Oficinas pedagógicas e Aprendizagem Significativa ......meu companheiro Edson, por sempre avivar em...

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS CAMPUS IV COLEGIADO DO CURSO DE GEOGRAFIA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO - TCC MARIA GABRIELA MARTINS DE OLIVEIRA Oficinas pedagógicas e Aprendizagem Significativa: contribuições para a construção dos saberes geográficos nos anos iniciais do Ensino Fundamental JACOBINA BAHIA 2017

Transcript of Oficinas pedagógicas e Aprendizagem Significativa ......meu companheiro Edson, por sempre avivar em...

  • UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB

    DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CAMPUS IV

    COLEGIADO DO CURSO DE GEOGRAFIA

    TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO - TCC

    MARIA GABRIELA MARTINS DE OLIVEIRA

    Oficinas pedagógicas e Aprendizagem Significativa: contribuições para

    a construção dos saberes geográficos nos anos iniciais do Ensino

    Fundamental

    JACOBINA – BAHIA

    2017

  • MARIA GABRIELA MARTINS DE OLIVEIRA

    Oficinas pedagógicas e Aprendizagem Significativa: contribuições para

    a construção dos saberes geográficos nos anos iniciais do Ensino

    Fundamental

    Trabalho de Conclusão de Curso

    apresentado ao curso de Licenciatura em

    Geografia, do Departamento de Ciências

    Humanas Campus IV da Universidade

    do Estado da Bahia – UNEB, como

    requisito à obtenção do grau de

    licenciatura em Geografia.

    Profª Orientadora: Ma. Ivaneide Silva Santos

    JACOBINA – BAHIA

    2017

  • MARIA GABRIELA MARTINS DE OLIVEIRA

    Oficinas pedagógicas e Aprendizagem Significativa: contribuições para

    a construção dos saberes geográficos nos anos iniciais do Ensino

    Fundamental

    Trabalho de Conclusão de Curso

    apresentado a Universidade do Estado

    da Bahia-UNEB, Departamento de

    Ciências Humanas-DCH Campus IV,

    como requisito parcial para a obtenção

    do título de Licenciado em Geografia.

    Aprovada em: ____ de _____________ de _____.

    BANCA EXAMINADORA

    ________________________________________

    Prof.ª. Ma. Ivaneide Silva dos Santos (Orientadora)

    ________________________________________

    Profº. Me. Carlos Lima Ferreira (Parecerista)

    ________________________________________

    Profª. Ma. Joseane Gomes de Araújo (Parecerista)

  • DEDICATÓRIA

    Dedico este trabalho primeiramente a Deus por ter proporcionado essa oportunidade em

    minha vida, e por ajudar a superar-me a cada dia. As minhas mães, Zenaide e Zenilda,

    pelo incentivo de nunca desistir, e pelo apoio mútuo.

    “IN MEMORIAN”, a minha bisavó Vitoriana, por tudo que fez por mim em vida. Ao

    meu companheiro Edson, por sempre avivar em mim a superação dos meus limites. E a

    toda minha família, que tem me acompanhado durante essa jornada, em especial aos

    meus irmãos de sangue e de coração, Tiago, Gabriel, Joyce, Laiane e Laise.

  • AGRADECIMENTOS

    Sempre grata a Deus, primeiramente, ao onipotente e misericordioso, por sempre

    ter renovado minhas forças e me dado sabedoria para enfrentar todos os obstáculos

    encontrados durante esse percurso, e principalmente pela sua proteção que me permitiu

    chegar até aqui.

    Agradeço a minha família, por todo o apoio que sempre tive, por ser meu refúgio

    nos momentos mais difíceis e por me incentivar a nunca desistir dos meus sonhos, me

    fazendo acreditar que tudo é possível para aqueles que acreditam e corre atrás.

    Grata também a todos os meus amigos, com quem divido minhas alegrias,

    tristezas e conquistas, pela compreensão e incentivo. Em especial a minha melhor amiga

    Michelle, por sempre estar ao meu lado. Ao meu afilhado Antony, que com a doçura de

    uma criança me trazia paz e alegria nos momentos difíceis da caminhada, dando-me

    ânimo para continuar. A todos do meu grupo de teatro Artefato de Serrolândia-Ba,

    minha segunda família, com quem posso contar sempre nas horas mais difíceis, onde

    encontro a diversão quando preciso e forças para continuar a batalha. Aos professores

    da UNEB Campus IV por compartilharem comigo toda sua sabedoria, ajudando na

    minha aprendizagem. As companheiras que encontrei nessa jornada, Déborah e Joilma,

    que me ensinaram quão importante é a coletividade, a cumplicidade e o respeito mútuo.

    Finalmente, agradeço a minha orientadora, Ivaneide Silva Santos, por depositar

    em mim sua confiança. Grata por todo apoio, incentivo e dedicação atribuídos a mim e

    ao meu trabalho, que não seria possível sem a sua colaboração mútua. Muito obrigada.

  • “O novo não se inventa, descobre-se”.

    (Milton Santos)

  • RESUMO

    A ação de ensinar sempre foi vista como algo desafiador, na medida em que o

    professor se vê a todo o momento pressionado a despertar o interesse dos alunos para a sua

    aula. Partindo desse pressuposto, é possível afirmar que há uma necessidade de se buscar a

    inovação da prática pedagógica enquanto meio de se alcançar a aprendizagem significativa.

    Sendo assim, o presente trabalho buscou explicar as contribuições das oficinas pedagógicas

    para a aprendizagem significativa dos saberes geográficos nos anos iniciais do ensino

    fundamental, e teve como objeto de estudo alunos e professores de três escolas públicas

    municipais de Serrolândia-Ba, cuja modalidade de ensino abrange o Ensino Fundamental I.

    Para tanto, a pesquisa leva em consideração um questionamento base: Por que as oficinas

    pedagógicas contribuem para a aprendizagem significativa dos saberes geográficos nos anos

    iniciais do Ensino Fundamental I, e apresenta uma abordagem metodológica qualitativa de

    caráter explicativo, tendo como fundamento teórico metodológico para a apreensão do

    conhecimento, o construtivismo, utilizando como procedimento a pesquisa-ação. Para tal,

    foram realizadas entrevistas com quatro professoras das três escolas pesquisadas, e com os

    trinta estudantes de 5º ano destas instituições que participaram das oficinas desenvolvidas

    pela pesquisadora. As práticas realizadas durante as oficinas apresentaram resultados

    extremamente positivos no que se refere à aprendizagem significativa dos alunos

    participantes, podendo ser comprovado através das entrevistas por eles respondidas, bem

    como pelas professoras investigadas. Os dados obtidos nesse estudo foram observados,

    analisados e aqui serão apresentados, visando comprovar a eficácia da utilização das oficinas

    pedagógicas na apreensão dos conteúdos de Geografia.

    PALAVRAS CHAVES: Oficina pedagógica. Ensino Fundamental I. Ensino de Geografia.

    Aprendizagem Significativa.

  • ABSTRACT

    The action of teach has always been seen as something challenging, according as the teacher

    sees himself all the moment pressed to wake up the students’ interest to his class. Based on

    this assumption, it is possible affirm that there is a necessity of seek innovation of

    pedagogical practice as a means of achieving the meaningful learning. Thus, the present work

    sought to explain the contributions of pedagogical workshops to the meaningful learning of

    geographic knowledge in the early grades of Elementary School, and it had as objective the

    study of students and teachers of three municipal public schools of Serrolândia – ba, whose

    teaching modality covers the Elementary School. Therefore, the research has consideration a

    base questioning: Why the pedagogical workshops contribute to the meaningful learning of

    geographic knowledge in the early grades of Elementary School? In addition, it shows a

    qualitative methodological approach with explanatory character, it had as methodological

    theoretical basis for the apprehension of knowledge, the constructivism, and it uses as a

    procedure the action-research. For such, they were conducted interviews with four teachers of

    the three schools researched, and with thirty students of fifth (5º) grade of these institutions

    that participated of workshops developed by the Researcher. The practices carried out during

    the workshops show results extremely positives in what it refers to the meaningful learning of

    the students that participated, it can be proven through of interviews answered by them, as

    well as, by the teachers investigated. The data obtained in this study were observed, analyzed

    and here they will be showed, to demonstrate the effectiveness of the use of pedagogical

    workshops in the apprehension of contents of Geography.

    KEY WORDS: Pedagogical workshop. Elementary School. Geography Teaching.

    Meaningful Learning.

  • LISTA DE ILUSTRAÇÕES

    Foto 01 – Fotografia aérea do perímetro urbano de Serrolândia-

    Ba.....................................................................................................................................43

    Foto 02 – Escola Municipal Profª Deniolmar Alves Silva Lima....................................45

    Foto 03 – Escola Municipal Eunice Maria Barbosa dos Reis.........................................46

    Foto 04 – Escola Municipal João Bispo Vieira...............................................................48

    Foto 05 – Localizando o Brasil no mapa mundí..............................................................51

    Foto 06 – Produção de mapas conceituais.......................................................................53

    Foto 07 – Noções cartográficas e regiões brasileiras.......................................................53

    Foto 08 – Produção de cartazes sobre as cinco regiões do Brasil...................................54

    Foto 09 – Desigualdade social no Brasil.........................................................................55

    Foto 10 – Localizando Serrolândia no mapa da Bahia....................................................56

    Foto 11 – Cabra-cega: trabalhando a lateralidade...........................................................58

    Foto 12 – Produção de cartazes sobre a cultura e a economia de Serrolândia-Ba.........59

    Foto 13 – Aula de campo pela cidade de Serrolândia-Ba................................................61

    Foto 14 – Produção de maquetes a partir da aula de campo pela cidade de Serrolândia-

    Ba.....................................................................................................................................62

    Foto 15 – Maquete do Monte Serrote em Serrolândia-Ba...............................................63

    Foto 16 – Maquete da Praça Leopoldo Vilas Boas (Praça do Arraiá).............................63

