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1 Rogate 244 ago/06 OPINIÃO OPINIÃO Atitudes básicas e fundamentais do animador vocacional Pe. Juarez Albino Destro, RCJ O mês de agosto, tido como vocacio- nal pela Igreja do Brasil, é uma óti- ma oportunidade para resgatarmos a mística vocacional que há por trás do mandamento de Jesus, o qual constatou – já no seu tempo – que os problemas eram muitos e os animadores e construtores da paz e da justiça eram poucos. Ele desaba- fou aos seus mais próximos: “Pedi, pois, ao Dono da messe que envie operários a sua messe” (Mt 9,38; Lc 10,2). Esta reco- mendação comporta três atitudes básicas e fundamentais que deveriam fazer parte de nossas vidas. A primeira, mais eviden- te, é a oração constante a Deus para que envie um maior número de pessoas dis- postas a ajudar na transformação da socie- dade, na conscientização do povo, na cons- trução da vida para todos. Rezar pelas vo- cações! Precisamos de mais cristãos lei- gos e leigas atuantes nas comunidades, de mais pessoas consagradas que optem ra- dicalmente pela causa do Reino de Deus, de maior número de ministros ordenados, principalmente diáconos e padres. O mandamento de Jesus comporta tam- bém uma atitude prática, concreta, por par- te do orante. A oração deve movê-lo em direção à ação. Ele próprio deve ser um bom operário, uma boa operária, testemu- nhando seu seguimento a Cristo, o Bom Pastor, que foi capaz de dar sua vida em resgate de outras pessoas, sofrendo o mar- tírio. Trata-se, sem dúvida, de uma atitu- de bem mais difícil do que a primeira, de se rezar pelas vocações. Porém, ambas estão interligadas, uma é decorrente da outra, conseqüência: se a oração é bem feita, mexe com o orante em direção à prá- tica. Em outras palavras, quem compreen- de o significado da oração vocacional e reza constantemente pelas vocações, dá teste- munho de vida e é igualmente capaz de se doar no serviço, sendo operário na messe, construindo a vida, o Reino de Deus. Neste ponto surge a pergunta: e qual a terceira atitude básica e fundamental que deveria fazer parte de nossas vidas, além da oração e da ação? Aparentemente estas duas dimensões já seriam suficientes para desempenharmos nossa missão no mun- do, enquanto batizados e seguidores de Cristo, animadores e animadoras vocacio- nais. Mas nos resta uma terceira dimen- são. Divulgar, espalhar, comunicar a todos o significado deste mandamento de Jesus, o “Rogai ao Senhor da messe”. Quanto mais pessoas compreenderem a mística vocacional, esta dinâmica, quanto maior o número de cristãos e cristãs conscientes de sua missão no mundo, mais chances te- remos de realizar o projeto de Deus, mais justiça haverá na humanidade, a paz e o amor terão mais oportunidade de serem conquistados. Fica o convite para que em nossas co- munidades, não apenas no decorrer deste mês de agosto, possamos celebrar todas as vocações específicas da Igreja, rezando e trabalhando para que tenhamos mais “operários e operárias na messe”, teste- munhando os valores do Reino e comuni- cando a boa nova a toda humanidade.

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1Rogate 244 ago/06

O P I N I Ã OOPINIÃO

Atitudes básicas e fundamentaisdo animador vocacional

Pe. Juarez Albino Destro, RCJ

Omês de agosto, tido como vocacio-nal pela Igreja do Brasil, é uma óti-ma oportunidade para resgatarmos

a mística vocacional que há por trás domandamento de Jesus, o qual constatou –já no seu tempo – que os problemas erammuitos e os animadores e construtores dapaz e da justiça eram poucos. Ele desaba-fou aos seus mais próximos: “Pedi, pois,ao Dono da messe que envie operários asua messe” (Mt 9,38; Lc 10,2). Esta reco-mendação comporta três atitudes básicase fundamentais que deveriam fazer partede nossas vidas. A primeira, mais eviden-te, é a oração constante a Deus para queenvie um maior número de pessoas dis-postas a ajudar na transformação da socie-dade, na conscientização do povo, na cons-trução da vida para todos. Rezar pelas vo-cações! Precisamos de mais cristãos lei-gos e leigas atuantes nas comunidades, demais pessoas consagradas que optem ra-dicalmente pela causa do Reino de Deus,de maior número de ministros ordenados,principalmente diáconos e padres.

O mandamento de Jesus comporta tam-bém uma atitude prática, concreta, por par-te do orante. A oração deve movê-lo emdireção à ação. Ele próprio deve ser umbom operário, uma boa operária, testemu-nhando seu seguimento a Cristo, o BomPastor, que foi capaz de dar sua vida emresgate de outras pessoas, sofrendo o mar-tírio. Trata-se, sem dúvida, de uma atitu-de bem mais difícil do que a primeira, dese rezar pelas vocações. Porém, ambasestão interligadas, uma é decorrente da

outra, conseqüência: se a oração é bemfeita, mexe com o orante em direção à prá-tica. Em outras palavras, quem compreen-de o significado da oração vocacional e rezaconstantemente pelas vocações, dá teste-munho de vida e é igualmente capaz de sedoar no serviço, sendo operário na messe,construindo a vida, o Reino de Deus.

Neste ponto surge a pergunta: e qual aterceira atitude básica e fundamental quedeveria fazer parte de nossas vidas, alémda oração e da ação? Aparentemente estasduas dimensões já seriam suficientes paradesempenharmos nossa missão no mun-do, enquanto batizados e seguidores deCristo, animadores e animadoras vocacio-nais. Mas nos resta uma terceira dimen-são. Divulgar, espalhar, comunicar a todoso significado deste mandamento de Jesus,o “Rogai ao Senhor da messe”. Quantomais pessoas compreenderem a místicavocacional, esta dinâmica, quanto maior onúmero de cristãos e cristãs conscientesde sua missão no mundo, mais chances te-remos de realizar o projeto de Deus, maisjustiça haverá na humanidade, a paz e oamor terão mais oportunidade de seremconquistados.

Fica o convite para que em nossas co-munidades, não apenas no decorrer destemês de agosto, possamos celebrar todasas vocações específicas da Igreja, rezandoe trabalhando para que tenhamos mais“operários e operárias na messe”, teste-munhando os valores do Reino e comuni-cando a boa nova a toda humanidade.

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NESTA EDIÇÃO

EntrevistaNovas Gerações e Vida Religiosa 03

AtualidadesAgosto: mês vocacional 09

EstudoEucaristia e vocação 13

Especial25 anos da Rogate:personalidades entrevistadas - 2ª parte 14

Animação VocacionalMotivos e motivações vocacionaisCurso Vocacional Rogate - Lição 06 18

Informação 21

Leitor 23

Mística da VocaçãoLucas, anunciador da misericórdia 24

EDITORIAL

Capa: Fotos de algumas das pessoas entrevistadas pelarevista Rogate nos últimos anos. Estes vocacionados- cristãos leigos e leigas, pessoas de vida consagradae ministros ordenados -, juntamente com tantos ou-tros, fazem parte dos 25 anos de vida da revista.

Com uma capa diferente e curiosa,ilustrando a seção “Especial”, noresgate histórico dos 25 anos de vida

da revista Rogate, apresentando algumasdas tantas personalidades entrevistadasneste período, abrimos a nossa edição deagosto, mês vocacional. Homenagem a to-dos os vocacionados e vocacionadas quefazem parte da nossa história, cristãos lei-gos e leigas, consagrados e consagradas,ministros ordenados.

Esta edição traz, ainda, como desta-ques, a entrevista com a Ir. Neiva Furlin,assessora da Conferência dos Religiosos doBrasil (CRB), o artigo sobre o mês voca-cional (seção “Atualidades”) e o breve - masprofundo - estudo sobre “Eucaristia e vo-cação”, ainda respirando os ares de Flo-rianópolis (SC), onde a Rogate esteve par-ticipando do 15º Congresso EucarísticoNacional. José Cesconetto, o autor desteestudo, residente na capital catarinense,esteve envolvido na organização do evento.

O Curso Vocacional Rogate, elaboradopelo Pe. Gilson Maia, chega à sua sexta li-ção, restando mais quatro. E Frei PatrícioSciadini, na “Mística Vocacional”, apre-senta-nos São Lucas, anunciador da mi-sericórdia.

Um ótimo mês vocacional a todos!

Ano XXV - nº 244Agosto de 2006

Lançada em maio de 1982, a revista Rogate temregistro de matrícula em São Paulo, 01/10/87,no Livro B de Matrículas do 1º Cartório de Re-gistros de Títulos e Documentos, sob o nº98.906, nos termos dos artigos 8º e 9º da LeiFederal nº 5.250, de 1967. A revista é de pro-priedade dos Rogacionistas do Coração de Je-sus, em colaboração com as revistas: RogateErgo e MondoVoc (ltália), Vocations andPrayer (EUA) e Rogate Ergo (Filipinas).

