OFICINAS DE LÍNGUA PORTUGUESA COMO L2: · PDF filetal impasse foi possível...

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  • OFICINAS DE LNGUA PORTUGUESA COMO L2: EXPERINCIAS COM

    ALUNOS SURDOS

    Ivan Jeferson Kappaun1

    Reinaldo Valdez Rodrigues Oliveira2

    Helena Jungblut3

    Daiane Kipper4

    Neoli Paulina da Silva Gabe5

    Patrcia Pinho Storch6

    RESUMO

    Este trabalho tem por objetivo problematizar as experincias nas oficinas de Lngua

    Portuguesa como L2, com alunos surdos na Escola Estadual de Ensino Mdio Nossa Senhora

    do Rosrio educandrio referncia em educao de surdos localizado no Vale do Rio

    Pardo no estado do Rio Grande do Sul. Para a realizao desse trabalho, apoiamo-nos nos

    Estudos Surdos, embasados em Skliar (2010), Quadros (2003) e Karnopp (2012). O

    atendimento dos alunos surdos do 1 ao 9 ano do Ensino Fundamental (EF) se d em classes

    especiais de alunos surdos, com professores, em sua maioria, bilngues. E dos alunos surdos

    do Ensino Mdio (EM) se d por meio da incluso em classes de ouvintes do EM, com

    presena de uma professora intrprete de Lngua Portuguesa/Lngua Brasileira de Sinais

    (Libras). A partir de 2012, a escola foi contemplada com o Programa Institucional de Bolsa de

    Iniciao Docncia (Pibid), por intermdio da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc),

    com os objetivos de promover aes pedaggicas destinadas ao pblico surdo, qualificar o

    processo de construo de conhecimento, propor trocas entre alunos surdos e ouvintes e

    desenvolver nos bolsistas a conscincia da importncia de interao e incluso dos alunos

    surdos. Inicialmente, as atividades desenvolvidas na escola atravs do Pibid no previam a

    participao dos alunos surdos, que ficavam excludos nesse processo. Com o passar do

    tempo e com a importncia que o Pibid assumiu na escola, os surdos comearam a participar

    das atividades promovidas. A primeira dificuldade encontrada para a efetivao desse

    trabalho foi a falta de intrpretes para assessorar os alunos surdos nas oficinas do Pibid.

    Solucionar tal problema foi o imperativo para a participao efetiva dos surdos nas atividades

    disponibilizadas pelo crescente nmero de bolsistas pibidianos na escola. Uma vez superado

    tal impasse foi possvel ofertar a oficina de Lngua Portuguesa - uma oportunidade importante

    para o aluno surdo - auxiliando-o nas especificidades lingusticas e na comunicao. Os

    alunos surdos participantes das oficinas se mostram assduos e consideram as oficinas como

    1 Especialista em Educao Especial UNIASSELVI; Especialista em Arte e Educao UNIASSELVI;

    Licenciado e Bacharel em Artes Visuais - UFSM; E-mail: [email protected]. 2 Graduando em Letras- Lngua Portuguesa-UNISC.

    3 Graduanda em Letras- Lngua Portuguesa-UNISC.

    4 Mestra em Educao UNISC; Especialista em Educao Especial - UNIASSELVI; Licenciada em

    Matemtica - ULBRA. E-mail: [email protected]. 5 Especialista em Educao Especial - UNIASSELVI. Graduada em Matemtica - FTC; Graduada em Pedagogia

    - ULBRA; E-mail: [email protected]. 6 Especialista em Psicopedagogia Institucional e Clnica Uninter; Graduada em Educao Artstica -

    Habilitao Artes Plsticas - UFRJ; E-mail: [email protected].

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]

  • parte integrante de seus compromissos escolares. Durante a realizao das atividades, o

    enfoque foi dado para a ampliao do vocabulrio, aliado a importncia dos aspectos visuais e

    da utilizao da lngua portuguesa como segunda lngua (L2), visto que a primeira a Libras.

    O interesse pela escrita aumentou, sendo evidenciado nas relaes sociais, enquanto

    instrumento de comunicao, registro de ideias e informaes, dentro e fora da sala de aula.

    Considerando que a formao docente o objetivo maior do programa, as contribuies aos

    bolsistas que atuaram diretamente com os alunos surdos foram imensas, pois permitiram aos

    mesmos vivenciarem experincias pedaggicas singulares, que proporcionaram uma

    desconstruo de verdades preestabelecidas e um desacomodar do professor. Pode-se apontar

    tambm a prtica em Libras que, - uma vez conhecida por meio de disciplina do curso de

    formao - encontrou nas oficinas uma oportunidade de aprimorar o seu conhecimento da

    Libras.

    Palavras-chave: Pibid. Surdos. Formao docente. Interdisciplinariedade. Lngua

    Portuguesa/Libras.

    Introduo

    A Educao de surdos inicialmente esteve inserida na educao especial, em que as

    prticas pedaggicas pautavam-se na materialidade do corpo, ou seja, na falta da audio. No

    entanto, movimentos oriundos da dcada de noventa constituem uma nova perspectiva para a

    educao de surdos, em que a Lngua Brasileira de Sinais (Libras) percebida como

    constituidora do indivduo surdo, no que diz respeito a sua condio e experincia visual

    (LOPES, 2007).

