OFICINA CONSTRUINDO CIDADÃO: FORMAÇÃO INTEGRAL E...

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO, AMBIENTE E FORMAÇÃO HUMANA PARA A SUSTENTABILIDADE OFICINA CONSTRUINDO CIDADÃO: FORMAÇÃO INTEGRAL E SUSTENTABILIDADE NA ASSOCIAÇÃO REDE ESPERANÇA Curitiba, 2011

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO, AMBIENTE E FORM AÇÃO HUMANA PARA A SUSTENTABILIDADE

OFICINA CONSTRUINDO CIDADÃO: FORMAÇÃO INTEGRAL E

SUSTENTABILIDADE NA ASSOCIAÇÃO REDE ESPERANÇA

Curitiba, 2011

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CARMEN LUCIA MASSONI

OFICINA CONSTRUINDO CIDADÃO: FORMAÇÃO INTEGRAL E

SUSTENTABILIDADE NA ASSOCIAÇÃO REDE ESPERANÇA

Artigo apresentado ao Curso de Pós Graduação em Educação, Ambiente e Formação Humana para a Sustentabilidade da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista.

Orientadora: Profª.Ms Regina Bergamaschi Bley

CURITIBA

2011

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OFICINA CONSTRUINDO CIDADÃO: FORMAÇÃO INTEGRAL E

SUSTENTABILIDADE NA ASSOCIAÇÃO REDE ESPERANÇA

Carmen Lucia Massoni1

RESUMO

A presente pesquisa teve como objetivo analisar em que medida a Oficina Construindo

Cidadão, integrante do Programa Construindo o Futuro, desenvolvido pela Associação Rede

Esperança e através da qual os educandos - adolescentes a partir de 12 anos – têm acesso às

atividades de conteúdo ambiental, tem contribuído para o desenvolvimento de valores voltados

para a sustentabilidade ambiental. Nesse sentido, buscou-se analisar a percepção dos

educandos a respeito das atividades desenvolvidas pela oficina, a sua relação com o meio

ambiente e as possíveis transformações que os conteúdos de caráter ambiental possam ter

provocado em suas práticas cotidianas, individual ou coletivamente. Para a análise do objeto

proposto pela presente pesquisa, buscou-se responder à seguinte questão: os conteúdos

trabalhados têm contribuído para o desenvolvimento de valores e de práticas voltados para a

sustentabilidade ambiental nos educandos do Programa Construindo o Futuro, mais

especificamente da oficina Construindo Cidadão, desenvolvido pela Associação Rede

Esperança? A pesquisa desenvolvida é de caráter qualitativo e como instrumento de coleta de

dados foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com 10 adolescentes de 12 a 14 anos,

integrantes da Rede Esperança há, pelo menos, 01 ano.

Palavras Chave: Formação Integral, Sustentabilidade, Meio Ambiente

1 Graduada em Psicologia pela Universidade Tuiuti do Paraná e em Ciências Religiosas, pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. É aluna do Curso de Pós-Graduação em Educação, Ambiente e Formação Humana para a Sustentabilidade, na Universidade Tuiuti do Paraná. Atualmente é Coordenadora da Associação Rede Esperanç[email protected]

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1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como finalidade principal, apresentar uma

análise sobre aspectos da oficina Construindo Cidadão, a qual integra o

Programa Construindo o Futuro, desenvolvido pela Associação Rede

Esperança - Organização sem fim Lucrativo de Utilidade Pública com sede no

Bairro Capão da Imbuia -Curitiba- e a sua relação com o desenvolvimento de

valores e de práticas voltadas para a sustentabilidade ambiental nos

educandos que a frequentam– adolescentes a partir de 12 anos, moradores do

Município de Curitiba e Região Metropolitana.

Primeiramente, buscou-se conhecer como se dá o processo de

formação integral realizado através dos Programas Sociais Educativos

desenvolvidos junto a comunidades de baixa renda pela Associação Rede

Esperança, os quais buscam a inclusão social e configuram uma área de

práticas educativas à luz da educação não formal, à qual Gohn (1999) refere-se

como sendo aquela que tem como pressuposto, a formação para a cidadania.

Também buscou-se relatar em que medida a sustentabilidade tem

relação com a formação integral almejada pela Rede Esperança a partir dos

programas sociais educativos realizados por ela. Aqui, a sustentabilidade é

compreendida a partir da ética do cuidado, como caminho de sensibilização e

reconstrução de um planeta do qual depende a vida de todos, conforme coloca

Boff(1999). A ética do cuidado torna-se o ponto comum das teorias mais

diversas. “Quem ama, cuida”, afirma Leonardo Boff ( 1999) e Sanches (2004),

concordando com Boff, vai mais além ao afirmar que quem cuida valoriza e

transcende o valor da vida. Por ultimo, na perspectiva de Hans( 2006), quem

ama cuida e se responsabiliza não somente no aqui e agora, mas também pelo

futuro e pelas próximas gerações.

O interesse pelo tema da presente pesquisa surgiu a partir da prática

de trabalho da pesquisadora, que atua na Rede Esperança desde 2007,

inicialmente como psicóloga e atualmente como Coordenadora Operacional.

Essa vivência possibilitou a observação e o acompanhamento do processo de

formação dos adolescentes, desenvolvida através das Oficinas do Projeto

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Construindo o Futuro, dentre outros. O desafio que se apresentou, a partir

dessa experiência, foi a possibilidade de analisar em que medida “o campo

educacional contribui para a solução dos problemas ambientais”, conforme

coloca Sorrentino ( 1995), especialmente quando o processo formativo se dá

em espaços não formais de educação, como é o caso da Rede Esperança.

Contribuir com a formação de valores ambientais, como se propõe a

partir da oficina Construindo Cidadão, exige que leve-se em conta algumas

características básicas desse processo. Nessa perspectiva, Sorrentino (1995)

destaca que os processos educativos voltados à formação ambiental, devem,

entre outras coisas, instigar os indivíduos a analisar e participar na resolução

dos problemas ambientais das coletividades; estimular uma visão global,

abrangente, holística e crítica das questões ambientais; estimular um enfoque

interdisciplinar que resgate e construa saberes; além de propiciar um auto-

conhecimento que contribua para o desenvolvimento de valores (espirituais e

materiais), atitudes, comportamentos, habilidades.

Nesse sentido, entendeu-se como necessário discorrer sobre a base

do processo de formação proporcionado pela Rede Esperança, referenciada

como sendo uma formação integral, por considerar o adolescente educando

em seus aspectos bio-psico-social-espiritual e ambiental.

