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O Mundo das Religiões em Sapucaia do Sul José Ivo Follmann (Coord.) 1 Adevanir Aparecida Pinheiro 2 Débora Barbosa Bauermann 3 Cleusa Maria Andreatta 4 Inácio José Spohr 5 Jaime Kronbauer 6 Marcelo Pizarro Noronha 7 1 1 Doutor em Sociologia, diretor da Ação Social e Filantropia – UNISINOS, coordenador-geral da Ação Social na área das Religiões e coordenador-geral do Programa Gestando o Diálogo Inter-Religioso e o Ecumenismo – GDIREC, Instituto Humanitas Unisinos, [email protected] 2 Mestre em Ciências Sociais Aplicadas – UNISINOS, coordenadora e pesquisadora dos projetos do Programa Gestando o Diálogo Inter-Religioso e o Ecumenismo – GDIREC, Instituto Humanitas Unisinos, [email protected] 3 Aluna do Curso de Psicologia – UNISINOS. 4 Doutora em Teologia e Filosofia, professora da UNISINOS. 5 Doutorando em Sociologia. 6 Estagiário, aluno do curso de Ciências Sociais – UNISINOS. 7 Estagiário, mestre em Educação – UFRGS, [email protected]

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O Mundo das Religiões em Sapucaia do Sul

José Ivo Follmann (Coord.)1

Adevanir Aparecida Pinheiro2

Débora Barbosa Bauermann3

Cleusa Maria Andreatta4

Inácio José Spohr5

Jaime Kronbauer6

Marcelo Pizarro Noronha7

1

1 Doutor em Sociologia, diretor da Ação Social e Filantropia – UNISINOS, coordenador-geral da Ação Social na área das

Religiões e coordenador-geral do Programa Gestando o Diálogo Inter-Religioso e o Ecumenismo – GDIREC, Instituto

Humanitas Unisinos, [email protected]

2 Mestre em Ciências Sociais Aplicadas – UNISINOS, coordenadora e pesquisadora dos projetos do Programa Gestando o Diálogo

Inter-Religioso e o Ecumenismo – GDIREC, Instituto Humanitas Unisinos, [email protected]

3 Aluna do Curso de Psicologia – UNISINOS.

4 Doutora em Teologia e Filosofia, professora da UNISINOS.

5 Doutorando em Sociologia.

6 Estagiário, aluno do curso de Ciências Sociais – UNISINOS.

7 Estagiário, mestre em Educação – UFRGS, [email protected]

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Sumário

Apresentação ................................................................................................................................................... 3

1 Aspectos da realidade religiosa e social de Sapucaia do Sul ........................................................................... 4

1.1 O nome e a história do município................................................................................................. 4

1.2 Locais de culto religioso e templos (panorama atual)................................................................. 6

1.3 Período de fundação dos locais de culto religioso e templos.................................................... 6

1.4 Atos e freqüência religiosa .............................................................................................................. 7

2 Religiões, sua diversidade e importância na opinião dos fiéis .......................................................................... 9

2.1 Manifestações sobre a natureza e concepção das religiões ........................................................ 9

2.2 Manifestações sobre a relação religião e sociedade..................................................................... 11

3 A questão do diálogo inter-religioso: algumas considerações com base nas constatações feitas em Sapucaia do Sul.. 17

3.1 Mobilidade religiosa e manifestações sobre a diversidade e a relação entre as religiões ....... 17

3.2 Algumas considerações teológicas sobre a questão do diálogo inter-religioso em Sapucaia do Sul ... 20

4 Práticas sociais nos locais de culto religioso e templos de Sapucaia do Sul ........................................................ 23

5 Os locais de culto religioso e templos de Sapucaia do Sul no contexto do “mundo das religiões” de seis municípios

da Região .................................................................................................................................................... 26

6 Relação dos locais de culto religioso e templos de Sapucaia do Sul ................................................................... 31

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OBSERVAÇÃO: Trata-se do sexto número de uma “seqüência” de apresentações de resultados de umapesquisa cadastral sobre “Religiões na Região Metropolitana de Porto Alegre – RS”. É uma pro-dução do Programa Gestando o Diálogo Inter-Religioso e o Ecumenismo – GDIREC, do Institu-to Humanitas Unisinos – IHU, o qual, entre outras atividades, está organizando, mediante deta-lhada ficha cadastral dos locais de culto religioso e templos, um banco de dados sobre a presen-ça da diversidade religiosa na Região.

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Apresentação

CADERNOS IHU nº 10, do Instituto Humani-tas Unisinos – IHU, apresenta os resultados demais um passo no trabalho de acumulação de da-dos sobre as religiões e religiosidades na RegiãoMetropolitana de Porto Alegre. Trata-se de umdos projetos do Programa Gestando o DiálogoInter-religioso e o Ecumenismo – GDIREC. De-pois das publicações de O Mundo das Religiõesem Cachoeirinha (Nº 14 de Cadernos Cedope),O Mundo das Religiões em Esteio (Nº 15 de Ca-dernos Cedope), O Mundo das Religiões em SãoLeopoldo (Nº 16 de Cadernos Cedope), O Mun-do das Religiões em Novo Hamburgo (Nº 17 deCadernos Cedope) e O Mundo das Religiões emCanoas (Nº 2 de Cadernos IHU), temos agora oprazer de apresentar O Mundo das Religiões emSapucaia do Sul, indicando, assim, a conclusão docadastramento dos locais de culto religioso etemplos em mais um município.

Como nos números anteriores, é necessárioque chamemos a atenção para o título que é ex-tremamente pretensioso face ao que realmente épossível apresentar nas páginas do Caderno. Averdadeira intenção é despertar a atenção dos lei-tores para a idéia de “mundo das religiões” quetende a tornar-se sempre mais complexo em nos-sos meios urbanos. Os estudos e análises aquiapresentados visam a ser “uma contribuição parao estudo do ‘mundo das religiões’ no municípiode Sapucaia do Sul”. Assim como nos cadernosanteriores, nesta seqüência de publicações sobreos locais de culto religioso e templos na RegiãoMetropolitana de Porto Alegre, esta é efetiva-mente a intenção do presente Caderno e como taldeve ser lido.

A equipe envolvida na análise dos dados eredação dos textos é constituída pelos seguin-tes autores: Adevanir Aparecida Pinheiro(mestre em Ciências Sociais Aplicadas), CleusaMaria Andreatta (doutora em Teologia), InácioJosé Spohr (doutorando em Ciências Sociais),Jaime Kronbauer (estagiário acadêmico deCiências Sociais), José Ivo Follmann (doutorem Sociologia), Marcelo Pizarro Noronha (es-tagiário acadêmico de Ciências Sociais e mestreem Antropologia). Tiveram também importan-te participação Ubirajara Alves (acadêmico deHistória, bolsista de Extensão) e a secretária doGDIREC, Débora Barbosa Bauermann (acadê-mica de Psicologia).

Na classificação feita na abordagem e tambémnos presentes textos de descrição e análise, cadaagrupamento religioso é acompanhado de umasigla (letra):

A = Religiões Afro-Brasileiras e Umbanda;

K = Espiritismo Kardecista;

C = Catolicismo (Igreja Católica, Apostólica, Romana);

H = Igrejas Protestantes Históricas;

P = Igrejas Evangélicas Pentecostais e Neopentecostais;

D = Diversas (Outras).

(OBSERVAÇÃO: O cadastro em Sapucaia doSul iniciou em meados da década de noventa,tendo sido depois interrompido e retomado so-mente em 2003. Isso não invalida, em termos ge-rais, a atualidade das informações, pois se bus-cou, na medida do possível, fazer uma leituraatualizada, sempre que não foi viabilizada a reto-mada direta do contato para tal.)

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1 Aspectos da realidade religiosa e

social de Sapucaia do Sul

1.1 O nome e a história do município

Sapucaia do Sul divulga a sua imagem hojecomo a “Terra do Zôo”. Trata-se de um muni-cípio de porte médio, para o qual o Censo de2000 registrou um total de 127.751 habitantes,dos quais 95,35% são de área urbana. O muni-cípio integra a Região Metropolitana de PortoAlegre e apresenta uma área total de 65,2 Km2.A cidade dista 25 Km da capital do Estado doRio Grande do Sul, Porto Alegre, com acessovia BR116 ou via TRENSURB (metrô de super-fície). Chama a atenção o grande número demunicípios limítrofes com Sapucaia do Sul: sãosete ao todo. Sapucaia do Sul está rodeada porEsteio, Cachoeirinha, Gravataí, Novo Ham-burgo, São Leopoldo, Portão e Nova Santa Rita.

Donde vem o nome que hoje identifica o mu-nicípio de Sapucaia do Sul? Diferentes narrativasdão conta disso, mas não existem registros segu-ros sobre a origem do nome. Em primeiro lugar,o acréscimo “do Sul” é de 1963, dois anos depoisda criação do município, quando, por força da LeiEstadual n.º 4541, de 30/08/1963, ficou definidoo atual nome de “Sapucaia do Sul”. A propostainicial veio a público pelo projeto de lei do verea-dor de Sapucaia, João Colombo Filho, mas devi-do às grandes resistências da municipalidade à al-teração, a proposta não avançou em âmbito locale acabou sendo definida diretamente na esfera doGoverno do Estado, por interveniência do entãoDeputado Nelson Marchezan. Sapucaia fora cria-da em 14 de novembro de 1961 pela Lei Estadualn.º 4203, após intenso movimento emancipacio-nista, provocado, sobretudo, pela emancipaçãodo município de Esteio (1954), quando os “sapu-

caienses” foram liderados a se posicionaram paranão acompanhar o movimento “esteiense”, op-tando, na ocasião, pela manutenção da pertença aSão Leopoldo. O plebiscito emancipacionistadeu-se, finalmente, em agosto de 1961, propon-do a transformação do Sétimo Distrito de SãoLeopoldo (sem a parte que fora para o Municípiodo Esteio) no novo município de Sapucaia. Masdonde vem o nome “Sapucaia”? O Sr. Júlio Casa-do, em sua excelente obra Sapucaia do Sul: contribui-

ção para o estudo de sua história, não consegue res-ponder satisfatoriamente a esta indagação. Alémdas várias hipóteses que levanta, o autor transcre-ve (na p.19) interessante passagem de crônica deum amigo seu, o historiador João Palma da Silva(Correio do Povo, 29/set./1966):

sobre a origem do nome Sapucaia, que hoje denominaum arroio, um cerro e uma cidade, concluí que tal nomefoi dado originariamente a toda uma região dos camposde Viamão, à margem direita do Gravataí. Uma das fa-zendas que Francisco Pinto Bandeira possuía a leste dacidade de Gravataí que tinha ao norte o morro de Itaco-lomi e ao sul o rio Gravataí é dada na carta passada porGomes Freire como localizada na ‘paragem que cha-mam de Sapucaia, nos campos de Viamão’. O hoje cer-ro de Sapucaia, bem como o arroio do mesmo nome,absorveram, para si, a designação que antes era dada atoda a região. E por que foi dado tal nome à citada re-gião? Eis o que resta descobrir.

Júlio Casado lamenta não ter podido avançarmais na pesquisa para dar uma resposta completaà indagação do historiador, que é também a nossa.(No site oficial do município, fala-se de uma fazen-da de propriedade de Antonio de Souza Fernando,a “Fazenda Sapucaia”, estabelecida em 1737, nasproximidades do morro com este nome...)

No site raizesdosul,1 lemos o seguinte:

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1 Disponível em: <www.raizesdosul.com.br/muin392.htm> Acesso em: 30 set. 2004.

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Alguns historiadores atribuem a denominação Sapucaiaà existência de muitas árvores sapucaias em seu territó-rio. Outra hipótese fala da existência de um grande nú-mero de aves que a região possuía, face aos frutos sil-vestres que abundavam no município, o que levou osindígenas a denominarem esta região de Sapucaia.

