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UNIVERSIDADE DA FORÇA AÉREA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM CIÊNCIAS AEROESPACIAIS ROGÉRIO LUIZ VERÍSSIMO CRUZ OFFSET: O EXEMPLO DO SETOR AEROESPACIAL BRASILEIRO RIO DE JANEIRO Dezembro 2005

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UNIVERSIDADE DA FORÇA AÉREA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

MESTRADO EM CIÊNCIAS AEROESPACIAIS

ROGÉRIO LUIZ VERÍSSIMO CRUZ

OFFSET: O EXEMPLO DO SETOR AEROESPACIAL BRASILEIRO

RIO DE JANEIRO

Dezembro 2005

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ROGÉRIO LUIZ VERÍSSIMO CRUZ

OFFSET: O EXEMPLO DO SETOR AEROESPACIAL BRASILEIRO

Dissertação apresentada à Universidade da Força Aérea como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ciências Aeroespaciais.

ORIENTADOR: Profª. Dra. Maria Célia Barbosa Reis da Silva

RIO DE JANEIRO

Dezembro 2005

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ivDEDICATÓRIA

A Deus, à minha esposa e filhos pela compreensão e apoio incondicional, a todos que contribuíram para que esta dissertação resultasse em êxito, especialmente à Profª. Dra. Maria Célia Barbosa Reis da Silva, cuja orientação foi fundamental e de inestimável valor.

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RESUMO

O presente estudo está relacionado à experiência do Comando da Aeronáutica na condução de acordos de compensação comercial, industrial e tecnológica. Com a adoção de um modelo de pesquisa exploratória, busca-se analisar os fatores controlados pelo Comando da Aeronáutica e pela indústria aeroespacial nacional que contribuem para a ocorrência da inovação tecnológica e identificar as relações de causa e efeito existentes. Quanto ao Comando da Aeronáutica, constata-se a existência de um longo aprendizado que acarretou o aperfeiçoamento das negociações dos acordos e na implementação de exigências de transferência de tecnologia, com resultados bastante expressivos em termos de capacitação industrial e alavancagem de negócios. Por outro lado, o desempenho da Aeronáutica foi limitado pelo baixo nível de investimento do Governo Brasileiro no Setor de Defesa. No tocante às avaliações procedidas no âmbito das empresas, o resultado obtido sugere que o nível de inovação nessas empresas guarda uma relação direta com o nível de concorrência, nos mercados, para a comercialização de seus produtos e serviços. A pesquisa demonstra ainda que os Acordos de Offset, com cláusulas de transferência de tecnologia, são instrumentos adequados para promover o acesso de empresas nacionais a tecnologias sensíveis e de comprovada eficácia como indutor de inovações no contexto dessas empresas.

Palavras-Chaves: Offset. Acordos de Compensação. Transferência de Tecnologia. Inovação.

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ABSTRACT

The present study is related to the Brazilian Air Force experience conducting commercial, industrial and technological compensation agreements. By adopting an exploratory research model, it is aimed to analyze factors controlled by the Air Force and Brazilian airspace industry that contribute to technological innovation occurrence in order to identify existent cause and effect relations. Relatively to the Air Force, it has been evidenced a long learning existence that resulted in agreements negotiation improvement and technology transference requirements implementation, with significant results in terms of airspace activity branch industry qualification and business stimulation. On the other hand, the Brazilian government low level of investment in Defense limits the Air Force performance. Results obtained after evaluating Brazilian airspace industrial estate suggest that enterprises innovation level keeps a straight relationship with the competition level found in their products and services commercialization at internal and external markets. Research also demonstrates that offset agreements including technology transference clauses are adequate instruments to promote access by national enterprises to sensitive technologies and they have a proven efficacy as innovations inductors in these enterprises context.

Keywords: Offset. Compensation agreements. Technology transference. Innovation.

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LISTAS DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 2.1 Resultado dos Acordos de Offset no âmbito da Aeronáutica 38

Tabela 2.1 Porcentagem de não ocorrência de inovação por variável independente 40

Quadro 3.1 Redução dos argumentos afetos à temática de gerenciamento de offset na

Aeronáutica 59

Quadro 4.1 Escala de comparação de elementos 73

Quadro 4.2 Matriz de comparação de critérios de segundo nível 77

Quadro 4.3 Matriz de comparação de fatores internos 78

Quadro 4.4 Matriz de comparação de fatores internos normalizada 78

Quadro 4.5 Valores do índice aleatório 80

Quadro 4.6 AHP passo a passo 80

Quadro 4.7 Avaliação de desempenho da Empresa A 83

Quadro 4.8 Avaliação de desempenho da Empresa B 85

Quadro 4.9 Avaliação de desempenho da Empresa C 86

Quadro 4.10 Avaliação de desempenho da Empresa D 87

Quadro 4.11 Avaliação de desempenho da Empresa E 89

Quadro 4.12 Avaliação de desempenho da Empresa F 90

Quadro 4.13 Avaliação de desempenho da Empresa G 91

Quadro 4.14 Matriz de comparação de fatores externos 93

Quadro 4.15 – Matriz de comparação de subcritérios normalizada 94

Quadro 4.16 Escala de equivalência 95

Quadro 4.17 Atribuição de pesos 99

Quadro 4.18 Classificação das empresas 101

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LISTA DE ABREVIATURAS

AHP – Analytic Hierarchy Process, ou em português, Processo de Análise Hierárquica

AIAB – Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil

AFA – Academia da Força Aérea

BIS – Bureau of Industry and Security, ou em português, Escritório da Indústria e da

Segurança

CESAER – É o Catálogo das Empresas do Setor Aeroespacial Brasileiro compilado e editado

pelo Instituto de Fomento e Coordenação Industrial – IFI

COMAER – Comando da Aeronáutica

COTAC – Comissão de Coordenação do Transporte Aéreo Civil

CTA – Centro Técnico Aeroespacial

DCA – Diretriz do Comando da Aeronáutica

DDT - Dicloro Difenil Tricloroetano

DEPED – Departamento de Pesquisas e Desenvolvimento

DGAC– Departamento Geral de Aviação Civil

DMA – Diretriz do Ministério da Aeronáutica

DoD – Department of Defense, ou em português, Departamento de Defesa (EUA)

EMAER – Estado-Maior da Aeronáutica

FAB – Força Aérea Brasileira

FMI – Fundo Monetário Internacional

IC – Índice de Consistência

ICU - International Clearing Union, ou em português, Câmara de Compensações

Internacionais

IFI – Instituto de Fomento e Coordenação Industrial

IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo

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HPC – High Pressure Compressor

LOA – Lei Orçamentária Anual

LPT – Low Pressure Turbine

MAER– Ministério da Aeronáutica

MD – Ministério da Defesa

MERCOSUL – Mercado Comum do Sul

MOU – Memorandum of Understanding, ou em português, memorando de entendimento

Petrobras - Petróleo Brasileiro SA

PFCEAB – Programa de Fortalecimento do Controle do Espaço Aéreo Brasileiro

RC – Razão de Consistência

RFP – Request for Proposal, ou em portugês, Pedido de Oferta

RTLIB – Requisitos Técnicos, Logísticos e Industriais Básicos

SCC – Subcomissão de Compensação Comercial

SDDP – Subdepartamento de Desenvolvimento e Programas

SisCTID – Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação de Interesse da Defesa

SIVAM – Sistema de Vigilância da Amazônia

TND – Teste Não Destrutivo

UNIVAP – Universidade do Vale do Paraíba

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 9

1. TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA E O PROCESSO DE INOVAÇÃO 181.1 ASPECTOS GERAIS 181.2 SIGNIFICADO DA EXPRESSÃO “TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA ” 221.3 EXEMPLOS DE TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA 231.4 CONDICIONANTES PARA A TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA 241.5 INOVAÇÃO: EVOLUÇÃO E RELEVÂNCIA NO CONTEXTO SOCIAL E