DIRETOR DE REDAÇÃOJuarez Albino Destro

EDITORJefferson Silveira

COLABORADORESGeraldo Tadeu Furtado, Gilson Luiz Maia,

Patrício Sciadini; Fábio Mattos e Vanderlei

Mendes (encarte do Triguito)

CONSELHO EDITORIALCinzia Giacinti, Írio e Neide Brogni, José

Lisboa Moreira de Oliveira, Juçara dos Santos,

Lédio Milanez, Rogério e Regiane Darabas

JORNALISTA RESPONSÁVELÂngelo Ademir Mezzari - Mtb 21.175 DRT/SP

IMPRESSÃOGráfica e Editora Linarth Ltda - Curitiba (PR)

SEDE CENTRAL/CONTATOSDireção, Editoria, Secretaria e Administração:Tel.: (11) 3932-1434 Fax: (11) 3931-3162

E-mail: [email protected]://www.rogate.org.br

Rua Comandante Ferreira Carneiro, 9902926-090 São Paulo SP Brasil

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Os artigos assinados não expressam,necessariamente, a opinião da Revista

A Turma do Triguito

Celebração VocacionalBíblia: Palavra viva e eficaz

ENCARTES

3Rogate 244 ago/06

ENTREVISTAENTREVISTA

Novas Gerações e Vida Religiosa

A assessora executiva da CRB Nacional, Ir. Neiva Furlin,apresenta um panorama do projeto que está promovendo um

amplo debate em torno da vida religiosa no Brasil

Natural de Jaborá,pequeno municí-pio do oeste cata-

rinense, Neiva Furlin é re-ligiosa da Congregação dasIrmãs Catequistas Francis-canas. Nascida em 12 dejunho de 1968, reside atu-almente no Rio de Janeiro(RJ) e trabalha na Confe-rência dos Religiosos doBrasil (CRB) Nacional,como assessora executivae referencial pela articula-ção e dinamização do pro-jeto Novas Gerações e VidaReligiosa. Bacharel em Ciências Sociais pelaUniversidade Federal do Paraná, fez cursode Extensão em Teologia pelo Instituto deTeologia e Pastoral de Passo Fundo (RS),em convênio com a Universidade local.Atuou na formação de lideranças em paró-quias e Comunidades Eclesiais de Base, nosul do Brasil. Foi assessora e membro dadiretoria da CRB do Paraná. Tem 14 anosde Vida Religiosa e vive com paixão a suaconsagração, como um caminho de doaçãoda vida pela causa do Reino.

Nesta entrevista à Rogate, Ir. Neivafala sobre o projeto Novas Gerações e VidaReligiosa, destaca o recente congresso pro-movido pela CRB Nacional (ver quadro na

pág. 08) e aborda temascomo vocações e a impor-tância da intercongregacio-nalidade.

Rogate: Atuando naequipe de coordenação e se-cretaria do congresso NovasGerações e Vida Religiosada CRB Nacional, qual suaavaliação do evento?

Ir. Neiva: O congres-so foi um momento fortedo processo desencadeadopelo projeto Novas Gera-ções e Vida Religiosa. Uma

novidade deste evento foi a metodologia,que permitiu a participação ampla, sem se-leção de grupos específicos. Eram mais de1.100 religiosas e religiosos, vindos de to-das as regiões do Brasil, que se reuniramem torno das mesmas questões e com umapreocupação: a qualidade da presença evan-gélica da vida consagrada, no hoje e no fu-turo de nossa história. Um sinal de espe-rança foi a presença de um grande númerode jovens, com desejo de uma vida religio-sa criativa e evangélica, ousada na profe-cia e no testemunho solidário e missioná-rio. Acredito que este evento sinalize algode novo e marque a trajetória da caminha-da da CRB Nacional.

Fotos: Arquivo Rogate

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ENTREVISTA

Rogate: Que frutos espera serem colhi-dos deste congresso?

Ir. Neiva: O congresso não teve a pre-ocupação de apresentar conclusões ime-diatas, mas de abrir um espaço de expres-são e reflexão de diferentes pessoas e gru-pos, deixando que a seu tempo a reflexãoproduza os frutos necessários para que avida religiosa continue marcando a diferen-ça, pela sua qualidade evangélica, num con-texto de mudança de época. As temáticasdas conferências e das exposições, bemcomo os testemunhos de vivência proféti-ca e solidária, trouxeram provocações eluzes. Essas sementes, se acolhidas e cul-tivadas pelos institutos de vida consagra-da, farão desabrochar novas práticas, tra-duzindo-se em frutos de esperança, com-promisso e profecia.

Rogate: O que o tema, “Novas Gera-ções e Vida Religiosa”, e o lema, “Memória,Poder e Utopia”, nos deixam como mensa-gem fundamental?

Ir. Neiva: Creio que a principal men-sagem é que a nova geração de vida religi-osa, apaixonada por Cristo e pela humani-dade, resultará de um profundo diálogointerativo de gerações. É necessário aco-lher os novos tempos, os valores que osjovens trazem, e recuperar o dinamismo eo entusiasmo que originou a ousadia e anovidade no passado. Só há futuro para avida religiosa se existir memória da traje-tória histórica, não como saudosismo, maspara buscar na fonte o sopro inspirador e odinamismo da paixão solidária. A memóriapós-conciliar é significativa porque nestetempo histórico vivemos todo um proces-so de renovação e de re-aproximação dospobres. Se esta memória ficar fraca a ten-dência é a volta ao passado, ao seguro, àdisciplina tradicional. A vida religiosa é

convidada a sinalizar o Reino também atra-vés da forma como exerce o poder. Maisdo que nunca se faz necessário espelhar-se na pessoa de Jesus, que exerceu o po-der-serviço e empoderou os membros doseu grupo e os que estavam à margem dasociedade, humanizando relações e devol-vendo a dignidade das pessoas. Portanto,somos desafiados a práticas e relações no-vas. A utopia de uma nova vida religiosa,profético-solidária, passa pela sua capaci-dade de aprender com as crises provocadaspela história. Passa por sua capacidade deacolher os novos tempos, sem perder a fi-delidade à herança cristã e ao núcleo doseu dinamismo inspirador: a aproximaçãocom o pobre.

Rogate: Fale-nos sobre a trajetória his-tórica do projeto.

Ir. Neiva: As mudanças sócio-culturaisque presenciamos nas últimas décadas têmprovocado a vida religiosa e consagrada arepensar sua presença profética no mun-do. Isso impulsionou a dar uma atençãoespecial às novas gerações de consagra-dos e consagradas, assumindo o desafio deabrir-se às suas contribuições, estabele-cendo uma relação dialógica na busca co-mum de atualização e refundação dos ins-titutos. O projeto Novas Gerações e VidaReligiosa insere-se neste contexto. É tam-bém parte de um processo que vem sendodinamizado pela CRB Nacional desde 2001,quando Superioras e Superiores Maioresdos diversos institutos de vida consagra-da, numa atitude de escuta aos sinais dostempos, solicitaram à CRB para continuardinamizando o processo de refundaçãotambém através das interpelações das no-vas gerações. Em resposta, a CRB Nacio-nal viabilizou um processo de reflexão queculminou com o seminário Novas Gerações

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ENTREVISTA

e Vida Religiosa, em 2003. Na conclusãodeste evento decidiu-se criar grupos dereflexão em todas as Regionais da CRB, oque resultou no projeto Novas Gerações eVida Religiosa, apresentado durante a 20ªAssembléia Geral da CRB Nacional, reali-zada em julho de 2004.

Rogate: E como foram constituídos es-tes grupos de reflexão?

Ir. Neiva: Com o incentivo e o apoiodas diretorias e assessorias das 20 secçõesRegionais da CRB. Cada Regional assumiuo projeto de acordo com a sua possibilida-de e realidade específica. Osgrupos de reflexão foramorganizados a partir de al-guns critérios, devendo ter- no máximo - 12 pessoas,com forte participação jo-vem, sendo pelo menos ametade de até 30 anos deidade. Cada grupo escolheurefletir sobre uma das temá-ticas sugeridas: Memória eFuturo da Vida Religiosa; Se-xualidade, Afetividade eConsagração; Poder e Parti-cipação na Vida Religiosa.Após um ano de caminhada, cada grupoenviou à CRB Nacional um texto com suasprincipais conclusões. A Equipe de Refle-xão Teológica fez uma leitura analítica dostextos, recolhendo tendências, desafios econtribuições dos grupos. O congressoampliou e aprofundou os eixos temáticosdo projeto com um número maior de pes-soas. Também durante o evento foi apre-sentado aos participantes alguns resulta-dos da reflexão feita pelos grupos e houveuma exposição de pôsteres, o que permi-tiu visualizar a caminhada feita nas bases.Em breve será publicado o resultado des-

te mutirão de participação e reflexão, quecertamente trará provocações significati-vas para a vida religiosa e consagrada.

Rogate: Que relação é possível estabe-lecer entre o seminário Novas Gerações eVida Religiosa, realizado em 2003, e estecongresso?

Ir. Neiva: Inicialmente a preocupaçãoesteve voltada mais para as novas geraçõesno seu sentido cronológico. Assim, a pes-quisa que preparou o seminário de 2003foi centrada sobre os jovens na vida religi-osa, dando enfoque aos novos grupos ét-

nicos e à cultura pós-moder-na. Com isso se pretendeuconstatar as tendências dajuventude, as suas interpe-lações e, por outro lado, anecessidade de abertura àsnovas gerações em suas di-versidades culturais. As re-flexões sobre o resultado dapesquisa permitiram pensaras novas gerações a partir docorte antropológico, na pers-pectiva de que nova geraçãoé quem gera algo de novoem um dado momento his-

tórico. A partir de então, todo o processofoi sendo dinamizado na consciência de queo futuro não depende somente da juventu-de, mas da interação entre as diversas ge-rações. O congresso aconteceu dentro des-ta dinâmica.

