para Jean-Marie Brohm, sobre o curso da historia real, regressivo-concreto (p. 74); para MacBride, descritivo, fenomenolgico (p. 60); para Althusser, de tentativas e erros, como em toda pesquisa (p. 52). A sorte do modo de exposio (Darstellungsweise) no muito diferente.[6] Hegel, Cincia da Lgica, Hachette, Buenos Aires, 1956, vol. 2, p. 263. Nesse ponto Hegel se expressa de forma mais nuanada do que Engels, como veremos adiante.[7] A Contribuio Crtica da Economia Poltica de Karl Marx, in Textos de Karl Marx e Friedrich Engels, vol. III, Edies Sociais, So Paulo, 1977, p.310.[8] Para uma das sistematizaes das idias engelsianas sobre o lgico e o histrico, no estilo Diamat, ver Lgica Dialtica, P.V. Kopnin, Grijalbo, Mxico, 1966, p. 185 ss.[9] MacBride: correto caracterizar a abordagem dialtica de Marx nos seus principais escritos de maturidade (embora no em todos os seus escritos) como sendo mais estrutural do que gentica ou histrica (p. 64).

Revista Eletrnica Estudos Hegelianos