    Foto 17 – Maquete da Praça Ruy Barbosa (Praça da feira).............................................64

    Foto 18 – Maquete da Praça Manoel Novaes..................................................................65

    Foto 19 – Gincana geográfica: torta na cara....................................................................67

    Foto 20 – Momento de avaliação das oficinas................................................................69

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    AC – Atividades Complementares

    BNCC – Base Nacional Comum Curricular

    EJA – Educação de Jovens e Adultos

    ID – Iniciação à Docência

    IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

    PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais

    PDDE – Programa Dinheiro Direto na Escola

    PIBID – Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência

    PPP – Projeto Político Pedagógico

    UNEB – Universidade do Estado da Bahia

  • SUMÁRIO

    Introdução ........................................................................................................................... 11

    1- Capítulo 1- O ensino de Geografia nos anos iniciais e a construção da

    aprendizagem significativa ....................................................................................... 18

    1.1 O ensino de Geografia nos anos iniciais: aprendendo a lerescrever o mundo ............. 18

    1.2 Aprendizagem significativa: um conhecimento de significados ................................. 28

    2- Capítulo 2 - Oficinas pedagógicas: uma estratégia didática para o ensino de

    Geografia ..................................................................................................................... 33

    2.1 Entendendo o que é e como se faz oficinas pedagógicas ...................................... 35

    2.2 Trabalhando oficinas pedagógicas nas aulas de Geografia ................................... 38

    3- Capítulo 3 - Oficinas pedagógicas e aprendizagem significativa nos anos iniciais

    do Ensino Fundamental em Serrolândia- BA .......................................................... 42

    3.1 Escola Municipal Profª Deniolmar Alves Silva Lima ............................................ 44

    3.2 Escola Municipal Eunice Maria Barbosa dos Reis ................................................. 45

    3.3 Escola Municipal João Bispo Vieira ...................................................................... 47

    3.4 Oficinas pedagógicas e aprendizagem significativa em Geografia: Resultados e

    reflexões da pesquisa ......................................................................................................... 49

    4 Considerações finais ......................................................................................................... 72

    5 Referências ........................................................................................................................ 74

    6 Apêndices ........................................................................................................................... 77

    7 Anexos ................................................................................................................................ 80

  • 11

    INTRODUÇÃO

    O processo de ensino e aprendizagem é cercado de desafios, principalmente

    quando se trata do interesse do alunado para com a sala de aula. Muitos autores que

    tratam do ensino de Geografia dirigem-se a ele como estando em crise frente às

    transformações que estão acontecendo no mundo e que atribuem novas características à

    sociedade contemporânea. Vivemos em uma nova era, cada vez mais tecnológica e

    modernizada, devido ao acelerado processo de globalização e seus fenômenos

    socioeconômicos, culturais e políticos dando a esta novas configurações.

    Assim, esses novos significados que são atribuídos à sociedade, configura dessa

    forma a crise no ensino, tanto da Geografia, quanto das demais disciplinas, pois ao

    mesmo tempo em que a escola deve ser o lugar mais indicado para se discutir o novo,

    na maioria das vezes esta se apresenta com grande despreparo frente a essas mudanças

    espaço-temporais do mundo atual, promovendo a continuidade do ensino e de práticas

    pedagógicas desatualizadas e desconexas da realidade dos alunos.

    Essa deficiência em se discutir o novo em sala de aula, pode ser comprovada

    pelo descontentamento geral dos indivíduos que fazem parte do processo de ensino e

    aprendizagem, sobretudo os alunos, para com a instituição escolar. Está cada vez mais

    difícil conseguir despertar o interesse dos estudantes para a sala de aula, isso se deve,

    em grande parte, à falta de contextualização dos conteúdos trabalhados com a realidade

    vivenciada, dificultando e comprometendo o conhecimento e a criticidade desses

    indivíduos a respeito do mundo em que vivem.

    Dessa forma, torna-se extremamente necessário que se revigore o modo como se

    ensina atualmente, e para além dos conteúdos programáticos é imprescindível também à

    renovação da escola como um todo, para que esta se torne um ambiente atrativo aos

    alunos e estimulantes ao profissional docente. Essa renovação curricular tem sido

    bastante discutida pela ciência geográfica. Ambos os discursos visam encontrar

    soluções que possam suprir a necessidade de se superar a insatisfação generalizada para

    com a escola no que diz respeito aos conteúdos que ela deve trabalhar. Nesse estudo é

    válido dizer também, o quão é importante que as práticas pedagógicas desenvolvidas

    pelos docentes também possam ser submetidas à renovação, de modo que estas estejam

  • 12

    voltadas a realidade do aluno, para que o conteúdo das aulas possa lhe fazer sentido e

    instigar o seu desejo pela busca do conhecimento.

    No entanto, articular teoria e prática é sempre um desafio em qualquer área do

    conhecimento. Desta forma, buscou-se aqui, apresentar a oficina pedagógica como uma

    ferramenta de ensino que pode ajudar a facilitar o processo de ensino e aprendizagem

    por acreditar que o pensar e o agir exigem a busca por estratégias de integração entre os

    pressupostos teóricos e práticos. Daí a necessidade da pesquisa cujo tema é “Oficinas

    pedagógicas e Aprendizagem Significativa: contribuições para a construção dos saberes

    geográficos nos anos iniciais do Ensino Fundamental”.

    A escolha do tema surgiu a partir da experiência profissional da pesquisadora em

    sala de aula com alunos dos anos iniciais há cinco anos, em que é possível perceber a

    necessidade do professor buscar a inovação das práticas pedagógicas ainda nos

    primeiros anos de ensino, de modo que desperte o interesse dos alunos para a

    construção do conhecimento. Vale ressaltar ainda que a experiência como bolsista de

    Iniciação à Docência (ID) do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência-

    PIBID, e como discente do componente curricular Estágio Supervisionado em

    Geografia II, do curso de Geografia da Universidade Estadual da Bahia, direcionado às

    intervenções pedagógicas nos espaços não formais de educação, também contribuíram

    significativamente para a escolha do tema.

    Através dessas experiências foi possível perceber que o ensino de Geografia e a

    realidade do aluno devem caminhar sempre juntos durante o processo de construção do

    conhecimento, buscando contextualizar a teoria da sala de aula com a realidade em que

    o educando está inserido de modo que os conteúdos que ele estuda na escola façam

    sentido fora dela.

    O estudo foi voltado para os anos iniciais do Ensino Fundamental, pois este nada

    mais é que a base para todos os outros ciclos escolares. Trata-se do momento crucial em

    que a criança deve desenvolver a sua leitura de mundo e se reconhecer no espaço como

    parte integrante dele. Nesta fase ela aprenderá não só a ler, mas também escrever, assim

    torna-se importante que não aprenda isso apenas por dever, mas para ler e escrever o

    mundo em que vive de modo que este lhe faça sentido. É também o momento em que é

    possível identificar vários desafios que comprometem o ensino de Geografia tais como

    a formação generalista docente, e consequentemente a defasagem das práticas

    pedagógicas desses profissionais.

  • 13

    Assim, diante de tais aspectos, é imprescindível a discussão dessa temática,

    levando em consideração um questionamento base: Por que as oficinas pedagógicas

    contribuem para a aprendizagem significativa dos saberes geográficos nos anos iniciais

    do Ensino Fundamental?

    A pesquisa teve como objetivo geral explicar a contribuição dos pressupostos e

    práticas desenvolvidas nas oficinas pedagógicas para a aprendizagem significativa dos

    saberes geográficos nos anos iniciais. Como objetivos específicos, a pesquisa pretendeu

    identificar de que forma a utilização da oficina pedagógica em sala de aula pode

    contribuir para a aprendizagem do ensino de Geografia, para tanto foi necessário

    analisar como os alunos conseguem apreender os conteúdos trabalhados durante a

    oficina pedagógica e identificar de que forma os alunos relacionam os conteúdos com a

    sua realidade. Buscou-se, desta maneira um resultado positivo para ambas as partes do

    processo de investigação, pesquisador e participantes.

    São vários os ensaios acadêmicos que tratam da importância do ensino de

    Geografia, e como esta deve estar presente desde os anos iniciais, dentre estes ensaios e

    autores estão Helena Copetti Callai (2000, 2001, 2005, 2006, 2011); Lana de Souza

    Cavalcanti (1998, 2006, 2011); Rafael Straforini (2001, 2011, 2016); Ana Fani

    Alessandri Carlos (2004); Antonio Carlos Castrogiovanni (2000; 2011); dentre outros.

    Há também vários teóricos que discutem as condições que levariam a aprendizagem

    significativa, dentre eles podemos destacar Piaget (1971, 1973, 1977), George Kelly

    (1963), Lev Vygotsky (1987, 1988), Johnson Laird (1983), Novak (1977, 1981), David

    Ausubel (1963-1968). Estes autores apresentam diferentes referenciais teóricos

    construtivistas sobre a aprendizagem significativa e defendem que esta subjaz a

    construção humana. Entretanto, vale ressaltar a falta de obras e autores que discutem

    sobre a oficina pedagógica como uma possível prática de ensino, e de como esta pode

    contribuir para a apreensão dos conhecimentos da Geografia nos anos iniciais do Ensino

    Fundamental, é o que justifica e torna esta pesquisa de extrema importância para a

    ciência geográfica bem como para a Geografia escolar. Estes fatores evidenciam o

    ineditismo da presente pesquisa.

    Para tornar a pesquisa viável e eficaz, a mesma buscou estudar o objeto de forma

    direta e detalhada através do planejamento e aplicação de oficinas pedagógicas, tendo

    como fundamento teórico metodológico para sua realização o construtivismo, bem

    como para a apreensão dos conhecimentos pelos participantes das oficinas. Segundo

    Luckesi (2006 p. 120) uma prática docente é construtiva na medida em que trabalha

  • 14

    com princípios científicos e metodológicos que deem conta da construção do ensino e

    da aprendizagem para o desenvolvimento do educando.