Rogate: No aspecto vocacional, que con-tribuições este congresso deve apresentar?

Ir. Neiva: O congresso evidenciou quea vida religiosa está viva e continua sendoum caminho para quem quer seguir Jesus.Um caminho que sinaliza algo para o mun-do, na medida em que as pessoas se colo-

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ENTREVISTA

cam a serviço daqueles que precisam seramados e promovidos em sua dignidadehumana. A juventude presente ficou tocadapelos testemunhos de pessoas que dãosentido à sua consagração, doando a vidaem realidades de exclusão e de desafiosmissionários. Desta forma, o congressovem confirmar que o serviço de animaçãovocacional, que de fato toca o coração eencanta a juventude, não se dáatravés de lindos discursos te-óricos, mas pelo testemunhode uma vida apaixonada porJesus Cristo e doada em proldos mais pequeninos e des-providos. Outra contribuiçãodo congresso e do projeto,nesta dimensão vocacional, éa compreensão de que o futu-ro da vida religiosa e consa-grada não depende somentedos jovens, mas de todas aspessoas consagradas capazesde se abrirem aos desafios eapelos deste novo tempo, res-saltando-se a importância dodiálogo de gerações. Enfim,nas diversas falas que se ma-nifestaram no congresso,transpareceu a convicção deque a vocação à vida consagra-da continua sendo uma pro-posta humanizadora e criativa, que só temsentido a partir de uma adesão de fé.

Rogate: Como as novas gerações podemvivenciar as propostas apresentadas peloConcílio Vaticano II?

Ir. Neiva: O Concílio trouxe um im-pulso renovador. Foi através da volta àssuas origens e da abertura aos desafios eapelos da sociedade moderna que a vidareligiosa deu passos decisivos no caminho

de renovação. A Conferência de Medellín,realizada em 1968, intensificou este pro-cesso a partir da realidade latino-america-na. Muitos institutos organizaram-se empequenas comunidades voltadas à missão.Religiosos e religiosas sentiram-se convo-cados a se deslocarem dos grandes cen-tros para constituírem comunidadesinseridas no meio popular. Acredito que as

novas gerações podem viven-ciar as propostas apresentadaspelo Concílio Vaticano II e porMedellín na medida em queforem capazes de estabelecerum diálogo com as geraçõesque vivenciaram estas mu-danças, resgatando a memó-ria desta trajetória. Assim po-derão acolher o processo derenovação já feito e continuaro processo de refundação davida consagrada, abrindo-seaos desafios e apelos da cul-tura pós-moderna, sem per-der de vista a opção preferen-cial pelos empobrecidos.

Rogate: Como tem sido oinvestimento da CRB no rela-cionamento intercongregacio-nal?

Ir. Neiva: A dinâmica detrabalho da CRB é, pela sua própria natu-reza, intercongregacional. O projeto NovasGerações e Vida Religiosa é um exemplo.Nasceu de um apelo comum de religiosose religiosas e tomou corpo na intercongre-gacionalidade. A CRB fez a convocação àscongregações e Regionais e estas dinami-zaram nas bases. Foram organizados 64grupos de reflexão em todo país, com a par-ticipação de 650 religiosos e religiosas, de250 institutos diferentes. Isso seria impos-

A vocação àvida consagra-

da continuasendo umaproposta

humanizadorae criativa...

7Rogate 244 ago/06

ENTREVISTA

sível sem o apoio e adesão das congrega-ções. E a riqueza dos resultados se deve aesta ampla participação.

Rogate: Dados estatísticos confirmama queda acentuada do número de vocaçõesde religiosos, religiosas e sacerdotes religio-sos. Qual sua avaliação deste quadro?

Ir. Neiva: É evidente a queda do nú-mero de vocações, especialmente dentrodas congregações mais tradicionais. A ex-plicação para este fato é complexa. Sem apretensão de afirmar quais são os motivosresponsáveis por este quadro, levanto al-guns fatores que podem estar contribuin-do com isso. Um deles é o atual modelo devida religiosa, com estruturas pesadas eque não responde mais aos tempos e àsnecessidades atuais. Outro aspecto é ocrescente secularismo que vem tomandoconta de algumas instituições religiosas.Estas, ao invés de assumir o processo derenovação, foram assimilando muitos as-pectos da modernidade sem tê-los subme-tido ao crivo do evangelho. Por conta dis-so não sinalizam mais a novidade do Espí-rito e não atraem mais a juventude paraeste estilo de vida. Outro fator se deve aocrescimento do protagonismo dos leigos eleigas na Igreja e na sociedade, que enten-dem não ser necessário assumir a vocaçãoconsagrada ou sacerdotal para se doar noserviço da evangelização.

Rogate: Esta é uma realidade presenteem todas congregações?

Ir. Neiva: Há congregações em que acrise de vocações não bateu à porta. Issopode ser evidenciado nos grupos nascen-tes, que têm aumentado significativamen-te o número de seus membros. Frente aisso precisamos nos perguntar, com ho-nestidade, o que de fato está acontecen-

do? Será que os tempos atuais não estãonos pedindo uma renovação evangélicaprofunda? Estamos tendo a coragem deassumir o processo de refundação emnossos institutos? Como está nossa mís-tica, nossa profecia e nossa ousadia mis-sionária? Mais do que avaliar este qua-dro, deixo uma série de questionamentospara pensarmos juntos.

Rogate: As dioceses e os institutos reli-giosos têm investido na melhoria da forma-ção de seus vocacionados?

Ir. Neiva: Apesar dos esforços, acre-dito que ainda continua sendo um desafioa formação integral que atinja todas as di-mensões da pessoa humana. Mais do quenunca, além da formação pastoral e acadê-mica, é necessária a formação humana, quecontribua na integração da pessoa em suasexualidade e afetividade, em vista de umavida doada na gratuitamente e por amor àcausa do Reino. Uma formação fundada naespiritualidade bíblica, na escuta da vonta-de de Deus, que se manifesta no cotidianoe nos apelos deste novo contexto culturale social. Além disso, é necessário resga-tar a importância da formação para a cons-ciência crítica, que está um tanto deixadade lado. Constata-se em algumas casas deformação, sobretudo masculinas, que háuma excessiva preocupação com a forma-ção intelectual, em detrimento da dimen-são humana e espiritual. Essas lacunaspoderão trazer deficiências na vivência eno testemunho evangélico das pessoas quese consagram para o serviço do Reino. Oprocesso da formação inicial necessita, ain-da, superar as etapas formativas, tornan-do-se um espaço de tempo suficiente paraque o e a jovem possam assumir um pro-cesso de discernimento e amadurecimen-to na opção de vida abraçada.

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ENTREVISTACongresso superou asexpectativas

Rogate: Acredita que as dioceses e osinstitutos de vida consagrada estão maisconscientes da necessidade de um adequadoserviço de animação vocacional?

Ir. Neiva: Existem hoje iniciativas bo-nitas no investimento de um trabalho in-tegrado que não está somente direcionadoao ministério ordenado ou à vida consagra-da. Há consciência de que é urgente se in-vestir na animação vocacional e na forma-ção aos diversos ministérios da comuni-dade eclesial, na formação de uma Igrejatoda vocacionada, chamada a vocacionar.No entanto, os passos concretos nesta di-reção ainda são muito lentos. Se a vocaçãoé dom de Deus, que se sustenta por umaadesão de fé à pessoa de Jesus Cristo, aqualidade da presença e do testemunhovivencial da pessoa vocacionada depende,em grande parte, de uma formação sólidae integral, aberta aos valores e desafiosdeste novo tempo histórico.

Rogate: Este novo tempo histórico requerum novo modo de viver os conselhos evangé-licos: pobreza, obediência e castidade?

Ir. Neiva: A vivência dos con-selhos evangélicos continua sendouma proposta alternativa de vida, si-nalizando que é possível um outrojeito de viver frente ao atual con-texto sócio-cultural, onde se visi-biliza desigualdade social, concen-tração de bens, competição, hedo-nismo, individualismo e amor semcompromisso. Pela vivência dosconselhos evangélicos constata-seque é possível amar apaixonada-mente, doando-se na gratuidadepelo Reino, e viver livremente fren-te à vida e aos bens, na partilha so-lidária em favor dos mais pobres.

Realizado entre os dias 15 e 18 de ju-nho, na cidade de São Paulo (SP), o

Congresso Novas Gerações e Vida Religi-osa, promovido pela Conferência dos Reli-giosos do Brasil (CRB), contou com a pre-sença de mais de 1.100 religiosos e religio-sas de todo o país. As reflexões giraram emtorno do lema: “Memória, Poder e Utopia”.