DAS EMPRESAS 27

2. ACORDOS DE OFFSET REALIZADOS PELA AERONÁUTICA 36

3. GESTÃO DE OFFSET NO ÂMBITO DA AERONÁUTICA 463.1 ASPECTOS ASSOCIADOS À GESTÃO DE OFFSET 463.2 NEGOCIAÇÃO DE CONTRATOS DE OFFSET NO ÂMBITO DO

COMANDO DA AERONÁUTICA 503.3 CRITÉRIOS ADOTADOS PARA AVALIAR A CAPACITAÇÃO

DAS EMPRESAS NACIONAIS QUE PARTICIPAM DE OFFSET 513.4 CRITÉRIOS ADOTADOS PARA PROPORCIONAR CARGA DE TRABALHO

ÀS EMPRESAS NACIONAIS QUE PARTICIPAM DE OFFSET 57 3.5 ANÁLISE DO DISCURSO 60

4. POTENCIAL DE INOVAÇÃO DAS EMPRESAS 704.1 INOVAÇÃO NAS EMPRESAS 704.2 APLICAÇÃO DO MÉTODO AHP 744.3 LEVANTAMENTO DE DADOS SOBRE AS EMPRESAS 824.4 AVALIAÇÃO DAS EMPRESAS SEGUNDO A CAPACIDADE DE INOVAR 92

CONCLUSÃO 108

REFERÊNCIAS 113

GLOSSÁRIO 121

APÊNDICE 1 Questionário de pesquisa 127

APÊNDICE 2 Questionário de pesquisa 130

ANEXO 1 Validação de questionário 135

ANEXO 2 Validação de questionário 138

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INTRODUÇÃO

Entende-se por compensação comercial, industrial e tecnológica (“offset”), toda e qualquer prática compensatória acordada entre as partes, como condição para importação de bens e/ou serviços, com a intenção de gerar benefícios de natureza comercial, industrial e tecnológica.1

Os acordos de compensação comercial, também conhecidos como offset, são

mecanismos usados nas grandes compras governamentais com o objetivo de minimizar os

efeitos causados pelo dispêndio de divisas internacionais e ocorrem quando o órgão

contratante especifica, no contrato de importação de bens e serviços, cláusulas de

compensação.

Esses acordos podem ser compreendidos como o desenvolvimento de um meio de

troca, segundo a definição de Weber (1991, p. 48), transcrita a seguir:

O desenvolvimento de determinadas espécies de meios de troca, enquanto não existe dinheiro cartal, está condicionado por costumes, situações de interesses e convenções de todos os tipos, pelos quais se orientam os acordos entre os participantes na troca. Essas condições, não examinadas aqui em seus detalhes, em virtude das quais os meios de troca receberam primariamente a qualidade como tais, eram bem diversas conforme o tipo de troca de que se tratava.

Não é possível precisar a origem histórica da atividade de compensação comercial no

comércio internacional, porém segundo Max Weber (1968, p. 192), havia nas cidades gregas,

na Antiguidade, uma classe de comerciantes marítimos dedicada ao comércio exterior, a qual

atendia à demanda por mercadorias de grande consumo, como cereais. Em Atenas, por

exemplo, o poder público impunha aos comerciantes a obrigação de carregarem trigo nas

viagens de retorno, o que caracteriza uma forma de offset.

Max (1968, p.305) reporta também que em 1440, ao sofrer uma forte escassez de

recursos monetários, o governo inglês, com base na teoria que atribui o empobrecimento de

um país ao fato de as importações terem valor superior às exportações, estabeleceu uma

política que obrigava os comerciantes estrangeiros a adquirirem produtos ingleses com o

1 Compensação comercial, industrial e tecnológica da Aeronáutica (“OFFSET”): Disponível em: <http://www.ifi.cta.br>. Acesso em: 28 Mar. 05.

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dinheiro que obtivessem com a venda de suas mercadorias naquele país, fato que também

caracteriza uma compensação comercial.

O offset, com a complexidade como o conhecemos atualmente, surgiu no término da

Segunda Guerra Mundial, quando houve a necessidade de restabelecimento da ordem

mundial, da reconstrução da Europa, bem como da adoção de medidas pelos Estados Unidos

da América, com vistas a ampliar seu poder estratégico frente aos países do Leste Europeu.2

Para atender a essas necessidades, foi realizada a conferência de Bretton Woods, em

julho de 1944, quando os destinos dos Países Aliados e do Eixo, já estavam, em larga medida,

definidos. Seu objetivo era criar regras e instituições formais de ordenação de um sistema

monetário internacional e definir regras comuns de comportamento para os países

participantes que poderiam, por um lado, contribuir para que eles atingissem níveis

sustentados de prosperidade econômica; por outro lado, que eles abrissem mão de pelo menos

parte da sua soberania na tomada de decisões sobre políticas domésticas, subordinando-as ao

objetivo comum de conquista da estabilidade macroeconômica.

Os assuntos tratados em Bretton Woods tiveram seus antecedentes na discussão

travada, independentemente, nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, sobre caminhos para o

pós-guerra que evitassem a repetição de conflitos de dimensões semelhantes ao iniciado em

1939.

A Segunda Guerra foi precedida por uma década marcada pelo desemprego e pela

agitação social, principalmente na Europa e nos Estados Unidos. Predominava, naquela época,

a visão de que os mesmos problemas ocorreriam ao término do conflito.

Acreditava-se que a guerra tinha interrompido a depressão econômica, por causa da

mobilização de recursos que impunha, mas os problemas que deram origem à depressão não

teriam sido resolvidos. O fim da guerra poderia ter, nessas condições, um efeito perverso: a

2 BAPTISTA, C. B. A organização mundial do comércio – OMC: antecedentes, princípios, estrutura, atividades e funcionamento. In: ÂNGELO, I. do P.; MORAES, A. L. Formação de

negociadores em comércio exterior. Brasília: ESAF, 2002.

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paz traria o desemprego e os conflitos sociais de volta. Era essencial a descoberta de novas

formas de organização social que rompessem a ligação entre depressão e guerra.

No pós-guerra, era evidente que a nação que mais teria a lucrar com a liberdade de

comércio seriam os Estados Unidos, os quais buscavam “pôr em cheque” os arranjos

imperiais britânicos, principalmente as preferências comerciais. Por isso, os americanos

queriam regimes cambiais organizados, que permitissem a expansão do comércio

internacional e que tornassem ilegal o recurso de controle administrativo contra suas

exportações.

Tanto os Estados Unidos quanto a Inglaterra se preocupavam com o retorno às

condições de operação da economia internacional prévias à Segunda Guerra, ainda que por

razões diferentes. À Inglaterra interessava o eventual retorno ao padrão-ouro e a um arranjo

que lhe permitisse adotar políticas para alcançar e sustentar o pleno emprego. Aos Estados

Unidos interessava a volta ao câmbio livre (pelo padrão-ouro, o câmbio era fixo) que

permitisse o incremento do comércio internacional.

A reunião durou apenas três semanas, porque os principais debates foram, na verdade,

travados nos meses anteriores, opondo os planos da delegação americana (com o Plano

White) e britânica (com o Plano Keynes).3

De acordo com o Plano Keynes, não haveria uma moeda física internacional, como o

ouro ou o dólar, mas apenas uma moeda escritural, nos livros da ICU, com o propósito de

registrar as operações entre os bancos centrais.

Os acordos de Bretton Woods representaram uma vitória da argumentação americana

nas negociações. Foram criados um fundo de estabilização, na linha proposta pelos Estados

Unidos, com o nome de Fundo Monetário Internacional – FMI, o Banco Mundial com a

finalidade de financiar a reconstrução das economias européias no pós-guerra e foi adotado o

dólar como moeda internacional.