    Dessa forma, as práticas foram realizadas segundo os conteúdos curriculares de

    Geografia trabalhados pelo professor/a durante a unidade letiva nas turmas do 5º ano

    dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Partindo dessa concepção, buscou-se

    promover a aprendizagem dos participantes através de atividades lúdicas que foram

    desenvolvidas durante as oficinas pedagógicas, porém de forma construtiva, levando em

    consideração a base teórica metodológica para a sua realização.

    A abordagem metodológica da pesquisa foi qualitativa, em que a pesquisadora

    esteve a todo o momento interagindo com o seu objeto de estudo e o contexto em que

    ele está inserido. Seu caráter é explicativo, pois buscou elucidar o problema levantado,

    procurando respostas para o mesmo. “A Pesquisa qualitativa considera que há uma

    relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o

    mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números.”

    (PRODANOV, 2013, p.71).

    Foi utilizado como método de abordagem o dialético em que “[…] as coisas não

    são analisadas na qualidade de objetos fixos, mas em movimento: nenhuma coisa está

    "acabada", encontrando-se sempre em vias de se transformar, desenvolver; o fim de um

    processo é sempre o começo de outro.” (LAKATOS; MARCONI, 2003 p.101).

    O método escolhido se adequa a pesquisa, pois esta busca explicar a

    contribuição dos pressupostos e práticas desenvolvidas nas oficinas pedagógicas para a

    aprendizagem significativa dos saberes geográficos nos anos iniciais, bem como

    observar de que forma os participantes relacionam os conteúdos trabalhados com a sua

    realidade, procurando dessa forma perceber as semelhanças e contradições presentes nas

    falas e comportamentos dos sujeitos que fazem parte do processo de ensino e

    aprendizagem.

    Quanto aos procedimentos, foi utilizada a pesquisa-ação em que é

    [...] concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou

    com a resolução de um problema coletivo. Os pesquisadores e os

    participantes representativos da situação ou do problema estão

    envolvidos de modo cooperativo ou participativo. (PRODANOV, 2013, p.65)

    As oficinas foram aplicadas, e aconteceram, em três escolas da rede pública

    municipal de Serrolândia-Ba: João Bispo Vieira, Deniolmar Alves Silva Lima e Eunice

    Maria Barbosa dos Reis, com 10 alunos do 5º ano dos anos iniciais do Ensino

  • 15

    Fundamental escolhidos por escola, totalizando 30 estudantes selecionados através de

    sorteio em cada instituição pesquisada. As oficinas contaram com uma carga horária

    semanal de oito horas, distribuídas em cinco encontros, totalizando quarenta horas

    durante uma unidade letiva da escola, sendo realizadas aos sábados de modo que não

    interferissem nas aulas dos alunos, embora em uma das escolas tenha sido necessário

    realizá-las no próprio espaço da instituição, devido à distância da mesma ao local

    proposto. As atividades desenvolvidas nas oficinas estiveram pautadas nos conteúdos

    curriculares de Geografia selecionados e trabalhados pelo professor/a no cotidiano da

    sala de aula.

    Assim, a pesquisa foi realizada com os alunos das escolas selecionadas, bem

    como com as quatro professoras da mesma, que participaram do estudo respondendo

    aos questionários sobre o tema da pesquisa. Visando preservar a identidade das

    entrevistadas, estas serão citadas no decorrer da discussão como professora A, B, C e D,

    como forma de contribuir com as ideias expostas pela pesquisadora e autores acerca do

    ensino de Geografia em sala de aula. Aos alunos, foram aplicados os questionários de

    avaliação pós-oficinas em que eles puderam relatar as experiências e percepções acerca

    das oficinas pedagógicas que estes participaram, havendo assim o retorno da

    pesquisadora às escolas campo de pesquisa para realizar a coleta desses dados, que

    também serão apresentados durante a discussão como forma de contribuir com as ideias

    expostas.

    A escolha das escolas aconteceu pelo fato de estas serem as únicas escolas

    públicas da sede do município, local delimitado para a pesquisa. Quanto à escolha do

    público das referidas oficinas buscou-se trabalhar com turmas de alunos que irão

    ingressar no Ensino Fundamental II, exigindo uma atenção maior para a bagagem de

    conhecimento que precisarão levar para essa nova etapa do ensino.

    Para o estudo do objeto, foram adotadas técnicas como a aplicação de

    questionários com questões abertas aos professores que explanaram suas opiniões

    acerca das oficinas pedagógicas como prática de ensino de Geografia. Após coletados

    os dados, estes foram analisados na pesquisa de forma qualitativa, através da elaboração

    de citações das falas dos indivíduos participantes como uma maneira de contribuir com

    as discussões. Os resultados obtidos com a realização das oficinas foram observados,

    analisados e aqui apresentados, sobre a eficácia da utilização das oficinas pedagógicas

    na apreensão dos conteúdos de Geografia.

  • 16

    Vale salientar que esta, assim como toda pesquisa que envolve seres humanos,

    apresenta riscos, principalmente por envolver o público infantil. No entanto, todos os

    cuidados possíveis foram tomados para que todos os direitos dos indivíduos

    participantes da pesquisa durante o processo de coleta de dados fossem respeitados, com

    o intuito de não negligenciar a dignidade humana. Por conseguinte o trabalho teve a

    aprovação do comitê de Ética da Universidade do Estado da Bahia, via Plataforma

    Brasil.

    O trabalho está dividido em três capítulos: o primeiro intitulado, “O ensino de

    Geografia nos anos iniciais e a construção da aprendizagem significativa”, traz consigo

    uma discussão sobre a aprendizagem significativa, como aquela que deve atribuir

    significado ao que se aprende, de modo que os conteúdos façam sentido e não seja

    apenas mera reprodução mecânica e passageira. O capítulo também aborda os desafios

    enfrentados no ensino de Geografia dos anos iniciais pelos profissionais docentes, bem

    como sobre as dificuldades e perspectivas para se encontrar caminhos para alcançar uma

    aprendizagem mais significativa dos saberes geográficos em sala de aula, para que o

    aluno consiga compreender o seu papel na sociedade enquanto sujeito transformador,

    permitindo que ele possa, desde cedo, lerescrever o mundo ao qual faz parte.

    O segundo capítulo intitulado “Oficinas pedagógicas: uma estratégia didática

    para o ensino de Geografia” expõe as oficinas pedagógicas como prática de ensino em

    Geografia, apresentando essa ferramenta como uma possível aliada nas aulas de

    Geografia e como uma maneira de potencializar a aprendizagem dos alunos para que

    este consiga participar desse processo de construção do conhecimento, sendo ele o

    organizador dos seus saberes, e o professor o seu mediador.

    O terceiro capítulo que tem como título “Oficinas pedagógicas e aprendizagem

    significativa nos anos iniciais do Ensino Fundamental em Serrolândia-Ba”, em que são

    apresentados os resultados da coleta de dados sobre as oficinas pedagógicas realizadas

    nas escolas municipais da cidade de Serrolândia-Ba, assim como a caracterização destas

    enquanto um ambiente de aprendizagem. O capítulo traz uma reflexão acerca das

    contribuições que as oficinas de Geografia podem proporcionar para a aprendizagem do

    aluno de anos iniciais.

    Nas considerações finais, é feita a análise de todo o percurso da pesquisa,

    observando se os objetivos traçados no inicio da investigação foram alcançados ou não,

    e considerando as oficinas pedagógicas como uma prática didática inovadora e eficaz

    para a aprendizagem de Geografia nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

  • 17

    Portanto, consideramos que esta pesquisa traz muitas contribuições para a

    educação geográfica, na medida em que apresenta novas possibilidades de ensino e

    aprendizagem que une a teoria com a prática de maneira lúdica e vivenciada, de modo

    que o ensino, sobretudo da Geografia, seja potencializado. A comunidade investigada

    também será beneficiada, pois também terá conhecido uma nova perspectiva de ensino,

    e fará parte dessa nova descoberta. Os resultados da investigação serão expostos aos

    participantes e a comunidade, para que estes possam fazer sua análise crítica sobre a

    pesquisa. Também será apresentada a outros pesquisadores, e estará à disposição caso

    queiram dar prosseguimento ao estudo.

  • 18

    1 ENSINO DE GEOGRAFIA NOS ANOS INICIAIS E A CONSTRUÇÃO DA

    APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA

    O processo de ensino e aprendizagem deve estar sempre pautado no diálogo, em

    que o novo conhecimento possa unir-se aos saberes que já estão postos nos

    destinatários, de modo que este possa significá-lo de acordo à suas aspirações. Assim, o

    ensino de Geografia deve ser realizado de maneira contextualizada para que o espaço

    geográfico, objeto de estudo da ciência geográfica e da Geografia escolar, e seus

    conceitos chaves como lugar, região, paisagem, território etc, possam fazer sentido para

    o aluno, colocando-o como agente ativo na construção deste espaço geográfico. O aluno

    precisa compreender como tais fenômenos estão presentes no mundo, e qual a sua

    participação nestes.

    Sendo assim, é possível dizer que o ensino de Geografia torna-se imprescindível

    para auxiliar a construção da cidadania, permitindo que os sujeitos do processo de

    ensino e aprendizagem desenvolvam seu senso crítico acerca da sua realidade podendo

    assim intervir nela. Cabe ressaltar ainda a importância deste ensino se fazer presente

    desde os primeiros anos de escolarização, de modo que ainda criança o aluno consiga

    compreender o seu papel na sociedade enquanto sujeito transformador, permitindo que

    ele possa desde cedo lerescrever o mundo ao qual faz parte.

