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    OMNILATERALIDADE

    Justino de Sousa Junior

    O conceito de omnilateralidade de grande importncia

    para a reflexo em torno do problema da educaoem Marx.

    Ele se refere a uma formao humana oposta formao

    unilateral provocada pelo trabalhoalienado, pela diviso

    social do trabalho, pela reificao, pelas relaes burguesas

    estranhadas, enfim.

    Esse conceito no foi precisamente definido por Marx,

    todavia, em sua obra h! suficientes indicaes para "ue se#a

    compreendido como uma ruptura ampla e radical com o

    homem limitado da sociedade capitalista.

    $ unilateralidade burguesa se revela de diversas formas% de

    in&cio a partir da pr'pria separao em classes sociais

    antag(nicas, base segundo a "ual se desenvolvem modos

    diferentes de apropriao e explicao do real) revela*se

    ainda por meio do desenvolvimento dos indiv&duos em

    direes espec&ficas) pela especiali+ao da formao) pelo

    "uase exclusivo desenvolvimento no plano intelectual ou no

    plano manual) pela internali+ao de valores burgueses

    relacionados competitividade, ao individualismo, ego&smo,

    etc. Mas, acima de tudo, a unilateralidade burguesa se revela

    nas mais diversas formas de limitao decorrentes do

    http://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/autores.html#jusjunhttp://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/omn.htmlhttp://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/edu.htmlhttp://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/tra.htmlhttp://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/divsoctra.htmlhttp://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/divsoctra.htmlhttp://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/omn.htmlhttp://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/edu.htmlhttp://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/tra.htmlhttp://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/divsoctra.htmlhttp://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/divsoctra.htmlhttp://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/autores.html#jusjun
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    submetimento do con#unto da sociedade dinmica do

    sociometabolismo do capital. os Manuscritos de -//,

    "uando analisa a propriedade privada como a"uilo em "ue se

    condensa a criao do trabalho humano alienado, e sua

    contribuio decisiva para a definio de uma base social em

    "ue se impe a unilateralidade humana, Marx afirma%La propiedadad privada nos h vuelto tan estpidos y unilaterales, que un objeto solo es nuestro

    cuando lo tenemos y, por tanto, cuando existe para nosotros como capital o cunado lo poseemos

    directamente, cuando lo comemos, lo bebemos, lo vestimos, habitamos en l, etc., en unapalabra, cuando lo usamos (Marx e Enels, !"#$, p. %&'.

    $ esse dado fundamental da unilateralidade humana

    corresponde o fato de "ue a dinmica da vida social se

    submete a imperativos no determinados pelos indiv&duos

    associados segundo um plane#amento "ue observe acima de

    tudo as necessidades humanas mesmas. $ dinmica da vida

    social determinada pelo movimento de valori+ao do

    capital, "ue submete os indiv&duos, em geral, a agentes da

    sua 0vontade1.

    Embora no ha#a em Marx uma definio precisa do

    conceito deomnilateralidade, verdade "ue o autor a ela se

    refere sempre como a ruptura com o homem limitado da

    sociedade capitalista. Essa ruptura deve ser ampla e radical,

    isto , deve atingir uma gama muito variada de aspectos da

    formao do ser social, portanto, com expresses nos campos

    da moral, da tica, do fa+er pr!tico, da criao intelectual,

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    art&stica, da afetividade, da sensibilidade, da emoo, etc.

    Essa ruptura no implica, todavia, a compreenso de uma

    formao de indiv&duos geniais, mas, antes, de homens "ue

    se afirmam historicamente, "ue se reconhecem mutuamente

    em sua liberdade e submetem as relaes sociais a um

    controle coletivo, "ue superam a separao entre trabalho

    manual e intelectual e, especialmente, superam a

    mes"uinhe+, o individualismo e os preconceitos da vida social

    burguesa.

    O homem omnilateralno se define pelo "ue sabe, domina,

    gosta, conhece, muito menos pelo "ue possui, mas pela sua

    ampla abertura e disponibilidade para saber, dominar, gostar,

    conhecer coisas, pessoas, enfim, realidades 2 as mais

    diversas. O homemomnilateral a"uele "ue se define no

    propriamente pela ri"ue+a do "ue o preenche, mas pela

    ri"ue+a do "ue lhe falta e se torna absolutamente

    indispens!vel e imprescind&vel para o seu ser% a realidade

    exterior, natural e social criada pelo trabalho humano como

    manifestao humana livre.

    os Manuscritos de -//, especialmente, aparecem

    elementos fundamentais para a compreenso do conceito

    de omnilateralidade. 3 com base neles "ue se pode afirmar

    "ue o homem omnilaterale"uivale ao homem rico "ue Marx

    http://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/omn.htmlhttp://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/omn.htmlhttp://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/omn.htmlhttp://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/omn.htmlhttp://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/omn.htmlhttp://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/omn.htmlhttp://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/omn.htmlhttp://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/omn.html
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    desenvolve no citado texto% 4El hombre rico es al mismo

    tiempo, el hombre necesitado de uma totalidad de

    manifestaciones de vida humanas5 6Marx e Engels, -78, p.