Para a análise do objeto da presente pesquisa, buscou-se, portanto,

responder à seguinte questão: Os conteúdos trabalhados dentro da oficina

Construindo Cidadão, desenvolvida pela Associação Rede Esperança têm

contribuído para o desenvolvimento de valores e de práticas voltados para a

sustentabilidade ambiental nos educandos?

Como objetivo geral do presente estudo, estabeleceu-se:

Analisar se os conteúdos trabalhados têm contribuído para o

desenvolvimento de valores e de práticas voltados para a sustentabilidade

ambiental nos educandos da oficina Construindo Cidadão, desenvolvido pela

Rede Esperança.

Como objetivos específicos, buscou-se:

Descrever o Programa de Formação Integral da Rede Esperança;

Identificar os conteúdos ambientais desenvolvidos através da oficina

Construindo Cidadão;

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Identificar a existência de práticas sócio-ambientais decorrentes do

processo de formação dos educandos da oficina Construindo o Futuro.

O estudo em questão justificou-se pela sua relevância social,

especialmente pelo fato de que, atualmente, não são raras as Instituições que

oferecem cursos e atividades formativas, com foco dirigido muito mais para

atingir metas e lucros do que a preocupação e o compromisso com a formação

integral dos educandos.

Outro aspecto a ser considerado é que a presente pesquisa possibilitou

fazer uma análise das práticas voltadas para a sustentabilidade ambiental dos

educandos da oficina Construindo Cidadão, possibilitando identificar possíveis

mudanças no contexto familiar e comunitário dos mesmos.

A escolha dessa oficina como foco de análise pela pesquisa em tela,

justifica-se pelo fato da mesma estar pautada na idéia de que a educação

precisa desenvolver constantemente a preocupação de relacionar o conteúdo

estudado com seu impacto na sociedade, principalmente no que diz respeito ao

ambiente. Para tanto, é importante o estudo do meio como um recurso didático

capaz de proporcionar vivências e experiências de aprendizagem que

envolvam a resolução de problemas por meio de atividades investigativas,

dentro e fora do ambiente escolar.

Para análise do objeto proposto realizou-se uma pesquisa qualitativa e

como instrumento de coleta de dados, utilizou-se entrevistas semi-estruturadas,

ou seja, realizadas a partir de roteiro previamente organizado. O universo da

pesquisa foi composto pelo número total dos educandos, que participam da

oficina Construindo Cidadão há, pelo menos, 01 ano – de abril de 2010 a abril

de 2011, assim identificados: 5 adolescentes do sexo masculino e 5 do sexo

feminino, na faixa etária entre 12 e 14 anos, cursando o ensino fundamental e

com renda familiar de 01 a 03 salários mínimos.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. – FORMAÇÃO INTEGRAL: FORMAÇÃO HUMANA PARA A CIDADANIA

Este capítulo tem como finalidade, proporcionar uma reflexão acerca

dos aspectos da formação integral, baseada numa perspectiva da educação

não formal, ou seja, da “educação que tem como pressuposto a formação para

a cidadania, e cuja aprendizagem se dá por meio das práticas sociais”,

conforme coloca Gohn (1999).

Isso pressupõe uma educação voltada para a formação humana e não

para a preparação para o mercado de trabalho. Arroyo destaca a contribuição

que Paulo Freire deu para essa reflexão, ao trazer, já na década de 60, a

educação para o campo da humanização, para “as velhas e novas questões do

sentido da própria condição humana” e não para a mera instrumentalização

para o mercado (ARROYO, 2005).

O mesmo autor, discorrendo sobre a relação entre educação e

humanização, destaca uma reflexão feita por Herzog (1992), que diz que “o

objetivo da pedagogia moderna consiste em ajudar o ser humano em sua

humanização. Esta expressão tem o sentido de maturação para a emancipação

(ARROYO,2005).

Concordando com a reflexão de Herzog (1992) e considerando ser o

adolescente um sujeito que encontra-se em uma etapa de desenvolvimento

essencial para a sua formação integral enquanto ser humano, entende-se

também como necessário o desenvolvimento de atividades que facilitem seu

crescimento pessoal, social, ambiental, espiritual e profissional e que atenda às

demandas sociais relacionadas à chegada de sua maturidade.

Pode-se dizer que o desenvolvimento e a autonomia do adolescente

não acontecem naturalmente, mas precisa ser estimulado e promovido através

da educação formal ou não, adequados à fase na qual se encontra, conforme

analisa Freire:

Uma das tarefas mais importantes da prática educativa-crítica é propiciar as condições em que os educandos em suas realizações uns com os outros e com os educadores ensaiam a experiência profunda de assumir-se. Assumir-se como ser social e histórico,

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como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque é capaz de amar. Assumir-se como sujeito porque é capaz de reconhecer-se como objeto. Assunção de nós mesmos não significa a exclusão dos outros.(FREIRE, 2004)

Se esse aspecto da educação é essencial para a vida dos

adolescentes e jovens, pode-se refletir que esse conceito está relacionado ao

desenvolvimento das capacidades substantivas das pessoas para promover

cidadãos efetivos, conforme coloca Dowbor:

A Idéia da educação para o desenvolvimento local está diretamente vinculada à compreensão e à necessidade de formar pessoas que amanhã possam participar de forma ativa das iniciativas capazes de transformar o seu entorno, de gerar dinâmicas construtivas (...) Para termos cidadania ativa, temos de ter uma cidadania informada e isso começa cedo. A educação não deve servir apenas como trampolim para uma pessoa escapar da sua região: deve dar-lhe os conhecimentos necessário para ajudar a transformá-la. (DOWBOR, 2006).

Outro aspecto que chama a atenção, diz respeito à idéia de Freire

(2001), que menciona que não se pode refletir sobre educação/formação sem

pensar primeiro sobre o que é o ser humano. Pois, para ele, o ser humano é

inacabado e, portanto, necessita de formação.

No que tange ao inacabamento citado por Freire (2001), a Associação

Rede Esperança, para o desenvolvimento de seu processo formativo, parte da

compreensão de que o ser humano é um ser historicamente situado no

mundo, um ser vivo, único, complexo nas suas dimensões individuais, sociais

e, portanto, inacabado. Consciente do inacabamento, ele parte em busca do

permanente movimento de crescimento e encontro do ser mais, da própria

liberdade, harmonia e sentido da vida.