    E essa perspectiva vem se ampliando com a oficializao da Libras como segunda

    lngua oficial do pas. Entretanto, isso no garante o acesso dessas pessoas aos espaos

    pblicos.

    Se a Lngua Brasileira de Sinais oficialmente reconhecida ento sua presena deve

    ser efetiva em qualquer espao. Como se sabe, isso no vem acontecendo; os surdos

    tm de constantemente solicitar a presena de uma intrprete para os espaos em que

    esto. Por motivos preponderantemente financeiros, nem sempre os intrpretes so

    disponibilizados; e, para piorar a situao, nem sempre tais intrpretes quando

    esses existem... so competentes naquilo que fazem. (LOPES, 2007, p. 76).

    E foi repensando nessas questes, que os acadmicos bolsistas do Subprojeto Letras-

    Lngua Portuguesa organizaram oficinas em turno oposto com a presena de um supervisor7

    intrprete para os alunos surdos dos anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Mdio. As

    oficinas so realizadas desde 2013 at o presente momento. Durante esses trs anos de

    7 Neste trabalho, o termo supervisor est sendo utilizado para nomear os supervisores que trabalham como

    bolsistas do Pibid/Unisc na E.E.E.M. Nossa Senhora do Rosrio.

  • experincia dos acadmicos bolsistas com os alunos surdos, houve uma rotatividade no

    quadro de bolsistas. Outros pibidianos demonstraram interesse em ter contato com surdos,

    sendo que, no ano de 2015, dois novos bolsistas foram inseridos no projeto. Nessa

    perspectiva, o presente estudo tem por objetivo problematizar as experincias8 nas oficinas de

    Lngua Portuguesa como segunda lngua (L2), com alunos surdos na Escola Estadual de

    Ensino Mdio Nossa Senhora do Rosrio educandrio referncia em educao de surdos

    localizado Vale do Rio Pardo no estado do Rio Grande do Sul. Nesse trabalho, iremos abordar

    apenas as experincias das oficinas de Lngua Portuguesa/Libras no corrente ano, devido ao

    formato que este trabalho comporta. Com base nas oficinas e relatos de experincia de uma

    acadmica bolsista do Subprojeto de Letras-Lngua Portuguesa do Programa Institucional

    de Bolsa de Iniciao Docncia (Pibid) da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc)

    organizamos esse estudo, que se inicia com a presente seo e divide-se em outras quatro,

    intituladas: Oficinas de Lngua Portuguesa/Libras; Das Oficinas; Algumas sinalizaes

    escritas ....; Referncias.

    Oficinas de Lngua Portuguesa/Libras

    O interesse em organizar oficinas de Lngua Portuguesa/Libras pelos acadmicos

    bolsistas do Pibid a alunos surdos emergiu da necessidade de complementar o currculo

    escolar dos mesmos no que remete a aprendizagem da Lngua Portuguesa como segunda

    lngua. A disciplina de Lngua Portuguesa distribuda em quatro aulas semanais para os

    alunos surdos das sries finais do Ensino Fundamental, j a disciplina de Libras, primeira

    lngua (L1) dos alunos surdos, distribuda em trs aulas semanais.

    A E.E.E.M. Nossa Senhora do Rosrio, que atende alunos surdos em classes especiais

    at o 9 ano do Ensino Fundamental e includos em turmas comuns no Ensino Mdio, busca

    em sua Proposta Poltica Pedaggica uma educao bilngue para surdos organizando a grade

    curricular com professores fluentes em Libras e professores intrpretes para os alunos em

    situao de incluso. E disponibiliza na grade curricular dos estudantes ouvintes das sries

    finais do Ensino Fundamental e do Ensino Mdio, uma aula de Libras semanal. A educao

    8 Neste estudo estamos conceituando a experincia a partir de Larrosa (2004, p. 154), para o qual essa se

    constitui como aquilo que nos passa, ou o que nos acontece, ou o que nos toca. No o que passa ou o que

    acontece, ou o que toca, mas o que nos passa, o que nos acontece ou nos toca. A cada dia passam muitas coisas,

    porm, ao mesmo tempo quase nada nos passa, dir-se-ia que tudo que passa est organizado para que nada nos

    passe.

  • bilngue para surdos apresenta-se como resultado de movimentos e lutas pelo reconhecimento

    e valorizao da Libras como lngua oficial. De acordo com Mller et al. (2013, p. 2):

    [...] a implementao da educao bilngue para surdos est vinculada s polticas no

    campo da Lingustica e da Educao, que, por sua vez, so movidas principalmente

    atravs das lutas do movimento surdo. Este, constitudo por surdos e ouvintes,

    acadmicos ou no, que lutam pelos direitos da comunidade surda, tem importante

    papel articulador, que propiciou e continua mobilizando mudanas de

    perspectivas lingusticas e educacionais no