    9:/, grifos do autor;. $"ui Marx discute a ri"ue+a humana

    identificando*a capacidade de desenvolver demandas

    humanas, isto , a ri"ue+a a"ui di+ respeito car

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    3 na sua ao sobre o mundo "ue o homem se afirma como

    tal, no entanto, ele precisa atuar como um todo sobre o real,

    com todas as suas faculdades humanas, todo seu potencial e

    no como ser fragmentado, pois s' assim ele poder! se

    encontrar ob#etivado como ser total diante de si mesmo.

    os /rundrisse,mais uma ve+, Marx apresenta elementos

    para a compreenso da omnilateralidadecomo ri"ue+a do

    desenvolvimento humano amplo e livre, nos seguintes

    termos%0hora bien, qu es, in act, la riquea despojada de su estrecha orma buruesa, sino la

    universalidad, impulsionada por el intercambio universal de las necesidades, las capacidades, los

    oces, las ueras productivas, etc., de los individuos1 2u es sino el desarrollo total del dominio

    del hombre sobre las ueras naturales, tanto las de la naturalea misma como las de la propia

    naturalea humana3 la absoluta potenciaci)n *de su capacidad- por obra del esuero de sus dotes

    creadoras, sin ms premisa que el desarrollo hist)rico precedente, que lleva a convertir en in en

    si esta totalidad del desarrollo, es decir, el desarrollo de todas las ueras humanas en cuanto

    tales, sin medirlo por uma pauta preestabelecida, y en que el hombre no se reproducir como alo

    unilateral, sino como una totalidad3 en que no tratar de seuir siendo lo que ya es o ha sido, sino

    que se incorporar al movimiento absoluto del devenir1 (Marx, !"#4, p. 564756%

    esse trecho evidencia*se a contradio entre a

    sociabilidade estranhada, com suas restries e

    unilateralidades de um lado, e auniversalidade, a totalidadedo desenvolvimento humano e o devenir, de outro. Marx

    associa o "ue se pode chamar deomnilateralidade, "ue se

    ope unilateralidade burguesa, ao movimento do devenir,

    das novas relaes emancipadas. $"ui aparece mais uma ve+

    com clare+a a idia da universalidade, termo com o "ual o

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    conceito de omnilateralidadeestabelece uma relao de

    correspond

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    grande indAstria. Em Marx, todavia, a proposta

    de politecniaad"uire novos relevos. @ara esse autor, ela era,

    acima de tudo, uma forma de se confrontar com a formao

    unilateral e os malef&cios da diviso do trabalhocapitalista.

    Ela representava a reunio de diversos aspectos "ue, uma

    ve+ associados, significariam uma formao mais elevada dos

    filhos dos trabalhadores em relao s demais classes sociais.

    $ssim, a experi

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    reali+ao plena apenas se#a poss&vel com a superao das

    determinaes hist'ricas da sociedade do capital. Elementos

    de ruptura para com as unilateralidades burguesas so

    exercitados cotidianamente por meio de relaes

    diferenciadas com a nature+a, com a propriedade, com o

    outro, com as crianas, com as artes, com o saber, por

    intermdio de relaes ticas de novo tipo, etc. @orm, de

    maneira plena, como ruptura ampla e radical,

    a omnilateralidades' se reali+a como pr!xis social, coletiva e

    livre, pois depende da universali+ao das relaes no*

    alienadas entre os indiv&duos, no intercmbio com a nature+a

    e no intercmbio social em geral.

    B! a politecnia claramente uma proposta "ue toma como

    ponto de partida a contribuio dos socialistas ut'picos e a

    observao do pr'prio movimento material da produo

    capitalista, "ue avana com a grande indAstria.

    $ politecnia proposta para se reali+ar no presente da

    opresso a "ue esto submetidos os trabalhadores com o

    prop'sito de a eles responder. $ politecniano alme#a

    alcanar a formao plena do homem livre, mas a formao

    tcnica e pol&tica, pr!tica e te'rica dos trabalhadores no

    sentido de elev!*los na busca da sua autotransformao em

    classe*para*si. @ortanto, a politecniano tem como condio

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    para sua reali+ao a ruptura ou superao das

    determinaes hist'ricas da sociedade do capital.

    Entre politecniae omnilateralidadeh! complexas

    mediaes colocadas pelo cotidiano da vida social alienada e

    estranhada. 3 nesse cotidiano "ue atua a formao

    politcnica, potencialmente capa+ de elevar as classes

    trabalhadoras a um patamar superior de compreenso de sua

    pr'pria condio social e hist'rica. $& atua a pr!xis

    revolucion!ria, principal ao pol&tico*pedag'gica da formao

    do proletariado como su#eito social transformador. esse

    processo so gestados elementos "ue devero ser

    consolidados * e "ue s' podem ser consolidados com a

    superao da alienao e do estranhamento 2 no interior das

    novas relaes no*estranhadas. =omente a partir dessas

    relaes poss&vel a formaoomnilateral.

