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1 Rogate 272 maio/09 OPINIÃO OPINIÃO Reflexões sobre Maria Therezinha Siqueira Brito Feres Cristã leiga, conselheira editorial da Rogate E screver sobre Maria é ao mesmo tempo algo fácil e difícil. Todos a re- conhecem de uma ou de outra for- ma: é mãe, é filha, é forte, é frágil, é sub- missa, é poderosa. Indiscutivelmente é santa e amiga presente em todas as horas. Exemplo de lealdade e perseverança apa- rece sempre como modelo de virtude, se- guidora primeira do mandamento cristão: “Amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo” (cf. Mt 22,37- 39; Mc 12,29-31). Comprovou sua fé inabalável em Deus ao afirmar para o anjo Gabriel: “Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segun- do a tua palavra” (Lc 1,38). Não questio- nou, não consultou a ninguém, obedeceu única e exclusivamente seu coração e sua fé. Isso em uma época histórica na qual a mulher não tinha voz, nem vez, sendo ela mesma uma adolescente acostumada à vida simples de sua comunidade. O Magnificat é mais do que um cântico salvífico que anuncia um novo tempo. Re- presenta uma declaração de amor, digni- dade e liberdade de uma não mais adoles- cente, porém mulher no mais amplo sen- tido do termo. Lucas conseguiu expressar em poucas palavras a profundidade da fé de Maria. A Visitação e a Anunciação são momentos decisivos da história cristã, cuja personagem principal se transforma de menina em mulher, consciente do novo rumo de sua vida antes condicionada pe- los padrões de sua época e agora liberta e consciente de seu novo papel: “Sim! Do- ravante as gerações todas me chamarão de bem-aventurada” (Lc 1,48b). Maria aparece pouco nos textos bíbli- cos, porém será que precisaria mais do que essas linhas para mostrar a importância de sua figura ou de seu lugar no cristianis- mo? Afinal surge como mãe do Salvador, preocupada com a criança que já se identi- fica “com as coisas do Pai” (cf. Lc 2,49), sofredora aos pés da Cruz redentora da humanidade, presença marcante em Pen- tecostes... Tenho certeza que não. Apenas um desses momentos já bastaria. Agora pense como irmão, amigo, mãe, até mesmo como um descrente, sobre os momentos de angústias, alegrias, reconhe- cimentos, realizações dessa mulher nos 33 anos que passou sabendo que o destino do filho já estava traçado. E que seu filho na realidade não era seu e sim de toda a hu- manidade, responsável direto pela salva- ção do ser humano. Pense e agradeça pela perseverança e fé desta mulher. Maria representa o equilíbrio entre o sagrado e o humano. No momento em que aceita participar dos planos de Deus esta- belece este ponto perfeito, único, imensu- rável. O cristianismo a define com cente- nas de nomeações e, desta forma, ressalta este ponto de equilíbrio permitindo, por exemplo, que ela seja ao mesmo tempo Nossa Senhora das Dores e Nossa Senho- ra das Graças. É lógico que isto é possível porque, como já foi dito, ela está presente em nossas vidas em todas as horas, de to- dos os dias, de todos os meses. Pelos sé- culos dos séculos. Graças a Deus!

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1Rogate 272 maio/09

O P I N I Ã OOPINIÃO

Reflexões sobre Maria

Therezinha Siqueira Brito FeresCristã leiga, conselheira editorial da Rogate

Escrever sobre Maria é ao mesmotempo algo fácil e difícil. Todos a re-conhecem de uma ou de outra for-

ma: é mãe, é filha, é forte, é frágil, é sub-missa, é poderosa. Indiscutivelmente ésanta e amiga presente em todas as horas.Exemplo de lealdade e perseverança apa-rece sempre como modelo de virtude, se-guidora primeira do mandamento cristão:“Amai a Deus sobre todas as coisas e aopróximo como a ti mesmo” (cf. Mt 22,37-39; Mc 12,29-31).

Comprovou sua fé inabalável em Deusao afirmar para o anjo Gabriel: “Eu sou aserva do Senhor; faça-se em mim segun-do a tua palavra” (Lc 1,38). Não questio-nou, não consultou a ninguém, obedeceuúnica e exclusivamente seu coração e suafé. Isso em uma época histórica na qual amulher não tinha voz, nem vez, sendo elamesma uma adolescente acostumada à vidasimples de sua comunidade.

O Magnificat é mais do que um cânticosalvífico que anuncia um novo tempo. Re-presenta uma declaração de amor, digni-dade e liberdade de uma não mais adoles-cente, porém mulher no mais amplo sen-tido do termo. Lucas conseguiu expressarem poucas palavras a profundidade da féde Maria. A Visitação e a Anunciação sãomomentos decisivos da história cristã, cujapersonagem principal se transforma demenina em mulher, consciente do novorumo de sua vida antes condicionada pe-los padrões de sua época e agora liberta econsciente de seu novo papel: “Sim! Do-ravante as gerações todas me chamarão debem-aventurada” (Lc 1,48b).

Maria aparece pouco nos textos bíbli-cos, porém será que precisaria mais do queessas linhas para mostrar a importância desua figura ou de seu lugar no cristianis-mo? Afinal surge como mãe do Salvador,preocupada com a criança que já se identi-fica “com as coisas do Pai” (cf. Lc 2,49),sofredora aos pés da Cruz redentora dahumanidade, presença marcante em Pen-tecostes... Tenho certeza que não. Apenasum desses momentos já bastaria.

Agora pense como irmão, amigo, mãe,até mesmo como um descrente, sobre osmomentos de angústias, alegrias, reconhe-cimentos, realizações dessa mulher nos 33anos que passou sabendo que o destino dofilho já estava traçado. E que seu filho narealidade não era seu e sim de toda a hu-manidade, responsável direto pela salva-ção do ser humano. Pense e agradeça pelaperseverança e fé desta mulher.

Maria representa o equilíbrio entre osagrado e o humano. No momento em queaceita participar dos planos de Deus esta-belece este ponto perfeito, único, imensu-rável. O cristianismo a define com cente-nas de nomeações e, desta forma, ressaltaeste ponto de equilíbrio permitindo, porexemplo, que ela seja ao mesmo tempoNossa Senhora das Dores e Nossa Senho-ra das Graças. É lógico que isto é possívelporque, como já foi dito, ela está presenteem nossas vidas em todas as horas, de to-dos os dias, de todos os meses. Pelos sé-culos dos séculos. Graças a Deus!

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NESTA EDIÇÃO

EntrevistaConsagradas e consagradosmergulhados na realidade do povo 03

EstudoResgate histórico doserviço de animação vocacional 10

Especial43º Dia Mundial das Comunicações 15

Animação VocacionalIncapacidade de decisão 18

Informação 21

Leitor 23

Mística da VocaçãoSão João Bosco, louco de amorpelos jovens 24

EDITORIAL

Capa: Nossa Senhora do Rogate, cuja memória se fazno quarto sábado da Páscoa, ou véspera do Dia Mun-dial de Oração pelas Vocações.

Maio chega e, este ano, com umariqueza em celebrações. Inicia-secom a comemoração de São José

Operário (Dia do Trabalhador); no primei-ro domingo celebramos o Dia Mundial deOração pelas Vocações (Dia do Bom Pas-tor); no segundo domingo, o Dia das Mães;no quarto, Ascensão do Senhor (Dia Mun-dial das Comunicações e início da Sema-na de Oração pela Unidade dos Cristãos);no quinto, Pentecostes.

Mês de Maria, mês das mães, mês dasflores... E este ano contemplando tambéma unidade na oração pelas vocações e pelaprópria unidade dos cristãos. “Unidade”,“comunhão”, justamente o objetivo de Je-sus, revelando o grande projeto do Pai, quese transforma, para nós, em serviço de ani-mação vocacional. Trabalhamos para quemais pessoas “abracem” este projeto, cons-truam a comunhão em nosso mundo, tãonecessitado de sinais de vida.

A Rogate quer expressar sua comu-nhão com toda esta riqueza de celebrações,destacando, já em sua capa, a nossa MãeModelo, Nossa Senhora, com o título de“Rogate”, aquela que tão bem entendeu oprocesso vocacional, respondeu ao chama-do e se transformou em animadora.

Parabéns a todas as mães!

A Turma do Triguito

Celebração VocacionalRezemos pelasantificação sacerdotal

ENCARTES

Ano XXVIII - nº 272Maio de 2009

Lançada em maio de 1982, a revista Rogate temregistro de matrícula em São Paulo, 01/10/87,no Livro B de Matrículas do 1º Cartório de Re-gistros de Títulos e Documentos, sob o nº98.906, nos termos dos artigos 8º e 9º da LeiFederal nº 5.250, de 1967. A revista é de pro-priedade dos Rogacionistas do Coração de Je-sus, em colaboração com as revistas: RogateErgo e MondoVoc (ltália), Vocations andPrayer (EUA) e Rogate Ergo (Filipinas).

