Opinião eleições 2014 · jornadas de protesto do ano predominam disposições gerais de...

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Elementos da Conjuntura eleitoral de 2014 Estamos às vésperas das eleições que definirão os novos governos de turno, a nível estadual e nacional. Governos que independente dos programadas defendidos, jogarão conforme as regras e no marco da lógica do sistema de dominação capitalista na sua atual etapa, a do capitalismo financeiro. Enquanto anarquistas, votamos nulo por coerência a uma estratégia de construção do Poder Popular. Enquanto lutadores sociais entendemos que uma análise cirúrgica da conjuntura eleitoral é necessário e possibilita definir quais são os fatores de peso na formação do atual cenário. Federação Anarquista Gaúcha - FAG (Integrante da Coordenação Anarquista Brasileira - CAB) Setembro de 2014 Junho de 2013: a disputa de seus significados e alguns elementos da conjuntura nacional É própria do atual cenário eleitoral de forças nos fóruns de disputa setores da esquerda que participam a disputa pelos sentidos do que política formais. Para nós, esse fato nas eleições. Poder simbólico que foram as jornadas de luta de 2013 e por si só já representa uma derrota não deixa perceber nuances a tentativa de capturar os vetores política para os de baixo, pois não programáticas, apostas ideológicos forjados e legados por aponta e nem constrói uma estratégicas distintas, ideologias essa experiência, de mobilização alternativa para além das eleições e de mudança ou de conservação. nas ruas por milhões de pessoas, do Estado enquanto espaço assim como aquela das lutas no privilegiado da política. Em que pese nem tudo seja igual, contexto da copa do mundo. São está ausente um projeto político de poucas as siglas que reivindicam as Contudo, o que temos visto é que caráter reformista, com adesão jornadas de protesto do ano predominam disposições gerais de eleitoral, que incida sobre as passado, seja para mostrá-las como desconfiança e até de rechaço às estruturas de poder da formação e x e m p l o d e u m m a s s i v o instituições políticas, por um lado, brasileira. Se há uma luta da descontentamento com relação ao e, por outro, uma impotência da oposição burguesa mais período de governo petista, seja tática de denúncia e do discurso conservadora para quebrar o para citá-las como um sinal de que “esclarecido e racionalista” frente modelo de gestão neo- esse descontentamento, apesar de ao poder simbólico das regras do desenvolvimentista, que passa todas as “conquistas” dos jogo institucional utilizado pelos pela desestruturação dos instru- governos PT, é contra o atual sistema político que se colocou como um entrave para o encaminhamento positivo da agenda de reivindicações das jornadas. É nesse sentido que o plebiscito popular para uma nova constituinte foi o grande “chamariz” do PT e de seus aliados. No entanto, na atual conjuntura, tal mecanismo visa apropriar-se da forças das ruas e desaguá-la na institucionalidade, garantindo a conciliação de classes, contendo e mediando o conflito para definir a correlação federacaoanarquistagaucha.org

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Elementos da Conjuntura eleitoral de 2014Estamos às vésperas das eleições que definirão os novos governos de turno, a nível estadual e nacional. Governos que independente dos programadas defendidos, jogarão conforme as regras e no marco da lógica do sistema de dominação capitalista na sua atual etapa, a do capitalismo financeiro. Enquanto anarquistas, votamos nulo por coerência a uma estratégia de construção do Poder Popular. Enquanto lutadores sociais entendemos que uma análise cirúrgica da conjuntura eleitoral é necessário e possibilita definir quais são os fatores de peso na formação do atual cenário.