Após as conferências e apresentaçõesde testemunhos de consagrados e consa-gradas inseridos em diferentes realidades,havia um espaço para acolher as conside-rações da platéia, com intensa participaçãodos congressistas. Segundo Ir. Neiva Furlin,assessora da CRB, as questões debatidasno congresso “provocaram a vida religiosaa repensar sua identidade e missão para otempo presente, a aprender com as crisese alimentar utopias, a integrar sua sexuali-dade e afetividade na dinâmica do amor-doação, a ensaiar novas práticas de poder,na ótica do serviço, da partilha de respon-sabilidades e do empoderamento”.

Na avaliação da presidente nacional daCRB, Ir. Maris Bolzan, “o congresso supe-rou as expectativas, demonstrando a impor-tância da vida religiosa se interrogar, se re-pensar e resignificar-se. Passado o evento,devemos voltar para casa, processar men-talmente o que vivencia-mos nestes dias e pro-cessar as mudanças navida concreta, para deixarnascer o novo, na certe-za de que o Espírito agiue continua agindo emnosso meio”. Dentre asvárias questões debati-das no congresso, Ir.Maris destacou a neces-sidade de se refletir so-bre a formação: “Não sepode manter vocaciona-das e vocacionados emestufas e depois jogá-losna realidade cotidiana,pois não resistirão”.

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ATUALIDADESATUALIDADES

Agosto: mês vocacional

“Rogai ao Senhor da messe que envie trabalhadores parasua colheita” (Mt 9,38; Lc 10,2). A Igreja do Brasil nosconvida a refletir sobre as diversas vocações presentes

na comunidade: cristãos leigos e leigas, pessoas devida consagrada e ministros ordenados

Fotos: Arquivo Rogate

Todo ser humanoé convidado porDeus a desen-

volver e viver plena-mente sua vocação. Epara isso ele nos enviouseu Filho, Jesus Cristo:“Eu vim para que todostenham vida e a te-nham em abundância”(Jo 10,10).

Sendo a vocação umdom precioso de Deus,com carinho especial aIgreja Católica nos anima a aprofundarmosa reflexão sobre algumas vocações especí-ficas no mês vocacional. A cada semana domês de agosto celebramos os diferentesvocacionados e vocacionadas, caso dos pa-dres, dos pais e das famílias, dos religio-sos e das religiosas, dos e das catequistase dos cristãos leigos e leigas.

Toda nossa vida e vocação se inserenum contexto social, cultural e em um dadomomento histórico. Somos seres datadosno tempo e isto traz certos contornos nodesenvolvimento da missão.

Ao fazermos uma breve contextualiza-ção de nosso tempo contemporâneo, va-

mos percebendo astransformações ocorri-das ao longo da histó-ria de cada vocação, navida de cada pessoa, daIgreja e do mundo deum modo geral.

Muitos autores vêmrefletindo sobre as mu-danças de paradigmasnesta época de trans-formações pela qual es-tamos passando. O quenos provoca a pensar no

modo de como temos vivido nossa voca-ção específica. Poderíamos aprofundar oestudo sobre este aspecto, mas, neste bre-ve artigo, a meta é abordar o específico decada uma das vocações celebradas no mêsde agosto.

O padreTambém conhecido como presbítero ou

sacerdote, padre quer dizer pai, pastor. De-senvolve um papel importante na Igreja,sendo um continuador da missão de Cristono exercício autêntico de seu ministério. Échamado por Deus para cuidar com dedica-ção e zelo do rebanho a ele confiado.

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ATUALIDADES

A família éa célula viva,

é o centroe o lugar

onde Deusquis morar,fazendo-se

Verbo Encar-nado. É ocomeço...

ANÚNCIO CATTONI

Vivendo intimamente unido a Deus pelaoração, castidade, obediência e fé, o padrese transforma num portador poderoso daPalavra, capaz de transformar a vida pes-soal e social das pessoas, de acordo com avontade do Pai. Pela unção, opadre se identifica a Cristo, échamado do meio do povo,configurado a Cristo pelo sa-cramento da Ordem. Tem amissão de anunciar o evange-lho, de realizar os sacramen-tos em nome de Cristo, deeducar na fé (pela sua pater-nidade espiritual), de animare coordenar os diversos mi-nistérios e pastorais necessá-rios para que a comunidadeviva e desenvolva a fé cristã,servindo sempre com amor opovo em suas necessidades.Esta missão do padre torna-se ainda importante frente à realidade tãodesafiadora na qual vivemos.

Os pais e as famíliasNa sociedade, a história da família não

se constitui de forma linear. Ela é uma his-tória cíclica, que se transforma continua-mente com o passar dos tempos. Há vários

modelos de família que se desfizeram, setransformaram ao longo da história. No oci-dente ainda vigora o modelo burguês-nu-clear, que por muitos anos foi aceito e váli-do como o ideal de família. No entanto, atu-

almente, com as mudanças deparadigmas, este modelo estátambém se transformando.

A família é a célula viva, éo centro e o lugar onde Deusquis morar, fazendo-se VerboEncarnado. É o começo, ouseja, onde se inicia a educa-ção cristã, a vivência dos va-lores evangélicos, da solidari-edade, cidadania, respeito,amor. Valores que aos poucosestão se perdendo.

Neste momento históricotemos a missão de resgatareste espaço sagrado para quenão morra a utopia e o ideal

cristão. Numa sociedade onde quase tudoé provisório e descartável, pai e mãe sãodesafiados a nadar contra a corretenza paraensinar que vale a pena viver os valorescristãos referentes à família.

O papel do pai e da mãe, hoje, é de se-rem protagonistas, para resgatarem o va-lor da relação, da convivência, amizade,

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Semana do Estudante07 a 13 de agosto

Coordenada pela Pastoral da JuventudeEstudantil (PJE) e promovida pelas

Pastorais da Juventude do Brasil (PJB), aSemana do Estudante deste ano (07 a 13de agosto) tem como lema: “A minha esco-la tem gente de verdade”, e como eixo:“Protagonismo Estudantil e Segurança:Garantia dos Direitos Sociais”. Faz parte deum processo que contempla mais duas ati-vidades: a Semana da Cidadania (21 a 28de abril) e o Dia Nacional da Juventude (29de outubro).

A Semana do Estudante é celebradaanualmente, desde 2003, na semana do dia11 de agosto, Dia do Estudante. Visa propi-ciar maior engajamento dos estudantes noque diz respeito às problemáticas de suaescola, do mundo, da educação e da socie-dade em geral.

Durante a Semana do Estudante os gru-pos de jovens, núcleos, líderes de turma,grêmios estudantis e todos os estudantessão chamados a organizar atividades parareflexão e mobilização. É fundamental quese forme uma Equipe Organizadora da ati-vidade, facilitando o planejamento e a exe-cução das tarefas. Uma planilha foi elabo-rada para ajudar nesta missão, contendovárias sugestões de atividades, dicas impor-tantes, texto de aprofundamento, propostasde três encontros temáticos e uma celebra-ção estudantil (ecumênica).

Pedidos:Pastorais da Juventude do Brasile-mail: [email protected] Brasília (DF): tel. (61) 3447-7342

Pastoral da Juventude Estudantile-mail: [email protected] Porto Alegre (RS): tel. (51) 3027-4957- São Paulo (SP): tel. (11) 6215-0727

ATUALIDADES

Divulgação

partilha, oração, fé e esperança. É de se-rem “porto seguro”, ou seja, referencialpara um mundo sem referências.

Nunca se precisou tanto de pessoascomprometidas, que sejam sal da terra eluz do mundo. Neste alvorecer de uma novaépoca, onde os costumes e as famílias es-tão desagregando-se, é fundamental mos-trarmos que há alternativa, que há ummodo de ser pessoa integrada, pelo valorda oração, pelo bem estar comum. Por issovale a pena lutar e sonhar com um futuromelhor para as nossas famílias.

A vida consagradaA missão da vida religiosa consagrada

torna-se cada vez mais difícil e desafiado-ra no mundo contemporâneo, principal-mente frente ao momento em que vive-mos, da chamada “era planetária”, de mu-danças de paradigmas. É um tempo em queganha contorno a realidade líquida, fluída,adaptável às diversas circunstâncias, ondeos valores vem e vão com muita rapidez.A ética, a cidadania, a solidariedade, aantropoética não são consideradas pelo atu-al sistema globalizado. Por isso, viver osvalores evangélicos torna-se cada vez maisurgente.

A vida religiosa consagrada é chamadaa ser sinal escatológico do Reino no mun-do do poder, do capital, dohedonismo, na contempo-raneidade.

Ser catequistaOs catequistas são trans-

missores da Palavra de Deuscom a própria vida. São pes-soas que procuram, de fato,vivenciá-la no dia a dia. Seutestemunho é fundamental. A

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Ir. Patrícia Monteiro, FDZ

ATUALIDADES

prática da catequese naIgreja nos remete aos pri-meiros cristãos, que têma sua origem no próprioJesus, o primeiro e o mai-or catequista da história.

Não poderíamos dei-xar de citar o que sabia-mente diz o Diretório Ge-ral para a Catequese: “A vocação do leigoà catequese tem origem no sacramento doBatismo e se fortalece pela Confirmação,sacramentos mediante os quais ele parti-cipa do ministério sacerdotal, profético ereal de Cristo. Além da vocação comum aoapostolado, alguns leigos sentem-se cha-mados interiormente por Deus a assumi-rem a tarefa de catequistas. [...] Este cha-mado pessoal de Jesus Cristo e a relaçãocom ele são o verdadeiro motor da ação docatequista. É deste conhecimento amoro-so de Cristo que jorra o desejo de anunciá-lo, de evangelizar, e de levar outros ao ‘sim’da fé em Jesus Cristo” (n. 231).

