Olhos Mudos

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A arte on-line convoca olhos vorazes para admirá-la. Os olhos hoje têm que ter fome. Ter boca, dentes, mãos e unhas. Os olhos da atualidade têm que ser nevrálgicos. Para agarrar e descobrir novos mundos. Para acessar infinitas possibilidades criativas. Graça Taguti e Alex Cabistani

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sintese de anexo desenvolvido durante meu curso de mestrado na UERJ

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A arte on-line convoca olhos vorazes para admirá-la.

Os olhos hoje têm que ter fome.

Ter boca, dentes, mãos e unhas.

Os olhos da atualidade têm que ser nevrálgicos.

Para agarrar e descobrir novos mundos.

Para acessar infinitas possibilidades criativas.

Graça Taguti e Alex Cabistani

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Olhos mudos, cegos, surdos.

BEIGUELMAN, Giselle. Olhos mudos. In: _______. Link-se: arte / mídia / política / cibercultura. São Paulo: Periópolis, 2006. p. 59-65. 

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“Arte on-line é bem mais que arte criada para a internet. Mas depende desta mídia para se realizar.

Seja ela e-poesia, cinema interativo, hiperdrama, web arte ou outra categoria que se invente.”

Giselle é professora da pós-graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP, colaboradora das revistas Trópico, Leonardo, Iowa Web Review e Cybertext. Coordena, com Marcus Bastos, o Grupo de Pesquisas "net art: perspectivas criativas e críticas", no CNPq, cujo portal, hospedado na Fapesp, é co-dirigido por Vera Bighetti

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Um tipo de arte que lida com diversos tipos de conexão, navegadores, velocidade de tráfego, qualidade de

monitor...

Seu trabalho aparece em antologias importantes e obras de referência devotadas às artes digitais on line. Seus projetos foram apresentados em exposições como 25a Bienal de São Paulo. Sua obra e biografia podem ser encontradas no site www.desvirtual.com seu estúdio de criação digital.

Suas pesquisas têm como referência teórica o desconstrutivismo de Jacques Derrida, a análise de arqueologias discursivas baseadas na obra de Michel Foucault e os princípios críticos de Félix Guattari (particularmente as noções de heterogênese maquínica e caosmose).

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- What We Will – “A broadband interactive drama”. (Autores: Giles Perring • James Waite • John Cayley • Douglas Cape). Trabalha

com fotografia panorâmica em um tour de cerca de 1 hora. Requer Apple Quicktime version 5.0.2 - 6.5.2, 7 (but not 7.1.1).

Uma exploração que permite vistas panorâmicas a partir de diferentes ângulos e posições dentro de uma mesma imagem.

O trabalho é excepcional porque demanda navegação entre dois panoramas superpostos. No site, o que ocupa o quadro superior da tela põe o observador na posição do controle do relógio da catedral de St, Paul, em Londres. Além da visão privilegiada que se tem da cidade, aí esta a chave para se entrar na narrativa, também panorâmica e interativa, que se passa no quadro inferior.

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“... Entra-se no mundo no mundo cotidiano dos personagens, penetrando em seus quartos, nas estações de metrô que utilizam,

e compartilhando seus momentos que intercalam suas atividades...”

“What We Will” é invenção narrativa, pois pode-se percorrer um tempo linear ou não-linear. Escolhe-se criar a própria sequência de acontecimentos. Disparar som e articulações novas, clicando em envelopes que aparecem em todas as cenas, nem sempre fáceis de

encontrar.

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Momento de reinventar a cronologia.

Pela linkagem de imagens sucessivas, cria-se não apenas um jogo interessante de planos, que incluem a investigação de técnicas pré-cinematográficas – os panoramas – em um ambiente pós-cinematográfico.

Usa-se a abusa-se daquilo que confere especificidade à imagem digital: sua possibilidade de ser mapeável, transformando-se em imagem-interface, atualizando a linguagem e os códigos visuais, no contexto híbrido da Internet.

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Narkes é um auto-retrato digital captado em webcam. De origem grega significa torpor e dá luz ao nome de Narciso, personagem da mitologia grega que preferia viver só, olhando o mundo através de um espelho

entorpecedor, Também é o nome de uma planta, cuja flor bonita e de vida curta é

venenosa.

Abordando não só deslocamento do eu intermediado por máscaras, a construção/desconstrução de uma personagem e a tentativa de buscar sentido na experiência do cotidiano, típico dos auto-retratos, Narkes está impregnado da discussão digital da representação: o corpo aprisionado na tela de bordas claramente definidas, em um não-lugar desprovido de espacialidade, tratado com particular descaso.

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Neste projeto de Helga Stein, percebe-se as fronteiras da fotografia e do vídeo, da Internet e das instalações

computadorizadas. Um auto-retrato estilhaçado da artista é dado ao olhar canibal do público.

Helga expõe em Narkes, não apenas a sociedade do espetáculo, mas a sociedade de controle, denunciada por Deleuze. A autora revela a emergência de um corpo escaneável, em detrimento da noção de um corpo bioquímico, que se viabiliza e realiza pela tela e através das lentes.

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Um mistério além da captação do olhar.

Em Narkes, o interesse plástico gera desgaste do significado da figura pela repetição sistemática de movimentos mecanizados, desprovidos de emoção e pelo desfoque extremado. Mais uma boneca do que um corpo vivo, que assume mobilidade restrita, fria e mórbida, o corpo videográfico é modulado, manipulado digitalmente e exposto de forma objetiva. Apropriação, justaposição e fragmentação da própria imagem geram significados repletos de mistério e, descontextualizados, têm seu sentido original alterado em tênues fronteiras.

