Ordem de malta

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Contributo para a história da paróquia de são Cipriano de paços de brandão ORDEM DOS HOSPITALEIROS OU CAVALEIROS DE S. JOÃO DE JERUSALÉM – ORDEM DE MALTA Por: Carlos Varela Após a tomada de Jerusalém, pelos Cristãos, nos fins do século XI, cerca do ano de 1046, um grupo de mercadores da zona italiana de Amalfi, fundou ali uma pequena casa religiosa, inspirada na Regra de S. Bento e destinada a receber peregrinos, a dar-lhes asilo, a tratá-los nas suas doenças. Chamavam-lhe «Casa dos Pobres do Hospital de Jerusalém» ou «Hospital de S. João» - 1099. Esta instituição foi confirmada em 1113 pelo Papa Pascoal II, Bula (Piae postulatio), como Congregação de S. João, que deu origem à Ordem dos Hospitaleiros ou Cavaleiros de S. João de Jerusalém. Bem depressa viria esta Ordem a estabelecer-se em Portugal. O antigo Mosteiro de Leça estava ligado ao da Vacariça, foi doado à Ordem do Hospital no segundo quartel do século XII. Em 1118 começou a vigorar a bula de Pascoal II, possivelmente terá sido por esta bula que foi feita a doação de «Lessa» ou Leça à Ordem do Hospital. .

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Contributo para a história da paróquia de são

Cipriano de paços de brandão

ORDEM DOS HOSPITALEIROS OU CAVALEIROS DE S. JOÃO

DE JERUSALÉM – ORDEM DE MALTA

Por: Carlos Varela

Após a tomada de Jerusalém, pelos Cristãos, nos fins do século XI, cerca

do ano de 1046, um grupo de mercadores da zona italiana de Amalfi,

fundou ali uma pequena casa religiosa, inspirada na Regra de S. Bento e

destinada a receber peregrinos, a dar-lhes asilo, a tratá-los nas suas

doenças. Chamavam-lhe «Casa dos Pobres do Hospital de Jerusalém» ou

«Hospital de S. João» - 1099.

Esta instituição foi confirmada em 1113 pelo Papa Pascoal II, Bula (Piae

postulatio), como Congregação de S. João, que deu origem à Ordem dos

Hospitaleiros ou Cavaleiros de S. João de Jerusalém. Bem depressa viria

esta Ordem a estabelecer-se em Portugal.

O antigo Mosteiro de Leça estava ligado ao da Vacariça, foi doado à

Ordem do Hospital no segundo quartel do século XII.

Em 1118 começou a vigorar a bula de Pascoal II, possivelmente terá sido

por esta bula que foi feita a doação de «Lessa» ou Leça à Ordem do

Hospital.

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Mosteiro de Leça do Balio

A Casa de Jerusalém, devido às epidemias que afligiram os Cruzados e

peregrinos, chegados ao Oriente, em breve se converteu numa vasta

enfermaria. Com a fomentação das Ordens Militares, Papa Urbano II,

Concílio de Clermont (1095) e a exemplo dos Cavaleiros do Templo, que

combatiam os infiéis e defendiam o Sepulcro de Cristo, propunha-se a

defender iguais propósitos, convertendo-se em Ordem Militar. Contudo,

conservou o carácter beneficiente, mantendo, nas suas casas, os serviços

de assistência (agasalho e enfermagem) dos peregrinos. Foi em 1120 que

o francês Raimundo du Puy, nomeado Grão-Mestre, acrescentou ao

cuidado com os doentes o serviço militar.

No ano de 1122, era de 1160, a Ordem já está dotada, com legados, e está

possuindo ou ocupando o Mosteiro de Leça (distante pouco mais de uma

légua da Cidade do Porto, junto do Rio Leça, de que tomou o nome) com

muitas herdades, coutos e pertenças. No mesmo ano de 1122, 28 de

Julho, existe uma Escritura de Contrato e Composição, que fez o Bispo D.