DIRETOR DE REDAÇÃOJuarez Albino Destro

EDITORJefferson Silveira

COLABORADORESArmando Del Mercato (capa),

Guido Mottinelli, Osmar Koxne (Triguito)e Patrício Sciadini

CONSELHO EDITORIALIzabel Bitencourt Pereira, Dárcio Alves daSilva, Dilson Brito Rocha, Maria da Cruz

Santos, Cláudio Feres e Therezinha Brito Feres

JORNALISTA RESPONSÁVELÂngelo Ademir Mezzari - Mtb 21.175 DRT/SP

IMPRESSÃOGráfica e Editora Linarth Ltda - Curitiba (PR)

SEDE CENTRAL/CONTATOSDireção, Editoria, Secretaria e Administração:

Tel./Fax: (11) 3932-1434 / 3931-3162E-mail: [email protected]

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ASSINATURA ANUALNacional: 40 reais (10 edições ao ano)Exterior: África, Ásia e Oceania - 50 dólares

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Os artigos assinados não expressam,necessariamente, a opinião da Revista

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ENTREVISTAENTREVISTA

Consagradas e consagradosmergulhados na realidade do povo

Na vivência dos conselhos evangélicos, testemunhando aintimidade com Deus e uma fé profunda, a vida consagrada

secular está silenciosamente inserida no cotidiano dasociedade civil como o fermento na massa

Presidente da Confe-rência Nacional dosInstitutos Seculares

(CNIS), Helena Paludonasceu em São Brás, mu-nicípio de São Domingos(SC), mas reside em Curi-tiba (PR), onde recente-mente se aposentou comoassistente social do Servi-ço Público do estado doParaná. Quinta filha deBiágio Paludo e RemitaZanettin Paludo, em uma família de 13 ir-mãos, Helena lembra que desde muitocedo queria seguir uma vocação que pu-desse “ajudar as pessoas”. Aos 12 anoschegou a fazer uma experiência na congre-gação das Filhas da Caridade, mas sentiuque “não respondia aos anseios”. Cincoanos depois, um de seus irmãos, que eraseminarista capuchinho, disse-lhe que ha-via um movimento de pessoas que viviama vida consagrada sem deixar sua vida co-tidiana. Helena se interessou por esta pro-posta e relembra: “quanto mais me apro-fundava no conhecimento da vocação, mai-or era a certeza de ter acertado em minhaopção”. Em maio de 1976 fez seus primei-

ros votos no InstitutoFranciscano Seara e con-fessa: “hoje sou feliz e pos-so transbordar para outraspessoas a alegria e o entu-siasmo de alguém que temum sentido profundo deviver”. Nestes mais de 30anos de vida consagrada,Helena já foi ModeradoraGeral do Instituto Francis-cano Seara e se tornou aprimeira representante do

Brasil no Comitê Executivo da Conferên-cia Mundial dos Institutos Seculares. Nomomento, além da presidência da CNIS ede se dedicar à família, ela tem se prepara-do para atuar na área de discernimentovocacional, para tanto fez especializaçãoem Relação de Ajuda e Aconselhamento,e cursa Logoterapia e a Escola Vocacionaldo serviço de animação vocacional do Re-gional Sul 3 (Rio Grande do Sul).

Rogate: O que a levou a ingressar noInstituto Franciscano Seara?

Helena: Nunca me imaginei em umconvento ou colégio. Pensava em uma vidadedicada às pessoas, sem sair do local onde

Fotos: Arquivo pessoal

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ENTREVISTA

eu estava e sem me desvincular dos meuspais, irmãos, vizinhos. Mas eu não sabiaque havia uma vida consagrada aprovadapela Igreja que se apresentava assim. Ali-ás, eu nasci sete anos depois da aprovaçãoda vida consagrada secular pelo papa PioXII. Ao conhecer o Instituto FranciscanoSeara fiquei imediatamente apaixonada porele, talvez também porque ajudei a cons-truí-lo. Na época era ainda um movimen-to, que mais tarde se reconheceu como uminstituto secular. Deus me deu o InstitutoFranciscano Seara, e me deu ao InstitutoFranciscano Seara.

Rogate: Qual a inspiração da vida con-sagrada secular?

Helena: Nós, dos institutos seculares,queremos vida totalmente consagrada, masplenamente mergulhados na realidade donosso povo, sendo um pequeno mas eficazfermento evangélico. Por isso, nosso es-tar no mundo está estreitamente ligado aosvalores seculares: a família, o trabalho, acidadania, a arte, a cultura, as lutas e ale-grias do povo. Toda a formação dos mem-bros acontece no seio da sociedade civil,com acompanhamento de formadores eformadoras dos respectivos institutos.Nosso agir apostólico não exige que nosdesloquemos de nossa comunidade, em-bora às vezes o compromisso missionárionos chame para além de nossas cidades etemos autonomia para fazermos por inici-ativa pessoal, comunicando ao institutonosso endereço e nossa proposta de tra-balho. A consagração secular implica a vi-vência dos conselhos evangélicos de cas-tidade, pobreza e obediência, com seusdesdobramentos na vida pessoal e frater-na. O compromisso de castidade implica aopção exclusiva por Jesus como único amore, em decorrência, a renúncia ao matrimô-

nio terreno. O compromisso de pobreza éopção de quem tem em Deus a sua únicariqueza e implica o viver do próprio traba-lho e usar dos bens de acordo com as leisdo evangelho, partilhando, portanto, e nãoacumulando para si. O voto de obediênciatem sua raiz na vida de Jesus que fez emtudo a vontade do Pai, e implica em seguiras exigências que estão descritas nas cons-tituições de cada instituto.

Rogate: Há dados estatísticos que apre-sentem um panorama da vida consagradasecular em todo mundo?

Helena: A questão estatística é umadas nossas dificuldades. Não podemos afir-mar o número real de consagrados secula-res no Brasil. Sabemos que a grande mai-oria de membros está na Europa, comotambém a grande maioria dos institutosmais antigos. O Anuário Católico da Igrejaregistra 44 institutos, enquanto a Confe-rência Mundial dos Institutos Seculares,segundo dados de 2005, registra 215 insti-tutos e 32.653 membros, com um decrés-cimo, comparado a 1995, onde eram 35.322membros. O mesmo levantamento regis-tra 5.689 membros na América Latina.Considerando que temos dois terços dosinstitutos da América Latina, estimamosque no Brasil tenhamos cerca de 3.800pessoas consagradas.

Rogate: Este ano a senhora conclui seuprimeiro mandato à frente da ConferênciaNacional dos Institutos Seculares (2005-2009). Que balanço faz da sua gestão?

Helena: Entramos na caminhada quevinha sendo feita pelas pessoas que nosprecederam. Para citar alguns nomes, astrês últimas presidentes da CNIS foram:Inês Broshuis, Elza Gonçalves e MariaAmália Aroso. Cada uma com seu empe-

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nho contribuiu para o avanço pos-sível em cada tempo. Movidaspelo momento histórico, percebe-mos que havia necessidade de umtrabalho incisivo de ampliar o co-nhecimento dos institutos secu-lares dentro da própria Igreja. Emvista deste objetivo, procuramosdiferentes formas de divulgação:por meio da palavra, de documen-tos, aplicação de linguagem ade-quada, divulgação de documentosda Igreja e até mesmo provoca-ções que viessem a contribuircom a reflexão. Um dos âmbitosem que não medimos esforços foipara que o mês vocacional deixas-se de ser reducionista, contem-plando todas as vocações presen-tes na Igreja. Especialmente emrelação à vida consagrada, cele-brava-se o “Dia dos Religiosos”,sem nenhuma menção a outrasformas de vida consagrada pre-sentes no direito e na doutrina daIgreja. A vida consagrada secularera entendida por muitos como pertencen-te à celebração da vocação dos leigos. Apartir do ano passado começou-se a cele-brar esta data como o “Dia da Vida Consa-grada”, além de vermos desfilar ao longodos domingos do mês de agosto toda a ri-queza de vocações e carismas da Igreja.Consideramos que isto seja um avanço im-portante. Outro aspecto significativo foi oinício do site da CNIS (www.cnisbr.com),que ainda está em construção, sendo ins-trumento que ajuda a desvelar o rosto dosinstitutos seculares.

Rogate: Em um de seus artigos, “O si-nal da vida consagrada secular”, a senhoraalega que a proposta dos institutos secula-

res encaixa-se no período de vida de Jesusdos 12 até os 30 anos. Poderia nos explicarmelhor esta tese?

Helena: Queremos falar da vida ocul-ta de Jesus. Dos seus primeiros 30 anossabemos de seu nascimento, apresentaçãono templo, fuga para o Egito e aos 12 anosensinando no templo. No restante desteperíodo de sua vida o Filho de Deus desa-parece no anonimato, ocupando-se de ta-refas comuns aos homens daquele tempo,como filho de um casal comum em umvilarejo. Neste tempo Jesus não apareciacomo o Filho de Deus, mas toda a sua vida,bem como de sua mãe, era totalmente con-sagrada ao seu Pai. Os consagrados secu-lares querem viver como ele viveu. Nor-

Helena Paludo, participando de Assembleia Mundialdos Institutos Seculares, no México

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malmente, na vida civil, social e profissio-nal, não se apresentam como pessoas con-sagradas, mas são conhecidas como mora-doras comuns de tal bairro, como filhos detal família, como profissionais de tal área,como cidadãos que pagam seus impostos,participam da vida social e política de suacomunidade, envolvendo-se nos problemase lutas que todo o povo se envolve. Quere-mos viver nossa consagração total e radi-cal, sem privilégios nem distinções, apenaspela vida consagrada simples e pura, semadereços e roupagens, sem títulos e semproteções externas. Esse modo de vida, doponto de vista apostólico, é fermento silen-cioso, que desaparece enquanto a massacresce, e isto é muito lindo! Mas represen-ta uma forma de vida consagrada que exigepessoas que levem a sério o empenho deuma vida espiritual e litúrgica, pagando pes-soalmente o preço de sua opção e criandoespaços de cultivo interior, na rotina – ouna falta de rotina – da vida civil.