    1.1 O ensino de Geografia nos anos iniciais: aprendendo a lerescrever o mundo

    O ensino de Geografia nos anos iniciais é de grande importância para a

    compreensão do mundo, na medida em que este deve proporcionar, desde o início do

    processo de escolarização, possibilidades para que a criança/aluno possa desenvolver a

    sua capacidade de ler e pensar o espaço do qual faz parte, podendo assim intervir como

    sujeito ativo, transformador, crítico e reflexivo na sua realidade. Almeida (1999) diz que

    a função da Geografia está em

    Munir os alunos de conhecimentos que lhes permitam agir de modo

    mais lúcido ao tratar das questões que tem a ver com a ocupação e

    gestão do espaço em diferentes níveis. O ensino de Geografia tem,

    portanto, papel decisivo na formação para a cidadania. (ALMEIDA,

    1999 p.83. Apud. STRAFORINI, 2001 p. 24).

  • 19

    No entanto, durante os anos iniciais há uma preocupação maior, por parte do

    ensino, no que diz respeito à aprendizagem da leitura e da escrita, e muitas das vezes a

    busca pela compreensão do mundo externo à sala de aula e inerente ao educando acaba

    sendo deixado de lado, quando há a possibilidade de “aprender a ler, aprendendo a ler o

    mundo, e escrever, aprendendo a escrever o mundo” CALLAI (2005 p. 228). Para essa

    autora,

    Ler o mundo da vida, ler o espaço é compreender que as paisagens

    que podemos ver são resultado da vida em sociedade, dos homens na

    busca da sua sobrevivência e da satisfação das suas necessidades. Em

    linhas gerais, esse é o papel da geografia na escola. (CALLAI, 2005 p.

    228/229).

    Dessa forma, ler o mundo significa também acompanhar as suas constantes

    transformações e entender que elas são resultados das relações sociais, de uma produção

    coletiva da sociedade de acordo com as suas utopias, desejos e necessidades sobre o

    espaço construindo-o, reconstruindo-o e dando-lhes significações em diferentes

    contextos históricos.

    Assim, a expressão lerescrever o mundo, construída no decorrer da pesquisa,

    significa a possibilidade de se decifrar o presente de maneira criteriosa na busca de se

    construir um futuro bem mais consistente, isto é, ler o agora com críticidade, de modo

    que se compreenda toda a dinâmica existente no espaço-tempo em que se está inserido,

    para que assim este possa fazer sentido na vida dos indivíduos, possibilitando que os

    mesmos escrevam seu próprio futuro e transformem a sua realidade de modo que não

    sejam indivíduos conformados com o que já está posto, mas sim sujeitos capazes de

    refletir sobre esta.

    Partindo deste pressuposto, é possível dizer que o ensino, sobretudo de

    Geografia, torna-se muito importante para que a possibilidade de lerescrever o mundo

    venha a acontecer, sendo necessário que este seja realizado desde os anos iniciais. A

    Geografia estuda o espaço geográfico, bem como as relações que nele se estabelece

    sendo elas de cunho social, cultural, econômico e político. Sendo assim, o seu ensino

    pode promover o despertar para todas essas questões supracitadas presentes no espaço

    geográfico, facilitando a compreensão dos seus participantes sob o mundo que o

    cercam, para que estes possam a partir da sua leitura de mundo hoje, escrever o seu

    amanhã entendendo o espaço como um conceito em constante transformação. Segundo

    os escritos da II versão da Base Comum Curricular de Geografia (2015), para que essa

    ciência torne-se instigante para o aluno da escola atual, é necessário que ela se faça

  • 20

    presente na vida deste, para que os mesmos possam refletir se questionar e assim poder

    intervir na sua realidade. Assim

    Fazer a Geografia acontecer como saber importante para os/as

    estudantes, na escola contemporânea, implica torná-la presente no

    cotidiano de crianças, de jovens e de adultos provocando

    questionamentos, observações e análises como novas aprendizagens,

    intervenções e proposições para situações de suas vidas. (BRASIL,

    2015 p. 266).

    É importante salientar que assim como o mundo, o ensino também se

    transforma. Sobre isso, Straforini (2001) afirma que:

    Não podemos mais negar a realidade ao aluno. A Geografia,

    necessariamente, deve proporcionar a construção de conceitos que

    possibilitem ao aluno compreender o seu presente e pensar o futuro

    com responsabilidade, ou ainda, se preocupar com o futuro através do

    inconformismo do presente. Mas esse presente não pode ser visto

    como algo parado, estático, mas sim em constante movimento.

    (STRAFORINI, 2001 p. 23).

    Partindo dessa colocação, é possível perceber o quão é importante se estabelecer

    a relação entre o conhecimento em movimento com o que já está posto e inerente ao

    aluno, o papel da Geografia está em permitir que o aluno desenvolva o seu pensamento

    crítico, refletindo sobre a sua realidade como uma maneira de entender o agora e refletir

    sobre o que virá depois com consciência, deixando sempre evidente que nada no mundo

    é estático, tudo muda, tudo se transforma num todo complexo. O aluno, dessa maneira

    precisa saber acompanhar essas transformações para que assim possa lerescrever o

    mundo.

    Vale salientar que também existem muitas discussões acerca do ensino e

    aprendizagem nas aulas de Geografia, e na maioria destes há uma grande preocupação

    com a maneira defasada que tal ensino vem se apresentando. São várias as

    problemáticas que contribuem para que ainda exista uma visão distorcida do que

    realmente seja a Geografia, bem como do seu papel no contexto educacional.

    Dentre esses vários estudos, pode-se citar a autora Goulart (2011), que discorre

    sobre algumas dessas questões, e afirma que a Geografia tem se apresentado ao longo

    de sua história como um saber enciclopédico, isto é, a Geografia das informações e

    dados decorados sem uma preocupação necessária com o seu verdadeiro papel, a

    compreensão do espaço. Desta forma, para que a leitura de mundo aconteça é necessário

    que se crie estratégias de ensino que estimule o aluno a pensar o espaço como um todo e

    não de maneira fragmentada, hierarquizada sem relação entre as partes, pois “[...] o

  • 21

    estudo fragmentado da realidade não leva o aluno a lugar algum. Muitas vezes o ensino

    não passa de uma decoração exagerada, da enumeração e da descrição de fatos

    isolados”. (STRAFORINI, 2001 p. 23).

    Goulart (2001) acrescenta que, a Geografia continua sendo vista como a

    disciplina da memorização momentânea, que não leva em consideração as questões da

    espacialidade. Segundo a autora

    As pessoas, de um modo geral, não compreendem o que é Geografia e

    seu papel no contexto educacional, referindo-se a essa disciplina,

    quase sempre, como algo a ser memorizado para ser usado numa

    prova ou em conversas informais, já que não tem muita utilidade

    prática. (GOULART, 2011 p. 19).

    Para esta autora, esse problema pode estar ligado diretamente com a deficiência

    do ensino de Geografia, bem como das práticas pedagógicas de seus professores que, na

    maioria das vezes, não dão conta de ensinar a Geografia como ciência social, tornando-a

    diversas vezes descontextualizada da realidade do aluno, atrelando assim a disciplina ao

    saber enciclopédico.

    Sobre esta questão, através de entrevistas, perguntou-se às professoras que

    participaram da pesquisa como estas realizam o ensino de Geografia na sala de aula e

    todas essas profissionais docentes foram unânimes em suas respostas ao dizerem que na

    maioria das vezes utilizam o livro didático nas suas aulas, o que, ainda segundo elas,

    podem sim prejudicar a aprendizagem de Geografia dos alunos, uma vez que esta

    ciência pode ser compreendida de maneira mais concreta, através do estímulo à

    percepção do espaço nos alunos. Com isso, é possível dizer que a leitura de mundo do

    aluno pode ser comprometida e a disciplina ser vista por este como enfadonha e

    cansativa. Ainda sobre isso, a professora D diz que

    Não me sinto segura para trabalhar com mapas nas aulas de

    Geografia, apesar de considerá-los muito importante para lecionar a

    disciplina, não tive a devida preparação para lidar com esses

    instrumentos. Faço o uso, porém não é com muita frequência. Por

    isso, na maioria das vezes, as aulas são desenvolvidas através do

    livro didático1.

    A fala da professora reforça a ideia defendida por Goulart (2011) e Straforini

    (2016), sobre a formação generalista, em que muitos docentes dos anos iniciais não são

    preparados para lecionar Geografia, o que prejudica suas práticas pedagógicas e acaba

    por interferir negativamente na aprendizagem dos alunos, que não se sentem

    1 Fala da professora D, da Escola Municipal Eunice M. B. dos Reis do turno vespertino, e da Escola João

    Bispo Vieira do turno matutino. Entrevista concedida em: 28/03/2017.

  • 22

    estimulados pela disciplina. É importante ressaltar que as representações gráficas foram

    apontadas pelas professoras como o principal conteúdo de Geografia que elas têm mais

    dificuldade de trabalhar. Contudo, Faz-se necessário lembrar que a cartografia,

    enquanto um apoio à leitura espacial e sua construção, torna-se de extrema importância

    nos anos iniciais, como nos afirma os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs

    (1997), quando diz que “[…] o estudo da linguagem cartográfica tem se reafirmado

    cada vez mais desde o início da vida escolar do aluno”.

    Para a criança se tornar leitor consciente de mapas, ela deve ser

    iniciada de forma eficiente na tarefa de mapear. A ação de mapear

    consiste em trabalhar a representação espacial partindo de espaços

    mais simples e próximos da criança para depois levá-la a entender

    espaços mais distantes. Para isso, o professor deve considerar os

    conhecimentos prévios da criança sobre localização espacial e

    respeitar a forma como a criança percebe e representa o espaço.

    (ALMEIDA; PASSINI, 1989. Apud. FERRAZ, 2013, p. 02).

    Partindo dessa colocação, no ensino dos anos iniciais o espaço vivido da criança

    não pode ser deixado de lado, deve ser tratado como objeto de estudo durante todo o

    processo da alfabetização espacial. Ainda segundo Ferraz (2013), O aluno consegue

    compreender melhor o espaço quando passa a mapeá-lo, ele cria símbolos que o

    representa e, utilizando seu próprio corpo, passa a se localizar espacialmente. A

    formação da noção de espaço passa por etapas próprias da evolução da criança: inicia no

    espaço vivido, passa pelo espaço percebido e chega ao espaço concebido.