3 CARVALHO, J. C. de. Bretton Woods aos 60 anos. Rio de Janeiro: UFRJ, [2004?]. Seção Textos para Discussão. Disponível em: <http://www.ie.ufrj.br

/moeda/pdfs/bretton_woods_aos_60_anos.pdf>. Acesso em: 01 Abr. 05.

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Em continuidade à tendência de expansão do comércio internacional, iniciada em

Bretton Woods, o governo dos Estados Unidos estabeleceu compensações, regidas pelo

Commodity Credit Corporation de 1949, para a troca de excedentes agrícolas, da ordem de

US$ 6,65 bilhões, por minerais estratégicos.

A prática de offset foi utilizada pelos Estados Unidos, tanto como uma forma de

consolidar sua área de influência sobre os países da Europa Ocidental, quanto com o objetivo

de se opor ao poder estratégico dos países do Leste Europeu, por meio do fortalecimento de

sua indústria de defesa.

Atualmente, muitos países utilizam a compensação como forma de estabelecer uma

Indústria Nacional de Defesa, a fim de equilibrar a balança de pagamentos no comércio

externo e adquirir novas tecnologias.

Segundo Modesti (2004, p. 30), a compensação comercial e tecnológica começou a ser

praticada, no Brasil, no início dos anos 50, por ocasião da aquisição, na Inglaterra, das

aeronaves Gloster Meteor para equipar a FAB, as quais foram trocadas por valor equivalente

em algodão (Barter).

A partir de então, vários acordos de compensação foram firmados no País, o que

resultou em benefícios diretos para o parque industrial nacional, especialmente no campo

aeroespacial.

No início da década de 1970, por ocasião da aquisição das aeronaves F-5 para a FAB,

ocorreu a primeira negociação típica de compensação em benefício da indústria aeronáutica

brasileira, embora o assunto não tenha sido tratado oficialmente como tal. A Embraer recebeu,

naquela ocasião, a transferência de tecnologia para a produção de materiais compostos e o

treinamento necessário à fabricação de pilone e dorsal fin para as aeronaves supracitadas.

O primeiro documento formal, elaborado pela Aeronáutica sobre o assunto, foi o

Aviso nº 030/GM4/62, de 30 de abril de 1979, do Ministro da Aeronáutica aos Ministros da

Fazenda, Planejamento, Indústria e Comércio e Relações Exteriores, em que é abordado o

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crescente protecionismo das nações industrializadas quanto ao comércio internacional, o que

visava manter países do Terceiro Mundo na condição de fornecedores de matérias-primas.

Também são feitas considerações sobre a indústria aeronáutica e as oportunidades

abertas aos países importadores para exercerem o poder de barganha e exigirem diversos tipos

de compensação.

Por meio do Aviso em tela, o Ministro da Aeronáutica informa que foi determinado,

no âmbito da sua pasta, o estabelecimento de programas de compensação às aquisições,

mediante o favorecimento de produtos brasileiros, especialmente aqueles relacionados à

indústria aeroespacial.

O documento termina com a sugestão de que sejam promovidas reuniões entre

assessores dos órgãos envolvidos, a fim de se buscar fórmulas eficazes de apoio ao programa

de exportações do setor aeronáutico.

Não obstante a iniciativa da Aeronáutica, não houve maior interesse por parte dos

diversos representantes do Governo Federal, na época, em se estabelecer políticas e

estratégias de Governo voltadas para a questão das compensações comerciais e tecnológicas

nas importações de material de defesa.

Em 1981, a Comissão de Coordenação do Transporte Aéreo Civil (COTAC) foi

incumbida de propor instruções de cláusulas de compensação para os contratos de aquisição

de aeronaves de transporte aéreo civil, porém a questão da compensação comercial e

tecnológica continuou enfrentando dificuldades pela existência de uma indústria aeronáutica

ainda incipiente e pela inexperiência brasileira na negociação deste tipo de acordo.

Com o objetivo de melhorar o gerenciamento dessa questão, foi criada, ainda nessa

década, a Subcomissão de Compensação Comercial (SCC), vinculada normativamente à

COTAC e administrativamente ao CTA. A Portaria de criação desta subcomissão (Portaria nº

335/GM4 de 29 de abril de 1986) estipulava ainda que, no caso de aquisição de aeronaves e

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equipamentos aeroespaciais de emprego militar, aquela SCC se vincularia normativamente ao

Departamento de Pesquisas e Desenvolvimento (DEPED).

A dupla subordinação da SCC ao DAC e ao CTA, além de outros entraves

burocráticos e jurídicos, acabou por impedir que a Subcomissão fosse efetivamente

operacionalizada. Porém, o episódio foi válido para mostrar a necessidade de diferenciar as

compras do, então, MAER das aquisições das empresas aéreas.

Ainda nessa década, algumas instruções foram criadas e promoveram um impacto

positivo para o incremento da compensação comercial no País.

Em 14 de dezembro de 1988, a Portaria n° 434/DGAC estabelecia as normas para a

efetivação de medidas de compensação, no âmbito da Aviação Civil. Estipulava, inclusive, o

percentual mínimo de 10% a ser compensado pelos fornecedores externos e a contagem dos

créditos da Aeronáutica com as empresas fornecedoras.

Em um sentido geral, Weber (1991, p. 49) define crédito da seguinte forma:

(...) toda troca de poderes de disposição sobre bens materiais atualmente possuídos pela promessa de uma transferência futura do poder de disposição sobre outros bens materiais, de qualquer espécie. A concessão de crédito significa, antes de mais nada, a orientação pela possibilidade de efetivamente realizar-se essa transferência.

No período entre 1989 e 1998, o valor contabilizado chegou a US$ 500 milhões, o que

representou um total de US$ 5 bilhões em aquisições por parte da Aviação Civil.

Com a Constituição Federal de 1988, a compensação comercial e tecnológica toma

novo impulso, pois fica estabelecido, no Artigo 219, que o mercado interno integra o

patrimônio nacional e será incentivado de modo a viabilizar o desenvolvimento cultural e

sócio-econômico e a autonomia tecnológica do país.

O Artigo 218, por sua vez, estabelece que é responsabilidade do Estado promover e

incentivar o desenvolvimento científico, a pesquisa e a capacitação tecnológica.

Diante dessas novas responsabilidades do Estado, e contando com significativa

experiência na busca da nacionalização dos seus equipamentos, o Ministério da Aeronáutica

aprovou, em 1991, a sua Política de Compensação Comercial, Industrial e Tecnológica,

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ficando estabelecida a concepção estratégica, os objetivos e os agentes responsáveis pelo

gerenciamento da política em discussão.

Outra legislação importante, para o fortalecimento da compensação no País e que vem

corroborar a política estabelecida pela Aeronáutica, é a Política de Defesa Nacional, elaborada

pela Casa Civil da Presidência da República em 2005.

Esse documento define como necessidade do País o fortalecimento equilibrado da

capacitação nacional no campo da Defesa, com o envolvimento permanente dos setores

governamental, industrial e acadêmico, voltados à produção científica e tecnológica e à

inovação.

A Política de Defesa Nacional destaca também a necessidade de desenvolvimento da

indústria de defesa, inclui o domínio de tecnologias de uso dual, como forma de se alcançar o

abastecimento seguro e previsível de materiais e serviços de defesa.

Todas essas legislações e, mais recentemente, a Política de Compensação do

Ministério da Defesa (Portaria Normativa n° 764/MD, de 31 de dezembro de 2002) servem de

base para o aperfeiçoamento da prática de offset no país, demonstram a curva de

aprendizagem desenvolvida sobre o tema em foco e estabelecem os mecanismos adequados

ao fortalecimento das indústrias do setor aeroespacial.