Federação Anarquista Gaúcha - FAG (Integrante da Coordenação Anarquista Brasileira - CAB)Setembro de 2014

Junho de 2013: a disputa de seus significados e alguns elementos da conjuntura nacional

É própria do atual cenário eleitoral de forças nos fóruns de disputa setores da esquerda que participam a disputa pelos sentidos do que política formais. Para nós, esse fato nas eleições. Poder simbólico que foram as jornadas de luta de 2013 e por si só já representa uma derrota não deixa perceber nuances a tentativa de capturar os vetores política para os de baixo, pois não p r o g r a m á t i c a s , a p o s t a s ideológicos forjados e legados por aponta e nem constrói uma estratégicas distintas, ideologias essa experiência, de mobilização alternativa para além das eleições e de mudança ou de conservação.nas ruas por milhões de pessoas, do Estado enquanto espaço assim como aquela das lutas no privilegiado da política. Em que pese nem tudo seja igual, contexto da copa do mundo. São está ausente um projeto político de poucas as siglas que reivindicam as Contudo, o que temos visto é que caráter reformista, com adesão jornadas de protesto do ano predominam disposições gerais de eleitoral, que incida sobre as passado, seja para mostrá-las como desconfiança e até de rechaço às estruturas de poder da formação e x e m p l o d e u m m a s s i v o instituições políticas, por um lado, brasileira. Se há uma luta da descontentamento com relação ao e, por outro, uma impotência da o p o s i ç ã o b u r g u e s a m a i s período de governo petista, seja tática de denúncia e do discurso conservadora para quebrar o para citá-las como um sinal de que “esclarecido e racionalista” frente m o d e l o d e g e s t ã o n e o -esse descontentamento, apesar de ao poder simbólico das regras do desenvolvimentista, que passa todas as “conquistas” dos jogo institucional utilizado pelos pela desestruturação dos instru-governos PT, é contra o atual sistema político que se colocou como um en t rave pa ra o encaminhamento positivo da agenda de reivindicações das jornadas.

É nesse sentido que o plebiscito p o p u l a r p a r a u m a n o v a cons t i tu in te fo i o g rande “chamariz” do PT e de seus aliados. No entanto, na atual conjuntura, tal mecanismo visa apropriar-se da forças das ruas e desaguá-la na institucionalidade, garantindo a conciliação de classes, contendo e mediando o conflito para definir a correlação

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mentos de Estado para a política um pretenso projeto de esquerda Estado já que ambos os projetos econômica, autonomia do Banco que se quer derrotar. não fogem dos ajustes exigidos Central, metas de inflação – pelas relações de poder do sistema ampliando os controles de Nesse sentido, a polarização dos de controles do capitalismo mercado – esta não pode ser candidatos (PT, PSB e PSDB) financeiro.entendida como o simples ataque a representa, na verdade, variações mudanças de fundo realizadas por administrativas no marco do

No RS: dois projetos em jogo?

No RS, temos visto uma maior d e t e r r a s i n d í g e n a s e a Ana Amélia/PP, é impossível não polar ização em torno das intensificação do conflito entre associarmos com a administração candidaturas de Tarso Genro/PT e indígenas e pequenos agricultores d a e x - g o v e r n a d o r a Ye d a A n a A m é l i a L e m o s / P P. na região norte do estado que Crusius/PSDB, ainda que em Concorrem, dentro das regras do resultou em 2 agricultores mortos e condições diferentes. O PP jogo, dois modelos que se 5 índios presos durante mesa de (nacionalmente alinhado ao PT) é representam como mais “puros”, negociação. um partido que tem base forte pelo suscitando um imaginário do tipo i n t e r i o r , q u e r e p r e s e n t a plebiscitário: se está com o PT ou O governo do PT repet iu historicamente as oligarquias com o PP. Uma cultura política que e x p e d i e n t e s q u e f o r a m rurais e que provavelmente terá desde a nova republica não reelege consagrados pela “tecnologia da relações de força mais favoráveis governadores também é um fator coalizão” exaltada por Tarso na barganha que monta a base do de peso na conjuntura estadual. Genro. Prevalece em suas práticas legislativo. Trata-se de uma

de governo um dispositivo de candidatura que conta com a Entretanto, é preciso que deixemos diálogo que procura dissuadir o preferência do grupo RBS onde foi de lado esse pensamento funcionária de longa data. binário e enxerguemos Além disso, a truculência elementos que nos indicam com as lutas sociais tende a q u e a m b a s a s se intensificar ainda mais. possibilidades (sem falar A ascensão da candidata do n a s d e m a i s ) n ã o PP é proporcional as baixas r e p r e s e n t a m expectativas com reformas transformações de fundo sociais e políticas públicas para os de baixo. q u e r e s u l t a m d o