Na busca do crescimento, da própria liberdade, tem-se a educação

como uma resposta da finitude e infinitude. Portanto, a educação é possível

para o ser humano, porque este é inacabado e sabe-se inacabado. A educação

implica na busca realizada por um sujeito que é o homem, na qual deve ser

sujeito de sua educação e não objeto dela.

Ainda segundo Ferreira (2008), pode-se e necessita-se situar e pensar

a formação e a formação continuada, visto que em todas e suas mais diversas

e diferenciadas formas constitui-se, sempre, em uma forma de “capacitar” e

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“qualificar” sujeitos que necessitam se aprimorar ou ascender à condição de

“participante” dessa sociedade que muitas vezes exclui e não inclui.

É importante refletir que o processo educativo realizado em espaços

fora dos muros escolares, ou seja, na perspectiva da educação não formal,

assim como ocorre na Rede Esperança, é “uma área que o senso comum e a

mídia usualmente não vêem e muitas vezes não entendem como educação

porque são sistemas diferenciados da escola”, conforme coloca Gohn (1999).

Isso ocorre, ainda de acordo com essa autora, pelo fato da educação não

formal ter objetivos diferenciados da educação escolar, tais como: a

aprendizagem política dos direitos dos indivíduos enquanto cidadãos; a

capacitação dos indivíduos para o trabalho por meio da aprendizagem de

habilidades e/ou desenvolvimento de potencialidades; a aprendizagem e o

exercício de práticas que capacitam os indivíduos a se organizarem com

objetivos comunitários voltadas para a solução de problemas coletivos

cotidianos; o despertar da consciência ecológica e contribuição para a

formação de cidadãos conscientes, aptos a decidirem e atuarem na realidade

sócio-ambiental; a aprendizagem de conteúdos que possibilitem aos indivíduos

fazerem uma leitura do mundo do ponto de vista de compreensão do que se

passa ao seu redor.

Nesse sentido, pode-se valer ainda da análise de Gohn (1999) quando

argumenta que, “a educação não-formal surge em um contexto de crítica à

racionalidade, à razão, e de descoberta de outras racionalidades, relacionadas

ao mundo da vida”. Ou seja, pode-se compreender a educação integral

baseada em práticas sociais, desenvolvidas em espaços não formais de

educação como a que ocorre na Rede Esperança, como sendo aquela cujo

objetivo é “formar um cidadão capaz de fazer uma leitura crítica de mundo”

(GOHN, 1999)

2.2. FORMAÇÃO HUMANA PARA A SUSTENTABILIDADE

Refletir sobre o tema da sustentabilidade é pensar no cuidado com a

vida. A ex-ministra de Estado do Meio Ambiente, Marina Silva, aponta a Carta

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da Terra2, como sendo um forte sinal de que vivemos um tempo de cuidado,

por reforçar a visão de que:

(...)a Terra, nosso lar, é viva, como uma comunidade de vida incomparável.(...)devemos decidir viver com um sentido de responsabilidade universal, identificando-nos com a comunidade terrestre como um todo, bem como com nossas comunidades locais. Somos, ao mesmo tempo, cidadãos de nações diferentes e de um mundo no qual as dimensões local e global estão ligadas. Cada um compartilha responsabilidade pelo presente e pelo futuro bem-estar da família humana e de todo o mundo dos seres vivos. O espírito de solidariedade humana e de parentesco com toda a vida é fortalecido quando vivemos com reverência o mistério da existência, com gratidão pelo dom da vida e com humildade em relação ao lugar que o ser humano ocupa na natureza.(CARTA DA TERRA, 2004)

O conceito de Sustentabilidade ou Desenvolvimento Sustentável passa

a ter ênfase a partir da década de 80 através do documento intitulado “Nosso

Futuro Comum”, resultado do trabalho da Comissão Mundial sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD). Segundo esse documento,

“desenvolvimento sustentável” é o modelo de desenvolvimento que é capaz de

garantir as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das

gerações futuras atenderem também às suas.

Em relação à evolução do conceito de Sustentabilidade bem como a

sua relação com a educação, merece destaque também, a Conferência de

Tessalônica, promovida pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância

(UNESCO), em 1998, pois a partir dela, o conceito de sustentabilidade passa a

incorporar aos aspectos ambientais, as questões relacionadas à pobreza, à

população, à saúde, à segurança alimentar, à democracia, aos direitos

humanos e à paz.

Importante ressaltar que a redução da pobreza, é “objeto essencial e

2 A Carta da Terra é um documento global, concluído em 2002, pela Comissão da Carta da Terra, e estabelece 4 princípios éticos fundamentais para o processo de construção da sociedade sustentável.São eles: Respeitar e cuidar da comunidade de vida; Integridade ecológica; Justiça social e econômica; Democracia, não-violência e paz

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indispensável para a sustentabilidade, na medida em que, dentre outras coisas,

torna o acesso à educação e a outros serviços sociais mais difícil”, conforme

destaca Bley ( 2004). Outro avanço a ser considerado a partir da Conferência

de Tessalônica, de acordo com a autora, foi o fato de “reconhecer o papel

crítico da educação e da consciência pública para o alcance da

sustentabilidade”. Segundo Scotto (2007), o tema do desenvolvimento sustentável tem

alimentado muitas propostas que apontam para novos mecanismos de

mercado como solução de condicionamento da produção à capacidade de

suporte dos recursos naturais.

De acordo com o Fórum Brasileiro de ONGs (1997), o desenvolvimento

sustentável só poderá converter-se em proposta séria à medida que seja

possível distinguir seus conteúdos concretos, seus significados ecológicos,

ambientais, demográficos e culturais, sociais, políticos e institucionais.

Nesse texto somos convidados a refletir a sustentabilidade na

dimensão relacionada ao cuidado do ser humano e da natureza, pois só

quando as pessoas, em sua formação, valorizam a importância de ser pessoa,

são capazes também de cuidar da natureza.

Percebe-se que uma das preocupações de Boff (1999) é a crise que

afeta a humanidade pela falta de cuidado. Para sair desta crise, segundo o

autor, precisa-se de uma nova ética e ela deve nascer de algo essencial ao ser

humano.

Boff define o sentido do cuidado e de viver, ao dizer que tudo que

existe e vive preciso ser cuidado para continuar a existir e viver: uma planta,

um animal, uma criança, um idoso, o planeta Terra. “O cuidado é mais

fundamental do que a razão e a vontade” (BOFF, 1999).

O autor acima destaca também a necessidade do ser humano em

desenvolver a capacidade de cuidar de si, das pessoas e de toda a natureza,

pois a falta de cuidado se apresenta constante nos dias de hoje: “trata se de

pensar e falar de cuidado na dimensão ontológica, referindo-se à constituição

do ser humano, portanto, um modo singular de ser mulher e homem. Se não

tivermos esse cuidado, podemos dizer que deixamos de ser humanos”.

