Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, … · CENTRO DE RASTORAL VERGUEIRO...

30
«^V./*". "^ '-^ ^-s >S —\ ^ ^ ,-. ^ ^' ^ x À-:>^ ^ OPINIÃO .ANÁLISE . .INFORMAÇÃO Pubiicacáo Quinzenal do CENTRO DE RASTORAL VERGUEIRO intarna Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, que as obriga a tirarem a roupa para revista Jornal do Brasi - 21.06.89 ^--""-.ifif 18 ^ í 0 terror «Meste de gravidw? -Como $ ão feit as ^^^fv- - Mw temos que tirara , f^«9wto./K f ^^'^ (Icss. lom ' r a Poma da mo- 3 ^'"síaé feita onde? c Jata numas cabina . m que a aentè uln ' f v "' 0 "'/'«'- P^r roupão A JZ ^^ Vai <<**• a ^irac,ròupa g *"'* ** «*** <' e <o/ocamos nascòf.l mo!iaro "P" - - Você Ui feS AfSí de nvpa. «•" foi chamVa "Ta feTl do i* chamam emllf" íres "'"". des fco. TanLmqlZo? Tf ultório ^ ^x^úsr ****** *o*tos mandadolT*,^**"!**' 0 - "^ ^.Eles^aJ^^Por/ma ria/ Você .abe de quamoé seu pi.o S al a . 7~ Agora, mudou tuda U P„ "'>l>ol»os m plo^r *"*• nós ^ a produção S ^ nao ' ,m 9* ~ Você exerce a f u çâo de cosfure . Exerço. Ganha como costureira' iwJto e * ou t** 0 *** como cot* nJZm? gaahaad0 c omo o quê, 0 J^^r a produção è que receto ^?arVSetr Pr0d ^ OVOtê ^Mue '"''igir oiNCS J7S CA "" U,OS - P ur " <*? ^ssajorZda à fjf e0 f eat0 "^ ' minuios p>r i a 0 e J e mo 'loru* e 53 'os. A/afuó ':"jr m !' a S33 """" "* Você HóSIJZ, dilr 575 »"""- ^dacarlaZS 0 '^ 1 ^ 1 ^ NOTA: NO p** *^ ————— co ^rmn,arescresseassuTo ZENA ^"^^^iZ 0 Sindiquímica na Bahia 3 Melalúrglcos de São Bernardo 7 a 10 Arrocho Salarial e Crescimento Econômico 19 e 20 í-:-

Transcript of Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, … · CENTRO DE RASTORAL VERGUEIRO...

Page 1: Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, … · CENTRO DE RASTORAL VERGUEIRO intarna Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, que as

«^V./*". "^ '-^ ^-s >S —\ ^ ^ ,-. ^ ^' ^ x À-:>^ ^

OPINIÃO .ANÁLISE . .INFORMAÇÃO

Pubiicacáo Quinzenal do

CENTRO DE RASTORAL VERGUEIRO

intarna

Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, que as obriga a tirarem a roupa para revista

Jornal do Brasi - 21.06.89

^--""-.ifif18^ í0 terror «Meste de gravidw?

-Como $ão feitas ^^^fv- - Mw temos que tirara , f^«9wto./Kf ^^'^ (Icss. lom'r a Poma da mo-

3 ^'"síaé feita onde? c Jata numas cabina . m que a aentè uln ' fv"'0 "'/'«'- P^r roupão A JZ ^^ Vai <<**• a^irac,ròupag *"'* ** «*** <'

e <o/ocamos nascòf.l 'ímo!iaro"P"

- - Você Ui feS AfSí de nvpa.

«•" foi chamVa "Ta feTl do i*

chamam lá emllf" íres "'"". des fco. TanLmqlZo? Tfultório ^

^x^úsr ******

*o*tos mandadolT*,^**"!**'0- "^ ^.Eles^aJ^^Por/ma

ria/Você .abe de quamoé seu pi.o Sala. 7~ Agora, mudou tuda U P„

"'>l>ol»os m plo^r *"*• nós

^ a produção S ^ nao' ,m 9* ~ Você exerce a fu„çâo de cosfure.

— Exerço. — Ganha como costureira'

iwJto e*ou t**0*** como cot*

nJZm? gaahaad0 como o quê,

0 J^^r a produção è que receto

^?arVSetrPr0d^OVOtê^Mue

'"''igir oiNCS J7S CA ""U,OS

- Pur" <*? ^ssajorZdaàfjfe0feat0"^ ' minuios p>r ia 0

eJe mo 'loru* e 53 'os. A/afuó ':"jr m!'a S33 """"■ "*■ Você vê HóSIJZ,

dilr 575 »"""- ^dacarlaZS0'^1^1^

NOTA: NO p**™*^ ————— co^rmn,arescresseassuToZENA ^"^^^iZ

0 Sindiquímica na Bahia 3

Melalúrglcos de São Bernardo 7 a 10

Arrocho Salarial e Crescimento Econômico 19 e 20

í-:-

Page 2: Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, … · CENTRO DE RASTORAL VERGUEIRO intarna Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, que as

Quinzena ® Trabalhadores Diário do Grande ABC - 18.06.89

Empresas da região adotam métodos de gerência japoneses

ANA CRISTINA DA CONCüIÇÃO

Na busca de maior produtividade, com redução de custos e preços mais competitivos, as indústrias do Grande ABC vêm introduzindo em suas linhas de produção técnicas de gerenciamen- to desenvolvidas pelos japoneses na década de 70, depois de sofrerem o impacto de dois choques do petróleo na economia do Japào.

Curiosamente, essas técnicas nào são japonesas. Nasceram nos Estados Unidos e foram aperfeiçoadas pelo Japão que é hoje a segunda economia do mundo. Uma dessas técnicas é o TPM, ou Total Produclive Mainte- nance, que visa a obter o máximo ren- dimento das máquinas, reduzindo ao mínimo o tempo em que ficam paradas.

O Brasil só veio a conhecer o TPM em 1986, quando a empresa 1MC In- ternacional, especializada em inter- câmbio de técnicas empresariais, montou o primeiro seminário sobre o assunto no Pais, com o especialista Seiichi Nakajima. Das empresas que então participaram desse primeiro contato com o TPM algumas já estão implantando o método em suas fábri- cas, como a SKF e a Caterpillar, de São Paulo. No Grande ABC, a Man- gels, e a Massey Perkins estão treinan- do seu pessoal para se ajustar a esse método, que implica, também, numa mudança de mentalidade.

MÁQUINAS O presidente do 1M&C, Yassuo

Imai, que convida especialistas estran- geiros para tratar não só das técnicas "japonesas", mas também as desen- volvidas por outros paises, explica que o Ocidente já conhecia sistemas como TQC (Total Quality Control), que visa à melhoria da qualidade em todas as instâncias da fábrica e não somente em nível de produto — e o just in time — que elimina estoques

Os japoneses aperfeiçoaram ainda outras técnicas de gerenciamento nascidas no Ocidente, como por exemplo: TQC (Total Quality Control) — Uma política global para melhorar não somente a qualidade do produto, mas tam- bém o serviço executado, o relacionamento no ambiente de trabalho, enfim tudo o que se refira ao funcionamento da empresa. CCQ (Círculo de Controle de Qualidade) — A política de TQC é discutida e implementada pelos grupos de CCQ, em que participam cada diretoria e gerência Just-in-time — processo de produção que elimina estoques íntermediá-

intermediários, na medida em que programa a produção para fabricar na quantidade e no tempo definidos pela demanda.

"O TPM vem se juntar a eles, fa- zendo com que a manutenção das má- quinas mereça uma atenção especial para se obter o melhor rendimento e não permitir que quebrem por defeito ou má conservação" — explica Imai. A principal inovação do TPM é que o operador da máquina passa a ser co- responsável por sua manutenção, es- tando preparado inclusive para fazer pequenos ajustes. "Isso valoriza o trabalho do operador, que ganha mais habilidade, e do setor de manutenção, que só é acionado quando se trata de problemas maiores como, por exem- plo, desmontar a máquina" — observa.

RESULTADOS Pelo TPM, todos os dias o opera-

dor, ao iniciar seu trabalho, gasta um determinado tempo limpando a má- quina e checando suas condições de funcionamento. O resultado dessa in- timidade com o equipamento, segun- do Imai, é que o operador fica treina- do até para prever problemas ao ouvir um ruído estranho ou quando há va- zamento de óleo.

Por outro lado, o ambiente de tra- balho torna-se mais arejado — desenvolve-se a mentalidade de se tra- balhar num local limpo e, portanto, mais seguro. Imai lembra que uma fá- brica japonesa que trabalha com o conjunto de técnicas TPM leva essa meta de limpeza a tal ponto que as pessoas transitam nas dependências com chinelo de flanela, para não car- regar pó do sapato para dentro da fá- brica. "Aliás, o piso da fábrica não pode ter mais pó que a mesa do dire- tor da empresa" — diz Imai.

O Brasil ainda não chegou nesse

Técnica é aprimorada

exagero. Até porque as empresas ain- da estão implantando essa técnica, que demanda treinamento de pessoal para se acos-tumarem com essa preo- cupação. Em todo caso, Imai descon- fia que pelo menos 200 empresas estão pensando em aplicar o TPM em suas fábricas, a julgar pela procura de va- gas no seminário sobre o assunto que a IMC promoveu esta semana no Cen- tro Empresarial de São Paulo. "Os 110 lugares ficaram lotados" — ga- rante, avisando que em novembro ha- verá novo seminário a respeito.

QUEBRA O grande objetivo do TPM é a

"quebra zero", isto é, com a manu- tenção preventiva, a produção nunca seria surpreendida pela parada de má- quina por defeito. "Hoje uma empre- sa não pode se dar ao luxo de seu equipamento operar na iminência de uma quebra. Para os setores que ope- ram em processo contínuo, quando pára uma máquina, pára toda a pro- dução. Nesses setores, segundo Imai, o TPM é vital.

O superintendente de produção da Caterpillar, de São Paulo, José Ma- nuel dos Santos Abreu, já tem alguns resultados da aplicação do TPM num lote de 50 máquinas, envolvendo 400 funcionários, desde janeiro. "Antes a disponibilidade das máquinas era de 94% a 95% e hoje é de 97% — ilustra.

Há um ano e meio utilizando o TPM em três fábricas, a Rolamentos Schaessler, fornecedora da Autolati- na, está atingindo a marca de 99 pon- tos na avaliação da holding sobre qua- lidade máxima de seus fornecedores. "Antes só chegávamos a 90 pontüs" — informa o chefe de desenvolvimen- to de máquinas e eletrônica da Schaessler, Duílio Sabá.

rios. Na prática isso significa que cada setor da fábrica de- ve produzir na quantidade e no prazo necessários para não acumular estoques, que representam capital empatado. FMS (Sistema Flexível de Manufatura) — Conjunto de técnicas que permite produzir na quantidade e nos mode- los determinados pela demanda, sem perda de competiti- vidade no caso das pequenas quantidades (lote econômico). SMED (Single Minute Diecast Exchange) — Método que permite a troca rápida de ferramentas ou equipamentos contribuindo para a maior flexibilidade na produção

ASSMATURAS: Grupo 1 (assinatura com subsídio) NCz$ 11,40 (seis meses) eNCzS 22,80 (12 meses) Grupo 2 (assinatura sem subsídio) NCz$ 15,60 (seis meses) e NGz$ 31,20 (12 meses) Entidades Sindicais e outros NCz$ 24,00 (seis meses) e NCz$ 48,00 (12 meses) Extenor (via área) US$ 30,00 (seis meses) e US$ 60,00 (12 meses) O pagamento deverá será feito em nome do Centro de Pastoral Vergueiro em cheque nominal cruzado, ou vale postal DESDE QUE SEJA ENDEREÇADO PARA A AGÊNCIA DO CORREIO IPIRANGA -CEP 04299 - Código da Agência 401901

QUINZENA - Publicação do CPV - Caixa Postal 42.761 - CEP 04299 - São Paulo - SP - Fones: (011)273 6533 e 273 9322

A QUINZENA divulga as questões políticas de fundo em debate no movimento, contudo colo- ca algumas condições para tanto. Publicamos os textos que contenham teses e argumenta- ções estritamente políticas, evitando os ata- ques pessoais; serão publicadas as réplicas que estejam no mesmo nível de linguagem e com- panheirismo. Nos reservamos o direito de di- vulgarmos apenas as partes significativas dos textos, seja por imposição de espaço, seja por solução de redação.

mm

Page 3: Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, … · CENTRO DE RASTORAL VERGUEIRO intarna Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, que as

Quinzena :• : , jíi ■

Trabalhadores

IMC reúne 4 firmas Fundada em 1979 com a finalidade de introduzir no

Brasil novas tecnologias de produção e de administração, a IMC Internacional é um grupo composto por quatro empresas, a Média & Comunicações (agência de publici- dade). Sistemas Educativos (que produz e comercializa material didático), a Technical Tours (que organiza missões técnicas ao Exterior e ministra cursos de idioma) e a Congressos e Conferências, responsável pela organiza- ção de seminários técnicos. O grupo mantém escritórios em Londres, Tóquio e Miami.

Segundo seu presidente, Yassuo Imai, a carteira de clientes da IMC chega a 2 mil, que recorrem à empresa pa-

ra cursos de treinamento, logística, qualidade e recursos humanos. Anualmente, o grupo IMC promove de sete a oito seminários para gerentes e diretores de empresa sobre esses assuntos, e organiza até sete missões técnicas ao Exterior.

A IMC promove também o que Imai chama de megae- ventos — um pacote de 60 conferências, das quais cada participante compra participação em até 10. O próximo, denominado Qualilech Brasil 89 (Conferência Nacional de Qualidade), será realizado no São Paulo Hilton Hotel, de 24 a 28 de julho (A.C.C.).

Cadernos do CEAS - Maio/Junho/89 - /i*2í

O SINDIQUÍMICA NA BAHIA

Depoimento de Jacques Wagner, Presidente do Sindicato dos Trabalhado- res da Indústria Petroquímica do Estado da Bahia - SINDIQUÍMICA, a Clêyde Souza e Gabriel Kraychete, do CEAS.*

2^ PARTE

E quanto a formação de quadros?

WAGNER: Outro problema que diz res- peito às próprias forças políticas que atuam não somente no SINDIQUÍMICA, nus também na maioria dos sindicatos baianos ou brasileiros, é a impossibilidade de formação. Anualmente, realizamos um congresso que traça toda a linha adminis- trativa do sindicato e como decisão está dito que a prioridade número um é a for- mação. Mas nisto ainda estamos bastante debilitados. São realizados cursos pela CUT, pelo DIEESE e outras tentativas nossas, mas não se pode chegar ao ponto de dizer que existe uma nova geração de quadros chegando. O pior são aqueles que estão no sindicato há mais tempo mas não conseguem se reciclar ou melhorar o nível de informação para estar à frente do sindicato. Sendo o sindicato represen- tativo de trabalhadores de uma indústria de ponta, não dá para fazer discurso sem fazer juízo de valor ou escala de melhor ou pior, não é o mesmo discurso que se faz para o estivador ou motorista de ônibus. O pessoal vai para o trabalho len- do Veja, vai ao cinema, lé livros, logo tem outro nível pela própria necessidade da empresa, que para ingresso só aceita gina- sial completo ou escola técnica. O diri- gente sindical tem que estar pelo menos balizado com este nível.

Voltarei mais tarde a este ponto da for- mação de trabalhadores líderes e dos pró- prios trabalhadores, mas antes gostaria de saber sobre a organização interna do SINDIQUÍMICA, como está estruturado e como é tratada a questão da democracia interna.

WAGNER: A estrutura interna está muito debilitada, em parte devido a este poble-

ma da formação e em parte porque a repressão ainda é grande em torno das lideranças que começam a surgir. Aque- le que desponta como liderança é logo demitido. Nove diretores do sindicato estão com processo na justiça contra a demissão. Aliás, o que nem deveria ter ocorrido, porque pela legislação tem-se estabilidade provisória no cargo de diri- gente... No entanto, eles mandam em- bora assim mesmo, quando acham incô- modo. Ora, neste país se leva cinco, seis anos para se resolver uma questão e tem dirigente nosso demitido há quatro, já foi reeleito, estando sub júdice... Cada diretoria é formada por 24, mas somente 7 são liberados e os outros 17 estão den- tro da fábrica. Só que desses 17, alguns não estão trabalhando porque a empresa, por liberalidade dela, diz ao diretor que ele pode ficar no sindicato, e legalmente a empresa está coberta, paga tudo a que o trabalhador tem direito. Para eles, importa colocar o sindicato da porta para fora. Recentemente, quando a diretoria foi eleita, em outubro de 88, a empresa alegou a existência de um problema técnico com um diretor para afastá-lo da empresa. Daí o sindi- cato tem que assumir o custo de um pro- cesso na justiça. O sindicato não paga salário mas nestes casos temos que dar um pró-labore que geralmente retorna quando se obtém ganho de causa na ques- tão de justiça.

Portanto, eu diria que a organização inter- na é muito débil. Tivemos duas ou três experiências de comissão de fábrica clan- destinamente. Um grupo de pessoas se reunia para realizar uma ação interna sem formalização frente à empresa e destas, a única sobrevivente é a de uma empresa estatal. Diante daquela sua outra pergun- ta — sobre qual a empresa onde é mais fácil trabalhar —, eu diria; não é que o dirigente da empresa estatal seja melhor ou pior, mas pela cultura da empresa fica

menos problemático, porque entra uma questão política. Frente às 171 demissões de 85, por mais pressão que fizéssemos a nível do governo, parlamentares, pressão na porta da fábrica, não conseguimos reintegrar este pessoal nas mesmas empre- sas de origem. Já com o movimento de 64 e 83, na Petrobrás, todos foram rein- tegrados. O mesmo ocorreu com a Nitro- fértil. As demissões nas estatais não são tão corriqueiras como no setor privado.

Temos também dificuldades para entrar em contato com o pessoal da empresa. No Pólo, você vai e volta em ônibus fretados, não dá para fazer contatos. O único momento de intercâmbio é o da chegada e o da saída, que duram uns dez ou doze minutos. Algumas empresas, para dificultar mais, fazem os ônibus entrarem na fábrica e de lá já sairem com os funcionários, tanto que a gente tem tido uma série de problemas com a polícia, porque quando a empresa quer impedir a distribuição dos boletins, man- da o ônibus entrar direto na fábrica, então a gente é obrigado a fazer pique- te, parar os ônibus para que se possa no mínimo distribuir. Estes são os elementos que dificultam o contato no dia-a-dia, e por conseguinte a criação de uma estrutura interna.

Em vista disto, como vocês contornam estas dificuldades para organizar reu- niões e assembléias, por exemplo?

WAGNER: Tudo isto é marcado fora da porta da fábrica. As reuniões são realiza- das ou num bairro ou no próprio sindi- cato. Todo o processo de preparação de uma greve se desenvolve no sindicato ou na casa de alguém.

Em Salvador? WAGNER: Sim, porque 90% do pessoal que trabalha no Pólo moiam em Salva-

Page 4: Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, … · CENTRO DE RASTORAL VERGUEIRO intarna Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, que as

wmmm Quinzena w Trabalhadores

dor. Talvez menos de 10% morem em Camaçari mesmo. Camaçari e Dias d'Avila nSo absorvem o pessoal do Pólo. Quem já morava lá e tinha origem no interior pode ter continuado por lá, mas se tem 1 ou 2% do contingente que foi morar em Camaçari por ter sido admitido no Pólo, é muito. Até porque o próprio empresariado nunca se preocupou em investir para desenvolver realmente Cama- çari. Diante do padrão salarial que tem o pessoal do Pólo, uma cidade como Cama- çari, sem cinema ou teatro, com péssimas escolas, sem biblioteca, do ponto de vista de urbanização é uma péssima cidade, a náo ser a orla, que só serve para veraneio, não para moradia.

Se uma empresa tem 20 ônibus, por exemplo, 19 vão para Salvador e um para Camaçari. Portanto, as assembléias são realizadas em Salvador e o que fazemos é colocar, nesse período, um ou dois ônibus em Camaçari e outro em Candeias para trazer o pessoal.

Então esta é uma debilidade. O sindica- to tem cabeça, tem corpo, mas o pé, que seria exatamente a implantação dentro das fábricas, ainda é muito vaci- lante. A liderança tem reconhecimento na maioria das fábricas, o pessoal respon- de, acredita no sindicato, mas não existe uma rede, uma estrutura. Isto muito por conta do que já falei, a liderança que surge pode ser mandada embora quando a empresa quer. É óbvia também nossa debilidade no trabalho de formação, que muito ajudaria neste ponto. Mas, neste momento, instituir comissão de fábrica reconhecida e oficializada é muito difícil.

É possível que com a questão da autono- mia sindical possamos inserir em nosso estatuto um novo sistema. No Congresso de maio próximo, vamos modificar muita coisa, inclusive nomenclaturas. Pretende- mos criar o Conselho de Representantes, como órgão máximo deliberativo do sin- dicato entre os Congressos anuais. Este Conselho seria composto pela Diretoria e mais dois ou três, um número propor- cional ao número de funcionários por cada fábrica. Estas pessoas passariam a fazer parte da Diretoria e, consequen- temente, teriam a estabilidade pevista em lei. Isto facilitaria muito o trabalho, a presença de três a quatro pessoas em cada fábrica. Esta proposta vem sendo amadurecida porque a .Constituição é meio genérica neste assunto, diz que o Estado não vai interferir mas não se sabe se vai haver limitação quanto ao número de dirigentes de uma determinada enti- dade sindical.

Todo ano, desde 81, temos um Congresso de delegados eleitos em cada indústria existente no Pólo, em número proporcio- nal ao dos funcionários da indústria. O Congresso, até o ano passado — e este ano ainda vai ser assim —, abre complementa- riedade à participação, podendo votar e serem votados quaisquer funcionários das empresas, sindicalizados ou não. Hoje, existe uma discussão interna no sindicato considerando-se que, depois de dez anos de existência de organização, o espírito

de abertura tende a se modificar, já que passou aquela fase da necessidade de re- conhecimento e de implantação do tra- balho. Deste modo, passa a votar e ser votado apenas o pessoal sindicalizado.

O Congresso toma decisões gerais e os sindicatos são os executores. O poder de decisão do sindicato quanto às questões gerais é muito restrito. Por exemplo, filiação a centrais sindicais, participação em eventos nacionais e inter- nacionais, linha a ser imprimida na cam- panha salarial, estrutura administrativa genérica do sindicato são definições do Congresso. Brincamos dizendo que o Congresso representa a Bíblia do sindi- cato. O Congresso é um dado positivo da vida do S1NDIQUIMICA, virou um dogma positivo, suas decisões são into- cáveis. Tomou-se uma cultura que nin- guém ousa contestar, a não ser, natural- mente, em caso de violenta mudança de conjuntura, que obriga o sindicato a traçar outras Imhas políticas, mas até hoje isto não aconteceu.

À Diretoria Executiva, formada de 14 membros, cabem as decisões mais especí- ficas. Na verdade, o SINDIQUIMICA está composto por dois sindicatos. Original- mente, quando começamos o movimen- to sindical representávamos os trabalha- dores da indústria petroquímica, formal- mente, em carta sindical, e representá- vamos também, de fato, os trabalhadores da indústria auímica. tipo Rhodia, Paskin, TIBRÁS. Após um certo tempo, o patronato percebeu que havíamos ganho um certo peso. Então, através do Minis- tério do Trabalho, racharam o sindicato, deixando de nos reconhecer como repre- sentantes dos químicos. Assim, fomos obrigados a fundar uma associação que depois se transformou em sindicato, chamado PROQUÍMICOS, para represen- tar os trabalhadores da indústria química. Estes dois sindicatos funcionam como se fossem um único. A mesma sede, a mesma gráfica, os mesmos funcionários, o mesmo congresso, a mesma pauta de reivindicações na campanha salarial. Há dois presidentes, dois tesoureiros, dois secretários, mas tudo funciona formal- mente como coisa única.

Nos movimentos de greve, o funciona- mento é conjunto?