Rogate: Em outro artigo, “Viver e atu-alizar o mistério da vida oculta de Jesus”, asenhora explica que a ‘discrição/segredo’compõe o estilo de vida de um membro deinstituto secular. Isso é compreendido pelasociedade?

Helena: Esta pergunta é muito provo-cativa! É também muito importante! Quan-to mais discreto e sutil for nosso modo deviver, mais poderemos penetrar no interi-or das estruturas do mundo sem sermosnotados, e aí estabelecer relações coeren-tes com o evangelho, sem parecer piegase beatas, minando silenciosamente as arti-manhas do inimigo. Uma hora as pessoassaberão, mas aí já teremos feito algum pro-gresso para o reino, mesmo que seja pe-queno. Frei Eurico de Melo, OFMcap, fun-dador do Instituto Franciscano Seara, gos-

tava de dizer que somos como guerrilhei-ros, disfarçados no meio do exército con-vencional, que se infiltram e se apossamde seus segredos, para poder combater porsua causa. A segunda parte da pergunta éa mais interessante. A sociedade nos com-preende! E há pessoas que ficam admira-das e edificadas ao saberem que a Igrejatem esta forma de vida consagrada, em queas pessoas vivem sua consagração nas con-dições ordinárias do mundo. A proposta deanúncio do reino, na vida consagrada se-cular, não é de anúncio explícito, mas pelotestemunho de vida. Aliás, muito difícil!Existem locais em que não se pode falarde Deus. Nestes lugares sempre se podelevar a presença de Deus no testemunhode uma vida que jorra da intimidade divinae que se robustece exatamente no empe-nho para que as pessoas sejam tocadas pelapresença de Deus na sutileza de pequenosgestos e atitudes que demonstrem que afé vale a pena.

Rogate: Quando um companheiro detrabalho, ou vizinho, ou ainda alguém quecomeça a nutrir um especial afeto pelo con-sagrado ou consagrada, descobre que a ou-tra pessoa é consagrada secular... Em geralquais são as reações mais comuns?

Helena: Isto acontece mesmo! As pri-meiras coisas que normalmente se ouvemsão: “Que desperdício!”. “Você optou poresta vida porque não encontrou casamen-to?”. Já fui desafiada por um colega de equi-pe, que apostava que em seis meses euseria sua namorada. Há poucos dias encon-trei-o na rua e ele me reconheceu de ime-diato, embora eu não o tenha reconhecido.Passaram-se no mínimo 25 anos e eu lhedisse que definitivamente ele perdeu aaposta. Fatos como este colocam em che-que a solidez da formação e a convicção da

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pessoa pela escolha feita. A fidelidade pro-vada numa pessoa que fez um discerni-mento maduro a fortalece, mas quem nãoteve em Deus sua verdadeira motivação,logo se fragiliza e, muitas vezes, sucum-be. É um dos grandes desafios da secula-ridade consagrada!

Rogate: Quanto à diocese e à comuni-dade na qual a pessoa consagrada secularestá inserida, qual deve ser arelação e que trabalhos poderi-am ser executados?

Helena: A atitude de ummembro de instituto secular naIgreja sempre deve ser de co-munhão. A relação é como dequalquer fiel, com a diferençade que seu compromisso deveser maior na fidelidade e aju-da, sempre que a Igreja preci-sar e na medida das habilida-des e dons de cada pessoa.Quanto aos trabalhos, algunsinstitutos têm campos priori-tários de atuação social e/oupastoral, mas em princípio to-dos os trabalhos podem serassumidos na obra da evange-lização, de acordo com as pos-sibilidades de cada pessoa.Embora alguns institutos não revelem aidentidade de consagrado ou consagradasecular, mesmo em ambientes eclesiais,cremos que este é o lugar onde podemosviver a alegria de nossa vocação revelada epartilhada.

Rogate: Como desenvolver a animaçãovocacional frente à necessária ‘discrição’ doestilo de vida da consagração secular?

Helena: A animação vocacional deveacontecer no contexto de toda a Igreja. Os

membros e responsáveis dos institutosseculares devem inserir-se nas equipes deanimação vocacional como todas as outrasvocações. Acreditamos que este é um es-paço privilegiado onde a vocação deve serdivulgada abertamente.

Rogate: Por que a animação vocacio-nal tem dificuldade de “animar” esta voca-ção específica?

Helena: Em primeiro lu-gar há desconhecimento des-ta vocação e ela é confundidacom consagração leiga, comvida religiosa, porque não seconhece sua identidade pró-pria. Em segundo lugar, osinstitutos seculares devemassumir a iniciativa na divul-gação e valorização de suaprópria vocação, inserindo-senas equipes diocesanas e pa-roquiais. A CNIS tem traba-lhado para atingir estes obje-tivos em âmbito geral, mascada instituto deve fazer a suaparte em âmbito local. Não éde agora que a CNIS trabalhapara colocar materiais de di-vulgação na mão dos institu-tos e dos serviços de anima-

ção vocacional, e continuamos esta tarefa,que deve ser permanente.

Rogate: Por que ainda em muitas ora-ções, ou artigos, a Igreja se refere aos religi-osos e religiosas, e não à vida consagradade forma mais ampla?

Helena: O crescimento dos institutosseculares não acontece de forma espontâ-nea. O que se consegue de estímulo é comgrande empenho. Trabalhamos para abrirbrechas também nos espaços eclesiais,

Esse modode vida,

do ponto devista apostóli-co, é fermentosilencioso, que

desapareceenquanto a

massa cresce...

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como costumamos fazer no mundo do tra-balho, para introduzir novas relações quese coadunem com o evangelho. Por enquan-to somos especialistas em abrir brechas eaproveitar brechas. Em muitas orações enos escritos da Igreja somos ignorados,como se não tivéssemos cidadania. Este fatoestá vinculado à tradição de rezar pelas “vo-cações sacerdotais e religiosas”, que per-durou durante séculos. Passados 60 anos daConstituição Apostólica Provi-da Mater Ecclesia, que reco-nheceu os institutos seculares,ainda perdurava a mesma con-dição aqui no Brasil. Com nos-sa insistência e perseverança,nos últimos dois anos, se co-meçou a celebrar o domingo da“vida consagrada”, de formamais abrangente. Mudar nopapel é um bom começo, masé só o começo. Demorará ain-da um tempo para que esta vi-são se incorpore na tradição ena linguagem da Igreja e dopovo de Deus.

Rogate: É um dos desafi-os do serviço de animação vo-cacional...

Helena: Em certas ocasi-ões ainda se sente no ar um clima de con-corrência! Os institutos seculares não es-tão aqui para concorrer com as formas devida consagrada anteriormente consolida-das. Somos um dom do Espírito à sua Igrejae não podemos deixar este dom congela-do, urgidos por um apelo que vem daqueleque nos chama. Na Igreja há espaço paratodas as vocações e para todos os dons, e,em contrapartida, todos os fiéis têm direi-to de conhecer os projetos de vida que oSenhor, pela Igreja, coloca à sua disposi-

ção. A riqueza da Igreja se revela nos inu-meráveis dons e carismas, e ninguém temo direito de guardar só para si o que Deusreservou para muitos, como ninguém podeprender o Espírito.

Rogate: Ao que se deve a falta de maisdivulgação do Dia da Vida Consagrada (02de fevereiro)?

Helena: Este dia é muito especial paranós, pois é a data que marca oreconhecimento dos institu-tos seculares pelo papa PioXII. Porém, a dificuldade dedivulgar a vida consagrada nãopode ser vista de maneirasimplista. Na Igreja existeuma grande preocupação coma “manutenção”, para a qualtêm prioridade as vocaçõesaos ministérios ordenados.Não creio que se deva desvi-ar o foco destas vocações, masjunto com estas se faz neces-sário o cultivo de toda a rique-za vocacional da Igreja, pois ocorpo da Igreja se compõe dediversos membros, para os di-versos serviços e ministérios,nos quais ela encontra sua in-teireza. A pessoa consagrada

deve fazer tudo o que puder para colabo-rar com a missão da Igreja, e isto é parteessencial. Na missão do serviço, temos queser sempre os primeiros a perceber ondesomos necessários, e não podemos nosacomodar enquanto tantos arriscam a vidapelo evangelho. Temos que estar bem des-pertos, na linha de frente! Mas para queexistam mais pessoas que se encantem edoem a vida nesta vocação, que é serviçoao povo de Deus e sinal de sua primazia navida das pessoas, precisamos trabalhar pela

A riqueza daIgreja se revelanos inumerá-veis dons ecarismas, e

ninguém temo direito deguardar só

para si o queDeus reservoupara muitos,

como ninguémpode prender

o Espírito

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valorização das vocações à vida consagra-da, como dom do Senhor à sua Igreja, comoinstrumento de santificação e modelo deseguimento de Jesus. A vida consagrada,assim como as vocações ao sacerdócio eao laicato cristão, necessita ser estimula-da, cultivada, reconhecida e valorizada apartir de sua essência. A sociedade, comalgumas exceções, reconhece o valor dostrabalhos das pessoas consagradas, espe-cialmente em escolas, hospitais, obras so-ciais, mas ainda enxerga como opção paraos filhos das outras famílias, não para osseus próprios filhos e filhas. E hoje, emfamílias tão pequenas, ter pessoas consa-gradas seria deixar de garantir a continui-dade da família!

