Oitava edição

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Diretor: Filipe Resende | Diretores-adjuntos: Diogo Lopes, João Tavares, Rafael Reis e Raquel Trindade Edição nº8 (Junho de 2013) - Jornal Mensal Grande Entrevista Professora Ana Paula Rias Página 12 a 17 Grande Reportagem Faculdade de Engenharia: O fecho (in)esperado Páginas 18 a 20 Comunicação vs. Direito: Uma rivalidade histórica Páginas 6 a 8 Opinião de um convidado especial Martim Avillez Figueiredo, jornalista e diretor da Impresa Publishing escreve nesta última edição deste ano letivo! Página 21 Rede alumni tem um novo projeto de dinamização Página 5 Os finalistas de 2013 Página 4 Question à trois com Domingos Coimbra, baixista dos Capitão Fausto Páginas 24 e 25 Comunicação Social tem um novo plano curricular Página 9 a 11

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Esta é a oitava e última edição d'O Académico deste ano letivo. Voltamos para o ano para continuarmos a informar a FCH!

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Page 1: Oitava edição

Diretor: Filipe Resende | Diretores-adjuntos: Diogo Lopes, João Tavares, Rafael Reis e Raquel Trindade

Edição nº8 (Junho de 2013) - Jornal Mensal

Grande Entrevista

Professora Ana Paula Rias

Página 12 a 17

Grande

Reportagem

Faculdade de

Engenharia:

O fecho (in)esperado

Páginas 18 a 20

Comunicação

vs. Direito: Uma rivalidade histórica

Páginas 6 a 8

Opinião de um convidado especial Martim Avillez Figueiredo, jornalista e diretor da Impresa

Publishing escreve nesta última edição deste ano letivo! Página 21

Rede alumni tem um novo projeto de

dinamização Página 5

Os finalistas de 2013 Página 4

Question à trois com Domingos Coimbra, baixista dos Capitão Fausto

Páginas 24 e 25

Comunicação

Social tem um novo plano curricular

Página 9 a 11

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Editorial

Edição de Junho

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Diretor: Filipe Resende

Diretores-Adjuntos: Diogo Lopes, João Tavares, Rafael Reis e Raquel Ubach Trindade

Redação: Beatriz Isaac, Dário Alexandre, Gonçalo Fonseca, Inês Correia, Joana Portugal, José Paiva, Sara Plácido e Susana Gil Soares. Correção: Catarina Maia João Tavares Agradecimentos: Catarina Maia, Martim Avillez Figueiredo

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C hegámos à oitava edi-ção do Jornal O Acadé-mico e à última deste ano letivo. Se me per-

guntassem se valeu a pena fun-dar O Académico, a minha res-posta seria obviamente sim.

Foi um grande ano letivo que todos nós, membros do jornal gostámos de relatar. Enquanto diretor deste jornal foi sem dúvi-da uma experiência única na minha vida. Organizar uma publicação como esta, é algo muito concretizador estando num curso de comunicação/jornalismo.

Este ano aprendi muito. Desco-bri como liderar uma equipa, a ser mais competitivo, a valorizar mais as pessoas. Para além disso acho que compreendi o papel da informação e da comunicação (tendo em conta que é a princi-pal valência num curso de comu-nicação/jornalismo).

Esta aprendizagem felizmente concretizou-se num processo muito feliz de evolução. A pri-meira edição não tem nada a ver com estas últimas edições. Cres-cemos muito à custa dos nossos erros. No entanto, estou muito feliz com o atual estatuto que este jornal adquiriu no meio da Faculdade.

Tal como a Revista Éter de há muitos anos atrás, O Académico tem apostado numa regularidade que em muitos anteriores jornais não se via. Quando fui convidado para ser responsável pelo jornal na AEFCH, encontrei uma publica-ção que era tudo menos jornalis-mo. Não tinha uma estrutura fixa, organizada e não se perce-bia muito bem o que era. Quis

por na prática ideias simples que poderiam fazer algum sucesso já que o conceito de jornalismo era algo escasso.

Logo na primeira edição demos

a conhecer o Professor Jorge

Fazenda Lourenço como ninguém

o conhecia. Demos a conhecer

outros talentos dentro da Faculda-

de que não tinham a sua aptidão

reconhecida (como a fotografia,

críticas cinematográficas e literá-

rias). Mostrámos o talento da escri-

ta, através da poesia e da crónica.

Criámos um espaço livre para que

todos os alunos da Faculdade

escrevessem sobre aquilo que lhes

apetecesse.

Demos relevo às iniciativas

menos conhecidas dentro da Facul-

dade e da Universidade. Criámos

uma nova de forma de ver o jorna-

lismo universitário na nossa facul-

dade. Uma imprensa baseada no

trabalho em equipa, através do

jornalismo sério e de procura.

Mas também aceitámos as críti-

cas boas e menos positivas. Soube-

mos levantarmo-nos após as críti-

cas negativas de muitos daqueles

que consideram o nosso trabalho

irrelevante. Mas nunca caímos!

Crescemos com as sugestões de

todos aqueles que acreditavam em

nós e que nos deram força e ener-

gia para continuar.

Enquanto aluno finalista despe-

ço-me já com alguma saudade ten-

do em conta um projeto que me

deu tanto trabalho, assim como aos

meus adjuntos.

Faço votos que O Académico

para o ano com a Beatriz Isaac

possa continuar todo o trabalho

desenvolvido neste primeiro ano

letivo e que continue a crescer.

Obrigado a todos aqueles que

sempre confiaram em nós e sempre

leram as nossas edições enquanto

leitores assíduos.

Obrigado FCH!

Filipe Resende

Para o ano há mais... Faço votos que O

Académico para o

ano com a Beatriz

Isaac possa

continuar todo o

trabalho

desenvolvido neste

primeiro ano letivo

e que continue a

crescer.

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Oitava Edição

Pelouro dos Finalistas (+9)

A bênção e a cerimónia de fina-listas foram sem dúvida dois belíssimos eventos organizados pelo pelouro de finalistas da AEFCH.

Após a grande polémica do local da bênção, este departa-mento da AE esteve à altura de responder aos mais críticos acerca das duas cerimónias, por-que realizou um excelente traba-lho.

Jorge Fazenda Lourenço (+8)

Já foi entregue o Prémio Jorge de Sena ao Professor de Tradi-ção dos Grandes Livros (TGL), Jorge Fazenda Lourenço. A ceri-mónia teve lugar na Faculdade de Letras no passado dia 4 de junho.

O Professor de TGL da FCH esteve este ano em grande des-taque após este grande reconhe-cimento da sua obra “Matéria

Cúmplice. Cinco Aberturas e um

Prelúdio para Jorge de Sena.”

Férias (+20)

Após um ano letivo tão agitado, as férias sabem como mel e são merecidas por toda a comunida-de académica.

Mudança dos estudos de Comu-

nicação (+7)

Comunicação Social vai ter uma nova organização curricular para ser posta em prática já no próximo ano. Esta nova organi-zação introduz novas disciplinas importantes para a formação de futuros comunicadores.

Sobreposição dos Testes (-10)

Os anos mudam, mas a história é a mesma. Muitos são os alunos que se queixam de terem mais que 3 testes numa semana. Devia haver uma melhor calen-darização e um limite dos testes para um melhor desempenho dos alunos.

Pesos & Contrapesos

N o passado dia 20 de Maio, o Auditório Cardeal de Medeiros recebeu o ex-aluno

Ricardo Araújo Pereira, a convi-te da Reitoria da Universidade Católica Portuguesa. O conheci-do humorista participou num dos módulos do ciclo de confe-rências "Lições para o Futuro", cuja temática foi "Educar para a Alegria".

A sessão foi marcada pela boa disposição de Ricardo Araújo Pereira, enchendo a sala de sorrisos e gargalhadas. Pelo meio, foram tratados assuntos sérios, nomeadamente a ques-tão do riso na Bíblia ou a sua utilização entre pacientes onco-lógicos.

Destacou-se o fenómeno do riso e todas as áreas associadas a ele. Ricardo Araújo Pereira lançou questões pertinentes como "É ético rirmo-nos num mundo marcado pelas desigual-dades?" à qual respondeu "Sim, porque isso atenua-as", não

descurando o facto da distância e do tempo permitirem rir daquilo que é infeliz. Afirmou ainda que "o riso mais elevado é aquele em que nos rimos de nós próprios, em que o superego se ri do ego".

Num discurso marcado pela eloquência de palavras e uma fluidez tremenda, Ricardo Araújo Pereira recorreu frequentemen-te a autores como Aristóteles, Freud, Descartes, Kant, Shakes-peare, Schopenhauer e ainda personagens bíblicas para corro-borar as suas ideias, cativando toda a plateia.

Uma sessão onde se discuti-ram os mais variados assuntos, num misto de seriedade e humor, numa sucessão de temas interessantes. Relativamente ao humor, Ricardo Araújo Pereira lembra que este não é curativo mas "quando a pessoa ri é por-que tem esperança em qualquer coisa". Posto isto, o humorista expressou que num mundo com tantas preocupações e tristezas, há que destacar o riso e culmi-nou com a frase "abençoados os que tentam transmitir alegria".

Rafael Reis

Lições de Futuro Ricardo Araújo Pereira: Educar para a Alegria

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O ano de 2010 assinalou a entrada na Faculdade de Ciências Humanas (FCH) da UCP da grande maioria

dos finalistas do presente ano. Foram três anos de ensino, amiza-des, responsabilidade e muito estu-do, que irão culminar com a conclu-são das Licenciaturas em Comunica-ção Social e Cultural, Serviço Social e Línguas Estrangeiras Aplicadas.

Ao longo das Licenciaturas, os alunos puderam aprender com os melhores professores, descobrir novos temas, aprofundar assuntos pertinentes, escutar diversas perso-nalidades nas várias conferências que decorreram e ainda participar nos eventos recreativos que foram surgindo. Tudo isto contribuiu para o crescimento dos alunos, não só como estudantes, mas como futuros profissionais.

Mas a FCH vai mais longe e apre-senta iniciativas como o Mentoring FCH, o programa de voluntariado CATÓLICA ACTIVA, o FCH Challenge ou os Estágios de Verão, tudo esfor-ços feitos pela nossa Universidade para nos dar a possibilidade de, durante a Licenciatura, descobrir-mos novas experiências, explorar-mos novas áreas e contribuirmos positivamente para o nosso futuro.

Após uma viagem onde tanto se aprendeu e viveu, a Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Humanas decidiu organizar uma belíssima cerimónia de despedida dos alunos finalistas. Realizada no dia 17 de Maio, que contou com os alunos e as suas famílias, alguns pro-fessores e um sentimento de alegria e nostalgia ao celebrar o fim de mais uma etapa da vida.

As celebrações continuaram no dia seguinte, com a habitual Bênção

Os finalistas de 2013 Rafael Reis

das Pastas, evento que tomou lugar no Terreiro do Paço, onde os finalistas viram as suas pastas benzidas por D. José Policarpo, Cardeal Patriarca de Lisboa.

Quanto ao futuro, as opções são muitas e não geram unani-midade: alguns aventurar-se-ão de imediato no mercado de trabalho, colocando um térmi-no (por enquanto) à vida de estudante. Outros pretendem continuar os estudos académi-cos e irão apostar num Mes-trado, tendo a maioria como escolha preferencial a FCH, a qual apresenta um variado e interessante leque de mestra-dos que permitirão aos estu-dantes contribuir ainda mais para a sua aprendizagem e

alcançar um novo grau académi-co.

Seja qual for a escolha dos alunos, a UCP-FCH ficará para sempre na memória, não só como uma excelente instituição, mas como uma segunda casa, na qual os alunos tiveram muitas horas de aulas e de estudo, mas também de boa disposição. Trata-se de uma viagem com um final feliz e olhando para todo o per-curso feito e tudo o que foi pro-porcionado, os conselhos, as experiências, as lições de vida e uma excelente formação acadé-mica, são fatores que contribui-rão para o futuro dos finalistas, fazendo jus ao lema da nossa Faculdade: "Valor para Sempre!".

Seja qual for a escolha dos alunos, a UCP-FCH ficará para sempre

na memória, não só como uma excelente instituição, mas como

uma segunda casa, na qual os alunos tiveram muitas horas de

aulas e de estudo, mas também de boa disposição.

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Rede alumni tem um novo projeto de dinamização

Joana Portugal

S aberemos nós quem são os anti-gos alunos? Gos-taríamos nós de

manter contacto com os nossos atuais colegas?

Foi decorrente da necessidade de contactar com antigos colegas e ami-gos que a FCH decidiu aquando a comemoração dos 20 anos da sua refun-dação criar a Rede Alumni.

A Rede Alumni, é um sistema que propõe colocar antigos alunos da FCH em contacto para que antigas amizades não desapareçam em vão e ao mesmo tempo ser também, uma ferra-menta que permita encetar novos contactos e projetos profissionais.