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O autor Roberto da Matta (2009) diz que devemos voltar a escutar,

como faziam nossos antepassados, e como fazem os nossos índios, voltando a

pensar a sociedade não contra a natureza, mas com ela; e a natureza como

sendo ela mesma um sujeito dotado de humanidade.

Pensar a sustentabilidade, portanto, significa pensar a construção de

uma sociedade a partir do respeito a todas as formas de vida e para que isso

aconteça é necessário um processo de aprendizagem permanente, processo

no qual a educação ocupa papel central na formação de valores e na ação

social, conforme colocam Ovalles e Viezzer (1994):

Consideramos que a educação ambiental para a sustentabilidade eqüitativa é um processo de aprendizagem permanente.Tal educação afirma valores e ações que contribuem para a transformação humana e social e para a preservação ecológica. Ela estimula a formação de sociedades socialmente justas e ecologicamente equilibradas, que conservam entre si relação de interdependência e diversidade.Isto requer responsabilidade individual e coletiva em nível local, nacional e planetária.

Esses autores destacam ainda como um dos princípios da Educação

para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global que “a educação

ambiental deve ter como base o pensamento crítico e inovador, em qualquer

tempo ou lugar, em seus modos formal, não-formal e informal, promovendo a

transformação e a construção da sociedade” (OVALLES E VIEZZER,1994).

Complementando essa idéia, pode-se valer da análise de Sorrentino

(1995) que diz que “a dimensão ambiental pode e deve fazer parte da formação

de todos os estudantes, seja para a sua atuação profissional, seja para o

exercício da cidadania e na vida pessoal”.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa em tela é de caráter qualitativo que, de acordo com

Chizzotti ( 2000), são aquelas que apoiam-se em dados reunidos a partir das

“interações interpessoais, na co-participação das situações dos informantes,

analisados a partir da significação que estes dão aos seus atos”. Como

pesquisa qualitativa, teve como objetivo central, identificar fatores que

determinassem ou que pudessem contribuir para a análise do objeto proposto,

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no caso, aspectos da Oficina Construindo Cidadão, desenvolvida pela

Associação Rede Esperança e a sua relação com o desenvolvimento de

valores e de práticas voltadas para a sustentabilidade ambiental.

Para a coleta de dados fez-se uso de entrevistas semi-estruturadas, ou

seja, aplicadas a partir de um roteiro previamente elaborado. A entrevista é

uma técnica básica nas abordagens qualitativas, apresentando-se como uma

forma de interação social que, segundo Chizzotti (2000), parte de certos

questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à

pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de

novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do

informante. Para a escolha da amostra da pesquisa, procurou-se levar em

consideração o universo total dos educandos que participam da Oficina

Construindo Cidadão desde abril de 2010, ou seja, 10 educandos, assim

identificados: 5 adolescentes do sexo masculino e 5 do sexo feminino, entre 12

e 14 anos, cursando o ensino fundamental e dentro da faixa de renda familiar

de 01 a 03 salários mínimos.

3.1. CARACTERIZAÇÃO DO LOCUS DA PESQUISA: REDE ESPERANÇA OU

RETE SPERANZA

3.1.1. Breve Histórico

A Rede Esperança é uma Associação de Inspiração Cristã, cuja matriz

- Rete Speranza -, foi criada em 1988 e tem sede em Milão, Itália. Tem como

missão, realizar formação profissional e promoção humana, visando

proporcionar condições efetivas de melhoria de vida e de auto-sustentabilidade

para comunidades de pequeno poder aquisitivo.

A Rede Esperança teve origem na década de 80, quando algumas

famílias italianas vieram até Curitiba para conseguir a adoção de crianças, com

a supervisão do Tribunal de Justiça do Paraná. Após inúmeras experiências

positivas neste sistema de adoção, um destes casais, Silvano e Marisa Rota,

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tornou-se animador de um movimento chamado Rete Speranza, que havia

nascido, oficialmente, no verão de 1989, na Itália.

Como Instituição, a Rede Esperança começou a dar os primeiros

passos no ano 1991 pelo desejo da Rete Speranza-Italia de constituir uma

associação paralela no Brasil, com os mesmos objetivos da matriz. Assim

nasceram em 1992, o Centro Profissionalizante, em Curitiba, e em 2004, o

Centro de Promoção Humana, em Piraquara,

A primeira parte do Centro Profissionalizante foi inaugurada em agosto

de 1993, com os cursos de panificação, mecânica, eletricidade e de encanador.

Esses cursos eram realizados em parceria com o SENAI (Serviço Nacional de

Aprendizagem Industrial) e, mais tarde, com a FAS (Fundação de Ação Social

de Curitiba).

Em 2007, em parceria com a Rete Speranza Itália, a CEJA/PR

(Comissão Estadual Judiciária de Adoção) e a 2ª Vara da Infância e da

Juventude (adoções) de Curitiba, surgiu o Projeto Adote uma Esperança, o

qual, inicialmente, era direcionado aos adolescentes cadastrados na CEJA, que

se encontravam em abrigamento institucional e não possuíam perspectiva de

inserção em uma família substituta, tanto no âmbito nacional quanto no

internacional.

Preocupados com o bem estar destes adolescentes, mais

especificamente com a questão do desligamento dos abrigos, a proposta

focou-se no desenvolvimento de um processo de capacitação humana e

profissional, visando a inserção destes adolescentes à vida profissional e social

fora dos abrigos.

Para nortear o projeto até o fim de 2009, elaborou-se uma proposta

educativa, a qual constituiu-se de 3 etapas principais:

a. Educação propedêutica3, sistematização e aprofundamento dos

conhecimentos básicos;

b. Formação humana e profissionalizante;

c. Inserção no mercado formal de trabalho, possibilitando a preparação para

o desligamento do adolescente do abrigo, e o incentivo à sua autonomia.

3 Conjunto de estudos introdutórios que visa dar ao aluno a formação geral e básica preliminar.

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No decorrer de suas atividades e à medida que algumas ações foram

se concretizando, o Projeto Adote uma Esperança sofreu algumas alterações a

fim de se ajustar e adequar o seu objetivo à realidade encontrada.

Em 2009, a mudança mais significativa encontrada dizia respeito ao

público-alvo, que passou a ser formado não somente de adolescentes de

abrigo, como também de adolescentes provenientes de outros projetos sociais,

assistidos pelo CRAS4 da Regional Cajuru, Curitiba, ou da própria comunidade.