Hugo com Martinho, Prior do Mosteiro de Leça, aparecendo este com

toda a regularidade conventual de Prelado e súbditos, remitindo-lhe por si

e seus sucessores a obrigação do jantar (colheita ou contribuições, a que

sempre ficarão obrigadas as referidas Ordens) em que só pelo referido

Mosteiro lhe era obrigado: doação pelo Prior da Ordem ao Bispo do Porto

de diversos bens.

É difícil fixar ao certo, quem concedeu a primeira doação à Ordem do

Hospital; se o Conde D. Henrique com sua mulher D. Thereza; se esta

juntamente com o seu filho, ou finalmente se este só, naquela parte das

conquistas de seu Pai em a Província do Minho e Galliza, de que somente

tinha ficado mais liberto Senhor, continuando a sua Corte em Guimarães?

Pode-se conjecturar que D. Afonso Henriques, imediatamente que ficou

de posse pacífica de todo o Reino em 1128, se lembraria muito

naturalmente de confirmar a Doação, ou fazê-la como de novo, a uns

Cavaleiros e Donatários, de que cada vez iria recebendo mais serviços.

Em 1130 o Papa Innocencio II dá enorme distinção à Ordem, pelo

empenho na defesa da Terra Santa. É desta época, em que todos os

Príncipes, Senhores, e Poderosos, repartem de suas rendas (com mão

mais larga) a favor da Ordem do Hospital, que adquire possessões, Igrejas,

Terras, por esmola e doações, às quais chamou Comendas, entre as sete

Nações e Províncias do Ocidente, que são: Inglaterra, Provença, Alvernia,

França, Itália, Hespanha (antes da sua divisão) e Alemanha.

A Ordem foi introduzida em Portugal quase ao mesmo tempo que foi a

dos Templários. Segundo D. Armindo Lopes Coelho, Bispo do Porto, na

Homilia, da celebração de encerramento das Comemorações do Milénio

da História do Mosteiro de Leça do Balio, 14 de Março de 2004, «foi na

aproximação do Rio Leça, no lugar de Recarei, que houve um modesto

cenóbio, de carácter familiar, documentado desde 1003. Sucedeu-lhe, em

continuidade, uma construção românica do século XII, a qual terá recebido

os primeiros Hospitalários portugueses. São pouco consistentes as datas e

vagas as circunstâncias da sua chegada e implantação. Fala-se da

interferência do Conde D. Henrique, insiste-se mais na doação de D.

Teresa, por ventura em 1112 (para outros, um pouco mais tarde). Admite-

se porém, e pacificamente, que no tempo de D. Afonso Henriques, os

Hospitalários se integravam na vida do Reino».

Efectivamente, em 1123, D. Afonso Henriques concede carta de couto,

separado da cidade do Porto e dá privilégios. Leça do Balio foi pois a

primeira sede e casa – mãe do Grão-Priorado em Portugal da Ordem

Militar dos Hospitalários, que muito contribuiu para o desenvolvimento

daquelas Terras da Maia (hoje integradas em Matosinhos).

Em 1157, D. Afonso Henriques e D. Mafalda fizeram doação do couto do

mosteiro ao procurador D. Raimundo e ao prior de Portugal e Galiza D.

Ayres, da ordem de Jerusalém. Este couto foi confirmado em 1166 (Couto

de Santa Maria de Leça do Balio).

O convento de Leça foi reedificado por D. Gualdim Paes de Marecos, em

1180 e dedicado a Santa Maria. No ano de 1192, D. Sancho I outorgou a

Rodrigo Paes, prior da Ordem do Hospital a carta de confirmação do foro

que seu pai dera a D. Raimundo, senhorio real nos seus coutos. O MESMO

d. Sancho I reformou e ampliou a Igreja e casa de Santa Maria de Leça do

Balio em 1212.