Desde 1838, ano da criação da Capela Curadade São Leopoldo, Sapucaia a integra como distri-to (o Primeiro Distrito de São Leopoldo). Maistarde, com as mudanças político-administrativasem São Leopoldo, a partir de 1912, Sapucaia pas-sa à condição de Sétimo Distrito, sendo a suasede elevada à categoria de Vila, em 1938. De de-zembro de 1944 até 1951, o então Distrito de Sa-pucaia, correspondente à área do atual municí-pio, foi denominado Distrito de Guianuba. A po-pulação nunca chegou a se conformar com a de-nominação imposta, que estava supostamente re-lacionada com a histórica figueira que fazia som-bra frondosa, onde se situa a atual praça centralda cidade. Guianuba significa “campo limpodentro da mata”. O nome de Sapucaia foi resta-belecido em 2 de agosto de 1951, pela Lei Muni-cipal de São Leopoldo n.º 303.

Olhando, mesmo que de forma superficial,para a dinâmica estatística de alguns indicadoresquantitativos de Sapucaia do Sul, devemos dizerque se trata de um município acima da média doEstado. A sua população, nos quarenta anos deemancipação, mais do que sextuplicou. A indús-tria e o comércio, nele instalados, com empreen-dimentos incipientes na época da emancipação,hoje apresentam um quadro de dinâmica e diver-sificação muito importante. Sapucaia do Sul afir-ma-se como o 13.º município em arrecadação deimpostos do Estado do Rio Grande do Sul. Issose deve, sobretudo, ao seu importante parque in-dustrial, destacando-se os setores da siderurgia,da metalurgia, das bebidas, dos fios têxteis, da re-frigeração e dos artefatos de couro.

Como todos os municípios que constituem oentorno suburbano de uma grande Região Me-tropolitana, Sapucaia também se recente da difi-culdade de projetar-se com uma identidade de re-ferência. Depois de uma fracassada tentativa demostrar-se como “cidade das laranjeiras” (plan-tio de laranjeiras nas ruas), hoje ostenta para o

público externo a imagem de “Terra do Zôo”,aproveitando-se da presença do Parque Zoológi-co do Estado. A sua população tem origens étni-cas e culturais muito diversificadas, mas obser-vando as listas dos sobrenomes de famílias queconstam nos atos oficiais da história do municí-pio, e antes, podemos aventar a hipótese da im-portante presença luso-brasileira. Hoje, mesmosendo expressiva a presença da população negra,sobretudo em alguns bairros, continua evidente ogrande predomínio branco, com descendentes deitalianos, portugueses e alemães. Além dessas et-nias, outras, como árabes e japoneses, ainda se fa-zem presentes.

Em termos educativos, o município apresentaum quadro adequado de escolas, sendo 43 deEnsino Fundamental, oito de Ensino Médio eduas de Ensino Superior (CEFET – Engenhariade Polímeros; Faculdades EQUIPE, com Admi-nistração Geral, Letras e Normal Superior). Des-tacamos, ainda, a proximidade da Universidadedo Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS, em SãoLeopoldo. Para além deste bom quadro em ter-mos de educação, devemos ressaltar tambémque, apesar das atrações culturais próximas exter-nas, características de municípios que integramperifericamente regiões metropolitanas, Sapucaiado Sul conseguiu desenvolver e manter uma im-portante e dinâmica agenda cultural própria.

O município, cujo aniversário é celebrado dia20 de agosto, tem como padroeira Nossa Senho-ra da Conceição. Este simbolismo religioso ca-tólico ligado à municipalidade apresenta profun-das raízes em sua história. Apesar de hoje ser no-tável uma grande diversidade religiosa no local,historicamente, – ao menos, em grande parte deseu processo histórico –, Sapucaia do Sul foiconstituída com a presença quase exclusiva, emtermos religiosos, da Igreja Católica, Apostólica,Romana. As primeiras duas capelas católicas, naárea do então distrito de Sapucaia, foram erigidas,ligadas à Paróquia Católica de São Leopoldo, noano de 1869. Primeiro foi a capela de São Cristó-vão, em Três Portos (01/01/1869) e depois foi acapela Nossa Senhora da Conceição, nos Pinhei-ros de Sapucaia, hoje Centro (07/09/1869). Esta

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última foi constituída em 01 de janeiro de 1952,matriz da primeira paróquia de Sapucaia (Paró-quia Nossa Senhora da Conceição, no Centro daVila), da qual, seis anos depois, em 31 de dezem-bro de 1957, foi desmembrada a segunda paró-quia de Sapucaia (Paróquia Nossa Senhora de Fá-tima, de Três Portos). Ligada à primeira, foi inau-gurada, em 01 de setembro de 1957, a Capela SãoJosé da Vila Primor e, em 09 de abril de 1961, a ca-pela São João Batista, da Vila dos Prazeres. Segun-do Júlio Casado (obra citada), já se registrava, eminícios da década de 1960, além das comunidadescatólicas, uma relativa presença de seguidores daIgreja Episcopal Anglicana, da Igreja EvangélicaAssembléia de Deus e da Igreja Evangélica Betel.

1.2 Locais de culto religioso e templos(panorama atual)

O cadastro realizado pelo Programa Gestando oDiálogo Inter-Religioso e o Ecumenismo – GDIRECidentificou o total de 151 locais de culto religioso etemplos, existentes atualmente, em Sapucaia do Sul.O número obtido resultou de um processo cadas-tral que, como foi observado inicialmente, esten-deu-se ao longo de uma década, com diversas inter-rupções e renovadas tentativas de atualização dosdados. Apesar dos limites manifestos no processocadastral, não houve prejuízo substancial com rela-ção à atualidade da informação.

Tabela 1 – Número de locais de culto religioso etemplos, por religião, no município de Sapucaiado Sul, RS, 2004

Religião Locais %

Afro e Umbanda 58 38,41

Espiritismo Kardecista 03 2,00

Igreja Católica 29 19,20

Igrejas Pent. e Neopentecostais 47 31,13

Igrejas Protestantes Históricas 09 5,96

Diversas 05 3,30

Total 151 100Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.

Como nos mostra a tabela 1, e repetindo aconfiguração já conhecida em outros municí-pios da Região, existe uma predominância nu-mérica de pontos das religiões afro e umbanda(A) com 58 (38,41%) sobre o total. Em segun-do lugar, verificam-se os pontos de culto domeio evangélico pentecostal e neopentecostal(P) que somam 47 (31,13%). O meio católico(C), que teve historicamente o monopólio reli-gioso, até épocas bem recentes, como vemos,ocupa o terceiro lugar em edificações de culto,somando 29 (19,20%) locais. Em quarto, apare-cem os do protestantismo histórico (H) com 9(5,96%), seguidos pelos do kardecismo (K)com 3 (2,00%), e os demais 3,30% constituemos do grupo das diversas (D).

Uma das explicações para entender, em parte,esta diferente densidade de locais de culto religio-so e templos, segundo os diferentes meios religio-sos, está relacionada com a própria organizaçãoreligiosa. Se para os católicos (C), bem como paraos protestantes históricos (H), a decisão de esta-belecer um local de culto ou templo pertence, emgeral, à comunidade, entre os afros e umbandis-tas (A), assim como entre os pentecostais e neo-pentecostais (P), esta decisão é de caráter indivi-dual. Nestes, determinada pessoa, por iniciativaprópria, pode resolver fundar um local de culto eformar o seu próprio grupo de atendimento reli-gioso ou templo.

1.3 Período de fundação dos locais deculto religioso e templos

Já referimos anteriormente que os primeiroslocais de culto religioso ou templos em Sapucaiado Sul datam do ano de 1869, quando foram eri-gidas duas capelas católicas, que hoje são as sedes(matriz) de duas importantes paróquias católicasdo município.

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Analisando as épocas de fundação dos locaisde culto religioso e templos da cidade de Sapu-caia do Sul, seguindo as indicações da tabela 2,evidenciamos uma grande concentração funda-cional ao longo das duas últimas décadas, ou seja,a maior parte dos locais de culto religioso e tem-plos datam de 1980 para cá. Dos 151 locais, 104(68,87%) foram estabelecidos após 1980.

Notável foi a expansão, neste período, de lo-cais no meio afro e umbanda (A) e também nopentecostal e neopentecostal (P), somando, res-pectivamente, 42 (72,41%) e 33 (70,21%). Mastambém é de notar que a edificação de locais deculto ou templos do âmbito católico (C) foi igual-mente expressivo no período em questão. Verifi-camos, neste meio, um total de 18 (62,07%) no-vas fundações.

O crescimento dos locais de culto religioso etemplos, de forma geral, nos últimos 20 anos,

pode ser atribuído a diversos fatores, sendo o pri-meiro obviamente o próprio crescimento urbanoacelerado durante esses anos, portanto as deman-das religiosas do próprio aumento populacional.Devemos frisar, no entanto, também a própriadinâmica do campo religioso e as novas condi-ções culturais para uma maior afirmação da di-versidade e das diferentes identidades religiosas.

1.4 Atos e freqüência religiosa

Em Sapucaia do Sul, ocorrem, semanalmente,em torno de 349 atos religiosos, somando um to-tal de 29.047 freqüências. A média de atos religio-sos semanais por local é de 2,3, e a média de fre-qüências semanais por local é de 192. Essas in-formações obtidas das fichas cadastrais estãomais detalhadas na tabela 3.

Tabela 3 – Número semanal de atos religiosos e média semanal de ocorrências (ofertas) e de freqüências,por religião, no município de Sapucaia do Sul, RS, 2004

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Tabela 2 – Distribuição dos locais de culto religioso, segundo a década de fundação, por religião, nomunicípio de Sapucaia do Sul, RS, 2004

DécadaReligião

Até1939

19401949

19501959

19601969

19701979

19801989

1990 edepois

NI Total

Religiões Afro e Umbanda 0 0 1 5 9 23 19 1 58Espiritismo Kardecista 0 1 1 1 0 0 0 0 3Igreja Católica 2 0 2 1 0 7 11 6 29Igrejas Pent. e Neopentecostais 0 2 0 4 8 11 22 0 47Igrejas Protestantes Históricas 0 0 0 2 0 5 2 0 9Diversas 0 0 1 0 0 2 2 0 5Total 2 3 5 13 17 48 56 7 151

Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.

Religião

Locais deculto religioso

e templos

Atos religiosos por semana Freqüência semanal

Númerode atos

Média de atospor local

Número de freqüênciaspor semana

Média de fre-qüência por local

Religiões Afro e Umbanda 58 94 (27%) 1,6 3974 (13,7%) 69

Espiritismo Kardecista 3 12 (3%) 4 404 (1,4%) 135

Igreja Católica 29 81 (23%) 2,8 13743 (47,3%) 475

Igrejas Pent. e Neopentecostais 47 126 (36%) 2,7 9225 (31,8%) 196

Igrejas Protestantes Históricas 9 21 (6%) 2,3 1147 (3,9%) 127

Diversas 5 15 (5%) 3,0 554 (1,9%) 110

Total 151 349 (100%) 2,3 29.047 (100%) 192Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.

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Se olharmos o panorama dos atos religiososoferecidos semanalmente, constatamos facil-mente que 126 (36%) ocorrem no ambiente pen-tecostal e neopentecostal (P) e 94 (27%) no meioafro e umbanda (A), ou seja, estes dois conjuntosreligiosos ofertam um total de 63% dos atos reli-giosos semanais em Sapucaia do Sul. Na seqüên-cia, vem a religião católica (C), com 81 (23%) atosreligiosos semanais, e as igrejas protestantes his-tóricas (H), com 21 (6%). Já com menor expres-são, devido ao baixo número de locais, estão asdo meio espírita kardecista (K), com 12 (3%) e asdemais (diversas – D), com 15 atos semanais, emseu total.