Rogate: A vida consagrada secular pro-fessa os conselhos evangélicos de pobreza,castidade e obediência. É um sinal de que épossível construir um mundo diferente?

Helena: Cremos que este é um sinalde que Deus continua amorosamente apai-xonado pelo mundo, e chama alguns deseus filhos e filhas para irem a todos oslugares, em todas as profissões, em todosos espaços sociais, para demonstrar com aprópria vida que Deus ama a humanidade,com toda a carga de história e de vida quetraz consigo. Os conselhos evangélicos sãoum chamado de Deus a poucas pessoas,para o bem do reino. Não se justificam enão se sustentam fora da realidade eclesi-al, porque se destinam a uma obra de san-tificação, que supera a realidade pessoal.Sob este ponto de vista, só se pode vivê-los integralmente na comunhão eclesial eservindo-se dos recursos que a Igreja co-loca à disposição de todos para a santifica-ção: a vida sacramental, litúrgica, a Pala-vra de Deus e os exercícios de contempla-ção e cultivo da espiritualidade própria de

cada família de vida consagrada. Não exis-te vida totalmente consagrada fora destecontexto. Não se pode dizer que tem soli-dez uma opção radical por Jesus Cristo emalguém que fica sem frequentar os sacra-mentos da penitência e da eucaristia, semcontato assíduo com a Palavra de Deus esem participar da vida litúrgica da comu-nidade onde se vive. Em Maria de Nazaré,a mulher consagrada a Deus de forma ex-cepcional, as pessoas consagradas encon-tram o modelo acabado de pessoa consa-grada, do seguimento de Jesus e de vivên-cia eclesial. Ela é nossa mestra, a primei-ra discípula na escola de Jesus, que nãoreservou absolutamente nada para si, mastudo entregou a ele. Os conselhos evan-gélicos representam esperança na constru-ção de um mundo diferente. Mas é cons-trução no seio do mundo que está aí, para,aos poucos, inserir valores e vivências queo transformem por discretas e pequenasações, que animem o crescimento do mun-do que Deus deseja.

Rogate: Uma mensagem para as pes-soas envolvidas no serviço de animação vo-cacional...

Helena: Vocês são os cultivadores dassementes da lavoura de Deus! Acreditemna essencialidade de seu trabalho e façamesta animação sempre pedindo as luzes doEspírito Santo, para que as pessoas quepassarem por vocês possam dizer que en-contraram uma luz que os fez divisar a von-tade de Deus a seu respeito! A Igreja pre-cisa dos frutos das sementes que vocêscultivam. Que Maria cuide de todos e cadaum dos animadores vocacionais e os façacada dia mais vibrantes testemunhas doamor com que o Senhor ama a cada pes-soa, especialmente os nossos jovens.

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E S T U D OESTUDO

Resgate histórico doserviço de animação vocacional

Na proposta de redação para a primeira parte do Texto-basedo 3º Congresso Vocacional do Brasil, recupera-se a

caminhada vocacional dos últimos anos

Para o estudo da história da pastoralvocacional ou do serviço de anima-ção vocacional no Brasil foram uti-

lizados muitos artigos da revista Rogatee do boletim Convocação, que era um in-formativo editado pelo Centro Rogate doBrasil em parceria com o setor vocacionalda Conferência Nacional dos Bispos doBrasil (CNBB). A revista Rogate já temquase 30 anos de serviço nesta área espe-cífica, sendo criada em 1982. Acompanhoua realização dos Anos Vocacionais no Bra-sil (1983 e 2003) e dos Congressos Voca-cionais do País (1999 e 2005). Está em sua272ª edição. O boletim Convocação foi lan-çado no mês vocacional de 1991, exata-mente 10 anos após a celebração do pri-meiro mês vocacional, em âmbito nacio-nal (1981). Teve 71 edições em 16 anos de

existência. Sua última edição, dupla (n. 70-71), foi de julho-dezembro de 2006. Poruma série de fatores, dentre eles a chega-da da Internet e o crescimento de seu usopor parte dos animadores vocacionais, oConvocação impresso deixou de ser edita-do. A ideia era transformá-lo em boletimonline, mas a proposta deveria ser analisa-da pela CNBB.

PV ou SAV?

Com relação à terminologia adotada nopresente estudo, se “pastoral vocacional”(PV) ou “serviço de animação vocacional”(SAV), são necessárias algumas conside-rações prévias. Para o teólogo italiano VitoMagno, a pastoral vocacional tem uma pré-história, que engloba Antigo e Novo Tes-tamentos, a etapa dos Padres da Igreja, indo

Fotos/Ilustrações: Arquivo Rogate/Convocação

Foto do1º CongressoVocacionalLatino-america-no, realizado noBrasil, em 1994,e logomarca do1º CongressoVocacional doBrasil (1999)

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ESTUDO

até meados do século 19. Em seguida vema história da pastoral vocacional, cujo mar-co é 1935, com a Encíclica Ad catholicisacerdotii, considerada o “ponto de parti-da para uma pastoral vocacional orgânica”.1

O conceito ou uso da nomenclatura “ser-viço de animação vocacional” é recente.Encontra-se, por exemplo, no documentoda Pontifícia Obra das Vocações, “Desen-volvimento da Pastoral Vocacional nasIgrejas Particulares”.2 No 1º Congresso Vo-cacional do Brasil, em 1999, surgiu a pro-posta de mudança de nomenclatura da pas-toral vocacional para “SAV ou evangeliza-ção vocacional, para superar a pastorizaçãodesta atividade e de toda a Igreja”.3 Perce-be-se em seu documento final que os doisconceitos foram usados, muito mais “pas-toral vocacional” do que “serviço de ani-mação vocacional”. Nos documentos quevieram depois, o uso do conceito “serviçode animação vocacional” aumentou consi-deravelmente. Basta analisar o Texto-basedo 2º Ano Vocacional (2003), o Texto-basee o Documento conclusivo do 2º Congres-so Vocacional (2005). Hoje os dois concei-tos são utilizados, dependendo do contex-to ou entendimento local.

Em análise geral, uma pastoral, seja elaqual for, deve estar a serviço. A pastoralvocacional, estando a serviço da animaçãovocacional, pode ser designada diretamen-

te de “serviço de animação vocacional”,mantendo o mesmo significado. A palavra“pastoral”, que tem sua raiz derivada de“pastor”, carrega consigo o significado de“guia”, “condutor”, “responsável”. Umapastoral, seja ela qual for, deve guiar e con-duzir seus membros na direção do objeti-vo, e se responsabilizar pela sua ação, paraque dê frutos. Mais que mudança de no-menclatura, a urgência é mudar o enten-dimento, compreender o significado doconceito “pastoral vocacional” ou “servi-ço de animação vocacional”. Afinal, nemsempre a reflexão teológica anda junto coma práxis pastoral, mencionou o teólogo VitoMagno em seu estudo doutrinal sobre apastoral vocacional, na busca de uma defi-nição para o conceito. Seja um conceito ououtro a se utilizar, deve ser compreendida(a pastoral) ou compreendido (o serviço)como uma “ação mediadora fundamentadana oração e no anúncio da Palavra de Deus;uma ação de toda a Igreja; parte essenciale irrenunciável da pastoral eclesial de con-junto, que abraça todas as expressões pos-síveis da vocação cristã. [...] A pastoralvocacional nasce do mistério da Igreja ese coloca a serviço para promover a varie-dade de carismas, ministérios e, como con-sequência, das diversas vocações”.4

Neste estudo do resgate histórico re-solveu-se manter a nomenclatura princi-

A partir da esquerda:logomarca do 2º AnoVocacional no Brasil,celebrado em 2003;cartaz e logomarcado 2º CongressoVocacional do Brasil,realizado no ano 2005

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ESTUDO

pal utilizada no contexto em que se estavavivendo. Veremos que os dois conceitosquerem significar o mesmo.

A PV no mundo

A Carta Encíclica Ad catholici sacerdotii,de Pio XI (1922-1939), sobre o sacerdóciocatólico, datada de 20/12/1935, pode serconsiderada o germe da moderna pastoralvocacional por acentuar a necessidade dese ter vocações na Igreja, destacando aoração vocacional como o principal meiode obtê-las. Anos depois, em 1941, o papaPio XII (1939-1958) instituiu a PontifíciaObra das Vocações Sacerdotais. Seus obje-tivos foram renovados e ampliados peloConcílio Vaticano II (1962-1965) paraabranger não apenas as vocações sacerdo-tais, mas também as demais. Começou aser chamada de Pontifícia Obra das Voca-ções Eclesiásticas (ou, simplesmente, Pon-tifícia Obra das Vocações). Após o Concí-lio, a Pontifícia Obra passou a investir narealização de congressos, visando a trocade experiências e o início de um trabalhocomum no segmento vocacional. Os pri-meiros quatro congressos de âmbito inter-nacional foram realizados em Roma (1966,1967, 1969 e 1971).