No ano de 1330, Estêvão Vasques Pimentel, investido na qualidade de

Bailio de Leça, realizou importantes obras com o intuito de ampliar o

secular mosteiro dos beneditinos em substituição da primeira igreja,

arruinada e sem grandeza. O admirável templo que ainda hoje, depois de

ter resistido longamente às injúrias do tempo e dos homens, merece o

nosso respeito e o nosso orgulho como padrão de uma época enobrecida

poe altos heroicos ideais.

Aquele inabalável gigante de pedra, que foi talvez a albarrã das antigas

fortificações conventuais, devia possuir alicerces muito mais antigos; a sua

fundação data provavelmente do tempo em que o mosteiro passou dos

pacíficos beneditinos, que a princípio o ocuparam, para os monges

guerreiros de S. João de Jerusalém.

A importância de Leça no dealbar do século XVI justifica-se quando em 4

de Junho de 1519, o Rei D. Manuel lhe atribuía uma carta de foral. Mais do

que isso ainda no primeiro quartel desse século, e para fins

administrativos, Leça seria mesmo constituída em município com julgado

próprio. Por falecimento do Prior D. Frei Estêvão Vasques Pimentel ou

pouco tempo depois, erigiu-se o Crato em Grão – Priorado, e Leça ficou

sendo Comenda até 15 de Outubro de 1571, data em que foi erecta em

Baliado e seu primeiro Balio foi D. Pedro de Mesquita.

Na sequência do triunfo liberal, Leça do Balio assiste à extinção das ordens

religiosas, e logo dos privilégios e direitos que a ordem do Hospital ainda

possuía. O convento é extinto em 1834.

A freguesia em 1835 é integrada no concelho de Bouças.

ORDEM DE MALTA

Em 1194, D. Sancho I doou à Ordem dos Hospitalários, a terra Guidintesta,

junto ao rio Tejo, para aí construírem um castelo, aí o monarca, no acto da

doação pôs o nome de Castelo de Belver, que foi a segunda casa em

Portugal, que chegara a possuir treze vilas, e entre elas, Proença, Gavião.

Em 8 de Dezembro de 1231, no reinado de D. Sancho II, era prior da

Ordem em Portugal, Mem Gonçalves, foi dado foral à Vila do Crato, mas

supõe-se que conquanto a Ordem fosse senhora do Crato, ainda não havia

sido elevada a sede da Ordem.

Crato, doado por D. Sancho II à que mais tarde, talvez em 1340, veio a ser

a nova sede. O superior português era denominado de Prior do Hospital, e

a partir de D. Afonso IV por Prior do Crato, sendo com este título D. Álvaro

Gonçalves Pereira. Em 1350 passou por ser sede dos Cavaleiros de Malta,

os mais privilegiados de Portugal. A Congregação ganhou fama na Europa

e perpetuou-se com a designação de ORDEM DE MALTA, a partir de 1530,

quando se estabeleceram na Ilha do mesmo nome.

No século XIII (cerca dos anos 60) e princípios do seguinte, no oriente, a

Ordem do Hospital, perde as últimas praças que aí possuía, também no

seio da igreja existiam enormes perturbações, provocadas pelo cisma do

ocidente, o que veio a levar a diversas correções normativas, que foram

efectuadas ao longo do século XV na Ordem de Malta, contudo as

perturbações causadas à Ordem não acabaram aqui. A capitulação de

Rodes e a defesa desta ilha em 1522, constituíram uma preocupação do

Grão Mestre, que o leva a tomar medidas excepcionais, para a defesa da

Ilha. A Instalação da Ordem de Malta não coincidiu com o fim das

hostilidades, bem evidentes na defesa desta Ilha em 1565, o que mais

uma vez irá estar na base da resposta dada pelos freires, que saiem do seu

Priorado em defesa destes locais distantes.