A par destes dados, chama a atenção a elevadamédia semanal de atos praticados no meio espíri-ta kardecista (K), com quatro atos semanais emmédia e na esfera das outras denominações agru-padas sob a designação de diversas (D), com trêsatos semanais em média. Aliás, em termos de mé-dia de atos religiosos praticados semanalmentepor local, a igreja católica (C), em Sapucaia doSul, se equipara, praticamente, com as igrejaspentecostais e neopentecostais (P), ou seja, en-quanto, no meio católico (C), há 2,8 atos-semanapor local, no pentecostal e neopentecostal (P),são 2,7 os atos-semana por local. O âmbito pro-testante histórico (H) fica com uma média umpouco abaixo, com 2,3 atos-semana por local. Amédia de atos-semana por local mais baixa é ados cultos afro e de umbanda (A): 1,6.

Apesar de o grande número de locais de cultoreligioso no meio afro e de umbanda (A), num to-tal de 58 cadastrados, significar uma relativa com-pensação face à diminuta média de atos-semanapor local, o número total de freqüências nesteâmbito é muito inferior ao apresentado pelos ou-tros, especialmente o católico (C) e o pentecostale neopentecostal (P). Expressiva é a verificaçãono grupo de religiões católica (C) e pentecostal eneopentecostal (P), quando se avalia o númerode freqüências semanais nos locais de culto. Deum total de 29.047 freqüências, o meio católico(C) responde por 13.743 (47,3%), e o pentecostale neopentecostal (P) atinge uma soma de 9.225(31,8%). Portanto, estes dois meios (C) (P) totali-

zam juntos 79,1% de todas as freqüências aosatos religiosos semanais no município.

Considerando que Sapucaia do Sul possui umapopulação de 127.751 habitantes (conforme o Cen-so do IBGE referido acima), a repetição semanal de29.047 freqüências em acontecimentos religiososnos mostra que menos de 23% da população fre-qüentam algum tipo de ato religioso no período deuma semana. É necessário dizer “menos de 23%”,uma vez que existe sempre um pequeno percentualde freqüentadores que repete a sua presença em atoreligioso mais de uma vez por semana.

Quanto ao número médio de freqüências se-manais, em cada templo (ou local de culto) daigreja católica (C), a média semanal atinge a 474;nas igrejas pentecostais e neopentecostais (P),este número alcança um total médio de 196; noslocais espíritas kardecistas (K), constatamos umamédia de 135; nas igrejas protestantes históricas(H), a freqüência média é 127; nas diversas (D),registra-se, nos cadastros, uma média de 100 porlocal-semana; e, como já mencionamos acima,nos locais afros e umbandistas (A), a média defreqüência semanal é bem mais baixa: 69.

Mesmo que a freqüência no meio afro e um-banda (A) seja significativamente inferior às fre-qüências sobretudo nas igrejas católicas (C) epentecostais e neopentecostais (P), devemos as-sinalar que o fato de existirem muitos locais (pe-quenos locais de culto) é indicativo revelador dapresença de muitas lideranças e um potencialcrescimento.

Em última análise, diríamos que, na cidade de Sa-pucaia do Sul, observamos uma formação crescentedo pluralismo religioso já verificado em outras cida-des da Região Metropolitana de Porto Alegre.

As entrevistas realizadas com informantes fi-sicamente próximos dos líderes revelaram tam-bém um aspecto digno de menção: muitas lide-ranças religiosas têm uma atuação bastante gran-de em suas comunidades inclusive em termos po-líticos, como, por exemplo, junto à Câmara deVereadores. O próprio processo de preenchi-mento da ficha cadastral e também as entrevistascomplementares ajudaram a verificar este fatomuito ilustrativo.

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2 Religiões, sua diversidade e

importância na opinião dos fiéis

Foram elaboradas, para a presente pesquisa,questões que visam a dar conta da análise de te-mas que dizem respeito à natureza e à concepçãode religião (tabelas 4 a 6), com a inserção da reli-gião na sociedade (tabelas 7 a 10), com a religião eo engajamento político (tabelas 11 a 14).

Dividimos este capítulo em dois itens: o pri-meiro quer dar conta de algumas manifestaçõesdos entrevistados com relação à natureza da reli-gião e às concepções alimentadas a respeito, e osegundo item tem por finalidade reter algumasopiniões sobre a percepção da importância dasreligiões na sociedade e como é concebida a rela-ção entre religião e sociedade.

2.1 Manifestações sobre a natureza econcepção das religiões

Em relação à concepção de religião, a maiorincidência, 50 (48%) de informantes, está voltadaa entender a sua religião como “boa”, mas é notá-vel o número daqueles que manifestam que a suaé a única “certa”, 28 (27%).

Em praticamente todos os meios religiosos,exceto o do protestantismo histórico, encontra-mos um relativo percentual (15% ou mais) da-queles que dizem serem todas as religiões boas.Temos, nesta perspectiva, 6 entrevistados (16%)nas religiões afro e umbanda (A), 4 (15%) na re-ligião católica (C) e 5 (15%) nas religiões pente-costais e neopentecostais (P). Dos 5 entrevista-dos de igrejas protestantes históricas (H), 3(60%) afirmaram que a “minha é a certa”, já 2(40%), que a “minha é boa”.

Tabela 4 – Distribuição dos informantes segundo a percepção de sua religião em relação às outras, porreligião, no município de Sapucaia do Sul, RS, 2004

9

Religião

Percepção da religião

Minha certa(%)

Minha boa(%)

Todas são boas(%)

Minha discrimina(%).

Outra(%)

Total

Religiões Afro e Umbanda 11 (29) 17 (45) 6 (16) 0 4 (10) 38

Espiritismo Kardecista 1 (33) 0 (00) 1 (33) 0 1 (33) 3

Igreja Católica 4 (15) 16 (62) 4 (15) 0 2 (08) 26

Igrejas Pent. e Neopentecostais 9 (27) 15 (46) 5 (15) 1 (03) 3 (09) 33

Igrejas Protestantes Históricas 3 (60) 2 (40) 0 (00) 0 (00) 0 (00) 5

Total 28 (27) 50 (48) 16 (15) 1 (01) 10 (09) 105Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.

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Ao verificar as justificativas (argumentos) queamparam as respostas em relação aos diversos cre-dos, encontramos uma série de variáveis. Dividi-dos por grupos, poderíamos dizer que, de um lado,teríamos as religiões afro e umbanda (A) e as pen-tecostais e neopentecostais (P), e de outro, a cató-lica (C) e as protestantes históricas (H). Os primei-ros grupos denotam, em sua argumentação avalia-tiva, uma performance mais pessoal. Já para os ou-tros dois grupos, esta argumentação encontra am-paro na doutrina e na vida sacramental das igrejas.

Nas respostas obtidas no meio afro e umbanda(A) e no pentecostal e neopentecostal (P), eviden-ciamos um sentimento de bem-estar, amparo eacolhida na comunidade religiosa. Obtivemos res-postas do tipo: “A melhor, pois, na hora de angús-tia e de enfermidade, foi onde me encontrei: amore Jesus Cristo.”

Entre os entrevistados católicos (C), percebe-mos o sentimento de crença de ser a igreja católi-ca, aquela que foi instituída por Jesus Cristo edesta forma, ser a mais adequada, embora seja re-conhecida uma evolução doutrinária, que, porvezes, divide as opiniões. Para alguns, isso é vistocomo fator positivo e para outros, como elemen-to negativo. Podemos, também, relacionar res-postas para essa assertiva do tipo: “Antigamenteparece que ser católico era melhor, era obrigação

ir à missa todos os domingos de manhã, a gentecolocava roupas novas e ia para a missa. Hojepouca gente vai. As outras religiões estão cres-cendo, e a católica está ficando para trás.” –“Gosto da religião católica, hoje mais que antiga-mente, porque os padres eram muito ruins.”

Na tentativa de identificar a causa da existênciade tanta diversidade religiosa, observamos umagrande concentração de respostas, atribuindo issoàs diferenças doutrinais, com 28% das respostasde todos os meios religiosos. Também são bastan-te lembradas concepções de religião elaboradas,focando princípios doutrinários. Estas encontrampercentual considerável nas religiões pentecostaise neopentecostais (P), com 31%, na católica (C),com 31% e nas afro e umbanda (A), com 26%.Outro fator apontado é a falta de convicção. A fal-ta de fé, segundo os informantes, ocorre em 16%de todo o universo considerado. Ao lado da faltade convicção, é também observável e marcante,em parte das respostas, a percepção do quesito“interesse” que possui amparo em 30% das opi-niões dos entrevistados. Temos assim algumasrespostas: “As pessoas, hoje, pensam muito no di-nheiro. Por isso que tem muitas religiões”. – “Vouser sincero: existem muitas religiões só para ga-nhar dinheiro mesmo.” As expressões liberdadereligiosa e ignorância são menos elencadas.

Tabela 5 – Distribuição dos informantes, segundo a opinião sobre a principal causa do grande númerode religiões, por religião, no município de Sapucaia do Sul, RS, 2004

10

Religião

Opinião

Liberdadereligiosa

(%)

Diferençasdoutrinais

(%)

Faltaconvicção

(%)

Ignorância(%)

Interesses(%)

Outros(%)

Total(%)

Religiões Afro e Umbanda 4 (11) 10 (26) 3 (08) 2 (05) 14 (37) 5 (13) 38 (100)

Espiritismo Kardecista 0 (00) 1 (33) 0 (00) 1 (33) 0 (00) 1 (33) 3 (100)

Igreja Católica 0 (00) 8 (31) 5 (19) 0 (00) 10 (38) 3 (12) 26 (100)

Igrejas Pent. e Neopentecostais 4 (12) 10 (31) 8 (24) 3 (09) 6 (18) 2 (06) 33 (100)

Igrejas Protestantes Históricas 0 (00) 0 (00) 1 (20) 1 (20) 2 (40) 1 (20) 5 (100)

Total 8 (08) 29 (28) 17 (16) 7 (7) 32 (30) 12 (11) 105 (100)Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.

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Perguntados sobre a sua concepção de “ver-dadeira religião”, os entrevistados reagiram dediversas formas, apresentando diferentes con-cepções religiosas. O elemento considerado demaior predominância foi o do “cultivo da crençae vivência”, perfazendo um índice de 35% numuniverso de 104 pesquisados.

O elemento “doutrina” é destaque, principal-mente entre os entrevistados dos meios católico(C) e pentecostal e neopentecostal (P), aparecen-do com percentuais de 42% e 36%, respectiva-

mente. Já no meio das religiões afro e umbanda(A), os investigados tendem a dar destaque aoelemento “vivência” (24%). A menção da vivên-cia como critério de “verdadeira religião” sugerea percepção da importância do comprometimen-to pessoal do crente ou do fiel seguidor. Os da-dos apresentados pela tabela 6 levam a concluirque “crença e vivência” são, efetivamente, deacordo com a maioria dos participantes, as refe-rências principais para se dizer algo sobre se a re-ligião é verdadeira ou não.

Tabela 6 – Distribuição dos informantes, segundo a concepção de verdadeira religião, por religião, nomunicípio de Sapucaia do Sul, RS, 2004

2.2 Manifestações sobre a relação reli-gião e sociedade

Perguntados sobre a atuação da religião oudas religiões na sociedade, é notável o fato da for-te estima positiva, notando-se que 70% das res-

postas declaram que a religião “atua bastante”.Esta afirmação positiva varia de meio religiosopara meio religioso: nas religiões afro e de um-banda (A), são 71%; no kardecismo (K), 67%; nareligião católica (C), 88%; nas protestantes histó-ricas (H), 80%; e nas igrejas pentecostais e neo-pentecostais (P), 52%.