A partir do congresso de 1971, a Ponti-fícia Obra das Vocações incentivou que asConferências Episcopais elaborassem seusPlanos de Ação Nacional para as Vocações,que foram analisados no 1º Congresso In-ternacional dos Bispos delegados das Con-ferências Episcopais, ocorrido em Roma,de 20 a 24 de novembro de 1973. O docu-mento final apresenta a necessidade deuma reflexão teológica segura e adaptada,com um plano de ação que possa ajudar aspessoas a descobrirem seu chamado naIgreja e no mundo, e a assumirem - a par-tir desta descoberta - sua missão, seu com-

promisso. O documento apresenta, ainda,alguns princípios da pedagogia e da orga-nização da pastoral vocacional.5

Este 1º Congresso Internacional con-vidou os bispos a elaborarem seus Planosde Ação Diocesanos para as vocações. Fo-ram enviados mais de 700 planos de diver-sos países, que subsidiaram a realização do2º Congresso Internacional dos Bispos ede outros representantes das VocaçõesEclesiásticas (Congresso Internacional dasVocações), que aconteceu em Roma, de 10a 16 de maio de 1981.

Três anos depois da realização destecongresso, a Pontifícia Obra das VocaçõesEclesiásticas apresentou ao papa João Pau-lo II um projeto para a realização de con-gressos continentais. Na época, João Pau-lo II aprovou, abençoou e incentivou o pro-jeto, que tinha como objetivo colher asexperiências das Igrejas locais paraoferecê-las à Igreja universal. Seguiu-se,então, a consulta às Conferências Episco-pais e dos Superiores Maiores, bem comode outros dois dicastérios, o da EducaçãoCatólica e o dos Institutos de Vida Consa-grada. Em 1992, diante do parecer favorá-vel de todos, o projeto foi concluído e de-cidiu-se pela realização do 1° CongressoContinental de Vocações na América Lati-na, por ser o continente com maior núme-ro de católicos. Com o tema: “A PastoralVocacional no continente da esperança”,ele foi realizado de 23 a 27 de maio de 1994,em Itaici, Indaiatuba (SP).

Após a experiência deste 1º Congres-so Continental, foram realizados mais doiseventos semelhantes: na Europa, emRoma, Itália, de 05 a 10 de maio de 1997(tema: “Novas vocações para uma novaEuropa”); e na América do Norte, em Mon-treal, Canadá, de 18 a 21 de abril de 2002(tema: “Vocação: dom de Deus, ao povo de

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ESTUDO

Deus”). Um 2° Congresso Vocacional La-tino-Americano já começou a ser articula-do para 2011. Seria considerado o 4º Con-gresso Continental de Vocações?

PV-SAV no Brasil

A história da pastoral vocacional noBrasil, dentro do contexto mundial, é cheiade iniciativas, desafios e conquistas, comojá apresentada em documentos recentes,especialmente nos textos preparatóriosaos congressos vocacionais (1999 e 2005)e ao Ano Vocacional de 2003.

O Ano Vocacional de 1983No Encontro Nacional de Pastoral Vo-

cacional de 1974, realizado no Rio de Ja-neiro (RJ), houve a sugestão de se fixardatas vocacionais, como dias, semanas oumeses, como meios de mobilização do povoe conscientização para a causa. Os partici-pantes do encontro sugeriram à coordena-ção nacional que procurasse fixar inclusi-ve um “ano vocacional”.6 Tais indicaçõesforam ganhando força, motivadas por ex-periências bem sucedidas de outrasdioceses e até Regionais da CNBB, comopor exemplo a realização do Ano Vocacio-nal no Regional Sul 2 (Paraná), em 1973.7

Desta forma, no Encontro Nacional de Pas-toral Vocacional de 1980 houve a propostaconcreta de se instituir agosto como o mêsvocacional no País e também a realização,em 1983, de um Ano Vocacional. As duaspropostas foram levadas à Assembleia daCNBB de 1981 e foram aprovadas.

A abertura do ano ocorreu no 20º DiaMundial de Oração pelas Vocações, em 24de abril de 1983. O tema: “Vem e segue-me”.

O Ano Vocacional de 2003Em 2003 foi realizado o segundo Ano

Vocacional no país, 20 anos após a primei-

ra experiência, com o tema: “Batismo, fon-te de todas as vocações”, e o lema: “Avan-cem para águas mais profundas” (Lc 5,4).O projeto foi aprovado na 39ª Assembleiada CNBB, em 2001, com o objetivo de “aju-dar a Igreja a perceber-se como assembleiados vocacionados e vocacionadas”.8 Inte-ressante ressaltar que o Texto-base trou-xe, na primeira parte, o resultado de umapesquisa realizada em todos os Regionaisda CNBB, avaliando a caminhada da Igrejado Brasil após dois anos da realização do1º Congresso Vocacional. Tal pesquisa vo-cacional, organizada pelo então Grupo deAssessoria Vocacional da CNBB, em par-ceria com o Instituto de Pastoral Vocacio-nal (IPV), revelou elementos importantessobre a aplicabilidade dos resultados docongresso de 1999.9

A abertura do segundo Ano Vocacionalaconteceu no Santuário Nossa SenhoraAparecida, na Festa do Batismo de Jesus,no dia 12 de janeiro de 2003. Sua conclu-são foi no dia 23 de novembro, na Soleni-dade de Cristo Rei, Dia dos Cristãos Lei-gos e Leigas.

O Congresso Vocacional de 1999O fato do 1º Congresso Continental de

Vocações ter sido na América Latina, emais precisamente no Brasil, e a proximi-dade do final do milênio, foram estímulospara que também os segmentos que atu-am na animação vocacional em todo terri-tório nacional partilhassem suas experiên-cias e esperanças em um momento co-mum. Assim surgiu em 1997, dentro doIPV, a ideia de se realizar o 1º CongressoVocacional do Brasil. A proposta foi enca-minhada para o então Setor Vocações e Mi-nistérios da CNBB e aprovada.10 O 1º Con-gresso foi realizado de 1º a 05 de setem-bro de 1999, em Itaici, Indaiatuba (SP), com

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ESTUDO

Juarez Albino DestroReligioso Rogacionista e sacerdote

o tema: “Vocações e Ministérios para oNovo Milênio”, e o lema: “Coragem! Le-vanta-te, ele te chama” (Mc 10,49b).

Ver-julgar-agir foi o método de traba-lho utilizado durante todo o congresso. Oteólogo jesuíta, João Batista Libanio, tra-balhou o ver, a partir do tema “Situar a Igre-ja”. O julgar foi refletido pelo teólogoservita, Clodovis Boff, com o tema “Teo-logia das Vocações”. O agir teve assesso-ria do teólogo José Lisboa Moreira de Oli-veira, que abordou as “Pistas e Perspecti-vas para o Serviço de Animação Vocacio-nal no Novo Milênio”.

O Congresso Vocacional de 2005Após seis anos da realização do 1º Con-

gresso Vocacional, a Igreja do Brasil cele-brou a realização da segunda edição destegrande encontro. De 02 a 06 de setembrode 2005, também em Itaici, realizou-se o2º Congresso Vocacional do Brasil, a par-tir da temática: “Igreja, povo de Deus aserviço da vida”, e do lema: “Ide tambémvós para a minha vinha!” (Mt 20,4).

Lançado em agosto de 2004, o Texto-base do 2º Congresso animou as comuni-dades a refletirem sobre o ver (memóriada animação vocacional no Brasil), o jul-gar (chamados e enviados à vinha do Se-nhor) e o agir (fundamentos teológicos eindicações pastorais).

Durante os dias do congresso, o marcosituacional foi trabalhado pelo teólogo Al-fonso García Rubio, com o tema “Antropo-logia Vocacional; a pessoa humana no con-texto sócio-político-cultural e eclesial”. Areligiosa e psicóloga, Patrizia Licandro,abordou o tema “As opções vocacionais”,destacando a importância do acompanha-mento personalizado para o discernimentovocacional. No marco teológico, Frei LuizCarlos Susin, doutor em Teologia, refletiu

sobre o “Povo de Deus: vinha e vinhateirospara o Reino”. E, no marco operacional, JoséLisboa Moreira de Oliveira falou sobre otema “Apertar o passo; fundamentos teoló-gicos do método pedagógico vocacional”, eo teólogo Ângelo Ademir Mezzari, jornalis-ta responsável da Rogate, ministrou pales-tra sobre “A metodologia e o planejamentono Serviço de Animação Vocacional”.

As reflexões dos assessores e o docu-mento final do evento foram reunidos numúnico volume, na coleção Estudos daCNBB, número 90, da Paulus Editora.

Referências bibliográficas

1. MAGNO Vito. Pastorale delle Vocazioni:storia. In.: Dizionario di Pastorale Vocazionale.Roma, Rogate, 2002, p. 817.

2. PONTIFÍCIA OBRA DAS VOCAÇÕES. De-senvolvimento da Pastoral Vocacional nas Igre-jas Particulares. Vaticano, 1992, n. 59 e 65.

3. CNBB-IPV. 1º Congresso Vocacional doBrasil; Memórias. Brasília, 2000, p. 87.

4. MAGNO Vito, Pastorale delle Vocazioni:dottrina. In.: Dizionario di Pastorale Vocazionale,Op. Cit., p. 813 e 814.

5. Cf. CNBB. A Pastoral Vocacional; realida-de, reflexões e pistas. São Paulo, Paulinas, 1974(Estudos da CNBB 05).

6. Idem, p. 148 e 150.7. Cf. STACHESKI, Sérgio. Visão geral da

pastoral vocacional no Paraná. In.: RevistaRogate, n. 11, abr/1983, p. 09-10.