    Vale salientar que durante os anos iniciais a criança não consegue dar conta de

    todos os aspectos exigidos pela linguagem cartográfica. Nessa fase, por exemplo,

    desenvolverão atividades, como mapas, que não vão estar de acordo com as normas

    técnicas da cartografia. Nesse sentido, é responsabilidade do professor fazer com que

    haja situações em que os alunos possam aprimorar pouco a pouco os aspectos exigidos,

    de modo que facilite a coordenação e compreensão da cartografia, assim devido à falta

    de preparo desses profissionais de Pedagogia para com a disciplina de Geografia, suas

    práticas pedagógicas, muitas vezes, não conseguem dar conta desses objetivos,

    comprometendo a aprendizagem significativa dos alunos, como fora exposto na fala da

    professora anteriormente.

    Para além das questões referentes à dificuldade do uso e compreensão de mapas

    nas aulas de Geografia, muito se tem discutido sobre quão desafiador é ensinar esta

    disciplina escolar frente às mudanças que vem ocorrendo no mundo contemporâneo. A

    nova gama de informações, atreladas ao avanço tecnológico fazem com que muitos

  • 23

    assuntos se apresentem de forma desconexa na sala de aula, aumentando a preocupação

    com as aulas de Geografia na educação básica, no que diz respeito ao que deve ser

    trabalhado e como isso irá acontecer.

    Nesse caso é preciso que os docentes possam repensar suas práticas pedagógicas

    nas aulas de Geografia, para que estas não continuem a reproduzir o discurso de

    inutilidade da disciplina apenas como um saber momentâneo, que se ouve e logo se

    esquece, e que as mesmas não sejam insignificantes para o aluno. Sendo assim, é

    necessário que haja a renovação do ensino de Geografia e que esta aconteça desde os

    anos iniciais, evitando assim que futuramente os alunos se tornem sujeitos que

    desconhecem o verdadeiro significado da Geografia, o estudo e a compreensão do

    espaço geográfico, atribuindo a essa disciplina apenas características enciclopédicas

    como a leitura de mapas, e a memorização de nomes de lugares e capitais e dados

    estatísticos.

    Torna-se, pois, imprescindível que se repense a função do currículo escolar de

    Geografia desde os primeiros anos de escolaridade, para que a disciplina seja ensinada

    para que os alunos consigam compreende-la, e possam reconhecer o seu objeto de

    estudo, o espaço geográfico, bem como a sua importância para a leitura do mundo no

    qual todos estão inseridos, e suas relações sociais nos diversos aspectos. É preciso, pois

    que o currículo não se apresente como uma mera lista de conteúdos a serem trabalhados,

    mas sim que ofereça um suporte para que os docentes possam encontrar meios para que

    estes façam sentido para os alunos, não sendo apenas informações que são despejadas

    sem nenhuma contextualização e significância.

    Partindo disso, é possível retomar aqui a importância de se levar sempre em

    consideração a realidade que o aluno vivencia, é necessário que as temáticas trabalhadas

    pelo professor façam sentido para os alunos e que o primeiro seja o mediador da

    aprendizagem do segundo, o ajudando na construção do seu conhecimento e consciência

    cidadã. Daí a necessidade de se repensar as práticas pedagógicas, de modo que estas se

    tornem mais interessantes e divertidas, sem perder, é claro, a sua intencionalidade que é

    a apreensão dos conteúdos trabalhados e não somente a memorização de informações

    desconexas.

    Ao serem questionadas sobre quais os conteúdos de Geografia são trabalhados

    com as turmas do 5º ano e como eles são selecionados, as professoras também deram

    respostas semelhantes, uma vez que todas as instituições seguem o mesmo

    planejamento escolar estabelecido pelo município, que acontece através da jornada

  • 24

    pedagógica e Atividades Complementares – AC, com a presença e participação dos

    coordenadores, professores e diretores das instituições. Sendo assim, a professora B

    respondeu que

    Os conteúdos trabalhados estão ligados à localidade, à natureza,

    sociedade, às paisagens, o território e as regiões brasileiras. São

    escolhidos coletivamente, observando a necessidade, as diretrizes e

    metas para o ensino de nove anos2.

    É possível perceber na fala da professora, que os conteúdos que são escolhidos

    para serem trabalhados com essa modalidade e ano de ensino estão baseados

    principalmente nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs para o primeiro ciclo,

    que prioriza a observação e a descrição do espaço na construção do conhecimento.

    Partindo dessa reflexão, pode-se estabelecer relação com a visão da autora Callai

    (2011), que em seus estudos, também traz uma preocupação sobre o ensino de

    Geografia nos anos iniciais, mais especificamente abordando o currículo escolar. Ela

    considera tal assunto como um problema a ser resolvido, no que diz respeito ao ensino

    de Geografia nesse nível de escolaridade bem como a formação docente.

    A autora trata do currículo escolar de Geografia nos anos iniciais segundo a

    legislação, que preconiza o ensino de disciplinas específicas, e tem uma preocupação

    maior com a permanência da criança na escola e a continuação dos seus estudos, através

    do letramento e alfabetização. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs

    (2001)

    O ensino de Geografia pode levar os alunos a compreenderem de

    forma mais ampla a realidade, possibilitando que nela interfiram de

    maneira mais consciente e propositiva. Para tanto, porém, é preciso

    que eles adquiram conhecimentos, dominem categorias, conceitos e

    procedimentos básicos com os quais este campo do conhecimento

    opera e constitui suas teorias e explicações, de modo a poder não

    apenas compreender as relações socioculturais e o funcionamento da

    natureza às quais historicamente pertence, mas também conhecer e

    saber utilizar uma forma singular de pensar sobre a realidade: o

    conhecimento geográfico. (BRASIL, 2001 p. 108).

    Para tanto, o documento traz consigo proposições sobre o quê e como se deve

    trabalhar a Geografia nos anos iniciais do Ensino Fundamental, apontando os

    conteúdos, os objetivos e os critérios de avaliação no primeiro e segundo ciclo da

    aprendizagem. Para o primeiro ciclo

    O estudo da Geografia deve abordar principalmente questões relativas

    à presença e ao papel da natureza e sua relação com a ação dos

    2 Fala da professora B, da Escola Municipal Deniolmar Alves Silva Lima do turno vespertino. Entrevista

    concedida em: 28/03/2017.

  • 25

    indivíduos, dos grupos sociais e, de forma geral, da sociedade na

    construção do espaço geográfico. Para tanto, a paisagem local e o

    espaço vivido são referencias para o professor organizar seu trabalho.

    (BRASIL, 2001 p. 127).

    Sendo assim, os PCNs de Geografia consideram importante que os alunos

    possam conhecer os procedimentos geográficos da observação, descrição, representação

    e construção do conhecimento. Diz ser importante também, no primeiro ciclo, entre 06 a

    07 anos, estabelecer relações entre a paisagem local com outras paisagens e lugares

    diferentes e distantes, levando sempre em consideração o conhecimento prévio que os

    alunos possuem sobre o mundo em que está inserido, para que a partir disso possam ser

    organizados com o conhecimento geográfico. Para o ensino e aprendizagem no segundo

    ciclo, entre 09 e 10 anos, o documento diz que

    O estudo da Geografia deve abordar principalmente as diferentes

    relações ente as cidades e o campo em suas dimensões sociais,

    culturais e ambientais e considerando o papel do trabalho, das

    tecnologias, da informação, da comunicação e do transporte. O

    objetivo central é que os alunos construam conhecimentos a respeito

    das categorias de paisagem urbana e paisagem rural, como foram

    constituídas ao longo do tempo e ainda o são, e como sintetizam

    múltiplos espaços geográficos. (BRASIL, 2001 p. 139).

    Nesse ciclo, considera-se importante que os alunos consigam compreender as

    diferenças entre as categorias de paisagem urbana e paisagem rural, bem como

    estabelecer relações entre estas no espaço geográfico. Torna-se importante também, que

    este conhecimento seja desenvolvido através da categoria geográfica de lugar, isto é,

    “[...] a paisagem local pode conter elementos fundamentais para os alunos observarem,

    compararem e compreenderem essas relações” (BRASIL, 2001 p. 139). Para além dessa

    categoria, pode-se discutir também o território através das relações estabelecidas entre o

    campo e a cidade, bem como a predominância da segunda sob o primeiro.

    Assim, é possível dizer que os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs

    oferecem orientações pedagógicas que indicam de que forma pode acontecer o ensino

    de Geografia nos anos iniciais do Ensino Fundamental, e apresenta os objetivos que se

    espera alcançar. No entanto, Callai (2011) tece algumas críticas quanto ao acesso e uso

    desses documentos, dentre elas está, o descaso com que esses documentos são tratados

    pela intelectualidade e universidades, que muitas das vezes não faz uso do material

    como deveria.

    Por conseguinte, apesar da importância que os PCNs de Geografia apresentam

    para o ensino e aprendizagem, não são bem aproveitados e sua ausência atualmente nas

  • 26

    escolas pode ser facilmente percebida. Diante disso, vem a surgir muitos estudos

    interessados em discutir sobre os avanços, desafios e possíveis soluções para o ensino

    de Geografia, pois

    No momento atual, em que a legislação prevê que a Geografia deve

    ser tratada como disciplina escolar já nas séries iniciais, e que os

    livros didáticos são produzidos com essa perspectiva, a formação

    docente volta seus olhos para isso e os cursos de licenciatura

    começam a dar atenção à questão também. (CALLAI, 2011 p. 32).

    Ainda sobre os PCNs de Geografia, Straforini (2011) também faz críticas, pois

    ver o currículo escolar como ação exclusiva do Estado, utilizado por este como meio de

    propagar suas ideologias hegemônicas. Para o autor

    Se o estado capitalista está a serviço do poder hegemônico, ao

    produzir documentos oficiais curriculares ele está produzindo, por

    mediação do currículo, um discurso de manutenção da hegemonia

    capitalista; logo, a escola torna-se o seu principal veículo de

    inculcamento de ideologias dominantes. (STRAFORINI, 2011 p. 47).