WAGNER: Sim, com uma diferença. Na área química, temos 19 empresas grandes, em tudo similares à indústria petroquí- mica. Então, esta pauta de reivindicações é única. São empresas como a Basf, a Sibra, a Rhodia, a TIBRÁS, a Paskin, a Dow Química, no mesmo porte das empresas petroquímicas. Mas, por repre- sentarmos a indústria química, também representamos a fábrica de detergente, de água sanitária, a BAHIAFARMA, que é uma estatal de remédios... Naturalmente, nestas empresas a campanha salarial é diferenciada. Não há comparação entre o nível de conquista salarial de uma empresa como a COPENE e uma fábrica que produz água sanitária, Q'boa. Existem quatro sindicatos patronais com os quais negociamos: da indústria petroquímica;

da indústria química de Camaçari, que inclui 19 empresas; da indústria química do Estado da Bahia, que representa pequenas indústrias; e da indústria plás- tica. Com cada um destes sindicatos patronais, temos uma convenção coletiva assinada diferenciadamente.

A Diretoria Executiva é composta de 14 membros mais a Diretoria Plena, de 10 membros. No total, são 48 membros, ou seja, 24 de cada sindicato. A reunião da Diretoria Plena, instância superior à Executiva, é ordinariamente mensal e as reuniões da Executiva oconem toda semana. Quanto à distribuição de cargos, não obedecemos ao esquema formal da legislação. Internamente, utilizamos um sistema chamado de setorização. Por exemplo, eu, como Presidente do SINDI- QUIMICA, não exerço minhas funções segundo está previsto formalmente em estatuto. Atualmente exerço, além das tarefas políticas, como atividades em porta de fábrica, tarefas do setor admi- nistrativo. Os outros setores são de im- prensa, financeiro, de esporte, de lazer. E nas reuniões de Diretoria Plena faze- mos de ano em ano um rodízio de redis- tribuição de funções.

No Congresso de maio, a diretoria pre- tende defender a proposta de fusão dos dois sindicatos, formada com um núme- ro maior de diretores, cerca de 50 a 60 membros, incorporando novo estatuto e novas eleições. Daí, então, teríamos sin- dicatos de químicos e petroquímicos com a mesma base.

Você falou um pouco sobre as bases sociais do SINDIQUIMICA, na maioria trabalhadores jovens com alto poder aquisitivo...

WAGNER: Alto para médio...

Seria possível delinear melhor esta base social e dizer se houve modificações nesta base com o passar do tempo?

WAGNER: Originalmente, cm 75-76, quando o Pólo começou a tomar corpo na Bahia, fora o pessoal experiente que as empresas buscaram no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, e que hoje forma um contingente bem reduzido (a tendên- cia é retornar ao local de origem), a maioria foi incorporada mediante concur- so, no qual se exigia ginásio completo. Atualmente, científico completo ou escola técnica.

O contingente era formado por filhos de operários, membros das classes média ou média média que não tinham perspectiva alguma do ponto de vista do emprego e sem experiência anterior de trabalho em indústria, e acredito que para cerca de 60% o trabalho no Pólo era o primeiro emprego. Geralmente, os aprovados no concurso passavam seis a sete meses na Petrobrás ou em indústrias do Sul para depois começar a trabalhar na indústria petroquímica.

A maior densidade do operariado do

Page 5: Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, … · CENTRO DE RASTORAL VERGUEIRO intarna Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, que as

Quinzena mmmmmmff

Trabalhadores

Pólo, cerca de 70 a 80%, vem deste perío- do, pelo menos o pessoal de operaçío. A área administrativa é diferente porque já existia um mercado e mâo-de-obra formada neste setor.

Hoje, o salário médio do Pólo deve estar, para o pessoal de operação, na faixa de 600 a 700 cruzados, e para o pessoal da linha de frente, cerca de 800 cruzados. Para os que alcançaram o nível mais alto da carreira — sem ser de chefia — deve estar na faixa de 1000 a 1400 cruzados por jornada, que agora é de 33,6 horas. E um pessoal que tem tempo de lazer e muitos estudam.

Com a mudança de padrão, tende a ocor- rer um problema entre os funcionários da empresa: a separação de casais. Antes de trabalhar no Pólo, as pessoas estavam casadas dentro de um determinado padrão de vida, casados com um vizinho ou vizinha e com um poder aquisitivo muito menor. De repente, este pessoal passa a conviver com outro estrato social, começa a ter outro poder aquisitivo, en- tão aquele companheiro ou companhei- ra de antes já não serve mais. O número de separações, pelo acompanhamento jurídico que prestamos no sindicato, é violento.

Da perspectiva do investimento dos ga- nhos, o pessoal revelou pouco amadure- cimento. Por exemplo, muitos têm um salário de 800 a 900 cruzados por mês, mas continuam morando e alimentando- se mal. os filhos em péssimas escolas. No entanto, este pessoal faz questão de ter o carro do ano, se vestir muito bem, gas- tar muito com supérfluo. Chegamos até a fazer campanha mostrando que este comportamento nSo tem nada a ver mas é incrível. Há quem more no subúrbio mas tem um Scort do ano, com muito som. Na verdade, o horizonte é outro. Enquanto alguns tentam melhorar o nível de escolaridade dos filhos, melho- rar a moradia, outro contingente não faz questão de alterar sua base de origem por este caminho, importa é se colocar como o rei do lugar, o arrimo da família, aque- le que empresta dinheiro a todo mundo, etc e tal.

Porém, isto tende a não se cristalizar. Outros setores, como por exemplo os bancários, começam a ter um padrão salarial melhor e a distância salarial que existia antigamente entre os trabalhadores do Pólo e os demais vem diminuindo.

Acontece também outro problema a nível de saúde. Depois de 10 anos de trabalho, na função de operador, ocorre efetiva- mente uma fadiga. As doenças emocionais começam a surgir com mais freqüência para aquele que lá entrou com 22 anos. Enfrentando o regime de turno, respi- rando um ar contaminado — mesmo não sendo agudo o tempo todo — que vai sedimentando no corpo, chega um mo- mento em que o trabalhador já não faz mais questão desta atividade em indústria. No episódio da greve de 85, no primeiro instante, entre os 171 demitidos, houve

um certo desespero. Depois, quando o pessoal começou a acordar para o fato de que existe um mundo fora do Pólo e outras condiçOes de trabalho, muitos desistiram de voltar. Então, com questão na Justiça do Trabalho e perspectiva de ganhar, mas já estabelecidos em outros negócios como táxi, lanchonete, trabalhar em banco...

Realmente, o trabalho no Pólo é sacrifi- cante. Para trabalhar oito horas, gasta-se mais três horas de transporte. Aquele que trabalha no horário tradicional não vive a cidade, sai ás 6 horas, retoma ás 19 ou mais, a depender o lugar onde mora. No outro dia tem que acordar 5, por isto à noite só dá para jantar, assistir algo do jornal e logo depois dormir.

Pelas condições que você relata, conheci mulheres que não fazem questão de tra- balhar como químicas, principalmente no Pólo, e trabalham em organizações do governo, da administração pública, aqui em Salvador. Qual a participação da mu- lher no SINDIQUÍMICA?

WAGNER: Na direção do SINDIQUÍMI- CA, participam três mulheres. Na do PROQUÍMICOS, três também. São seis num total de 48, pouco mais de 10%. O movimento sindical como um todo reflete o que temos na sociedade em geral, o diabo da tradição do machismo. E pela natureza do trabalho de turno, em operação, praticamente nenhuma mu- Iher. Estão concentradas no setor admi- nistrativo, em horário comercial, nas fun- ções de secretária, enfermeira, etc. E como eu já havia dito, independente- mente de ser homem ou mulher, os que trabalham neste horário participam menos da vida sindical. Quando há mu- lheres trabalhando de turno, estão nos laboratórios.

Durante a greve de 85, nos setores de laboratório onde a presença de mulher era mais densa, não enfrentamos pro- blema algum. Ao contrário, sua partici- pação foi tão importante quanto a dos homens. Agora, no dia-a-dia do sindicato, onde o número de mulheres é bem menor que o dos homens, a participação é muito limitada. Há tentativas, por algumas mulheres, de organização no setor petro- químico, mas que não tem um peso do ponto de vista organizacional maior.

Do ponto de vista do operariado, acho que não existe discriminação no trabalho de turno. Onde estão presentes as mulhe- res, geralmente é tranqüilo. O que existe é o que temos normalmente, a discrimi- nação por conta do maclúsmo na relação do dia-a-dia. Dentro do sindicato, a parti- cipação das mulheres é limitada por conta do pequeno número de mulheres no setor produtivo.

Geograficamente, qual a abrangência do SINDIQUÍMICA, está restrita ao Pólo Petroquímico de Camaçari ou existem empesas em outros locais da Bahia?

WAGNER: Fundamentalmente, a locali-

zação é pontual. Camaçari, uma empresa em Feira de Santana - a Química Geral do Nordeste, a TIBRÁS em Arembepe, algumas em Candeias, como a CCC, a Metacril, a Dow Química e a Union Car- bide pelo terminal marítimo. No CIA, temos uma série de empresas químicas como a Xerox e a Bombril. A empresa mais distante deste eixo é a QGN de Feira de Santana, pertencente ao grupo Ipiran- ga Resumindo, no Pólo devem estar con- centradas cerca de 40 indústrias - seis cm Candeias, uma em Feira de Santana, uma em Arembepe e 20 ou 25 empresas médias no CIA.

Você pode situar melhor no tempo a questão das forças políticas que com- põem o SINDIQUÍMICA?

WAGNER: Para mim, o início é história contada, porque não participei, mas nesta fase predominava o PCB, que antes de 64, efetivamente, teve grande peso no movimento baiano e brasileiro. Como nacionalmente este partido foi perden- do influência, assim também aconteceu no SINDIQUÍMICA. Depois de 74, o leque se abriu para a interferência do PC do B no sindicato. O PCB continuava - como continua —, mas inexpressivãmente, como contingente e fora da Diretoria. Alguns dos matizes das forças políticas que militam eventualmente no PT e ainda o pessoal prestista.

A eleição da Diretoria do SINDIQUÍMI- CA é diferente da dos outros sindicatos. Nossa eleição é proporcional. Como qual- quer eleição, por voto direto e secreto. Só vota quem é sindicalizado, mas a apura- ção é proporcional - decidida no nosso Congresso nacional -, ou seja, não é excludente. Todas as chapas que alcan- çaram 25% dos votos válidos entram na Diretoria do SINDIQUÍMICA. Então, por exemplo, a atual Diretoria do SINDI- QUÍMICA é formada por elementos vin- dos de duas chapas que concorreram em 1987; uma de orientação claramente cutista, que eu estava encabeçando, e outra chapa, que tinha basicamente na cabeça uma pessoa do PC do B e outras, como já me referi. Não dá pra dizer que as chapas são formadas por um crivo cla- ramente ideológico, o critério maior é a prática no trabalho sindical. O corte só fica mais claro quando se trata de CUT e não-CUT. Isto na categoria já está bastante sedimentado. Por exemplo, o nosso Congresso aprovou, por 86% de votos, a filiação à CUT, e no outro ano não foi nem colocado em questão por se saber que houve crescimento da margem de decisão em prol da filiação. A maioria que compõe a Diretoria veio da chapa cutista, por isto fiquei na presidência. De lá pra cá, na prática sindical, por dis- cordâncias na linha de trabalho, houve remanejamento de posições, tendo algu- mas pessoas deixado a chapa do PC do B.

Na Diretoria dos Químicos, cuja eleição foi agora em fevereiro, entraram represen- tantes de duas chapas entre quatro con- correntes. Uma claramente definida como do PC do B, que lançou até um nome

Page 6: Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, … · CENTRO DE RASTORAL VERGUEIRO intarna Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, que as

rrr ::::::.:.:::-::x::::::::::::::;:::::::::::::;:::::::::v>:::::::::v

Quinzena Trabalhadores comercial dentro do movimento.vi Força Petroquímica. E a outra vinha de um alinhamento dentro da CUT. Havia três chapas de alinhamento cutista e a chapa do PC do B. Esta última nffo teve votos suficientes para entrar na Diretoria, assim como uma das chapas de alinhamento cutista. Entraram as outras duas de alinhamento cutista, sendo uma do pes- soal prestistas, que obteve maioria, com 13 membros, e outra dos independentes do PT. com 11.

Nessa chapa eleita pelos petroquímicos, se fizermos um corte político-partidário, embora todos igualmente cutistas e petis- tas, encontraremos dois grupos. Há os petistas chamados independentes e os chamados, dentro do movimento sindical, de Força Socialista, conhecida ao níveí da força política como o MCR.4 Histori- camente, esta composição entre indepen- dentes e Força Socialista já se dá há dez anos. Acho que por uma questão de respeito e de prática. Esta questão de força política não é exatamente a defini- dora da prática dentro do sindicato. Por exemplo, tem gente do PC do B com quem eu consigo trabalhar. Outros, já acho péssimos... No meu entendimento, na geração da idéia da prática sindical e política do PC do B, sai uma matriz de que discordo. Mas isto não quer dizer que todos os que estão operando sob esta matriz sejam "péssimos" ou "ótimos". Por outro lado, tem aqueles da Força Socialista, com os quais não me entendo. Pessoalmente, sou do PT chamado independente. Dentro da CUT, é a Articulação, que vive uma situa- ção difusa. A Artiadação se define, na verdade, por uma negação. Ou seja, aque- le que não pertence a nenhum grupo or- gânico de esquerda clandestina. Na prá- tica, trabalho muito mais com o pessoal da Força Socialista do que com o da Articulação. Então, a definição é um pouco esta; quem está solto, quem não pertence a nenhum grupo organizado, por necessidade de se defender das pres- sões, que podem vir de todo lado, entra num caldeirão que a gente chama Arti- culação, que se mistura com os denomi- nados independentes, incluindo todo tipo de militante; de Igreja, comunistas soltos, social-democratas, etc.

Quem predomina?

WAGNER; Eu diria que, fazendo o corte não partidário do movimento sindical, o grupo que tem mais peso representativo é a composição entre os independentes e a Força Socialista. Tem mais lógica de ação e manteve o fio da meada nestes 10 a 12 anos. Caso ocorra um tipo de fusão e houver um processo de eleição do tipo tradicional de bate-chapa, seguramente será este conjunto a dar o tom do S1NDI- QULMICA, pela representatividade que tem na fábrica. Eu não gosto deste corte, que pode ser usado tematicamente. Ou seja; "quem está predominando? o PT ou PC do B?". Prefiro fazer o corte via

4 MCR Movimento Comunista Revolucio- nário (N. do R).

movimento sindical. E quem dá o tom é a linha cutista. O PC do B, efetivamente, involuiu em termos de representação. Uma liderança muito forte dentro da N1TROFÉRTIL, uma estatal petroquími- ca de 1000 funcionários e 700 a 750 sin- dicalizados, deixou de trabalhar com o PC do B para trabalhar com a CUT. Isto resultou em 30 a 35% dos votos deles para a nossa chapa, em 87.

Não temos um nível de politização e formação de consciência, mas temos uma presença, uma postura, método de dire- ção de uma assembléia e dedicação, o que estabelece um corte muito mais pelas lideranças internas de cada fábrica e pela Diretoria Executiva.

Você delimitou o quadro partidário no SINDIQUIMICA. Mas qual o conteúdo das diveigências internas?

WAGNER: A divergência no campo sin- dical é clara, quer dizer, o pessoal do PC do B que atua no movimento tenta puxar as pessoas para o que antes era a CGT e hoje estão na tal Corrente Sindical Clas- sista, que não sei se significa formar outra central ou se vão passar a trabalhar com a CUT. Como membro da Executiva da CUT, acho importante que os companhei- ros venham a militar dentro da CUT. Mas sou contra uma entrada via acordo, que centralize o movimento de cima para baixo.

O PC do B acabou de realizar, no Rio de Janeiro, um congresso da Corrente Sin- dica] Classista, o que eu considero bastan- te artificial, porque eles insistem em dizer que não querem dividir o movimento, e portanto não pretendem fundar outra central, mas... se não é central, como é que tem congresso e eleição de dele- gados de base? Deste modo, vão montan- do uma estrutura de peso e densidade para depois fazer barganha numa proposta de entrada na CUT quanto a cargos, etc. Mas hoje a CUT não está mais carecendo de respaldo, quer dizer, é necessário ter respaldo sempre mais ao nível da massa. A CUT tem cara pró- pria, é entidade formada e reconhecida. Portanto, a divergência no movimento sindical é esta; CUT e Corrente Sindical Classista.

A CGT, como tal, não existe...

WAGNER; Não existe mais no S1NQI- QUIM1CA. Aliás, na Bahia o que sobrou foram os Rodoviários e um representan- te do Sindicato dos Mostoristas de Taxi, porque o que existia de força viva era a área de influência do PC do B, mas como eles resolveram sair...

Há outras divergências claras sobre unida- de x unicidade sindical. Dentro do sindi- cato, há os que defendem a tal unicidade sindical, que é a unidade imposta por lei. Isto não existe. Na lei anterior, falava-se em sindicato único e isto não impediu a existência de diferentes sindicatos, às vezes dentro da mesma empresa. Recen- temente, o próprio PC do B, que defende

a unicidade, ao perder a direção do Sindi- cato dos Metalúrgicos em Salvador, criou o Sindicato da mesma categoria em Feira de Santana. O discurso da unicidade é velho. A unidade não se alcança no papel. Às vezes, no mesmo sindicato sur- gem sérias divergências, impedindo o tra- balho de se desenvolver. A unidade que defendemos é política.

Outro ponto de divergência é o imposto sindical. Quanto à Convenção 87 da OIT, o sindicato se divide, com maioria a favor e minoria contra. Estes são pontos de divergência formalizada e naturalmente, quando partimos para a análise de con- juntura a ser realizada em congresso, deverão ser explicitadas outras divergên- cias.

Algumas divergências de cunho teórico são debatidas dentro do sindicato, mas não representam o lastro que atrasa a política sindical. Na hora da retirada de uma pauta de reivindicações ou defini- ção de uma ação sindical, estas divergên- cias desaparecem, ficando apenas aquelas referentes às formas de condução do tra- balho sindical. De certo modo, estas divergêncis práticas têm a ver com as concepções, mas também têm a ver com a formação pessoal de cada indivíduo, ou seja, tem aquele que gosta de mano- brar, outro já é mais aparelhista, etc. Além disso, outra dificuldade resulta da visão sindical. Dentro do próprio SINDI- QUIMICA, algumas pessoas concebem o sindicato sob o ponto de vista pessoal, no sentido de definição de privilégios, tratamento e infra-estrutura indicados para a função de direção. Portanto, as divergências se dão muito mais do nível prático que teórico.

É claro que temos no PT, no plano de Análise de Conjuntura, diferenças com o pessoal do PC do B e com os prestistas, no entanto, isto não divide o movimento. No dia-a-dia, no pique do trabalho, o fato, por exemplo, de só contarmos com quatro ou cinco pessoas entre quatorze é o que permeia as discussões no sindi- cato ao invés de questões teóricas. O mo- vimento sindical, aqui na Bahia, não se encontra num nível de discussão política, a ponto das divergências tornarem-se razões de brigas na porta da fábrica.

Além das divergências a nível de lideran- ças e das questões trabalhistas e salariais, quais as preocupações políticas existentes dentro do movimento sindical a nível de base, organização e mobilização?

WAGNER; Hoje a questão da saúde, rela- cionada á questão do meio ambiente, ocupa um papel importante no movimen- to. Efetivamente, no Pólo já temos um grande volume de doenças ocupacionais. O pessoal está bastante sensibilizado com este problema de saúde e proteção à vida, numa repercussão razoável.

Do ponto de vista mais geral, vivemos a experiência do lançamento de candidatu- ras a cargos legislativos como deputado federal, estadual e vereador. Cresce um

Page 7: Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, … · CENTRO DE RASTORAL VERGUEIRO intarna Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, que as

^ ^ ^ -^ — ^~ „ ^—^ "^ ^ —-^ ~

Quinzena © Trabalhadores espirito de categoria, considerando a ne- cessidade de termos representação do pró- prio movimento sindical.

Neste sentido, há uma preocupação do sindicato em realizar Análise de Conjun- tura, Análise de Governo, colocando questões mais gerais do país como, por exemplo. Dívida Externa. Tais análises sao objeto de debates dentro do Con- gresso. Não são questões ainda bastan- te enraizadas, mas estamos sempre a bater na mesma tecla para que o pessoal comece a refletir outras coisas dentro do sindicato que não simplesmente condi- ção salarial e de trabalho. Isto tem dado resultados porque nos debates no Con- gresso, a participação tem sido cada vez maior.

No que diz respeito ao apoio externo que o SINDIQUÍMICA encontrou na sua ori- gem e encontra hoje, quais as relações com outros movimentos sociais, relação com a igreja. Estado e dentro do próprio

movimento sindical, Federações, Confe- derações, CUT e apoio externo, inclusive a nível internacional?

WAGNER: Internamente, ao nível da linha do movimento sindical tradicional, nunca tivemos apoio. Ao contrário, tive- mos boicotes. No espisódio da tentativa da divisão do sindicato em dois, o elemen- to articulador, que seria do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Química via patronal, recebeu apoio da . Federação dos Trabalhadores na Indústria que e' talvez uma das piores Federações, que existe no Brasil. Ao nível de Confedera- ção, a relação é absolutamente formal, uma associação via Imposto Sindical, recebimento de correspondência, mas sem contar com nenhum apoio logísti- co. Tudo que temos é nosso, construído com o dinheiro da categoria.

No plano da Central, sim. A partir da funda- ção da CUT, à qual agora somos filiados, embora não fôssemos no começo, se ins-

taurou uma ligação muito forte. Uma contribuição substancial: 5% de toda renda arrecadada, repassamos para a CUT. Membros da diretoria do Sindi- química estão na Executiva da CUT esta- dual, outros na direção nacional da CUT.

Isto a nível vertical. A nível horizontal, qual a ligação que vocês têm com outros sindicatos? Como você falou, o Sindiquí- mica já foi muito importante aqui no Estado como exemplo para outras cate- gorias.

WAGNER: Quando não existiam Cen- trais, particularmente em Salvador existia um movimento chamado Unidade Sindi- cal, que horizontalmente reunia sindicatos de diversas categorias. Atualmente a reu- nião destes sindicatos se quebrou em dois braços: originalmente CGT e CUT,

mas como hoje refluiu a CGT, a articula- ção ocorre através da Corrente Sindical Classista e CUT.

Metalúrgicos de S.Bernardo

Convergência Socialista - 30.05.89

DIRETORIA RESPONDE ATACANDO DEMOCRACIA

Um só tema domina as reuniões, as rodinhas nas fábricas, as conversas entre os trabalhadores metalúrgicos do ABC, nas últimas semanas: Por que a poderosa greve só conseguiu arrancar 45% dos patrões?

Por que a diretoria do Sindicato atuou como atuou? Por todo lado a primeira vez amplamente entre os ativistas das montadoras, sente descontentamento, questionamento à direção, e muita dúvida. A diretoria, em lugar de abrir os canais para que essa discussão tão importante se faça, responde outra vez de forma

anti-democrática, restringindo o debate. E atacando "Democracia e Luta", corrente que expressa de forma organizada esse descontentamento. Foi isso que se viu na assembléia realizada dia 17, para eleger os

delegados da categoria ao Congresso da CUT regional do ABC, Mogj e Baixada. E é isso que interpreta o companheiro Emmanuel da Silva, o Satanás, nesta entrevista ao CS.

C.S.: Como é que está o movi- mento depois da greve?

Satanás: A base e os ativistas estão muito descontentes. O fato de que uma greve tão poderosa tenha termi- nado com um acordo muito menor que o que era possível, preocupa todo mundo. Não tanto pelos 45% que, ati- nai, foram conquista da greve. Mas principalmente com a atitude da dire- toria do Sindicato, que impôs a greve dentro das empresas, depois defendeu a suspensão e perdeu... e, depois dis- so, não atuou para que a greve se fortalecesse. E acabou propondo a suspensão sem chamar sequer uma as- sembléia geral. A direção impôs limi- tes à mobilização, o que se mostrou errado porque a patronal não teve ne-

íííwííiíív-SíSigxííííííííSíi-r

nhum limite para tentar quebrar nossa luta. E, para garantir que não se pas- sasse dos limites (não se discutisse o controle sobre a produção, não se uni- ficasse com outras categorias, não houvesse piquetes no início), teve que atacar a democracia. Hoje, grande parte dos ativistas vêem isso. E dá bronca. Causa muita dúvida e descon- fiança.