8. CNBB. Batismo: fonte de todas as voca-ções; Texto-base do Ano Vocacional - 2003.Brasília, 2002, n. 04.

9. Cf. Idem, n. 29-53.10. Cf. CNBB. Igreja, povo de Deus a servi-

ço da vida; Texto-base do 2º Congresso Voca-cional do Brasil - 2005. Brasília, 2004, n. 37.

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ESPECIALESPECIAL

Com o tema “Novastecnologias, novasrelações; promover

uma cultura de respeito, dediálogo, de amizade”, amensagem do papa BentoXVI aborda o impacto dasnovas tecnologias digitaisna área da comunicação enas relações humanas (cf.Rogate n. 270, mar/09, p.13-16). Para auxiliar a re-flexão dos animadores e animadoras voca-cionais, a Rogate apresenta nesta ediçãoum extrato do trabalho desenvolvido pelareligiosa paulina, Joana Puntel, jornalistae doutora em Comunicação pela Universi-dade de São Paulo (USP) e pela SimonFraser University, do Canadá, membro daequipe de reflexão sobre comunicação daConferência Nacional dos Bispos do Bra-sil (CNBB).

IntroduçãoHá 43 anos, o Magistério da Igreja, por

meio das mensagens para o Dia das Co-municações dos papas Paulo VI, João Pau-lo II e, atualmente, Bento XVI, acompa-nha o desenvolvimento e as contínuas mu-

43º Dia Mundial das Comunicações

Na Solenidade da Ascensão, dia 24 de maio,a Igreja reflete sobre as Comunicações Sociais. A doutoraJoana Puntel, religiosa paulina, destaca a importância da

celebração da data e faz um estudo da mensagem do papaBento XVI para a edição deste ano

danças que ocorrem noâmbito da comunicação,um fenômeno em contínuatransformação, na explo-são de sua criatividade, desuas articulações e de suasconsequências na socieda-de contemporânea. O pri-mado de tais mensagens, àluz da missão fundamentalda Igreja, tem sido semprepôr a pessoa como centro

do papel histórico e da função que os mei-os de comunicação têm na construção doviver humano, segundo a sua vocaçãobasilar de ser humano e filho de Deus.

Sobre o Dia Mundialdas Comunicações

É sempre importante mencionar a ori-gem e trajetória do Dia Mundial das Co-municações, a fim de que se crie uma cul-tura sobre a profundidade desse “manda-to” da Igreja, o qual passa despercebido atépor vários setores da instituição. Trata-sede algo solicitado pelo Concílio VaticanoII, quando a Igreja, levando em considera-ção as profundas transformações da socie-dade e os avanços tecnológicos em todos

Divulgação

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ESPECIAL

os setores, percebeu também o próprio“despreparo” nesse campo. Assim, ela en-tendeu que, a respeito da comunicação, nãobastava apenas a profissionalização e acompetência técnica no uso dos meios,mas também a compreensão da evoluçãoda comunicação nas suas mais diferentesexpressões, como linguagem, como cultu-ra e, sobretudo, como elemento articuladorda sociedade.

Encontramos, então, no Decreto InterMirifica (n. 18): “Para reforçar o variadoapostolado da Igreja por intermédio dosmeios de comunicação social celebre-seanualmente, nas dioceses do mundo intei-ro, um dia dedicado a ensinar aos fiéis seusdeveres no que diz respeito aos meios decomunicação, a se orar pela causa e a re-colher fundos para as iniciativas da Igrejanesse setor, segundo as necessidades domundo católico”. Para levar adiante a aten-ção-ação nesse importante setor da comu-nicação, e lembrando o reconhecimentoque o decreto externara sobre a importân-cia da comunicação, o papa Paulo VI, cria,em 1964, por intermédio do documento InFructibus Multis, a Pontifícia Comissãopara as Comunicações Sociais, com a fina-lidade de coordenar e estimular a realiza-ção das propostas dos padres conciliares.

A fim de pôr em prática as recomenda-ções já mencionadas, a Pontifícia Comissão,após receber, em 1964 e 1965, o parecer depresidentes de Comissões Episcopais so-bre como aplicar o que foi estabelecido non. 18 do Inter Mirifica, criou o Dia Mundialdas Comunicações Sociais (em 1966), coma aprovação do papa. E no dia 7 de maio de1967 celebrou-se pela primeira vez, no mun-do inteiro, o Dia Mundial das ComunicaçõesSociais (sempre no domingo da Ascensão).

Portanto, com o intuito de “suscitar naIgreja e no mundo uma atitude social nova

e salutar com relação ao uso desses ins-trumentos”, desde 1967, os papas escre-vem anualmente uma mensagem para essedia. Em 2009, temos a significativa men-sagem de Bento XVI: Novas tecnologias,novas relações; promover uma cultura derespeito, de diálogo, de amizade.

A crescente consciênciada Igreja

Primeiramente, percebe-se a atualida-de da mensagem, expressa já no título porparte de Bento XVI, que reafirma o pen-samento positivo do Magistério sobre acomunicação, semeado ao longo de seusdocumentos. É a consideração das “mara-vilhosas invenções técnicas”, dons deDeus, à medida que criam laços de solida-riedade entre as pessoas, e também resul-tado do esforço humano, portanto do pro-cesso histórico-científico. O avanço dastecnologias de comunicação, entretanto,constitui para a Igreja não somente objetode “uso” dos meios, mas uma preocupa-ção e um incentivo para perceber a comu-nicação “mais do que um simples exercí-cio na técnica” (Igreja e Internet, n. 3).

Vivemos em um planeta envolto emuma infinita rede comunicativa na qual apessoa, em qualquer lugar do globo, podeentrar em contato com outra pessoa, cul-tura, trabalho, entretenimento. Chegamosa uma etapa em que cada ser humano setransforma em um “nó” comunicativo co-ligado a todos os outros. Nessa perspecti-va, já não se poderá viver senão “em rede”.Estamos imersos no fluxo da comunicaçãomidiatizada como se fosse “num aquário”.

Novas relaçõesConsiderando o quadro evolutivo da

comunicação, mencionado de forma sucin-ta, e a provocação que a cultura midiática

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ESPECIAL

Joana PuntelReligiosa Filha de São Paulo (Paulina)

cria e recria no mundo atual, damo-nosconta de que algo nunca vivido antes estáse passando e “forjando novo sujeito” nasociedade, onde permanecem as necessi-dades fundamentais do ser humano, masmodifica-se rápida e profundamente a suaforma de se relacionar. É o que constitui oaspecto antropológico-cultural da mensa-gem de Bento XVI em seu tema “Novastecnologias, novas relações”.

Promover cultura de respeito,diálogo, amizade

A mensagem de Bento XVI para este43º Dia Mundial das Comunicações vemnos dizer que justamente nesse novo pa-norama comunicacional, por vezes as-sustador, está a oportunidade de promo-ver uma cultura de respeito, de diálogo, deamizade. Tudo depende de uma pessoabem formada nos princípios. Isso requer:

• sistemas educativos que apontem,desde a infância, para essa possibilidade (osdocumentos da Igreja, sobretudo Igreja eInternet e Ética na Internet – 2002, sãoenfáticos no que diz respeito a tal necessi-dade). Uma educação (escolas, universida-des) competente em compreender e dis-cutir as modalidades e linguagens comu-nicacionais contemporâneas, apresentan-do os valores essenciais da pessoa huma-na, do ponto de vista humano-cristão. As-sim, o conteúdo que circulará nas “intera-tividades” existentes na cultura digital seráde respeito, amizade e valorização do serhumano. Trata-se de grande oportunidadepara a educação, pois toda a expressãocomunicacional será o “produto” daquiloque a pessoa tem dentro de si, como prin-cípio, como valor;

• a produção de programas (softwaresetc) e conteúdos favorecedores de uma pla-taforma que possibilite e promova o desen-

volvimento de conteúdos que constroeme alimentam o respeito, a dignidade e asrelações de amizades e bem-estar do serhumano. A circulação desses valores nasinterconexões, nas interfaces que as no-vas tecnologias nos proporcionam, depen-de também da criatividade de quem pro-duz comunicação – dos operadores da co-municação. Reside aqui uma tarefa de gran-de responsabilidade para essas pessoas, aquem o papa faz um apelo todo particular.De modo especial, os operadores da comu-nicação são os atores principais na cons-trução de uma sociedade pautada nos va-lores, e a eles devemos apoiar e nos unir.

Oxalá a mensagem de Bento XVI sejade estímulo para a discussão, o debate, aconscientização e a geração de novascriatividades, dentro e fora da Igreja, paraa construção de uma sociedade comunica-cional baseada na promoção do respeito,do diálogo e da amizade – valores consti-tutivos da evangelização, missão essenci-al da Igreja.

Para aprofundar o estudo:

1. Quais as iniciativas na minha co-munidade para formar consciências fren-te às responsabilidades que tocam a cadapessoa, grupo ou sociedade, como usuá-rios dos meios de comunicação?

2. Avaliar nossa ação diante da mídia,enquanto animadores vocacionais, paraque seja empregada conforme o desíg-nio de Deus sobre a humanidade, ou seja,para o bem comum.