Este movimento propiciou aos adolescentes (a quem num primeiro

momento o projeto destinava-se) a possibilidade de interagir com adolescentes

de outras realidades que não somente a de casa de abrigos. Essa vivência

possibilitou aos mesmos, ampliarem a sua visão e, por conseguinte, as suas

expectativas e projetos de vida.

A proposta de 2010 ampliou as mudanças para outras áreas do projeto,

objetivando: proporcionar um espaço facilitador para o desenvolvimento

integral do adolescente, visando, gradualmente, a inclusão social e buscando

atender às seguintes expectativas:

a. Promover a prevenção de comportamentos e condições sociais

desfavoráveis à cidadania e ao desenvolvimento individual de cada

adolescente;

b. Proporcionar atividades que possibilitassem o despertar de talentos e de

capacidades;

c. Propiciar o desenvolvimento humano integral dos adolescentes;

d. Orientar e acompanhar o desenvolvimento profissional de cada

participante;

e. Despertar o senso de cidadania, conscientizando o adolescente de seus

direitos e deveres;

f. Facilitar a instrumentalização e a capacidade interna para a geração de

trabalho e renda;

g. Propiciar espaço para o desenvolvimento e estruturação da autonomia de

cada indivíduo;

4 Centro de Referência da Assistência Social

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h. Desenvolver a criatividade, originalidade, coordenação motora de cada

adolescente;

i. Auxiliar na quebra de paradigmas familiares nos aspectos sociais,

emocionais e econômicos.

A Rede Esperança, hoje com sede na Rua Nicácio Riquelme 192, no

bairro Capão da Imbuia, em Curitiba, é reconhecida como sendo de Utilidade

Pública Municipal, Estadual e Federal, tem inscrição no Conselho Nacional da

Assistência Social, possui a Filantropia e credenciamento junto ao CEJA/PR –

Comissão Estadual Judiciária de Adoção.

3.1.2. Público-Alvo

A Rede Esperança atende, em especial adolescentes e mulheres. Os

adolescentes são oriundos da comunidade local, abrigos, casa lares e

repúblicas; de projetos de atendimento integral institucional; famílias substitutas

e acolhedoras; de programas socioeducativos de restrição ou de privação de

liberdade; de programas como o de erradicação ao trabalho infantil, dentre

outros.

Em síntese, a Rede Esperança atende a adolescentes que encontram-

se em situações de risco, aqui compreendidas como sendo aquelas que

representem ameaças ao bem-estar físico e/ou psicológico e que possam

deflagrar uma situação sócio-econômica desfavorecida.

3.1.3. Organização do Trabalho

Todo o trabalho da Rede Esperança está organizado em dois espaços

com conteúdos, público-alvo e estrutura diferenciados: O Centro

Profissionalizante, em Curitiba, Paraná e o Centro de Promoção Humana, em

Piraquara, Município da Região Metropolitana de Curitiba.

Centro Profissionalizante

Com sede em Curitiba, atende aos adolescentes em situação de risco,

oferece atividades formativas, estruturadas sob a forma de Programas, tais

como: Construindo o Futuro, Adolescente Aprendiz e Cursos

Profissionalizantes.

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Centro de Promoção Humana

O Centro de Promoção Humana (CPH), em Piraquara, se caracteriza

por ser um espaço facilitador do desenvolvimento integral do ser humano, com

foco na mulher; nasceu da experiência do Centro Profissionalizante, mas com

um objetivo diferenciado: buscar primeiramente inserir-se na comunidade local

para conviver com a cultura e com a vida das pessoas.

Para tanto, constituiu-se de uma infra-estrutura básica incubadora de

idéias, de apoio, de ajuda para as pessoas se encontrarem com respeito à sua

história, à sua cultura, à sua necessidade e à sua expectativa de vida e iniciou

suas atividades em 2004. Atualmente, suas atividades estão estruturadas sob a

forma de programas, tais como:

1. Programa Geração de Trabalho e Renda: promove a formação para a

gestão, a comercialização, o empreendedorismo familiar, as associações

cooperativas, por meio de palestras, parcerias, participação em eventos, as

incubadoras de panificação e de corte e costura e a formação com práticas de

economia solidária;

2. Programa Bem Estar: tem seu foco na formação humana integral e oferece

às participantes, palestras sobre higiene, prevenção, saúde e economia;

fitoterapia; serviço social; hidroterapia; massoterapia.

3.1.4. Proposta Pedagógica: a Pedagogia do Encontro

Todo o trabalho da Rede Esperança está pautado na pedagogia do

encontro que é, em primeiro lugar, caminho, prática educativa e envolve:

a. um método, que facilite o encontro de varias instâncias, a partir da leitura

dos acontecimentos concretos do dia a dia;

b. uma teologia, como visão do mundo e do homem na relação com Deus e

com os outros;

c. uma filosofia, como fim: é a ciência que ajuda a definir o pôrque do existir.

d. um conhecimento concreto do homem/mulher através das ciências, tais

como a psicologia, a antropologia, a medicina e a biologia;

e. um ambiente onde se vive: comunidade local, cidade, nação e mundo

através da sociologia e da ecologia.

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3.1.5 – Atividades Desenvolvidas pela Rede Esperança

Conforme já mencionado, a Rede Esperança oferece, aos

adolescentes, aqui compreendidos como educandos, atividades formativas,

estruturadas sob a forma de programas, como um espaço facilitador do

desenvolvimento integral a fim de proporcionar uma oportunidade de melhoria

da qualidade de vida pessoal e profissional.

Paralelamente à formação profissional é realizado um trabalho de

formação humana, através de atividades voltadas para o desenvolvimento de

valores, cidadania, empreendedorismo e meio ambiente.

As atividades formativas estão dirigidas a adolescentes, a partir dos 12

anos, conforme Quadro abaixo:

QUADRO 1: ATIVIDADES FORMATIVAS DESENVOLVIDAS PELA REDE ESPERANÇA DE

ACORDO COM A FAIXA ETÁRIA

Atividade Construindo o Futuro Adolescente

Aprendiz

Cursos

Profissionalizantes

Faixa Etária 12 a 14 anos 15 a 17 anos Acima de 18 anos

3.1.5.1. Programa Construindo o Futuro

O programa Construindo o Futuro visa facilitar o desenvolvimento

integral dos adolescentes a partir de 12 anos, por meio de um processo gradual

na área artística - cultural.