Tabela 7 – Distribuição dos informantes, segundo a opinião sobre a atuação de sua religião na socie-dade, por religião, no município de Sapucaia do Sul, RS, 2004

11

Religião

Concepção de verdadeira religião

Crença e vivência Doutrina Vivência Comunidade de fé Outros Total

Religiões Afro e Umbanda 14 (38)u 7 (19) 9 (24) 3 (08) 4 (11) 37 (100)

Espiritismo Kardecista 1 (33) 0 (00) 0 (00) 1 (33) 1 (33) 3 (100)

Igreja Católica 9 (35) 11 (42) 2 (08) 0 (00) 4 (15) 26 (100)

Igrejas Pent. e Neopentecostais 10 (31) 12 (36) 6 (18) 0 (00) 5 (15) 33 (100)

Igrejas Protestantes Históricas 2 (40) 2 (40) 0 (00) 1 (20) 0 (00) 5 (100)

Total 36 (35) 32 (31) 17 (16) 5 (05) 14 (13) 104 (100)Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.

Religião

Atua na sociedade

Atua bastante Não atua bastante Poderia ser mais Outros Total

Religiões Afro e Umbanda 27 (71) 5 (13) 6 (16) 0 (00) 38 (100)

Espiritismo Kardecista 2 (67) 1 (33) 0 (00) 0 (00) 3 (100)

Igreja Católica 23 (88) 2 (08) 1 (04) 0 (00) 26 (100)

Igrejas Pent. e Neopentecostais 17 (52) 7 (21) 5 (15) 4 (12) 33 (100)

Igrejas Protestantes Históricas 4 (80) 1 (20) 0 (00) 0 (00) 5 (100)

Total 73 (70) 16 (15) 12 (11) 4 (04) 105 (100)Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.

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A percepção positiva com relação à atuaçãodas religiões na sociedade se repete entre as pes-soas que responderam ao questionário, quandoinstadas sobre o papel da religião na sociedade.

Percebemos que 85 (81%) dos informantes, so-bre um total de 105, se inclinam a entender issocomo sendo “muito importante” para a sociedade.

Tabela 8 – Distribuição dos informantes, segundo a opinião sobre o papel de sua religião na sociedade,por religião, no município de Sapucaia do Sul, RS, 2004

Perguntados sobre o que falta na atuação dasreligiões na sociedade, de um total de 105 entre-vistados, 41 (39%) referem-se à “falta de união” e“compreensão”; 18 (17%) abordam a falta de so-lidariedade; 9 (9%) esperam maior “participação”e “compromisso” dos membros da religião coma sociedade, e outros 13 (12%) desejam melhor

“formação”. Há pesquisados que destacam a fal-ta de “união e compreensão”, sobressaindo-se osdos meios das religiões afro e de umbanda (A),50%; das pentecostais e neopentecostais (P), 45%;e das igrejas do protestantismo histórico (H), 40%.Já entre os católicos (C), as respostas tendem amostrar mais a falta de “solidariedade”, 35%.

Tabela 9 – Distribuição dos informantes, segundo a opinião sobre o que falta para atuar mais nasociedade, por religião, no município de Sapucaia do Sul, RS, 2004

12

Religião

Papel de sua religião na sociedade

Sim Não Em parte Outra Total

Religiões Afro e Umbanda 31 (82) 1 (03) 5 (12) 1 (03) 38 (100)

Espiritismo Kardecista 2 (67) 0 (00) 1 (33) 0 (00) 3 (100)

Igreja Católica 23 (88) 1 (04) 2 (08) 0 (00) 26 (100)

Igrejas Pent. e Neopentecostais 25 (76) 0 (00) 5 (15) 3 (09) 33 (100)

Igrejas Protestantes Históricas 4 (80) 1 (20) 0 (00) 0 (00) 5 (100)

Total 85 (81) 3 (03) 13 (12) 4 (04) 105 (100)Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.

Religião

Falta para atuar mais na sociedade

União ecompreensão

Solidariedade Participação/compromisso

Formação Outros Total

Religiões Afro e Umbanda 19 (50) 3 (08) 2 (05) 3 (08) 11 (29) 38 (100)

Espiritismo Kardecista 1 (33) 1 (33) 0 (00) 1 (33) 0 (00) 3 (100)

Igreja Católica 4 (15) 9 (35) 5 (19) 2 (8) 6 (23) 26 (100)

Igrejas Pent. e Neopentecostais 15 (45) 5 (15) 0 (00) 7 (21) 6 (19) 33 (100)

Igrejas Protestantes Históricas 2 (40) 0 (00) 2 (40) 0 (00) 1 (20) 5 (100)

Total 41 (39) 18 (17) 9 (09) 13 (12) 24 (23) 105 (100)Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.

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A afirmação de que falta “união”, “compreen-são”, “solidariedade”, “participação” e “compro-misso” são comuns em todos os ambientes reli-giosos contemplados pela pesquisa. Embora,conforme já foi dito, estes termos sejam bastanterecorrentes, verificamos, também, outros ele-mentos apontados como relevantes pelo grupopesquisado, por exemplo, a falta de “fé”, “credi-bilidade”, “sinceridade”, “reconhecimento polí-tico”, além da “formação”.

No que diz respeito à “concepção de ideal desociedade”, mais da metade do público investiga-do, 55 (52%), sobre 105 informantes, aponta quesua religião busca uma sociedade fundamentadaem valores, como “igualdade” e “fraternidade”.Esta concepção alinha 55% do meio afro e um-banda (A); 67%, do espírita kardecista (K); 61%,do católico (C); 45%, do pentecostal e neopente-costal (P); e 20%, do protestante histórico (H).Dessa forma, podemos concluir que esta concep-ção permeia todos os ambientes religiosos comsignificativa expressão.

Tabela 10 – Distribuição dos informantes, segundo a opinião sobre o ideal de sociedade e de pessoa hu-mana de sua religião, por religião, no município de Sapucaia do Sul, RS, 2004

A acepção de uma sociedade orientada porensinamentos bíblicos, também se faz presentenas respostas dos integrantes da pesquisa. Por or-dem de importância, ela aparece mais significati-vamente no meio protestante histórico (H), 2(40%); em seguida, no pentecostal e neopente-costal (P), com 9 (27%); no católico (C), 4 (15%);e no afro e umbanda (A), 5 (13%).

Outros elementos que também foram mencio-nados pelos entrevistados, não tabulados nesta

pesquisa, dizem respeito a considerações sobreuma sociedade mais humilde, solidária, que valo-rize mais a vida, seja livre de patologias sociais,como a droga, a violência e a fome.

Na pergunta aos informantes sobre “diver-gências” em relação ao “ideal de sociedade” emsua religião ou igreja, encontramos um percentualequivalente a 22 (21%), de um total de 104 infor-mantes, que destacam não haver divergênciasquanto ao ideal de sociedade entre os adeptos.

13

Religião

Sociedade e pessoa humana construídas sobre os princípios de:

Igualdadefraternidade

Honestidade Religiosos (fé) Pluralidade Outros Total

Religiões Afro e Umbanda 21 (55) 4 (11) 5 (13) 1 (03) 7 (18) 38 (100)

Espiritismo Kardecista 2 (67) 1 (33) 0 (00) 0 (00) 0 (00) 3 (100)

Igreja Católica 16 (61) 2 (08) 4 (15) 2 (08) 2 (08) 26 (100)

Igrejas Pent. e Neopentecostais 15 (45) 1 (03) 9 (27) 1 (03) 7 (22) 33 (100)

Igrejas Protestantes Históricas 1 (20) 1 (20) 2 (40) 1 (20) 0 (00) 5 (100)

Total 55 (52) 9 (09) 20 (19) 5 (05) 16 (15) 105 (100)Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.

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Tabela 11 – Distribuição dos informantes, segundo a opinião sobre a existência de divergências entreos fiéis em relação ao ideal de sociedade, por religião, em Sapucaia do Sul, RS, 2004

A grande maioria dos entrevistados acreditahaver divergências quanto ao entendimento des-ta questão. Embora não sejam encontradas pos-turas antagônicas nas respostas a esta indagação,identificam-se as divergências retratadas em res-postas do tipo: “Tem divergências, um pensauma coisa e o outro pensa outra coisa, mas umasociedade igual é bom para todos” (A). – “Exis-tem divergências até com os padres, pois quando

questionados entram em discussão sobre o as-sunto até porque nem todos pensam da mesmaforma” (C). – “A gente aprendeu que todos sãoiguais, mas respeitamos a opinião de cada um”(H). – “Olha, mesmo que o pastor prega e fala,mas cada um tem seu seguimento, uns pensamnuma sociedade melhor, outros já acham que as-sim está bom” (P).

Tabela 12 – Distribuição dos informantes, segundo a opinião sobre o envolvimento político-partidárioda religião, por religião, em Sapucaia do Sul, RS, 2004

No que diz respeito ao engajamento políti-co-partidário nas religiões, ficou evidente que agrande maioria dos entrevistados não compactuacom esta idéia, ou seja, 63 (61%), de um grupo de104 informantes, posicionaram-se desfavoravel-mente a esta proposição.

Obtivemos o maior percentual desfavorávelno ambiente espírita e kardecista (K) 100%. Nomeio pentecostal e neopentecostal (P), este per-centual chega a 70%, seguindo-se os pesquisadosdo meio afro e de umbanda (A), com 68%. Já osentrevistados protestantes históricos (H) e católi-

14

Religião

Existem divergências

Sim Não Em outros níveis Outros Total

Religiões Afro e Umbanda 15 (39) 11 (29) 8 (21) 4 (11) 38 (100)

Espiritismo Kardecista 1 (33) 1 (33) 1 (33) 0 (00) 3 (100)

Igreja Católica 10 (39) 4 (15) 11 (42) 1 (04) 26 (100)

Igrejas Pent. e Neopentecostais 13 (41) 6 (19) 11 (34) 2 (06) 32 (100)

Igrejas Protestantes Históricas 2 (40) 0 (00) 2 (40) 1 (20) 5 (100)

Total 41 (39) 22 (21) 33 (32) 8 (08) 104 (100)Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.

Religião

Envolvimento político da religião – no (%)

Sim Não Só dos fiéis Questão pessoal Outra Total

Religiões Afro e Umbanda 4 (11) 25 (68) 0 (00) 3 (08) 5 (13) 37 (100)

Espiritismo Kardecista 0 (00) 3 (100) 0 (00) 0 (00) 0 (00) 3 (100)

Igreja Católica 8 (31) 10 (38) 4 (15) 1 (04) 3 (12) 26 (100)

Igrejas Pent. e Neopentecostais 4 (12) 23 (70) 0 (00) 3 (09) 3 (09) 33 (100)

Igrejas Protestantes Históricas 2 (40) 2 (40) 0 (00) 1 (20) 0 (00) 5 (100)

Total 18 (17) 63 (61) 4 (04) 8 (08) 11 (10) 104 (100)Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.

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cos (C) apresentam uma discordância, em (H),40% e em (C), 38% dos casos, respectivamente.

Cabe aqui salientar que, na esfera católica (C),embora seja a de menor índice desfavorável ao

envolvimento político-partidário, é onde se en-contra o percentual de 15% que estabelece a par-ticipação somente dos fiéis, e não da igreja comoum todo.

Tabela 13 – Distribuição dos informantes, segundo a satisfação em relação à atuação da religião na so-ciedade, por religião, no município de Sapucaia do Sul, RS, 2004

Frente à indagação que contempla a “satisfa-ção com a sua religião na sociedade”, a grandemaioria, 81 (78%), de 104 informantes, mos-trou-se satisfeita com a atuação de sua igreja nasociedade. O nível de insatisfação chega a um nú-mero de 12 (11%) do total dos entrevistados. Osque se dizem parcialmente satisfeitos perfazemum total de 9 (9%).

O maior índice de satisfação é encontrado nomeio dos entrevistados (5 ao todo) das igrejasprotestantes históricas (H), atingindo um percen-tual de 100%. Este índice é seguido pelos domeio pentecostal e neopentecostal (P), com 79%e do afro e de umbanda (A), com 78%, do católi-co (C), com 72% e, finalmente, do espiritismokardecista (K), com 67%.