Atualmente, em decorrência da acirrada concorrência existente nos mercados externos,

mais de 120 países têm utilizado a prática do offset como instrumento de ação política e

estratégica, razão pela qual diversos setores da Administração Federal têm realizado estudos

com vistas a definir uma política nacional de offset que atenda às necessidades de todos os

setores da economia.4

Considerando-se o estágio de desenvolvimento em offset alcançado pelo País e sua

importância como um indutor de transferência de tecnologia e de inovação, com impactos

diretos na economia, busca-se, com essa pesquisa, identificar os fatores afetos à indústria

4 Seminário internacional sobre compensação comercial, industrial e tecnológica – offset. Disponível em: <http://www.braziltradenet.gov.br/eventos/offset/P/frmoffset.aspx?

CodEvento=1096&Tipo=4&Logado=Nao>. Acesso em: 04 out. 05.

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nacional e ao Comando da Aeronáutica, participante e coordenador de atividades de offset

respectivamente, que contribuem para a ocorrência da inovação tecnológica, estabelecendo-se

as potenciais relações de causa e efeito existentes.

Assim sendo, foi formulado o seguinte problema de pesquisa:

Qual a relação entre os fatores controlados pela Aeronáutica e pelas empresas

nacionais, nos Acordos de Compensação, e os impactos causados em termos de inovação

tecnológica?

Considerando-se a disponibilidade de informações sobre o assunto, relativa aos

Acordos de Compensação já finalizados pelo Comando da Aeronáutica, foi estabelecido,

como hipótese de pesquisa, que a ocorrência da inovação tecnológica nas empresas brasileiras

do setor aeroespacial, no âmbito dos Acordos de Offset, está relacionada a fatores controlados

pela Aeronáutica e pelas empresas nacionais, tais como:

- demanda por produtos e serviços resultantes de offset; e

- ênfase das empresas em ações sistemáticas que visem transformar

conhecimentos adquiridos por intermédio de offset em novos produtos e serviços.

Para se testar as hipóteses estabelecidas, o presente trabalho foi estruturado em uma

introdução, quatro capítulos e uma conclusão.

Com o intuito de promover uma melhor familiarização com o tema, busca-se, no

primeiro capítulo, apresentar os aspectos gerais relacionados à transferência de tecnologia e à

inovação, definir o significado do termo “transferência de tecnologia”, bem como citar alguns

exemplos e as principais condicionantes. Por fim, é estabelecida a relação entre a

transferência de tecnologia e a inovação, reforçando-se a importância desta última para a

sociedade, com um enfoque especial para as empresas.

No segundo capítulo, são apresentados os Acordos de Offset, ocorridos no âmbito da

Aeronáutica, que envolveram transferência de tecnologia nas suas diferentes modalidades.

Também é procedida a identificação dos casos em que se constata a ocorrência de inovação

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relacionada à tecnologia recebida no contexto desses acordos. Essas informações, por sua vez,

são analisadas com o objetivo de se verificar a eficácia dos acordos geridos pela Aeronáutica,

em termos de capacidade de induzir a inovação tecnológica, bem como de identificar fatores

que afetem o potencial de as empresas desenvolverem novos produtos e serviços.

Em seguida, com os resultados dos questionários de pesquisa, são procedidas análises,

nos capítulos 3 e 4, dos fatores relacionados à Aeronáutica e às empresas, respectivamente,

empregando-se, nestas últimas, o método de decisão multicritério denominado de Método de

Análise Hierárquica, com o objetivo de se constatar ou não a ocorrência de alguma relação de

causa e efeito entre as características do setor industrial e o desenvolvimento de inovação no

contexto dos Acordos de Offset.

Na conclusão, são apresentadas as inferências obtidas a partir das análises realizadas

ao longo de todo trabalho de pesquisa, e são emitidas algumas recomendações e sugestões que

poderão servir como objeto de estudos futuros.

Como sustentação para as atividades de pesquisa desenvolvidas neste trabalho,

buscou-se estabelecer uma órbita teórica embasada nos seguintes autores: Max Weber5,

Dalton L. Valeriano6, Zuhair Warwar7 e Peter Drucker e Deming8.

5 Questões relacionadas à economia e à origem das atividades de compensação no comércio internacional.

6 Questões relacionadas à Ciência, à Tecnologia e à Inovação.

7 Questões relacionadas ao offset.

8 Questões relacionadas ao fenômeno da inovação nas empresas.

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1. TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA E O PROCESSO DE INOVAÇÃO

1.1.ASPECTOS GERAIS

Segundo Pereira (2004), a ciência, a tecnologia e a cultura são aceitos como elementos

fundamentais para o desenvolvimento econômico e social.

Robert Kurz (1993, p. 14) afirma, na obra intitulada Colapso da modernização, que a

busca das empresas por padrões mais elevados de produtividade contribuiu para estabelecer

uma relação direta de causa e efeito entre conhecimento e prosperidade econômica.

Pereira (2004) cita novas abordagens da teoria econômica para enfatizar que a

produção de idéias ou inovação tecnológica é o principal impulsionador do crescimento. A

utilização de novas idéias induz o progresso tecnológico, aumenta a produtividade da

economia e fomenta seu crescimento.

Em termos de produção de conhecimento, conforme esclarece Pereira (2004), os

recursos empregados pelo Brasil em ciência, pesquisa e fomento tecnológico representaram,

no ano 2000, 0,89% do PIB, resultado bem aquém do alcançado, por exemplo, pela Coréia do

Sul, com um índice 2,5% do PIB aplicado no mesmo setor.

O Brasil também não ocupa uma posição favorável entre os países em

desenvolvimento no que se refere aos pedidos de registro de patentes. Nesse caso, o fraco

desempenho do país é explicado por Pereira (2004) pelo fato de haver uma concentração de

80% das pesquisas nas universidades e apenas 20% nas empresas.

Esses dados são preocupantes, visto que o esforço da academia não está direcionado para a inovação tecnológica, ou seja, aquela inovação que busca transformar o conhecimento em produtos ou ferramentas produtivas. O foco da universidade está na pesquisa de longo prazo, que serve de base à inovação tecnológica. As inovações devem ser desenvolvidas nas empresas, visto que dispõem de recursos e de interesses específicos na valorização desse tipo de pesquisa. (PEREIRA, 2004)

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Dessa forma, fica claro que o desenvolvimento tecnológico brasileiro depende da

definição de estratégias consistentes com a necessidade de se direcionar as atividades de

pesquisa e desenvolvimento para dentro das empresas.

Para Coutinho e Ferraz (1994), o sucesso de uma política industrial depende do

volume dos investimentos que o Estado direciona para a inovação tecnológica.

Pereira (2004) observa ainda que a base de pesquisa empresarial no País é bastante

frágil; logo o grande desafio consiste em conseguir promover a geração de estímulos para que

as empresas possam empregar cientistas e engenheiros para produzir desenvolvimento

tecnológico nas próprias empresas.

A esse respeito o Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro-do-Ar Luiz Carlos

da Silva Bueno, esclarece:

Em um mundo globalizado e cada vez mais dinâmico, o setor de equipamentos de Defesa vem travando uma árdua luta contra a realidade econômica internacional, (...)É sabido o quão competitivo e difícil é este setor no mercado mundial, nele estabelecendo-se apenas aquelas empresas que têm a habilidade de desenvolver competências exclusivas.Cenário tão adverso exige a adoção de medidas arrojadas e de longa duração, que fortaleçam as bases científico-tecnológicas do País, bem como garantam a manutenção de um desenvolvimento gradual e seguro das atividades de Pesquisa e Desenvolvimento.Com a superação desses obstáculos, ganha toda a sociedade, pois são inegáveis os benefícios que desfrutamos com o desenvolvimento verificado nos campos afetos à Defesa. Da informática à medicina, da eletrônica embarcada aos materiais compostos, existe uma relação direta com a evolução tecnológica advinda dos requisitos militares. A correlação ensino, pesquisa, indústria é indiscutível.9

Também são oportunas as considerações do Comandante da Marinha, Almirante-de-

Esquadra Roberto de Guimarães Carvalho, quanto ao papel de apoio do Governo às

pesquisas, mormente no que tange ao Setor de Defesa:

Nos países desenvolvidos, tem sido clara a consciência da necessidade de atuação direta dos governos, em termos de apoio à pesquisa e desenvolvimento em áreas estratégicas, como na de Ciência, Tecnologia & Inovação, aplicada ao sistema de defesa.Essa atuação propicia que novos conhecimentos sejam gerados e posteriormente transferidos ao setor privado, criando assim benefícios de diversas ordens, entre os quais a existência de uma Logística Nacional fortemente amparada por uma indústria nacional de defesa, tecnológica e materialmente independente.10

9 Mensagem do Comandante da Aeronáutica para o diretório das indústrias brasileiras de defesa e segurança. Indústria Brasileira de Defesa e Segurança – Diretório 2005, São Paulo, p. 12,

2005.