Os cristãos leigos e leigasNa contemporaneidade, mais do que

nunca, as pessoas precisam de referencial,identificar-se com algo que lhes afirme o

sentido de sua existência.A missão dos cristãos lei-gos e leigas é justamen-te vivenciar o evangelho,levar a boa nova a todos,principalmente onde aIgreja institucional nãoalcança, onde os minis-tros ordenados não che-

gam e junto às pessoas que não passamperto dos templos.

Cabe aos cristãos leigos e leigas pro-curar responder aos anseios das pessoasque estão junto ao seu convívio, seja noambiente do trabalho, no ambiente famili-ar, entre outros. É importante que dêemseu testemunho aos que não conhecem aPalavra ou que foram batizados e agoraestão desiludidos, famintos e sedentos deDeus e, às vezes, justamente por essa pro-cura, caminham numa estrada confusa.

Os cristãos leigos e leigas têm a res-ponsabilidade de anunciar o evangelho,fundamentado na vivência dos valores cris-tãos através do testemunho, respondendoàs grandes interrogações e angústias doser humano de hoje.

Algumas datas importantes do mês vocacional

13 - Dia dos Paise da vocação matrimonial

- Início da Semana da Família(até o dia 19)

15 - Aniversário do IPV (13 anos)20 - Assunção de Nossa Senhora

- Dia das pessoas consagradas27 - Dia dos e das Catequistas

e das vocações laicais29 - Martírio de S. João Batista

04 - S. João Maria Vianney- Dia do Padre

06 - Dia dos Ministros Ordenados07 - Início da Semana do Estudante

(até o dia 13)09 - Edith Stein

(S. Teresa Benedita da Cruz)10 - S. Lourenço

- Dia do Diácono Permanente11 - Dia do Estudante

13Rogate 244 ago/06

E S T U D OESTUDO

Jesus, além de fazer a ex-periência do humano, an-tes de se entregar e se

doar totalmente - corpo e san-gue - por amor à nossa felici-dade, desejou ardentementecomer sua última ceia pascale ficar conosco (cf. Lc 22,15).E ele permanece conosco naEucaristia. E nela nós temoso maior dom recebido dele.

Na Eucaristia nós assimi-lamos a Jesus. E na prática eu-carística nos tornamos cadavez mais iguais a ele. São Pau-lo conseguiu essa intimidadee nos legou o ensinamento deque ela é possível: “Eu vivo,mas já não sou eu que vivo,pois é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).

Somos chamados a essa vivência ínti-ma com Deus, participando da mesa euca-rística para nos aperfeiçoar no amor. Eu-caristia é exigência de vida em comunhão.Nela há o chamado para trilharmos os ca-minhos do Reino. Aceitá-lo e realizá-lo éconseqüência da compreensão do signifi-cado da Eucaristia. Contemplando Deusescondido no pão e no vinho, Jesus Euca-rístico, escutamos o que ele fala acima detudo e de todos, em e para cada um de nós.Nele se percebe e se funda o nosso agir

caritativo e nossa vocaçãoperegrinante à casa do Pai.

Somos caminheiros nosestados de vida que optamose seguimos ao ouvir o seu cha-mado e cumprirmos a suavontade. Somos vocacionadospor Jesus Eucarístico, com-promissados com os ensina-mentos evangélicos, forman-do Igreja, que encontra na Eu-caristia sua fonte e seu ápicede vida. Na Eucaristia encon-tramos forças para viver omandamento novo de Jesus,de nos amar como ele nosamou (cf. Jo 13,34). E a novi-dade deste mandamento estáexatamente no exemplo do

Mestre e na sua entrega, seu presente, pelaEucaristia que acabara de instituir.

Como irmãos de e em Jesus, somos con-vocados, vocacionados a trabalhar por umacivilização baseada no Amor, como pesso-as eucaristizadas!

O desafio de vivermos a experiênciade intimidade com Deus, participando doconvívio do Cristo Eucarístico, que se dáem comida e nos chama a todo instantepara sermos seus fiéis seguidores, é umaconstante.

Eucaristia e vocação

Somos vocacionados por Jesus Eucarístico, compromissadoscom os ensinamentos evangélicos, formando Igreja, que

encontra na Eucaristia sua fonte e seu ápice de vida

José Silvestre Cesconetto

Fotos do 15º CongressoEucarístico Nacional

Fotos: Arquivo Rogate

14 Rogate 244 ago/06

ESPECIALESPECIAL

Em continuidade à reportagem inici-ada na edição anterior, a revistaRogate faz um levantamento - nes-

te número - das entrevistas publicadas apartir de 1993. Na primeira parte deste“Especial 25 anos da Rogate: personalida-des entrevistadas”, analisamos uma déca-da de entrevistas (1982 a 1992). Nesta se-gunda parte vamos perceber que a partirde 1998 a seção “entrevista” começa a sefirmar cada vez mais, passando a ser inse-rida nas páginas iniciais da revista. Naqueleano foram sete e, em 1999, oito entrevis-tas. A seção consolida-se plenamente noano 2000, quando se torna presença obri-gatória em todas as edições, prática reali-zada nos dias atuais.

Em 1993 a única edição que abriu es-paço para a seção de entrevista foi a n°113 (junho/julho). Na oportunidade foramentrevistadas quatro mulheres para abor-dar dois temas: leigos e pastoral univer-sitária. Na primeira entrevista, com o tí-tulo “O nosso maior desafio é a justiçasocial”, a então presidente do ConselhoNacional de Leigos, Cecília BernadeteFranco, falou sobre o trabalho realizadopela entidade. Na entrevista seguinte,

25 anos da Rogate:personalidades entrevistadas

2ª parte

A revista destaca as dezenas de entrevistas publicadas emsuas páginas nestes anos de caminhada, como é o caso do

depoimento do saudoso D. Joel Ivo Catapan, carinhosamentechamado de o “bispo das vocações”

estudantes universitárias de Campinas(SP), Brasília (DF) e Goiânia (GO) apre-sentaram um panorama do trabalho de-senvolvido pela pastoral universitária nopaís. A seção de entrevista retornou nofinal de 1994, edição n° 126 (outubro), como “10° Encontro Latino-americano de Pas-toral da Juventude”. Foi entrevistado o Pe.Vilsom Basso, religioso da Congregaçãodos Sacerdotes do Sagrado Coração deJesus, que na ocasião era o assessor naci-onal da Pastoral da Juventude, e abordoua caminhada da PJ no continente.

A primeira edição de 1995, n° 129 (ja-neiro/fevereiro), apresentou a entrevistacom o Pe. Edson Damian, na época asses-sor do então Setor Vocações e Ministériosda Conferência Nacional dos Bispos doBrasil (CNBB). Com o título “O lugareclesial do diácono permanente”, Pe. Ed-son destacou a importância do trabalho de-senvolvido pelo diácono. Em outubro, naedição 136, a revista Rogate entrevistouD. Pedro Casaldáliga, na época bispo de SãoFélix do Araguaia (MT). O religiosoclaretiano (Congregação dos MissionáriosFilhos do Imaculado Coração de Maria) re-latou como se revelou sua vocação, abor-

15Rogate 244 ago/06

ESPECIAL

dou temas como formação e o relaciona-mento entre missão e vocação, e declarou:“Penso que não há vocação sacerdotal, re-ligiosa ou missionária se não houver algode radicalidade. Estou um pouco preocu-pado com os setores da juventude eclesialque estão se acomodando, tanto no clerodiocesano quanto no religioso, para seguira pós-modernidade”.

Em abril de 1996, edição n°141, o destaque foi para a entre-vista realizada pela Rogate Ergo, daItália, com a fundadora do Movi-mento dos Focolares, ChiaraLubich. Com o título “A unidade éuma conquista, cresce com o sa-crifício”, Chiara apresentou a filo-sofia de trabalho do movimento ea importância do papel das mulhe-res na Igreja. A edição n° 142(maio) destacou a entrevista comD. Geraldo Lyrio Rocha, na épocabispo de Colatina (ES). Ele rela-tou o trabalho em sua diocese e so-bre a 34ª Assembléia Geral daCNBB, que acabara de aprovar odocumento “Rumo ao Novo Milê-nio”. A religiosa Elza Ribeiro, naoportunidade presidente da Confe-deração Latino-americana de Reli-giosos e Religiosas (CLAR), foi a entrevista-da da edição n° 145 (setembro). Com o título“Confia no Senhor!”, a religiosa falou sobreseu itinerário vocacional e sobre a formaçãodos religiosos na América Latina.