Tabela 14 – Distribuição dos informantes, segundo a opinião sobre as opções político-partidárias dosfiéis, por religião, no município de Sapucaia do Sul, RS, 2004

15

Religião

Satisfação em relação à atuação na sociedade – no (%)

Satisfeito Não satisfeito Em parte Outros Total

Religiões Afro e Umbanda 29 (78) 5 (14) 3 (08) 0 (00) 37 (100)

Espiritismo Kardecista 2 (67) 1 (33) 0 (00) 0 (00) 3 (100)

Igreja Católica 19 (72) 3 (12) 3 (12) 1 (04) 26 (100)

Igrejas Pent. e Neopentecostais 26 (79) 3 (09) 3 (09) 1 (03) 33 (100)

Igrejas Protestantes Históricas 5 (100) 0 (00) 0 (00) 0 (00) 5 (100)

Total 81 (78) 12 (11) 9 (09) 2 (02) 104 (100)

Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.

ReligiãoPolítica

Opções político-partidárias – no (%)

Diversificadas Alinhadas Liberdadepolítica

Não discutepolítica

Outras Total

Religiões Afro e Umbanda 17 (53) 1 (03) 12 (38) 1 (03) 1 (03) 32 (100)

Espiritismo Kardecista 1 (33) 0 (00) 2 (67) 0 (00) 0 (00) 3 (100)

Igreja Católica 13 (50) 3 (11) 9 (35) 1 (04) 0 (00) 26 (100)

Igrejas Pent. e Neopentecostais 25 (76) 1 (03) 5 (15) 0 (00) 2 (06) 33 (100)

Igrejas Protestantes Históricas 2 (40) 0 (00) 3 (60) 0 (00) 0 (00) 5 (100)

Total 58 (59) 5 (05) 31 (31) 2 (02) 3 (03) 99 (100)

Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.

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Os informantes, perguntados se estariam dis-postos a seguir sugestões partidárias emanadasde sua religião, sinalizam preferências “diversifi-cadas”. Precisamente, de um universo de 99 in-formantes, 58 (59%) são dessa opinião. Somente5 (5%) entendem haver um alinhamento de idéiase opções, enquanto 31 (31%) defendem que estaquestão diz respeito unicamente ao plano pessoal,na medida em que apontam a “liberdade política”

como opção. O maior percentual que aderiu aoalinhamento político-partidário foi expresso nomeio católico (C), mas, mesmo neste meio, tra-ta-se de um índice muito baixo, ou seja, somente3 (11%) dos entrevistados. Os informantes seposicionam desfavoravelmente a discussões polí-ticas no ambiente religioso, como, por exemplo,no meio afro e umbanda (A) com 1 (3%) e no ca-tólico, também com 1 (4%).

16

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3 A questão do diálogo inter-religioso:

algumas considerações com base nas

constatações feitas em Sapucaia do Sul

Tabela 15 – Distribuição dos informantes, segundo a opinião em relação às características de um bomfiel, por religião, em Sapucaia do Sul, RS, 2004

17

Religião

Características de um bom fiel – no (%)

Cumpridorde deveres

Pessoaíntegra

Solidário Participativo Outras Total

Religiões Afro e Umbanda 16 (50) 7 (22) 4 (13) 3 (09) 2 (06) 32 (100)

Espiritismo Kardecista 0 (00) 0 (00) 2 (67) 1 (33) 0 (00) 3 (100)

Igreja Católica 11 (42) 5 (19) 1 (04) 5 (19) 4 (16) 26 (100)

Igrejas Pent. e Neopentecostais 15 (45) 7 (21) 2 (06) 4 (13) 5 (15) 33 (100)

Igrejas Protestantes Históricas 3 (60) 0 (00) 1 (20) 1 (20) 0 (00) 5 (100)

Total 45 (45) 19 (20) 10 (10) 14 (14) 11 (11) 99 (100)Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.

Este capítulo está dividido em duas partes: aprimeira nos ajudará a introduzir a reflexão sobrea diversidade religiosa em Sapucaia do Sul, a mo-bilidade religiosa ali existente e o modo como osentrevistados se manifestam quanto à diversida-de religiosa. Apontaremos e comentaremos algu-mas manifestações dos pesquisados no que dizrespeito à mobilidade religiosa e ao permanentetrânsito entre as diferentes adesões religiosas. Nasegunda parte, levantaremos algumas idéias e hi-póteses para reflexão sobre a questão do diálogointer-religioso, sob uma perspectiva teológica,com base nas constatações feitas neste município.

3.1 Mobilidade religiosa e manifestaçõessobre a diversidade e a relação en-tre as religiões

A abordagem a respeito da expectativa do quevem a ser um “bom fiel”, das características que

este deve ter para ser considerado pela igreja comoum bom fiel, encontramos posicionamentos di-versificados. Porém, quase a metade do públicoentrevistado 45 (45%), de um universo de 99 pes-soas, optou pela definição “cumpridor de deve-res”, enquanto 19 (20%) preferiram “uma pessoaíntegra”; 14 (14%), “um indivíduo participativo”;e 10 (10%) apontaram a alternativa “ser solidário”.O indicativo “fiel solidário” aparece com mais ên-fase no meio do espiritismo kardecista (K) com 2(67%) das proposições, de um total de 3 entrevis-tados. Para a grande maioria dos grupos religiososaqui estudados, o tema “fiel solidário” é pouco sig-nificativo como bem mostra a tabela 15.

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Quando nos reportamos à “migração inter-religiosa”, os resultados alcançados apontam queeste fato ocorre de maneira mais acentuada emalgumas religiões do que em outras. Em um uni-verso de 98 pesquisados, 53 (54%) já trocaram dereligião pelo menos uma vez em suas vidas. Omaior percentual, nesta ordem, encontramos nomeio do espiritismo kardecista (K), em que a tota-lidade dos 3 (100%) entrevistados já trocou de re-ligião; seguido do afro e umbanda (A), 24 (77%);do pentecostal e neopentecostal, 22 (67%); e doprotestante histórico, (H) 4 (80%). É notável quenenhum dos entrevistados católicos (C) já foi deoutra religião. (Tabela 16). Segundo as respostasdos entrevistados, e analogamente a outros mu-

nicípios da Região Metropolitana, em Sapucaiado Sul, verificamos que este fenômeno ocorre deformas variadas de religião para religião. Eviden-ciamos, por exemplo, também, que a igreja católi-ca (C) é a que mais cede fiéis para as outras reli-giões. Respostas que demonstram a falta de ampa-ro na religião anterior são comuns, não encontra-vam o “apoio” necessário para suas dificuldades,sentindo-se melhor na religião que ora professam,ou seja, “teriam se encontrado, alcançado a paz”.Finalmente, observamos que a explicação de rela-ção entre “conversão” e solução de “problemaspessoais”, principalmente de saúde, é encontradacom maior clareza, nos meios pentecostais e neo-pentecostais (P) e afro e umbanda (A).

Tabela 16 – Distribuição dos informantes, segundo a troca de religião, por religião, no município de Sa-pucaia do Sul, RS, 2004

Ainda em relação ao intercâmbio religioso, foiabordada a questão da freqüência a “atos religio-sos de outras religiões”. De um universo de 99respondentes, encontramos um percentual pou-co considerável de pessoas que afirmam freqüen-tarem atos fora de seu ambiente religioso: 14(15%). A grande maioria 70 (71%) confirma suanão-freqüência a atos religiosos alheios à sua reli-gião. O maior índice de fidelidade encontramosnos entrevistados da igreja católica (C), com88%, seguido pelos protestantes históricos (H),com 80%, pelos pentecostais e neopentecostais,

com 79%, pelos espíritas kardecistas (K), com67% e, finalmente, pelos afros e umbandistas (A),com 47%. (Tabela 17).

O meio afro e umbanda (A) demonstra, se-gundo dados coletados, uma receptividade acen-tuada ao intercâmbio religioso. Trinta e um porcento dos informantes deste meio disseram queaceitam esta prática com regularidade, embora afreqüência eventual tenha ficado marcada pelasrespostas obtidas como sendo estes eventos so-mente para a presença em batismos, festas, pri-meira comunhão, etc.

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Religião

Troca de religião – no (%)

Trocou Não trocou Outra Total

Religiões Afro e Umbanda 24 (77) 7 (23) 0 (00) 31 (100)

Espiritismo Kardecista 3 (100) 0 (00) 0 (00) 3 (100)

Igreja Católica 0 (00) 26 (100) 0 (00) 26 (100)

Igrejas Pent. e Neopentecostais 22 (67) 11 (33) 0 (00) 33 (100)

Igrejas Protestantes Históricas 4 (80) 1 (20) 0 (00) 5 (100)

Total 53 (54) 45 (46) 0 (00) 98 (100)Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.

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Tabela 17 – Freqüência a atos religiosos de outras religiões, por religião, no município de Sapucaia doSul, RS, 2004

Em outra proposição do questionário aplica-do, foi abordada a questão que diz respeito ao“diálogo inter-religioso” e à possibilidade de ha-ver “atividades em conjunto”, como é o caso dostrabalhos interconfessionais. A maioria das res-postas obtidas mostra boa receptividade, pois, 59(60%) de um grupo de 98 entrevistados a vêemcomo “positiva”. Somente 15% dos entrevista-dos se pronunciaram desfavoravelmente à possi-

bilidade de trabalhos em conjunto, enquanto18% a aceitam com “restrições”. O maior núme-ro dos que se mostraram favoráveis a esta possi-bilidade são católicos (C), com 73%. Logo apósestão os espíritas kardecistas (K), com 67%, de-pois os afros e umbandistas (A), com 61%, segui-dos pelos protestantes históricos (H), com 60%e, finalmente, pelos pentecostais e neopentecos-tais (P), com 48%. (Tabela 18)

Tabela 18 – Distribuição dos informantes, segundo a opinião sobre a possibilidade de realizar trabalhosconjuntos das religiões, por religião, no município de Sapucaia do Sul, RS, 2004

Os respondentes, em sua maioria, como já vi-mos, inclinam-se à possibilidade de contatos in-ter-religiosos. Os argumentos contrários giramem torno da perda identitária e no que se refere

aos rituais de cada ambiente religioso. Existe umapreocupação em termos rituais e doutrinais, ouseja, de estes serem conservados na sua originali-dade, sem aculturação.

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Religião

Freqüência a atos religiosos de outras religiões – no (%)

Regular Eventual Não freqüenta Atos ecumênicos Outros Total

Religiões Afro e Umbanda 10 (31) 5 (16) 15 (47) 0 (00) 2 (06) 32 (100)

Espiritismo Kardecista 0 (00) 1 (33) 2 (67) 0 (00) 0 (00) 3 (100)

Igreja Católica 2 (08) 1 (04) 23 (88) 0 (00) 0 (00) 26 (100)

Igrejas Pent. e Neopentecostais 2 (06) 4 (12) 26 (79) 1 (03) 0 (00) 33 (100)

Igrejas Protestantes Históricas 0 (00) 1 (20) 4 (80) 0 (00) 0 (00) 5 (100)

Total 14 (14) 12 (12) 70 (71) 1 (01) 2 (02) 99 (100)Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.

Religião

Possibilidade de realizar trabalhos conjuntos – no (%)

Existem Não existem Com restrições Outra Total

Religiões Afro e Umbanda 19 (61) 3 (10) 8 (26) 1 (03) 31 (100)

Espiritismo Kardecista 2 (67) 1 (33) 0 (00) 0 (00) 3 (100)

Igreja Católica 19 (73) 7 (27) 0 (00) 0 (00) 26 (100)

Igrejas Pent. e Neopentecostais 16 (48) 4 (13) 8 (24) 5 (15) 33 (100)

Igrejas Protestantes Históricas 3 (60) 0 (00) 1 (20) 1 (20) 5 (100)

Total 59 (60) 15 (15) 17 (18) 7 (07) 98 (100)Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.