    O autor fortalece o seu discurso ao afirmar que o currículo significa uma ação

    política, pois o documento está atrelado ao poder. Porém, segundo ele, o currículo em

    uma perspectiva crítica que não deve se restringir a conteúdos impostos em

    ordenamento ao longo da escolaridade, mas deve se questionar esses conteúdos, buscar

    saber qual a sua real contribuição para a sociedade, e a quem realmente interessa. Para

    ele

    Pensar o currículo na perspectiva da recontextualização por

    hibridismo não significa deixar de lado a análise crítica sobre o papel

    do estado, de seu poder de produção de discursos hegemônicos, mas

    recontextualizá-los diante das ações de seus praticantes, em especial

    dos professores e das escolas que carregam histórias de lutas e

    resistências nem sempre alinhadas às políticas curriculares de

    governo. (STRAFORINI, 2011 p. 55).

    Sendo assim o currículo de Geografia deve envolver todos os indivíduos que

    fazem parte do seu processo de ensino aprendizagem, de modo que estes possam

    interpretar esses documentos oficiais como algo sujeito a ressignificações de modo que

    venham a beneficiar a todos e não apenas uma classe social, nesse caso o Estado e seus

    interesses hegemônicos. Não significa que se deve desconsiderar o discurso de poder

    expresso nesses documentos oficiais, mas torna-se necessário a sua discussão e

    contextualização para com a realidade dos sujeitos a quem estas leis são direcionadas.

    Dessa forma a recontextualização por hibridismo tratada pelo autor significa que as

    lógicas globais, locais e distantes devem estar sempre recontextualizadas. O currículo

  • 27

    não deve ser visto apenas como políticas de seleção, distribuição, produção e

    reprodução do conhecimento, mas sim como políticas culturais capazes de alcançar a

    transformação social desejada.

    Outra problemática do ensino de Geografia que também deve ser levada em

    consideração, e que já fora exposta anteriormente na fala de uma das professoras

    entrevistadas, diz respeito à formação dos professores que atuam nos anos iniciais do

    Ensino Fundamental. São profissionais formados em pedagogia, e que na maioria das

    vezes não estão preparados para ensinar esta disciplina, pela deficiência das práticas

    pedagógicas de Geografia na educação básica, e o insuficiente estudo da disciplina

    durante o curso de nível superior, já que estes docentes são formados para trabalhar com

    todas as disciplinas do currículo escolar para esse nível de escolaridade. Para Straforini

    A cultura e a tradição pedagógica de se trabalhar os conhecimentos

    escolares nesse nível de escolarização de forma mais integrada e por

    um único professor, tensiona constantemente os documentos

    curriculares que reproduzem para os anos iniciais a Geografia como

    sendo disciplina escolar autônoma, nos mesmos moldes dos anos

    finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. (STRAFORINI,

    2016 p. 176).

    Assim a formação integrada de professores, torna o desafio do ensino geográfico

    nos anos iniciais ainda mais preocupantes, na medida em que faz surgir profissionais, na

    maioria das vezes, despreparados para realizar essa tarefa, e consequentemente acaba

    por contribuir para que as práticas pedagógicas continuem cada vez mais defasadas.

    Estas situações contribuem para que o ensino de Geografia se torne cada vez mais

    complexo baseado apenas em atividades teóricas, descontextualizadas e que não traz

    sentido para a vida do aluno, ajudando-o dessa forma a manter a visão sob a Geografia

    como sendo uma disciplina inútil e enciclopédica.

    Sobre as professoras entrevistadas durante a investigação, é importante

    acrescentar que ambas são formadas em Pedagogia, e já possuem entre dez a vinte anos

    de experiência profissional no município. Assim é possível perceber que suas angústias

    quanto a lecionar Geografia não são de hoje, havendo a necessidade que novas

    possibilidades de ensino, como a apresentada por esta pesquisa possa surgir para

    auxiliá-las e tornar o processo de ensino e aprendizagem algo significativo para ambos

    os sujeitos ao qual dele fazem parte.

    Sendo assim, refletir sobre o ensino de Geografia nos anos iniciais significa

    compreender o espaço geográfico através do olhar espacial. Dessa forma haverá

    condições para que haja uma aprendizagem geográfica mais significativa, que se

  • 28

    preocupa com as constantes transformações e que busca contextualiza-las, valorizando o

    cotidiano e a experiência do aluno, consequentemente acaba por tornar o processo de

    ensino e aprendizagem mais interessante para todos os indivíduos que dele fazem parte,

    tendo como resultado a compreensão e a facilitação da leitura de mundo. Para tanto,

    escola e mundo devem caminhar sempre juntos durante o processo de construção do

    conhecimento, buscando contextualizar a teoria da sala de aula com a realidade em que

    o educando está inserido de modo que os conteúdos que ele estuda dentro da escola

    façam sentido fora dela, para que assim possa se alcançar a aprendizagem significativa.

    1.2 Aprendizagem significativa: um conhecimento de significados

    Atualmente nossa sociedade é marcada por acréscimos, no que diz respeito à

    tecnologia, de grandes dimensões, proporcionando ao ensino, sobretudo da Geografia,

    novas e mais atraentes formas de se trabalhar em sala de aula, no entanto ainda é

    possível perceber a presença de práticas ultrapassadas em sala de aula, algumas vezes

    pelo despreparo do professor em inovar, outras pelo fato de esses acréscimos

    tecnológicos não estarem disponíveis para todos de forma igualitária.

    Essa realidade afeta de maneira negativa no processo de ensino e aprendizagem,

    dificultando a relação entre professor e aluno e tornando as aulas desinteressantes para

    este último. Alcançar a aprendizagem do aluno se torna dessa forma cada vez mais

    difícil, uma vez que a utilização de práticas pedagógicas excedidas não instiga o aluno a

    aprender, afetando também o trabalho do professor na medida em que este se sente

    desestimulado a trabalhar.

    Acerca disso, quando perguntadas sobre qual a melhor maneira para se alcançar

    uma aprendizagem mais significativa dos alunos no ensino de Geografia, as professoras

    entrevistadas consideraram importante tomar a realidade do aluno como ponto de

    partida para ir além. Isso pôde ser percebido na fala da professora C, ao afirmar que:

    É possível alcançar a aprendizagem significativa do aluno através de

    diferentes fontes textuais, em que o aluno possa reconhecer-se como

    sujeito do processo de construção/reconstrução do espaço geográfico,

    respeitando e valorizando seu modo de vida, sua cultura3.

    3 Fala da professora C, da Escola Municipal Deniolmar Alves Silva Lima do turno matutino. Entrevista

    concedida em: 29/03/2017.

  • 29

    Com a inferência dessa professora, o que se percebe é que apesar das

    dificuldades que estas, enquanto docentes, apresentam para lecionar Geografia por não

    terem a devida formação da disciplina, como já foi apresentado anteriormente, há,

    portanto, uma preocupação em buscar a contextualização dos conteúdos de Geografia

    que são trabalhados na sala de aula com o cotidiano dos alunos, de modo que a

    aprendizagem significativa destes sob a Geografia seja alcançada.

    Assim, observa-se que as professoras que participaram da pesquisa, consideram

    válidos os conhecimentos prévios dos alunos sobre os conteúdos de Geografia, pois

    como acrescenta a professora B “os conhecimentos que os alunos já trazem são

    importantes para indicar o que já sabem e direcionar o que precisam aprender4”.

    Dessa maneira, cabe dizer que o papel da didática no processo de aprendizagem

    é de suma importância, uma vez que o professor possui a função de mediador do

    conhecimento através da sua metodologia de ensino, que precisa estar voltada para a

    experiência vivida do aluno como ponto de partida para se chegar ao conhecimento

    sistemático. Assim, o processo de ensino e aprendizagem fará mais sentido para ambos

    os sujeitos que dele participam, e os resultados alcançados serão bem mais positivos.

    Portanto

    Para ter eficácia, o processo de aprendizagem deve, em primeiro

    lugar, partir da consciência da época em que vivemos. Isto significa

    saber o que o mundo é e como ele se define e funciona, de modo a

    reconhecer o lugar de cada país no conjunto do planeta e o de cada

    pessoa no conjunto da sociedade humana. É desse modo que se podem

    formar cidadãos conscientes, capazes de atuar no presente e de ajudar

    a construir o futuro. (SANTOS, 2008, p. 115. Apud. PEREIRA, 2014,

    p.52/53).

    É pertinente dizer que apesar de ainda haver a presença considerável de práticas

    pedagógicas ultrapassadas utilizadas por alguns professores em sala de aula, há dados

    que apontam que muitos deles, considerando o tempo histórico atual, preferem trabalhar

    com algumas abordagens de ensino que foge da tradicional, como é o caso da

    cognitivista e sócio cultural, sendo a primeira uma das que mais se sobressai. É o que

    nos fala Mizukami

    Na abordagem cognitivista apresentada neste trabalho (a piagetiana) e

    a preferida pelos professores, desde que o aluno se encontre em um

    ambiente que o solicite devidamente, e que tenha sido constatada a

    ausência de distúrbios biológicos ligados preponderantemente à

    atividade cerebral, ele terá condições de chegar ao estágio das

    4 Fala da professora B, da Escola Municipal Deniolmar Alves Silva Lima do turno vespertino. Entrevista

    concedida em: 28/03/2017.

  • 30

    operações formais. Não se justificam nem se legitimam, por esta

    abordagem, desigualdades baseadas nas potencialidades de cada um,

    tal como poderia decorrer dos princípios escolanovistas. Estaria neste

    detalhe, talvez de grande importância, já que o determinismo

    biológico age mais em função de determinar desenvolvimento, do que

    de determinar máximos de desenvolvimento para cada sujeito, a ideia

    que despertaria maior interesse para um trabalho realizado por um

    profissional com as idiossincrasias de um educador. (MIZUKAMI,

    1986, p. 111).