A Professora Inês Espa-da Vieira, uma das impul-sionadoras diz-nos que a Rede Alumni “é já um pro-jeto com obra feita, isto é, já conta com várias participa-ções em eventos da univer-sidade, nomeadamente na Expocarreiras. Do mesmo modo, os mentores do Pro-grama Mentoring tendem a ser também antigos alu-nos.”

No entanto apesar de todo o esforço e paixão aplicados no projeto, este sofreu um período de estagnação causado por um

coordenados por Filipe Resende. Futuramente, a dinamização da

Rede Alumni passará pela inclusão de iniciativas que já decorrem no GADEP, particularmente o Programa Mentoring e o Job Shadowing. Nesta fase posterior de dinamização e visi-bilidade da Rede Alumni, a sua coor-denação ficará a cargo do gabinete de Comunicação e Marketing da FCH. Todavia, as redes sociais (Facebook e Linkedin) e o nosso Jornal serão também ferramentas de apoio ao crescimento da rede.

No que concerne ao nosso jornal, poderemos encontrar nas próximas edições, uma coluna destinada a antigos alunos.

lado pela dificuldade em contactar todos os antigos alunos e, por outro lado, pela diversidade de interesses e cursos da FCH.

Perante estes obstáculos os responsáveis pela Rede Alumni, com o apoio da Direção da FCH estão a trabalhar para a relançar e dinamizar. Não obstante para que tal se torne possível é necessário, segundo a Professora Patrícia Dias, “construir uma base de dados com informação atualizada sobre os alumni da FCH. Este é um primeiro passo pouco visível mas funda-mental para podermos comunicar de forma mais regular com os nos-sos alumni e também mobilizá-los.” Para esta reorganização da base de dados, a FCH conta também com a colaboração de alunos voluntários,

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Reportagem Especial Pá

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Q uando se fala de rivali-dade, normalmente associa-se a palavras como “disputa” ou

“concorrência”, mas será que é assim entre os alunos de Comu-nicação e os de Direito.

O Académico foi tentar perce-ber melhor a rivalidade que existe diariamente no antigo edifício da Universidade Católi-ca Portuguesa (UCP) de Lisboa. Esta disputa começa no bar: muitos são os cruzares de olha-res de dois cursos totalmente diferentes, às vezes até opostos entre si.

A história desta rivalidade começou na década de 90, altu-ra da fundação do curso de Comunicação Social, que teve como consequência a separação das faculdades.

Na antiga Católica existiam apenas duas faculdades, a Facul-dade de Teologia e a Faculdade de Ciências Humanas (que albergava cursos como Econo-mia, Gestão de Empresas e Direito).

Com a criação das diversas faculdades na UCP de Lisboa autonomizaram-se os cursos, levando à sua separação por áreas científicas. Criaram-se também novas áreas: uma delas, foi Comunicação.

Para além disso, construiu-se um novo edifício para alojar a então Faculdade de Ciências Empresarias e Económicas. Ficaram apenas os alunos de

Sara Plácido e Filipe Resende

Rivalidade entre Comunicação e Direito

Ciências Humanas (da área de Comunicação, na sua maioria), Direito e Teologia.

Como seria de esperar, estes últimos nunca se quiserem envolver em qualquer antago-nismo. Começava assim uma velha rivalidade, que foi alimen-tada durante anos a fio.

Entrevistámos quatro pes-soas pessoas: duas com ligações aos dois cursos, uma apenas a

Direito. Carlos Calaveiras, atual pro-

fessor de Rádio e um dos pri-meiros alunos de Comunicação na Católica, refere que, em ple-no ano de 1992, “circulou um abaixo-assinado [feito pelos alunos de Direito] que defendia a nossa expulsão por sermos "barulhentos e mal vestidos".

Contudo, Joana Colaço, antiga

aluna de Direito na UCP e atual

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docente nos dois cursos rivais, desconhece esta disputa, refe-rindo “que nunca identificou qualquer antagonismo entre os alunos de Direito e de Comuni-cação Social, quer enquanto aluna (de Direito), quer enquan-to docente.”.

Embora esta professora tenha frequentado a UCP em tempos diferentes de Carlos Calaveiras, confessa apenas que “tinha a ideia de que os alunos de Comu-nicação acabavam mais cedo os exames e as aulas e que eram mais descontraídos e menos formais.”

Mas avançando, para tempos mais recentes, Isabel Menezes Leitão, aluna finalista de Direito, considera que existe, de facto, uma rivalidade, acredita “que as pessoas nem sempre sabem bem lidar umas com as outras.” Existe uma certa tendência para a superioridade, para acharmos que somos melhores que os outros, para não aceitarmos aquilo que os nossos pares nos têm para oferecer.”

Tal como a professora Joana Colaço, Isabel acredita existirem algumas diferenças a nível de formalidades, pois “os alunos de Direito têm uma aparência mais «séria»”. Acrescenta, ainda, que os alunos de Comunicação “são alunos, como os outros.” E reve-la que, quando começou o seu curso, só se dava com alunos de Comunicação Social. Para esta aluna, estes “faziam-me sentir mais integrada. Nunca pensei propriamente que as pessoas deste ou daquele curso fossem melhores que as outras.”.

Por outro lado, esta disputa entre Comunicação e Direito deve-se também à diferença que existe entre os planos de estu-dos dos dois cursos. A título de exemplo, Comunicação é um curso com menos livros para se ler. Algo distinto no curso de Direito.

Joana Colaço refere ainda que “enquanto professora dos dois cursos, parece-me que os alunos de Direito estudam e têm mes-mo de estudar mais.” Desta for-ma, a docente explica que a “forma como o curso de Direito se encontra estruturado implica uma grande exigência de estudo e dedicação, para além do pró-prio conteúdo do curso que, pela sua relativa complexidade e tecnicidade, pressupõe muito trabalho.”

Para além disso, a professora salienta que “é claro que, em ambos os cursos, existem alu-nos mais e menos estudiosos, mas, de um modo geral, parece-me que os alunos de Direito são mais estudiosos.”

Já Isabel diz que existe uma perceção de que os alunos de Comunicação estudam menos:

“É o clássico! O aluno de Direito anda sempre com trinta livros atrás e o aluno de Comunicação Social traz uma caneta e um caderno (quando traz).”

Ainda assim, explícita que isto não representa, necessariamente, mais estudo: “Muitas vezes, os alunos de Direito compram uma data de livros que não têm tempo nem paciência para ler.” Acrescen-ta até que “os alunos de Comuni-cação fartam-se de fazer trabalhos e vídeos e outras coisas que nós, se calhar, não fazemos. É outro regime.” Isabel distingue também os critérios de cada curso: “Comunicação Social funciona muito à base de trabalhos. Em Direito, com avaliação contínua ou não, tens sempre de ir a exame.”

Em boa verdade, existe também um outro aspeto que alimenta esta rivalidade. A questão da separação entre os alunos de

“Comunicação Social funciona muito à

base de trabalhos. Em Direito, com avalia-

ção contínua ou não, tens sempre de ir a

exame.”

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Comunicação e Direito. É pouco provável vermos um aluno de Direito a dar-se com um aluno de Comunicação, e nos casos em que essa relação existe, os mesmos são mal vistos por se darem. Isa-bel refere que no seu primeiro ano teve essa sensação. Todavia, acrescenta que “as pessoas cres-cem e percebem que isso é um pouco tonto.”

No caso de Maria Silva (nome fictício), antiga aluna de Direito que está atualmente a frequentar o curso de Comunicação, refere que os seus colegas lhe falaram de uma divisória no bar: “segundo eles, a primeira metade do bar, onde está o próprio bar e as sopas, pertence aos alunos de Direito, e a segunda metade aos de Comunicação, e que não nos devíamos misturar.”

Mas esta atual aluna de Comuni-cação refere ainda que “em Direi-to falaram de Comunicação e diziam que não era um curso a sério e que estavam sempre em festa.” E que, em Comunicação, lhe “disseram que os de Direito eram muito sérios, que nunca se diver-tiam e que as praxes deles eram uma brincadeira.”

A nível de relações académicas, Maria prefere Comunicação por-que “as pessoas são mais simpáti-cas no geral e integraram-me bem”, algo que esta aluna não sen-tiu em Direito. Para além disso, na sua opinião, “a ajuda entre os colegas em Comunicação é enor-me e em Direito não, é mais cada um por si.”

Apesar desta grande diferença entre cursos, a professora Joana Colaço gosta muito de dar aulas a Comunicação e refere que “os alu-nos também mostram interesse pela mesma.”. Na sua opinião, “é uma grande experiência lidar com os alunos de Comunicação porque têm uma atitude e um interesse nas aulas completamente diferen-te em relação aos alunos de Direi-to. São bastante mais descontraí-

dos e têm áreas de interesse com-pletamente distintas.”

Outro aspeto, desconhecido por muitos alunos, é que uma das saí-das de Direito na Católica é Jorna-lismo. Algo estranho, tendo em conta que a principal saída de Comunicação Social é, também, Jornalismo.

Isabel refere que “Direito é um curso de banda larga e que permi-te seguir jornalismo, o que signifi-caria haver um certo cruzamento a nível de carreiras profissionais.” Mas explica que “são realidades um pouco diferentes.”

Durante muitos anos, em Portu-gal, os jornalistas tiravam o curso de Direito. Na própria Católica, existem diversos casos: Paulo Por-tas, atual político e ex-jornalista do conhecido jornal O Indepen-dente; Inês Serra Lopes, também antiga jornalista; ou mesmo o pro-fessor José Ramos Pinheiro, jorna-lista e atual administrador do Gru-po R/Com.

Com o aparecimento de Comu-nicação na UCP, este veio tirar uma das vertentes e possíveis saídas profissionais do curso de Direito. Contudo, tendo em conta o mercado de trabalho, esta reali-dade já está um pouco esquecida, visto que os media contratam ape-nas os licenciados em Comunica-ção.

Fica o apelo para que esta ideia se mantenha presente na mente de cada um, pois só assim esta rivalidade pode ganhar outro rumo e, quem sabe, num futuro próximo, resultar numa forte união entre os dois cursos, que seja benéfica não só para cada aluno como também para a Católi-ca, uma vez que, no final, o que importa são os conhecimentos e os laços que se criam, naquela que dizem ser “a melhor fase das nos-sas vidas”.

“segundo eles, a

primeira metade

do bar, onde está

o próprio bar e as

sopas,

pertence aos

alunos de Direito,

e a segunda

metade aos de

Comunicação, e

que não nos

devíamos

misturar.”.

“é uma grande

experiência lidar com

os alunos de

Comunicação porque

têm uma atitude e um

interesse nas aulas

completamente

diferente em relação

aos alunos de Direito.

São bastante mais

descontraídos e têm

áreas de

interesse

completamente

distintas.”.

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Novo Ano, Novo Plano Beatriz Isaac

A estrear no ano letivo pró-ximo de 2013/2014, sur-ge o novo Plano de Estu-

dos para a licenciatura em Comu-nicação Social e Cultural da Facul-dade de Ciências Humanas (FCH) da UCP. Plano este, nas palavras da Professora Doutora Catarina Burnay, surgido “de uma reflexão conjunta da área científica de ciências da comunicação, coorde-nada pelo Prof. Doutor Rogério Santos, da coordenação da licen-ciatura, da coordenação do mes-trado (Prof. Doutor Nelson Ribei-ro) e da coordenação de doutora-mento (Prof. Doutora Rita Figuei-ras).” Posteriormente, as modifi-cações foram apresentadas, anali-sadas e debatidas com a anterior Direção da FCH, novamente deba-tidas em Conselho Científico e, por último, homologadas pela Reito-ria.

O novo Plano de Estudos vem adaptar-se às necessidades quer dos alunos, quer da própria FCH, visto que o anterior estava já desadequado ao mercado de tra-balho atual. Desta forma, vem introduzir uma nova linha morfo-lógica à licenciatura que se pren-de, entre outros aspetos, com a definição de uma estrutura fixa de disciplinas para cada semestre, impedindo a escolha arbitrária e personalizada por parte de cada aluno, assim como, reduzindo a desordem em alturas de inscrição e de realização dos segundos ele-mentos de avaliação.

Para aprofundar as informa-ções já disponíveis sobre o novo Plano de Estudos, O Académico entrevistou a Professora Doutora Catarina Duff Burnay, que nos esclareceu sobre os aspetos mais relevantes concernentes a esta reforma.

Qual o motivo que precipitou a

alteração do plano de estudos do

curso de Comunicação Social e

Cultural da FCH?