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3.2 Algumas considerações teológicassobre a questão do diálogo inter-religioso em Sapucaia do Sul

A leitura teológica aqui proposta não tem apretensão de considerar do ponto de vista teoló-gico todos os aspectos presentes nos dados acu-mulados sobre religiões e religiosidade em Sapu-caia do Sul. Em vista disso, dá atenção a algunsaspectos particulares relevantes no contexto dadiversidade religiosa que caracteriza o contextosociogeográfico da pesquisa.

Um aspecto relevante a ser considerado é oque os dados indicam, tendo em vista o diálogointer-religioso tão necessário num contexto socio-cultural urbano em que pessoas de tradições reli-giosas e espirituais distintas convivem cotidiana-mente em grande proximidade. O conceito dediálogo inter-religioso aqui usado integra diver-sos sentidos. Ele abrange as disposições das pes-soas para uma apreciação positiva das outras reli-giões, para uma atitude respeitosa diante das suasopções religiosas até as condições para uma con-vivência pacífica e interação entre os membrosde diferentes religiões no sentido de dizer e fazeralgo juntos, tendo por base suas motivações reli-giosas. Para esta leitura, focalizamos nossa aten-ção especialmente sobre alguns dados recolhidosda pesquisa de opinião já diversas vezes referidanos itens anteriores: a percepção da própria reli-gião em relação às outras, as opiniões sobre acausa da diversidade religiosa, a concepção deverdadeira religião e as opiniões sobre as possibi-lidades de trabalhos em conjunto. São considera-dos os números apresentados em cada um dessesaspectos juntamente com as respostas apresenta-das nos questionários de opinião. Não serão fei-tas aqui considerações valorativas no sentido deabordagens recorrentes em nossos dias sobretendências ao indiferentismo e/ou relativismoreligioso.

Voltando aos dados já comentados anterior-mente, no que concerne à “percepção de sua reli-gião em relação às outras” (tabela 4), o númerode afirmações no sentido de que a “minha reli-gião é melhor” (48%) que as demais é bem mais

relevante do que o número das afirmações de quea “minha religião é certa” (27%). A pertença evinculação a uma determinada religião, geral-mente, pressupõem a adesão pessoal à fé que lheé característica. Por isso, é lógico esperar que aspessoas afirmem que a própria tradição religiosaé boa e melhor que as demais. Mas, além disso,observamos que as afirmações de que a própriareligião é melhor, comumente, se apóiam na ex-periência pessoal, indicando que as pessoas en-contram respostas e sentido para suas questõesexistenciais na religião à qual pertencem. Issotransparece em respostas do tipo já destacado an-tes: “a minha é melhor, pois na hora de angústia eenfermidade foi onde me encontrei” ou como aseguinte: “a minha (é) melhor, pois nela tenhoatuado com trabalhos e acredito que nela sou im-portante para as pessoas e para Deus”. Por si só,essas observações permitem supor que predomi-na entre os informantes um olhar positivo sobreas demais religiões, na medida em que implicam oreconhecimento de que as pessoas necessitam“encontrar-se” ou encontrar respostas existen-ciais satisfatórias na sua religião. A indicação des-ta postura, numa perspectiva positiva, ganhamaior consistência com a constatação de que vá-rias respostas são acompanhadas por ressalvasrespeitosas ou pelo cuidado de não fazer comen-tários valorativos em relação às outras religiões.Este modo de proceder aparece em expressõesrecorrentes, como “gosto da minha religião e nãoopino sobre as outras”, “não devemos criticar areligião dos outros”, “minha religião é boa, émuito importante. Não desejo comparar com asoutras”.

Tomadas no contexto dos questionários, asafirmações de que “todas as religiões são boas”(15%) se baseiam no pressuposto teológico deque as diversas religiões se referem a um únicoDeus, na função social das religiões e naquilo queelas são capazes de trazer de benefícios para aspessoas individualmente.

Se as afirmações de que a “minha religião émelhor” (para mim) forem consideradas junta-mente com as afirmações de que “todas sãoboas”, inferimos que predomina, entre os infor-

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mantes, uma disposição de abertura e acolhidafrente à pluralidade religiosa (63%), a qual con-trasta com a postura de fechamento que deduzi-mos da afirmação de que “a minha religião é cer-ta”(28%).

As opiniões a respeito das “causas da diversi-dade religiosa”, à primeira vista, parecem eviden-ciar uma apreciação predominantemente negati-va deste fato. (Tabela 5). Dados que apontam cau-sas de caráter negativo, como “falta de convic-ção”, “ignorância” e “interesses” (econômicos),correspondem à opinião de 53% das pessoas en-trevistadas, enquanto as indicações “liberdade re-ligiosa” e “diferenças doutrinais”, que têm umteor mais positivo, correspondem apenas a 36 %das opiniões.

A falta de convicção integra expressões, como“falta de fé em Deus”, “temor de Deus” ou “per-da da visão de Deus”. Já a categoria de “ignorân-cia”, articula idéias como “desvio dos manda-mentos” e não “seguimento da Bíblia”. Chama aatenção o significativo número de opiniões querelacionam a diversidade religiosa a interesseseconômicos (30%), as quais se traduzem em afir-mações diretas, como a já citada, de que “existemmuitas religiões só para ganhar dinheiro” ou deque o resultado da ganância ou do egoísmo queleva a “se aproveitar das pessoas”. Entre os da-dos que colocam, na origem da diversidade reli-giosa, as informações computadas nas categoriasde “liberdade religiosa” e “diferenças doutrinais”,se entrelaçam várias expressões que apontampara o desejo humano de proximidade e conheci-mento de Deus, o qual se dá de diferentes mo-dos, devido às diferenças humanas. Esta busca deDeus é motivada pela busca de ser feliz e pelabusca de solução para problemas e situações di-versas de sofrimento, como a doença, o desem-prego e a miséria, entre outros.

Se, à primeira vista, os dados computados,nesta questão, parecem indicar o predomínio deum olhar negativo sobre a diversidade religiosaem contraste com os dados relativos à atitude detolerância e aceitação, um olhar mais atento so-bre as entrevistas permite uma outra constatação.Em vez de acenar para uma intolerância frente às

outras religiões, as respostas que indicam causasde cunho negativo para a diversidade religiosamostram que, no acolhimento positivo da plura-lidade religiosa expresso na questão anterior, nãose trata simplesmente de uma tolerância banal,que admite tudo de maneira acrítica. Em vez dis-so, circula entre os informantes uma atitude críti-ca diante do que observam como desvios que cir-culam entre as religiões, distorcendo o sentidomais originário de sua existência.

O predomínio das opiniões que fundamen-tam a “concepção de verdadeira religião” (tabela6) na articulação entre “crença e vivência” (35%)sobre as opiniões que fundamentam esta concep-ção na “doutrina” (31%) também constitui fatorsignificativo, que reforça a abertura inter-religiosa,para pensarmos a abertura, quando associada àsopiniões centradas apenas na vivência (16%). Osinformantes que integram o primeiro grupo arti-culam, em suas respostas, a relação pessoal comDeus, na compreensão de que a verdadeira reli-gião se caracteriza pelo “encontro entre Deus e oser humano”, é “ligação com Deus”, “uma formade estar com Deus”, “crer em Deus”, “amor aDeus”, “gostar de Deus”, é “busca de Deus norespeito ao próximo”, “é aquela em que se acre-dita, que traz conforto e respeita nosso anseio”,paz ao coração, espiritualidade, bem-estar. Nasrespostas relacionadas ao terceiro grupo, desta-cam-se afirmações relacionadas com a ética e aprática decorrente da religião como critério, enfa-tizando a ajuda ao próximo, a coerência entre oque prega e pratica, o cuidado do pobre, um atode amor, a prática da caridade e a ajuda aos ou-tros. Já no grupo que defende a doutrina comoelemento distintivo da verdadeira religião, os ar-gumentos põem em relevo a fidelidade no uso,ensino da Palavra de Deus, do evangelho e daverdade, a obediência aos mandamentos e à pre-gação de Jesus Cristo. As opiniões que embasama concepção de verdadeira religião na “crença evivência” e na “vivência” perfazem um total de51% das respostas em contraste com 31% deopiniões apoiadas na doutrina. Esses dados fa-zem crer que a credibilidade inter-religiosa, aconstrução de relações de respeito mútuo e de

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apreciação positiva entre as religiões dependepredominantemente do testemunho de vida dosmembros e grupos das religiões, numa coerênciaentre crença e vivência.

Por outro lado, a leitura sobre a opinião dosinformantes quanto à “possibilidade das religiõesrealizarem trabalhos em conjunto” (tabela 18)permite indicar lugares privilegiados para o diálo-go inter-religioso. Constatamos que 60% das res-postas admitem a possibilidade de trabalhos con-juntos. Entre estas, destacamos que o trabalhoem conjunto não só é possível, mas também im-portante e necessário “se é para o bem, para me-lhorar a sociedade” e, especialmente, “ajudar ospobres”. Em função disso, observamos pelasopiniões dos informantes que as questões so-ciais mais urgentes que preocupam as pessoas,configuram-se como lugares privilegiados nosquais ganha especial sentido e possibilidade o diá-logo inter-religioso como aproximação e ação emcomum.

Os dados relativos à “fidelidade ou pertença emigração religiosa” são significativos para anali-sar a relação das pessoas e religiões, especialmen-te no que se refere ao que buscam nas religiões ecomo se dá esta busca. Tanto do ponto de vistateológico quanto antropológico, as religiões sãoconsideradas “caminhos de salvação”. O concei-to de “salvação” é essencialmente contextualiza-do, adquirindo uma configuração própria de umcontexto geográfico, histórico e socioculturalpara outro.

As repostas dos entrevistados às questões re-lativas à diversidade religiosa e à concepção deverdadeira religião, juntamente com a “análisedas práticas sociais”, indicam que as pessoas pro-curam nas religiões, principalmente respostas esentido para questões existenciais e a soluçãopara problemas pessoais concretos. O acentonão está principalmente na noção de fidelidade àdoutrina, à norma, e sim na relação pessoal e exis-tencial com a religião e com suas crenças e nos

efeitos da religião sobre a vida pessoal. Compre-endemos, assim, a significativa incidência de res-postas positivas à questão relativa à troca de reli-gião (tabela 16) ou de expressões de uma segundapertença religiosa (54%), normalmente ocasiona-da pela insatisfação com a religião anterior.Como já foi visto antes, destacam-se, nesta situa-ção, os afros e umbandistas (A) e os pentecostaise neopentecostais (P). Desse modo, a importânciadas opiniões de membros dessas mesmas reli-giões de que um “bom fiel” (tabela 15) se caracte-riza pelo “cumprimento dos deveres religiosos”não significa, necessariamente, fidelidade à pri-meira pertença religiosa.

A relevância do caráter pessoal e existencialfrente a uma certa fragilidade do aspecto doutri-nal na relação das pessoas com as religiões suscitaa pergunta pela capacidade de elas responderem ecorresponderem às demandas de seus adeptos.Conforme a análise apresentada, as práticas so-ciais desempenhadas pelas diversas religiões sãodiversificadas em cada uma delas e cobrem diver-sos campos das demandas de seus adeptos. Con-siderando comentário anterior relativo à tabela16, a religião da qual mais migram fiéis para ou-tras religiões é a religião católica (C), cujos mem-bros se dirigem prioritariamente para o meio reli-gioso afro e umbanda (A) e para as igrejas pente-costais e neopentecostais (P). Podemos inferirdeste fato uma dificuldade da igreja católica (C):sintonizar com as demandas pessoais e existen-ciais de seus adeptos, enquanto esta capacidadeparece estar mais presente nas religiões e igrejasque recebem os fiéis que dela se afastam. Consi-derando que práticas semelhantes são realizadasnas diversas religiões, surge a pergunta pela quali-ficação e caracterização destas práticas nos dife-rentes contextos religiosos, as quais tornam-semais adequadas a expectativas das pessoas emdeterminados contextos e menos em outros.Essa questão mereceria uma análise para a qual asentrevistas não oferecem elementos.