CJS.: Como responde a diretoria? Satanás: Agora ela restringe o de-

bate sobre o balanço, quando a atitude correta seria abrir a discussão, incen- tivá-la, ir discutir com os trabalhado- res, até pra defender o que eles acham... Mas não. Quanto mais há descontentamento, mais a diretoria aprofunda seus métodos antidemocrá-

ticos, os mesmos que usou durante a greve e que provocaram todo o mal- estar e polêmica atuais. Essa atitude tem um custo político, porque quanto mais ataca a democracia, mais com- prova os erros que cometeu.

CJS.: O alvo principal dos ataques — agora até físicos — da Articulação é ' 'Democracia e Luta''. Por quê?

Satanás: Não é casual. Nossa cor- rente, com seu programa de incentivo à luta e de democracia operária, dá uma resposta política ao descontenta- mento. "Democracia e Luta" expressa organizadamente esse questionamento à direção e chama a construir uma di- reção alternativa, que não cometa os mesmos erros e faça os trabalhadores^

Page 8: Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, … · CENTRO DE RASTORAL VERGUEIRO intarna Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, que as

Quinzena Trabalhadores

vencerem e avançarem. Por isso cres- ce. E por isso a "Articulação" nos ataca tão agressivamente.

CS.: O que propõe agora ' 'Demo- cracia e Luta"?

Satanás: Nós insistimos em que o balanço da greve deve ser feito, cana- lizado pelo Sindicato, de forma ampla e democrática. Chamamos os compa- nheiros da "Articulação" a substituí- rem as agressões e as manobras para impedir a expressão e representação dos que opiniam diferente, pelo méto- do da CUT. Chamamos os companhei- ros a escutarem os trabalhadores de base, que querem a discussão, e não querem que se repitam no nosso sindi- cato esses episódios lamentáveis.

Manobras e agressões não são métodos da CUT

A assembléia do dia 1? contou com a presença de 330 metalúrgicos, dos quais 68 (20%) votaram na tese de "Democracia e Luta", e ao redor de 160 na tese da di- retoria, da "Articulação". Frente à votação expressiva da corrente opositora, a mesa — na pessoa do vice- presidente do Sindicato, o Guiba — tirou da manga a idéia de que se fizesse outra votação para eleger os delegados, em base a chapas e não às propostas políticas. A Articulação apresentou, então, uma chapa com 138 nomes e "Democracia e Luta" a sua, com 44. Aí a mesa introduziu a absurda novidade de que era preciso chapa completa, impedindo

assim a inscrição da chapa de "Democracia e Luta". Mais uma vez, contrariando o be- a-bà da democracia operária, que garante o direito de representação às minorias, a Articulação elegeu todos os delegados ao congresso da CUT regional, quando não era a totalidade da assem- bléia, nem é a totalidade da categoria.

Não contentes com esse precedente nefasto,- os com- panheiros da Articulação (Guiba, "Bagaço", da Comissão da Ford, e outros), ao final da assembléia, pas- saram a insultar e provocar membros da corrente opositora. E, numa atitude

que desonra a classe operária e nossa central, Guiba agrediu fisicamente o com- panheiro Coqueiro, da Comissão da Resil. "De- mocracia e Luta" foi obrigada a responder. A es- caramuça resultou em seis feridos (três de cada corren- te). Mas a lesão maior ficou para a democracia operária e a CUT, cujos métodos — de resolver as divergências políticas na discussão frater- nal e livre — nada têm a ver com o burocratismo e o lamentável- gangsterismo res- suscitado agora pela "Ar- ticulação". Corrente que, como "Democracia e Luta", nasceu e cresceu na luta con- tra os verdadeiros donos des- se método: os pelegos.

Convergência Socialista - 23.05.89

Metalúrgicos do ABC

Por que não se conquistou mais que os 45%

A greve dos metalúrgicos do ABC terminou de forma inesperada.

Depois de terem recusado, na histórica assembléia de 2 de maio, a proposta patronal de4507o de aumento (descon- tando as antecipações), os grevistas acabaram aceitando proposta prati- camente idêntica oito dias depois, amargando ainda mais de mil demis- sões.

Para Vicentinho. presidente do Sin- dicato, a "história provou que a nossa análise do dia 2 estava correta". Para nós, o companheiro Vicentinho está completamente equivocado. O que a história provou é que estavam dadas todas as condições para arrancar dos patrões das montadoras um acordo substancialmente melhor. Apesar da dure/a, ela foi a mais forte greve da base do ABC, em que parou toda a produção e em que, pela primeira vez, pararam também os mensalistas. O erro esteve, desde o inicio, na orien- tação da diretoria do sindicato.

SUCESSÃO DK KRROS

A greve dos metalúrgicos do ABC se deu num momento em que mais de três

milhões de trabalhadores lutavam para derrotar o arrocho do Plano Verão. Esse já era um enorme reforço para os metalúrgicos. Infelizmente, a diretoria do sindicato não entendeu assim. Em nenhum momento organizou ações uni- ficadas com as outras categorias em luta, sequer as do ABC. Não propôs à CUT que chamasse uma greve geral. Esta orientação isolacionista culminou com o absurdo de não organizar a jor- nada do 1? de.maio, em plena greve, no ABC. Os metalúrgicos foram chamados a comparecer na Praça da Sé, em São Paulo. É claro que muito poucos foram. E assim se perdeu uma excelente oportunidade de dar mais uma demonstração de força e de so- lidariedade de toda a classe traba- lhadora do ABC à greve dos metalúr- gicos.

Em vez disso, o que a diretoria demonstrou foi fraqueza ao propor, na assembléia do dia seguinte, o fim da greve. Foi amplamente derrotada, mas semeou dúvidas entre as bases. A patronal, que já tinha começado a demitir, aproveitou a oportunidade para radicalizar: demitiu nas mon- tadoras, usou a violência policial e a da segurança interna das fábricas. E o sin-

dicato, mais uma vez, não deu a res- posta à altura: tal como tinha feito desde o inicio da greve, recusou-se a promover a ocupação das montadoras. Quer di/er: os patrões usaram todas as armas que tinham á sua disposição. Os trabalhadores não.

FALTOU DEMOCRACIA Para piorar, em nenhum momento a

diretoria do sindicato reforçou a greve com uma ferramenta decisiva: a de- mocracia operária. A base era con- vocada para as assembléias para ouvir os seus dirigentes. Mas não podia falar. A peãozada não podia subir no microfone para expor as suas dúvidas, fazer outras propostas, contar suas ex- periências, debater. Os metalúrgicos da Convergência Socialista foram impe- didos de falar.Pior ainda: duas assem- bléias gerais decisivas votaram a con- tinuidade da greve. Mas ela terminou com assembléias separadas, na porta das montadoras. O sindicato foi para Ia," e não descansou enquanto os traba- lhadores não votaram o fim da greve. Como na Volks, onde a diretoria não conseguiu acabar com a greve no turno da manhã de quarta-feira, dia 10, e vol- tou para convencer os operários do turno da tarde. Mais nenhuma assem- bléia geral foi convocada, nem o comando de greve voltou mais a se reunir.

Page 9: Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, … · CENTRO DE RASTORAL VERGUEIRO intarna Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, que as

Quinzena W Trabalhadores

A posição da DIRETORIA

Avaliando a atuação da diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema na última greve da categoria, os companheiros da Convergência Socialista tecem uma série de críticas à direção sindical.

Entrevistamos o companheiro Vicente Paula da Silva (Vicentinho), Presidente do Sindicato, para que ele tenha o direito de nos colocar a versão da diretoria. Por falta de espaço publicamos apenas os trechos

que tratam diretamente das questões levantadas pela CS.

Q — Os companheiros da Convergência Socialista acusam a diretoria de terem uma prática isolacionista na última greve da categoria. Afirmam também que houve va- cilações e criticam a direção por não ado- tar a tática de ocupação de fábrica como resposta à repressão patronal. Qual sua posição diante disso?

R - Em primeiro lugar, as Comissões de Mobilização não participam somente os companheiros da democracia e luta Parti- cipam companheiros de outras tendências que se submetem à decisões. Só eles não se submetem. Os outros companheiros se submeteram e questionaram eles inclusi- ve. Companheiros do PC do B e de outras organizações que participam aqui, pois sabem que aqui é o centro de muitas for- ças. E porque apenas uma força não res- peita? E melhor do que as outras? Segun- do: a crítica desses companheiros para gente não é novidade. É uma critica de muitos anos, desde que eu tenho ouvido falar neles, nunca concordaram com ab- solutamente nada. Sempre querem estar com uma posição diferente. Isso é compli- cado, no caso da passeata que nós pro- pusemos, que foi a razão da reabertura das negociações, eles foram contra.

Eles disseram que a greve não estava consolidada dentro da fábrica, que não era verdade... Nós fizemos a passeata, fomos pra fábrica... Essa passeata foi durante a greve, foi num momento em que não havia negociação. Eles colocaram inclusive uma foto de uma coisa que eles foram contrá- rios. Olhe a contradição. Outro comporta- mento é o de companheiros que chegaram numa empresa em Diadema para propor um acordo menor do que o parâmetro da diretoria, na altura da greve, que era uma empresa que a diretoria vinha com um pa- râmetro de 50 a 55%, eles fecharam o acordo com 40%. E chamando o diretor para ir lá e obrigar a peãozada a aceitar a proposta. O diretor foi lá e se mostrou contra, que não podia acontecer aquilo. Em 39 lugar, porque é que aqui eles tive- ram esse comportamento e lá em São Jo- sé dos Campos eles concordaram com a mesma proposta. Na GM, e lá na Silos acampados, voltaram ao trabalho com a mesma proposta. Não achamos que fra- quejamos. Fizemos uma análise, uma leit i> ra, de uma conjuntura que visava manter o Movimento permanente. Pelo menos ficar dois meses sem fazer uma hora extra!

Num clima de greve, e dar a cartada final no mês de julho. Era esse o nosso objeti- vo. E agora nós temos todas as condições morais de dizer isso para os trabalhado- res. Hoje temos condições de dizer quan- do devemos começar ou findar uma greve. O que ocorreu na assembléia ao rejeitar a proposta, foi também porque a categoria sabia que ao decidir contra a proposta da diretoria, sabiam que a diretoria ia encam- par a decisão deles. Porque se não con- fiassem na diretoria, iam voltar ao trabalho putos. Mas teve esse comportamento e nós assumimos de madrugada, imediata- mente. Muitos dos companheiros que dis- cordavam, desapareceram do Movimento. Isso é resultado de uma política de infor- mação, que hoje está com um grupo multo grande.- É o resultado de uma política que você se aprofunda pra democratizar cada vez mais, como Instrumento de comunica- ção.

Bem, sobre a tática do movimento. É bom lembrar que essa tática abordada nessa greve, é no fundo um acúmulo de experiência de várias táticas adotadas. Enquanto eles falam em ocupação hoje, nós falávamos em ocupação em 81. E nós praticamos ocupação em 8 1. Scania e Ford foram exemplos. E verificamos, e não sei se era porque era numa outra conjuntu- ra, que o acampamento era mais desgas- tante para a peãozada do que pra própria empresa. Então nós achamos que nesse momento para acampar dentro da fábrica, agora tem que ver qual é o momento, é Im- portante, em que perspectiva, em busca do que? Não simplesmente para levar a peãozada para o confronto. Aconteceu tentativas de acampamento lá na porta da Rexruth, onde os companheiros se ma- chucaram. A Policia tava lá. Nós vamos desarmados acampar na fábrica que tem polícia, lá-, que tem o Estado, que tem o poder_. nós achamos que Isso pode ser um prejuízo para a classe trabalhadora, Temos que fortalecer a luta trabalhadora, mas não através de mártires, ou através de traumas nacionais. Nós queremos for- talecer através da consciência, que se consolida, Nós queremos ter o peão re- voltado com consciência, do que revoltado pura e simplesmente porque se desespe- rou. Então nós discordamos nesse mo- mento dessa proposta de acampamento. Nós não entendemos que essa proposta é a mais avançada. Ela pode significar um

retrocesso, pra nossa organização. Qual é o trabalhador da nossa categoria que fica insistindo em acampamento? Só eles,

Uma postura que temos é respeitar os limites do companheiro. Então nós acha- mos que essa proposta deles tava errada, e eles acamparam lá na Philips, e voltaram ao trabalho do mesmo jeito que nós volta- mos,

Q - A crítica principal dos companhei- ros da convergência em relação à direto- ria, é sobre a questão da democracia: no que diz respeito ao funcionamento do Co- mando de Mobilização, e às estrutura de funcionamento interno na categoria. Eles citam como exemplo a última assembléia para tirar delegados onde ocorreram agressões físicas, Como é que você vê esta questão da democracia mesmo? Afi- nal de contas, tem democracia nesse sin- dicato? Até que ponto as posições diver- gentes tem espaço de serem colocadas, de atingir as massas de trabalhadores? É em suma a questão da democracia operá- ria,

R — Em primeiro lugar eu quero acres- centar o seguinte: os erros que os compa- nheiros cometiam, Nós aqui tomamos o maior cuidado com os militantes, porque os militantes sejam eles quais forem, são militantes que não podem ser jogados a troco de nada, pra fora da fábrica. Então eu quando chego na porta de uma fábrica, se tem um militante, ou dou um bom dia como eu dou pra qualquer um. Durante a greve eles faziam comandos paralelos, se reuniam na sede deles, e de repente em- presas como a INBRAC, tiveram umas comissões para negociar questionando a própria honestidade da diretoria, O nosso comportamento de muitos anos é tomar cuidado com Isso, Resultado: Esses com- panheiros foram mandados embora. Inge- nuamente eles acabaram entregando os companheiros para o patrão mandar embo- ra, Esse comportamento a gente condena. Bem, o que ocorreu na assembléia? Se você quer atingir a massa, você tem que ir pra massa, Nas assembléias, qualquer companheiro, tem o direito de dar sua opi- nião diferente da assembléia. Agora, se ele participa de um coletivo, e não se subme- te, então é problema. Como é que fica a nossa disciplina? Essa Comissão é pra fazer Idéia agora, tentar chegar a um obje- tivo, Se não chegar, a gente submete a decisão da maioria, ou não participa mais, Vou direto para a assembléia, já que eu te- nho meu grupo, que eu me reúno, numa sede particular, e venho com uma Idéia fe- chada a qualquer custo.

O - Você está dando a alternativa do seguinte: Ou a pessoa participa da Comis- são e acata suas decisões, ou não partici- pa e vai pra relação direta com a massa.

Não é somente acatar a decisão da»

Page 10: Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, … · CENTRO DE RASTORAL VERGUEIRO intarna Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, que as

Quinzena M Trabalhadores Comissão, é levar idéias até para conven- cer a Comissão. Nós estamos debatendo idéias. Então a idéia que mais convence é a que é levada. Pode ocorrer que um dia essa Comissão diz: Não companheiro, tem duas posições, vamos levar as duas. O que a Comissão decidir», ela é deliberativa pra ela, pode decidir isso. Tudo isso é possível acontecer. Agora a queixa que tem aqui desse pessoal, que a peãozada inclusive militante têm, não é em função de divergir. É em função de descumprir o que é deliberado. Isso deixa todo mundo puto. As matérias são mentirosas. Nós tivemos uma assembléia com 435 trabalhadores. Essa assembléia eles tiveram 24 votos. É interessante eles diminuírem o número de assembléia e aumentar os números dos votos deles só pra dizer que tinham um percentual de 20%, só pra entrar numa no- va discussão que é a questão da propor- cionalidade. Uma coisa é divergir, outra coisa é mentir. Eu tô de saco cheio com o que os patrões fazem com a gente, que o governo fazem com a gente. Agora esse pessoal, mentir pra mim é que não dá. Chegou o momento, porque nós tivemos coragem de colocar nossa posição, sobre uma greve que não aconteceu que era a greve geral. Eu e o Lula, eles nos chama- ram de direita, no jornal. Nós fomos con- seqüentes em dar uma opinião que ia acontecer, diante da greve. Esse compor- tamento nós queremos condenar em fun- ção de tudo isso. Nessa assembléia, os companheiros, defenderam a tese da pro- porcionalidade. Aliás como sempre defen- dem. Defenderam no congresso da nossa categoria e perderam... Nós temos uma vi- são que podemos mudar a qualquer mo- mento, depois de mudar a reflexão. Nós entendemos a proporcionalidade dentro de uma instância, delimitada, como por ex.: uma instância da CUT, qualquer que tenha delimitado os parâmetros dos compromis- sos, dos princípios daquela instância. Mas no sindicato, entra em jogo de novo a vi- são errada de companheiros sobre os sin- dicatos. Se nós tivermos sindicato só de militante, tudo Cutista, tudo combativo, pe- diria proporcionalidade. Mas o sindicato, ele é aberto. Não se exige uma filiação ideológica. Pode ter trabalhador de es- querda, de centro, de direita. Tem traba- lhador que não sabe nem o que é isso. Pode acontecer, como aconteceu no sin- dicato nosso do ABC, numa determinada época, numa assembléia que interessava aos patrões, e os patrões mandaram maio- ria, para a assembléia. Não queremos dis- cutir a proporcionalidade em bases ca- suísticas. Queremos dicustir em todos os aspectos. Se é pra virar delegado, porque não é pra fazer uma eleição no sindicato.

Q - E o sindicato aceita a proporciona- lidade?

R — Não. Foi rejeitada em assembléia. Mas se aprovar na assembléia tem que aprovar pra todo mundo. Porque pra uma coisa pra outra não? A gente pode fazer uma assembléia pra proporcionalidade. Para tirar uma diretoria do sindicato. Nes-

sa assembléia você propõe a proporciona- lidade, o patrão pode muito bem mandar para uma convenção, de 500 pessoas, mandar particulares mais 500. E impor uma chapa que nós temos metade patrão e metade trabalhadores. Isso pode acon- tecer.

A história mostra que os companheiros nunca se submetem a absolutamente na- da, dentro desse coletivo. Se reúnem lá fo- ra, refletem, aliás em algum lugar eu estou vendo até comportamento diferente. Então é a convivência. Nós não podemos impor a uma categoria. Uma concepção que a gente defende é que deve-se respeitar os limites da categoria. Uma coisa que pra mim é importante, certos ou não é olhar a história desse sindicato. Eu quero desafiar, isso com toda a modéstia, qual é o sindi- cato do Brasil, que tem uma prática mais revolucionária do que a nossa? E o sindi- cato a gente mede a cada ano, quando chama os trabalhadores, mesmo sem ati- vidade nenhuma para julgarem a diretoria, quando chama eles pra refletir, pra dicutir o projeto para o ano seguinte. Analisar quantos sócios tinha a dez anos atrás, 8, a 2, a um. Estou sabendo, e isso me deixa triste, que os companheiros tem uma visão equivocada e estão afundando muitos sin- dicatos nesse país. Isso é um prejuízo pa- ra a classe operária. Deixo pendente a questão da proporcionalidade. Eu já pro- pus à diretoria a abertura de uma discus- são sobre o que é proporcionalidade, com a massa participando, o significado disso, os riscos, a história da proporcionalidade em partidos.

Na assembléia eles perderam de 400 e pouco, a maior derrota que já tiveram. Terminada a assembléia houve provoca- ções, de um companheiro deles ameaçan- do, bater num companheiro nosso. E aí como já existia uma mágoa, começou a briga aí, e os companheiros trocaram so- cos. Eu não estava presente. Fiquei triste porque isso nunca ocorreu conosco. La- mento o fato. A peãozada só correu atrás de gente pra bater na época do Alemãozi- nho, do Osmarzinho em 81, nas portas de fábricas, aqui no sindicato também. Esse comportamento nós não concordamos. Talvez por muito mais que me esforce, eu compreenda que alguém tentou desabafar. Esse não é o método de desabafar. Nós queremos enfrentar os companheiros, poli- ticamente. Enfrentar eles no debate, na categoria, na assembléia, com decisões. Aliás eu quero aproveitar e dizer para os companheiros que devem se organizar numa chapa de oposição. É um direito que tem. Porque a convenção é limitada. Eles podem inclusive nem participar da Con- venção e formar uma chapa. Levar o de- bate para a porta da fábrica, debater, eu acho que isso nos ajuda. Isso é bom. E se a categoria achar que os companheiros são os que representam melhor, eles se- rão representantes e eu com muito orgu- lho, vou dar posse como presidente e vou ajudá-los para que o Sindicato continue crescendo. Eu deixo-os livres pra pensar

sobre isso, porque no meu entender mui- tos dos companheiros que estão aqui de- veriam estar numa categoria desorganiza- da. O Movimento operário sozinho não vai fazer revolução nesse país. A transforma- ção vai se dar a nível nacional. Então eu quero deixar os companheiros muito livres para refletir sobre isso! Eles terão todo o espaço democrático, para fazer a sua chapa de oposição, e levar a discussão para a categoria. Se é que as eleições se- rão o ano que vem já que eles tão dizendo aqui que querem ser direção alternativa. Quem vai decidir vai ser a própria catego- ria. Aconteceu o quebra pau. Fiquei muito chateado com isso, mas por outro lado eu entendo a reação da peãozada. Mas não aceito, nem concordo.

O - Há risco disso se generalizar? R - Não absolutamente. Q que houve é

que eles entregaram o material na porta da fábrica Mas eles foram inteligentes porque eles entregaram o material parecido com um suplemento, um material que fica na di- retoria. Então o peão pega no material e entra lá pra dentro com os olhos remeten- tes, infelizmente quando chegaram na porta da Volks a peãozada correu atrás deles, pegaram o material deles e jogaram fora. E eles tiveram que fugir no meio dos ônibus. Se não fosse o Milton, o lido, e o Zé do_ pra pedir pra peãozada pra pelo amor de Deus entrar dentro da fábrica... eu não sei o que ia acontecer. Os peões es- tão atrás de quem é da convergência pra dar um pau.

Q —Mas isso é espontâneo do peão? R - Claro. Se não fosse espontâneo,

os diretores estariam juntos correndo. Como é que o diretor diz pra não bater? Você sabe que a peãozada reage. Eu sou capaz de ir nas portas das fábricas para pedir aos trabalhadores para entender es- sa questão; que democracia também pressupõe aceitar a visão dos outros. Tá certo que não podem ter esse tipo de tra- tamento, porque se são adversários, não são inimigos. E eu quero sempre têlos co- mo adversários e não como inimigos.

Q — Você tem algo mais a acrescentar? R — Q que eu tenho a dizer é que ape-

sar de tudo, nós sempre estamos dispos- tos a conversar. A gente está se prepa- rando para uma nova etapa que se apro- xima, uma etapa de luta da nossa catego- ria... O Movimento operário lamentavel- mente tem refluxo. O mundo passa por transformações que as vezes o próprio Movimento não compreende: essa história da China, um movimento de liberdade que foi reprimido. Estamos dispostos a ouvir, como ouvimos no congresso da CUT ABC, que aprovou por maioria absoluta a moção de repúdio, eles vieram aqui pedir pra retirar a tese. Então nós dialogamos e retiramos. Um repúdio aprovado ia ficar muito desagradável inclusive. Disciplina pra nós é fundamental. Quando as pes- soas dizem que são disciplinadas, ouvem pra dizer o que pensam. Pra nós demo- cracia operária só vale com disciplina ope- rária.

Page 11: Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, … · CENTRO DE RASTORAL VERGUEIRO intarna Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, que as

Quinzena w Trabalhadores

O Cometa Itabirano - Abril/89

A festa da vitória: primeiro passo MARCELO PROCÓPIO Levou mais de 17 mil dias

para que a primeira mobili- zação concreta se realizasse. Para ser mais explícito — quase 47 anos. A história é antiga e todos já estão cansa- dos de conhecê-la. A Cia Va- le do Rio Doce chegou aqui em 194-2. aliás, foi criada pe- lo Governo federal para ex- plorar o minério de ferro (na época a maior reserva do planeta) de Itabira.

Seria a redenção da cida- de e importantíssimo para a região se tivéssemos tidos governos sérios. Não tive- mos. Nenhum até agora. Ainda assim, a comunidade itabirana e vizinhas rende- ram glórias a companhia, co- mo chamavam a CVRD os mais velhos. O "pai grande" de todos, a salvação, a mâe, tia e avó de todo itabirano. Nada feito, levaram o ferro em troca de salários razoá- veis e náo muito mais.