Tendo em conta que as Ciências da Comunicação são, por nature-za, um campo teórico dinâmico, a área científica decidiu proceder a alterações do seu plano curricular. Esta decisão teve por base a observação direta do desempenho escolar dos alunos e da aferição das suas necessidades de aprendi-zagem teórica e prática na grande área – Comunicação – e nas suas variantes, assim como a observa-ção das tendências de estudo internacionais e das necessidades reais do mercado de trabalho. Assim sendo, as alterações empreendidas visam potenciar o desenvolvimento de competências essenciais aos futuros licenciados, para o desempenho da sua ativi-dade profissional numa sociedade e num mundo cada vez mais exi-gentes e competitivos.

Quais as principais alterações

efetuadas?

Destaco seis áreas de interven-ção:

1) Criação de uma disciplina nuclear (Economia) e passagem de uma disciplina de opção para nuclear (História dos Media), ofe-recendo o ensino das questões fundamentais da área económica orientadas para as humanidades e reforçando o ensino dos princí-pios básicos das ciências da comu-nicação;

2) Introdução de uma disciplina de formação complementar (Estatística para as Ciências Sociais), proporcionando aos alu-nos a aprendizagem das metodo-logias de construção e leitura crí-tica de dados empíricos;

3) Passagem de cinco variantes para quatro, fundindo-se Comuni-cação Digital com Comunicação Organizacional, mantendo a últi-ma designação;

4) Concessão de um maior peso

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à componente digital em todas as variantes, com a introdução de disciplinas que, atualmente, per-tencem apenas à variante digital;

5) Alterações na oferta de disci-plinas das variantes de forma a criar perfis com uma identidade própria;

6) Acerto entre o número de horas de contacto e o número de ECTS em algumas unidades curri-culares.

Crê que estas mudanças se efe-

tuam ao nível estrutural ou superfi-

cial?

A estrutura do curso não sofreu alterações. Continuam a existir disciplinas nucleares, que forne-cem as bases científicas teórico-metodológicas em Ciências da Comunicação e em áreas científi-cas contextuais; disciplinas de formação complementar, onde se prevê 1) a aprendizagem das Lín-guas e da Literatura, 2) o contacto com as ferramentas metodológi-cas e 3) a compreensão da rele-vância cultural do Cristianismo na História atendendo à matriz cató-lica da instituição; disciplinas específicas das variantes, onde se privilegia o ensino de matérias consideradas fulcrais para o conhecimento das práticas de cada uma das especialidades e disciplinas de opção, onde são desenvolvidos conteúdos progra-máticos dentro das Humanidades, permitindo aos alunos o contacto com áreas de fundamentação complementar aos seus percursos.

Também não considero que as mudanças sejam superficiais, dado que não foi uma simples operação de cosmética sem objeti-vos. Tratou-se de uma ação pon-derada, em que cada uma das seis áreas de intervenção tem um sen-tido. Diria, assim, que estas mudanças são uma espécie de intervenção cirúrgica de aperfei-çoamento e de adequação do cur-so aos dias de hoje.

De que forma é que esta mudan-

ça beneficiará os futuros estudan-

tes ou prejudicará os atuais licen-

ciados deste curso?

Esta não é a primeira alteração curricular. Desde 1991, ano em que nasceu a licenciatura, que a estrutura curricular já foi objeto de modificações de vária ordem com o objetivo de adequação dos seus conteúdos às necessidades do mercado e, por consequência, às necessidades operacionais dos alunos. Há sete anos atrás, quando os cursos foram modificados por imperativo da Declaração de Bolo-nha, a realidade nacional e inter-nacional da área da comunicação ditou a criação de uma oferta for-mativa em conformidade. Hoje, as realidades são outras, o mundo é outro, pelo que a Faculdade tem a obrigação de olhar para os seus cursos de forma reflexiva e acom-panhar as demandas do mercado, preparando profissionais qualifi-cados e, acima de tudo, com capa-cidade crítica e conhecimento abrangente não só sobre a área e s p e c í f i c a d e a tu a ç ã o

(Comunicação), mas também sobre outras áreas científicas contextuais, como os Estudos de Cultura, as Línguas e Literaturas, o Direito, a Gestão e a Economia. Tendo em conta a importância da realização do 2.º ciclo de ensino (Mestrado) a coordenação de área em Ciências da Comunicação procedeu, também, a uma ade-quação da sua oferta, com a cria-ção de uma nova variante (Comunicação Política), assim como a um ajuste nas unidades curriculares, destacando-se a oferta de ateliês de assessoria de imprensa, de guionismo, de reali-zação, de multimédia – espaços para o desenvolvimento de com-petências práticas e aplicadas à realidade.

Com um espaço formativo em articulação, todos os alunos (atuais e novos) colhem benefí-cios: os atuais alunos poderão ainda fazer, como opção, algumas das disciplinas novas da licencia-tura e prosseguir os seus estudos com a frequência de um 2.º ciclo renovado e, os novos alunos,

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a oportunidade de realizar uma licenciatura muito atual e alinha-da com a oferta formativa a nível internacional.

Gostaria de lembrar que, em 2013/2014, funcionará, apenas, o 1.º ano do novo plano curricu-lar, em 2014/2015 funcionarão os 1.º e 2.º anos e, em 2015/2016 estarão a funcionar os 3 anos em simultâneo.

Os atuais alunos continuarão a realizar a sua licenciatura de acordo com o plano de estudos em vigor.

Fica, pois, claro que estas alte-

rações têm em vista a formação mais completa possível dos alu-

nos que escolhem a FCH como instituição de ensino, gerando profissionais competentes e eclé-ticos adaptados ao mercado da Comunicação Social, em constan-te mutação. Não obstante, é tam-bém evidente que os alunos recém-licenciados não poderão usufruir destas salutares mudan-ças, que em tanto contribuiriam para a sua formação, restando-lhes a opção de complemento do seu percurso académico median-te a inscrição em 2º ciclo de ensi-no. Por outro lado, quanto aos alunos que frequentam atual-mente os 1º e 2º anos de licen-ciatura nem tudo está perdido!

Têm ainda a possibilidade de completar o seu percurso aca-démico à medida do novo Plano de Estudos, quer inscrevendo-se em disciplinas recentemente tornadas nucleares, quer em novas disciplinas opcionais, que vêm trazer uma lufada de ar fresco, no que toca à variedade curricular.

Concluindo, esta é uma refor-ma que creio vir a ser bem rece-bida junto da comunidade estu-dantil da FCH, mesmo pelo facto de ir ao encontro de bastantes das reivindicações efetuadas presentemente.

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Comunicado d’O Académico Pá

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A direção deste jornal enquanto órgão de gestão e de coordenação dos conteú-

dos quer apenas notificar a comuni-dade académica da Faculdade de Ciências Humanas (FCH) da Univer-sidade Católica Portuguesa (UCP) de que já nomeou a nova direção deste mesmo jornal para o próximo ano letivo.

O nome apresentado às duas lis-tas concorrentes para a Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Humanas do próximo ano foi a aluna de Comunicação Social e Cultural, Beatriz Isaac. A escolha deste nome deve-se ao grande empenho que esta colega demons-trou enquanto colaboradora da redação no presente ano letivo.

Com a nomeação deste nome, também foi criado um estatuto edi-torial assim como um regulamento, para que não haja dúvidas relativa-mente às próximas eleições para a AEFCH.

Estatuto Editorial

A qualidade do jornalismo é um aspeto fundamental na imprensa escrita. Os objetivos do jornal O Académico passam por essas linhas orientadoras da qualidade jornalís-tica:

O Académico é uma publicação dos alunos da Faculdade de Ciên-cias Humanas (FCH) da Universida-de Católica Portuguesa (UCP). É um jornal representante máximo de todos os alunos, independentemen-te do grau académico.

O Académico é um jornal mensal de informação relativa ao mundo FCH/UCP. É totalmente indepen-dente do poder político, ideológico e económico.

O Académico é um jornal sem fins lucrativos e será sempre gratuito para todos os alunos da FCH, assim como professores e funcionários.

O Académico é um jornal que tem como ideal máximo o jornalismo de qualidade.

O Académico aposta numa infor-mação diversificada tentando dar

uma visão plural dos acontecimen-tos relatados.

O Académico não toma partido de nenhuma força política ou econó-mica, assim como das listas para a AEFCH.

O Académico é responsável perante a comunidade académica da FCH, numa relação rigorosa ten-do sempre como ideal informar de forma transparente e séria.

Regulamento do Jornal O Académi-

co:

1. A edição d’O Académico é livre e autónoma da AEFCH.

2. A AEFCH é detentora do jornal O Académico, mas consoante a legislação em vigor, não pode influenciar qualquer conteúdo d’O Académico.

3. Toda a edição deste jornal é feita pela Direção d’O Académico, assim como a respetiva estrutura e organização.

4. Os artigos são escritos por alunos da FCH independentemente do curso, tendo depois um processo de edição pela direção.

5. A direção é constituída por um diretor e os respetivos diretores-adjuntos.

6. Os diretores deste jornal são nomeados tendo em conta a esco-lha da direção anterior e as listas que concorrem à AEFCH.

7. O jornal O Académico, é um jornal exclusivo da FCH, mas pode relatar eventos dentro da UCP assim como fora do mundo desta universidade.

8.O Jornal O Académico tem como pilar máximo ético e moral o código deontológico dos jornalistas aprovado em 1993.

9. O jornal O Académico é total-mente isento de campanhas para a AEFCH e não deve tomar partido de nenhuma lista.

10. O jornal O Académico é dos alunos, e não tem qualquer interfe-rência dos órgãos máximos da FCH/UCP.

“A qualidade do

jornalismo é um

aspeto

fundamental na

imprensa

escrita.

Os objetivos do

jornal

O Académico

passam por

essas linhas

orientadoras da

qualidade

jornalística”

O nome apresentado às

duas listas

concorrentes para a

Associação de

Estudantes da

Faculdade de

Ciências Humanas do

próximo ano foi a

aluna de

Comunicação Social e

Cultural,

Beatriz Isaac.

A escolha deste nome

deve-se ao grande

empenho que esta

colega demonstrou

enquanto colaboradora

da redação no presente

ano letivo.

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Ana Paula Rias Filipe Resende

Não foi bem uma entrevista, foi uma

conversa, com uma professora

“amiga” de todos alunos

H istória e Ensino são, sem margem para dúvidas, as suas maiores paixões. Nas suas aulas encanta-

se com os factos, datas e perso-nalidades da história contempo-rânea. Vive as aulas como nin-guém e contagia todos os seus alunos. Fomos conhecer melhor esta simpática professora que é, para muitos, uma das figuras incontornáveis da FCH:

Quais são as pessoas mais

importantes na sua vida?

É uma pergunta complicada! Mas sem dúvida que é a minha família: o meu marido, com quem estou casada há 39 anos, os meus filhos, os meus netos... Esses são de facto um núcleo fundamental na minha vida.

Depois os meus amigos e ami-gas, que são também algo de absolutamente elementar desde de sempre. Nos momentos mais difíceis eles são muito importan-tes. Por vezes nem é preciso dizerem nada, e mesmo às vezes até é melhor que nem digam nada. Mas sabemos que quando precisamos deles, eles estão lá. Eu tenho o privilégio de ter ami-gos extraordinários. Acho que não é um número assim tão grande, mas aqueles que tenho são excecionais.

Por último, os meus alunos, porque fazem parte da minha vida. Dou aulas há 34 anos e cla-ramente que marcam toda a minha vida. Tenho cerca de 180 a 300 alunos por ano e, também como em tudo, há alguns alunos com quem criamos amizades. Tenho amigos que foram meus alunos e minhas alunas.

meus alunos e minhas alunas. Em termos humanos, de facto,

estas são as pessoas mais impor-tantes na minha vida.

Neste caso, tem muitos amigos

aqui na faculdade.

Tenho, claramente. Este é o sítio onde trabalho há mais tem-po. Eu e a Professora Isabel Gil somos as únicas professoras que estamos cá desde do início, assim como a Ana Morais (secretária) que, aliás, foi minha aluna noutras circunstâncias.

Acompanhei o nascimento des-te curso (Comunicação Social), é verdade que tivemos momentos mais complicados e difíceis.

Mas, entre aqueles primeiros colegas, o elo era tão forte que foi impossível quebrar essa ami-zade. Foi uma construção em conjunto, em que todos cresce-mos e isso senti sempre muito. Aquele espírito de entreajuda, o espírito de fraternidade, existiu no sentido mais literal da pala-vra. Acho que é uma das coisas que mais me agrada ao trabalhar aqui. É sentir que não venho ape-nas para um local de trabalho, mas também para um local onde tenho grandes amigos. Há aqui algumas pessoas por quem tenho uma enorme admiração e um enorme respeito intelectual e isso é muito gratificante.

A professora sempre se interes-

sou por História?

Não! Eu sou uma pessoa que gosta de muita coisa. Eu fiz aqui-lo que já não acontece convosco, e escolhi a alínea E para ir para Medicina. Eu fiz todas aquelas disciplinas de ciências: Matemá-

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tica, Física, Ciências Naturais... Tínhamos também duas cadeiras em comum com todas as outras alíneas, que era a Filosofia e a célebre disciplina que falo nas minhas aulas, Orientação Política da Nação na Escola D. Leonor (ensino oficial). Aliás, eu sou a prova da exigência do ensino oficial.