3. O que podemos fazer como gestoconcreto, ou de solidariedade, em rela-ção às iniciativas de evangelização nocampo da comunicação social?

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VOCACIONALANIMAÇÃO VOCACIONAL

Incapacidade de decisão

Amedeo Cencini inicia a reflexão da primeira partedo livro Evangelho jovem 2, “escolher ou não escolher”,com a reflexão sobre o ponto nevrálgico de toda animaçãovocacional, isto é, a incapacidade de se tomar decisões

Há quem se abra ao mistério e de-safia a própria existência enfren-tando possibilidades inéditas, não

mais medidas por uma lógica subjetiva,nem bloqueadas em uma medida medío-cre, previsível e repetitiva. Quem se abreao mistério entra na lógica da vocação.

São poucos os temas que apaixonamtanto o ser humano como o da liberdade.Para adquiri-la estamos dispostos a enfren-tar todo tipo de luta, pelo menos na teoria,ou de um ponto de vista exterior e super-ficial.

Na prática, em um nível mais profun-do, as coisas são um pouco diferentes. Aliberdade parece ser como um objeto mis-terioso dos nossos sonhos e desejos, al-mejado por todos e ao mesmo tempo te-mido, pela costumeira coerência humana,onde aquilo que se deseja intensamente émuito maior até daquilo que se tem umcerto temor. Veja, por exemplo, o que acon-tece com a ideia sobre Deus. Nós temos“sede” de Deus, mas o seu amor nos ame-dronta e nos dá vertigens; talvez fossemelhor ou suficiente que Deus nos amas-se um pouco menos! Nossa vida seria me-nos complicada.

Um dos sinais mais evidentes destacontradição, e do curto-circuito por ela cri-

ado, é a indecisão ou a incapacidade dedecidir-se. Vivemos, poderíamos dizer,numa cultura da indecisão, e os jovens dehoje, filhos de pais, educadores, professo-res... indecisos, formam exatamente umageração de indecisos. A crise das vocaçõestalvez não se trate de um sinal típico destasituação? O que mais preocupa não é o va-zio, mais ou menos desolador, de seminá-rios e noviciados, e sim a falta daquela ati-tude fundamental de escolha que todo jo-vem deveria ter diante da vida em geral, edo seu futuro em particular, qualquer queseja. Esta postura assume formas interes-santes e diferentes. Vamos analisar algu-mas, partindo do nível mais pobre e incon-sistente.

A “não escolha”É o nível zero, típico de quem nunca

gostaria de escolher, se o pudesse, e quan-do deve mesmo fazer uma escolha – des-de aquela da orientação escolar até a dasférias –, a adia para o último momento, oufica sempre perplexo, cheio de dúvidas econflitos.

Na verdade estas pessoas escolhemmuito pouco na vida e correm sobretudo orisco de não tomar nunca uma decisão di-ante dos grandes problemas da existência,

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19Rogate 272 maio/09

ANIMAÇÃO VOCACIONAL

ficando sempre numa posição amorfa eneutra. A pessoa parece chegar ao térmi-no da vida sem nunca ter decidido viver.De fato, o ser humano nasce por uma es-colha de outros, mas a qualidade da vida, enormalmente também a da morte, está li-gada a uma decisão própria!

Escolha delegada e rápidaNa realidade é impossível não fazer es-

colhas na vida; quem pretende viver as-sim acaba aceitando, mesmo sem saber, asescolhas feitas por outros no seu lugar,como se tivesse dado a vida (e o cérebro)a um empreiteiro.

É o caso de jovens, em primeiro lugar,que parecem sofrer com seus instintos esentimentos, tornando-se escravos deles,mesmo sem saber. Seriam como primiti-vos adoradores de deuses desconhecidos.Não fazem opção por valores e não têm acoragem de dar um sentido original à suahistória, mas absorvem a cultura que estáao redor deles, assimilando tudo e nuncadescobrindo o gosto da pesquisa pessoal.Ou são como jovens que não escolhem ab-solutamente seu futuro, porque este já estáprogramado por agências de trabalho maisou menos oportunas, como os pais, o mer-cado, a conveniência econômica, a opiniãodominante...

Hoje há muito “papo-furado” em nossomeio, um risco a todos nesta sociedade dacomunicação imperiosa e dominadora.

Escolha contraditória e banalÉ a decisão de quem, em cada escolha,

deixa sempre aberta a possibilidade devoltar atrás, podendo de qualquer formadesmentir a decisão tomada, a palavra pro-nunciada ou o compromisso assumido. É aescolha de quem está com medo do “parasempre”, e que termina contradizendo omistério da liberdade humana e tornandobanal o ser, provocando a desconfiança napalavra e deixando inseguro o relaciona-mento. Mas também acaba querendo can-celar o drama da vida humana: a pessoapode decidir abandonar sua vida diante de

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Amedeo CenciniReligioso Canossiano e sacerdote

Cf. Vangelo Giovane 2; compendio di animazionegiovanile e vocazionale. Roma, Rogate, 2005.

Trad. Guido Mottinelli - Sacerdote Rogacionista

um ideal, de um afeto, de um projeto...,pode entregar-se a tudo isso, e em defini-tivo (isto é, de entrega em entrega), a umOutro, ou a qualquer coisa que o supera ena qual põe sua confiança. Aliás, não so-mente o pode, mas deve fazê-lo, natural-mente decidindo, ele e somente ele, aquem ou a que coisa entregar-se, mas de-pois permanecendo fiel, mesmo quando háum preço a pagar.

Cada escolha autêntica manifesta, im-plícita ou explicitamente, este drama quetraz consigo a dignidade humana.

Escolha repetitiva e estérilHá quem tema pela novidade da esco-

lha e a possibilidade que certas escolhasapresentam-se para a pessoa. Então deci-de não correr risco algum. Escolhe, mas écomo se não escolhesse. Opta, na verda-de, por fazer somente o que tem certezaabsoluta de saber fazer; presta muita aten-

ção para não dar “o passo maior que a per-na”, é super-prudente e quer todas as ga-rantias, prefere percorrer a estrada maisantiga, mais segura e sem surpresas, e nãopercebe que está se repetindo ou que o seufuturo é semelhante demais ao passado,como se fosse um processo de clonagem aser repetido, enquanto a vida se torna cadavez mais aborrecida e sem entusiasmo.

Na perspectiva vocacional isso seria ocaso de quem decide pelo seu futuro sim-plesmente com base no que é, nas suasqualidades, nas conquistas pessoais, naqui-lo que já tem descoberto de si próprio, enão está disposto a acolher alguma provo-cação que o incentive a superar a si mes-mo, a arriscar na novidade, a colocar-se emaventuras um pouco mais ousadas, nasquais não há garantias seguras. Na verda-de, é somente assim que uma pessoa des-cobre sua identidade, e sobretudo desco-bre que está sempre além do que pensa desi, do seu “eu” atual e dos seus testes decapacitação.

Escolha egoísta e cegaPor fim, existe também a decisão de

quem vê somente a si mesmo e os própri-os interesses, e toma as decisões com basenisso, sem perceber a presença dos outros,a necessidade e a dor do próximo.

Escolher significa abrir-se, acolher aprovocação que vem dos rostos sofridos,manter sob controle os próprios sentidos,deixar-se interceptar por apelos e pedidos.O egoísta não sabe escolher porque vê so-mente a si mesmo. E quem não escolhe o“outro” já escolheu a própria morte.

ANIMAÇÃO VOCACIONAL

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21Rogate 272 maio/09

IN FORMAÇÃOIN FORMAÇÃO

Paulo no mundo greco-romano

No dia 29 de junho será encerrada a celebração doAno Paulino, iniciada em 28 de junho de 2008, mar-cando os dois mil anos de nascimento de Paulo de

Tarso. Mas os ensinamentos do apóstolo extrapolam o tem-po. Aprofundar as circunstâncias e o ambiente cultural queinfluenciaram os escritos paulinos é uma das propostas dolivro Paulo no mundo greco-romano; um compêndio, lança-mento da Paulus Editora. Organizado por J. Paul Sampley,professor emérito de Novo Testamento e Origens Cristãsda Universidade de Boston, Estados Unidos, o livro reúneensaios elaborados por estudiosos de diversos países so-bre o apóstolo dos gentios. Sampley afirma na introduçãodo livro que “o mundo greco-romano era o mundo de Pau-lo. Por isso, não podemos dizer que Paulo ‘tomou empres-tado’ esta ou aquela tradição, convenção ou prática roma-na. (...) Paulo era um judeu romano, as duas coisas juntas”.Ao todo são 21 estudos, como por exemplo “Paulo e a edu-cação greco-romana” (de Ronald Hock) e “Paulo, o casa-mento e o divórcio” (de Larry Yarbrough). Os ensaios pre-sentes em Paulo no mundo greco-romano; um compêndiopodem auxiliar os animadores e animadoras vocacionais acompreenderem a relação entre a cultura da época e as men-sagens de Paulo, bem como a fazer um paralelo quanto àinfluência da cultura atual na proclamação e vivência doevangelho.