Muito tempo, mas muito tempo depois, bem depois mesmo, é que começaram a descobrir que a companhia não era uma companhia tão camarada assim eximo se su- punha. Mas não foi um "Deus nos acuda". Havia to- do um esquema articulado e posto em prática que desar- ticulava, via medo, silêncio, opressão e principalmente pela demagogia das miga- lhas oferecidas, qualquer reação mais séria da comu- nidade. Enquanto isso a Va- le crescia, desenvolvia tec- nologias tais que tomou-se a segunda maior empresa do pais (perde apenas para a Petrobrás) e uma das maio- res e mais modernas do mundo na exploração de mi- nérios. E a cidade permane- ce provinciana e pouco evo- luída.

Claro, toda autoridade que comandou Itabira, todas as lideranças surgidas, seja empresarial, operária ou o que for, optou pelo pior, co- mo uma traição ao seu povo. Optou por baixar a cabeça à toda poderosa.

Isso náo poderia ser eter- no. Claro, ainda bem. Ufa, até que enfim. Foi então que na histórica zero hora do dia 3 de abril tudo mudou. Ou pelo menos começou a mu- dar. Os operários da CVRD entraram em greve e dela saíram vitoriosos.

A princípio pode até pa- recer uma coisa pequena. Náo, uma greve nunca é uma coisa pequena. Mas po- deria parecer apenas mais

uma greve entre tantas ou- tras que vêm acontecendo no país contra o arrocho, a exploração e todas estas bur- rices praticadas pelo capita- lismo brasileiro, que ainda é pré-capitalista, dependente e safado. Os políticos que nos digam, o tanto de vantagens que levam ao fecharem os olhos e permitir tais aberra- ções.

Mas não foi uma greve qualquer, entre todas estas outras Justas e corretas que acontecem a cada minuto no país. Foi uma espécie de "grito primai" do itabirano. O grito já estava sufocando o itabirano há muitos anos. Ha- via tímidos movimentos, não levados multo à sério pela comunidade e desprezada burramente pelas autorida- des. (É bom abrir um parên- teses para as exceções de sempre, tipo CDA, Arp. e es- te jomaleco que desde de sempre se manifestaram e muito contribuíram para a evolução das idéias e das ar- ticulações).

Há um outro detalhe inte- ressante que passou pratica- mente desapercebido de to- dos. Inclusive da imprensa e da própria história. Há al- guns anos, um grupo de ita- biranos, jovens e filhos de operários (alguns já trabalha- dores da CVRD) começaram a pisar os muros da cidade com um protesto histórico e sutilíssimo, daí sua força. A mensagem era simples e ob- jetiva, mas carregada de uma simbologia altamente significativa para a grande maioria dos itablranos e de- mais matto-dentrenses.

Era um grafite multo bem feito e não uma simples plxação feita à mão em spray. Os rapazes pintavam o logotipo da Vale do Rio Do- ce e ao seu lado a inscrição "MEU PAI 30 ANOS. E EU7". Ou seja, os pais trabalharam 30 anos na companhia, tive- ram garantia (na prática pa- ra quase todos) de emprego até a aposentadoria, depois de 3o anos. E os filhos? Até quando? Até quando a CVRD (agora não mais a paternalis- ta "companhia", a redentora toda poderosa) ficará em Ita- bira? Até quando haverá mi- nério de ferro? Já que não há ainda outra solução econô- mica nem social para Itabira e região.

Bom, muito bom. Ainda dá tempo de reverter o pro- cesso. E foi o que aconteceu. Em 1986, o Sindicato Metaba- se, dos operários da CVRD,

elegeu a sua primeira direto- ria não pelega da história. Com a vantagem de ter na presidência um homem sé- rio, não viciado no politiquês sindical, com um discurso mais inteligível para a gran- de massa de trabalhadores. Sem jargões antigos e ultra- passados que mais afugen- tavam os operários (boa par- te deles) Já temerosos com a política da Vale, que aproximava-nos.

É Milton Bueno, o Bita, com um jeito simples e pron- to para aprender e não para exceder com o poder que tem nas mãos. Articulou bem a nova realidade sindi- cal da cidade. Tanto que lo- go após, o Sindicato dos Ro- doviários (outra entidade im- portante para a produção da CVRD) também elegeu uma diretoria atuante e não pele- ga, com Antônio Gregório à frente.

A população Já tinha um sentimento de insatisfação com relação à Vaie. Mas que apenas se manifestava na hora do almoço em família ou nas mesas dos botecos. Enquanto os políticos e ou- tros tantos permaneciam submetidos ás benesses da CVRD. No entanto, faltava uma liderança com credibili- dade, sem radicalismo, mas autêntica, real e séria. Surgiu um primeiro momento com Saulo Queiroz Braga, que com Bita como candidato a vice-presidente, perdeu as eleições passadas. Na elei- ção seguinte, Saulo articulou a candidatura de Milton Bue- no e um pouco antes da vitó- ria, morreu em um acidente rodoviário.

Estas coisas começaram a mudar a história da cidade. Tanto que a greve de 3 a 8 de abril foi uma festa de liberda- de, ou de inicio de liberação do que sufocava toda a co- munidade. As manifesta- ções de solidariedade de to- da a cidade comprovam es- te sentimento, este desejo de libertação. Pequenos empre- sários doaram aos grevistas milhares de sanduíches, re- frigerantes, garrafas de água. Tudo o que foi ou se- ria necessário para que a greve fosse vitoriosa.

No sábado, 8 de abril, quando acabou a greve, a ci- dade virou uma festa. A fes- ta da vitória. Do alívio, do pri- meiro grito real pelos direitos a que têm todos: a cidade e a comunidade. E que até ho- je não foi transformada em realidade. O primeiro passo está dado.

Page 12: Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, … · CENTRO DE RASTORAL VERGUEIRO intarna Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, que as

Quinzena Economia

O Estado de São Paulo - 14.06.89

Desembargador ataca menina MANAUS - O desembargador e

escritor Paulo Herban Maciel Jacob, de 59 anos, foi flagrado ontem ten- tanto estuprar e seduzir a menor R.N.S.R.L., de dez anos, que viajava a seu lado no vôo 855 da Varig com destino a Manaus. A menina, filha de Manuel Antônio Henrique dos Santos Lopes e Edite Fernandes da Costa Ferreira Lopes, mora no município de Tese e viajava, para se encontrar com o pai, aos cuidados do comandante da aeronave, Paulo Farceta Bastos.

Em Manaus, ela faria conexão para Belém, no Pará, seu destino final. Em vez de ser colocada na primeira pol- trona, como é de praxe, a garota sen- tou-se ao lado de Paulo Jacob. Ao to- mar conhecimento do fato, o coman- dante chamou a Polícia Federal, exi-

gindo a presença de agentes para o pouso do avião. A Empresa de Infra- Estrutura Aeroportuária (Infraero) re- gistrou o caso em boletim de ocorrên- cia.

Paulo Jacob é juiz desde 1951, pas- sou a desembargador em 1964, corre- gedor-geral da Justiça em 80 e, como presidente do Tribunal de Justiça, en- tre 82 e 83, chegou a assumir o go- verno do Estado do Amazonas. Como escritor, seu estilo foi comparado ao do mineiro Guimarães Rosa, e é cre- ditada a ele a transposição para a lite- ratura da linguagem característica da região amazônica.

Diante do comandante e policiais, o desembargador disse, despreocupado: "Não adianta chamar a polícia, sou desembargador e nada me acontece-

rá". Para o pai da menina, a agressão não foi mais grave porque o superin- tendente da Infraero de Tese, Jânio Litaif Moriz, interferiu. "Ele arrancou a minha filha das garras do homem", desabafou o pai, indignado.

Uma das principais preocupações do engenheiro agrônomo Manoel dos Santos Lopes, que esperava a filha pa- ra viajarem em férias juntos para Portugal, está a contratar um advoga- do para em seguida entrar com uma ação contra Paulo Jacob. Até ontem, nenhum dos profissionais contratados pelo pai da menor havia aceito a cau- sa. Todos temem represálias do de- sembargador, que mantém relações de amizade com o ex-governador Gil- berto Mestrinho e é pai do deputado estadual Paulinho Jacob.

Terragente - Junho/Julho/89

SINDICALISMO RURAL Os rumos da renovação

Terragente publica entrevista com o Dirigente Sindical Elvino Bohn Gass, Presidente do STR de Santo Cristo, membro da Executiva da CUT-RS e da coordenação provisória do Departamento

Rural da CUT-RS, fazendo uma análise do movimento sindical rural e das tendências do sindicalismo combativo no campo, no próximo período.

Terragente: Qual a análise que fazes do movimento Sindical rural?

Elvino: Desde que se iniciou o pro- cesso de renovação do sindicalismo no campo - por volta de 1982/83 — muito já se andou. Dezenas de Sindi- catos de trabalhadores rurais foram ganhos para o campo da CUT, no Es- tado. Ao mesmo tempo, os movimen- tos dos Sem Terra, Mulheres, Barra- gens etc, apesar das dificuldades se estruturaram e contribuíram para dar outra qualidade à luta dos trabalhado- res rurais. Tivemos algumas lutas muito importantes, chegamos a um grau de radicalização grande, por exemplo em 1987, na luta contra a correção monetária para os emprésti- mos e, principalmente, a CUT come- çou a se colocar como alternativa de Direção para a luta dos rurais. Por isto o balanço geral é positivo.

Terragente: Apesar deste balan- ço positivo parece que hoje o Sindi- calismo Cutista no campo, está ten- do dificuldades, problemas para avançar...

Elvino: Na realidade é isso mesmo. No entanto, precisamos reconhecer que essas dificuldades não são só dos rurais da CUT, mas do Sindicalismo como um todo. Mas não há dúvidas de que hoje temos maiores dificuldades

pra fazer avançar as lutas, pra fazer grandes mobilizações e pra conquistar vitórias. As causas disso, no nosso modo de ver são várias. Mas vamos nos fixar em duas. Em primeiro lugar, a reação das classes dominantes con- tra o sindicalismo combativo é muito grande. E essa reação não vem só da UDR. Acho até que a UDR dá uma certa unidade a essa luta contra o Sin- dicalismo, mas não é o único setor que nos combate. No dia-a-dia do tra- balho sindical, estamos sofrendo um combate permanente das forças políti- cas conservadoras. E um combate que se dá mais no miúdo, ali no próprio município, puxado por preíeituras, ACI, meios de comunicação, etc. Quer dizer, os setores dominantes lo- cais, e não apenas os latifundiários da UDR, estão se encarregando de dar esse combate ao sindicalismo cutista.

Terragente: E a segunda dificul- dade?

Elvino: Essa tem a ver conosco mesmo. E o problema tanto das políti- cas dos rurais da CUT para o movi- mento e frente às outras forças que atuam no movimento sindical rural, quanto dos problemas de construção da política da CUT nos nossos Sindi- catos. São todos aspectos que travam

o crescimento da CUT no campo, e que aliados à pressão da UDR e da burguesia determinam este quadro ge- ral de dificuldades.

Terragente: Procure aprofundar estas questões. Você fala de políti- cas para o movimento. O que exa- tamente quer dizer isso?

Elvino: Veja, situação no campo é muito complexa. Quem é o trabalha- dor rural? Isto nós não sabemos di- reito. Tem o pequeno proprietário, tem o arrendatário, o bóia-fria, o me- eiro, o sem-terra, o assalariado. Mas não é só isso. Mesmo dentro dos pe- quenos proprietários, que são o setor predominante, tem situações bem es- pecíficas. Tem aquele que é integrado a uma grande massa, tipo os produto- res de uva, fumo, aves, suínos, tem aquele que produz só para o mercado, tipo o produtor de soja e trigo, tem aquele que ainda trabalha mais em re- gime de subsistência. Então esta é a realidade muito complexa. Agora per- guntamos: o que unifica todos estes setores? Que reivindicações atendem realmente os interesses desse conjun- to? A bandeira da Reforma Agrária sem dúvida é a mais unificadora, mas ainda assim não responde aos interes- ses mais imediatos de grande número

Page 13: Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, … · CENTRO DE RASTORAL VERGUEIRO intarna Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, que as

Quinzena Trabalhadores de trabalhadores rurais. Da mesma forma, a bandeira da Política Agrícola diferenciada para os pequenos, não responde ao conjunto.

Então, está é uma realidade con- creta que vai exigir muito estudo, de- bate e discussão do sindicalismo cu- tista para gente ter avanços reais.

Terragente: E quanto às políticas para as outras forças que atuam no Sindicalismo rural?

Elvino: Hoje a CUT não é a força homogênea no Sindicalismo rural do Rio Grande do Sul e do Brasil. A Confederação e Federações ainda do- minam a grande maioria dos Sindica- tos. Dominam pra assegurar, pra des- mobilizar, mas dominam. E evidente que tanto a CONTAG como a FETAG estão se desgastando, perdendo terre- no, da mesma forma que, por exem- plo, os setores mais pelegos da CGT vêm perdendo terreno.

O problema é que por falta de uma política adequada e unitária da CUT pra intervir nestas instâncias, o des- gaste deles está sendo muito menor e muito menos rápido do que poderia ser. E também por isso a CUT, não se consolida como alternativa de Direção no Campo. Isso abre possibilidades desses setores mais conservadores e pelegos se rearticularem e se moderni- zarem pra continuar dominando. No último período, já estamos vendo mu- danças importantes impulsionadas pelo Departamento Nacional dos ru- rais da CUT. A atuação e a orientação do Departamento foi correta no episó- dio das eleições da CONTAG. Real- mente se impunha a denúncia e uma atuação ofensiva para deslegitimar a fraude praticada nestas eleições. O problema é que ainda tem muitas re- sistências no interior da CUT no Es- tado, para seguir esta política.

Terragente: Você falava também da construção da política da CUT nos Sindicatos...

Elvino: Pois é. Na fundação da CUT definimos a Democracia, a com- batividade, a organização pela base e a independência e autonomia, como a marca do Sindicalismo Cutista. E, sem dúvida de 1983 para cá, já avançamos muito na implementação desses prin- cípios em nossos Sindicatos. Mas, ainda há muito que fazer. Ainda, em muitos Sindicatos da CUT, o poder está super-concentrado nas mãos do Presidente ou da Diretoria. Também não conseguimos nos livrar comple- tamente do assistencialismo, e nisso os dirigentes gastam muito do seu tra- balho e os Sindicatos muito dos seus recursos. Recursos esses que acabam faltando para o trabalho de formação, pra lutas, prós movimentos. Por outro lado, a categoria dos trabalhadores ru-

rais é difícil de organizar e mobilizar. O agricultor não trabalha concentrado que nem o operário. A base do Sindi- cato é dispersa, um mora e trabalha longe do outro e isto dificulta a dis- cussão na categoria, o crescimento da consciência política e a própria orga- nização pela base. No entanto nós es- tamos vendo que o número de mili- tantes sindicais está aumentando e sem dúvida eles são da maior impor- tância. O nosso desafio pra vencer as dificuldades de organização da cate- goria, é o de formar o maior número de novos quadros em todos os Sindi- catos, e integrar estes na vida do Sin- dicato. Precisamos quadros que pos- sam assumir o trabalho de agitação e propaganda, de organização, mas que também tenham condições de discutir com profundidade toda a política do Sindicato. E com quadros militantes desse porte, que as palavras democra- cia e organização pela base vão dei- xar de ser mera propaganda e declara- ção de princípios para passarem a ser parte efetiva da vida de nossas entida- des sindicais.

Terragente: Temos ainda um ou- tro tema a abordar. É o problema das finanças dos Sindicatos. O qua- dro existente hoje é de uma profun- da crise financeira em muitos Sin- dicatos.

Elvino: É preciso entender que esta crise não é exclusivamente dos Sin- dicatos Cutistas, que são os que têm maiores gastos com o movimento. Ao contrário, parece-nos que são exata- mente Sindicatos que mais investem em formação, mobilizações, boletins, enfim aqueles que mais trabalham na categoria e no movimento como um todo, os que têm conseguido suportar melhor a crise. Mas, as finanças são efetivamente um problema na maioria dos Sindicatos de Trabalhadores Ru- rais. Por quê? Em primeiro lugar os Sindicatos de Trabalhadores rurais são todos Sindicatos pequenos, têm uma média de 2.000 associados. Isto por serem municipais. Suas receitas histo- ricamente já vem em tomo de 80% das mensalidades dos sindicalizados. O que ocorre é que muitos agriculto- res negavam o Sindicato porque de- pendiam dele para ter acesso a benefí- cios da previdência e da saúde. Até recentemente muitos dirigentes sindi- cais lutavam e ainda lutam para man- ter esse atrelamento com a previdên- cia. E, os Sindicatos na sua maioria só encaminhavam estes benefícios aos seus sócios, muitas vezes ainda co- brando. Com isto mantinham o Sindi- cato em situação financeira estável. Funcionavam como um escritório do INPS ou do FUNRURAL. Mas hoje isto mudou. O próprio governo, atra-

vés da criação de mais escritórios da Previdência e da universalização do atendimento de saúde, via CIMS, SUDS etc, está se encarregando de romper com este atrelamento. É, aí o agricultor percebe que durante muito tempo foi enganado pelo Sindicato e deixa de pagar suas mensalidades.

Aliado a isso tem ainda o combate a que já nos referimos, feito pela UDR e forças dominantes locais contra os Sindicatos e a incapacidade efetiva de muitos deles de sair desse "enrosco". Aí está completo o quadro de crise. Mas esta crise tem seu lado positivo. Muitos Sindicatos estão saindo dela fortalecidos, sustentados agora, não no assistencialismo, mas sim na cons- ciência de classe do agricultor, na lu- ta, na organização de base. Os Sindi- catos também estão sendo obrigados a buscar outras fontes de renda, como a contribuição sobre conquistas mate- riais obtidas, semelhante à contribui- ção dos dissídios para os sindicatos urbanos, o plantio de roças coletivas em favor do Sindicato, etc. Mas, prin- cipalmente está obrigando os Sindi- catos a discutir com seriedade com suas bases a necessidade do próprio trabalhador assumir a sustentação fi- nanceira de suas entidades. Isto é ex- tremamente positivo.

Terragente: Finalmente, quais são as tendências da luta dos rurais no próximo período?

Elvino: O quadro geral não está muito fácil. A falta de ofensividade e maior unidade na luta dos Cutistas no meio rural está dificultando a retoma- da das lutas. Por outro lado, a luta da Reforma Agrária, que sempre polari- zou o meio rural, a partir das derrotas na Constituinte, também vem passan- do por um período de dificuldades, de isolamento, apesar das recentes ocu- pações e da repercussão na opinião pública. Da mesma forma, a luta das mulheres trabalhadoras rurais, também está passando por um período de rede- finições. O quadro geral é então de descenso. Mas, a retomada e radicali- zação das lutas dos operários e traba- lhadores da cidade, certamente vai ter respostas no campo. Temos as con- quistas da Constituinte ainda penden- tes de regulamentação, como a apo- sentadoria para o homem e mulher do campo, a nova lei agrícola, a defini- ção de "terra produtiva", etc, cuja discussão vai contribuir para reascen- der as lutas no meio rural. Da mesma forma, a questão da Reforma Agrária, após um período de isolamento e der- rotas, já mostra sinais de retomada, e na campanha Presidencial que se ini- cia, vai ser novamente um ponto de polarização, podendo vir a ser uma grande bandeira, com renovado apoio popular.

Page 14: Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, … · CENTRO DE RASTORAL VERGUEIRO intarna Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, que as

Quinzena immmÊÊÊÊÊÊÊÊmmm mmmmmmmmmm

Trabalhadores

Tupari-Abril/89

O fantasma das barragens Rondônia precisa de energia elétri-

ca para-poder desenvolver. Este é um dos principais argumentos usados pelo governo do estado federal e al- guns grupos políticos, na defesa da construção da Usina Hidrelétrica de Ji-Paraná.

Em nome deste progresso, 151.000 hectares de terra deverão ficar debai- xo d'água, dos quais 4.074 ha. são da Reserva Biológica do Jarú, 11.000 ha. da Área Indígena Igarapé Lurdes onde vivem os povos Arara e Gavião, na época das chuvas esta área deverá aumentar para cerca de 80.000 ha. Deverão ainda serem inundados cerca de 1.986 lotes rurais, compreendendo os municípios de Jarú, Ouro Preto D'Oeste e Ji-Paraná, desabrigando um total de 2.417 famílias de agricul- tores. As águas desta Barragem no Rio Machado atingirão também par- cialmente as áreas urbanas das cida- des da Jarú e Ji-Paraná.

Sabe-se porém, que as águas tra- rão problemas para os municípios de Caçoai e Pimenta Bueno, o que os levantamentos iniciais prestados pela Eletronorte, que é responsável pela obra, não revelam.

O início das obras está previsto pa- ra o segundo semestre de 1989, de- vendo estar pronta até 1994.

O que a população de Rondônia não sabe é que a energia gerada aqui deve ir para o centro-sul do pais, ali- mentar o grande parque industrial já instalado naquela região. Segundo os planos de desenvolvimento de Ron- dônia - Polonoroeste, Polonoroeste II e Planaflora, deverá ser desenvolvido neste estado apenas a agricultura e a pecuária e não a indústria, não preci- sando portanto de grandes Hidrelétri- cas. A solução para Rondônia está em pequenas Hidrelétricas, que são viáveis em diversos locais do estado, sem precisar atingir grandes áreas de terras e floresta como é o caso desta em Ji-Paraná.

Existe em Rondônia, diversas enti- dades que estão liderando um movi- mento contra a construção da Barra- gem, dentre elas o GTME e recente- mente foi formada uma comissão in- termunicipal, que deverá organizar o movimento em cada município e a ní- vel de estado, esclarecendo à solida- riedade envolvente das conseqüên- cias destas obras.

Esta comissão vem usando como argumento, os exemplos das Hidrelé- tricas de Samuel em Porto Velho RO, que inicialmente deveria gerar energia para grande parte dos estados de Rondônia e Acre, mas que depois de concluída fornece energia apenas pa- ra parte da cidade de Porto Velho, e Balbina próximo a Manaus AM e que é considerado o maior desastre eco- lógico da década, derca de 240 ha. de floresta primária coberto pela água e depois de pronta se descobriu que o rio Uatuma não tem capacidade sufi- ciente para encher a represa.

Mas o argumento mais forte e que poderá definitivamente impedir a construção da Barragem, são os po- vos indígenas, eles já declararam que são contra a Hidrelétrica e estão apoiando o movimento contra a cons- trução.

Segundo os Direitos dos índios, aprovados pela nova Constituição, "os recursos hídricos em áreas indígenas só poderão ser explorados após o po- vo ser consultado, sendo ainda ne- cessário a aprovação do Congresso Nacional".

Cladimir Faller - Projeto Tupari CTME

Pimenta Bueno-RO

ENQUANTO HA VIDA, HA ESPERANÇA

Os povos indígenas que habitam a A. I. Menquens em Rondônia, Maru- rap, Sakirabiá e outros, vêm encon- trando sérias dificuldades para sobre- viverem como índios.

Cerca de 80 índios procedentes de diversas nações diferentes habitam esta área de pouco mais de 100 mil ha

O primeiro contato com o branco já foi na década de 20, com a chegada dos "Soldados da Borracha", que trouxeram também inúmeras doenças, dizimando assim, grande parte destes povos. Muitos dos sobreviventes tra- balharam como escravos nos serin- gais, por muitos anos.

Nos dias de hoje, o povo da A. I. Mequens vive da exploração da bor- racha, da venda da madeira existente na área, de pequenas roças onde cul- tivam principalmente arroz, feijão, mandioca e milho, da caça e da pes- ca e da coleta de castanha.

Estes povos foram juntados ainda pelo S.P.I., órgão que mais tarde deu lugar à Funai, não levando em conta as diferenças existentes entre cada nação, colaborando assim para o massacre cultural que continua até hoje. O conhecimento e os costumes próprios de cada povo, foi se perden- do aos poucos, permanecendo hoje, apenas na vaga lembrança dos mais velhos.

A exploração da madeira, apesar de ilegal, continua, com contratos in- termediados pela Funai, e nos últimos anos têm sido constantes as invasões de posseiros na área. E conforme re- lataram alguns índios, no início deste ano foram encontrados vestígios de

garimpeiros na área. E a Funai tem conhecimento dos posseiros como dos garimpeiros mas, nada faz.

A proximidade da área Mequens com algumas fazendas e serrarias têm colaborado com a substituição pelos índios da "Chicha" pela cacha- ça. Existem também alguns casos de consumo de álcool de farmácia.