Mas depois tive um problema de saúde complicado e confesso que só o cheiro a hospitais me punha de tal maneira que Medi-cina não dava. Depois, as áreas que eu mais gostava eram a His-tória e a Filosofia. Mas a minha grande paixão era a Filosofia. Aliás, fui a melhor aluna do Liceu nesta disciplina.

Quando mudei de Medicina para Filosofia, dei um grande desgosto ao meu pai, até mais que à minha mãe.

Os meus pais tiveram sempre a ideia de me darem um curso que, aliás, representava aquela gera-ção dos anos 50 e 60, em que a classe média sentia que os estu-dos eram aquilo que fazia a dife-rença na vida das pessoas, de tal maneira que queriam que os seus filhos tivessem esse instru-mento. Sempre foi uma luta com o meu pai, e bastante séria, mas eu venci porque não queria ir para Medicina.

Depois consegui fazer dois anos num ano. Faltavam-me as outras cadeiras que não tinha tido antes: a História, o Grego, o Latim e a Literatura, que eram as quatro cadeiras que precisava para entrar em Filosofia.

O curso na altura era Histórico-filosóficas. Gostava também imenso de história, tal como Filo-sofia, portanto era a junção de duas áreas que me agradavam muito.

Fui para um instituto, o Crisfal, que ainda existe, e tinha um con-junto de professores banidos do ensino oficial, pelas suas ideolo-gias políticas e que só encontra-vam lugar nestes colégios, assim

como no Colégio Moderno. Tive um leque de professores

excelente. Toda a gente me dizia que não ia conseguir fazer as quatro cadeiras. É claro que con-segui, até pela questão de mos-trar aquilo que era capaz e que era aquilo que eu queria. Tive depois a sorte de ter o Professor Borges Coelho, que era um gran-de professor de história. No ano em que terminei, Veiga Simão separou o curso de Histórico-Filosóficas em duas licenciaturas distintas. Portanto, a Filosofia e História foram separadas e tive que optar. Foi uma escolha mui-to difícil porque balancei imenso e, depois de ter tido o Borges Coelho, fiquei de tal maneira fascinada que acabei por optar por História.

E a faculdade?

Quando cheguei à faculdade foi uma coisa absolutamente terrí-vel. Os primeiros tempos foram para esquecer. Não dá para con-tar a sensação, era horrível. Para já, não conhecia ninguém. Depois, estava naqueles anfitea-tros gigantescos e pesados.

A Escola D. Leonor era um sítio onde nos conhecíamos todos e, de repente, as pessoas estavam separadas e era uma sensação terrível.

No princípio não gostava de nada! Eu pensava: “Isto não pode ser assim, então eu mudo de uma coisa para outra e é isto?”

Tínhamos Pré-História e tive um professor para esquecer. Tive um outro professor, extraordinário, mas tive pena de o ter tido com apenas 17 anos. Eu percebi que ele era alguém absolutamente extraordinário, era o Padre Manuel Antunes. Só falava 16 línguas. Dava a Ilíada e dizia: “Já leram a Ilíada em grego não já?”. Nós ficávamos tão envergonhados que não o que-ríamos dececionar. Em portu-guês já pouca gente lia, quanto mais em grego. Não lhe passava

pela cabeça que não tivéssemos lido a Ilíada em grego. Nós tam-bém não tínhamos coragem de lhe dizer onde estávamos em compa-ração com aquilo que ele pensava onde devíamos estar.

Aquele primeiro ano foi qual-quer coisa de histórico e, ainda por cima, estávamos perto da Revolução. Depois do 25 de abril a Faculdade foi tomada e todo aque-le departamento de História era todo muito ligado ao Partido Comunista. Mesmo os próprios professores eram todos ligados ao comunismo. Ficámos todos forma-dos em marxismo, de trás para frente e de frente para trás. Histó-ria, enfim, isso era completamente secundário. Aprendi muitas coi-sas, mas outras ficaram por aprender.

Onde é que estava quando foi o 25

de abril e o que representou esta

data na sua vida?

Foi numa quinta-feira, lembro-me como se fosse hoje. Foi uma data muito ligada à minha vida pessoal. O meu marido, por exem-plo, estava em Mafra e tinha entrado nessa semana na recruta. Na altura namorávamos e ele aca-bou por vir, já que os oficiais man-daram os recrutas embora.

Mas foi uma verdadeira explo-são e excitação. A queda daquele regime era algo muito desejado pela minha geração. Devo dizer que, para mim, o Marcelismo era

Ficámos todos forma-

dos em marxismo, de

trás para frente e de

frente para trás. Histó-

ria, enfim, isso era com-

pletamente secundário.

Aprendi muitas coisas,

mas outras ficaram por

aprender.

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muito pior que o Salazarismo. Por um lado, porque eu vivi muito mais o Marcelismo, até porque tinha idade de pensar. Por outro, o que nós sentíamos e pensávamos era que o Marcelo Caetano era muito mais anacrónico do que Salazar.

Salazar tinha tido um tempo. Marcelo Caetano tinha demonstra-do uma esperança de mudança, mas depois voltou tudo à estaca zero. Na altura tinha aberto aque-las janelas e portas, mas já não havia maneira de voltar atrás. De facto, o 25 de Abril foi uma grande expressão em que participei. Foi, sem dúvida, uma festa extraordi-nária.

Talvez ainda não soubéssemos o que queríamos, mas já é o habitual nestas circunstâncias e, para quem estuda história, isto é óbvio e evi-dente. O que nós queríamos era a queda daquilo. O que pretendía-mos a seguir, logo se via. Não é por acaso que apareceram 60 partidos num país com o tamanho do nosso. Acho que isto diz tudo.

A professora disse uma vez numa

das suas aulas que gosta muito de

viajar. Até já foi à China sozinha,

não é verdade?

Já fui à China sozinha. Quer dizer, não fui totalmente sozinha, fui com um grupo de amigos. Mas estava sozinha, enquanto que as minhas amigas iam com os maridos. O meu marido, nestas coisas, é muito europeu. Eu também, mas gosto de conhecer coisas novas e, nestas circunstâncias, ele não me acom-panha, portanto não deixo de ir porque gosto.

A China foi uma experiência mar-cante na minha vida. É uma coisa diferente porque, quando vamos para Veneza, Paris ou Berlim, vamos à espera de conhecer coisas bonitas, como espetáculos e museus. A China é uma espécie de visita de estudo. Para mim, foi sempre muito vivido. Não estou a dizer que não tem coisas lindíssi-mas, porque tem. Mas é muito mais que isso. É uma realidade tão diferente que foi uma lição, no sen-

tido em que temos que nos despir completamente do que são os nossos pré-conceitos para tentar-mos perceber o que está ali. É tão diverso que não vale a pena ten-tarmos com os nossos olhos, entender o que ali se passa.

É um choque muito grande por-que, quando lá estive pela primei-ra vez, foi uma violência para nós, europeus, com um nível de vida completamente diferente, perceber como era a vida daque-las pessoas. Era uma realidade completamente assustadora a todos os níveis, inclusivamente os crimes que se fizeram em rela-ção à natureza.

As montanhas estavam comple-tamente desventradas, não havia uma estrada. Era uma confusão e desorganização. E o mais sur-preendente é que as pessoas tinham um ar feliz. Isso foi algo que me surpreendeu. Não havia casas, aquele espaço que nós temos ideia não existia. Portas abertas. As pessoas todas cá fora. Tudo tão diferente. Entrei por Macau e a diferença é tão brutal que é muito assustadora.

A professora gosta mais de dar

aulas ou de fazer investigação?

Não consigo separar uma coisa da outra. O Orlando Ribeiro dizia que o bom professor era o bom investigador. Eu tenho o enorme privilégio de ler um livro de histó-ria como leio um romance. Eu sou uma leitora convulsa. Uma das minhas maiores conquistas foi no dia que aprendi a ler e que tive a possibilidade de ler por mim pró-pria. Portanto, para mim uma coisa não se diferencia da outra. Eu acho que ser professor implica que a pessoa nunca pare e tenha que estar permanentemente a investi-gar. Um bom professor é aquele que se atualiza, embora não consi-gamos hoje em dia ler tudo.

A investigação é fundamental para se ser um bom docente. Não concordo com a regra da faculdade onde prevalece a investigação, valendo mais que o ensino. Portan-to, eu sou avaliada mais por aquilo que investigo do que a minha capa-cidade de ensinar, eu não subscre-vo essa perspetiva. Acho que esta casa existe pelos alunos. Os alunos são o nosso futuro. A investigação não pode deixar de existir. Mas, para mim, o mais importante é

Não me imagino sem dar aulas. Como devem calcular, nunca foi

a condição financeira que me fez escolher esta profissão

porque, senão, nunca teria escolhido.

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ensinar, porque são os alunos que vão dar sentido à nossa mensagem. São os alunos que vão adquirir os instrumentos para mudar o mundo e, portanto, quanto melhores forem os professores, melhores serão os alunos. A minha perspeti-va é essa.

A professora gostava de dar aulas

até quando?

Não me imagino sem dar aulas. Como devem calcular, nunca foi a condição financeira que me fez escolher esta profissão porque, senão, nunca teria escolhido. Para mim era mais fácil, por razões familiares, não dar aulas. Teria possibilidades de o fazer, mas dei-xava de ser eu e não me imagino sem dar aulas. Espero que alguém me diga quando não tiver em con-dições: “olha, já não estás boa para dar aulas, tu vê lá o que andas a fazer”. Assim, ia sossegada para casa e tenho amigos suficientes que são capazes de dizer isso.

Enquanto estiver consciente, isso não vai acontecer. Vou continuar a dar aulas até poder, porque não me imagino sem esta relação de estar com os alunos e estar nas aulas. Eu tenho esta compulsão de falar e é uma coisa terrível, porque às vezes não vos dou a palavra. Não é nada para vos tirar a pala-vra. Aquilo do “avisem-me das horas” é absolutamente verdade, eu não quero tirar a palavra aos outros, de maneira nenhuma. Eu entusiasmo-me com as coisas e depois o tempo passa naturalmen-te.

Mas também há desvantagens, como é óbvio. Por exemplo, nenhum professor gosta de ver testes.

Não gosta mesmo?

Não! A não ser que seja um bom teste. Esses dão imenso gozo. O que dá trabalho é ver maus testes. São aqueles que nos põem irrita-dos e metem-nos a pensar “Como é que ele, ou ela, foi capaz de fazer uma coisa destas?”

Mas, à semelhança do Profes-

sor Sardica, ri-se com algumas

respostas?

Não. Normalmente, é para ficar zangada. O José Miguel ri-se porque há coisas anedóticas.

Aquilo com que me zango mais não é o facto de não sabe-rem, mas sim aquelas pessoas que não procuraram saber. Quem está numa universidade tem obrigação de procurar. Às vezes penso “como é possível ter dado este erro?” ou “onde é que foi buscar esta ideia?”. Questiono-me sobre como é que possível aquele tipo de erro. É, sobretudo, maçador. Ter 63 Alunos numa turma é cansativo. Quando faço testes diferentes, não é por copiarem, até porque acho que quem copia só se prejudica a ele próprio. Faço-o para não me maçar a ler sempre a mesma coisa.

Acho até que, às vezes, gosta-va de dar aulas sem avaliar nin-guém e era muito mais engraça-do. Não se pode, como é eviden-te, porque faz parte do meu papel e é fundamental. Agora, se pudesse arrumar a avaliação, sem dúvida que arrumava (risos).

Considera-se uma professora

exigente?

Essa é uma pergunta muito engraçada, porque ao longo dos anos tenho vindo a baixar os meus critérios. Sou exigente no sentido em que acho alguns aspetos importantes e gosto muito de vos passar. Não é com aquela intenção de estar a ser pequenino ou ir à procura do pormenor. A investigação e os trabalhos que nós fazemos têm, de facto, duas partes fundamen-tais que se cruzam e uma não existe sem a outra. A parte do conteúdo tem que se casar com a parte formal.

Quando eu digo que a indica-ção bibliográfica tem que estar bem feita, é porque acho que é

fundamental. São as regras usa-das por qualquer comunidade científica e nós somos uma comunidade científica. Se não formos os primeiros a respeitar e a impor as nossas regras, nin-guém tem respeito por nós e, nesse sentido, considero-me exi-gente. Já fui muito mais, nem se compara. Mas acho que há coisas horrorosas.

Horrorosas?

Plágio. Eu era conhecida pela professora que dava zeros, e eu dizia “o que é que querem que dê a um trabalho que é completa-mente plagiado?” Eu não posso fazer outra coisa senão dar zero. Aqui não me considero exigente. Acho que estou a fazer aquilo que é o meu papel enquanto pro-fessora.