É o Programa que permite atender aos adolescentes mais jovens – a

partir dos 12 anos. A partir dos 14 anos, eles podem ingressar no programa

Adolescente Aprendiz, o qual promove atividades educativas e de formação

profissional, visando oportunizar a profissionalização e a inserção no mercado

formal de trabalho. Após esse processo, o jovem tem a possibilidade de dar

continuidade à sua formação profissional com um curso de qualificação

profissional.

A oficina Construindo Cidadão

Parte integrante do Programa Construindo o Futuro e foco do presente

estudo, a oficina Construindo Cidadão tem como finalidade estimular a reflexão

sobre as questões sócio-ambientais.

18

Pretende-se, com isso, possibilitar a reflexão sobre os diversos

aspectos que possam contribuir para uma vida de qualidade, levando os

adolescentes a desenvolverem novas atitudes e hábitos através do

conhecimento pesquisado, construído e contextualizado por meio das

atividades desenvolvidas, estimulando, assim, a sua autonomia e consciência

ambiental.

Essa oficina tem como objetivos:

Analisar e discutir as mudanças ambientais da região e contribuir para

o estudo de impacto ambiental local;

Utilizar os materiais desprezados no dia-a-dia tais como: jornais,

revistas, materiais de escritório, listas telefônicas, folhas de cadernos,

formulários de computador, dentre outros;

Sensibilizar os alunos para a preservação do meio ambiente

desenvolvendo atitudes sustentáveis;

Perceber que o lixo pode ser uma fonte importante de recurso

financeiro através da reciclagem;

Refletir sobre atividades de sensibilização que permitam uma

mobilização da comunidade (bairro, escola, etc.) para buscar soluções

coletivas sobre a questão do lixo;

Informar sobre as formas de Reduzir, Reutilizar e Reciclar o lixo – 3

R’s;

Difundir a cultura do empreendedorismo, criando um espaço de

desenvolvimento de habilidades pessoais, atitudes comportamentais e práticas

empreendedoras entre os adolescentes.

3.1.4. Desenvolvimento Integral na Rede Esperança

Ao considerar o ser humano inacabado e ciente desse inacabamento, a

Rede Esperança busca oferecer um desenvolvimento integral do adolescente,

no sentido bio-psico-social-ambiental-espiritual. Esse foco serve como

norteador de toda a atuação, o que, espera-se, poderá propiciar o crescimento

não só individual como também social.

19

As atividades possuem um caráter integrador e, portanto, fundem-se

umas às outras, podendo, muitas vezes se articularem de uma forma onde uma

determinada oficina, por exemplo, integrará tanto os aspectos que envolvem o

cognitivo, como o emocional, o espiritual e o social. As linhas-básicas também

servirão para orientar as atividades de outros educadores envolvidas com os

adolescentes, no caso seus pais e professores.

As linhas-base de cada atividade são:

Para desenvolver o Programa Arte – Cultura o adolescente precisa de

alguns instrumentos ou habilidades básicas, por isso o projeto prevê atividades

tais como: Reforço Escolar; oficina de Desenvolvimento Humano; Inclusão

Digital; Roda de Leitura; Construindo Cidadão. Com o intuito de promover a

inclusão do adolescente, o programa realiza ações em parceria principalmente

com a família nuclear do adolescente, colegas e comunidade, visando valorizar

os relacionamentos interpessoais que possam minimizar o ciclo de exclusão

social.

Utilizando a arte-educação como meio de aprendizagem e de inclusão

social, cujos produtos simbolizam e caracterizam a individualidade de cada

adolescente e, por conseguinte, seu grupo, as atividades que possam contribuir

para este desenvolvimento são trabalhadas por Núcleos: Núcleo de Esporte e

Lazer: Núcleo Produção Digital: Núcleo Artes visuais: Núcleo Teatro: Núcleo

Dança: Núcleo Musical.

O desenvolvimento da capacidade criativa dos alunos tem uma direta

relação com a produção do conhecimento nas diversas disciplinas. Por isso,

propõe-se, de maneira integrada, em especial através da oficina Construindo

Cidadão, atividades didáticas que sensibilizem para a consciência quanto à

degradação do ambiente, reaproveitamento do lixo, cuidado com o corpo e

prevenção a doenças, com múltiplas possibilidades no fazer artístico,

despertando para atitudes sustentáveis e também incentivando a produção de

materiais como fonte de renda.

Assim, integrar as diversas áreas do conhecimento, tais como, Arte,

Ciências, Saúde e Língua Portuguesa, nas suas diversas linguagens e

interpretações, no desenvolvimento das atividades, é uma tentativa de

20

contribuir para o desenvolvimento de uma consciência corporal, ambiental e

social por meio do fazer, do sensível e do lúdico.

3.2. Pesquisa de Campo

A pesquisa de campo foi desenvolvida nos dias 05 e 06 de abril de

2011, com a realização de entrevistas em uma das salas de atividades da

Associação Rede Esperança. As questões abordadas nas entrevistas foram

relativas às atividades desenvolvidas na oficina Construindo Cidadão e a

relação com o meio ambiente, conforme anexo 1.

3.2.1. Caracterização dos sujeitos da pesquisa quanto à idade, sexo,

escolarização, moradia, renda e tempo de participação na oficina Construindo

Cidadão

QUADRO 1. CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA, QUANTO À IDADE, SEXO E ESCOLARIZAÇÃO.

Sujeito Idade Sexo Nível Escolarização

1. M.A.G 13 F Ensino fundamental incompleto

2. G.K.R 12 F Ensino fundamental incompleto

3. A.C.O 14 F Ensino fundamental incompleto

4. F.V.L 13 M Ensino fundamental incompleto

5. M.H.C 12 M Ensino fundamental incompleto

6. F.S 12 M Ensino fundamental incompleto

7. J.S.O 13 F Ensino fundamental incompleto

8. J.P.L 12 M Ensino fundamental incompleto

9. C.O.C 13 F Ensino fundamental incompleto

10. J.S.O 12 M Ensino fundamental incompleto

QUADRO 2: DADOS FAMILIARES DOS ENTREVISTADOS QUANTO À MORADIA E

RENDA

Com quem moram Percentual dos Entrevistados

Pai, mãe e irmãos 70%

Somente mãe e irmãos 30%

21

QUADRO 3. DADOS EM RELAÇÃO À RENDA FAMILIAR

Renda Familiar Percentual dos Entrevistados

Até 01 Salário Mínimo 30%

De 01 a 03 Salários Mínimos 70%

QUADRO 4: TEMPO DE PARTICIPAÇÃO NA OFICINA CONSTRUINDO CIDADÃO

Tempo de participação Percentual dos Entrevistados

01 ano 90%

De 01 a 2 anos 10%

3.2.2. Análise dos Dados

Em relação à primeira questão abordada com os entrevistados, ou

seja, há quanto tempo participam das atividades da oficina Construindo

Cidadão observou-se que 100% participam há, pelo menos, 01 ano.