Até novembro de 88, vinha sendo desenvolvido na área, um trabalho pelo CIMI e pelo GTME, com saúde e educação, além da presença de pos- to, uma professora e uma enfermeira. Hoje permanece na área apenas o chefe de posto da Funai e uma pes- soa do GTME, que desenvolve um trabalho de divulgação.

Seguidamente alguns índios se di- rigem até a cidade de Pimenta Bueno em busca de mantimentos e de aten- dimento médico, pois na época das águas é constante os casos de malá- ria na aldeia.

O trabalho com a questão indígena hoje em Rondônia, vive um de seus momentos mais difíceis. São constan- tes as invasões das áreas por possei- ros, madeireiros e garimpeiros e, co- mo não bastasse, resolvem construir barragens que virão a atingir parcial- mente área indígenas. Em contrapar- tida, as entidades que desenvolvem projetos de apoio aos povos indígenas têm dificuldades em encontrar pes- soas dispostas e em condições de prestar serviços. Mas nem por isso vamos desistir, somos poucos e frá- geis, como constantemente ameaça- dos e perseguidos por aqueles que buscam a exploração e o massacre deste povo mas confiamos em nossas.

Page 15: Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, … · CENTRO DE RASTORAL VERGUEIRO intarna Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, que as

"« n

Quinzena Trabalhadores

forças e na justiça divina que a cada dia nos dá coragem.

A questão indígena não pode ser compreendida isoladamente, ela faz parte de uma luta maior que envolve o negro, a mulher, o sem terra e todos os demais marginalizados e margina- lizadas, e que tem como objetivo a

implantação da justiça. É neste senti- do que o GTME vem caminhando em Rondônia. As portas abertas para o CIMI, CPT, Igreja Católica e Luterana, Sindicatos, Movimento Sem Terra e Associações de trabalhadores, vêm proporcionando um excelente nível de discussão, conhecimento e cresci-

mento, fazendo uma prática cada vez melhor.

Cladimir Faller - Projeto Tupari GTME

Pimenta Bueno-RO

Tupari - Abril/89

A AMAZÔNIA, OS POVOS INDÍGENAS E O VERDE OLIVA Enquanto Raoni vai a

Paris e dá um show diante das câmeras da TV France- sa, ao lado de Sting, como um verdadeiro embaixador dos povos indígenas, mes- mo sem pasta, aqui a cor- ruocáo corre solta e já náo consegue mais ser aco- bertada, õom um mínimo de liberdade, a Imprensa mais atenta publica escân- dalos de proporções im- pensáveis ao cidadão co- mum. A título de exemplo, a devassa aberta por Eduar- do Suplicy na Câmara Mu- nicipal de Sâo Paulo, a denúncia-bomba feita pelo jornalista Jânio de Freitas na concorrência de umsiste- ma de água que foi fraudu- lenta e envolve um "des- vio, uma "sobretaxa" 4 vezes o valor da obra, isto é, 1 bilhão de dólares, o arquivamento irresponsá- vel na Câmara Federal da CPI da Corrupção, que envolve altos funcioná- rios do Governo, ministros e o próprio Sarney em ver- dadeiros crimes de lesa- pátria e assim por diante. É a constatação de que existe mesmo — ainda que nâo registrada em cartó- rio — uma "Corrupto- brás", empresa sempre em ascensão e cujos tentácu- los se estendem de cima até por dentro do poder esta- belecido.

Ora, tendo este tipo de governantes, quem pode acreditar em boa vontade, em sinceridade, em hones- tidade quando o Governo divulga programas de de- fesa da Amazônia, como o "Nossa Natureza", ou vem afirmar que vai contro- lar a destruição, e que, afinal de contas, a destrui- ção nâo é tão grave assim?

Em 1988 a duras penas, o movimento indígena e seus aliados na sociedade conseguiram fixar na Constituição um texto ra- zoável que defende os di- reitos dos povos indíge- nas considerados essen- ciais: respeito ás terras.

usufruto exclusivo das riqueza naturais do solo, lagos e rios nas área que ocupam, respeito ás suas línguas, tradições e formas de organização social, além do controle junto com o Congresso Nacional, da pesquisa e lavra de mi- nérios do subsolo, este o ponto mais vulnerável do texto constitucional.

Mas, como se dizia logo em seguida, a letra da lei ficará morta se nâo for praticada. Dom Hélder Câmara dizia que estes bons preceitos devem "saltar do papel para a vi- da, usando uma feliz ima- gem.

O terrível, do ponto de vista dos povos indígenas e de toda a mairoria do povo brasileiro, é que'a Consti- tuição não só se torna mor- ta, mas que o próprio go- verno que teima em des- conhecê-la, em violentá-la, em escarnecer do cidadão comum. O mesmo Governo que, hipocritamente, julgou fidelidade á Lei Maior. Senão, vejamos.

Dias antes da promulga- ção da nova Carta, o Go- verno tratou de reduzir a extensão de 19 áreas in- cluídas no PMACI Pro- grama de Proteção ao Meio Ambiente e Comunidades Indígenas, do Acre e Sul do Amazonas, transformando burocratícamente as áreas "excedentes" em florestas e parques nacionais, o mesmo que ocorreu com os Yanomami, de Raoraima. Aí, o Govenro Sarney criou 19 "ilhas", deixando de fora 70% do território tradicional Yanomami, para permitir que conti- nuasse a invasão e des- truição do meio ambiente deste povo pelos quase 100 mil garimpeiros que atrás do ouro, vão seme- ando morte e poluindo os rios com toneladas de mer- cúrio.

Também os Guajá do Maranhão sofreram ina-

ceitável redução do seu território tradicional. Nes- te caso, a ilegalidade é tão fíagrante que por iniciativa da Procuradoria Geral da República, o Ju- diciário determinou a sus- pensão dos efeitos da Por- taria Interministerial n0 159, de 8/9/88, que di- minuía em 50% a área Guajá.

Num levantamento feito pelo CIMI, somente em 1988 foram notificados, e confirmados 36 assassi- natos de índios, 28 dos quais relacionados com os conflitos de terra. Os mais graves foram o massacre dos 14 Ticuna no alto So- limões, no dia 20/03/88, numa operação comandado pelo madeireiro Oscar Cor- reia e os assassinatos cons- tantes de Yanomami, muitos sem chegar a ser notificados por ocorrerem no recesso das matas qua- se inacessíveis de Roraima. Isto sem contar as mortes provocadas por doenças, como sarampo, malária, coqueluche e outras. Nes- se caso morreram 25Ya- nomami, enquanto num levantamento feito por nós no alto Purus, morreram 12 crianças Kulina, em duas aldeias.

Os dados dessa violên- cia sâo clamorosos e nâo podem passar despercebi- dos. E preciso que tome- mos consciência da gravi- dade do que está aconte- cendo para nos posicionar- mos numa atitude de soli- dariedade efetiva.

Ao mesmo tempo, porém é necessário apontar responsabilidade. No que tange à Amazônia, o Go- verno Federal é o grande responsável, porque é ele que tem implementado as políticas dos incentivos fiscais e de desenvolvi- mento predatório que vigo- ram ha mais de 20 anos. Mas mais diretamente relacionados com a ques- tão indígena, são os mili- tares do ex-Conselho de-

Segurança Nacional que tem adotado sistematica- mente as piores posições. E deles que saiu o Projeto Calha Norte, que ate o momento só serviu para aumentara invasão das ter- ras indígenas por madei- reiros e garimpeiros atra- vés dos aeroportos cons- truíddos.

Na verdade, como di- zia Jânio de Freitas, "é o excesso de verde, e nâo a sua persistente destru- ição, que explica os pro- blemas internacionais pro- vocados pela devastação da Amazônia." Trata-se do "verde oliva" da farda da implantação das polí- ticas de desenvolvimento de acordo com a doutrina de segurança nacional, responsável por projetos como a Transamazônica, um exemplo de incompe- tência, inutilidade e ganho fácil para as grandes em- preiteiras nacionais que vi- vem à custa do erário pú- blico.

O Governo e os gene- rais acusam as entidades indigenistas e ecológicas de quererem "internacio- nalizar a Amazônia". Não há algo mas leviano e inoportuno. A tal interna- cionalização já existe, de fato, sob o beneplácito deste Governo e dos mili- tares há muito. O Conselho Nacional de Pesquisas divulgou em 1987 que 40% do subsolo amazônico se encontra em mãos de em- presas mineradoras es- trangeiras. O ferro do Pro- jeto Carajás está saindo do Brasil para o Japão a preços abaixo do mercado inter- nacional, into é, com evi- dentes prejuízos para o país. Sem contar a destru- ição da floresta ao longo do Projeto, algo tâo grave que o Governo europeu de- cidiu interromper o envio de verbas para o Projeto, jeto.

Portanto, discursos na- cionalistas inconseqüen- tes que apenas tem servi-

/

Page 16: Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, … · CENTRO DE RASTORAL VERGUEIRO intarna Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, que as

Quinzena Trabalhadores

do para acobertar crimes e destruição já não conven- cem mais. Saibam estes senhores que a sociedade

começa a abrir os olhos e vai começar a cobrar com Juros, como na música do Chico, tanta desfaçatez

e arrogância. A começar pelo destino dos povos indígenas, os primeiros, os legítimos donos desta

terra. Roberto Zwetsch Lorl Allmann

Sáo Paulo.abril/89

Greves

RURAIS NO VALE DO AÇO (MG) Uma caravana de pelo menos 80

trabalhadores rurais do Vale do Aço (MG) realizou, no dia 16/6, um pro- testo na porta da sede da Companhia de Reflorestamento Santa Bárbara, subsidiária da Belgo Mineira, por melhores condições de trabalho e abertura imediata das negociações. Cerca de 1.500 operários dos 6 mil que trabalham no plantio de eucalipto nas cidades de Timóteo, Santa Bárba- ra, Ipatinga, Caratinga, entre outras, estão de braços cruzados há 11 dias, reivindicando reajuste salarial de 120%. O salário médio dos trabalha- dores é de NCz$ 69,00 mensais. Além da reivindicação salarial os trabalha- dores denunciam as péssimas condi- ções de trabalho e riscos de intoxica- ção devido à utilização de produtos químicos sem cumprimento das nor- mas exigidas. Os patrões se recusam a negociar e a greve continua. (Fonte: Tribuna de Minas, 16/06)

DIRIGENTE DA CUT É ESPANCADO (MG)

Agressões, pancadaria, saques e ameaças. Esse foi o saldo do segundo dia de greve dos canavieiros da Usina Luciãnia, no municíjpio de Lagoa da Prata (MG). É a primeira greve que a usina enfrenta em 40 anos. Os corta- dores de cana recebem NCz$ 1,00 pela tonelada de cana cortada e rei- vindicam um aumento de 150%. O tumulto começou depois que a direção da empresa não fez qualquer contra- proposta na primeira reunião de nego- ciação. Após a reunião, a polícia foi chamada para dispersar os grevistas que se concentraram no pátio da usi- na. Um destacamento da Polícia Mili- tar mineira, de mais de 300 policiais, investiu contra os grevistas, atirando bombas de gás lacrimogêneo e baten- do com cassetetes. Na confusão, o Se- cretário Rural da CUT em Minas Ge-

rais, Fenelon Lins Filho, foi violenta- mente espancado, e em seguida foi preso e levado para um hospital em Belo Horizonte, onde ficou sob vigi- lância da PM. O companheiro Fenelon além de escoriações generalizadas so- freu iratura do osso zigomático e na lace. Segundo a PM, o conflito com os 4 mii trabalhadores resultou em dois policiais íeridos, um supermerca- do saqueado, cinco caminhões quei- mados, um ônibus, duas caminhonetes e dois carros policiais depredados.

Menos de 24 horas após os confli- tos ocorridos na cidade os patrões fi- zeram uma contraproposta de NCz$ 1,60 por tonelada de cana cortada, que foi recusada pelos trabalhadores. A greve continua. (Fonte: Hoje em Dia, 16/6)

ASSALARIADOS RURAIS (SP) A greve dos trabalhadores assala-

riados rurais da região de Ribeirão Preto terminou no dia 19/6, com a volta ao trabalho de cortadores de ca- na e operadores de máquinas em 20 cidades. A decisão foi tomada em as- sembléia no final de semana no Sindi- cato das Indústrias Alimentícias, em Sertãozinho. O presidente da Federa- ção dos Empregados Rurais Assala- riados do Estado (Feraesp), Elio Ne- ves, disse que se optou por uma tré- gua até o julgamento do dissídio cole- tivo marcado para o dia 21/6, em Campinas. Nenhum dos 58 itens rei- vindicados foi atendido até agora pe- los empregadores. No fechamento da QUINZENA ainda não tínhamos in- formações sobre o resultado do julga- mento. Na próxima QUINZENA in- formaremos os resultados. (Fonte: OESP, 20/06)

202 E 330 NOS SINDICAUSTAS (RJ)

Três dirigentes do Sindicato dos Químicos de Nova Iguaçu (RJ) foram enquadrados nos artigos 202 (organi- zação contra o trabalho) e 330 (não cumprimento de determinação judi- cial) do Código Penal. Eles se encon- tram detidos na sede da Superinten- dência da Polícia Federal do Rio. A prisão, segundo o sindicato, foi de- terminada por desrespeito à liminar

concedida pelo Tribunal Regional do Trabalho à Bayer do Brasil S/A, defi- nindo-a como setor essencial. Pela determinação judicial, o sindicato de- veria manter pelo menos 51 trabalha- dores no parque industrial. Os traba- lhadores porém, pararam o reveza- mento de turno no dia 16/06 alegando intrasigência da direção da fábrica ao não reabrir as negociações. Os gre- vistas reivindicam reposição salarial de 88,51%, relativos a perda acumu- lada de setembro de 1988 a maio de 1989, de acordo com o índice do IB- GE. A empresa oferece apenas 9,35%. A greve continua. (Fonte: JB, 19/06)

CAPITALISMO SELVAGEM (RJ) Continua iudeiinida a situação das

3.000 trabalhadoras da De Millus no Rio de Janeiro. A greve que comple- tou 16 dias no dia 17/06 já tem mais de 200 trabalhadoras demitidas. Vá- rias irregularidades foram levantadas na fábrica: O não pagamento do piso salarial da categoria; as revistas "hu- milhantes" das trabalhadoras ao sair do trabalho; a péssima alimentação e os testes de gravidez periódicos. Além do fim das dezenas de irregularidades, as trabalhadoras reivindicam reposi- ção salarial de 100%, contribuição das menores, construção de vestiários para as costureiras, melhor tratamento por parte das chefias e a volta do paga- mento do 142 salário, além da rever- são das demissões por justa causa. (Fonte: Última Hora, 17/06)

MORRO VELHO (MG) Os trabalhadores da Mineração

Morro Velho depois de dois dias de greve retomaram ao trabalho no dia 15/06 sem que nenhuma de suas rei- vindicações fosse atendida. O Sindi- cato dos Trabalhadores da Indústria Extrativa de Ouro e Metais Preciosos de Nova Liam se recusou a dar infor- mações à imprensa sobre o fim do Movimento. Já o assessor de comuni- cação da empresa afirmou que a em- presa, ao invés de negociar com a ca- tegoria, esclareceu os dirigentes sindi- cais a sua política salarial que desde janeiro já concedeu 153,66% de repo- sições e antecipações. A Mineração.

M:

Page 17: Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, … · CENTRO DE RASTORAL VERGUEIRO intarna Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, que as

Quinzena Trabalhadores

Morro Velho tem cerca de 7 mil tra- balhadores, dos quais 4.200 operam nos subsolos de 6 minas. A de Nova Liam, a maior delas, tem 3.500 traba- lhadores. A de Raposos tem 1.600. Cuiabá, em Sabará, tem 1.600. Nas duas minas de Bicalho há 600 traba- lhadores e na de Bela Fama, em Bi- calho, 50. A produção diária da mine- radora é de cerca de 25 quilos de ou- ro. (Fonte: Estado de Minas, 16/06)

VITÓRIA NO CABO (PE) A chapa 2, oposição cutista ven-

ceu, no dia 16/06, as eleições para a diretoria do Sindicato dos Trabalhado- res Públicos do Município do Cabo, um populoso distrito industrial da grande Recife. Participaram das elei- ções duas chapas cutistas, sendo que a Chapa 2 (Convergência Socialista) obteve 552 votos e foi a vencedora, a Chapa 3, (Articulação) obteve 451 votos e a Chapa 1 (PCB, PC do B e PMDB) ficou em último lugar com 359 votos. (Convergência Socialista, ne 214)

PROFESSORES AVANÇAM Os professores e funcionários das

escolas de São Paulo continua na li- nha de frente do movimento que para- lisa as redes estaduais de educação de 10 estados. Na terça 13, sua passeata, unificada com os funcionários do ju- diciário (que voltaram ao trabalho no dia seguinte), previdenciários e fun- cionários federais, contou com a par- ticipação de mais de 70 mil trabalha- dores, que fizeram escutar seu pro- testo, durante várias horas, pelo cen- tro da capitai paulista. Há dois meses em greve, eles mostram que a unifica- ção não sõ fortalece cada uma das categorias em luta, como obriga o inimigo a ceder. Quércia já acena com nova contra-proposta.

No mesmo dia, o centro de Porto Alegre foi paralisado também pelos professores. Milhares de profissionais do ensino gaúcho gritaram no ouvido de Simon: "PMDB, em novembro tu vais ver". (Convergência Socialista, n^ 214)

PREVIDENCIÁRIOS Estão em greve, desde o dia 01/06,

os previdenciários do RS, SP, RJ, MG, SC e MS. Os trabalhadores da Previdência Social exigem do Gover- no Federal: Reajuste Salarial de 77,31%, onde já estão incluídos os

30% concedidos pelo Governo no fi- nal do mês de maio; Isonomia salarial com os três poderes da União; Rea- juste mensal de salários; E reversão das punições decorrente da greve rea- lizada no ano passado, quando parali- saram suas atividades por quase 2 me- ses e não foram atendidos em suas exigências. (Fonte: DC, 6/6)

PROFESSORES GANHAM NO TRT (MG)

O Tribunal Regional do Trabalho concedeu aos professores da rede par- ticular de ensino de Minas Gerais um inédito adicional para trabalho extra- classe de 20%, além de uma recompo- sição de perdas de 72,52% nos salá- rios na data-base de fevereiro e mais 4% de produtividade, que somam 115,3%, praticamente o mesmo dos 116% de recomposição das mensali- dades neste ano. O índice foi o mesmo para os ausiliares ae administração e chega a 119,7% no caso dos que têm data-base em março. Os professores fizeram uma greve de 36 dias que ha- via acabado melancolicamente e sem conquistas no dia 4 de maio. Agora o sindicato patronal deve apelar para o Tribunal Superior do Trabalho e a luta continua. (Fonte: Estado de Minas, 3/6)

Curtas

VITORIA NA COSIPA (SP) A Companhia Siderúrgica Paulista

reintegrou no dia 12/06, os últimos metalúrgicos dos 275 anistiados que estavam acampados em frente a sede da empresa, no Largo Paiçandu (SP), a mais de 60 dias. A QUINZENA nos números 70 e 71 publicou uma entre- vista com os membros da Oposição Metalúrgica de Santos que participa- ram deste acampamento. (Fonte: NP, 17/06)

PEIHOLEIROS DA CUT Com a participação de 110 delega-

dos, representantes de aproximada- mente 15 sindicatos e oposições, rea- lizou-se no mês de junho, na Praia Grande (SP), o primeiro Congresso do Departamento Nacional de Petroleiros da CUT. O evento teve como objetivo

preparar a intervenção dos petroleiros cutistas no próximo congresso nacio- nal do setor que se realizará no final de junho em Maceió (AL).

ESTRUTURA SINDICAL PATRONAL EM COLISÃO

O Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo foi fundado oficialmente no final do ano passado, com base no artigo 179 da Constituição. Este dispositivo prevê a concessão de tratamento diferenciado para as micro e pequenas empresas, "caracterizando-as assim como cate- goria econômica". A briga patronal começou quando este sindicato enca- minhou o pedido de filiação para a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP). Dois são os moti- vos principais. O primeiro é de ordem política: A direção atual deste sindi- cato é oposição à atual direção da FIESP. A FIESP usando burocracia sindical, que diga-se de passagem, não é privilégio só da estrutura sindi- cal patronal, vetou a filiação do novo sindicato. O segundo é de concepção sindical: Acontece que o Sindicato de Micros e Pequenas empresas reúne patrões de diferentes segmentos da in- dústria. Para a FIESP cada micro em- presa deve se organizar por sindicato dos seus segmentos. Já os articulado- res do novo Sindicato são contrários a esta posição pois consideram as mi- cros empresas como categoria econô- mica. A briga continua na justiça. Pa- ra os trabalhadores este fato serve pa- ra mostrar os limites da atual estrutura sindical. Infelizmente esta discussão não tem avançado muito no movi- mento sindical dos trabalhadores.

ESTRUTURA SINDICAL NO PARLAMENTO

O deputado Ricardo Izar (PFL/SP) apresentou projeto de lei proibindo a reeleição de dirigentes sindicais por mais de dois mandatos consecutivos. O parlamentar paulista disse que a medida visa acabar com os sindicalis- tas que se tornam "autênticos profis- sionais, perpetuando-se nos cargos, nem sempre à custa de expedientes le- gítimos e idôneos". (Fonte: Jornal da Tarde. 20/06)

FURA GREVE MORRE (MG) Os trabalhadores da Companhia

Agrícola Florestal Santa Bárbara (CAF), subsidiária da Siderúrgica

Page 18: Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, … · CENTRO DE RASTORAL VERGUEIRO intarna Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, que as

Quinzena

Não Saiu No Jornal

CONGRESSO DA CONAM Infelizmente até agora não conse-

guimos obter informações sobre o FV Congresso Nacional das Associações de Moradores (IV CONAM) realizado no mês de Junho no Rio de Janeiro. Estamos procurando e assim que ti- vermos algum documento significativo publicaremos na QUINZENA. Pedi- mos também aos leitores da QUIN-

Belgo Mineira, em greve há 12 dias por melhores condições de trabalho e salários, responsabilizaram a empresa pela morte do vigia Geraldo Gomes Coelho, que, mesmo adoentado, viu- se obrigado a comparecer ao serviço. Ele morreu durante a jornada de tra- balho, na tarde do dia 13/06, vítima de acidente vascular cerebral. A viú- va, com cinco filhos menores, afirma que o marido não tinha condições de trabalhar e mesmo assim o serviço médico determinou que voltasse às atividades normais. No sepultamento houve uma manifestação do movi- mento sindical local com a presença do presidente da CUT do Vale do Aço (MG). Veja maiores detalhes desta pa- ralisação na seção Greves da QUIN- ZENA (Fonte: Hoje em Dia, 16/06)

RESOLUÇÕES DOS ENCONTROS DO PT

O Partido dos Trabalhadores (PT) realizou vários encontros neste se- mestre. Dado a diiicuidades de vários assinantes da QUINZENA em receber as resoluções finais destes encontros e também a impossibilidade de publi- cá-las neste imormativo, por íalta de espaço, colocamos a disposição cópias xegraiaüas destes textos. Os insteres- sados devem escrever para QUINZE- NA-CPV. Os preços são os seguintes: - Resolução do 5- Encontro do PT do Estado de São Paulo, 16 pp, NCz$ 1,00: - Caderno de Resoluções do 4- Encontro Municipal do PT-São Paulo, 19 pp, NCz$ 1,20 mais despesas pos- tais.

Trabalhadores

ZENA, que nos ajudem nesta tarefa. A seguir publicaremos um protesto que nos foi enviado por um leitor da QUINZENA. O protesto é assinado por vários delegados ao IV CONAM, da delegação do Ceará.

Vereador se afunda no charco da imoralidade

Por indébita e revoltante interfe- rência do Vereador Inácio Arruda (PC do B) que passou o tempo todo em conluios suspeitos com membros da mesa diretora e o pessoal de creden- ciamento, tentando a todo custo sa- botar o CONGRESSO NACIONAL DE ASSOCIAÇÕES DE MORADO- RES, desapareceu misteriosamente de uma das mesas da SECRETARIA, a MOÇÃO DE REPÚDIO que a seguir transcrevemos: "CONSIDERANDO que um combate eficaz à U.D.R., à diretoria e os ini- migos do movimento comunitário nunca pode se dar apenas no terreno das palavras de ordens e dos discursos fantasiosos, mas através de entidades vigorosas, combativas e legitimamente representadas onde a democracia in- terna não seja transformada no mais vil instrumento de opressão e domina- ção dos companheiros mais humildes.