10 Mensagem do Comandante da Marinha para o diretório das indústrias brasileiras de defesa e segurança. Indústria Brasileira de Defesa e Segurança – Diretório 2005, São Paulo, p. 8, 2005.

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Quanto à atuação do Governo no campo da Ciência, Tecnologia & Inovação, citada

pelo Comandante da Marinha, é esclarecedora a Segunda Pesquisa Industrial de Inovação

Tecnológica (Pintec), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e

divulgada no mês de junho. Nesse trabalho do IBGE, foi constatado, junto à classe

empresarial, que um dos principais obstáculos para a inovação é a escassez de financiamento

para as pesquisas.11

Foi constatado ainda na pesquisa do IBGE que apenas as grandes empresas têm acesso

aos recursos oficiais para as atividades ligadas à inovação, e parte dessas empresas dispensa o

apoio oficial por questões ligadas à demora do processo e por entender que existe muita

burocracia para pouco recurso.

Nesse contexto, os Acordos de Offset podem contribuir para influenciar o ambiente

institucional das empresas, obtendo um incremento da capacidade de absorver informação e

de convertê-la em novas soluções, com grande impacto para a economia local.

Taborda (2001, p. 4) mostra a importância de se identificar os fatores que mais

influenciam a capacidade de inovação de empresas de uma determinada região, com vistas a

consolidar um mecanismo que facilite o acesso das organizações à tecnologia, no contexto de

Acordos de Compensação.

O autor esclarece também que, ao serem observados os exemplos de países como:

Espanha, Suíça, Canadá, Turquia, Grécia e Israel, chega-se à conclusão de que a interação

entre fornecedores estrangeiros e empresas locais, viabilizada por intermédio de offset,

reforçou a base de competências em setores de alta tecnologia e estratégicos para a economia

local.

Processo semelhante ocorreu no Brasil na década de 1980, ocasião em que foi lançado

o Programa Binacional AM-X, com o propósito de se fabricar uma aeronave de combate em

parceria com o governo italiano.

11 RYDLEWSKI, C. Os eleitos da inovação. Revista Veja, São Paulo, ano 38, n. 1912, p. 90-95, 6 jul. 2005.

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Nesse Programa, houve um esforço da parte brasileira em incrementar a base de

competência do setor aeronáutico nacional por meio de acordos de co-produção e produção

sob licença.

Modesti (2004, p. 48) esclarece que, no modelo empregado pelo então Ministério da

Aeronáutica, para a capacitação das empresas nacionais participantes do Programa AM-X, o

governo arcou com os custos da capacitação tecnológica e industrial, adquiriu as licenças e o

treinamento de engenheiros e técnicos de diversas empresas nacionais.

À época, essa era a única forma de se utilizar os 30% de work share estabelecidos no

acordo com os italianos.

Ainda, conforme Modesti (2004, p. 48), esses investimentos permitiram que a

indústria nacional, capitaneada pela EMBRAER, lançasse as bases tecnológicas para outros

projetos mais complexos, como, por exemplo, o EMB-145 e o EMB-170. Além disso, o

impacto social desse Programa na região do Vale do Paraíba é notório, podendo ser citado o

fortalecimento da capacidade industrial instalada e as conseqüências desse fenômeno para a

geração de empregos.

Progressos tecnológicos como os ocorridos no âmbito do Programa AM-X são

descritos por Valeriano (1998, p. 28) como conseqüência de dois mecanismos: por sucessivos

melhoramentos de cada tecnologia e pelo surgimento de novas tecnologias, mais eficientes,

que substituem aquelas sem possibilidades de progresso. O processo que leva essas novas

tecnologias à aplicação corrente é conhecido como inovação tecnológica.

A ampliação da capacidade de Pesquisa e desenvolvimento (P&D) instalada na Indústria, observada na última década, constitui um importante fator a ser considerado para a concepção dos programas que venham a criar as soluções tecnológicas necessárias às Forças Armadas. Nesse contexto, as atividades de transferência de tecnologia merecem ser consideradas como uma excepcional alternativa para o fortalecimento da FAB.12

12 Transferência de tecnologia à luz da política de defesa brasileira. Revista da UNIFA, Rio de Janeiro, ano 16, n. 18, p.76, dez. 2003.

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1.2. SIGNIFICADO DA EXPRESSÃO “TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA”

A expressão “transferência de tecnologia” tem diversas conceituações, conforme o

conteúdo e a finalidade das informações tecnológicas utilizadas.

De acordo com Gibson (1998, p. 3-9), o termo tornou-se corrente na década de 1960 e

foi, inicialmente, aplicado à transferência de conhecimento entre países do primeiro e do

terceiro mundos.

Em seu sentido lato, a expressão é usada para caracterizar transações que tenham por

base a transferência de propriedade intelectual.

Isso inclui a transferência de planos detalhados e as informações técnicas para a

produção de sistemas, de máquinas, de ferramentas, de conhecimento para fabricação e

montagem desses sistemas, a provisão de treinamento e de assistência técnica na introdução

de novos processos de produção e a transferência de fábricas completas ou linhas de produção

com as partes e as máquinas para operá-las. A transferência de todos esses elementos deve

visar à utilização no campo de atuação do recebedor.

No sentido mais estrito, segundo Valeriano (1998, p. 41), a expressão envolve, além

das informações técnicas sobre o processo ou produto, a metodologia do desenvolvimento

tecnológico para sua obtenção.

Com esta metodologia, visa-se a capacitar o recebedor não só a produzir, mas obter a autonomia necessária para prosseguir no melhoramento e modernização do produto, ou, ainda, no desenvolvimento de novos produtos de mesmo nível de tecnologia. (VALERIANO, 1998, p. 41)

Esse é o contexto em que a transferência de tecnologia é tratada na pesquisa em foco,

sendo oportuna, com base nos conceitos abordados, a apresentação de exemplos para uma

melhor sedimentação do conhecimento.

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1.3. EXEMPLOS DE TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA

À luz dos conhecimentos discriminados no subitem 1.2., são apresentados, a seguir,

alguns exemplos de transferência de tecnologia, elaborados por Valeriano (1998, p. 41), com

seus respectivos mecanismos e métodos típicos:

- a troca de informações: artigos técnicos publicados podem conduzir a uma

inovação, o que caracteriza a ocorrência da transferência de tecnologia;

- a aquisição de uma tecnologia ou informação técnica em um processo, sem

interação entre as partes envolvidas. O sucesso nesse tipo de transferência de

tecnologia está ligado à competência do recebedor para absorver o

conhecimento para uso local;

- a compra de um sistema completo, inclusive contratos de prestação de

serviço. São, via de regra, bastante onerosos e o encargo pela manutenção

recai sobre o recebedor ao término da transferência da tecnologia;

- os acordos internacionais entre indivíduos, empresas, corporações e

governos. Nesses casos, pode ocorrer a transferência de tecnologia antiquada

ou inadequada, em função de características díspares entre país cedente e

país recebedor ou por ter sido repassada por ente não-habilitado para tal

processo.