Na segunda questão abordada, que diz respeito às atividades da

oficina Construindo Cidadão que mais despertaram a atenção dos

entrevistados, 90% (noventa por cento) disseram que foi a produção de objetos

com materiais recicláveis, tais como: artefatos com papel reciclável; produção

de objetos artesanais com aproveitamento de tecidos, tais como vasos, porta

agulha e chaveiros. Os demais entrevistados, 10% (dez por cento), fizeram

referência às atividades relativas ao Empreendedorismo.

Os resultados estão demonstrados no Quadro abaixo:

QUADRO 5. ATIVIDADES DA OFICINA CONSTRUINDO CIDADÃO QUE MAIS DESPERTARAM INTERESSE DOS EDUCANDOS

Atividade Percentual (%)

Produção de objetos com materiais recicláveis

90

Atividades relacionadas ao empreendedorismo

10

Importante observar que a grande maioria dos entrevistados apontou a

produção de objetos com materiais recicláveis como a principal atividade de

interesse, relacionando isso com a questão do meio ambiente. Pode-se pensar

22

que o interesse demonstrado também pode estar relacionado ao ato de

criação, ou seja, ao fato de fazer algo “inédito, novo e singular”, entendendo a

arte como sendo um “elemento fundamental para a educação; como

apropriação do conhecimento historicamente produzido pelo homem e seu

espaço de construção de novas habilidades e possibilidades”, conforme coloca

Peixoto (2003).

A terceira questão abordou a percepção que os entrevistados têm

sobre a relação entre as atividades do Construindo Futuro e as questões do

meio ambiente. 100% (cem por cento) dos adolescentes disseram reconhecer

a existência dessa relação, pois as atividades desenvolvidas têm foco no

cuidado com o meio ambiente, expresso no aproveitamento de materiais que

seriam descartados como lixo, tais como as embalagens de leite que são

transformadas em artefatos de uso pessoal como carteiras; nas reflexões sobre

a responsabilidade de não poluir o meio ambiente, de se cuidar do que é de

todos, aspecto ressaltado por Boff (1999), ao defender a ética e a opção pelo

cuidado. Cuidar, como diz esse autor, é mais que um ato, é uma atitude de

preocupação, de responsabilidade e de envolvimento afetivo com o outro. “As

pessoas não possuem somente corpo e mente, são seres espirituais. Assim,

devemos valorizar esse lado espiritual através do sentimento e do cuidado com

o nosso planeta”.

Em relação à quarta questão, quando questionados se as atividades da

oficina Construindo Cidadão, provocaram alguma mudança em suas práticas

cotidianas, no que diz respeito ao cuidado com o meio ambiente, 100% (cem por

centos) dos entrevistados disseram que sim, com ênfase, mais uma vez, no

reaproveitamento de materiais recicláveis: 50% (cinquenta por cento)

mencionaram que aprenderam a reciclar, separar o lixo ou seja, passaram a

desenvolver práticas de reaproveitamento de materiais recicláveis, o que

demonstra uma forma de cuidado com o meio ambiente; outros 20% (vinte por

cento) disseram que pararam de provocar poluição e de jogar o lixo na rua; 10%

( dez por cento) disseram ficar anteriormente no banheiro por bastante tempo, o

que representava desperdício de água e de energia, mas que depois da

participação na oficina não só mudaram esse hábito como passaram a

reaproveitar materiais tais como caixas de leite para transformar em carteiras

23

para colocar dinheiro; 10% ( dez por cento ) mencionaram que não gostam de

viver em um ambiente sujo e que antes jogavam as caixas de leite, garrafas peti

e outras coisas no lixo ou na rua e agora passaram a reciclar e a aproveitar

esses materiais. Outros 10% (dez por cento) mencionaram que passaram a

retirar o lixo das ruas, aprenderam a fazer fuxico, peças de tic.tac e colares com

as mães, e como a venda desses produtos tem ajudado na renda familiar.

QUADRO 6: RELAÇÃO ENTRE AS ATIVIDADES DA OFICINA CONSTRUINDO CIDADÃO E MUDANÇAS NA PRÁTICA COTIDIANA DOS ADOLESCENTES

Tipo de mudança Percentual dos entrevistados (%) aprenderam a separar e a desenvolver práticas de reaproveitamento de materiais recicláveis como forma de cuidado com o meio ambiente

50

pararam de provocar poluição e de jogar o lixo na rua 20 passaram a economizar luz e água 10 não gostam mais de viver em um ambiente sujo 10 Passaram a retirar lixo das ruas e reaproveitar os materiais para gerar renda

10

A quinta questão abordada refere-se ao que os entrevistados

consideram importante que seja contemplado na oficina Construindo Cidadão

para auxiliar os educandos no cuidado com o meio ambiente. 50% (cinqüenta

por cento) disseram que poderia ser estimulado o plantio de mais arvores e 20%

(vinte por cento) que poderia ser construída uma horta e reciclar mais os

materiais; outros 20% (vinte por cento) sugeriram fazer um sistema de água

aquecida com garrafa peti e aproveitar água da chuva para cuidar mais do

ambiente; 10% (dez por cento) mencionaram que poderiam aprender a fazer

perfume, amaciante, isso ajudaria na renda familiar.

QUADRO 6. CONTRIBUIÇÕES DA OFICINA CONSTRUINDO CIDADÃO PARA O CUIDADO COM O MEIO AMBIENTE

Tipo de contribuição Percentual (%) Plantar mais árvores 50 Fazer o aproveitamento da água da chuva e um sistema de água aquecida com garrafa peti

20

Construir uma horta e reciclar mais materiais, incluindo os que pudessem ser comercializados, para auxiliar na renda familiar

30

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

24

Embora não se pretenda fazer conclusões, é importante destacar que a

análise dos dados obtidos a partir das entrevistas realizadas com os

educandos permitiu considerar que os conteúdos abordados na oficina

Construindo Cidadão, desenvolvida dentro do Programa Construindo o Futuro,

da Associação Rede Esperança, têm contribuído para o desenvolvimento de

valores e de práticas voltados para a sustentabilidade ambiental nos

educandos frequentantes.