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4 Práticas sociais nos locais de culto religioso e

templos de Sapucaia do Sul

O trabalho de análise de Sapucaia do Sul, emseus princípios religiosos, demonstra uma cen-tralidade em algumas categorias mais freqüentesem relação às práticas sociais levantadas, pormeio dos cadastramentos dos locais de cultos re-ligiosos e templos.

Constatamos neste município que as práti-cas sociais mais enfatizadas estão centradas naformação na “doutrina”, na “promoção social”e na categoria “ajuda solidária.” Estes princípiosmostram a grande diferença dos demais muni-cípios, alinhando-se a formação religiosa na li-nha da doutrina e na promoção social da reli-gião. A tendência das práticas sociais, em algu-mas das religiões, em Sapucaia do Sul, é trazerpresente a formação baseada na prática da dou-trina. A religião católica (C) resgata, sobretudo,a memória da doutrina social e sacramental daigreja, uma expressão muito marcante nestarealidade pela dedicação e expansão da renova-ção carismática. Nas religiões afro e de umban-da (A), chama a atenção a ênfase que os seusmembros dão à “prática da caridade”. A orien-tação espiritual também se apresenta mais res-saltada neste meio religioso como expressão de“solidariedade”. Já no meio pentecostal e neo-pentecostal (P), a orientação espiritual segue osprincípios bíblicos.

Em geral, no meio religioso de Sapucaia doSul, aparece, como unanimidade, a prática da “as-sistência” e da “promoção social”, que são maisenfatizadas no meio religioso católico (C) e nomeio pentecostal e neopentecostal (P). Nas reli-giões afras e de umbanda (A), a tendência é seguiras orientações espirituais e a cura. Assim como aspráticas de assistência e promoção social aconte-cem em todas as religiões, a “ajuda solidária”

também se encontra presente em todos os locaisde cultos religiosos e templos. Essa prática tam-bém é explicitada no meio pentecostal e neopen-tecostal (P) e no católico (C).

Nas entrevistas complementares, que já fo-ram amplamente comentadas acima, notamosque, acerca da possibilidade sobre a realizaçãode trabalhos conjuntos na sociedade, existe umacerta predisposição, haja vista que buscam umasociedade mais humana e igualitária, onde sejapossível promover ações que induzam ao idealdesejado.

Em relação às posturas dadas sobre a “atua-ção na sociedade” percebemos, nas mesmas en-trevistas, algumas variações, interessantes de se-rem anotadas, entre as religiões. Na religião cató-lica (C), o eixo principal refere-se a “ações coleti-vas” e de “promoção humana”, que, por sua vez,procuram atingir grupos necessitados da comu-nidade. Aparecem ações junto a creches, gruposde risco, drogados, etc. O atendimento pessoal épouco referido, inclusive, observado como umalacuna dentro desse ambiente religioso. No meioafro e umbanda (A), a atuação refere-se principal-mente ao “atendimento pessoal”, conduzido pe-las mães-de-santo e líderes da comunidade. Ge-ralmente, este atendimento é de caráter “es-piritual” ou de “saúde”. Nas igrejas pentecostaise neopentecostais (P), também, evidencia-se oatendimento de caráter “espiritual” e de “saúde”,fazendo-se um aparte aos programas de atendi-mento a viciados, drogados e alcoólatras.

Indagados sobre o papel da religião na socie-dade, os entrevistados reagiram de formas tam-bém diferenciadas: no ambiente católico (C), opapel da religião na sociedade encontra respaldofrente às demandas sociais, tais como pobreza,

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grupos apoio e também, neste aspecto, encontra-mos indicadores referentes a auxílio individual(espiritual). O meio afro e umbandista (A) abordao papel de sua religião como relevante, uma vezconsubstanciado à ajuda que oferece às pessoas“o encontro destas”, “a espiritualidade”, “acura”, o “amparo”. Entre os pentecostais e neo-pentecostais (P), a observação gira, predominan-temente, em torno da “obra espiritual e da prega-ção da palavra de Deus”; esta última é observadacomo carência do homem. A cura pela palavra,também é recorrente nas observações destemeio. No ambiente do protestantismo histórico(H), a tendência de que a religião exerce um papelimportante também é evidente, porém não háum encaminhamento de tendências frente ao nú-mero pequeno de informantes.

As 151 fichas cadastrais mostram que, entreos diferentes grupos religiosos de Sapucaia doSul, encontramos citadas 249 práticas sociais, dasquais 79, 31,7%, mencionam a formação na práti-ca da doutrina. Em segundo lugar, comparece aassistência e a promoção social, com 71, 28,5%,das práticas, sendo grande parte delas relaciona-das aos clubes de mães e aos grupos de jovens.Quanto à categoria “ajuda solidária”, embora es-teja mais enfatizada no âmbito afro e umbanda(A), se encontra presente também nas outras reli-giões, totalizando 36 práticas, ou seja, 14,5% dototal identificado. Já a caridade e o atendimentomédico, como já foi mencionado, se concentramno meio afro e umbanda (A), com 23 práticas, ouseja, 9,2%. No meio religioso católico (C), apenasalgumas dessas práticas são informadas. As deatendimento médico e saúde totalizam 22 práti-cas, ou seja, 8,8% do total. As orientações espiri-tuais apresentam 18 práticas, o que significa 7,2%do total informado

O quadro religioso de Sapucaia do Sul mostraque, mesmo diante de uma prática mais centradana questão doutrinária, aparece, de forma tímida,uma certa preocupação com as práticas sociais. Aexpressão “doutrina” se apresenta de maneiramais elevada, sobretudo nos meios pentecostal eneopentecostal (P) e protestante histórico (H),que focam suas energias na categoria “salvar al-

mas para Jesus” ou “ganhar almas para Jesus.”No âmbito religioso católico (C), embora hajauma forte tendência ao carismatismo tradicionalda igreja, existe uma significativa responsabili-dade com as práticas sociais. De modo geral,percebemos quase uma unanimidade entre asreligiões, no que diz respeito à prática da “assis-tência” e “promoção social”, a formação na“doutrina” e na “ajuda solidária”. Já as práticassociais voltadas para a dimensão da cura de ma-les físicos, entendida como uma prática dos an-tepassados, aparecem mais freqüentes no meioafro e umbanda (A).

Em média, ocorrem, no município de Sapu-caia do Sul, aproximadamente 1,6 práticas sociaispor locais de culto e templo, mais precisamente,1,8. O meio religioso afro e umbanda (A), com 58locais e 74 práticas sociais, apresenta uma médiade 1,3 práticas por local. Seguem os meios religio-sos pentecostais e neopentecostais (P), com 46locais e 81 práticas sociais, com média igual a1,8, o religioso católico (C), com 29 locais, in-formando 51 práticas, com uma média de 1,8 e oprotestantismo histórico (H), com 9 locais e 26práticas sociais, e a média igual a 2,6. Já o espiri-tismo kardecista (K), com 3 locais, apresenta 12práticas sociais com média igual a 4 por local eas diversas (D), com 5 locais, apresentam 5 prá-ticas sociais e média igual a 1. Notamos que amédia de práticas por local de culto, de certaforma, inverte a ordem anterior, ou seja, nestecaso, aparece, em primeiro lugar, o meio karde-cista, com média de 4 práticas por local e, em se-gundo lugar, o protestantismo histórico (H), com2,6 práticas por local.

Chama a atenção a similitude do número depráticas sociais existente no meio religioso afroe umbanda (A) e no pentecostal e neopentecos-tal (P), apesar da grande diferença de atuaçãoreligiosa registrada por ambos os grupos.Enquanto os africanistas e os umbandistasbuscam acolher a todos sem distinção de cre-do, os pentecostais e neopentecostais demons-tram sua acolhida mediante a conversão. Já omeio religioso católico (C), em Sapucaia do Sul,se diferencia das demais cidades da região por

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apresentar tão somente três paróquias: duas selocalizam nas periferias do município e uma,no centro. As paróquias da periferia estão, decerta forma, mais envolvidas nas problemáti-cas da questão social, enquanto a central se di-reciona para uma prática religiosa mais baseadana doutrina sacramental da Igreja, onde apare-ce, sobretudo, um maior de número de práticassociais relacionadas à bênção da saúde. A reli-gião afro e umbanda (A) diferencia-se no enfo-que fortemente centrado na “prática da carida-de”, algo que já se apresenta conceitualmentemodificado em algumas religiões.

Outro aspecto que se destaca nos levantamen-tos dos cadastros deste município, são os númerosde locais de cultos religiosos afros e de umbanda(A) bastante abrangentes, o que não expressa umamaior freqüência. Embora haja um número me-nor de locais católicos (C), o número de freqüên-cia aparece de maneira significativa. Isso se deve,ainda, à forma de estrutura organizacional bemavantajada em relação às estruturas dos locais decultos afros e de umbanda (A), que se apresentamde forma muito precária. Contudo, constatamosum certo equilíbrio existente em ambas as reli-giões em relação às práticas de “assistência” e“promoção social”, à prática na formação da“doutrina” e à da “ajuda solidária”. (Tabela 20).

Tabela 20 – Práticas sociais vinculadas a locais de culto religioso e templos em Sapucaia do Sul

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Prática social

Número de práticas por religiões

A K C P H D Total

Assistência e promoção social 11 08 25 21 06 - 71

Doutrina 08 02 06 39 19 05 79

Orientação espiritual - - 07 11 - - 18

Ajuda 15 02 08 10 01 - 36

Caridade 23 - - - - - 23

Saúde e atendimento médico 17 - 05 - - - 22

Total de práticas 74 12 51 81 26 05 249Fonte: GDIREC-IHU, UNISINOS, 2004.

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5. Os locais de culto religioso e templos de Sapucaia

do Sul no contexto do “mundo das religiões”

de seis municípios da Região

O objetivo das tabelas que seguem é o de dis-ponibilizar, de forma agregada, as informaçõessobre o número de locais de culto religioso e tem-plos, período de fundação e freqüências semanaisa atos religiosos em municípios da Região Metro-politana de Porto Alegre, à medida que elas sãogeradas. Essas tabelas passam a ser atualizadascom a inclusão de mais um município que acaba-mos de analisar, Sapucaia do Sul. Normalmente,levantamos um município por ano. O de Sapucaiafoi contemplado com a reelaboração dos cadastra-mentos, já que foi um dos primeiros em que se ini-ciou o cadastro, já em meados dos anos 90.

Há, em termos gerais, uma variação na épocada coleta de dados nos municípios aqui em estu-do, por isso as comparações devem levar em con-ta os pequenos descompassos diferenciais nosanos de registro dos dados, que se estendem basi-camente de meados da década de 1990 até hoje.As informações coletadas em algumas cidadessão recentes, enquanto as de outras foram reuni-das já há mais tempo. A variação nos anos dos le-vantamentos tende a comprometer, particular-mente, o número de locais e a comparação das in-formações entre as cidades, devido ao movimen-

to entre os locais que sugiram posteriormente eos locais que devem ter sido fechados neste meiode tempo. Contudo, em termos comparativos eas tendências que se explicitam neste sentido, nosquadros resultantes, permitem novas elaboraçõesde hipóteses sobre a realidade religiosa dos muni-cípios investigados, apontando, inclusive, parainteressantes extrapolações possíveis para outroscontextos semelhantes.