    Partindo dessa colocação é de se considerar que muitos professores aderem à

    abordagem cognitivista por considerar que esta proporciona uma teoria de

    desenvolvimento válida. Porém deve-se destacar que ainda segundo Mizukami (1986),

    o ideário pedagógico de alguns professores não segue nenhuma das abordagens, e por

    isso são classificadas como tendência indefinida entre as demais.

    Assim, o processo de aprendizagem não é algo simples, mas depende de muitos

    fatores, dentre eles a capacidade do professor em despertar o interesse do aluno para as

    suas aulas, a capacidade intelectual desse aluno, o ambiente escolar bem como as

    oportunidades que ele oferece, e a perspectiva que o aluno traz consigo acerca do seu

    futuro. Todos esses fatores cooperam diretamente para o desenvolvimento da

    aprendizagem.

    Trata-se de um processo continuado que acontece durante toda a vida do sujeito,

    atrelando a este, bagagem de conhecimentos concebidos através da sua experiência no

    decorrer de sua história de vida. Cabe dessa forma à instituição escolar e professores dar

    sentido a essas informações que fazem parte dos alunos, ao que eles já sabem.

    “Aproveitar o potencial que o indivíduo traz e valorizar a curiosidade natural da criança

    são princípios que devem ser observados pelo educador” (BRUNER, 1991, p. 122 apud

    MOTA p. 01). Cabe aqui não só alcançar a aprendizagem do aluno, mas dar-lhe sentido

    para que esta possa ter um significado, evitando assim que seja esquecida, tornando-a

    aprendizagem significativa.

    Falar em aprendizagem significativa, como a própria palavra nos remete, quer

    dizer atribuir significado ao que se aprende, de modo que os conteúdos façam sentido e

    não seja apenas mera reprodução mecânica e passageira. É necessário haver a

    verdadeira apreensão do conhecimento que está sendo ensinado, e que este possa ser

    ressignificado por quem o recebe transformando-o em aprendizagem, não passageira,

    mas duradoura, de significados. Para Moreira (2012)

    Aprendizagem significativa é aquela em que ideias expressas

    simbolicamente interagem de maneira substantiva e não arbitrária com

  • 31

    aquilo que o aprendiz já sabe. Substantiva quer dizer não literal, não

    ao pé da letra, e não arbitrária significa que a interação não é com

    qualquer ideia prévia, mas sim com algum conhecimento

    especificamente relevante já existente na estrutura cognitiva do sujeito

    que aprende. (MOREIRA, 2012 p. 06).

    Isso quer dizer que para se alcançar novos resultados e construir novos

    conhecimentos é necessário que se leve em consideração os conhecimentos já

    existentes, chamados por Ausubel (1918-2008) de subsunçor ou ideia-âncora (Apud.

    MOREIRA, 2012 p. 06). Assim

    É importante reiterar que a aprendizagem significativa se caracteriza

    pela interação entre conhecimentos prévios e conhecimentos novos, e

    que essa interação é não literal e não arbitrária. Nesse processo, os

    novos conhecimentos adquirem significado para o sujeito e os

    conhecimentos prévios adquirem novos significados ou maior

    estabilidade cognitiva. (MOREIRA, 2012 p. 06).

    Partindo dessa colocação, é importante dizer que para a aprendizagem

    significativa acontecer, duas condições são estabelecidas. A primeira diz respeito à

    disposição que o aluno precisa ter para aprender. A segunda diz respeito ao conteúdo

    escolar, que também deve ser significativo bem como a forma como ele é passado.

    Quando o conteúdo deixa de ser contextualizado com a realidade do aluno, a

    aprendizagem deixa de ser significativa e passa para o que Ausubel chama de

    aprendizagem mecânica, em que a pessoa apenas decora e após a avaliação esquece.

    Portanto,

    A aprendizagem é muito mais significativa à medida que o novo

    conteúdo é incorporado às estruturas de conhecimento de um aluno e

    adquire significado para ele a partir da relação com seu conhecimento

    prévio. Ao contrário, ela se torna mecânica ou repetitiva, uma vez que

    se produziu menos essa incorporação e atribuição de significado, e o

    novo conteúdo passa a ser armazenado isoladamente ou por meio de

    associações arbitrárias na estrutura cognitiva. (PELLIZZARI;

    KRIEGL et. al. 2002 p. 38).

    Sendo assim, é importante que se contextualize o novo com a bagagem que já

    existe, facilitando a compreensão do aluno e proporcionando a ele o conhecimento a

    partir da sua realidade. Dessa forma, como já foi frisada anteriormente, a Geografia

    torna-se imprescindível na conjectura do mundo atual, pois “[…] nesse período marcado

    pela técnica, ciência e, principalmente pela informação, seja muito mais necessário

    aprender Geografia para compreender o mundo em que vivemos”. (MICHELETO,

    1997. Apud. STRAFORINI, 2001 p. 22/23).

  • 32

    A busca por uma aprendizagem significativa pelo ensino, no nosso caso da

    Geografia, deve ser constante, pois essa promove a relação do novo conhecimento com

    a bagagem cognitiva que o aprendiz dispõe, dando a este conhecimento prévio

    significados e sentido. Deste modo, “A aprendizagem significativa é o mecanismo

    humano, por excelência, para adquirir e armazenar a vasta quantidade de ideias e

    informações representadas em qualquer campo de conhecimento”. (AUSUBEL, 1963 p.

    58. Apud. MOREIRA, 1997 p. 01). Sendo assim, todo o conhecimento deve ser levado

    em consideração, é necessário utiliza-lo como ponto de partida para a construção do

    conhecimento sistematizado e não deve ser descartado, pois todo notório saber é válido.

    Logo, obter uma aprendizagem significativa deve ser considerado como

    prioridade do ensino, principalmente da Geografia, na medida em que este possibilita

    resultados positivos para o processo de ensino e aprendizagem e na construção da

    consciência cidadã do sujeito. Ao unir o novo conhecimento ao que já existe é possível

    obter uma aprendizagem mais consistente, de modo que esta não seja esquecida, pois

    sempre estará fazendo parte de uma realidade posta e vivenciada pelos indivíduos, que

    estarão a todo o momento associando o que aprenderam com o que já sabem e

    vivenciam.

  • 33

    2 OFICINAS PEDAGÓGICAS: UMA ESTRATÉGIA DIDÁTICA PARA O

    ENSINO DE GEOGRAFIA

    A ação de ensinar sempre foi vista como algo desafiador, na medida em que o

    professor se vê todos os dias pressionado a despertar o interesse dos alunos pela sua

    aula. Atualmente, esse desafio tem crescido ainda mais, o aluno hoje é o organizador de

    sua aprendizagem, e o professor possui o papel de mediador entre o sujeito e o

    conteúdo. Para que haja uma aprendizagem significativa, os conteúdos devem estar

    integrados ao cotidiano, a realidade em que o aluno está inserido, para que ele possa ser

    estimulado a pensar e transformar o meio ao qual pertence de modo crítico e consciente.

    O professor deve permitir que, o aluno possa relacionar os conceitos e conteúdos

    trabalhados em sala de aula com a sua experiência fora dela, ou seja, permiti-lo

    vivenciar o processo de aprendizagem. Para tanto, tem que se pensar em elaborar

    estratégias de ensino que consigam alcançar tal objetivo. “É preciso que cada aluno

    interiorize as ações realizadas e aprenda a ler seu próprio pensamento. É preciso

    aproximar a sala de aula da vida, dar-lhe sentido e construir um novo agir pedagógico”.

    (VIEIRA; VOLQUIND, 2002, p.10).

    As professoras entrevistadas durante a pesquisa corroboram com a ideia destes

    autores, pois consideram as oficinas pedagógicas como uma atividade mais prazerosa e

    significativa, uma vez que os conteúdos são apresentados com mais clareza, atraindo a

    atenção dos alunos e tornando a aula mais dinâmica. Assim, as professoras consideram

    que a prática da oficina pedagógica nas aulas de Geografia é muito positiva, pois,

    segundo elas, o concreto torna-se melhor compreendido. Além do mais, elas apontam

    várias outras vantagens promovidas pelas oficinas como a socialização dos

    conhecimentos, já que essa prática proporciona a interação entre todos que dela

    participam.

    É importante dizer, no entanto, que apesar de considerarem a oficina pedagógica

    como positiva para a aprendizagem dos alunos, as professoras ressaltaram que nunca

    desenvolveram essa prática em suas aulas por não conhecerem os pressupostos para a

    sua realização. Sendo assim, ao serem perguntadas se realizam oficinas pedagógicas na

    sala de aula, a professora C respondeu:

    Nunca realizei este tipo de atividade na sala devido a não ter muito

    conhecimento sobre, nem saber como se realiza tal prática. Para,

    além disso, não é uma atividade que se encontra no planejamento

    escolar anual da instituição, mas acredito que deveria se pensar, pois

  • 34

    considero uma prática importante para a construção do conhecimento

    5.

    Partindo dessa colocação, é possível perceber que apesar de a oficina pedagógica

    ser uma atividade que permite alcançar bons resultados para o processo de ensino e

    aprendizagem, ainda é algo desconhecido e pouco utilizado nas escolas, fortalecendo a

    importância de se conhecer mais e melhor tal prática e passar a utilizá-la.

    Como já foi colocado anteriormente, o processo de ensino e aprendizagem tem

    atraído muitas discussões, e na sua maioria é perceptível à preocupação voltada para

    este, uma vez que a educação ainda não consegue encontrar um caminho que a ajude a

    tentar acompanhar as mudanças constantes que estão acontecendo na sociedade

    contemporânea, e isso tem acarretado sérios impactos a este processo. Para além do

    desinteresse, cada vez maior, dos alunos com a sala de aula, a falta de estímulo do

    profissional docente devido às dificuldades encontradas para trabalhar competindo com

    todos esses avanços, também tem se tornado alvo de muitas preocupações.