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Narkes ironiza o mundo dos apáticos

“Narkes” brinca e desdenha do mundo dos que são incapazes de iniciar a “Guerrilha do Sofá”, conclamada por Ivana Bentes (UFRJ) , contra o mundo chato que “Tudo se confessa diante das câmeras e na TV. E tanto a confissão quanto a vigilância se tornam entretenimento, espetáculo e, frequentemente, tédio”.(...) A televisão realiza o cruzamento do panoptismo com o confessionário, como pensados por Foucault e Deleuze para caracterizar as sociedades disciplinares e de controle

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Os olhos devassam a alma

"Confessam-se os crimes, os pecados, os pensamentos e os desejos; confessam-se passado e sonhos, confessa-se a infância; confessam-se as próprias doenças e misérias; emprega-se a maior exatidão para dizer o mais difícil de ser dito; confessa-se em público, em particular, aos pais, aos educadores, ao médico, àqueles a quem se ama, a si próprios (...) "

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Agora convém prestar atenção à arte generativa de Vera Bighetti, que ataca as ilusões antropocentristas.

Em projetos como Acaso/ By Chance, Vera parece exigir a performance de um endoespectador, dotado de olhos em distintas partes do corpo, que se configura e se dá ao trabalho de ser formatado para uma experiência transitória.

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O que importa são os exercícios de subversão, que impliquem o trânsito de interfaces, agenciadoras de

alteridades fractais.

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.Acaso: Acontecimento

incerto ou imprevisível; sucesso imprevisto, casualidade, eventualidade. Acontecimento que não tem o grau de determinação normal que o homem poderia prever.     

 “                

   

                         

                 

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Acaso trabalha com a informação e a desinformação de modo que se tornem indistintas. Assim, perdem seu sentido original e se embaralham em novo contexto para uma nova informação.A imediatez da recepção e transmissão da informação, em

tempo real, garante seu caráter de imprevisibilidade. Execução do projeto

Ele é constituído de páginas em htm com uma série de links que podem ou não ser ativado ao passar o mouse.As imagens foram captadas da televisão por meio de uma maquina fotográfica e posteriormente manipuladas. O mesmo procedimento foi usado para a captação dos movies em AVI, que depois foram manipulados no Adobe Premier para serem finalizados em Shockwave do Flash como pequenos GIFS.

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É preciso tornar-se cúmplice da máquina e ceder à lógica das parcerias, que jogam com a alteridade de papéis de

criador e criatura, expondo as ambivalências entre o visível e o invisivel, o lugar do código e o lugar da imagem.

O efeito multiplicador da velha televisão agora pelo sistema digital com imagens, câmeras, webcam e polifonia sonora está reforçando cada vez mais seu caráter super-reativo e construindo um campo globalizado do imaginário coletivo.O espaço perde suas dimensões quando acessamos endereços espalhados pelo mundo. O projeto Acaso prescinde do movimento do corpo para reunir e relacionar textos, imagens, sons, construindo a informação na relação da interação que substitui o movimento e conseqüentemente diminui o tempo.

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history of moving imagesASCII - The Official History of Net.art volume III - Neste trabalho, filmes que marcaram a história do século XX são convertidos em código ASCII e transmitidos por um sistema de animação programado em java. Utilizado desde 1920, o ASCII é uma evolução do código Morse e era a base das velhas teleprinters, entre as quais o Telex foi o sistema mais popular até 1980, que converte sinais eléytricos um unidades matemáticas de 8bits, as quais são recombinadas em 256 símbolos. Com esse instrumental, procura-se interrogar não a história do cinema, mas as formas da produção da imagem no século XX.Assistimos ao desfiles de cenas-código de filmes comoking kong (1933) Psycho ( Psicose, 1960) Star Trek (1966) Blow Up (1966), concluindo com Deep Throat (Garganta Profunda, 1972)

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Os versos libertários de Mario de Andrade

Canto da minha maneira. Que me importa si me não entendem? Não tenho forças bastantes para me universalizar? Paciência. Como o vário alaúde que construí, me parto por essa selva selvagem da cidade. Como o homem primitivo cantarei a princípio só. Mas canto é agente simpático: faz renascer na alma dum outro predisposto ou apenas sinceramente curioso e livre, o mesmo estado lírico provocado em nós por alegrias, sofrimentos, ideais. Sempre hei de achar também algum, alguma que se embalarão à cadência libertária dos meus versos.

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Versos que não se escrevem para olhos mudos

Mas todo esse prefácio, com todo o disparate das teorias que contém, não vale coisíssima nenhuma. Quando escrevi “Paulicéia desvairada” não pensei em nada disto. Garanto porém que chorei, que cantei, que ri, que berrei… Eu vivo!

Aliás versos não se escrevem para leitura de olhos mudos. Versos cantam-se, urram-se, choram-se.

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Versos que demandam interação

Que não souber cantar não leia Paisagem n.º 1. Quem não souber urrar não leia Ode ao Burguês. Quem não souber rezar, não leia Religião. Desprezar: A Escalada. Sofrer: Colloque Sentimental. Perdoar: a cantiga do berço, um dos solos de Minha Loucura, das Enfibraturas do Ipiranga. Não continuo. Repugna-me dar a chave de meu livro.

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Versos autônomos e renovados

Quem for como eu tem essa chave.

E está acabada a escola poética “Desvairismo”.

Próximo livro fundarei outra.

E não quero discípulos. Em arte: escola = imbecilidade de muitos para vaidade dum só.”