A distribuição do número de locais de cultoreligioso e templos por religião mostra que, nu-mericamente, predominam as religiões pentecos-tais e neopentecostais (P), com 435 locais, e asafro e de umbanda (A), com 442 locais. Em se-guida, vem a religião católica (C), com 251 locais.Logo após, temos a protestante histórica (H),com 102 locais, e a kardecista (K), apresentan-do-se com 47 locais. Por fim, as diversas (D), so-mando um total de 50 locais ao todo. Os cadas-tramentos realizados nos seis municípios, ao lon-go dos últimos dez anos, somam um total de1327 locais de culto religioso e templos. Trata-sedos municípios de Cachoeirinha, Esteio, São Le-opoldo, Novo Hamburgo, Canoas e Sapucaia doSul, nesta ordem.

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Tabela 21 – Número de locais de culto religioso e templos, segundo a religião, em seis municípios daRegião Metropolitana de Porto Alegre, RS, Brasil, 2004

No que se refere ao período de fundação doslocais de culto religioso e templos, Sapucaia doSul segue a tendência já manifestada pelos demaismunicípios até este momento analisados. A gran-

de parte desses locais foi criada nos anos 1980 edepois, com exceção da Igreja Católica, cujamaioria foi fundada antes de 1990. (Tabela 22).

Tabela 22 – Distribuição dos locais de culto religioso e templos, segundo o ano de fundação, por reli-gião, em seis municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre, RS, Brasil, 2004

Quanto à freqüência a cultos e atos religiosos,Sapucaia do Sul também segue a tendência geraldos demais municípios da região já cadastrados.Em Sapucaia do Sul, existe um número expressi-vo de locais de culto religioso e templos afro e de

umbanda (A). Já o meio religioso católico (C)destaca-se pelo maior número de freqüências se-manais, comparativamente ao movimento dasdemais religiões no município. A exemplo do queacontece com o Santuário Sagrado Coração, jun-

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MunicípioReligião

Cachoeirinha Canoas Esteio SãoLeopoldo

NovoHamburgo

Sapucaiado Sul

Total

Afro e Umbanda (A) 56 131 55 101 41 58 442

Esp. Kardecista (K) 6 8 9 17 4 3 47

Católica (ICAR) (C) 14 54 44 65 45 29 251

Pent. e Neopent.(P) 73 65 18 136 97 46 435

Prot.Históricas (H) 12 13 4 28 35 10 102

Diversas (D) 4 4 4 17 16 5 50

Total 165 275 134 364 238 151 1.327Fonte: GDIREC-Instituto Humanitas Unisinos – IHU, UNISINOS, São Leopoldo, RS, Brasil, 2004. (Cadastros realizados noperíodo de 1994-2004).

Municípios

Relig.

Cachoeirinha

(Ano)

Canoas

(Ano)

Esteio

(Ano)

N.Hamb.

(Ano)

S. Leopoldo

(Ano)

Sapucaia do Sul

(Ano)

Total

(ano)

1980 a1989

1990 edep.

1980 a1989

1990 edep.

1980 a1989

1990 edep.

1980 a1989

1990 edep.

1980 e1989

1990 edep.

1980 a1989

1990 edep.

1980 a1989

1990 edep.

A 7 32 36 63 11 21 5 25 36 28 23 19 118 188

K 1 3 0 2 1 1 2 1 5 2 0 0 9 9

C 7 2 24 11 9 4 12 11 22 21 7 11 81 60

P 13 45 15 37 11 37 23 67 36 71 11 22 109 279

H 3 5 3 3 2 0 3 8 7 13 5 2 23 31

D 1 1 1 2 0 1 2 10 5 6 2 2 11 22

Total 32 88 79 118 34 64 47 122 111 141 48 56 351 589

Fonte: GDIREC-Instituto Humanitas Unisinos – IHU, UNISINOS, São Leopoldo, RS, Brasil, 2004. (Cadastros realizados noperíodo de 1994-2004).

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to ao túmulo do Padre Reus, em São Leopoldo,em Sapucaia do Sul, existe uma relativa concen-tração das freqüências católicas na Paróquia Nos-sa Senhora da Conceição, localizada no centro,onde, normalmente, são realizadas duas celebra-ções especiais que contam com uma participaçãomuito significativa de adeptos, que se deslocamde várias paróquias e municípios vizinhos. Essascelebrações são mobilizadas pelas bênçãos dasaúde e outras práticas muito procuradas, comforte conteúdo e metodologia pastoral, orientada

pela renovação carismática da Igreja. Em Sapu-caia do Sul, assim como em São Leopoldo, mes-mo que existam esses pólos atrativos especiais, asfreqüências católicas ficam em termos relativosmuito aquém das de Canoas, que, neste parti-cular, lidera os demais municípios com ummaior índice de freqüências católicas semanaisem atos religiosos, 48%. O índice de Sapucaiado Sul, onde 47% do total de freqüências reli-giosas semanais são do meio católico, é próxi-mo. (Tabela 23).

Tabela 23 – Freqüência semanal a atos religiosos (cultos, missas, sessões...), segundo religiões, em mu-nicípios da Região Metropolitana de Porto Alegre, RS, 2004

Por outro lado, observamos também que omeio religioso pentecostal e neopentecostal (P),aparece com freqüência elevada em todos os mu-nicípios até agora estudados. Na cidade de NovoHamburgo, por exemplo, onde se localiza o cen-tro da diocese católica, nos meios religiosos pen-tecostais e neopentecostais (P), o número de fre-

qüências chega a 51,6%, distanciando-se das fre-qüências do meio religioso católico (C), com26,2%.

Em números absolutos no que diz respeito àsfreqüências semanais, temos um quadro compa-rativo (tabela 24) muito estimulante em termosde questionamentos e hipóteses possíveis.

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MunicípiosReligião

Cachoeirinha Canoas Esteio São Leopoldo Novo Hamburgo Sapucaia do Sul

Afro e Umbanda (A) 4% 13% 11% 12% 4% 14%

Esp. Kardecista (K) 3% 2% 5% 6% 1% 1%

Católica (ICAR) (C) 32% 48% 30% 26% 26% 47%

Pent. e Neopentec.(P) 48% 30% 45% 45% 51% 32%

Protest. Históricas (H) 10% 6% 7% 5% 13% 4%

Diversas (D) 2% 1% 3% 6% 4% 2%

Total de freqüências semanais 36.162 88.212 31.031 53.413 68.802 29.047Fonte: GDIREC-Instituto Humanitas Unisinos – IHU, UNISINOS, São Leopoldo, RS, Brasil, 2004. (Cadastros realizados noperíodo de 1994 a 2004).

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Tabela 24 – Distribuição da freqüência semanal a atos religiosos, segundo a religião, em seis municípiosda Região Metropolitana de Porto Alegre, RS, Brasil, 2004

A freqüência semanal a atos religiosos (cultos,missas, sessões...), conforme o número de popu-lação existente em cada município, apresentauma distribuição bastante repetida entre os seismunicípios analisados. Sapucaia do Sul não é ex-ceção e, apesar de colocar-se um pouco abaixo

(tabela 25) dos demais municípios em termos depercentual de freqüência semanal, aproxima-se,no perfil geral de distribuição interna entre as re-ligiões, deles, em especial do município de Ca-noas. (Tabela 23).

Tabela 25 – Percentual total de freqüências semanais a atos religiosos (cultos, missas, sessões...), segun-do religiões, em relação à população existente em seis municípios da Região Metropolitana de PortoAlegre, RS, 2004

Se voltarmos o nosso olhar para as freqüênciassemanais nos municípios analisados, temos oquadro descrito a seguir. Iniciando pelo municí-pio de menor número de habitantes, Esteio, que,com uma população de 80.000 habitantes, contacom 31.031 freqüências semanais, ou seja, umnúmero correspondente a 39% da população.Esteio diferencia-se, nesse sentido, dos demaismunicípios estudados. O outro município quemais se aproxima dessa performance é Cachoeiri-

nha, que tem uma população de 107.000 habitan-tes e apresenta um número de 36.162, correspon-dente a 34%. Já Novo Hamburgo, com 236.193habitantes, somando um total de 68.802 freqüên-cias semanais, se alinha com o percentual médiodas freqüências nos municípios estudados, isto é,29%. Este percentual é também seguido de pertopor Canoas e São Leopoldo. Já comentamos aci-ma como Sapucaia do Sul, onde o número de fre-qüências semanais corresponde a 23 % da popu-

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MunicípioReligião

Cachoeirinha Canoas Esteio Novo Hamburgo São Leopoldo Sapucaia do Sul

Nº Nº Nº Nº N° Nº

Afro e Umbanda (A) 1.519 11.444 3.534 2.682 6.262 3.974

Esp. Kardecista (K) 1.230 1.737 1.457 588 2.944 404

Católica (ICAR) (C) 11.536 42.509 9.331 18.036 14.129 1.3743

Pent. e Neopentec.(P) 17.502 26.342 13.857 35.501 23.870 9.225

Protest. Históricas (H) 3.688 5.320 2.046 9.228 2.890 1.147

Diversas (D) 687 860 806 2.767 3.318 554

Total de freqüências semanais 36.162 88.212 31.031 68.802 53.413 29.047Fonte: GDIREC-Instituto Humanitas Unisinos – UNISINOS, São Leopoldo, RS, Brasil, 2004. (Cadastros realizados no pe-ríodo de 1994 a 2004).

MunicípioPopulação

Cachoeirinha Canoas Esteio São Leopoldo Novo Hamburgo Sapucaia do Sul Total

População Total 107.000 306.000 80.000 193.403 236.193 127.751 1.050347

Freqüências semanais 36.162 88.212 31.031 53.413 68.802 29.047 306.667

Percentual de freqüência 34 % 29 % 39 % 28 % 29 % 23% 29%Fonte: GDIREC-Instituto Humanitas Unisinos – IHU, UNISINOS, São Leopoldo, RS, Brasil, 2004.

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lação, se destaca negativamente, quanto a estepercentual.

Em linhas gerais, observamos que as religiõesestão fortemente presentes em todos os seis mu-nicípios da Região Metropolitana de Porto Ale-gre até aqui estudados. Como vimos, as freqüên-cias tendem a ser mais elevadas em alguns muni-cípios e menos elevadas em outros, mas issopode ser relativizado em parte. O que, no entan-to, não pode ser descurado é o fato de que, emtorno de 25 a 35% da população, freqüenta algu-ma atividade de celebração coletiva da fé ao lon-go de uma semana.

Numa visão geral, evidenciamos a predomi-nância de presença da religião católica (C), comum alto índice de freqüências marcantes em to-dos os seis municípios aqui apresentados. Embo-ra haja um número limitado de locais, esta reli-gião cultiva forte presença, de uma forma desta-cada, em dois municípios: Canoas, com 48% dototal de freqüências e Sapucaia do Sul, com 47%do total de freqüências. Há quem avente a hipó-tese de que este bom desempenho católico nosdois municípios se deva, de um lado, à forte tradi-ção das CEBs – Comunidades Eclesiais de Base

em Canoas e, de outro lado, o forte movimentoda Renovação Carismática, e, sobretudo, as cele-brações especiais na Paróquia Nossa Senhora daConceição, em Sapucaia do Sul.

Ao lado do impacto das freqüências católicas(C), observamos, fortemente, o grande número,repetido em todos os municípios, da freqüênciapentecostal e neopentecostal (P). Destaca-seaqui, Novo Hamburgo, com 51% da presença efreqüência deste meio religioso (P) e também Ca-choeirinha, com 48% de freqüências e de locaisde culto religioso cadastrados.

Por fim, não podemos deixar de sinalizar algoque chamou a atenção na tabela 23, em relação àfreqüência e presença do meio afro e umbanda(A), registrando 14% do total das freqüências se-manais em Sapucaia do Sul. É um pequeno dife-rencial em relação aos demais municípios estuda-dos. Também neste aspecto, o campo religiosode Sapucaia do Sul está mais próximo do de Ca-noas do que dos outros municípios em questão.É bastante curioso que os dois municípios quetêm a maior freqüência relativa católica (C), tam-bém apresentem uma destacada freqüência relati-va afro e umbandista (A).

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