O padre espanhol, radicado na Argenti-na, Vicente Zueco, foi o entrevistado da edi-ção 146 (outubro). Falando sobre a impor-tância de “Assumir uma nova mentalidade”,o religioso da Fraternidade dos Padres Ope-rários Diocesanos do Coração de Jesus des-tacou o papel da Pastoral Vocacional, a im-portância da formação e dos ministérios lei-

gos. “A Pastoral Vocacional, uma pastoralde vanguarda” foi o título da entrevista como italiano Amedeo Cencini, religiosocanossiano (Congregação dos Filhos da Ca-ridade), autor de diversos livros, publicadana edição n° 147 (novembro). Extraída darevista “Seminarios”, do Instituto Vocacio-nal “Maestro Ávila”, de Salamanca, Espa-

nha, a entrevista abordou diversostemas, como juventude e vocação,renovação da vida religiosa e do sa-cerdócio, formação.

A edição n° 151 (abril) marcoua primeira entrevista de 1997. Foientrevistado o Pe. Paulo Crozera,então assessor do Setor Vocaçõese Ministérios da CNBB e Secre-tário Executivo da OSIB (Organi-zação dos Seminários e Institutosdo Brasil), que fez um balanço dotrabalho desenvolvido pelos doisorganismos. “Uma comunhão devocações, carismas e ministérios”foi o título da entrevista da ediçãon° 152 (maio), com o Pe. José Lis-boa Moreira de Oliveira, religiosoda Sociedade das Divinas Voca-ções. Naquela época Pe. Lisboa co-ordenava o Departamento de Pes-quisa do Instituto de Pastoral Vo-

cacional (IPV). Na entrevista falou sobre atemática da inculturação, o itinerário voca-cional, as estatísticas religiosas e os desafi-os da animação vocacional. Na edição se-guinte (153, jun/jul), o “Dia Mundial da Ju-ventude” foi o tema da entrevista, com oPe. Renato Boccardo (hoje bispo), respon-sável pelo setor juventude do PontifícioConselho para os Leigos e coordenador dapreparação daquele evento. Pela relevânciado tema, a entrevista concedida à revistafrancesa “Paris Notre-Dame” mereceu umasinopse na Rogate.

Acima, Pe. PauloCrozera; abaixo,Pe. José Lisboa:

entrevistados em 1997

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16 Rogate 244 ago/06

ESPECIAL

Ainda em 1997, no mês deagosto (edição 154), entrevistou-se D. Angélico Sândalo Bernar-dino, na oportunidade bispo daRegião Brasilândia, em São Pau-lo (SP), e responsável pelo SetorVocações e Ministérios da CNBB.Com o título “Atual conjuntura daIgreja”, D. Angélico parabenizouo aniversário de 100 anos da Con-gregação dos Rogacionistas, e fa-lou sobre o Sínodo das Américas,o projeto Rumo ao Novo Milênio,inculturação, globalização e sobrea caminhada da Igreja. A últimaentrevista do ano, edição n° 156(outubro), foi com Antonio Apa-recido da Silva, professor de Te-ologia Moral e de Evangelizaçãoe Culturas Afro-americanas. In-titulada “As Comunidades Ecle-siais de Base - CEBs”, a entre-vista foi realizada durante o 9°Encontro Intereclesial das CEBs,realizado em São Luiz, no Mara-nhão, e focalizou principalmenteeste evento e temas como incul-turação e a Pastoral Afro.

Em 1998 foram publicadas asseguintes entrevistas:

- “Presbíteros que não tenhammedo de ser gente!”, com o Pe.Dalton Barros de Almeida, religiosoredentorista (Congregação do SantíssimoRedentor) - edição 160 (março);

- “Fraternidade e Educação; Campanhada Fraternidade 1998”, Ir. Israel José Nery,religioso lassalista (Instituto dos Irmãosdas Escolas Cristãs) - edição 162 (maio);

- “A formação dos futuros presbíteros”,com Pe. Manfredo Araújo de Oliveira -edição 163 (junho/julho);

- “O início do IPV - Instituto de Pasto-

ral Vocacional”, com o Pe. JoséIonilton Lisboa de Oliveira, reli-gioso da Sociedade das DivinasVocações - edição 164 (agosto);

- “A presença do leigo e da lei-ga na Igreja e no mundo”, com oprofessor de Teologia da Sexua-lidade, Luiz de Matos - edição 165(setembro);

- “Pastoral da Comunicaçãoem integração com as demaisPastorais”, com Pe. AugustoCésar Pereira, dehoniano (Con-gregação dos Sacerdotes do Sa-grado Coração de Jesus) - edição166 (outubro);

- “D. Cândido Padin analisa asociedade e o papel da Igreja”.Esta última entrevista de 1998,edição 167 (novembro), foi reali-zada com o bispo emérito deBauru (SP).

Em 1999 foram apresentadasoito seções de entrevistas. Naedição n° 170 (março), destaquepara a entrevista “A presença fe-minina na Igreja e na Sociedade”,com a professora Anísia CuntoMotta. Na edição n° 171 (abril), areportagem “Novos agentes dePastoral Vocacional” contou comdois entrevistados, ambos religi-

osos Operários Diocesanos, os padresVicente Zueco e Martín Chavarría. Na edi-ção 172 (maio) foram entrevistados, duran-te o Mutirão Brasileiro de Comunicação,realizado em Belo Horizonte (MG), o car-deal D. Serafim Fernandes de Araújo, obispo D. Décio Zandonade e os padresCésar Moreira, Attílio Ignácio Hartmanne José Fernandes de Oliveira (Pe. Zezinho).

Merece destaque a entrevista publicadana edição 173 (junho/julho) com D. Joel Ivo

A partir do alto, osbispos entrevistados:Angélico Bernardino,Cândido Padin e Joel

Catapan (falecido)

17Rogate 244 ago/06

ESPECIAL

A Redação

Catapan, bispo auxiliar de São Paulo (SP),que havia falecido no dia 1° de maio de1999. No início daquele ano, a revista Ro-gate o havia entrevistado, com a intençãode publicá-la na edição de agosto, mês vo-cacional. Porém, o falecimento do “bispodas vocações”, como era carinhosamentechamado, adiantou a publicação da repor-tagem. Com o título “Dom Joel, exemplode amor às vocações”, a Rogate lhe fezuma singela homenagem.

Também em 1999 foram publicadas asseguintes entrevistas:

- “30 anos de UCBC: uma organizaçãoprofética”, com o Pe. Attílio IgnácioHartmann, religioso jesuíta (Companhia deJesus) - edição 174 (agosto);

- “Não se esqueçam de rezar pelas vo-cações”, com Pe. Paulo Crozera, na épocaassessor do então Setor Vocações e Minis-térios da CNBB - edição 175 (setembro);

- “Que todos possam vivenciar os ecosdo Congresso”, com Pe. Carlos AlbertoChiquim, na edição especial sobre o 1°Congresso Vocacional do Brasil (n° 176,outubro);

- “A mística como base para novas vo-cações”, com Frei Clodovis Boff, religiososervita (Ordem dos Servos de Maria), umdos assessores do 1° Congresso Vocacio-nal do Brasil - edição 177 (novembro).

A partir do ano 2000, todas as ediçõesda Rogate passaram a circular com a se-ção de entrevista, contribuindo para que oleitor conhecesse as opiniões de diversaspersonalidades que atuam diretamente nocampo das vocações ou que podem ilumi-nar a caminhada do serviço de animaçãovocacional. Na edição 179 (janeiro/feverei-ro) foi entrevistado o Pe. Eduardo AlencarLustosa, que abordou o tema “Novo milê-nio, novo presbítero?!”. Na edição 180(março) o personagem foi Pe. Pedro

Bassini, com o título “Novo presidente daComissão Nacional de Presbíteros”. Naedição seguinte (181/abril) o entrevistadofoi o frei capuchinho, Prudente Nery (Or-dem dos Frades Menores Capuchinhos),que destacou a vida religiosa. E na ediçãode maio (182), a presidente da Conferên-cia Nacional dos Institutos Seculares, InêsBroshuis, falou sobre “Institutos Secula-res: presença na Igreja e no mundo”.

Na passagem do primeiro para o segun-do semestre de 2000 (edição 183, jun/jul),o Pe. Vitor Hugo Mendes destacou a Orga-nização dos Seminários e Institutos do Bra-sil (OSIB), entidade que presidia. Na edi-ção seguinte (184/agosto) foi entrevistadoD. Angélico Sândalo Bernardino, que aca-bava de ser nomeado bispo da nova diocesede Blumenau (SC). Em setembro (edição185) o tema foi “Liturgia e Vocação”, sendoentrevistado o religioso franciscano, FreiJosé Ariovaldo da Silva (Ordem dos FradesMenores). Na edição n° 186 (outubro) a en-trevistada do mês foi a Dra. Zilda Arns, co-ordenadora nacional da Pastoral da Crian-ça, e a reportagem teve como título “A ser-viço da vida e da esperança”. Na edição n°187 (novembro), a reportagem “Pela cons-cientização do povo negro” contou com pre-sença do ministro da Eucaristia e mestrede capoeira, Pedro Batista Neri. E para en-cerrar o ano, na edição 188 (dezembro), como título “Vocação e missão das CEB’s”, arevista Rogate apresentou a entrevista detrês profundos conhecedores do tema: D.Tomás Balduino, o cantor Zé Vicente e ofrade dominicano Frei Betto (Ordem dosPregadores).

Resta-nos apresentar as personalidadesentrevistadas a partir do ano 2001. É o quefaremos na próxima edição, chegando atéos nossos dias.