O conjunto de normas e respectivas penas, aplicáveis sempre que se

verificassem certos desvios, traduzem uma crescente complexidade da

organização da Ordem do Hospital durante a época medieval e uma maior

insegurança nos órgãos conventuais, compatível com um incremento das

brigas entre freires e o seu envolvimento com a comunidade civil, fruto do

desenvolvimento da sua actuação na vida laica. Paralelamente, a evolução

das cláusulas normativas apresenta momentos fundamentais, reflectindo

as diversas conjunturas históricas, marcadas ora pela organização do

convento, pela definição dos órgãos centrais de governo e pela definição

das obrigações de cada unidade territorial, ora por dificuldades

económicas resultantes da perda de domínios na Terra Santa, ora pelo

Cisma da Igreja, ora por convulsões militares relacionadas com o avanço

dos infiéis no Mediterrâneo.

Os Grãos-Priores (num total de 35), eram providos por dez anos

prorrogáveis e gozavam no reino de honras de conde quando não eram

superiores.

A Rainha D. Maria I, por carta de 31 de Janeiro de 1790, confirmou o Breve

Apostólico do Papa Pio VI, ordenou que a administração do Grão-Priorado

do Crato ficasse unida à Casa do Infantado, que seria extinta em 1843,

assim como a Ordem dos Hospitaleiros.

O Priorado do Crato, tinha em 1834, cinco baliados: Leça, Sertã, Crato, Rio

Meão e Rossos e Fossos (Rossos junto a Arouca, e Fossos em Faia,

Cabeceira de Basto); com a extinção ficaram incorporados no Patriarcado.

No Mosteiro de Leça do Balio, casaram o Rei D. Fernando com D. Leonor

de Teles. Na Capela-Mor do Mosteiro, encontra-se uma campa rasa

brasonada (armas dos Almeidas e Vasconcelos) e, em arossólio adossado a

parede direita, a arca tumular de Fei Cristóvão de Cernache (1569). Na

parede fronteira situam-se os nichos que guardam os túmulos de Frei

Lopo Pereira de Lima (1684) e de Frei Diogo de Melo Pereira (1666). No

absidíolo do lado do Evangelho, encontra-se o túmulo de Frei João Coelho,

com estátua jazente. Na capela de ferro, ao lado da Epístola, está a campa

rasa do fundador, Frei Estêvão Vasques (1336), encimada por uma placa

de bronze contendo o epitáfio do defunto em caracteres leoneses.

Igreja de Rio Meão

AFONSO DE PORTUGAL, GRÃO-MESTRE DA ORDEM DE S. JOÃO DO

HOSPITAL

Afonso de Portugal (1135-1207), era filho natural de D. Afonso Henriques,

que pertenceu à Ordem de S. João do Hospital e permaneceu largo tempo

na Palestina. Foi eleito, em 1196, Grão-Mestre, embora fosse considerado

como um homem cheio de valor e de piedade, disciplinado, tanto no

aspecto militar como na sua vida regular, escrupulosamente observador

dos estatutos da Ordem, altivo e arrogante, em breve desmereceu a

confiança dos cavaleiros por se ter dado aos prazeres do mundo. Forçado

a abdicar, regressou a Portugal.

No capítulo VII, (A reacção muçulmana, pelo Prof. Ângelo Ribeiro) páginas

107 e 108, volume II, da História de Portugal, dirigida pelo Professor

Damião Peres, vem expresso que: «Afonso de Portugal renunciando ao

mestrado, voltou a Portugal. Formou-se a lenda (Crónica de Malta) de que

viera com a intenção de suceder no trono a seu irmão Sancho, pelo que

este o mandara matar «com peçonha». Brandão acentuou o nenhum

crédito que merece «a calúnia». A inscrição do seu túmulo na igreja de S.

João de Alporão, em Santarém, dá-o como falecido em 1207.»

O epitáfio da pedra diz: «Quem quer que sejas tu, sujeito à morte, lê e

chora. Sou o que tu serás, já fui o que tu és. Peço-te que rezes por mim.»