Quando sou exigente, é sem-pre na perspetiva de vocês serem melhores e acho que este é o tempo de vocês adquirem um conjunto de coisas que não se podem e nem se devem errar. Hoje em dia, num mundo compe-titivo como o atual, há pequenos sinais que podem parecer insig-nificantes, mas que fazem toda a diferença. Esse é o papel da faculdade durante estes anos.

Muitos alunos consideram-na

uma das melhores professoras da

FCH. O que é tem a dizer sobre

isso?

Muito obrigada. Acho que isso é uma coisa que apenas os alunos mais maduros percebem e me entendem. E isso passa mesmo pela questão da exigên-cia. Acho que quando se é mais crescido, percebe-se melhor que quem é exigente connosco não é por mal, mas sim por estar preo-cupado connosco. Ou sejam por-que quer mostrar-nos o caminho através de novas perspetivas.

É um enorme orgulho, de fac-to. Tenho 200 alunos por ano, percebo logo que 20 são excecio-nais e acho que o meu papel não

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é estar para os excecionais, é estar aqui para todos. Mas esses são aqueles que acabam por nos dar maior gozo porque é muito engraçado quando nos vemos refletidos naquilo que é o traba-lho dos nossos alunos. Sinto mui-to isso e com enorme satisfação. Encontro, às vezes, alguns alunos que me dizem: “Professora, ain-da vou buscar aquelas suas informações de como se fazia isto.” De certa forma sinto-me recompensada. Fico muito satis-feita e feliz. Como dizia no outro dia, eu acho que as pessoas deviam lutar pela felicidade e acho que a felicidade é qualquer coisa que conquistamos todos os dias. A minha felicidade, nesse sentido, passa por isso, por pen-sar que a história despertada nos alunos o gosto e o prazer pela descoberta e pela crença de ir mais além: a questão do perce-ber-se porque é assim e não é assado.

O que é que a professora Ana

Paula Rias faz nos seus tempos

livres?

(Risos) Antes de mais nada leio “imensíssimo”! Vou ao cinema, vou ao teatro, vou aos museus, vou a espetáculos, vou a concer-tos, ópera. Tudo isto dá-me ver-dadeiramente prazer. Ainda no outro dia estive no museu da farmácia, onde almocei. Eu não conhecia e é extraordinário. Às vezes, acho que os portugueses são os nossos piores inimigos, no sentido em que temos coisas e não as aproveitamos. Dizemos mal delas, sem conhecê-las.

“Eu acho que as pessoas

deviam lutar pela

felicidade e acho que a

felicidade é qualquer

coisa que conquistamos

todos os dias.”

Ana Paula Rias HD Signo:

Sagitário. Acho que tem muito a ver comigo, são dados a contras-tes e eu sou uma pessoa de con-trastes.

Prato favorito:

Cozido à portuguesa, bife também

adoro. Gosto muito da comida por-

tuguesa, italiana e depois a france-

sa.

Bandas favoritas:

Aí, parei no tempo. Posso dizer Pink Floyd? (risos). Oiço também muita música clássica. Tenho um filho que era fascinado pelos Metal-lica e ouvia Metallica. Aliás, eu vi os Metallica enquanto estava a tomar banho na Costa da Caparica. (risos)

Clube de futebol:

Benfica (risos) Ben-

fica sempre! Muda-

se de tudo menos de

clube. Benfica Sem-

pre!

Jornal preferido:

Expresso, faz parte da minha vida. Os outros leio na Internet. O Expresso faz parte dos meus hábi-tos ler.

Rádio preferida:

TSF, aquela que

oiço mais.

Melhor livro:

Isso é uma coisa que não sou capaz de res-ponder. São tantos os melhores livros. Os livros mar-caram a minha

vida. Literatura francesa, literatu-ra russa, mais tarde a literatura inglesa e norte-americana. Em relação a autores portugueses, o Eça de Queirós. Mas há muitos.

Filmes

“Cinema Paraíso” do Tornatore e todos os fil-mes do "meu" adora-do Visconti.

Canal favorito

Favorito é difícil de dizer. Para as notícias gosto da SIC Notícias, da BBC World News, Sky News ou CNN. Canal de música gosto do Mezzo. Aprecio muito os progra-mas culturais e de arte. Adoro fil-mes e séries. Das últimas que mais gostei foram Spooks e Midsomer Murders. Delicio-me muito a ver o Our Queen da BBC Entertainment.

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O ensino superior português está a ultrapassar uma profunda crise, consequência da diminui-ção da procura de alguns cursos. Segundo o Jornal Público, “2012 foi o ano mais baixo a nível de colocações desde de 2006”.

Esta realidade não escapa às universidades privadas, nem à única universidade concordatá-ria do país, a nossa Universidade Católica Portuguesa (UCP).

Após a decisão do fecho da Faculdade de Engenharia da Católica, o protagonismo dos Media virou-se para esta unida-de de ensino, causando polémica no meio universitário.

A Faculdade de Engenharia fundada em 1999, sediou-se no segundo campus de Lisboa, situado no Concelho de Sintra. As principais causas do fecho definitivo desta faculdade foram

segundo a reitoria “a grave que-bra de procura que se tem verifi-cado em todos os cursos de Engenharia e que afeta todo o sistema universitário portu-guês.”

Manuel Barata Marques, atual diretor da Faculdade de Enge-nharia (ainda em funcionamen-to) refere que “as questões finan-ceiras que dizem respeito à deci-são de descontinuar os cursos de Engenharia são a consequência de não ter sido desenvolvido o projeto do Campus de Sintra.” O plano esboçado de instalação de um campus universitário consti-tuído por unidades das áreas da engenharia e da saúde “não che-gou a concretizar-se, nem exis-tem condições para, no curto prazo, se retomar este projeto. Todas as unidades que tiveram alguma atividade académica no Campus de Sintra foram transfe-ridas para Lisboa ao longo dos

anos” refere o então diretor des-ta faculdade.

Barata Marques salienta tam-bém que “o Campus de Lisboa não tem condições físicas para acolher o projeto académico de engenharia.”

Embora o fecho tenha sido declarado tardiamente, todos os finalistas dos vários graus acadé-micos segundo a direção desta faculdade tiveram a oportunida-de de terminar os três ciclos aca-démicos. Como explica a respeti-va direção “os alunos de licencia-tura só poderão terminar os seus cursos na Faculdade de Enge-nharia até ao final do mês de Setembro de 2013 e os de mes-trado e doutoramento poderão concluí-los durante o próximo ano letivo.”

A questão vira-se para onde é que foram os alunos do primeiro e do segundo ano das licenciatu-ras?

Filipe Resende

Faculdade de Engenharia:

O fecho (in)esperado

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Os estudantes que não termi-navam o curso em setembro de 2013 segundo a direção “foram transferidos na sua maioria para a Faculdade de Ciências e Tecno-logia (FCT) da Universidade Nova de Lisboa, que lhes propor-cionou um caloroso acolhimento. Já “outros alunos estão a fre-quentar o Instituto Superior Téc-nico da Universidade de Lisboa.”

Mas João Pedro, (nome fictício) antigo aluno do terceiro ano des-ta faculdade sente-se “extremamente inadaptado”, ao contrário das declarações da então Faculdade de Engenharia.

As opiniões dividem-se quando se fala das transferências dos alunos para outras faculdades.

Por um lado a reitoria da UCP diz que “os alunos e as respeti-vas famílias foram ouvidos e houve uma articulação com os serviços da Faculdade, tendo havido o cuidado de analisar cada um dos processos para assegurar a sua continuidade e apoiar, da melhor maneira possí-vel, o percurso académico dos alunos.”

Por outro João Pedro afirma que “existiram alguns proble-mas, pois a FCT dava poucas equivalências em relação às cadeiras e aos respetivos crédi-tos feitos na Católica.”

Apesar de tudo, o mesmo alu-no acrescenta que após “alguma insistência […] perante a FCT e mesmo com o recurso à legisla-ção em vigor para o número de ECT’s obrigatórios serem dados (em equivalências) em casos de transferências, esta faculdade da Nova deu um número mais acei-tável, embora continuemos a sentir-nos algo lesados.”

João Pedro menciona que ape-nas existiu um cuidado quando foi para “arranjar uma faculdade que aceitasse os alunos a meio do ano independentemente da situação académica na Católica.”

O fecho da Faculdade de Enge-

O fecho da Faculdade de Enge-nharia também se tornou con-troverso, pela altura do ano em que foi declarado em Janeiro de 2013. Tendo havido muitos alu-nos que se interrogaram o por-quê do fim desta faculdade a meio do ano letivo.

Barata Marques explica-nos que “os cursos foram desconti-nuados por deliberação do Con-selho Superior da Universidade Católica tomada em 18 de Janei-ro deste ano. Uma vez tomada esta decisão, foi analisada a melhor forma de a pôr em práti-ca e concluiu-se que era do inte-resse dos próprios alunos que as transferências se realizassem tão rapidamente quanto possível. Os alunos não podendo concluir os seus cursos na Faculdade de Engenharia deveriam integrar-se nos planos de estudos de outras unidades.”

Mas João não percebe e diz que “embora fosse um cenário já há algum tempo anunciado, foi des-prezível a maneira como foi comunicado e a altura do ano tendo sido na época de exames do 1º semestre.”

Mas se o problema dos alunos é algo que fica resolvido com as transferências para a outras uni-versidades, coloca-se a questão acerca do futuro dos funcioná-rios e professores. Barata Mar-ques refere que “a reitoria, por seu lado, tem afirmado que «a situação dos docentes e funcio-nários será merecedora de idên-tico cuidado ao dedicado aos alunos»” Já a reitoria da UCP, não respondeu a essa questão feita pel’O Académico.

Com o fecho da Faculdade de Engenharia termina também a atividade do Campus de Sintra. A Faculdade de Enfermagem, que também ocupava o mesmo cam-pus mudou-se para Lisboa, onde já estão a ser concluídas as obras das instalações necessárias para o mesmo curso.

“Os alunos e as respe-

tivas famílias foram

ouvidos e houve uma

articulação com os

serviços da Faculda-

de, tendo havido o cui-

dado de analisar cada

um dos processos

para assegurar a sua

continuidade e apoiar,

da melhor maneira

possível, o percurso

académico dos alu-

nos.”

“Existiram alguns pro-

blemas, pois a FCT

dava poucas equiva-

lências em relação às

cadeiras e aos respe-

tivos créditos feitos

na Católica.”

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Embora muitos alunos das várias faculdades do Campus da Palma de Cima considerem que existe já uma grande lotação em Lisboa, a reitoria responde que “o Campus da Palma de Cima não está sobrelotado. Além disso, foram tomadas as medidas necessárias à integração dos alu-nos, docentes e funcionários do curso de enfermagem e garanti-das todas as condições logísticas para o seu pleno funcionamen-to.”

A pergunta que se coloca é saber porque é que foi constituí-do um campus diferente do Cam-pus da Palma de Cima. O então diretor da Faculdade de Enge-nharia refere que foi consequên-cia “numa estratégia governa-mental, durante as décadas de 80 e 90, de incentivar a instala-ção de campus universitários fora dos centros urbanos. Nesse período estimava-se a frequência do ensino superior por um nº crescente de alunos ao longo dos anos. No entanto, a demografia veio contrariar estas previsões.”

A Reitoria da UCP acrescenta também que “na altura existia um projeto de desenvolvimento de toda a envolvente do Campus, em parceria com outras entida-des, entre as quais a Câmara Municipal de Sintra.” No entanto o mesmo projeto não chegou a concretizar-se.

Ao fechar-se o Campus de Sin-tra termina também uma cultura existente nesta unidade, que era uma identidade da UCP em ter-mos de Ciências e Saúde. A pró-pria Fecultuna, tuna originária da Faculdade de Engenharia (mas representante de toda a Universidade Católica de Lisboa) refere que existe “uma forte liga-ção ao campus de Sintra”. Refe-rindo que está “extremamente sensibilizada com o fecho da Faculdade de Engenharia e soli-dária com todos os seus ainda alunos e ex-alunos, funcionários,

docentes, com a sua direção e reitoria da Universidade.”

Mas o fecho do Campus de Sin-tra criou alguns mitos à volta de um futuro já pensado para a construção de uma Faculdade de Medicina. Algo que já não é novo na UCP. Manuel Braga da Cruz, ex-reitor da UCP referiu numa entrevista ao Conselho de Reito-res que “Gostava de ter conse-guido um curso de medicina.”

Mas será que é mesmo assim? Por um lado a reitoria refere que “não existe, de momento, qual-quer projeto para a abertura de uma Faculdade de Medicina.” Referindo que a UCP “está e con-tinuará a desenvolver o seu pro-jeto académico na área da Saúde através do Instituto de Ciências da Saúde.”

Por outro lado Manuel Barata Marques refere que “certamente, são rumores a que não se deve dar qualquer crédito.”