18 Rogate 244 ago/06

VOCACIONALANIMAÇÃO VOCACIONAL

Motivos e motivações vocacionaisCurso Vocacional Rogate - Lição 06

Esta passagem de nossa reflexão esclarece quea opção vocacional comporta várias motivações,

algumas centrais e outras periféricas

No coração de cada vocacionado pul-sam muitas motivações quecondicionam a opção. Sabemos que

a história vocacional de cada pessoa émarcada por motivações variadas, que po-dem ser coerentes com a mensagem doevangelho ou puramente humanas e atémesmo contraditórias.

A vocação não é algo fechado e pontu-al. Se compreendemos a vocação como umdiálogo contínuo com Deus, no seguimen-to de Jesus à luz do Espírito Santo, entra-mos no campo das motivações que mar-cam tanto o começo como todo o processoda caminhada vocacional e da perseveran-ça. Por isso é eminentemente vocacionalo tema complexo das motivações, tema quefaz parte das reflexões psicológicas.

O que é motivo?Toda pessoa tem razões conscientes e

válidas para optar por determinada voca-ção e justificá-la socialmente. Estas razõespodem ser naturais ou egocêntricas, quan-do visam a realização e o bem da pessoavocacionada. Há também as razões sobre-naturais ou oblativas, onde o vocacionadose preocupa mais com os outros atravésdo serviço e da doação da própria vida.

O que é motivação?Os fatores internos de cada pessoa, os

estímulos do contexto em que vivem, de-terminam a direção e a intensidade da con-duta dos vocacionados. Considera-se tam-bém uma série de mecanismos psicológi-cos que estão na base de toda inclinação,os quais condicionam em boa parte as rea-ções e as respostas das pessoas a um ou aoutro modo de ação e de vida.

Na perspectiva vocacional, as motiva-ções se apresentam como inspiração de seralgo, de responder a um chamado especí-fico, de compreender a vontade de Deusclarificada com o processo de discernimen-to. Na prática, as motivações dirigem esustentam o processo vocacional, que apa-rece relacionado com o tema da satisfaçãopessoal e sua realização. Toda motivaçãotem uma causa e toda opção tem seus “por-quês”. Na linguagem corrente, os vocacio-nados não falam de motivação. Eles prefe-rem usar alguns sinônimos como: desejo,intenção, sonho e vontade.

Motivações e motivaçõesHá motivações autênticas, respaldadas

por valores humanos e cristãos, como o de-

19Rogate 244 ago/06

Ter método pedagógicoe saber planejar

VOCACIONAL

sejo de servir ao próximo, de ajudar osmais necessitados ou de consagrar-se aCristo. Mas existem as falsas motivações,que ocultam os verdadeiros valores comfrases e atitudes que assinalam o egoísmoou a insegurança pessoal. Alguém podeoptar pela vocação sacerdotal em busca deum status e reconhecimento social, e ja-mais se interessar pelo serviço a Deus e aseu povo. Outros procuram abrigos nascomunidades religiosas em busca de pro-teção ou superação de medos. Sabemos demuitas histórias de vocacionados que apre-sentavam motivações aparentemente vá-lidas e bonitas, quando na realidade camu-flavam seus interesses reais e procuravamfugir do mundo, esconder-se, “livrar-se”de um possível casamento ou simplesmen-te garantir sua sobrevivência em meio àsociedade marcada pelo consumismo, pelaviolência e pela forte competição.

Verificar as motivaçõesNo decorrer do processo vocacional

devemos sempre verificar as motivações.Somos chamados a fazer um constante e

Na perspectiva vocacional, as motivaçõesse apresentam como inspiração de ser algo,de responder a um chamado específico,de compreender a vontade de Deus clarificadacom o processo de discernimento

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O2º Congresso Vocacional do Brasil, re-alizado em setembro de 2005, insistiu

na importância do Serviço de Animação Vo-cacional ter um método pedagógico e umbom planejamento das atividades. O Docu-mento Final do evento apresenta indicaçõesconcretas que ajudarão os animadores vo-cacionais a desempenharem sua missãonas comunidades. Certamente um bom pla-nejamento e o uso do método pedagógicofacilitará o acompanhamento vocacional aser realizado, auxiliando na descoberta dasmotivações vocacionais dos candidatos.

Segundo o Documento Final do Con-gresso (n. 45), no que diz respeito ao méto-do pedagógico, o Serviço de Animação Vo-cacional deve:

a) conhecer a realidade religiosa, socio-política, econômica, cultural e familiar, bemcomo o local de atuação da Pastoral Voca-cional, identificando e escutando os anseiosdos vocacionados e vocacionadas;

b) fazer a catequese vocacional, tendoa centralidade no anúncio da Palavra deDeus e uma correta antropologia, inspiradana pessoa de Jesus Cristo;

c) conhecer a história e o plano de atua-ção da Pastoral Vocacional, para planejarde forma orgânica o itinerário vocacional;

d) criar a consciência de comunidade ede pertença eclesial;

e) valorizar a troca de experiências inter-subjetivas, acolhendo os valores trazidosdas diversas realidades, promovendo a li-berdade da pessoa humana diante dos de-safios atuais;

f) re-valorizar a própria experiência dovocacionado e da vocacionada, em vista deuma resposta adulta, em sintonia com a me-todologia e a pedagogia do Concílio Vatica-no II e da Igreja latino-americana;

g) avaliar continuamente o processometodológico e pedagógico.

20 Rogate 244 ago/06

Pe. Gilson Luiz Maia, RCJ

Para meditar e responder:

1. O que é motivação?

2. Quais motivações são autênticas eevangélicas e quais podem ser clas-sificadas como falsas ou insuficientespara respaldar uma determinada op-ção vocacional?

3. Qual a relação entre motivações eperseverança?

ANIMAÇÃO VOCACIONAL

honesto exame de consciência, rever osmotivos e examinar as intensões mais pro-fundas do coração. Não se trata de investi-gar ou acusar ninguém. Interessa detec-tar as forças que pulsam no coração dovocacionado, clarificá-las e, se necessário,purificá-las. Neste processo, às vezes, ne-cessitamos da ajuda de um técnico paradescartar certas motivações e garantir aperseverança fiel ao projeto vocacional.

Motivações e perseverançaAs autênticas motivações são acompa-

nhadas, apesar da fragilidade humana, pelabusca incansável de coerência de vida. Mo-

tivações sinceras epositivas promo-vem a perseveran-ça durante toda ahistória dos voca-cionados. Porém,não podemos es-quecer que umamotivação isolada,mesmo quando au-têntica e bonita,pode ser insufici-

ente para garantir a perseverança da pes-soa vocacionada. As motivações tambémpodem variar ou amadurecer ao longo doprocesso de discernimento e acompanha-mento vocacional, pois a vocação é um pro-cesso de aprendizagem e amadurecimen-to da pessoa, que é livre para acolher ounão o chamado divino.

As motivações vão criando raízes nodecorrer do caminho ou ganhando novasfacetas. No fundo do coração humano, po-rém, deve haver uma motivação dominan-te ou um conjunto de motivações que cres-cem e amadurecem com o vocacionado.Interessa revisá-las, purificá-las e reconhe-cer que as motivações autênticas são si-

nais da graça de Deus, o qual nos ama echama desde toda eternidade.

Quando as motivaçõessão falsas

Muitos vocacionados são bem intencio-nados, apesar de ocultarem suas reais mo-tivações pelas quais elegem esta ou aquelavocação. Não podemos esquecer das pres-sões e condicionamentos externos que atin-gem os jovens da atualidade, filhos de umasociedade globalizada, marcada pela ideo-logia neoliberal. Mas nenhum animadorvocacional pode negociar os valores do Rei-no, e muito menos aceitar motivações quecontradizem a dinâmica do evangelho doamor e da gratuidade. Por isso, quando per-cebemos que as motivações são falsas, te-mos que percorrer um caminho de conver-são à pessoa de Jesus Cristo e à vivência desua mensagem. Torna-se indispensável umadisposição interior no vocacionado, que re-conhece suas limitações e busca purificarsuas motivações vocacionais. Neste contex-to destacamos a importância da direção es-piritual no processo vocacional, que ajudaos jovens a verificar suas motivações e adescobrir a centralidade de Jesus Cristo,amá-lo e servi-lo.

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IN FORMAÇÃOIN FORMAÇÃO

Suma Teológica

Ao lançar o nono e último volumeda obra de Santo Tomás de Aquino,Edições Loyola apresenta a versãocompleta da coleção que éconsiderada um dos principaistratados do cristianismo

Formato: 16,5 x 22,5 cmPáginas: 555 (mais extras)Preço: R$ 120,00

Pedidos:www.loyola.com.brTel.: (11) 6914-1922

Divulgação

Divulgação

Os sacramentos é o tema estudado por Santo To-más de Aquino (1225-1274) no volume IX daSuma Teológica, que marca a conclusão desta co-

leção. No livro o autor define o que é sacramento, de-pois aborda os efeitos e as causas, concluindo com o es-tudo detalhado de cada um dos sacramentos. Redigidano século XIII, a Suma Teológica é um clássico da filoso-fia escolástica e representa um marco na relação entrefé e razão. A obra completa é uma investigação racional dos princípios do catolicismo apartir das propostas realistas de Aristóteles. Se antes o pensamento cristão se inspiravanas teorias neoplatônicas de Santo Agostinho, a Suma Teológica trouxe como novidade ouso de conceitos da demonstração científica aristotélica, que mudaram os rumos da dou-trina escolástica da Idade Média, influenciando profundamente o pensamento ocidental.