“desencanto com o PT”, de Com relação ao governo uma sensação de ‘menos Tarso, há uma série de pior’ que é cada vez mais aspectos que acreditamos fraca de sentido.importante ressaltar com relação a sua administração Entretanto, em que pese e que em certa medida em uma conjuntura formas arranharam sua imagem: conflito social, neutralizar nos específicas de governar, o Estado

circuitos da burocracia as pautas de do RS tem estruturas do poder que 1. A repressão aos protestos de contestação e integrar na gestão estão fora de causa nestas eleições. 2013/2014 e em particular as auxiliar dos conselhos e gabinetes Dívida pública que sangra os perseguições a militantes e os movimentos e sindicatos mais fundos públicos pra pagar o capital organizações de esquerda. dóceis. Do ponto de vista do rentista; o poder do agronegócio na

funcionamento dos aparelhos de economia gaúcha, no desmonte 2. Os reiterados protestos e greves repressão se faz distinto o uso mais das normas ambientais e sobre a dos trabalhadores da educação da i n t e n s o d o s s e r v i ç o s d e agenda de investimentos em rede estadual pelo pagamento do inteligência e das táticas de infraestrutura (portos, geradoras piso nacional que até hoje não foi dispersão que evitam colisão de energia) e a guerra fiscal da atendido. frontal. indústria para se apropriar de

recursos do estado (fundopem), 3. A paralisação das demarcações Já em um cenário de governo de são exemplos disso.

Portanto, está fora de questão de construir desde já um mudanças de fundo, em que as processo próprio, um caminho estruturas mais consistentes do d e p r o t a g o n i s m o e d e s i s t e m a d e d o m i n a ç ã o organização dos de baixo no capitalista sejam colocadas em marco de um horizonte questão. Apostar no “possível”, socialista e libertário.nessas circunstâncias, é deixar

Chamar a anular sem fazer de trabalho, moradia e estudo.pr ior idade ao t rabalho de organização popular é pedir o voto O período em que vivemos como fazem os partidos integrados demanda a articulação de todo o no sistema. Não é o voto em si, espectro das lutas sociais que como mecanismo decisório da confrontam o modelo dominante sociedade, que é o problema, o do capitalismo brasileiro com um problema é para qual estrutura de programa mínimo de soluções poder ele funciona. É por isso que populares. Construção de unidade nós anarquistas da FAG não dos de baixo, de baixo para cima e estamos em campanha pelo voto que não se confunde com unidade nulo. Como já dissemos, votamos entre partidos, frentes eleitorais ou nulo por coerência a uma estratégia candidaturas operárias. Criação de de construção do Poder Popular. um Povo Forte para impor na cena Contudo, do ponto de vista nacional uma nova correlação de militante, entendemos que nessa forças e que aponte um projeto de conjuntura eleitoral e para além transformação social. Em síntese, dela, precisamos construir laços de política anarquista para além do luta, de unidade e uma perspectiva voto e das eleições burguesas.programática desde o nosso local

Ou se vota com os de cima, ou se luta e se organiza com os de baixo!

Ou se vota com os de cima ou se luta e se organiza com os de baixo!Pela construção de uma inter-setorial dos combativos!

Nem direita, nem governismo! Forjar um programa dos de baixo!

O período em que vivemos demanda a articulação de todo o

espectro das lutas sociais que confrontam o modelo dominante do

capitalismo brasileiro com um programa

mínimo de soluções populares(...) (...)

Construção de unidade dos de baixo, de baixo para cima e que não se confunde com unidade entre partidos, frentes

eleitorais ou candidaturas operárias.

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Biblioteca A Conquista do Pãono Ateneu Libertário

Ramiro Barcelos, 1853