Mas a Fecultuna refere que “a Faculdade de Engenharia estava inserida num projeto ambicioso, localizado no campus de Sintra onde, para além da Faculdade de Engenharia, existiria uma Facul-dade de Medicina, edifícios de alojamento universitário, entre outros. Por diversos motivos esse projeto não se concretizou na sua totalidade.”

Desta forma está totalmente excluída a constituição de uma faculdade de Medicina da UCP. Quanto ao futuro do campus de Sintra “não foi tomada qualquer decisão definitiva ” refere a rei-toria.

A bem ou mal a decisão do fecho oficial da Faculdade de Engenharia assim como o respe-tivo campus, é algo que tem cria-do duas visões contrárias. Por outro lado a reitoria diz que os alunos “reagiram com serenida-de.” Por outro João Pedro sente-se “acima de tudo frustrado” com todo este processo que foi o fecho da Faculdade de Engenha-

ria. O encerramento desta faculda-

de significou uma perda para toda a UCP. O diretor da faculda-de exprime “uma grande mágoa e tristeza por este projeto acadé-mico de grande qualidade cientí-fica e pedagógica não poder con-tinuar a desenvolver-se.”

Mas se todos pensam que desaparecem definitivamente todas as atividades desta facul-dade, é algo errado. O Professor Barata Marques refere que “a dimensão da investigação cientí-fica na Faculdade de Engenharia tem indicado que pretende que estes projetos se mantenham na Universidade Católica.” Por isso nem tudo desaparece.

Infelizmente para todos os alunos, professores e funcioná-rios desta faculdade, esta é uma realidade triste. Mas começa agora uma nova etapa na UCP, uma fase de tempos complica-dos, marcados por uma profunda crise que afeta todo o sistema de ensino de superior português.

O Professor Barata Marques refere que “à Engenharia caberá um papel de grande relevo na dinamização da economia e na melhoria das condições de vida da sociedade.” Mas numa altura crítica em que o país está mergu-lhado numa profunda crise eco-nómica, a engenharia é apenas mais uma área que conhece o desemprego e isso reflete-se no seu ensino. A Faculdade de Enge-nharia da UCP é apenas mais um marco de que a qualidade do ensino não reflete a sua respeti-va procura.

Infelizmente para todos os alu-

nos, professores e funcionários

desta faculdade, esta é uma reali-

dade triste. Mas começa agora

uma nova etapa na UCP, uma fase

de tempos complicados, marca-

dos por uma profunda crise que

afeta todo o sistema de ensino de

superior português.

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Opinião P

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E se ninguém compra o que

temos para dizer

F oi um canalizador desempregado que, um dia, inventou o Mono-pólio como hoje o

conhecemos. Antes, era um jogo ideológico – a ideia não era enriquecer, como agora, mas destruir o poder dos senhorios. Quer dizer, impedir a acumulação de riqueza. Nes-sa época, o jogo não ia além de umas quantas salas de estar britânicas. Quando o america-no desempregado construiu as pequenas casas e os hotéis, alterando a dinâmica do tabu-leiro para colocar jogadores numa guerra de poder imobi-liário, o sucesso chegou.

Quase todas as pessoas que escolhem cursos como o vosso, de comunicação social, têm um justiceiro escondido dentro de si. Se não é um justiceiro, é pelo menos um pregador. Sen-timos que alguma coisa nos distingue dos outros. Ainda me lembro bem das guerras (às vezes violentas) entre comuni-cação social e direito aqui na Católica. O que nos irritava eram os sapatos de vela e as camisas às riscas, mas lá no fundo o que nos movia era essa sensação de que a nossa escolha era mais virtuosa do que a deles. Eles queriam ganhar dinheiro, nós quería-mos fazer justiça. Numa tarde, fizemos um jornal novo que

Martim Avillez Figueiredo

Jornalista e Diretor da Impresa Publishing

-do consiste neste poder avassa-lador: não comprarem o que temos para dizer. Desligam a tele-visão, deixam o jornal na banca, mudam de estação de rádio – essa é a liberdade do mercado. A nossa é estar, todos os dias, dis-poníveis para os cativar. Que grande desafio, não é…

Não sei o que acham disto tudo, mas eu sei que espero muito de cada um de vocês.

Entendam este texto como o início de uma conversa. Por mim, ela segue dentro de momentos – podem usar o académico, o meu email, o facebook, o que quise-rem. Escuto, Martim.

espalhámos nos corredores. Cha-mava-se Arranca Opiniões, parafra-seando o Arranca Corações do Boris Vian. A primeira secção cha-mava-se Morte aos Feios, também título de um livro dele. Está-se mes-mo a ver quem lá aparecia…

Felizmente, descobrimos a tempo que jornalismo não é vendetta, mas um hino à liberdade. E isso, mais do que autonomia de fazer tudo o que se quiser, é a enorme responsabili-dade de pensar bem no que se faz. E para isso não há guiões – há apenas a vontade, ou a falta dela, de nos comprometermos com a liberdade. Ora, e para que não sobrem dúvi-das, a suprema liberdade do merca-

“A suprema liberdade do

mercado consiste em não

comprar o que temos para

dizer. A liberdade do

jornalista é estar, todos os

dias, disponível para os

cativar.”

CONVIDADO ESPECIAL

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Eu não lido bem com a época de frequências e não sou a única. A minha professora de Português do secundário adorava ver os alunos numa pilha de nervos antes das avaliações. Dizia que era sinal que nos tínhamos esforçado. Por acaso ou não, funcionei sempre assim. Quanto mais estudo, mais nervosa me sinto. Era de esperar que, logi-camente, quanto menos preparada estivesse, menos nervosa ficaria, mas na vida universitária da bela FCH a equação não funciona dessa forma. Pelo menos para mim. Se não me sinto preparada, das duas uma: ou soube da avaliação no dia anterior, ou tenho duas no mesmo dia e três, quatro, cinco ou seis na mesma semana. Infelizmente, não há nada nem ninguém a quem possa recorrer. A FCH estipula um máximo de duas frequências ou apresentações (só?) por dia. Não estipula, claro, um máximo por semana, porque não precisa – não há nenhum aluno que esteja in-scrito em mais de 10 disciplinas.

Dizem-me que me estão a pre-parar para um mercado competi-tivo. Acredito que acreditem nisso. E acredito que vou melhor pre-parada do que muita gente. Seja como for; pensei que o que impor-tava era avaliarem a minha capaci-dade de compreensão dos con-teúdos programáticos relativos à minha área. Pensei que o que real-mente importava era a certeza de que eu tinha ao meu dispôr (quase) todas as ferramentas para ser lançada aos lobos assim que saísse do curso.

Sinto-me ligeiramente in-justiçada, sobretudo devido a

outras agravantes: professores que se recusam a entregar aos alunos o programa da disci-plina, professores que não nos disponibilizam as notas da avaliação contínua antes da frequência, professores que se mostram relutantes em definir uma data alternativa à fre-quência quando há sobre-posição, professores que mar-cam as frequências todas umas em cimas das outras… e, final-mente, o facto de termos um fim-de-semana apenas depois do final das aulas para nos pre-pararmos para as avaliações finais.

Todas as situações acima referidas aconteceram comigo, e só comigo. Nalgumas delas, fiz o que pude ao meu alcance. Mas noto que alguns dos meus colegas são capazes de aceitar com pesar três frequências num dia só. Estas coisas acon-tecem por falta de comunica-ção, falta de organização, falta de conhecimento e falta de boa-vontade de ambas as partes. Os alunos têm de reconhecer os seus direitos e deveres, e os professores também. Deve

haver uma relação de trans-parência, para que o aluno não sinta receio em tentar resolver alguma questão e para que o professor se mostre receptivo a qualquer tipo de desabafo ou queixa.

“Não vale a pena tentares con-versar com o professor sobre o desentendimento que houve porque depois é pior para ti. Ainda o vais apanhar mais vezes no teu curso.” Será que os pro-fessores sabem que os alunos pensam assim em muitos casos? Será que os alunos se pergun-tam se isto não é só apenas um mito?

A FCH é a minha faculdade. Tive professores excelentes que me ensinaram mais do que eu poderia alguma vez imaginar. No entanto, não vejo a pressão que sinto nos ombros como sinónimo de exigência e eleva-ção de padrões. Compreendo que me digam isso, mas sinto sempre algum desalento porque dificilmente saio de uma sala de teste sentindo que dei o meu melhor. E isso reflecte-se na pauta. E no meu estômago.

Frequências e nervos Catarina Maia

Colunista

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Carlota Arantes Aluna do terceiro ano de Comunicação

Social e Cultural

E agora? Chega ao fim esta tão importante eta-

pa, segundo nos dizem, e o que fazer? Foram três anos a comprar sebentas,

três anos a ler sobre semiótica e a defini-ção de cultura, três anos de apresenta-ções orais, três anos de recensões, e ago-ra?

Num curso que balança entre tanta e tão pouca coisa, chega-se ao fim com a sensação de se ter passado uma década e ao mesmo tempo apenas um mês nesta grande e pequena instituição que é a Universidade Católica Portuguesa.

E as conferências? Oh se foram muitas. Títulos chamativos, planos interessantes, convidados prometedores, e ainda está por vir uma conferência que não leve alguém a adormecer. A do Bruno Noguei-ra talvez, quem sabe…? Eu não, estive numa aula de Teorias da Cultura (de que mais poderia ser?).

Porque a cultura sim, é o ponto que une estes três anos. Cristianismo e Cultu-ra, Teorias da Cultura, Gestão Cultural, Cultura Portuguesa, Cultura Inglesa, Cul-tura Norte Americana, quantas mais?

McLuhan, Peirce, Raymond Williams, são companheiros de faculdade que nun-ca irei esquecer. Até gostava que me escrevessem uma fita para pôr na pasta. Muitas vezes roguei pragas a eles e a outros tantos, mas agora que posso dizer “acabou” não consigo deixar de sentir um grande carinho por estes “colegas” de curso. Quando os voltarei a ver?

Atrevendo-me a passar por um cliché quero dizer que, enfim, o que é tudo isto se não uma família? São momentos cha-tos e momentos bons, todos debaixo do

mesmo tecto, vividos pelos pais (professores), pelos filhos (alunos), e pelos res-tantes que contribuem dia-riamente para que a Univer-sidade Católica Portuguesa seja mais que uma simples casa, um lar.

Entrar pelas portas da FCH é como entrar na nossa pró-pria casa, conhecemos todos os cantos, o cheiro, e os números das salas que no primeiro ano eram tão con-fusos são agora tão óbvios quanto “significante + signi-ficado = signo”.

E as próximas casas, como vão ser? As empresas nas quais vamos trabalhar ou estagiar terão este cheiro? E agora? São perguntas que

podem parecer, de momento, muito confusas para nós e mui-to assustadoras para os nossos pais, mas saber que temos a Universidade Católica Portugue-sa como trampolim ajuda.

Talvez o importante seja saber que, seja qual for a nova casa que nos acolha, em Portu-gal ou não, teremos sempre con-nosco um pouco desta Universi-dade Católica Portuguesa que nos recebeu durante três anos.

Seja em que casa for, em que país for, em que cargo for, pode-remos sempre olhar para as janelas do edifício de Palma de Cima e ver McLuhan a fazer-nos adeus, como quem diz um equi-valente a “o meio é a mensa-gem” - a Universidade Católica Portuguesa é o vosso lar.

McLuhan, Peirce,

Raymond Williams, são

companheiros de faculda-

de que nunca irei esque-

cer. Até gostava que me

escrevessem uma fita

para pôr na pasta.

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Question à trois Pá

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Domingos

Coimbra Baixista dos Capitão Fausto

Diogo Lopes

F austo, não o Doutor, não o adje-tivo pomposo, mas sim o Capi-tão. Os Capitão Fausto. Como sabemos, música é coisa

que não falta entre nós: De músicos a instrumentistas, de críticos a cantores, se há coisa que à nossa volta não é escassa são as várias pessoas que, talentosamente, vivem de mão dada com a música. Assim sendo, não é de estranhar que mais tarde ou mais cedo fossemos debruçar, aqui no QAT, sobre este tema mais que presente.

Para esta edição fomos falar então com Domingos Coimbra, baixista dos famosos Capitão Fausto, a banda que tem vindo com grande pinta a chegar a mais e a mais ouvidos portugueses, e nosso colega da UCP.

Desde a vida académica, a opiniões sobre a música portuguesa, o jovem Domingos, a quem muito agradece-mos, de nada fez tabu e contou-nos o que lhe vai na alma. Vejam por vocês próprios algumas das suas interven-ções e conheçam mais sobre aquilo que a tantos de nós é tanto: a música.

Domingos é aluno

do IEP na UCP

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1 Como nome cada vez mais sonante

do panorama alternativo da música

portuguesa, os Capitão Fausto têm

vindo, sucessivamente, a quebrar bar-

reiras e ultrapassar metas. Como nas-

ceu tudo isto?