Editada em papel Bíblia 40g, com fino acabamento, esta versão da Suma Teológica foiorganizada por Frei Carlos-Josaphat Pinto de Oliveira, da Ordem dos Pregadores, e pos-sui comentários introdutórios preparados por estudiosos da área de Teologia.

Em cinco anos de atividade, a jovem editora católica Palavra &Prece tem se consolidado no mercado editorial brasileiro. Sãomais de 60 títulos publicados, grande parte deles na área da e-vangelização e da oração. Um de seus últimos lançamentos é olivro O discípulo e a arte de servir a Deus, com textos que visammotivar a caminhada de todos os vocacionados e vocaciona-das do Pai. Os autores, Eduardo Issa e Rosanildo Queiroz, sãomúsicos e compositores, além de participarem da RCC.

São 96 páginas (formato: 14 x 21 cm), R$ 12,00.Pedidos: www.palavraeprece.com.br - tel.: (11) 6978-7253

O discípulo e a arte de servir a Deus

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IN FORMAÇÃO

Curso da OSLAMA Organização dos Seminários Latino-

americanos (OSLAM) realizou, de 02 a 28de julho, em Santo Domingo, RepúblicaDominicana, a 28ª edição do Curso Lati-no-americano para Formadores de Semi-nários Maiores. Participaram 45 formado-res, provindos de 13 países da AméricaLatina e Caribe.

IPV completa 13 anosO Instituto de Pastoral Vocacional (IPV)

completa 13 anos no dia 15 de agosto. Fun-dado em 1993, o IPV é formado por váriosinstitutos que têm por carisma o trabalhopelas vocações e ministérios. “Nestes 13anos de vida há muito o que celebrar”, afir-mou o atual coordenador do Departamen-to de Produção do IPV (e também diretorde redação da Rogate), Pe. Juarez Destro.“Foram inúmeros os cursos e as assesso-rias, tanto dentro da sede do IPV, em SãoPaulo, quanto em várias regiões do Brasil.As Escolas de Preparação dos Animado-res Vocacionais, as pesquisas, as produçõese a participação ativa nos principais even-tos já realizados na área vocacional, sãomotivos de alegria e festa!”, afirmou o re-ligioso rogacionista. No dia 21 está marcadauma Assembléia da entidade para, dentreos vários assuntos, celebrar o aniversário.

Grito dos ExcluídosNo próximo dia 07 de setembro, em

todo o país, acontece o 12º Grito dos Ex-cluídos, com o lema “Brasil: na força daindignação, sementes de transformação”.Segundo os coordenadores do evento, aproposta deste ano é “mostrar que, se omedo vem vencendo a esperança, esta con-

tinua a lançarsementes detransforma-ção por todo osolo verde eamarelo, emvista da cons-trução de umapátria forte,justa e sobe-rana”.

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Semana da FamíliaDe 13 a 19 de agosto celebra-se a Se-

mana da Família, com o tema: “Diálogo fa-miliar e com Deus: fonte de conhecimentoda verdade e da conquista da liberdade”. Asemana começa com o Dia dos Pais, no se-gundo domingo do mês vocacional. Subsí-dios específicos poderão ser adquiridos naPastoral Familiar de sua comunidade.

Missão Jovem: 20 anosFundado em Florianópolis (SC) no dia

14 de agosto de 1986, o jornal Missão Jo-vem, após 20 anos de vida, continua com amissão de educar a juventude, formarcatequistas e lideranças, além de ser umvalioso instrumento de animação missio-nária. Atualmente é utilizado por mais de35 mil assinantes em todo Brasil e em ou-tros 50 países. Pela Internet é possívelacessar a programação de aniversário dojornal e se cadastrar para receber informa-ções (www.missaojovem.com.br).

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As mensagens enviadas poderão sereditadas pela equipe, favorecendo ummelhor entendimento de seu conteúdo.

www.rogate.org.brAcesse a Revista Rogatepela Rede Mundial deComputadores, a Internet.

Artigos, informações,chamadas principaise edições anteriores.

Mês VocacionalGostaria muito de saber qual é o tema

do mês vocacional para este ano de 2006.Aqui onde moro é distante e as informa-ções são difíceis.

Valmi BohnJacundá (PA)

Nota:Valmi, o mês vocacional geralmente não

apresenta um tema específico. As comuni-dades têm liberdade de elaborar suas refle-xões e celebrações preferencialmente a par-tir do contexto local, levando em conta o con-texto da Igreja nacional. Seria interessantesua comunidade utilizar o Documento Fi-nal do 2º Congresso Vocacional do Brasil.Caso você queira um subsídio já pronto, su-gerimos o livreto produzido pelo Centro dePastoral Popular: “Chamados a ser discí-pulos e missionários de Jesus Cristo!” (emvista da próxima Conferência do Episcopa-do Latino-americano). Tem o custo unitá-rio de R$ 1,30 e pode ser adquirido pelaInternet (www.cpp.com.br).

L E I T O RLEITOR

Revista Rogate: ontem e hoje, animando as vocações junto com você!

Celebração VocacionalSolicito 20 exemplares da Celebração

Vocacional “As vocações na messe” (su-plemento da revista Rogate nº 243). Egostaria de mais informações sobre comoreceber mensalmente as celebrações.

Sandra Aparecida LeoniJoinville (SC)

Nota:Prezada Sandra, já enviamos o seu pe-

dido e esperamos que chegue a tempo. AsCelebrações Vocacionais avulsas podem serassinadas na quantidade desejada, a par-tir de uma dezena. O custo unitário é deR$ 0,20 (vinte centavos). São dez edições

ao ano. Para o seu caso, de 20 celebraçõesao mês, por exemplo, a assinatura anualseria de R$ 40,00 (quarenta Reais). Sigaas instruções da ficha central e qualquerdúvida entre em contato, ok?

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MÍSTICAMÍSTICA DA VOCAÇÃO

Lucas, anunciadorda misericórdia

Frei Patrício Sciadini, OCD

Sempre gostei do evangelho de Lucas.Sinto nele uma presença viva doamor de Deus que se debruça sobre

os pecadores e abraça a todos no seu amorde Pai. Todo vocacionado deve fazer o seucaminho de discernimento com Lucas, omédico sábio, o historiador atento à ver-dade, que sabe colher atrás dos aconte-cimentos o agir silencioso mas amorosode Deus.

Sabemos que Lucas não conheceu pes-soalmente Jesus, mas, pela sua fidelida-de, zelo e fogo evangelizador, mereceuestar perto dos apóstolos. E depois de terinvestigado, como ele mesmo diz ao seuquerido amigo “invisível” Teófilo, decidiuescrever fatos da vida de Jesus. Lucasanuncia a boa nova e o mistério da salva-ção após ter escutado as “testemunhasoculares”. É também considerado “o e-vangelista de Maria”, porque em seuevangelho encontramos o melhor que te-mos sobre a missão da Virgem Santa. Comquanta delicadeza ele relata a anunciaçãodo anjo e a intervenção de Deus na vidade Maria de Nazaré!

Com Lucas contemplamos a Virgemorante que, embora tímida e medrosa, nãoousa dizer “não” ao chamado do Senhor.Toda mística da vocação tem seus momen-tos de perplexidade, de angústia, de dúvi-da, superados apenas quando nos coloca-mos nas mãos de Deus. Lucas apresenta-nos com ternura a bondade de Deus quese manifesta no nascimento de Jesus. Etambém a doce correção de uma mãe afli-ta diante da perda de seu filho e seu Deus.

Entretanto, o que mais toca a nossasensibilidade humana são as parábolas damisericórdia, que somente o evangelho deLucas nos transmite com seu estilo sim-ples, mas direto. É o caso da parábola dofilho pródigo, por exemplo. Quem se deci-de a seguir a vocação ao sacerdócio oudiaconato, à vida religiosa e consagrada,deve vestir-se da misericórdia e saber ex-perimentar, como diz santa Teresinha, queé necessário “sentar-se à mesa dos peca-dores” para poder sentir toda a tristeza dosque vivem longe de Deus. Longe dele hátrevas, frio, solidão. Somente perto deDeus nos sentimos bem, acolhidos, ama-dos e perdoados. Nunca a humanidade ne-cessitou tanto da “pastoral da misericór-dia” como hoje. O coração humano tem leisque a tecnologia não pode compreender enem desvendar. Há em nós mistérios eportas fechadas que se abrem somentecom a chave da bondade e do amor.

Lucas é o grande médico dos corpos edas almas. Provavelmente por sua origemprofissional, sabe compreender os sofri-mentos que pesam sobre a frágil estrutu-ra humana. Talvez por isso sabe, também,compreender o sofrimento dos pecadoresque querem libertar-se.

Lucas deve ser mestre de misericórdiapara todos os que decidem escolher a vo-cação ao ministério ordenado, à vida con-sagrada, ou de evangelizadores. Aliás, mi-sericórdia é característica de todo cristão.Sem misericórdia não há cristianismo.