    @ortanto, politecniae omnilateralidadese complementam

    no processo desde a formao do su#eito social revolucion!rio

    at a consolidao do =er social emancipado. =e

    a omnilateralidadecomo formao plena imposs&vel 2 seno

    de forma germinal * no seio das relaes estranhadas da

    realidade do trabalho abstrato, precisamente neste

    momento "ue a politecniaaparece como proposta de

    educao de grande importncia, at "ue se consolidem as

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    condies hist'ricas de possibilidade de reali+ao plena

    da omnilateralidade. $ politecnia a formao dos

    trabalhadores no mbito da sociedade capitalista "ue, unida

    aos outros elementos da proposta marxiana de educao,

    deve encontrar o caminho entre a exist

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    apropiaci)n de ste. La apropiaci)n de la realidad humana, su comportamiento hacia el objeto, es

    el ejercicio de la realidad humana= (Marx e Enels, !"#$, p. %&', rios do autor.

    Cuanto ao exposto, ve#amos o "ue afirma Manacorda

    6-77-, p. :; a respeito de um coment!rio elogioso de Marx,

    presente n1O >apital, em relao a Bohn Dellers, por ter este

    autor defendido desde os fins do sculo FGG a superao da

    educao e da diviso do trabalhoda poca por formarem

    indiv&duos limitados%

    Eis a: um homem educado com doutrinas n9o ociosas, com ocupa8;es n9o estpidas, capa delivrar7se da estreita esera de um trabalho dividido. >rata7se do tipo de homem onilateral que

    Marx prop;e, superior ao homem existente...

    Ora, como se observa claramente, o desta"ue de

    Manacorda est! na 0educao em doutrinas no ociosas1, nas

    0ocupaes no estApidas1 e na 0estreita esfera do trabalho

    dividido1, portanto, em dimenses dos campos do 0fa+er1 e do

    0saber1 "ue no necessariamente rompem com a sociabilidade

    estranhada. O indiv&duo alienadoHestranhado pode alcanar

    tudo isso a "ue Manacorda se refere mesmo sem atingir o

    ponto mais elevado da condio do homem livre "ue se

    reconhece no seu trabalho e na ampla coletividade livre.

    Os coment!rios elogiosos de Marx a indiv&duos dotados de

    talento criativo especial muitas ve+es so tomados como

    refer

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    respectivamente, a m!"uina a vapor, o tear e o navio a vapor

    6Marx, -77, p. 7;. Esse reconhecimento da capacidade

    inventiva acima da mdia ou ao talento especial est! longe de

    caracteri+ar uma formao omnilateral.

    Esse tipo de capacidade criativa individual sempre existiu

    na hist'ria da humanidade. Em todas as pocas houve

    homens e mulheres cu#a compet

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    permitam o livre desenvolvimento das potencialidades

    humanas.voltar ao topo

    PARA SABER MAISM$$>ON$, M. $. Marx e a +edaoia Moderna . =o @aulo% >orte+, -77-.M$N, P. ? r&tica da Economia @ol&tica. -Qa ed. Nio de Baneiro%Dertrand Drasil, -77, 9 vols.

    RRRRRRRR . Sr undris se -8*-. Gn % M$N e E SET=. ?bras undamentales.Mxico * L% Londo de >ultura econ'mica, -7, vols. 9*8.M$N e ESET=. Escritos de #uventud. Gn% M$N e ESET= ?bras [email protected]. Neimpresi'n. Mxico * L% Londo de >ultura Econ(mica, -78, vol. -.OSVEGN$, M. $. Educa89o, saber, produ89o em Marx e Enels . =o @aulo% >orte+,-77?.O=ETT$, @. >rabalho e perspectivas de orma89o dos trabalhadores@ para alm daorma89o politcnica. G Encontro Gnternacional de Wrabalho e @erspectivas de

    Lormao dos Wrabalhadores. Lortale+a, Vniversidade Lederal do >ear!, ?8 a ?7 desetembro de :??9.=$FG$G, . Wrabalho e Educao 2 Lundamentos hist'rico* ontol'gicos da relaotrabalho e educao. Aevista Brasileira de Educa89o , Nio de Baneiro, $nped, v.-:,n.Q/, #an.*abr., :??8=O$NE=, N. Entrevista com M!rio $. Manacorda. Aevista Covos Aumos. $no -7, nX./-, :??/.=OV=$ Br., B. de. Dociabilidade e Educa89o em Marx. issertao de Mestrado,Laculdade de Educao da VL>, Lortale+a, -77/.

    RRRRRRRR . @o lit ecn ia e oni la tera li dade em Mar x. >rabalho Educa89o . DeloYori+onte% EWE, #anH#ul, -777, n. , p. 7*--/.

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