    Tais mudanças constantes têm atribuído à educação muitos desafios, um deles é

    o despertar da atenção dos alunos para a sua realidade fazendo com que ele a perceba

    criticamente. O aluno é o organizador do que aprende, mas precisa do professor, que já

    não exerce mais o papel de mero transmissor de informações, mas incorpora o papel de

    mediador entre o conteúdo e a aprendizagem do aluno.

    Dessa forma, a educação deve, ainda que tardiamente, buscar acompanhar essas

    transformações do mundo atual, mudando juntamente com ele, de modo que haja espaço

    para novas perspectivas de ensino que estejam atualizadas e que sejam contextualizadas

    ao espaço temporal em que estão inseridos, pois “Deixar de acompanhar a rapidez dos

    eventos é ficar para trás, é tornar-se obsoleto”. (TONINI, 2013. Apud. GIORDANI;

    TONINI 2016. p. 209). É importante dizer então que a escola está a todo o momento

    sendo desafiada a lidar com essas novas configurações do mundo atual.

    Por tanto, torna-se muito importante nesse contexto que haja a reflexão sobre as

    práticas pedagógicas que devem ser adotadas na escola pelos profissionais docentes e

    que podem, ou não, apresentar resultados positivos ao processo de ensino e

    aprendizagem no mundo atual ao qual se está inserido. Dowbor vem dizer que

    O mundo que hoje surge constitui ao mesmo tempo um desafio e uma

    oportunidade ao mundo da educação. É um desafio, porque o universo

    de conhecimentos está sendo revolucionado tão profundamente, que

    ninguém vai sequer perguntar à educação se ela quer se atualizar. A

    5 Fala da professora C, da Escola Municipal Deniolmar Alves Silva Lima do turno matutino. Entrevista

    concedida em: 29/03/2017.

  • 35

    mudança é hoje uma questão de sobrevivência, e a contestação não

    virá de autoridades, e sim do crescente e insustentável saco cheio dos

    alunos, que diariamente comparam os excelentes filmes e reportagens

    científicos que surgem na televisão, nos jornais com as mofadas

    apostilas e repetitivas lições da escola. (DOWBOR, 2001 Apud.

    GIORDANI; TONINI, 2016. p. 216).

    Partindo dessa colocação, pode-se voltar a dizer que assim como o mundo o

    conhecimento também se transforma, e cabe à educação tentar acompanhar as mudanças

    recorrentes, caso contrário, a escola continuará sendo vista pelos alunos como um local

    atrasado e pouco atrativo, uma vez que é possível encontrar outros meios de

    conhecimento mais empolgantes que o que a escola oferece, contribuindo assim para

    que o processo de ensino e aprendizagem continue defasado.

    Sendo assim, a oficina pedagógica surge nessa discussão como sendo uma

    dessas estratégias que possibilitam a articulação entre a teoria e a prática,

    proporcionando a aprendizagem vivenciada e, portanto, significativa. Trata-se de uma

    possibilidade de inovação da prática pedagógica que pode ser utilizada em sala de aula,

    como uma alternativa para despertar o interesse do aluno para as aulas, especialmente

    de Geografia.

    A adoção da oficina pedagógica como instrumento didático proporciona uma

    aprendizagem mais significativa, uma vez que requer um envolvimento maior dos

    participantes durante o processo de construção do conhecimento, de maneira mais

    dinâmica e interacionista. Vale ressaltar, porém, que assim como qualquer atividade

    didática, a oficina pedagógica também requer planejamento e organização, levando

    sempre em consideração a base teórica epistemológica durante a sua execução.

    2.1 Entendendo o que é e como se faz oficinas pedagógicas

    A prática das oficinas pedagógicas é uma maneira dinâmica de se construir

    conhecimento levando em consideração a base teórica, já que a oficina “não é somente

    um lugar para aprender fazendo; supõe principalmente o pensar, o sentir e o agir”.

    (VIEIRA; VOLQUIND, 2002, p.12). É pertinente dizer que a oficina é

    Um tempo e um espaço para a aprendizagem; um processo ativo de

    transformação recíproca entre sujeito e objeto; um caminho com

    alternativas, com equilibrações que nos aproximam progressivamente

    do objeto a conhecer. (VIEIRA; VOLQUIND, 2002, p. 11).

  • 36

    A oficina é dessa forma um espaço que promove a aprendizagem através da

    reflexão, partindo do sentimento, pensamento e ação, levando em consideração os

    objetivos pedagógicos. É uma forma de ensinar e aprender, na medida em que sua

    realização acontece coletivamente com oficineiros e oficinandos interagindo a todo o

    momento já que “as oficinas propiciam espaço para aprender com dinamismo. Existe

    uma cumplicidade entre os alunos, o professor e o recurso instrucional, permitindo a

    construção do conhecimento”. (VIEIRA; VOLQUIND 2002, p. 11).

    A utilização de oficinas pedagógicas na sala de aula permite que se trabalhem

    diversos conteúdos que devem ser passados no dia a dia pelo docente de forma mais

    dinâmica, reflexiva e interdisciplinar, na medida em que possibilita o desenvolvimento

    de atividades com várias temáticas diferentes, facilitando também o aprendizado, pois

    visa à articulação de conceitos teóricos com a realidade vivenciada do aluno. Além de

    promover o trabalho em equipe para a realização de tarefas, isto é, utilizar as oficinas

    pedagógicas como prática de ensino significa fazer uma junção entre a ação, à reflexão

    e a interação.

    Portanto a adoção da oficina como prática pedagógica, significa a permissão

    para se construir os saberes a partir de situações concretas e significativas que são

    vivenciadas de forma prática, em que o aluno se coloca como agente ativo e reflexivo

    no processo de aprendizagem partindo da sua realidade, da sua experiência vivida. “A

    escola e a geografia devem considerar o conhecimento que o aluno traz de casa e

    permitir que ele supere o senso comum ao confrontar a sua realidade concreta com o

    conhecimento cientificamente produzido.” (TAMBOSI, 2007). Conforme Somma

    Ignorar essa forma de aprender seu espaço real é além de um erro

    pedagógico, uma forma de desconhecer o aluno como pessoa, nós

    professores de geografia, temos a oportunidade de transformar essas

    percepções desordenadas, baseadas em uma dinâmica funcional, em

    categorias de conteúdos e habilidades significativas para o

    desenvolvimento da inteligência. A escola deveria ressignificar essas

    ideias prévias. Para que essa atuação formativa se dê é necessária à

    conjunção do professor à linha pedagógica e ao pensamento

    geográfico que adota. (SOMMA, 2003 p. 65. Apud. TAMBOSI, 2007

    p.02).

    Sendo assim, é possível dizer que o ensino de Geografia deve proporcionar

    situações em que o aluno possa contextualizar o seu conhecimento prévio obtido através

    da sua experiência vivida e torna-lo científico, para isso as práticas de ensino devem

    buscar esse objetivo e não desconsiderar esses saberes. Partindo disso a oficina

  • 37

    pedagógica abarca esses objetivos, pois a sua concretização depende da bagagem que o

    aluno traz consigo para construir o conhecimento sistematizado.

    É importante dizer que articular teoria e prática é sempre um desafio em

    qualquer área do conhecimento. Pensamento e ação requer buscar por estratégias de

    integração entre os pressupostos teóricos e práticos, caracterizando assim, as oficinas

    pedagógicas, pois se trata de uma prática que beneficia todos os sujeitos que fazem

    parte do processo de ensino e aprendizagem.

    Ao adotar a oficina como prática pedagógica o professor consegue alcançar com

    mais eficácia os resultados positivos que procura ao ensinar, melhorando sua autoestima

    e consequentemente a sua autonomia enquanto profissional docente. Além de tornar

    suas aulas mais prazerosas e agradáveis de modo que estas sejam potencializadas.

    Para o educando a oficina proporciona que ele vivencie a aula enquanto aprende,

    permitindo que ele construa o seu conhecimento sistematizado partindo do que ele já

    sabe, levando em consideração a sua vivência e a sua realidade, facilitando também a

    sua compreensão acerca dos conteúdos que devem ser estudados. A oficina pedagógica

    promove ao ensino a articulação da teoria com a prática de maneira mais significativa

    na medida em que permite a construção dos saberes a partir de situações concretas e

    significativas que são vivenciadas de forma prática, em que o aluno se coloca como

    agente ativo e reflexivo no processo de aprendizagem.

    A principal finalidade da oficina pedagógica consiste justamente em articular a

    teoria com a prática vivenciada do aluno, e, ainda, permite que ele experimente e

    execute o trabalho em equipe possibilitando a construção coletiva dos saberes. O

    professor/oficineiro coordenará a atividade com a função de mediador, ele não irá

    ensinar o que sabe, mas oferecer oportunidade para que os participantes busquem o que

    precisam saber.

    Assim, o professor deixa de ser o centro da abordagem, passando o foco para o

    aprendiz e a aprendizagem. A construção e sistematização do conhecimento, nesse caso,

    parte principalmente dos saberes prévios dos alunos, suas habilidades e aspirações.

    Garcia (1990, p. 66), nos fala que “Ao professor cabe mobilizar as habilidades

    intelectuais, os esquemas operatórios, o pensamento reflexivo. Ao aluno cabe atuar

    segundo os desafios que lhe são postos pelo professor”. (Apud. VIEIRA; VOLQUIND,

    2002, p. 14).

    Assim como qualquer outra atividade pedagógica, a oficina também exige

    planejamento prévio, mas será durante a sua execução que ela ganhará características

  • 38

    próprias que fugirão do ensino tradicional centrado apenas no professor e no

    conhecimento racional. O planejamento da oficina é algo flexível, que pode sofrer

    alterações e reformulações no decorrer da atividade, e a partir das inferências dos

    participantes.

    Durante a realização da oficina algumas atividades, que estimulam a solução de

    problemas ou dificuldades existentes, podem ser solicitadas aos participantes como

    planejamento de projetos de trabalho, produção de materiais didáticos e sua execução

    em sala de aula, ap