- o processo indígena13 de adaptação de tecnologia que consiste na

transferência de tecnologia entre fornecedor e recebedor com ambientes

econômicos similares, havendo uma estratégia de adaptação dos

conhecimentos recebidos. Este é o melhor método, porquanto considera as

necessidades, os requisitos e as competências locais disponíveis.

13 Termo empregado por Dalton L. Valeriano na obra intitulada Gerência em projetos.

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Além de facilitarem a compreensão, esses exemplos mostram que nem sempre a

transferência de tecnologia atinge o resultado almejado. Fica claro que existem fatores

capazes de influenciar o sucesso dessa atividade.

1.4. CONDICIONANTES PARA A TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA

Valeriano (1998, p. 41) enfatiza que a transferência de tecnologia é limitada por

fatores condicionantes de ordem técnica, administrativa, gerencial, econômica e social. O

sucesso desse tipo de atividade reside no esforço em se adaptar a tecnologia recebida aos

aspectos locais, tais como: cultura, costumes, recursos disponíveis, capacidade de absorção da

tecnologia pretendida e necessidades do cliente.

O autor alerta ainda para a ocorrência de situações de importação de produtos e

tecnologias inadequadas, sem a necessária absorção de conhecimento para adaptá-las às

condições locais, fato que está relacionado à propaganda, ao modismo e à cópia de usos e

costumes estrangeiros.

Para Valeriano (1998, p. 42), as tecnologias, suas transformações, adaptações e usos

precisam fluir por pessoas ou grupos ou organizações com visões diferentes, trabalhando em

áreas mais ou menos restritas, cada um com suas filosofias, técnicas e procedimentos

diferentes, com o objetivo de alcançar o resultado desejado ao final do processo, sendo os

passos mais difíceis aqueles situados entre as diversas fases, como, por exemplo, pesquisa,

produção, construção, instalação etc.

Nesse trajeto percorrido pelo conhecimento, desde o cedente até a obtenção do

resultado final, muitos são os fatores que contribuem para o sucesso ou insucesso da

transferência de tecnologia; contudo, Valeriano (1998, p. 42) aponta três mais relevantes:

conhecimento mútuo, desníveis entre grupos e estabilidade ou indefinição político-

administrativa.

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No conhecimento mútuo, ambas as partes devem ter pleno conhecimento do ambiente

técnico, econômico, social da origem e do destino da tecnologia, bem como os aspectos

culturais e políticos quando for o caso de transferência de tecnologia entre países.

Nos desníveis entre grupos, os grupos que transferem e recebem tecnologia devem ter

um patamar social, gerencial e tecnológico próximos, pois, do contrário, haverá uma barreira

que dificultará a consecução do objetivo almejado.

Na estabilidade ou indefinição político-administrativa, os países, corporações

empresas e grupos com políticas e estratégias sujeitas a mudanças constantes ou a ocorrência

de freqüentes mudanças de dirigentes proporcionam terrenos pouco férteis para o sucesso da

transferência.

Cabe destacar que os efeitos dos fatores relacionados acima são multiplicativos, ou

seja, caso de duas condicionantes concorrerem de forma negativa no processo, logo a

transferência de tecnologia estará inviabilizada.

No extremo oposto, caso ocorra um alinhamento favorável dos fatores condicionantes,

haverá o melhor resultado quando a tecnologia é eficientemente absorvida. Segundo

Valeriano (1998, p. 43), essa circunstância permitirá que se faça as adaptações necessárias ao

emprego da tecnologia no local de destino.

Para atingir este estágio é necessário haver bom nivelamento técnico, conhecimento do novo mercado e cooperação entre cedente e recebedor da tecnologia. É evidente que também devem concorrer favoravelmente as condições políticas e econômicas. Assim a tecnologia estará adequada ao novo ambiente, em especial ao usuário, atendidas as suas características e necessidades, com as adaptações e os ajustes necessários à economia, aos usos e costumes e à cultura locais. (VALERIANO, 1998, p. 43)

Quanto ao processo de incorporação de tecnologia, Walter Bartels (2003) afirma na

palestra intitulada A visão da AIAB frente aos projetos do PFCEAB14 que são necessárias

algumas condições básicas para a absorção de tecnologia. As pessoas que participam do

processo devem estar preparadas para os seguintes desafios:

- partir da “estaca zero”;

14 Disponível em http://www.ifi.cta.br/cfa/arq/workshop_2003/10-09/02-AIAB.ppt

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- trabalhar em conjunto com pessoas do mesmo nível ou com nível superior;

- estar capacitado para participar da sociedade do conhecimento (exemplo:

patentes como informação tecnológica);

- estar determinado a alcançar o objetivo pretendido; e

- possuir recursos financeiros para investir em pesquisa.

Um outro aspecto importante relativo a uma tecnologia surgida é a ocorrência de

ciclos que se sucedem continuamente. Cada ciclo sucede seu predecessor para, após algum

tempo, ser substituído por um mais eficiente. Para Valeriano (1998, p. 29), cada tecnologia

busca competir e substituir uma outra, passa por um período de evolução e declínio.

Assim, a transferência de tecnologia não encerra um processo, mas, em verdade, é o

seu início. Como no setor de alta tecnologia, os ciclos de vida são cada vez mais curtos, torna-

se necessário o aperfeiçoamento dessas tecnologias ou sua substituição por intermédio da

inovação, cuja importância para as empresas será detalhada no próximo tópico.

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1.5. INOVAÇÃO: EVOLUÇÃO E RELEVÂNCIA NO CONTEXTO SOCIAL E DAS

EMPRESAS

Para se compreender melhor a importância da inovação tecnológica no processo

produtivo contemporâneo, é necessária, inicialmente, uma verificação do processo evolutivo

social relacionado ao tema.

Para Max Weber (1968, p. 195), o primeiro registro de uma liquidação capitalista, ou

seja, uma operação onde o resultado final apresenta um excedente15 em relação ao capital

inicial, ocorreu na Idade Média.

Naquele período histórico, surgiu no comércio marítimo uma sociedade entre

comerciantes interessados em empregar recursos com o objetivo de auferir lucro. Nesse

contexto, quem faz o investimento de capital é denominado prestamista e o capital comercial

é designado de comenda.

Essa atividade, contudo, não caracteriza um tipo de exploração capitalista permanente,

mas uma empresa isolada, liquidando-se cada negócio ao seu final.

Conforme destaca Max Weber (1968, p. 195), esta forma de investimento de capital

subsistiu na contabilidade das empresas quando houve a transição para a exploração

capitalista.

Mais recentemente, a partir da análise de fatos históricos e movimentos sociais, o

marxismo concebeu que as transformações da sociedade resultam de lentos processos sociais,

econômicos e políticos e como conseqüência direta das formas e dos meios de produção e das

relações de trabalho. (CHAUI, 2000)

Segundo a teoria do materialismo histórico de Karl Max e Engels: “Nenhuma

sociedade pode produzir constantemente, isto é, reproduzir sem transformar constantemente

de novo uma parte de seus produtos em meios de produção ou elementos de nova produção”.16

15 Denominado por Max Weber como: “utilidade do dinheiro”.

16 MARX, K. Reprodução simples e lei da acumulação capitalista. In: FLORESTAN, F. (Org.). K. Marx, F. Engels: história. Tradução Florestan Fernandes. et

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Sobre a forma capitalista de produção e reprodução, Florestan Fernandes (1984, p. 94)

comenta que, ao dissociar o trabalhador dos meios de produção, o capitalista se apropria de

mais-valia de trabalho não-pago. O valor gerado pelo trabalho não-pago, por sua vez, fica na

mão do produtor. Na reprodução, o que se reproduz é o valor antecipado como capital, ou

seja, ele cresce por meio da apropriação da mais-valia.