A HISTÓRIA DA AGRICULTURA ATRAVÉS DO TEMPO Paulo H.B. de Oliveira Jr. Projeto Tecnologias Alternativas — FASE, 1989, 72 pp, NCz$ 3,30

Estas notas foram escritas para um curso de formação de Monitores Agrícolas do MEP (Movimento de Educação Popular) do Espírito Santo, em maio de 1988. É uma contribuição para o debate, entre agricultores, dos principais sistemas agrários que marcaram a história da agricultura. Foi escolhida uma linha evolutiva que culmina na agricultura hoje praticada majoritariamente no mundo ocidental. A linguagem é de fácil acesso à leitura e o caderno é rico em ilustrações.

as entidades abaixo-assinadas compo- nentes da valorosa bancada do Ceará, vêm solicitar dos companheiros con- gressistas a aprovação de um voto de repúdio a esse tipo de comportamento, bem como o apoio para a formação de uma comissão de diretores da CO- NAM e membros da sociedade civil para que submetam a rigorosa investi- gação toda a documentação que está surgindo em decorrência das denún- cias de irregularidades cometidas por alguns diretores da nossa Federação."

CONGRESSO DOS MOVIMENTOS POPULARES (SP)

A Zona Leste da Cidade de São Paulo é uma região dormitório. Nela moram aproximadamente 3 milhões de paulistanos, na sua grande maioria trabalhadores. É também uma região com tradição de luta. Vários são os Movimentos Populares organizados na região: Movimento dos Sem Terra, Compras Comunitárias, Saúde, Trans- porte, Favelados, Associações de Mo- radores etc. No dia 02/07 estes movi- mentos realizaram um Congresso para discutir a ARTICULAÇÃO E UNI- FICAÇÃO DAS LUTAS DA RE- GIÃO. Nos próximos números da QUINZENA publicaremos as resolu- ções deste evento.

COMO ORGANIZAR UM SEMINÁRIO - Série dicas n2 5 Projeto Tecnologias Alternativas - FASE, 1989, 34 pp, NCz$ 2,30

O Seminário é uma forma privilegiada para se confrontar experiências, coletivizar idéias, avançar em novos conhecimentos. Apesar da prática na participação ou realização de seminários que muitos de nós temos, geralmente nas avaliações aparecem detalhes que foram esquecidos, tensões que poderiam ter sido evitadas se o seminário tivesse sido organizado de forma diferente. Esta cartilha coloca dicas práticas para a realização de seminários. As informações são básicas e não pretendem esgotar o assunto, mas sim, organizar as etapas, sugerir procedimento, enfim, facilitar a vida dos que se propõem a organizar um seminário. Outras cartilhas da série: Como Montar Cartilhas; Como Fotografar; Como organizar um arquivo fotográfico; Como montar áudiovisuaL

Está a disposição texto do IN ESC ' 'Brasil: da crise dos anos 70 ao impasse dos ano 80" Alfredo Antônio Saad Filho. Este texto remonta à época da crise do petróleo de 73 até os dias de hoje.

Page 19: Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, … · CENTRO DE RASTORAL VERGUEIRO intarna Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, que as

Quinzena Jornal da Tarde - 13.06.89

Brasil deixou sair USS 32,1 bilhões para o Exterior

A fuga de capitais do Brasil parado Exterior pode alcançar USS 32,1 bilhões, o que é quase um terço da divida externa brasi- leira. Quem faz a revelação é o Banco Internacional de Pagamen- tos (BIS), em seu relatório anual divulgado ontem na Basiléia, Suí- ça. O BIS, o banco dos bancos centrais das nações industrializa- das, publica pela primeira vez da- dos sobre a fuga de capitais dos 11 principais devedores da América Latina, encabeçados pelo Brasil.

Segundo estimativas do BIS. a saida ilegal de capital des- ses países pode até superar o valor de suas dívidas com os bancos co- merciais. E essa situação parece longe de ser modificada, pois o banco prevê novas "saídas tem- porárias de capital" a partir de dispositivos de redução da divida.

Abandonando sua costu- meira discrição, o BIS não só co- menta a fuga de capital (flight ca- pital ou capital evadé) como pu- blica um quadro para ilustrar a preocupação das nações indus- trializadas com a amplitude do problema. No caso do Brasil, os "erros e omissões" nas suas con- tas externas no período de 1978/87 alcançaram USS 32,1 bi- lhões, ou seja, a diferença entre os USS 103,5 bilhões que entraram para cobrir os USS 71,4 bilhões de déficit.

O BIS presume que o grosso desses USS 32,1 bilhões represen- ta "ativos privados no estrangei- ro". E faz a ressalva de que essa cifra não inclui a fuga de capitais através da subfaturação de expor- tação nem da superfaturação de importações, "práticas freqüentes em certos países" da América La- tina.

Ilegalmente

Durante o encontro de on- tem das principais autoridades bancárias do mundo em Basiléia, a convite do BIS, o corresponden- te da Agêoca Estado, Assis Morei- ra, ouviu de diferentes origens a mesma explicação: de fato, tra- ta-se de capital saído ilegalmente do País, mesmo considerando-se que uma parte representa opera- ções que não apareceram nas con- tas por causa da complexidade dos instrumentos financeiros atuais.

Em reunião do dia 2 de ju- nho em Berna, o Grupo dos Dez (os países mais ricos) informava

que os depósitos no Exterior de todos os países importadores de capital alcançaram USS 500 bi- lhões no final dé 1985, mas so- mente USS 150 bilhões foram re- gistrados nas reservas oficiais. Apenas os ativos no Exterior do setor privado não-bancário dos 15 principais devedores, encabeça- dos pelo Brasil, passou de USS 70 bilhões em 1980 para USS 160 bi- lhões em 1982. Ao final de'1987, eram USS 300 bilhões.

Os países credores, e princi- palmente os bancos, insistem em seus comunicados que "esses re- cursos representam uma fonte po- tencial para os devedores, e o FMI e o Banco Mundial devem trabalhar com esses países para estabelecer programas de refor- mas econômicas que estimulem sua repatriação". O BIS. porém, estima em seu relatório que os "proprietários desses recursos es- tariam tão pouco inclinados a in- vestir em seus países de origem quanto os bancos comerciais e outros credores estrangeiros".

Brasil desconhece

"O governo brasileiro não adotará medidas para estimular a repatriação de capital simples-

mente porque não reconhece sua evasão." Quem afirma é o diretor da Área Externa do Banco Cen- tral, Arnim Lore. O diretor do BC, que acompanhava o presi- dente do banco, Elmo Simões, es- teve na Basiléia, onde acompa- nhou a assembléia anual do BIS.

Na opinião de Arnim Lore, trata-se de "metodologia incorre- ta" do BIS. Ele garante que o Brasil tem "um controle de câm- bio adequado" e estima que "os grandes valores que se evadem do País são pagos aos banqueiros, e estes nós temos dificuldades em pagar, pois chegam só este ano a USS 12 bilhões".

Arnim Lore também acredi- ta que exista subfaturação de ex- portações ou superfaturação de importações. "Os números do co- mércio exterior brasileiro não in- dicam a existência de alterações de preços", diz ele. Perguntado sobre como se explica a existência de USS 32,1 bilhões em "erros e omissões" nas estatísticas oficiais, Arnim Lore diz que se trata de "uma grande quantidade de in- formações e erros mesmo de con- ta", embora admita que "o gover- no brasileiro se preocupa com es- ses números".

Conjuntura - Boletim n^23- 14.06.89 Sindicato dos Trabalhadores Químicos Farmacêuticos SP

NOVA POLÍTICA SALARIAL COM PERSPECTIVAS DE UMA PANÇUDA INFLAÇÃO.

1. Arrocho salarial e crescimento econômico

Segundo o governo e os patrões existe no país uma verdadeira epide- mia de greves e uma corrida alucinante por aumento de salários. Segundo eles, aumento de salários e greves vão aca^ bar levando o Brasil à hiperinflação. É a repetição da história. Na época do Delfim, o arrocho foi uma prática que objetivava o crescimento econômico. A distribuição da riqueza se daria após o crescimento do bolo. Para os governos que se sucederam ao ditador Mediei, a prática foi a mesma embora se dessem diferenciações teóricas. Era a prática de controlar os salários para resolver os problemas da economia e manter sob controle a inflação.

Em 1987, Bresser Pereira e sua equipe do Ministério da Fazenda, con- tinuavam na caça aos responsáveis pela acelerada inflacionária. Todos os argumentos e teorizações visavam im- pedir que os assalariados recompuses-

sem o poder de compra de seus salá- rios da última data-base. Era explicita a necessidade de manter o arrocho para viabilizar a estratégia de manutenção das taxas de inflação baixas com cres- cimento de saldos exportáveis.

A política desastrada do "feijão com arroz" foi na mesma lenga-lenga O discurso deste govemo incompetente e ridículo vai no sentido de pedir aos tra- balhadores que sejam coniventes com o arrocho salarial num momento em que os preços e tarifas são reajustados em períodos de tempo cada vez mais curtos.

Segundo o governo e os patrões, a classe operária, considerada em seu conjunto, gasta e está sendo forçada a gastar sua receita em produtos de pri- meira necessidade. Uma alta geral de salários, como por exemplo, do salário mínimo a NCz$ 120,00, provocaria, por- tanto, um aumento da procura de arti- gos de primeira necessidade e, conse-

Page 20: Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, … · CENTRO DE RASTORAL VERGUEIRO intarna Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, que as

iiiiiiiiil Quinzena Economia

qüentemente, um aumento de seus preços no mercado. Os capitalistas que produzem esses artigos de primeira necessidade compensariam o aumento de salários por meio dos preços dessas mercadorias. Quais seriam, segundo eles, as conseqüências diretas dos aumentos de salários? Haveria alta dos preços, depois da perda dos mercados, e, enfim, a redução da produção. Dar- se-ia o efeito retorno sobre os salários, perdendo seu valor e, a ruína.

Seria tudo isso verdade? Estaria o governo e os patrões corretos em suas avaliações? Não seria bom que os as- salariados e seus sindicatos dessem uma recuada para evitar o efeito - ar- gentina?

2. Salário e inflação Para a teoria marxista, é uma verda-

deira heresia dizer que "os preços das mercadorias são determinados ou re- gulados pelos salários". Salário não é mais que uma denominação do preço do trabalho. E esse preço é valor de troca expresso em dinheiro. Isso quer dizer que "o valor das mercadorias é determinado pelo valor do trabalho".

Porém, os patrões, o governo e seus assessores e economistas apelam para emoção e pedem para que os salários não sejam reajustados e recompostos porque, segundo eles, os salários re- gulam os preços das mercadorias e que, portanto, quando os salários subi- rem, os preços também subirão. Assim, aumento de salário não serve para na- da, visto que subiria os preços das mercadorias. (Para maior entendimen- tos leia pronunciamento de Karl Marx dos dias 20 e 27/junho/1965 as ses- sões do Conselho Geral da Associa- ções Internacional dos Trabalhadores com o título de Salário, Preço e Lucro).

Os capitalistas rejeitam a verdade de que "as mercadorias têm valor por sua cristalização de um trabalho so- cial". O tamanho do valor vai depender da maior ou menor quantidade dessa substância social que ela encerra, isto é, da quantidade relativa do trabalho necessário a sua produção. Em resumo podemos sintetizar que os salários fi- cam na dependência da simples vonta- de do capitalismo ou das proporções de sua avareza.

Os preços estão subindo, há pres- sões inflacionários em várias áreas, mas a responsabilidade não cabe aos salários. Todo discurso governamental é para cobrir sua própria incompetên- cia. A equipe governamental está per- dendo se já não perdeu, controle sobre algumas variáveis fundamentais, e, que poderão levar a hiperinflação. Primeiro, perda do controle dos preços. Há um festival de aumentos - alguns preços subiram numa só tacada mais de 40%. Essa corrida dos preços é uma tremen-

da pressão sobre as taxas inflacioná- rias. É bom observar que muitos des- ses aumentos incidem sobre um "preço agiado". Segundo, a dívida pública está fora de controle e existe uma fuga dos títulos públicos. Ninguém está queren- do comprar os papéis do governo. Ter- ceiro, o problema da dívida externa não é levado a sério e continua colocando para fora do país uma imensidão de re- cursos. Veja que em setembro, o Brasil terá que pagar aos bancos privados de US$ 2 a US$ 3 bilhões. E não há di- nheiro disponível. Quarto, o problema cambial é grave, cresce a dolarização da economia e há evasão de divisas. As multinacionais transferiram para o exterior, de janeiro a maio deste ano, mais de um bilhão de dólares através de remessa de lucros e dividendos; e há outros mecanismos de transferência como o subfaturamento dos produtos exportados e operação catraca (Veja Conjuntura n9 19, ano II, 31/3/89, pág. 3). Quinto, o desajuste fiscal do gover- no faz com que haja um total desequi- líbrio entre receita e despesas. Com is- so a expansão monetária, só no mês de maio foi de 23,4% e chega a 1.000% em 12 meses.

3. Efeito Argentina

Com a hiperinflação argentina, mi- lhares de pessoas estão sobrevivendo graças ao "sopão popular". Por outro lado, dezenas de empresários ficaram ainda mais ricos e poderosos. Patrões e governos, com ou sem crise, não to- mam "sopa popular" e nem precisam de cestas de alimentos,

Estes desajustes econômicos indi- cam um caminho: a hiperinflação ou o efeito Argentina. Mas isso não nos de- ve assustar, pois é a lógica do sistema capitalista As contradições desse sis- tema não são diferentes aqui ou lá; a concorrência, a luta pela independência econômica, a concentração da produ- ção por uma minoria, a proletarização da maioria e a sua expoliação pela mi- noria que detém o capital acontecem tanto na Argentina como aqui. Não há nenhum fenômeno econômico nos paí- ses da América Latina ou no mundo que não apresente esta forma contradi- tória exclusivamente própria do sistema capitalista, isto é, que não traduza a lu- ta e a divergência de interesses, não redundem em mais para uns e menos para outros.

O Brasil pode se considerar feliz pois poderá aprender com os erros da Argentina e evitar o mal maior, Tudo is- to vai depender das elites dominantes e da competência do governo. Portan- to, uma atenção especial deve ser da- da à política salarial.

Custo de vida dos paulistanos

aumenta 16,22% Da Reportagem Local

O custo de vida das famílias com renda mensal entre um e 30 salários mínimos, cm São Paulo aumentou 16,22% cm maio' Famílias com rendimentos entre um e emeo mínimos tiveram um aumento de 14,74%. E entre um e três salários mínimos tiveram uma variação de 14,11%. Os dados foram divulgados ontem pelo Dicese.

O maior aumento foi do item educação com 35,12%. Gasto

Slf^t tÍVeram elevaÇào de 29 64%. Tarifas de transporte

letivos 15,14%, vestuário e alimentação 16,63%

Folha de São > Pauto-13.06. 89

DíVIDA EXTERNA E IGREJAS

- Uma visão Ecumênica Centro Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI) 1989, 267 pp, NCz$ 18,00

Este livro reúne análises econômicas, reflexões bíblico-teológicas e declarações oficiais de igrejas e organizações ecumênicas do Brasil e do exterior sobre a Dívida Externa.

Page 21: Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, … · CENTRO DE RASTORAL VERGUEIRO intarna Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, que as

::iv:::::o:::::-:>:::::::::;::::::::::::::::v

Quinzena

Ainda sobre a questão do programa, publicamos a posição da D.S, e a crítica da Convergência Socialista.

Em Tempo - Junho/89

Um programa contra a barbárie capitalista Um roteiro de propostas para o PT assumir a ofensiva

ideológica e política na luta por reformas urgentes e estruturais na ordem econômica vigente.

O capitalismo no Brasil foi capaz de elevar o pais à condição de nona economia do planeta e

seiima potência industrial do mundo burguês. Há trinta anos atrás, o Pro- duto Interno Bruto girava em torno a 20 bilhões de dólares; em 1988, ele foi de 358 bilhões de dólares.

No entanto, o sistema capitalista no Brasil é igualmente responsável pela criação de uma situação de injustiça e calamidade social das mais odiosas e intoleráveis que existem no mundo:

— de acordo com o IBGE, 1% da população mais rica usufrui datenda equivalente a dos 50% mais pobres da população;

— segundo o próprio governo, mais de 90 milhões de brasileiros vivem em um permanente déficit alimentar e 55% das crianças com menos de cinco anos sofrem de desnutrição;

— 70 em cada mil crianças brasilei- ras, morrem antes de completar um ano; dos quatro milhões de brasileiros que nascem anualmente, 350 mil mor- rem antes de completar cinco anos de idade;

— há hoje no pais sete milhões de chagásicos, 5 milhões de portadores de esquistossomose e cerca de 500 mil le- prosos; doenças endêmicas como a ma- lária, o dengue, a febre amarela vêm crescendo assustadoramente na última década;

— o analfabetismo cresceu nos últi- mos anos e hoje atinge 30 milhões de pessoas; fora as4 milhões de crianças, de 7 a 14 anos, que estão longe dos bancos escolares por falta de vagas, calcula-se que haja mais 4 milhões forçados a abandonar os estudos; me- nos de 20% da população de 15 a 19 anos está matriculado no 2? grau;

— metade da população economica- mente ativa não tem acesso a emprego regular e acesso aos direitos da previ- dência social.

— calcula-se que há hoje no país 10 milhões de famílias sem casa para mo- rar ou morando em condições subhu- manas.

Impasse capitalista

Durante a década de 70, os ideólogos do capitalismo brasileiro defendiam a validade deste sistema apontando o seu dinamismo, a sua capacidade de multi- plicar as riquezas e fazer crescer a eco- nomia.

A década de 80 destruiu este mito. Desde 1945 até o final dos anos 70, a economia brasileira cresceu em média 7% ao ano. Nos últimos oito anos, a taxa média de crescimento anual da economia caiu para 2,39% e deve cair mais ainda até o final da década. Isto significa que a renda per capita está es- tagnada ou em recuo nesta década.

Somos um pais dependente, da peri- feria capitalista, que por definição so- fre de carência de capitais para estimu- lar o seu crescimento. No período entre 1981 e 1989, enviamos ao exterior, principalmente sob a forma de paga- mento de juros da dívida, 123 bilhões de dólares. Apesar disso, chegamos ao final da década carregando o peso bru- tal da maior dívida externa do planeta.

Para pagar os juros da dívida exter- na, o setor dinâmico da economia pas- sou a ser cada vez mais o exportador, alimentado por uma série de subsídios, isenções fiscais e instrumentos de polí- tica econômica. Isto é, em um país on- de a grande massa das pessoas não têm sequer uma alimentação suficiente, a compressão do mercado interno com- bina-se com a ênfase no esforço para exportar cada vez mais. A participação dos salários no PIB que era de 40% na década de 70 (já então reduzida brutal- mente e em conseqüência do arrocho salarial imposto pela ditadura militar) hoje está em torno de 35%.

O Estado assumiu a maior parte do pagamento da divida externa desde o início da década, estimulou o cresci- mento de uma explosiva dívida pública reproduzida continuamente de forma especulativa, reduziu os impostos em favor dos capitais, caminhou para um colapso financeiro estrutural.

Enquanto os investimentos na pro- dução caem, formou-se uma formidá- vel ciranda especulativa — nos títulos públicos, nas ações, no dólar paralelo — em que o grande capital defende e eleva seus lucros. Calcula-se que exis- tem hoje cerca de 70 a 90 bilhões de dó- lares nas mãos dos capitalistas girando

'na'especulação. A política econômica da "Nova Re-

pública" é apenas aparentemente irra- cional do ponto de vista burguês. Ela é simplesmente a forma possível de ges- tão de uma economia capitalista perifé- rica, limitada em sua capacidade de ex- pansão, de forma a preservar a mais al- ta lucratividade dos vários ramos do grande capital.

E o sistema financeiro, completa- mente desvirtuado de qualquer função de canalizar de recursos para a produ- ção, aumenta escandalosamente o seu patrimônio. Hoje, receitas operacio- nais dos bancos eqüivalem a cerca de 25% do PIB contra 10% na década de 70.

Administrar a crise?

A barbárie não é um subproduto descartável do capitalismo brasileiro. É a sua própria forma de ser: não teria havido tal expansão capitalista aqui sem a produção dos super-lucros, con- seguido apenas à custa do aviltamento brutal do preço da força de trabalho e do completo aprisionamento da má- quina estatal à lógica da acumulação.

O dinamismo tardio da economia brasileira no pós 64, no momento em que o capitalismo internacional mergu- lhava na onda longa depressiva em que se encontra até hoje, só pode ser expli- cado porque aqui foram criadas opor- tunidades extraordinárias para a valo- rização do capital.

O impasse atual está intimamente li- gado aos movimentos mais profundos do capital a nível internacional. Não é por acaso que a crise atinge de maneira tão brutal toda a periferia capitalista. O movimento do capital na década de 80 foi da periferia para o centro através do mecanismo da dívida externa. Acu- mulou-se nestes últimos anos uma no- tável defasagem tecnológica entre o centro e a periferia. A dinâmica capita- lista no final do milênio reproduz de forma brutal a dependência financeira d tecnotógioa,da periferia ao centro.

Page 22: Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, … · CENTRO DE RASTORAL VERGUEIRO intarna Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, que as

Quinzena gííííííííiíiíí:

Política Nacional

Por isso. é ideologicamente funesta, politicamente inconseqüente e tecnica- mente inviável qualquer pretensão de administrar a crise nos marcos da or- dem capitalista atuai, mesmo que esta pretensão venha acompanhada de pre- tensas promessas de eficiência na ges- tão do Estado, de sonhos distributivis- tas, de correção das "distorções" do capitalismo brasileiro.

Um novo modelo econômico

O governo democrático e popular deve afirmar claramente que contra a barbárie capitalista vai implantar um novo modelo econômico voltado para o atendimento das necessidades da maioria da população.

Em primeiro lugar, a economia bra- sileira deve romper a corrente da dívida externa que a mantém atrelada ao di- namismo da economia capitalista inter- nacional em crise.

Em segundo lugar, todos os instru- mentos de intervenção econômica do Estado — a política salarial, os finan- ciamentos e subsídios, a política fiscal devem estar voltados para garantir uma profunda distribuição da renda. Contra os interesses corporativos dos "lobbies" empresariais e a corrupção, oporemos a administração democráti- ca, transparente e eficiente do ponto de vista da maioria da população.

Em terceiro lugar, para garantir que os investimentos ocorram e sejam ca- nalizados para as atividades socialmen-

te prioritárias, o sistema financeiro em seu conjunto deve ser progressivamen- te estatizado e colocado sob controle social.

Em quarto lugar, a estrutura indus- trial e agrária deve ser profundamente reformada no sentido da produção em massa de bens de consumo popular (alimentos, vestuário, produtos indus- triais de uso doméstico etc) e de priori- dade social (habitação, transporte cole- tivo).

Em quinto lugar, o Estado, deve re- cuperar e ampliar a sua capacidade de investimentos sociais, de tal modo a ser capaz de oferecer educação, saúde e di- reitos previdenciários dignos para to-

Convergência Socialista - 01.06.89

DS apoia Programa Reformista Ao aprovarem os treze pontos da Frente Brasil Popular, defendidos pela Articulação com o apoio de várias correntes que se afirmam de esquerda, as convenções estaduais do PT se definiram por um programa de reformas do capitalismo. Da parte da Articulação, trata-se de uma capitulação clara aos demais partidos da coligação, o PC do B, o PV e o burguês PSB, além de uma adaptação ao estado capitalista. Da parte daquelas correntes que renunciaram a muitas das posições à esquerda que antes defendiam, trata-se da adaptação tanto à Articulação quanto à Frente. Uma delas, entretanto, se sobressai, pelo fato de, num quadro nacional de capitulação à Articulação, ter mantido uma posição coerente num único Estado, o Rio Grande do Sul. Nos referimos à Democracia Socialista. Os militantes dessa corrente têm todo direito de se perguntarem aeora- quem está certa, a DS gaúcha ou a DS do resto do país?

Para responder a essa pergunta, os militantes da DS têm que saber o queè o programa de treze pontos e o que, o diferencia do programa classista e socialista defendido nas convenções pela CS e outras correntes de esquema. E. no Sul, também pela DS.