Nasceu fruto da amizade de um gru-po de amigos que decidiu pegar em instrumentos e fazer música desde cedo. Felizmente, e porque também dedicámos muito tempo da nossa ado-lescência enfiados na garagem a ensaiar, está tudo a correr muito bem.

2 Qual achas que foi a “receita para

o sucesso”?

Nenhuma. Acho que não se deve pensar em “estratégias ganhado-

ras” quando se faz música, o nosso grande objetivo na altura era apenas o de ter músicas para tocar e conseguir gravar finalmente um disco. Não lhe chamaria receita mas a dedicação em ensaiar, a exigência de fazer boas can-ções e algum (não demasiado) perfec-cionismo são responsáveis pelos importantes passos que fomos dando.

E cada banda é uma banda. Há quem tenha receitas, mas nós somos dema-siado desorganizados para ter uma e por isso vamos fazendo pelo gosto de fazer, nada mais.

3 Se não me engano, vocês os cinco

ainda estão a estudar. É difícil con-

ciliar esses dois mundos? O da

música e espetáculos e o dos testes e

trabalhos.

Depende. Gosto de pensar que dou uma igual importância a ambos mas na verdade acabo sempre por sobrepor a música aos estudos. No entanto, mes-mo sendo complicado, nenhum de nós abandonou os estudos e havemos de ficar mais um ou outro semestre a compensar aquilo que não fizemos nos outros anos. Não brincamos às bandas, quando faltamos com os estudos, esta-mos na realidade a substituir trabalho por mais trabalho. Seria mais fácil con-ciliar estudos com música se o estatuto trabalhador/estudante fosse mais acessível, mas com o atual regime de recibos verdes é muito complicado.

“Dedicámos

muito

tempo da

nossa

adolescência

enfiados na

garagem a

ensaiar, está

tudo a

correr muito

bem.”

Domingos

Coimbra

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. 21 Culturismo

LITERATURA

B rasileiro de Minas Gerais, Carlos Drum-mond de Andrade é considerado um dos

maiores poetas de língua portu-guesa. Nascido em 1902, licenciou-se em Farmácia tendo com um colega, Emílio Moura, fundado “A Revista” com o propósito de divul-gar o Modernismo no Brasil.

Herda do Modernismo a lin-guística livre e as temáticas do dia-a-dia mas a sua obra tem um fun-do de solidão que arrebata o leitor das suas próprias referências. Podemos desdobrar a poesia de Drummond Andrade em três ati-tudes: eu maior que o mundo (uma poesia essencialmente iróni-ca), eu menor que o mundo (poesia social) e eu igual ao mun-do (em que se abrange a poesia metafísica).

Esta antologia foi organizada pelo próprio autor e publicada pela primeira vez em 1962. Encontra-se dividido em nove capítulos que correspondem a diversos universos temáticos. Com esta antologia temos uma visão geral da obra criativa de Carlos Drummond de Andrade, desde da sua estreia até o início da década de 1960.

Uma das suas poesias mais conhecidas é “Quadrilha”:

João amava Teresa que amava Raimundo/ que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili/ que não amava ninguém./ João foi para os Estados Unidos, Teresa

para o convento,/ Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,/Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes/ que não tinha entrado na histó-ria.”

Neste poema, inserido no capí-tulo “Uma, duas argolinhas”, Drummond contesta a natureza do amor, na angústia de amar e os seus poemas têm quase sempre um final infeliz.

O próprio poeta ao fazer a sele-ção dos poemas para esta antolo-gia, revela o grau de consciência que tinha do seu fazer poético. No capítulo “Poesia Contemplada” encontramos poesias em que Drummond de Andrade constrói uma reflexão sobre a própria poe-sia, de cunho verdadeiramente metalinguístico. Existe uma pos-tura do tipo a arte pela arte e o poeta não necessita de procurar qualquer sentimento exterior.

Em “Procura da Poesia” escre-ve:

“Não faças versos sobre acon-tecimentos./ Não há criação nem morte perante a poesia./ Diante dela, a vida é um sol estático,/ não aquece nem ilumina./As afinida-des, os aniversários, os incidentes pessoais não contam./ Não faças poesia com o corpo,/ esse exce-lente, completo e confortável cor-po, tão infenso à efusão lírica.”

Carlos Drummond de Andrade mudou-se em 1934 para o Rio de Janeiro, onde viveu até morrer em 1987. Com uma ironia ímpar, a sua obra problematiza questões sociais, existencialistas, amorosas e da própria poesia.

“Antologia Poética”, de Carlos Drummond de Andrade

Susana Gil Soares

“Antologia

Poética”, de

Carlos

Drummond

de Andrade,

Relógio

d’Água,

14,13 Euros

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A dor de crescer Inês Correia

C hegámos ao fim de mais um ano letivo e para mui-tos é também o fim de uma

etapa. Unidas a um verão carrega-do de alegrias, surgem as dúvidas de um destino vago. Mas estas incertezas não se restringem a nós e têm atingido todas as gerações de jovens confrontados pela reali-dade de crescer. Foi a partir dos anos 60, com o surgimento da Nova Hollywood que chegaram também as “youthpix” e que os jovens, as suas angústias e as suas revoltas começaram a ser repre-sentadas no grande ecrã. Este mês vamos conhecer 2 filmes de 2 períodos diferentes mas que tra-tam o mesmo tema: a dor de cres-cer.

Em The Graduate, Benjamim Braddock regressa a casa apreen-sivo, após terminar a faculdade, para um clima de indecisão e um futuro incerto. Ben “está preocu-pado com o seu futuro” e “quer ser diferente”, apela ao seu pai que não está realmente preocupa-do em ouvir. É recebido com uma claustrofóbica festa em sua honra onde se sente aprisionado pelas expetativas elevadas dos adultos, pelo mundo de “plástico” que o espera. Ben sente-se sufocado e foge para o silêncio do seu quarto quando uma das convidadas, Mrs. Robinson sacode o ambiente. Pede-lhe boleia para casa num tom imperativo e lá oferece-se para ter um caso, abrindo-lhe as portas a um novo mundo de infidelidade, bebida e ironia. Ben, atrapalhado e infantil tenta fugir da situação. Lançado durante o “summer of love” em 1967, The Graduate tor-nou-se imediatamente um emble-

expulsa da escola e só existe uma coisa que lhe dá força, a dança. Um dia, a mãe traz para casa um misterioso e sensual namorado que a incentiva a dançar: Mia pro-va pela primeira vez algo que se assemelha a felicidade. Nada seria igual.

Tal como tantos jovens, esta é uma personagem que tem o seu próprio mundo interior, lutando para se manifestar. Fortificada por cigarros e álcool consegue fechar a porta de um apartamento deser-to e só precisa de um chão nu e de um leitor de CDs para fazer aquilo que verdadeiramente lhe interes-sa, dançar.

O típico realismo do cinema inglês é aqui representado pelo

ma da geração dos anos 60 e da sua revolta contra os valores culturais de um país. O sentido alienado sem rumo de Ben representa as andanças cheias de incertezas de uma geração.

Em Fish tank, Mia, uma ado-lescente agressiva de 15 anos vive numa área socialmente problemática de Inglaterra com a sua irmã Tyler e a sua mãe alcoólica Joanne que diariamen-te troca de namorado. Esta, não se dá bem com as filhas pois relembram-lhe a realidade da sua idade. Mia está aprisionada numa família monoparental. Aprisionada pelas pessoas ao seu redor. Aprisionada por si mesma por ter 15 anos. Foi

The Graduate (1967) Mike Nichols

Pontuação d’O Académico

8,1/10 Pontos

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CINEMA

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Page 28: Oitava edição

(in)directo

P equeno espaço de

leitura onde são

escritos poemas

que carecem de

interpretações indivi-

duais, porque os poemas

precisam disso, necessi-

tam que cada leitor os sin-

ta e os aplique para que

eles possam viver.

Fish Tank (2009) Andrea Arnold

Pontuação d’O Académico

7,3/10 Pontos

O murmúrio das calhas velhas

ousa penetrar a porta e romper a salubri-

dade do palacete.

Não fica nada mais que a fachada, as esca-

das, os vidros

e a mesa do salão.

Mesa mítica, maciça, reconhecida como

guardiã

dos segredos proferidos.

A minha carne distrai-se sobre a mesa e

tenta ouvir,

Imóvel, as melodias sagradas e loucas do

fastio dos banquetes.

Já eu, rodeada de pó, traças e rangidos

encosto-me e ouço

o desvirgar do vento, esperando que se

fira e escape

da profissão celeste.

Resta o tempo que, escapando a beijo e

julgando levar sombra consigo

segue firmemente estilhaçando as vidra-

ças e cantando sobre as tábuas.

E nós?

Nós, ficamos hirtos e submissos face à

massa escura, como

lírios adormecidos pela Primavera noctí-

vaga.

Joana Portugal

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8 Edição de Junho

estilo frio e ingrato de Mia e pelas violentas intrigas familiares. A enovelada família com que Mia vive, inspira-a a encontrar uma saída e a dança é o seu catalisador. Esta é a histó-ria de amadurecimento de uma personagem forte (apesar das suas falhas) que recusa ter a sua vida governada por circunstân-cias miseráveis. O calão das ruas, os seus encon-tros sexuais e o corajoso trabalho de câmara tré-mulo mas seguro do que mostra, contam uma his-tória autêntica de uma adolescente e da sua emo-cionante dança de liberta-

ção. Separados por 42 anos, os filmes mostram dois jovens alienados, con-frontados pelas barrei-ras ao futuro que dese-jam. The Graduate conse-guiu continuar a falar ao longo do tempo e Fish Tank seguirá pelo mes-mo caminho, renovando o seu domínio sobre cada geração por causa do seu tratamento de inquietações e experiên-cias universais. A ideia da incerteza de chegar à maturidade e a luta para aceitar esta transforma-ção. A ideia do quão assustador o futuro é.

Page 29: Oitava edição

Edição Limitada

Memórias Aleatórias? Patrícia Fernandes

Random Access Memories é o mote para o novo e tão ansiado disco dos franceses Daft Punk, após um hiatus que durou oito anos (isto se não contarmos com a pequena aventura pelo mundo das bandas sonoras com Tron: Legacy, em 2010).

Que os Daft Punk são úni-cos, já se sabia, e um dos fato-res mais excitantes deste disco é a forma como foi anunciado ao mundo. Envoltos em segredo e sempre inovadores, os Daft Punk optaram por uma aborda-gem gradual e muito particular – desde outdoors e anúncios de televisão a pequenos teasers e episódios online com os convi-dados do disco – tudo foi per-mitido.

Eles são old school e fazem questão de o afirmar!

Este disco traz, sem dúvida, um lado menos conhecido da eletrónica atual. Hoje em dia, em que a ideia de eletrónica é muito limitada, é sempre bom aparecer alguém da “velha guarda” e mostrar o quão ino-vador um género consegue ser.

Voltando à ideia de que os Daft Punk são “sempre inova-dores”, eles apostaram num disco que soa a um tributo aos áureos anos 70 e 80 da música Norte-Americana, com um toque de música ambiente e funk. Seja o que for, acabamos sempre seduzidos pela sua música. Soa a um disco de música eletrónica – composto por drum machines, sintetiza-dores modelares e vocoders vintage – mas está repleto de elementos de sonantes como

como grandes solos de guitarra, pomposos baixos e, também, cla-rinetes!

Talvez por isso soe tão bem, tão vivo. As transições de música para música são absolutamente deliciosas e hipnotizantes.

Neste disco, o lado humano contrasta com o alter-ego robóti-co que eles tentaram construir ao longo dos últimos anos. Quanto de humano existe nestes robots?

Quem nunca ouviu uma deter-minada música que impulsionou uma série de memórias? Sabem... Aquelas músicas que nos lem-bram dum fim de tarde na praia, de uma festa que acabou em res-saca ou de um jantar de amigos no Verão...

Os Daft Punk conseguem mexer com as pessoas, partilhar emoções... A sua mais recente capacidade é transmitir memó-rias através deste Random Access Memories.

Uma das coisas a evidenciar neste disco é a sua consistência ao longo de mais de setenta minutos, e bem que podem ser ouvidos em shuffle, ninguém vai

dar por isso. Seja através do apelo ao amor

com a melodramática The Game of Love, da saudosa e funky Frag-ments of Time ou da festiva Get Lucky, conseguimos sentir um monte de emoções e, atenção: é possível que sejam contraditórias ao longo do álbum, isso é extre-mamente excitante, pois num ins-tante estamos a ouvir o lado mais animado dos Daft Punk, como a seguir já estamos praticamente em lágrimas com uma memória menos feliz.