O capitalista individual e a classe dos capitalistas buscam a mesma coisa – a valorização do seu capital. Por isso, Karl Marx diz que a produção de mais-valia é a lei absoluta desse modo de produção. (FLORESTAN, 1984, p. 95)

Segundo Marx (1985), existem dois modos de se aumentar a taxa de mais-valia: um

comum a todos os modos de produção; o outro específico do capitalismo. Esses modos

correspondem, respectivamente, à produção de mais-valia absoluta e à de mais-valia relativa.

A mais-valia absoluta é criada pelo aumento da jornada de trabalho. Assim, se os

trabalhadores gastam 10 horas ao invés de 8 horas no trabalho, quando o trabalho necessário é

de 4 horas, então mais 2 horas de trabalho são adicionadas. A taxa de mais-valia aumentou de

4/4 para 6/4, ou de 100% para 150%.

O capital pode, também, aumentar a taxa de mais-valia pela produção de mais-valia

relativa. Um aumento na produtividade do trabalho levará a uma queda no valor das

mercadorias produzidas. Se alguma melhoria técnica nas condições de produção barateia os

bens de consumo que os trabalhadores compram com seus salários, então o valor da força de

trabalho também cai. Menos trabalho social será necessário para reproduzir a força de

trabalho, e a porção da jornada de trabalho dedicada ao trabalho necessário cairá, criando

mais-valia. (MARX, 1985)

Com a produção de mais-valia relativa toda forma de produção é alterada. A nova

forma de produção capitalista surgida é a moderna indústria de larga escala ou maquinofatura,

na qual a produção é organizada em torno de sistemas de máquinas e o processo de trabalho é

constantemente alterado à luz de inovações tecnológicas. (MARX, 1988)

al. 2. ed. São Paulo: Ática, 1984, p. 376.

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Há quase meio século, Peter Drucker (1959, p.125) já percebia que o conhecimento se

tornava mais relevante para as estruturas produtivas e observou que o valor econômico estava

migrando da força do trabalho para o conhecimento acumulado pela sociedade.

Alvin Toffler (1980, p. 28) define as transformações sociais como uma sucessão de

estágios de desenvolvimento, havendo conflitos constantes nas mudanças de fases, definida

pelo autor como onda.

Toffler (1980, p. 24) define a disseminação da agricultura pelo mundo, transformando

nossos ancestrais de caçadores e nômades em camponeses, como sendo a primeira onda. A

segunda onda, que se desenvolveu muito mais rapidamente, foi iniciada pela Revolução

Industrial e trouxe uma nova economia calcada na produção industrial em massa.

Na obra O choque do futuro (TOFFLER, 1972, p.18-23), o autor manifesta a

convicção de que o tempo necessário para a realização do processo de inovação, ou seja, da

aparição da idéia criadora até sua aplicação, tem sido reduzido drasticamente com o advento

do computador, o que permite elevar o ritmo de aquisição do conhecimento e acelerar as

transformações sociais.

Desde a década de 70, o modelo de produção taylorista-fordista mostrava sinais de esgotamento, em função dos novos processos industriais. Em 1985, Eiji Toyota, na fábrica de carros Toyota, no Japão, adapta o modelo fordista à realidade do mercado japonês, criando um padrão de organização da produção que ficou conhecido como pós-fordismo ou toyotismo, que introduziu a especialização flexível de materiais e do regime de trabalho, a autonomia e competência da mão-de-obra e a inovação permanente nos processos e produtos, para gerar produtos diversificados, a fim de atender ao gosto personalizado da clientela. Era o advento de uma nova forma de produção e de uma nova visão do mercado, que, posteriormente, atinge os demais países industrializados.17

Com relação à inovação, alguns economistas têm destacado a teoria da “destruição

criativa” do economista austríaco Joseph Schumpeter, exposta no livro A teoria do

desenvolvimento econômico, de 1934, que associa o processo de inovação tecnológica e

organizacional ao crescimento econômico e ao desenvolvimento das economias. (PAULA,

2001)

17 BARBOSA, M. L. A. A biblioteca e os bibliotecários como atores de políticas de informação voltadas para o desenvolvimento. In: V CINFORM: Encontro Nacional de Ciência da

Informação, 5, 2004, Salvador.: Disponível em:< http://www.bndes.gov.br>. Acesso em: 07 Abr. 05.

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Após analisar as circunstâncias da depressão de 1930 e compará-las aos

acontecimentos afetos à depressão de 1825 e 1873, Schumpeter formulou sua teoria sobre os

ciclos de negócios a partir de conceitos como: inovação, revoluções técnicas, novas firmas,

novas formas organizacionais, mudanças institucionais, destruição criativa, setor líder da

economia etc.

Schumpeter destaca, também, que os setores líderes da economia promovem

transformações e destruições criativas antes de consolidar sua liderança:

O impulso fundamental que inicia e mantém o movimento da máquina capitalista decorre de novos bens de consumo, dos novos métodos de produção ou transporte, dos novos mercados, das novas formas de organização industrial que a empresa capitalista cria (...) A abertura de novos mercados — estrangeiros ou domésticos — e o desenvolvimento organizacional, da oficina artesanal aos conglomerados (...) ilustram o mesmo processo de mutação industrial (...) que incessantemente revoluciona a estrutura econômica a partir de dentro, incessantemente destruindo a velha, incessantemente criando uma nova. Esse processo de Destruição Criativa é o fato essencial do capitalismo. É nisso que consiste o capitalismo e é aí que têm de viver todas as empresas capitalistas. (SCHUMPETER, 1984. p. 112-113)

As mudanças estruturais da sociedade contemporânea são uma conseqüência da

revolução tecnológica da informação, a qual afeta toda a atividade socioeconômica e oferece

as condições para fixação da economia global. (CASTELLS, 1999)

Na sociedade global, as empresas, as corporações e os conglomerados internacionais

tornaram-se transnacionais e as decisões como o que produzir localmente, onde completar o

processo produtivo e a que mercados internos e externos se dirigir acaba por promover uma

divisão transnacional do trabalho e da produção. Ainda segundo afirma Ianni (2001, p. 78), “a

sociedade global pode ser vista como um todo abrangente, complexo e contraditório,

subsumindo formal ou realmente a sociedade nacional”.

O estado-nação pouco a pouco ou de repente transforma-se em espaços, territórios ou

elos da sociedade global, e as condições para a formulação e para a implementação de

projetos nacionais são drasticamente afetadas pelas pressões externas transnacionais.

A figura do Estado nacional como ente responsável por estabelecer estratégias de

desenvolvimento está sendo ameaçada pelo gigantismo de corporações e conglomerados

transnacionais. Em função de problemas globais desse tipo, Habermas afirma que “O Estado-

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Nação não pode mais fornecer a estrutura apropriada para a manutenção da cidadania

democrática no futuro previsível.”18

No que se refere à trajetória dos países latino-americanos, a segunda metade dos anos 1980 correspondeu ao aprofundamento da globalização, impondo o esgotamento da via da industrialização por substituição de importações e a busca por novas formas de inserção no sistema internacional. Ao mesmo tempo, observou-se a difusão da agenda neoliberal de ajuste preconizando-se o refluxo do Estado e a primazia do mercado. (DINIZ, 2000. p. 18)

Segundo Ianni (2002, p. 23), a globalização não é um processo acabado. Ela sofre

interrupções, mas adapta-se aos obstáculos e generaliza-se como tendência, havendo ainda

espaços não completamente explorados, como é o caso da África e da América do Sul, nos

quais pode desenvolver-se.