De inicio, o programa da Frente se recusa a assumir duas reivindicações econômicas básicas dos trabalhadores: o salário mínimo de acordo com os ín- dices do D1EESE e reajustes mensais de salários de acordo com a inflação real. Ele se limita a defender "ele- vações graduais" no mínimo, como se este nao fosse o mais baixo, o mais arrochado de toda a nossa história. Ao se alinhar com a Articulação na defesa desse programa nas convenções, a DS deu as costas a duas das principais bandeiras da CUT e das campanhas e greves de nossa classe.

Enquanto o programa socialista afirma que o governo dos trabalha- dores se dispõe a implementar um plano amilatifundiário, implantando a reforma agrária radica^ sob controle dos trabalhadores e respondendo aos anseios e às lutas de 12 milhões de sem- terras, o quano dos treze pontos propõe respeitar a Constituição, que proíbe a reforma agrária nas terras produtivas. Diz que o governo da Frente irá "se empenhar para que se revejam os dis- positivos legais que determinam tal proibição". Enquanto isso, limitaria a reforma ás terras improdutivas, isso quando qualquer latifundiário, co-

locando dois bois nas suas proprie- dades, pode provar sua "produtivi- dade". Nem uma palavra sobre o com- promisso de mobilizar os trabalha- dores do campo pela reforma, contra os latifundiários e a UDR.

Eos bancos?

Outro absurdo do programa refor- mista da Frente — e outra absurda capitulação da DS do resto do país — è o abandono da bandeira de estatízação do sistema financeiro, substituindo-a por um vago "controle sobre o sistema através dos mecanismos legais já dis- poníveis no Banco Central, recorrendo a variadas formas de intervenção e até a estatízação de bancos, se neces- sário". E, sem tirar nem pôr, o que vem dizendo Brizola, preocupado em acalmar os Amador Aguiar e Olavo Setúbal.

Assim como não toca na estatízação dos bancos, nem na estatízação dos monopólios nacionais e imperialistas, o programa dos treze pontos silencia também sobre a estatízação dos trans- portes. Silencia soBre òs. conselhos populares sem entidades patronais como forma de garantir a participação democrática dos trabalhadores nas decisões do governo. Não diz, numa única linha, que o objetivo maior do governo dos trabalhadores é a cons- trução de um Brasil socialista, de uma sociedade sem exploradores e sem ex- plorados.

Reconhecer Israel? Coerentemente com seu caráter

reformista, este programa afirma que conduzirá uma política externa ba- seada na "birSca da cooperação com outras nações" e não no apoio à luta dos trabalhadores de todo o mundo contra o imperialismo. Reconhece o direito à existência de Israel, um estado artificial, criado com o único objetivo de ser o agente armado do imperialis- mo americano contra a revolução árabe. A DS sempre defendeu conosco a luta dos palestinos pela criação de seu estado e nunca reconheceu o estado ar- tificial de Israel. Como explica esse súbito giro à direita de 180 graus?

No entanto, nada deixa mais claro a capitulação da DS nas convenções do Rio, Minas, Belém, do que a con- tradição com seus companheiros do Rio Grande do Sul, que formaram uma chapa de esquerda com a CS, em defesa de um programa claramente socialista. Ali, o único; senão — a posição inicial do companheiro Raul Pont em defesa da supressão do sa- lário mínimo do DIESE — foi rever- tido pela determinação dos militantes de base desta corrente em não abrir mão desta reivindicação da CUT e das greves.

Esperamos que os companheiros da DS do resto do país sigam o exemplo da DS gaúcha e que estejamos juntos no Encontro .Nacional defendendo posições comuns, um programa clas- sista que faça avançar a luta dos trabalhadores brasileiros contra o capitalismo e o imperialismo, pelo socialismo.

Page 23: Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, … · CENTRO DE RASTORAL VERGUEIRO intarna Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, que as

Quinzena Política Nacional Texto extraído do livro "Teoria e Política" rf 11 - 1989 - Editora Parma Lida.

A questão democrática e os Conselhos Marcos Rolim

(...)

Os Conselhos na Revolução

Se exarminarmos alguns dos princi- pais movimentos políticos revolucioná- rios da modernidade veremos que a ex- plosão de energia das massas populares tendeu, invariavelmente, a buscar cami- nhos de auto-organização que se coloca- ram, de formas variadas, a questão do poder. Foi assim com a Revolução fran- cesa a partir da autonomia das famosas 48 seções parisienses e em 1870 quando a capital francesa, sitiada pelo exército prussiano, promoveu uma forma de go- verno federativo. A Revolução de 1905 na Rússia tzarista, cuja dinâmica expon- tânea surpreendeu os bolcheviques, trou- xe a experiência dos soviets o que se re- petiria em 1917 com força redobrada. Foi assim, também, em 1918-1919 na Alemanha até a formação da República Bávara e, novamente, em 1956 na Re- volução húngara.

Fato notável é que todas as experiên- cias conselhistas destes processos revo- lucionários verificam-se por sobre a rea- lidade dos partidos políticos e fundaram instâncias de participação política não sectárias no sentido de não-vinculadas a nenhuma facção ou posição político- ideológica determinada. Mais interes- sante ainda: a experiência dos conselhos revelou uma tendência à formação de um sistema que aglutinasse racionalmente o conjunto de assembléias formando, sem- pre, conselhos regionais no âmbito dos quais era possível pensar a organização nacional conselhista.

Via de regra, os partidos revolucioná- rios demonstraram uma imensa incapaci- dade de perceber que a experiência dos conselhos apontavam para um novo tipo de Poder e por decorrência, para uma maneira diversa de se conceber a própria organização estatal.

Em 1917, Lênin lançou a palavra de ordem "Todo Poder aos Soviets", orientação política geral que teria uma importância decisiva no curso da Revo- lução. Ao que tudo indica, Lênin tinha consciência do significado de uma "Re- pública Soviética" e, mesmo, da novida- de histórica deste modelo de República. Esta constatação, entretanto, não é sufi- ciente para examinar as relações entre os bolcheviques e os soviets que, em geral, foram marcadas por uma contradição só "resolvida" com a própria eliminação dos Conselhos. Desde então, o nome "República Soviética" passou a expres- sar tão-somente um embuste.

Referindo-se a esta contradição, Hannah Arendt afirma: "Os conselhos eram órgãos tanto de ordenamento quanto de ação e foi, na realidade, sua aspiração de estabelecer uma nova ordem que os colocou em conflito com os gru- pos de revolucionários profissionais que pretendiam reduzi-los a simples executo- res da atividade revolucionária. E bem

verdade que os membros dos Conselhos não se contentavam em travar e mante- rem-se "esclarecidos" a respeito das me- didas tomadas por partidos e Assem- bléias, eles conscientes e explicitamente, almejavam a participação direta de todos os cidadãos nos assuntos públicos do país... aqueles que testemunharam o seu funcionamento geralmente concordavam em considerar que a Revolução havia dado origem a uma renovação direta da democracia, inferindo-se, a partir daí, que esta regeneração estava, infelizmen- te, fadada ao fracasso, já que, obvia- mente, a condução direta dos negócios públicos pelo povo era impossível nas condições do mundo moderno. Eles en- caravam os Conselhos como se fossem um sonho romântico, algum tipo de uto- pia fantástica que se tomara real por um breve instante... Esses realistas busca- vam sua base de argumentação no siste- ma partidário, interpretando como um fato natural a não-existência de qualquer outra forma alternativa de governo repre- sentativo..."

Falando à Assembléia Nacional em setembro de 1791, Robespierre sustenta- va que a intensa participação política dos cidadãos nas seções parisienses e nas so- ciedades revolucionárias constituía o fundamento da Revolução e expressava a "conquista e a conservação da liberda- de". Entre os crimes da Revolução, o "maior era perseguir as sociedades". Entretanto, a partir do momento em que Robespierre controla, de fato, o Poder político, no verão de 1793, volta-se con- tra as "sociedades" sustentanto o princí- pio de que a Revolução deveria expres- sar os interesses da "grande sociedade de todo o Povo Francês". Mais uma vez, a noção abstrata de um princípio político serve para sufocar os espaço reais onde a democracia poderia, realmente, ser exer- cida. Os perigos de uma "sociedade ex- pressiva em excesso", colocavam-se, então, com força suficiente para que o radical Saint-Just, em contradição com toda sua trajetória, afirmasse: "A liber- dade do povo é sua vida particular, não o pertubem. Deixem que o governo seja uma força apenas para proteger este es- tado de simplicidade contra a própria força."

Tivesse os jacobinos a intuição de Tomas Jefferson e os rumos da Revolu- ção seriam outros. Jefferson identificava como um perigo mortal para a República o fato de que a constituição americana havia concedido todo o Poder aos cida- dãos sem, contudo, permitir que a cida- dania fosse exercida realmente. Na opi- nião deste pensador liberal, o sistema político abstrato da democracia redunda- ria em uma farsa caso não tivesse sus- tentado em órgãos concretos de partici- pação ativa dos cidadãos. Ele temia o 'despotismo eletivo" que poderia até ser pior do que a tirania contra a qual ha-r

viam se insurgido. "Se algum dia o nos- so povo se descuidar das coisas públicas, os senhores e eu, o congresso e as as-

sembléias, os juizes e os governadores, nos transformaremos todos em lobos". Mal sabia o "fundador" que sua frase, mais que um simples temor, teria mesmo um sentido profético. Em um paralelo com outra situação histórica, a frase não deixa de evocar a lembrança das adver- tências feitas por Rosa Luxemburgo à Revolução de Outubro. "O idealismo re- volucionário... só pode manter-se por um período de tempo indefinido por meio de intensa vida ativa das próprias massas em condições de liberdade política sem limites." (A Revolução Russa).

A Revolução nos Conselhos

O desafio atual da construção dos Conselhos populares deve levar em con- sideração os pressupostos alinhados ra- pidamente neste texto.

Trata-se, em primeiro lugar, de, com- preendendo o caráter do Estado capita- lista moderno e as formas específicas de dominação burguesa, abandonar uma es- tratégia simplificadora voltada para a "tomada" do Poder; ou seja, para a "guerra de movimento" e o "assalto aos céus". A estratégia necessária, centrada na luta pela hegemonia, deve incorporar a noção de guerra de posição (Gramsci) e a necessidade de construção de um Poder revolucionário, para a duabilidade e a ruptura global.

Em um segundo momento, considero importante perceber que um dos pontos característicos da democracia real é o fato de estruturar um sistema político contrário à cidadania; ou seja, avesso à participação popular nos assuntos de natureza pública. Particularmente no Brasil, onde temos uma formação eco- nômico e social que afirma um tipo de hegemonia burguesa passiva, onde a dominação se processa a partir de uma adesão inorgânica das massas às noções e valores dominantes, a garantia de um processo de crescente envolvimento dos trabalhadores na esfera pública tem um sentido anti-capitalista até agora menos- prezado.

Em terceiro lugar, considero que a presença do PT e das forças de esquerda no sistema de representação parlamentar, nos aparatos estatais (inclusive as pre- feituras) e nas disputas eleitorais deve se orientar, fundamentalmente, para a orga- nização popular, para a sua conscientiza- ção político-ideológica e voltada ao ob- jetivo permanente de estimular a partici- pação de largos setores de massa na luta política.

Por último, esta visão — já incorporada à cultura do Partido — não pode ser redu- zida aos desafios de construção do PT ou ao envolvimento esporádico em campa- nhas e lutas pontuais. O desafio é muito maior. Vincula-se, evidentemente, ao princípio e ao fim de uma práxis revolu- cionária que não deriva de interesses determinados, mas de opiniões, valores; dito de outra forma: que não se estrutura

Page 24: Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, … · CENTRO DE RASTORAL VERGUEIRO intarna Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, que as

Quinzena PoUtica Nacional

a partir de uma determinação histórica, mas sim a partir da afirmação da liber- dade, entendida como processo de alar- gamento do campo da práxis.

Com esta visão, a idéia dos Conselhos populares só pode ser entendida como a materialização de uma nova esfera públi- ca de exercícios da cidadania, a ser in- ventada.

Como não vivenciamos uma situação revolucionária no Brasil, seria pura de- monstração de passividade política as- sumir a idéia de que as organizações de tipo Conselhos populares pudessem sur- gir espontaneamente ou por força dos movimentos sociais já existentes, tanto quanto seria ilusório imaginar que os Conselhos a serem formados se coloca- riam, naturalmente, a questão do Poder, mesmo em nível municipal. Não se trata, portanto, de se esboçar aqui um paralelo com os soviets. Entretanto, se estes não são os conselhos da revolução, não é verdade que a revolução não possa estar também em sua organização. Uma ava- liação do atual estágio da luta revolucio- nária no Brasil exigirá dimensionar de outra forma o papel dos Conselhos po- pulares. Pelo menos de início, eles não serão mais do que instâncias de partici- pação popular junto às administrações municipais. Compete, isto sim, às admi- nistrações populares, o esforço de esti- mular sua autonomia frente às próprias diretrizes emanadas do governo, o que pressupõe o estabelecimento de uma margem real — ainda que a princípio li- mitada — para a tomada de decisões vin- culatórias por parte dos Conselhos.

Sendo os Conselhos esferas públicas voltadas à promoção da cidadania é deci- sivo que a participação no seu interior seja universal e direta a partir de um critério geográfico. Este caráter afasta a idéia de conselhos temáticos, ou con- selhos com representantes de entidades. As Administrações Populares poderão lançar mão destas outras instâncias para suprir outras necessidades, mas isso não deve ser confundido com a proposta de conselhos populares sob pena de afir- marmos o corporativismo (inclinação das instâncias organizadas por assunto de interesse) ou negarmos a idéia de organi- zações de massa.

Tenho, particularmente, a convicção de que cabe às Administrações Populares a tarefa de propor e organizar os Con- selhos. Esta gênese em nada compromete a autonomia dos Conselhos e é a única possibilidade de seu efetivo funciona- mento enquanto sistema que integra de- zenas ou centenas de Conselhos regio- nais com um conselho municipal integra- do por dezenas ou centenas de delega- dos. Devemos lembrar da experiência das seções parisienses originalmente formadas "de cima" para atender aos objetivos de uma eleição à Assembléia Nacional e que se transformaram, por sua iniciativa própria, em organismos municipais de onde surgiu o Conselho Municipal da Comuna de Paris.

A idéia dos Conselhos como órgãos de participação direta, estruturados com base na revogabiliade de mandatos e de forma proporcional ao número de pes- soas presentes às assembléias, exige

a divisão dos centros urbanos em distri- tos, tantos quantos sejam necessários pa- ra a viabilização de assembléias gerais de moradores; em toda a cidade e não apenas nos bairros proletários. Voltamos, mais uma vez, às propostas de Jefferson de constituição de milhares de "Repúbli- cas elementares", objetivo sintetizado por Hannah Arendt da seguinte forma: "O pressuposto básico do sistema distri- tal, tivesse ou não Jefferson consciência disso, era de que ninguém podia ser chamado feliz se não partilhasse da feli- cidade pública; que ninguém podia ser chamado livre, se não tivesse experi- mentado a liberdade pública e que nin- guém podia ser chamado livre ou feliz sem participar, e ter uma parte do Poder público".

A inexistência desta compreensão conduz as experiências administrativas do PT ao risco de uma disputa desigual com as classes dominantes (mais desi-

gual do que já seria em condições nor- mais). Ao invés de se partir com toda a força para a organização popular, via Conselhos — espaço onde, inclusive, de- veria se dar a disputa pela hegemonia entre as diversas correntes sobre o con- junto da administração — criando, tam- bém, uma nova forma de legitimar as de- cisões do governo, parte-se para a dis- puta da opinião pública. O resultado é uma postura defensiva do ponto de vista político e o aumento das chances de uma derrota global. Mais grave: em condições de cerco político sob as mais sérias difi- culdades, a inexistência de um tipo de organização de massa capaz, inclusive, de defender a Administração, pode en- caminhar toda a experiência para a ca- pitulação frente aos valores dominantes, senão por outra razão, pelo instinto de sobrevivência político. Esta sobrevivên- cia, é claro, não nos interessa.

Santa Maria, abril de 1989

AGEN-18.05.89

NEWTON CARLOS

GOLPISNIO GUATEMALTECO

Rio de Janeiro (AGEN) - Desde que assumiu o governo em 86, o presidente VinCcio Cerezo, da Guatemala, sofreu várias tentativas de golpe. Algumas ex- plícitas, como as de maio do ano pas- sado e a de 9 de maio deste ano. Ou- tras abafadas antes que chegassem ao conhecimento da opinião pública e só conhecidas na intimidade de gabinetes que vivem em cima de alta tensão.

Se o presidente guatemalteco ainda não caiu, não é porque esteja política e militarmenXe forte. Ou porque os militares da Guatemala tenham hoje consciência constitucional. A "demo- cracia" foi restabelecida. Mas o país continuou sendo recordista em matança política.

Operações - No primeiro ano do mandato de Cerezo, foram assassina- dos 400. E a matança continuou. Com "democracia" e tudo. Nos últimos 10 anos os mortos e "desaparecidos" ul- trapassaram os 50 mil. O total deve ir a 100 mil. A Guatemala é um horror desde 54, quando um golpe financiado

Internacional

pela CIA (serviço secreto norte-ameri- cano) derrubou um dos raros governos constitucionais da Guatemala, o de Ja- cob Arbenz.

A partir daí, sucederàm-se regimes militares e operações de "pacifi- cação". Breve interrupção em 66, quando foi eleito um presidente que se limitou a tocar o expediente, enquanto os quartéis faziam o que bem enten- diam. Cerezo é mais ou menos a mes- ma coisa. É mantido no cargo por mili- tares que acham melhor ter um presi- dente decorativo e, com isso, ter boa imagem e, sobretudo, ajuda dos Esta- dos Unidos. Em função disso, foi ' 'or- denada", segundo disse um militar a um jornalista, a realização das eleições em 66.

Pedido - O presidente Bush, dos Es- tados Unidos, já pediu que o Congres- so libere uma ajuda militar de 9 mi- lhões de dólares para a Guatemala. Há resistências parlamentares, mas Bush usa o argumento de que é preciso forta- lecer militares "democratas" em con- fronto com a linha dura. A nova tenta- tiva de golpe põe o carimbo de urgên- cia no pecado.

RAUL SENDIC: A MORTE DO REVOLUCIONÁRIO URUGUAIO

Paris (AGEN-IPS) - O dirigente histórico co do Movimento de Libertação Nacional (MLN-Tupamaros) do Uruguai, Raul Sendic, morreu em Paris, na madrugada de 28 de abril último, depois de uma crise cardíaca, na clinica em que se tratava. Sendic sofria da "doença de Charcot" que afeta o sistema nervoso. Até o último momento de sua vida, ele manifestou o desejo de voltar ao Uruguai. Apesar de seu estado, Sendic nunca perdeu a lucidez.

Membro do MLN - que ajudou a fundar nos anos 60 — Sendic ficou preso durante 13 anos, depois de sua captura pelas forças re-

pressivas, em Montevidéu, durante a oitadura militar que governou o Uruguai entre 1973 e 1985. Várias vezes foi ameaçado de exe- cução, caso o MLN, desarticulado em 1972, recomi-çasse suas atividades. Os organismos internacionais de direitos humanos denuncia- ram várias vezes as condições desumanas em que foi obrigado a viver no cárcere.

Liberado em 1985, depois da anistia vo- tada pelo Congresso uruguaio, Sendic viajou para a França, Suécia e Cuba para se tratar das seqüelas das torturas que sofreu. Os tu- pamaros uruguaios incorporaram-se à luta política legal do seu país e, recentemente, pe- diram filiação à Frente Ampla.

Page 25: Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, … · CENTRO DE RASTORAL VERGUEIRO intarna Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, que as

NAMfeiA: A VOLTA DA ESPERANÇA Por Walter Farah

Pelo menos cinco mil soldados cubanos voltaram para a sua tenra depois de cumprir tarefas em Angola. São os primeiros dos quase 30 mil que até julho de 1991 terão saído do pak, cumprindo o acordo que permitirá a plena e esperada independência da Namíbia.

A incapacidade sul-africana de vencer militarmente o povo angolano, o aumento do descontentamento interno na África do Sul e a dada vez maior oposição do próprio povo naníbio (encabeçado pela SWAPO), foram os fato- res que possibilitaram o acordo final de 13 de dezembro do ano passado.

As últimas notícias sobre confrontos armados naquele país obedecem ao tratamento dado ao compromisso as- sinado por Angola, Cuba e África do Sul (com a observa- ção dos EUA e a URSS). O deslocamento da força das Nações Unidas para os territórios abandonados pelo exército do regime racista, foi lento em seus desdobra- mentos. Um acordo de última hora, realizado em 8 de abril, pelo qual as forças da SWAPO foram concentradas em Angola, permitirá que o processo de descolonização continue no caminho iniciado.

Massacres A Namíbia foi um território alemão até 1914, ano em

que foi ocupado pelo regime separatista da África do Sul. A partir de então, o colonialismo se vestiu de racismo e a população passou a viver as piores brutalidades diaria- mente. A ONU sempre considerou ilegítima essa ocupa- ção e, em 1978, o Conselho de Segurança aprovou a re- solução n9 435, que é a base da solução conseguida hoje.

Durante todos esses anos, a SWAPO tem dado o melhor de si para conseguir a independência de seu po- vo. Seu velho líder, Sam Nujoma, conseguiu o apoio mundial para a sua causa e, no contexto de uma tarefa

internacionalista, o sonho está ao alcance de suas mãos. A África do Sul, que em dezembro da 1978 e março

de 1985 havia reconhecido a independência da Namíbia, não cumpriu suas próprias palavras. No entanto, pelos milhares de assassinatos do povo namíbio, vítimas do apartheid, pelos combatentes caídos em combate, por todos eles, o mundo socialista, com Cuba e Angola na frente, estarão garantindo o cumprimento final deste acordo: a independência deste país africano.

(revista Aportes, maio 1989, Costa Rica)

O interessante senhor Wu-Ii ROBERTO GODOY

O lanceiro da Infantaria Wu-Li ja- mais usou uma lança. Suas armas pes-

ãas, no exército do primeiro presidente constitucional da China, Sun Yatsen, eram outras: um ftizil japonês fabricado em 1894 e o cérebro - Wu atuou quase sempre como um homem de informações. Para ele, que vive no Brasil desde 1968, a luta interna em seu país "é resultado direto da cisão política provocada pelo expurgo dos maofstas ortodoxos Yao Weyan, Wang Hogwen, Zang Chungqiao e Jiang Qing (mulher de Mao Tsetung) em 1977". Na opinião do ex-oficial "es- se racha jamais foi superado e abriu es- paço para o desenvolvimento de duas correntes: a dos progressistas, reunidos no poder em tomo de Deng Xiaoping, e a dos conservadores, rancorosos, conspi- rando nas províncias do norte sob a pro- teção do primeiro-ministro Li Peng e da família Yang" (o atual presidente ; pelo menos dois generais comandantes <h im-

portantes divisões blindadas pertencem a esse clã).

Wu-Li mora em São Paulo e mantém restaurantes típicos também em Ribeirão Preto, Curitiba, Foz de Iguaçu e em As- sunção, capital do Paraguai, Wu-Li é "nome de origem" mas não é o que consta dos documentos: neles, o antigo militar aparece como Soong Li.

No Brasil, com a Tríade

Um tipo incomum de chinês — alto, musculoso, enganosamente simples, de idade indefinida, embora próxima dos 70 anos: "Wu" ou "Soong" era apenas um adolescente quando foi recrutado por um dos senhores da guerra serviço de Sun Yatsen, pm meados da década de 30. "Tinha boa caligrafia, falava além do mandarim também o tonquinês e o man- cha", lembra. Designado para o corpo de lanceiros, uma espécie de guarda pessoal do general, serviu de mensageiro para o Serviço de Informações "que era, afinal,

o que ganhava as batalhas antes delas se- rem travadas". Em 1944, sob o comando de Chiang Kai-Shek, acaba desertando, declaradamente "sob o encantamento de um jovem líder e notável poeta, Mao Tsé-tung, que promeüa pela primeira vez com objetividade, elevação da qualidade de vida do povo comum". Wu-Li salien- ta: "É preciso ter vivido o período para compreender o significado daquela re- volução - era como ser um porco no chi- queiro à noite e acordar na manhã se- guinte sobre um colchão de seda".