Formato: 16 x 23 cmPáginas: 632Preço: R$ 115,00

Pedidos:www.paulus.com.brTel.: (11) 5087-3700

Celebrar bem

Doutor em Teologia com especialização em Liturgia, Frei AlbertoBeckhäuser, OFM, foi um dos protagonistas na reforma e re-

novação litúrgicas no Brasil pós-Concílio Vaticano II. No livro Ce-lebrar bem, publicado pela Editora Vozes, Frei Alberto nos apre-senta indicações claras e objetivas para que todo povo de Deustenha uma participação consciente, ativa e plena na SagradaLiturgia, para que ela seja ‘frutuosa’, como indica o Concílio.Neste livro, o autor aborda também temas vocacionais, como oMês Vocacional e o Domingo do Bom Pastor. Num formato de13,5 x 21 cm e com 176 páginas, o livro custa R$ 20,10.

Pedidos: www.vozes.com.br - Tel.: (24) 2233-9000

Divulgação

Divulgação

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IN FORMAÇÃO

Peregrinação a Aparecida“Família Discípula e Missionária a Ser-

viço da Vida”. Este é o tema da peregrina-ção nacional em favor da família, organiza-da pela Comissão Episcopal Pastoral paraa Vida e a Família, da Conferência Nacio-nal dos Bispos do Brasil (CNBB), que omunicípio de Aparecida (SP) acolhe nosdias 23 e 24 de maio. Entre as atividadesdo evento, no dia 23 haverá procissão atéa tribuna do papa Bento XVI para oraçãodo terço meditado, missa na Basílica Naci-onal e procissão luminosa em seguida. Nodia 24 os participantes se reunirão para agrande concentração em favor da família:celebração eucarística na Basílica Nacio-nal e, na tribuna Aloísio Lorscheider, acon-tecerá o show da família em favor da vida,com testemunhos familiares e apresenta-ções musicais animadas pelo Pe. ReginaldoMangotti. As TVs católicas deverão trans-mitir o evento.

Relançado site do T riguitoEncerrando o ano de celebração dos 10

anos do personagem Triguito, exatamen-te no dia de seu aniversário (1998-2009),no próximo dia 21 de maio será lançadooficialmente o novo site de “A Turma doTriguito” (www.triguito.org.br). O projetográfico foi desenvolvido por Ana PaulaFrancotti, webdesigner, sob a coordenaçãodo diretor do Centro Rogate do Brasil, Pe.Juarez Destro. O novo site, bem maisinterativo que o anterior, disponibiliza qua-drinhos, atividades e celebrações vocacio-nais a partir da versão impressa (encarteda revista Rogate), além de mural e loji-nha. É possível assistir o início do filmedo Triguito e conhecer o perfil dos perso-nagens. A música do Triguito também estádisponível, em suas duas versões (origi-nal e usada no filme).

Simpósio do IPVDe 11 a 14 de junho, na sede do Insti-

tuto de Pastoral Vocacional (IPV), em SãoPaulo (SP), será realizado o seu 16°Simpósio de Estudos, com o tema: Cate-quese e Vocação”, aprofundando as refle-xões deste ano catequético no Brasil (“Ca-tequese, caminho para o discipulado”).Nestor Raúl Juárez, sacerdote da Frater-nidade dos Padres Operários Diocesanosdo Sagrado Coração de Jesus, será o as-sessor. Participam os membros dos insti-tutos religiosos que compõem o IPV, alémde cristãos leigos e leigas convidados porestes. Mais informações poderão ser obti-das pelo e-mail: [email protected]

Agenda V ocacionalA agenda vocacional Caminhos 2010,

produzida pelo IPV, já está sendo prepara-da e deverá ser lançada no mês vocacio-nal, em agosto. Pedidos acima de 100 uni-dades, feitos até o final do mês de maio,garantirão um bom desconto. De R$ 17,00a unidade, seriam cobrados apenas R$14,00. Acima de 500 unidades o preço caipara R$ 12,00 a unidade. Não estão incluí-das as despesas com transporte.

Informações e pedidos:Tel.: (11) 3931-5365E-mail: [email protected]

Ano Sacerdot alNa Solenidade do Sagrado Coração de

Jesus deste ano, Dia de Santificação Sacer-dotal, 19 de junho, será aberto o Ano Sa-cerdotal, celebrando os 150 anos de faleci-mento de São João Maria Vianney (patronodos sacerdotes). A iniciativa partiu da Con-gregação para o Clero, como adiantou arevista Rogate em sua última edição (n.271, abr/09, p. 7).

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Passagens • viagens e excursões • cruzeiros marítimos • hotéisaluguel de carros • promoção e organização de congressos e eventos

Diversos planos de pagamentowww.cattonitur.com.br - Tel.: (11) 3258-5199 - Fax: (11) 3255-3471

As mensagens enviadas poderão sereditadas pela equipe, favorecendo ummelhor entendimento de seu conteúdo.

Blog vocacionalOs membros do serviço de animação

vocacional da cidade de Baependi (MG) ti-veram a boa iniciativa de criar um blog paradivulgar o seu trabalho. Vale a pena confe-rir: www.savocacional.blogspot.com

Reginaldo de Oliveirapor e-mail

CursosGostaria de receber a programação dos

cursos de espiritualidade, vocacionais eoutros, por e-mail ou carta. Agradeço.

Ir. Margarida OlivaCuritiba (PR)

Nota:Agradecemos seu contato e informamos

que haverá um retiro na ótica dos “exercíci-os de espiritualidade vocacional” justamenteem Curitiba, de 22 a 27 de julho, com asses-soria do Pe. Geraldo Tadeu Furtado, religi-oso Rogacionista. As inscrições devem serfeitas na Conferência dos Religiosos do Bra-sil (CRB) de Curitiba: [email protected]

L E I T O RLEITOR

Artigo de Bruno ForteEstou procurando um artigo de Bruno

Forte que fala da crise das vocações. Pare-ce que o conteúdo se refere à crise das vo-cações como sendo uma crise da humani-dade. Deve estar em italiano. Se puderemajudar-me...

Ir. Leodi, CIICpor e-mail

Nota:Prezada Ir. Leodi, primeiramente obri-

gado por nos escrever. Não localizamos o ar-tigo de Bruno Forte sobre a crise de voca-ções, mas sim um de Bartolomeo Sorge (je-suíta), que saiu na revista “Rogate Ergo”,em fevereiro deste ano. O título: “Crisi divocazioni, la prova di Dio” (Crise de voca-ções, a prova de Deus). São três páginas eprovavelmente faremos a tradução para aRogate na edição de junho-julho.

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MÍSTICAMÍSTICA DA VOCAÇÃO

São João Bosco, louco de amorpelos jovens

Patrício SciadiniReligioso Carmelita Descalço e Sacerdote

Sem dúvida os salesianos (Pia Socie-dade de São Francisco de Sales), fun-dados por São João Bosco há 150

anos, estão entre as congregações religio-sas mais apaixonadas pela juventude, e quetêm isto como carisma fundacional. SãoJoão Bosco era um homem todo dedicadoao apostolado, que tinha a arte de compre-ender os jovens, tornando-se jovem comeles, educando-os a superar as dificulda-des e ensinando-lhes o verdadeiro cami-nho para se tornarem pessoas realizado-ras e construtoras de um novo mundo, jus-to, humano e cristão.

João Bosco nasceu de família pobre,próximo de Turim, Itália, em 1815. A suaprimeira educadora na fé e nos caminhosde Deus foi mamãe Margarida, que soubeinfundir nos corações dos filhos a presen-ça de Deus e o amor aos outros. Num so-nho, quando tinha dez anos, viu um grupode jovens errantes que não faziam nada,só blasfemavam e pretendiam matá-lo. Joãoreagiu e queria bater em todo mundo, masJesus lhe disse: “não com pancadas, é commansidão e amor que os transformará emseus amigos”.

Desde então estas palavras serão paraJoão Bosco um programa de vida. Para ca-tivar os jovens fazia de tudo: teatro, palha-ço... Sabia atrair os jovens e, uma vez atra-ídos, os educava e os levava a Deus. Todosgostavam de João Bosco, menos os pode-rosos, os ateus, os orgulhosos, os políti-cos, os maçons, que viam nas atitudes deDom Bosco um caminho “revolucionário”e de liberdade. João Bosco comunicava Je-

sus através da humanização, da cultura,devolvendo aos jovens a dignidade e, as-sim, eles mesmos passavam a se tornarprotagonistas da própria vida.

Um dia dois padres, incomodados como sistema pastoral de Dom Bosco, chama-ram uma carruagem e queriam interná-loem um hospício. João Bosco percebeu ajogada, inverteu a situação, colocou-os nacarruagem e mandou-os para o manicômio.João Bosco tinha sim loucura, mas pelosjovens, pela evangelização e por JesusCristo. Estava muito são de mente e decoração. Em dezembro de 1859 fundou ossalesianos, que através de suas escolastanto bem fazem entre nós. Em 1872, coma ajuda de Santa Maria Domingas Mazza-rello (1837-1881), fundou também o Insti-tuto das Filhas de Maria Auxiliadora (assalesianas).

A educação de João Bosco se tornouconhecida como “método educativo pre-ventivo”. É melhor prevenir que remedi-ar. Os jovens - ele dizia -, não só devem sa-ber que nós os amamos, mas devem sentirque nós os amamos!

Morreu em 31 de janeiro de 1888. Foiproclamado santo pelo papa Pio XI há 75anos, na celebração da Páscoa de 1º de abrilde 1934. Os salesianos formam uma dascongregações mais numerosas. São JoãoBosco soube unir oração intensa e aposto-lado. Para conhecer melhor a famíliasalesiana, visite o site:

www.salesianosdobrasil.org.br