Também foi possível observar que, para os entrevistados, a relação

entre os conteúdos trabalhados e a questão do meio ambiente está

predominantemente voltada para o reaproveitamento e reciclagem dos

materiais, os quais são transformados em artefatos de uso pessoal e

decorativos e também, para muitos deles, a comercialização desses artefatos

tem contribuído para aumentar a renda familiar, embora os dados analisados

não permitam aferir em que grau isso tem ocorrido.

Nesse sentido, é importante observar que muito embora o

reaproveitamento e a reciclagem de materiais que, na lógica comum, são

tratados como “lixo” represente um avanço e uma importante contribuição para

a preservação ambiental, é necessário ir mais além: é importante que espaços

educativos formais e não formais, como é o caso da oficina Construindo

Cidadão, contribuam para a reflexão e o desenvolvimento de práticas,

baseados na ética do cuidado com o meio ambiente, tendo como objetivo, por

exemplo, pensar e propor formas de não gerar resíduos. As ações educativas

podem e devem ser importantes mediadoras dos processos que estimulem

práticas sustentáveis tais como a não geração de resíduos, a economia de

água e energia, dentre outros.

Outro aspecto que merece destaque é o fato de a oficina Construindo

Cidadão ser parte integrante do programa Construindo o Futuro, cujo objetivo é

facilitar o desenvolvimento integral dos adolescentes através de uma

abordagem artística - cultural, pois isso possibilita aos educandos, fortalecer o

aprendizado e criar vínculos de confiança entre educador e educando, além de

proporcionar a construção, formação e o desenvolvimento do ser humano a

25

partir de valores e mudanças de comportamento para a cidadania e para a

sustentabilidade, foco principal do presente trabalho.

Isso fica evidente quando a grande maioria dos entrevistados destaca

a produção de artefatos com materiais recicláveis como sendo a atividade que

mais despertou o interesse durante a realização da oficina Construindo

Cidadão.

Quando analisada a percepção que os entrevistados têm sobre a

relação entre as atividades da oficina Construindo Cidadão e as questões do

meio ambiente, ficou evidenciado que reconhecem a existência dessa relação,

na medida em que as atividades desenvolvidas, com destaque, mais uma vez,

para o reaproveitamento de materiais, têm relação com o cuidado com o meio

ambiente. Isso leva a pensar que, embora a oficina Construindo Cidadão

constitua-se em um espaço de reflexão sobre a questão ambiental,

demonstrado através dos resultados acima mencionados, é importante que a

Associação Rede Esperança incorpore, através dos programas existentes e de

outros, novos conteúdos, novos objetivos educacionais e novas atividades que

não sejam as relacionadas ao reaproveitamento e a reciclagem de materiais –

embora esse tema seja de extrema importância – e que possam colaborar

efetivamente para a formação dos educandos em valores voltados para uma

relação mais respeitosa e mais solidária com o meio ambiente.

26

REFERÊNCIAS

ARROYO, Miguel. Ofício de Mestre : imagens e auto-imagens. Petrópolis:vozes,2005. BLEY,Regina. A educação ambiental no processo de trabalho do cat ador de materiais recicláveis em Curitiba, estado do Par aná. Dissertação de Mestrado. Universidade Tuiuti do Paraná, 2004.

BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do humano - compaixão pela Terra. Petrópolis: Vozes, 1999.

CHIZZOTTI, A. Pesquisa em ciências humanas e sociais . 4. ed. São Paulo: Cortez, 2000. DOWBOR, Ladislau. Educação e desenvolvimento local , disponível em http://www.cenpec.org.br/modules/editor/arquivos/c8a0633f-4d1f-f2d4.pdf. Acesso em 07 de novembro/2006. FERREIRA, Naura Syria Carapeto. Formação humana e gestão da educação . São Paulo: Editora Cortez, 2008.

FREIRE, Paulo. Educação e mudança. São Paulo: Ed. Paz e terra, 2001.

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade . São Paulo: Ed. Paz e terra, 1999.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia : saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2004. GOHN, Maria da Glória. Educação não-formal e cultura política . São Paulo: Cortez, 1999.

HANS, Jonas. O principio de responsabilidade : ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio, 2006. HERZOG,Walter.La banalidad del bien: los fundamentos de la educación moral.Revista de Educacion: MEC. No297,1992.

MATTA, Roberto da. Sustentabilidade , disponível em: http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/sustentabilidade/conteudo. Acesso em 03 de novembro de 2009. OVALLES, O e VIEZZER,M. (org.). Manual latino-americano de educação ambiental .São Paulo:Gaia,1994.

27

PEIXOTO. Diretrizes curriculares da educação básica / Sociol ogia , Secretaria da Educação, disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/File/diretrizes_2009/sociologia.pdf. Acesso em 15 de março de 2011.

SANCHES, Mário. Bioética, ciência e transcendência . São Paulo: Loyola, 2004.

SCOTTO, Gabriela. Desenvolvimento Sustentável . Petrópolis, RJ: Ed.Vozes, 2007.

SORRENTINO, Marcos.Educação ambiental e universidade : um estudo de caso. São Paulo, 1995. 263 f. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação da Universidade Estadual de São Paulo.

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ANEXOS

ANEXO 1

ROTEIRO DE ENTREVISTAS

1. Dados pessoais

Nome:.............................................................................................Idade.............

Sexo:...........................

Escolaridade: ( )ensino fundamental incompleto ( )ensino fundamental completo ( )

outros

Município ou Bairro em que mora:.......................................................................

Com quem Mora? Pai ( ) Mãe( ) Irmãos( ) Avós ( ) Outros( )

Especificar..........................................................................................................

2. Renda Familiar:

Até um salário mínimo ( ) de um a três ( ) acima de três( )

1. Há Quanto tempo você participa das atividades do Projeto Construindo Futuro?

A menos de 01ano( ) de 01a 02 ( ) acima de 02 ( )

2. Qual das atividades realizadas na oficina Construindo Cidadão que mais

despertou o seu interesse?

3. Na sua opinião, as atividades desenvolvidas na Oficina Construindo Cidadão

tem alguma relação com o meio ambiente?

Se sim, qual (is)?

4. Você acha que as atividades desenvolvidas no Construindo Cidadão sobre o

meio ambiente provocaram alguma mudança em você ou em sua vida?

Sim ( )

Não ( )

Se sim, como/em que?

5. O que você considera importante ter na Oficina Construindo Cidadão e que

possa ajudar os alunos (educandos) no cuidado com o meio ambiente?

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