O fascínio durou pouco mais de duas décadas. No começo de 1967, um dos .irmãos de Wu-Soong foi preso e levado para uma colônia agrícola distante de sua vila, sob acusação de revisionismo polf- tico-doutrinário. Na verdade, o comissá- rio local do Partido Comunista queria ocupar sua vaga de professor na escola secundária. "Esse era o milésimo caso do mesmo tipo", recordo o ex-oficial, "era hora de ir embora". Os parentes

Page 26: Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, … · CENTRO DE RASTORAL VERGUEIRO intarna Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, que as

M

Quinzena Internacional

reuniram aproximadamente 2,5 quilos de ouro para custear a fuga. Primeiro parti- ram a mulher e os três filhos, todo meno- res. Em Taiwan (Formosa) Wu poderia ter obtido US$ 15 mil em troca de um relatório com informações de caráter mi- litar. Preferiu não correr o risco, com- prou um passaporte falso e tomou "a de- cisão de sua vida": entrou em contato com a organização 'triade 14 K' uma so- ciedade secreta chinesa, fireqüentemente confundida com a máfia amarela do con- trabando, tráfico de drogas, e de explo- ração de prostituição internacional.

Os detalhes da operação Wu-Li não pode contar, preso a um juramento do qual guarda uma lembrança indelével - uma pequena tatuagem -, um ideograma gravado sob a axila esquerda. "O fato 6 que em 1968 estava toda a família reuni- da em São Paulo, depois de uma breve escala no Paraguai. E ainda levando um quilo de ouro para iniciar a nova vida", resume. Para a Fraternidade que o apoiou, o compromisso da "fidelidade até a terceira geração", ou a morte.

Democracia socialista

O experimentado ofical de Inteligên- cia jamais perdeu seus contatos no país. Acompanhou o declÉnio da revolução cultural ("previsível") e supreendeu-se entusiasmado, mais uma vez, com a abertura econômica iniciada por Deng Xiaoping e ampliada pelo grupo de Zhao Ziyang. Sua conclusão entretanto é pragmática - "não há alternativas segu- ras no capitalismo democrático para os problemas sociais de uma população de 1 bilhão e 200 milhões de pessoas. A solu- ção é a construção de uma democracia socialista".

Wu-Li acha que a sua história pessoal é um bom exemplo das características da própria China. Filho de agricultores, sol- dado, espião, guerrilheiro comunista, treinado para lutar com uma lança mas equipado com uma arma de fogo, agente da Milícia Política, desertor, agregado a uma sociedade secreta medieval, refu- giado, comerciante de sucesso em um país jovem e capitalista, oficialmente ateu, porém devoto do culto Xintofsta aos antepassados - "toda essa situação de conflitos é tipicamente chinesa. Não é possível liberalizar totalmente o regime quando se está tratando com 21% de to- das as pessoas do mundo. O descontrole seria inevitável. Em pouco tempo esta- ríamos amarrando novamente os pés das meninas para mentê-Ios pequenos e deli- cados como lírios imperiais". O centra- lismo e o comunismo não são, todavia, as bases do modelo pretendido pela clas- se média urbana, de acordo com Wu. "A experiência está esgotada. E a transição satisfatória aponta para uma presença do Estado nas atividades essenciais e estra- tégicas, como saúde, energia, ensino — com a crescente participação de empresá- rios independentes na economia de mer- cado."

O interessante Sr. Wu é um homem escorregadio. Não se deixa fotografar.

Seu excelente português, complementado esporadicamente com auxílio da filha mais nova, nascida em São Paulo, torna- se instantaneamente péssimo, diante de um terceiro interlocutor, ou a simples aproximação de qualquer pessoa. Espe- cialista em acupuntura e Do-In ("um em

cada 70 soldados recebia treinamento pa- ra atender as emergências da campa- nha") lamenta o tempo todo a visão per- dida no lado esquerdo. Tira os óculos escuros. E, decididamente, aquele olho não está cego. O Ray-Ban de Aro de ou- ro volta rápido para o lugar.

A China de Mao na pior MAURÍCIO TRAGTENBERG*

A construção da atual máquina buro- crática do estado chinês começou com a proclamação da República, com a revo- lução de 1911 que elevou ao poder um liberal Sum Yat Tsen, autor do livro Os Três Princípios do Povo. Com ele subia ao poder o partido nacionalista chemado Kuonintang. Em 1.927 o PC chinês rom- pe com este partido e sua rebelião é re- primida pelo Estado. É quando o PC chinês se interna no campo e começa a grande marcha. Em 1.929, o líder Wam Min é expulso acusado de trotskista. A invasão japonesa na segunda guerra leva à nova união desses dois partidos. Em 1.949, as tropas de Mao vindas do campo assumem o poder na cidade e se instaura a ditadura do PC. Durante o pe- ríodo maiofsta, muitos trabalhadores que- riam praticar a auto gestão nas empresas e foram sendo presos por isso. A revolu- ção cultural nada mais foi que uma ma- nobra da burocracia de Mao para conter insatisfações populares. O Estado chinês.

após 1.949, conservou certa autonomia ante Stalin, porém, internamente, a es- trutura do Estado do PC chinês continua- ram profundamente stalinista. Os sindi- catos e as uniões estudantis continuaram atreladas ao partido e ao Estado. As gre- ves de trabalhadores eram proibidas e os grevjstas fortemente punidos. Paralela- mente, o Estado chinês construiu uma grande máquina de guerra onde o Exér- cito se tomou um dos elementos ciiaves do poder. Toda vez que após uma revo- lução, tenha ela o nome que tiver, se cria uma máquina militar hierárquica, buro- crática, e que tenha o monopólio das ar- mas ante a classe trabalhadora, esta ten- de a ser escravizada por quem detém as armas. Esse é o sentido do que ocorreu na praça da Paz Celestial onde o poder militar esmagou milhares de pessoas. Tudo isso foi feito "em nome do povo". A repressão chinesa constitui uma lição para a esquerda mundial de como a construção de um estado "socialista" significou a morte da Revolução.

*E professor da Unicamp

INSALUBRIDADE - MORTE LENTA NO TRABALHO Organização e Pesquisa do DIESAT Oboré Editorial, SP, 1989, 223 pp, NCz$ 15,00

A discussão sobre insalubridade mal começou no Brasil. O pro- blema é antigo e vitima milhões de trabalhadores a cada ano, sem que haja estatísticas oficiais ou estudos aprofundados. A insalubri- dade está presente indistintamente em empresas estatais, privadas nacionais, multinacionais, fábricas fundo de quintal e grandes con- glomerados.

O livro Insalubridade: Morte Lenta no Trabalho, resultado da VIU Semana de Saúde do Trabalhador, é uma rara oportunidade pa- ra conhecer um pouco mais os mecanismos que levam à Morte Lenta no Trabalho.

Ü

Page 27: Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, … · CENTRO DE RASTORAL VERGUEIRO intarna Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, que as

UM GOLPE NUTAR

JAPÃO

flUPINAS

Região das Reformas hconôniicas

A China era até o mês passado a grande esperança do capitalismo mun- dial para a virada deste século. Junto, diga-se de passagem, com a integra- ção do leste europeu. Neste caso - no centro do qual encontra-se a dasnost e a Perestroita - está em jogo a unifi- cação da Europa ocidental, marcada para 31 de dezembro de 1992. Sem a integração do leste a Europa-92 não passará de um sonho.

Nas fronteiras asiásticas, o proces- so é mais Ou tnenos o mesmo do que se passa na Europa. O capital acumu- lado nos último 40 anos no Japão é muito grande para se imobilizar ape- nas suas fronteiras nacionais. Do mesmo modo em Formosa, na Coréia, Hong-Kong, etc. Em Formosa, por exemplo, que tem uma indústria maior do que a Argentina, não existem nem

mais condições ambientais para conti- nuar expandindo. A água daquela enorme ilha já está em grande parte poluída, sendo que os principais pro- blemas de saúde pública estão ligados a está poluição. Mas isto é apenas a superfície do problema. O que impõe a integração do grande continente chinês ao resto da área asiática é a ne- cessidade própria do capital acumular mais e mais, para que supere perma- nentemente seus limites internos e que sempre colocam a possibilidade de estagnação e crise.

DRAGÃO ASIÁTICO A China é a grande saída para a

superprodução de capitai da economia mundial, em geral, e da área asiática em particular. Não se pode dizer que o mercado chinês seja totalmente vir- gem a este avanço vital para o resto

da área. Ao contrario. Há mais de dez anos este processo já vem rapidamente se realizando. Não estamos preocupa- dos apenas com as decisões dos gran- des homens, ou das grandes burocra- cias, para verificarmos os aconteci- mentos. Mais importantes do que Deng Xiaoping, Zhao Zyang, Li Peng, etc, é a simbiose econômico-so- cial que concretamente se desenvolve entre Hong-Kong, Formosa, Coréia, Macau, etc, com o continente chinês. Nestes últimos anos desenvolveu-se um frenético avanço do mercado em toda a costa leste - de Cantão até Changai - com a chegada de multina- cionais japonesas, americanas, euro- péias, etc. No início os grandes buro- cratas tentaram circunscrever este processo em regiões delimitadas. Cria- ram as Zonas Econômicas Especiais (ZEE).

Page 28: Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, … · CENTRO DE RASTORAL VERGUEIRO intarna Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, que as

Quinzena Política Nacional

Em 1980 foram criadas quatro Z£E nas províncias de Guangdon e Fujian. Em 1984 veio a abertura de 14 cida- des costeiras e da ilha de Hainan, com a finalidade de se atrair tecnologia, capital financeiro e empréstimos. Em 1985 foram delimitadas três triângulos que nos termos de um decreto de ou- tubro de 1984 estavam destinados a ser "as primeiras regiões a se enrique- recem". Os tais triângulos cobrem o delta de Yangtzê, o delta do Rio das Pérolas e uma área que tem por vérti- ces as cidades de Zhangzhou, Gan- zhou e Xiamen. O primeiro triângulo corresponde a região mais rica da China, oferecendo condições ideais para o desenvolvimento industrial. Os dois outros triângulos situam-se em terras tropicais, mais propícias à agri- cultura e foram traçados em função das quatro ZEE, que foram por seu lado localizadas estrategicamente: As ZEE de Xiamen e Shantou fazendo face a Taiwan. A ZEE de Shenzhen frente a Hong-Kong e a ZEE de Zhu- hai frente a Macau. O triângulo do Rio das Pérolas foi posto a serviço destas duas últimas ZEEs.

TECNOLOGIA DE PONTA X

BENS DE LUXO Em 1985, o governo de Pequin de-

cidiu abrir oito portos situados nas províncias de Guandong, de Liaoning e de Shandong. Uma reportagem do lhe Ecooomist (a melhor revista de economia do mundo) em setembro de 1985 fornecia o passo de fundo desta decisão de abrir estes portos: As ZEE não estavam correspondendo à ex- pectativa dos burocratas de Pequin. O objetivo central da criação das zonas havia sido atrair investimentos estran- geiros em setores de tecnologia de ponta, na esperança de obter produtos exportáveis. Mas Pequin estava in- vestindo mais nas zonas delimitadas do que os capitalistas estrangeiros e um terço apenas da nova produção era destinada à exportação. As empresas típicas eram fábricas de roupa, abertas por firmas de Hong-Kong para apro- veitar os baixos salários continentais, equivalentes à metade ou menos dos pagos em Hong-Kong. Estas ZEEs estavam se transformando em unia plataforma de montangem de bens de luxo avidamente buscados pelo resto da China continental.

Os burocratas não foram capazes de circunscrever nas ZEEs o avanço do mercado internacional no território chinês. Finalmente, no início de 1985 foi decidido que a linha de Hainan se- ria desanexada da província de Guan-

gdong e transformada em um paraíso para investidores estrangeiros. E para encerrar a conversa, o então Secretá- rio-Geral do PCC, Zhao Ziyang, anunciou também no início de 1988, que a costa chinesa, da província de Liaoning até a linha de Hainan, será toda transformada em zona especial. Quase 5 mil quilômetros da costa, afetando mais de 200 milhões de ha- bitantes, serão expostos ao capital multinacional. Estava decretada a ge- neralização de Hong-Kong por todo o continente. O problema central de hoje, na China, é com esta simbiose do grande mercado interno chinês po- de ser resolvida em termos pohticos e sociais. O golpe militar deste mês foi apenas o primeiro capítulo deste gran- de processo imperialista.

Extraio do texto '■Análise de Conjuntura" - Situação Econômica Brasileira", Boletim

Semanal do 13 de Maio - Núcleo de Edu- cação Popular.

ASSINATURAS: Rua Dona Avelina. 05 Vila Mariana - CEP 04111 São Paulo - SP

China:o que morre e o que renasce

"Começar uma Revolução é difícil. Levá-la adiante é mais difícil. Chegar até a vitória é dificüimo. Mas só quando vencermos, aí sim, é que começarão as dificul- dades" (do filme "Batalha de Argel" )

Vendo os trágicos acontecimentos ocorridos na China, muitos de nós vimos com espanto a difundida afirmação de que o "comunismo morreu". Será isto veidade? É im- portante que nós, socialistas, aprendamos a ler os aconte- cimentos, separá-los das idéias que a burguesia quer im- por sobre eles, e construirmos nossa própria avaliação.

A grande questão que nos aflige é: seria possível que um violento confronto como este ocorresse em um país que passa pela transição socialista? A pergunta deveria ser melhor formulada: é possível uma revolução baseada em todo um povo, que derrota seus inimigos e inicia a transição socialista, vir a se deformar a ponto de que sua

direção se volte contra este mesmo povo? A resposta mais fácil seria voltar atrás e afirmar como-

damente que a China não é socialista, pois isto aparente- mente resolveria o problema. No entanto, não é se escon- dendo da realidade que avançaremos para compreendê-la.

SOCIALISMO CHINÊS A China realizou uma grande Revolução e talvez uma

das mais profundas de nosso século. Partindo um país quase feudal, seu povo contraiu uma base econômica so. cializada e com grandes esforços, erros e acertos, chegou até nossos dias com xspxà. realidade bem diferente daquela China arrasada pelos interesses colonialistas e imperia- listas das primeiras décadas do século.

Esta evolução determinou inclusive que aquele país ti- vesse uma trajetória diferenciada em relação s outros paí- ses do 32 Mundo, como o Brasil. Conquistou um patamar de qualidade de vida, afastou o fantasma da Jome, avan-

Page 29: Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, … · CENTRO DE RASTORAL VERGUEIRO intarna Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, que as

Quinzena Fotitiea Nacional

çou a níveis bons no atendimento à saúde, educação, etc. Ao lado deste desenvolvimento econômico de base so-

cialista, a China viveu uma conturbada história política. Algumas pessoas tem uma idéia errada da revolução e do socialismo, como se as lutas e as contradições existissem apenas no capitalismo até a tomada do poder. Isto não é verdade. Marx colocou historicamente a necessidade do socialismo como uma transição exatamente para não cair na utopia de uma passagem imediata do capitalismo para uma nova sociedade (Comunista).

REVOLUÇÃO CULTURAL Com uma base material extremaiiienle atrasada, agra-

vada pelo fracasso do chamado "Grande Salto para Frente" (o segundo plano qüinqüenal iniciado em 1957), isolada internacionalmente com a cisão com a URSS em 1962, a China viveria uma intensa luta política que cul- minaria na chamada Revolução Cultural (1965-1968). Esta Revolução desencadeada por uma luta interna no Partido entre MAG e as correntes que este denominava de "conservadoras", "direitistas", foge dos trilhos e transforma-se numa ampla luta das massas proletárias contra os dirigentes nas escolas, fábricas e províncias.

Segundo Marx, a sociedade que existe após a revolu- ção ainda está marcada em todos os sentidos (moral, eco- nômico, político, etc.) pelas características da antiga so- ciedade de onde saiu. Desta forma, ao contrário do que esperam os críticos burgueses, o marxismo confirma-se ao analisarmos os ocorridos na história da Revolução Chinesa.

Gs estudantes e operários destituem os quadros con- servadores, tomam o poder nas fábricas e criam centenas de organizações rebeldes fora da defcrmada estrutura do Partido. Este movimento, apesar de sua vitalidade, en- contrava-se profundamente subordinado às diretrizes de MAG e do Centro da Revolução Cultural. Em um deter- minado momento o exército (EPL - Exército Popular de Libertação) intervém e, como na prática acaba favorecen- do os antigos quadros conservadores, eclode em todo o país uma violenta luta armada. Neste complicado con- texto os dirigentes da Revolução Cultural optam pela "pacificação" e o restabelecimento da "ordem" e se po- sicionam a favor do EPL, o que provocará confrontos se- guidos de massacres, talvez mais intensos do que aqueles presenciados recentemente.

Este desfecho desarma politicamente o proletariado e determina uma forma de Estado e de gestão da produção que se distancia da classe fundamental para a construção do socialismo - o proletariado. A isso chama-se de "de- formação burocrática".

Este Estado Burocratizado dá seqüência a construção econômica e desenvolve em relação à economia sociali- zada um certo parasitismo, criando privilégios aos diri- gentes. A crise que começa a se intensificar de meados da década de 70 para cá (MAG morreu em 1976) é o limite desta contradição entre a gestão burocrática e o cresci- mento do socialismo.

INTERESSES PROLETÁRIOS Com a economia dando sinais de estagnação os diri-

gentes, através das chamadas "quatro modernizações", percebem que a manutenção de seus privilégios passa por reformas. Procuram então oferecer o invejável patamar conquistado para uma nação do Terceiro Mundo aoslnte- resses dos grandes monopólios que, dentro da crise atual do capitalismo, vêm com bons olhos um mercado tão pre- servado como o chinês.

Acontece que esta tendência dos dirigentes em se as- sociar com reformas capitalistas despertou o movimento de massas derrotado na Revolução Cultural. Muitos afir- mam que os estudantes queriam "democracia", entendida como abertura dos mercados, liberdade de comércio, pro- priedade privada, etc. Apesar de pontualmente isto possa ser visto, não é este o rumo e o que representa o movi- mento estudantil que ganhou o apoio das massas proletá- rias na China.

Foram estes estudantes que saíram em passeata contra a penetração de multinacionais japonesas, e suas palavras de ordem "democráüca", referem-se a luta contra os pri- vilégios dos dirigentes, pela renovação do Partido (muitas vezes em apoio a luta interna de certos quadros) e pelo aprofundamento do socialismo. Eles representam do ponto de vista histórico Ob interesses de um proletariado que foi desarmado politicamente.

CONTRA A BUROCRACIA Poderíamos dizer, portanto, que os confrontos ocorri-

dos são a manifestação de uma luta entre os dirigeates de um Estado burocratizado e as massas proletárias. Gs diri- gentes entendem que a perpetuação de seus privilégios passam pela reciclagem da economia (no sentido de re- formas Capitalistas) e a permanência de métodos políticos burocráticos. Acontece que isto, contrariamente ao que esperavam os dirigentes e os interesses imperialistas, provoca o acirramento da luta com as massas que repre- sentam (ainda que não de forma clara), os interesses his- tóricos do proletariado, ou seja; o aprofundamento da transição socialista, o controle operário do Estado ramo a auto-gestão (Comunismo).

A burocracia pode ter derrotado em um primeiro mo- mento as forças populares, principalmente por uma certa posição inercial de parte do proletariado, mas podemos supor também que assistimos apenas ao primeiro ato do drama que poderá, na medida que tal experiência desperte o proletariado e recrie sua força organizativa, levar a uma revolução dentro da transição socialista chinesa. No qua- dro da eminente crise do capitalismo mundial estes fatos, além de atualizar a possibilidade de revoluções socialistas nos países dominados pelo imperialismo, recolocou no horizonte da humanidade a meta de uma bandeira que muitos julgavam morta: o comunismo.

São Bernardo do Campo, 20 de Junho de 1989.

MAURO LUÍS IASI - Professor de história e monitor da Lquipe de Furniação do 13 de Maio - NKP (do Curso História tias Revoluções).

mmtm

Page 30: Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, … · CENTRO DE RASTORAL VERGUEIRO intarna Operárias da De Millus denunciam vexames diários na fábrica, que as

Quinzena Cultura Porantim - Maio/89

Pobre ^Brasir" Da invasão portuguesa aos

quadrinhos da Editora Globo

Por acaso caiu-me às mãos alguns exemplares da revistinha "Chico Bento", editada pela Globo e feita pela equipe de Maurício de Souza, o criador da Mônica.

Descobri, no meio das historietas, um personagem indígena, o que me levou a retomá-las com maior interes- se Finalmente surgia um índio nas histórias em quadrinhos no Brasil, re- cuperando o espaço do Txukahamãe Tininim da turma do Pererê, lançado poi Ziraido na década de 60.

Mas qual não foi minha decepção. Logo percebi que este personagem acompanhava o medíocre nível das demais histórias da levista: uma figura ingênua, boba, que longe de instruir o leitor, reforça mais ainda sues precon- ceitos contra os nosso ancestrais.

O personagem centrai da revista — Chico Bento - é igualmene lamentá- vei. É a recriação do Jeca Tatu, o triste personagem de Monteiro Lobato que toi apropriado pelo laboratório l-onioura para vender seu íamoso Diotônico. Apesar do idealismo nacio- nalista de Lobato, o que ficou do Jeca toi o estereótipo do caipira, o mestiço de índio, que reunia em si todos os ueleitos e atrasos üe nosso país.

Chico Bento é uma recriação do Jeca Tatu

O Chico Bento do Maurício anda descalço, usa chapéu de palha, é bo- bo, ingênuo e fala o famoso linguajar caipira. Algumas vezes o texto é tão deformado que se tem dificuldades pa- ra entender algumas palavras, como lemos na página 24 do número 30: "Um dia, Portuguar rcsorve aumenta os imposto i um grupo di brasileiro se revorta cas cobrança". Esta frase faz parte de um sonho do Chico Bento re- capitulando a História do Brasil.

Num país onde as crianças falam mal, escrevem pior ainda, quais não serão as conseqüências para o curso de Português? Isto sem falar da ideologia que permeia toda a re- vista.

Pena que Maurício de Souza só copiou de Monteiro Lobato o Jeca Tatu, não entrando para o mundo encantado e instrutivo da Emllia, que nos deu tantas obras interessantes.

Mas voltemos ao nosso per- sonagem indígena. Adivinhem o nome: Papa-Capim. Idiotice ou má fé? Quem "papa capim" em

nosso universo? O animal ou o doido. Espero que o Sr. Maurício de Souza tenha acreditado na segunda alternati- va para o nosso herói, o que será me- nos ofensivo para as nações indíge- nas.

O personagem, para variai-, é o ín- dio genérico, sem povo, sem passado, se comportando como um dos nossos, apenas muito mais ingênuo, para não dizer besta.

Quanto ao conteúuo, é um dos mais chochos. As histórias poderiam ser tanto de índio, como do Chico Bento ou de qualquer outra personagem, aparecendo um pouco mais de onças, cobras e jacarés. Encontramos até areia movediça, o que mostra que a cabeça do desenhista está mais para Tarzan do que para a realidade brasi- leira. O Papa-Capim carrega até um porta-flecha, que o faz parecer mais com um cupido do que com os nossos povos da floresta, cujas flechas têm mais de um metro e meio de compri- mento e são levadas na mão.

Um índio genérico sem povo e sem história

O visual do nosso herói é uma mistura de etiios: orelha perfurada, tradicional dos povos Jê do cerrado, cabelo cortado à moda xinguana e um paninho para esconder as "vergo- nhas", que quando muito pode pare- cer com o costume dos Wayana-Apa- laí, povo de língua karib que vive no Norte do Pará.

Relembrando outras revistas em quadrinhos, veio-me à mente as famo- sas histórias de Astérix e Tintim, sur- gidas na França e na Bélgica, respec- tivamente. Estas publicações demons- traram como se pode fazer revistas em quadrinhos de maneira inteligente, bem humoradas e instrutivas. Lendo Astérix, recapitula-se toda a história antiga, sem precisar usar frases tão ri- dículas como esta: "Cabrar saiu de Portugar, cóm suas caravela pra tenta

discubri o caminho mantimo pras ín- dia". Ou, "A Repúbrica veio co Ma- rechar Deodoro"!

E claro que um história instrutiva e inteligente precisa de uma assessoria histórica e mesmo antropológica, no caso dos povos indígenas. Isto exige dinheiro e não sei se o Sr. Roberto marinho ou o Sr. Maurício de Souza estão dispostos a soltar algum para isto.

^rOlr^