Essa é a capacidade inegável dos Daft Punk! A sua capacidade em apelar ao lado mais humano de cada um de nós, mesmo sendo música feita por robots. Isto sem perderem o seu som tão caracte-rístico ou a sua alma eletrónica, e só comprova a diversidade e capa-cidade de mutação deste género musical.

Sem dúvida que este disco vai invocar as nossas memórias mais escondidas, mais evidentes, mais longínquas ou próximas. Vamos recordar muito com este disco.

ll just keep playing back these fragments of time.

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Júlia

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Oitava Edição

Page 30: Oitava edição

(Des)focado

Fotografia por:

Gonçalo Fonseca (500px.com/goncalofonseca)

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0 Edição de Junho

Page 31: Oitava edição

Crónica

D os dias que começam e acabam ficam as imagens que grava-

mos dentro de nós. Um café aconchegante, uma conversa quente, um sorriso doce.

Enchemos livros com estes cristais de tempo que conge-lamos naquilo que entra pelos nossos dedos, se sente pelos nossos olhos. Gotas de chuva num rosto que a rece-be por gosto e vontade, len-çóis de calor seguro que escondem pernas que dor-mem.

Amontoam-se pilhas de volumes grossos escritos com a tinta do tempo... alguns ensanguentados, outros brilhantes e intocá-veis. Torres de vida, de momentos, vão fazendo nas-cer uma estrela, uma nebulo-sa que paira por entre mús-culos e veias que se vergam perante a sua presença. A alma.

Como um poço sem fundo, este novelo de ar e névoa que faz casa em nós, vai devorando o dia-a-dia. Comendo cada beijo de noite estrelada, cada livro de lágri-mas marcado.

Durante o sopro que é estar aqui, a escrever este texto, a respirar o perfume desta almofada, tudo o que é cai em nós, fica lá guardado para sempre. As pinceladas de tempo que passa vão colo-rindo aquilo que se esconde no canto de uma boca que sorri, no centro de uns olhos que choram. A alma.

Somos memória porque ela é a alma.

Diogo Lopes

pelos trilhos percorridos durante o trocar de sopros que é a vida. Está no coração daqueles que tocamos, na vida daqueles que ajudamos a criar. Isso é o paraíso. O coração dos que ficam para nos enterrar. Enquanto permanecermos na memória dos que em nós viram algo alguma vez, podemos dormir com a certeza de que todos os dias veremos o sol nascer, porque aí a vida será eterna. Na memória. A nossa na dos outros.

O que deuses disputam e músi-cas cantam está entre nós. Só sobrevive nas nossas conversas, nos nossos abraços.

A vida dura até o corpo deixar de o fazer, mas como profetas dizem e Messias retificam a alma sobrevive. Não passa de um dese-nho feito pelo homem que vive, sente, pensa e faz. Só é imortal se a tornamos única, se ficar para sem-pre na boca de gerações e gerações de filhos e netos. A alma imortal está nas marcas que deixámos

Somos memória

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1

Oitava Edição

Page 32: Oitava edição

Parte para rasgar Pá

g. 3

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Despeço-me com Festa,

Abracinhos e Beijinhos João Tavares

FESTA... A classe política, passou

o feriado do 10 de Junho a curti-las valentes em Elvas, e foi uma alegria! Pelo menos o presidente da República, achou a cerimó-nia “extremamente positi-va”. Mesmo tendo sido vaiado por muitos e de o seu afilhado Passinhos levar com uma avalanche de apupos, o coveiro de Boliqueime ainda disse no fim, com um sorriso “Correu tudo muito bem, Elvas está de parabéns!”. U m d e s t e s “parabenizados”, um jovem que sugeriu ao pre-sidente que fosse traba-lhar, foi detido no local e obrigado a pagar 1300€ de multa... só para espalhar a vibração positiva.

Esta postura zen do senhor presidente, pode bem ter origem em algum hobbie novo dele, tipo per-macultura, que lhe traz paz ao espírito... é que o dis-curso que fez, foi todo um discorrer de ideias bonitas sobre a agricultura que ele adora, tanto que a minou quando era primeiro-ministro (lembram-se da PAC...)!

Em suma, este mundo de fadi-nhas criado à volta do 10 de Junho fez deste feriado uma cena alternati-va, assim entre a gala dos globos de ouro e o ModaLisboa, com as fatio-tas dos militares e com Cavaco Silva a distribuir fitinhas, libertando o estilista que há em si! Mesmo assim, cheira-me que nem o Cláudio Ramos diria bem desta gala...

ABRACINHOS...

Teresa Leal Coelho, do PSD, acha que Portugal “tem um governo que não vai falhar”. Será

que o diz por ser de facto Leal ao país, ou por ser obrigada a ser Leal a Coelho?

Eu sei que o que vou escrever aqui pode não agradar a muitos dos que possam vir a ler esta Parte Para Rasgar, mas há coisas que têm de ser mencionadas! Eu prometo ser breve…

Então Sua Santidade, o Papa, vem

dizer a público que existe um lobby gay no Vaticano? Como se a gente não soubesse já! Eles andam de saias e túnicas berrantes, não se envolvem com mulheres nem casam com elas e depois estão à espera que o mundo se choque com isto? E segundo a notícia, que saiu no site da revista chilena Reflexión y Libera-ción, o próprio Papa Francisco tam-bém não se mostrou assim tão inte-ressado quanto isso em resolver a questão, dizendo apenas que “há que ver o que podemos fazer” em relação ao assunto e afirmando até que não seria ele próprio a exercer as mudanças necessárias. Em suma: um momento mais “you don’t say!” do que quando o próprio Cláudio Ramos se declarou!

Edição de Junho

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BEIJINHOS... Para todos os meus colegas, profes-

sores e para todos os funcionários, excepto aqueles dois que acham que a culpa de eu me sentar em cima das mesas do bar é da educação que o meu pai me deu.

Eu já terminei a licenciatura, mas o meu ciclo na UCP só fica realmente fechado após concluída esta edição do jornal, o último elo que me liga a esta bela casa que nos recebeu de janelas abertas fizesse chuva ou fizesse sol...

Onde aprendemos que, para termos uma vida cheia, temos de dominar com mestria essa autêntica Arte que é ir de ressaca para um teste, ou com uma direta nos costados e muito café no bucho, estudando a matéria na véspera. E conseguir passar.

Onde ganhámos consciência de que para manter um emprego, temos de estar preparados para não haver hora de almoço, porque o “patrão” no-la “comeu” para poder fazer uma troca de horário favorável apenas a ele.

A grande lição a tirar é que, como diz o ditado, “quem não chora não mama” e não mesmo, porque no tempo que aqui passámos aprendemos tam-bém que neste país não há nada para ninguém e quando não é possível resol-ver os problemas, mais vale tapá-los com um toldo e seguir em amena cava-queira a fofocar sobre a “não sei quan-tas” que é uma parola e veio mal vesti-da para a faculdade hoje! Mas também é preciso rasgar esse livro da vida, para a levar direita...

A Parte Para

Rasgar volta

para o ano...

até sempre!

Email para o Professor Bambo

From: [email protected] Sent: terça-feira, 17 de Junho de 2013 20:41 To: Professor Bambo [mailto:[email protected]] Subject: Questão do destino Olá Professor, Como vai isso? A situação é a seguinte: Ando com bastante azar, morangos com bananas mais tarde batidos para eu beber. Libelinhas a voarem num condomínio fechado à chave dentro de rissóis de porcelana. E por isso acho que me pode ajudar a ser mais feliz com o seu poder. Salada de fruta com chantili e derivados. Não anda mesmo a correr bem isto, furtos secos com algumas passas do ano novo mais recente. Obrigado pela atenção

Dário Alexandre

Oitava Edição

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Parte para rasgar Pá

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Nota da Palma de cima aka Crónica de um fim anunciado

José Paiva

Não, desculpem, não vou fazer uma reedição de um dos grandes clássicos da literatura mundial para falar deste ano letivo que passou, neste meu último artigo. Estamos longe de estar mortos com facadas cristãs, muito menos de nos tornarmos referências clássicas da escrita, ou da televisão, ou da internet, ou de qualquer outro tipo de media, dos 345 exis-tentes (viva Teorias da Comunicação, viva TGL, viva Gé…ok perceberam).

Vamos começar pelos finalistas. Toda esta nos-talgia que se cheira nos últimos dias de aula con-segue contagiar qualquer um. A bênção das fitas, a cerimónia católica, as fes-tas finais, a choraminguice típica e as fotografias das fitas no instagram fizeram parte do meu quotidiano nestes últimos meses antes de rumar para o país de “nuestros herma-nos”, o que por um lado, fez com que sentisse aqui-lo que estes energúmenos académicos estão a pas-sar, e por outro, me fez querer ir mais cedo para as aulas de Direito (considero-me um super-herói). Na verdade, toda esta ranhoca estudantil faz parte de um pensa-mento que estes finalistas partilham que se baseia na ideia seguinte: “estou bonito estou, agora para onde é que eu vou coçar a micose?”. Não se aflijam finalistas, mais tarde ou

mais cedo voltam para esta humilde casa, nem que seja para trabalhar na Eurest, ou limpar as folhas que nunca param de cair à entrada da faculdade (em termos de vegetação somos das faculdades mais avançadas de Portu-gal, já que temos Enfermagem e Psico-logia, porque não Her-bologia?).

Aos que entraram, uma coisa simples: peito cheio por já não serem caloiros não é? Festas de arromba, e

boa disposição no bar não é? Notas boas tiradas de forma exí-mia e fraudulenta através de Iphones e maquinarias de ponta não é? Quando chegar de ERASMUS quero ver quantos de vocês ainda se mantém vivos, ou pelo menos ligados à máquina a tempo de fazer Teo-rias da Cultura (o nos-so curso resumido numa cadeira, entre-guem já os papéis de mudança de faculda-de).

Aos semi-quase-vá

mais ou menos-finalistas, partilho do vosso senti-mento de solidão. Este ano ninguém nos ligou nenhu-ma, ora tínhamos finalistas com as hormonas aos sal-tos, ou caloiros aos saltos com as hormonas dos fina-listas, dos outros caloiros, dos professores, dos fun-cionários. Estou com vocês, meus irmãos. Que Deus vos ajude.

Foi uma rave que durou dois semestres, mas este fim que anuncio antecipa-damente serve, no presen-te mês de Junho, para cal-car a nervoseira entedian-te do regime de frequên-cias, que teima em chupar-nos toda a energia agrupa-da nos músculos, e intensi-ficar a vossa dor benfiquis-ta (não me enganem, eu sei que quase tudo é do clube da catedral. Felizmente que isto já acabou e vocês não vão a tempo de me matar à facada, ou à canto-ria, sei lá eu).

Anunciei o fim por vocês, agora é tudo a cor-rer para a Costa da Capari-ca apanhar solinho e pro-curar o cancro através dos raios ultravioletas. Para o ano há mais, sem mim, pelo menos em palavras, mas sempre em espírito.

A Parte Para Rasgar é

a seção satírica e

humorística do Jornal

O Académico.

Nenhum conteúdo

deve ser levado a

sério.

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Espaço “Agora a sério” Não sei qual é o stress das raparigas terem celulite. A lua também tem

crateras e ninguém a critica. Também é verdade que não vai à praia,

mas quiçá um dia.

Playlist de Bárbara Fernandes 1- Happiness Loves Company – Red Hot Chili Peppers

2- Mirrors – Boyce Avenue (cover)

3- Beneath Your Beautiful – Labirinth feat. Emeli Sande

4- Daylight – Maroon 5

5- I Want to Hold Your Hand - The Beatles

6- Always - Bon Jovi

7- Casa (Vem Fazer de Conta) - Da Weasel ft. Manel Cruz

8- I Won't Give Up - James Morrison

9- Waiting on the World to Change - John Mayer

10- Use Somebody - Kings of Leon

11- It Ain't Over Till It's Over - Lenny Kravitz

12- Can't Take My Eyes Off Of You - Muse

13- Miss Independent - Ne-Yo

14- Last Kiss - Pearl Jam

15- I Can't Stand the Rain - Seal

16- One - U2 feat. Mary J. Blige

O Académico errou! O nosso jornal errou na idade de duas pessoas. Carlos Calaveiras, professor de rádio não

tem 40 anos (na altura da entrevista tinha 38 e atualmente 39) e Gonçalo Salgueiro, can-

didato à presidências da AEFCH tem 22 anos e não 20 anos. Fica desde de já o nosso pedi-

do de desculpas aos dois e aos nosso leitores pela falha informativa.

INICIATIVAS

On the Eve of War - V CECC International Conference on Culture and Conflict

Uma grande conferência patrocinada pelo’O Académico. Pensa num tema relacionado com as

pré-guerras e poderás ter a oportunidade de apresentá-lo num dos workshops. Aproveita! Mais

informações em http://eveofwar2013.wordpress.com/

Oitava Edição

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Estamos de volta em setembro!

Desejamos boas férias a toda

a comunidade académica!