“Já há indícios do que a América Latina e a África poderão se tornar. A liberalização

do comércio, combinada com competente administração econômica, pode tornar as estruturas

de custos e lucros destas regiões enormemente atrativas nos anos 1990”. 19

Em decorrência da ideologia neoliberal, que influencia a sociedade global, muitos

países buscam a abertura de mercados, a informatização de processos decisórios, produtivos,

de comercialização e a busca da qualidade total. Estes objetivos permeiam a prática das

empresas, das corporações e dos conglomerados que se tornam transnacionais.

As diversas formas de organização de trabalho de um país são levadas a combinar-se

com outros padrões culturais, correspondentes à racionalidade embutida na organização

flexível da produção e do trabalho, envolvendo a dimensão mundial da nova divisão do

trabalho, consoante o pensamento de Ianni (2001).

Ianni (2001, p. 139) conclui, ainda, em seu livro A sociedade global, que:

(...) todas as principais formas de poder global prevalecentes no mundo contemporâneo estão articuladas segundo os princípios da economia de mercado, da apropriação privada, da reprodução ampliada do capital, da acumulação capitalista em escala global.

18 HABERMAS, J. O estado-nação europeu frente aos desafios da globalização. In: BARBOSA, M. L. A. A biblioteca e os bibliotecários como atores de políticas de informação voltadas

para o desenvolvimento. Salvador, 2000: Disponível em:< <http://www.cinform.br/v_anais/frames/html >. Acesso em: 07 abr. 05.

19 PEDRO, B. Globalizing the rest of the world. In: IANNI, O. A sociedade global. 10. ed. Rio de Janeiro: Civlização Brasileira, 2002. p. 23-24.

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Essa visão da economia de mercado em nível global permite uma melhor compreensão

da constatação de Castells sobre a importância da tecnologia de informação para a

consolidação do capitalismo mundial.

Os pilares desta sociedade altamente tecnológica são, na verdade, de natureza econômica e política e estão centrados no uso da ciência, da tecnologia e da informação como bens de capital e nos processos estratégicos de globalização da economia, que, alicerçados na capacitação do capital humano e no poder de inovação tecnológica das empresas, favorece prioritariamente o enriquecimento dos países avançados.20

Assim, a eficiência de uma economia passa a ser avaliada pelo reconhecimento de que

é ou não competitiva.

Com relação à competitividade e os aspectos inovadores da economia, é oportuno

observar alguns fatos ocorridos no período da guerra fria.

Quando houve o colapso do sistema socialista no início da década de 1990, alguns

países do bloco soviético, especialmente a Alemanha Oriental, apresentavam um padrão

social semelhante ao de países capitalistas mais avançados.

Para Robert Kurz (1993, p. 132), enquanto o atraso de produtividade nas economias

planificadas da Europa Oriental era suportável, o problema era resolvido com a perspectiva de

alcançar e ultrapassar os concorrentes. Esse atraso não chegava a causar impacto na

reprodução interna a tal ponto de induzir uma dinâmica de crise.

Com o incremento no ocidente da racionalização e da produtividade, na década de

1970 e 1980, impulsionados pela microeletrônica, o cenário econômico mudaria no mundo

socialista. A estagnação interna dos países socialistas não permitia o acompanhamento dessa

evolução.

Um exemplo típico dessa situação foi proporcionado pela Alemanha Oriental que

importava matéria-prima do ocidente e exportava máquinas. Sob as condições novas impostas

pelo desenvolvimento da produtividade ocidental, impulsionada pela concorrência, logo se

estabeleceu um quadro de descompasso entre fornecedores e produtores alemães orientais ao

20 BARBOSA, M. L. A. A biblioteca e os bibliotecários como atores de políticas de informação voltadas para o desenvolvimento. In: V CINFORM: encontro nacional de ciência da

informação, 5., 2004, Salvador. Anais. Salvador: UFBA, 2004. Disponível em: <http://www.cinform.br/v_anais/frames/html >. Acesso em: 07 abr. 05.

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se tentar aumentar o ritmo da produção, conseqüência da dificuldade de pronta-resposta

inerente às economias planificadas.

Esse quadro era agravado pelo fato de a economia dos países socialistas ser fechada e

burocraticamente regulada, não sendo possível uma adequada troca de conhecimento com o

ocidente para melhoria da qualidade do processo e do produto.

Sobre esse cenário, Robert Kurz (1993, p. 133) mostra que, no que se refere à indústria

de construção de máquinas, em 1970 a Alemanha Ocidental obtinha um resultado de vendas

1,8 vez maior, por unidade fornecida, se comparado ao desempenho da Alemanha Oriental.

Em 1987, esse resultado chegava a ser seis vezes maior, ou seja, era necessário empregar no

setor mais eficiente da Alemanha Oriental, seis vezes mais recursos para criar um produto de

valor igual ao do concorrente ocidental.

Esse nível de inovação cada vez mais baixo, na construção de máquinas, acarretou a

diminuição da participação da Alemanha Oriental no mercado dos países da OCDE21, da

ordem de 3,5% em 1973, para 0,9% em 1986.

Assim sendo, enquanto no lado ocidental era preparado o terreno para a popularização

do computador e da internet, no lado oriental mergulhava-se na estagnação criativa.

Desde então, a incapacidade de inovar tem sido condição para a queda de empresas e

conglomerados. Segundo o americano Jeffrey Immelt, principal executivo da General Eletric

(GE), “A única fonte de lucro, a única razão para investir em uma empresa é sua capacidade

de inovar e de diferenciar”22.

Em alguns segmentos da economia, como ocorre com a tecnologia digital, a produção

de riqueza está diretamente relacionada à inovação. Não basta somente aperfeiçoar técnicas e

produtos já conhecidos.

21 Organization for Economic Cooperation and Development.

22 RYDLEWSKI, C. Os eleitos da inovação. Revista Veja, São Paulo, ano 38, n. 1912, p. 90, 6 jul. 2005.

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Segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada23, ficou demonstrado

que as empresas inovadoras apresentam o seguinte desempenho:

(...) conseguem produzir 2,7 vezes mais usando a mesma quantidade de matéria-prima. Obtêm ainda 7,4 vezes mais produtividade no trabalho, alcançam preços até 30% maiores para seus produtos e têm 16% mais chance de exportar. Os benefícios também se esparramam: trabalhadores de empresas inovadoras ganham até 23% mais do que os empregados de firmas estagnadas.24

No que se refere à indústria do Setor de Defesa, verifica-se que o cenário atual é

caracterizado pela redução da taxa de produtividade, em virtude da queda das encomendas

militares e das exportações.

A reversão do quadro de declínio da produtividade e, conseqüentemente, da

capacidade de competir no mercado de produtos de Defesa, por parte da indústria nacional,

dependerá do nível de engajamento dessas empresas no processo de inovação25.

Para o DEPED, a inovação é o processo pelo qual uma idéia ou uma invenção é

transportada para a economia, ou seja, é tornada disponível para uso e consumo.26

Assim, de pouca serventia será a tecnologia absorvida pela indústria nacional no

processo de compensação, se esta não for capaz de aperfeiçoá-la e de encontrar aplicações

civis para ela, o que é conhecido como efeito spin off, haja vista que cada tecnologia surgida

no setor aeroespacial logo entra na fase de declínio do ciclo de vida, por questões ligadas à

entrada em serviço de novas tecnologias mais eficazes ou à substituição desta por uma

melhor.27

Diante do exposto, fica claro que a melhoria da qualidade e a competitividade das

empresas nacionais estão relacionadas à indução de um processo de inovação no setor

industrial. Assim, é possível vislumbrar a utilização do offset como ferramenta adequada à

23 Divulgado em junho de 2005.

24 RYDLEWSKI, C. Os eleitos da inovação. Revista Veja, São Paulo, ano 38, n. 1912, p. 95, 6 jul. 2005.

25 BRASIL. Ministério da Defesa; Ministério da Ciência e Tecnologia. Concepção estratégica: ciência, tecnologia e inovação de interesse da defesa nacional. Brasília: MD/MCT, 2004.

26 BRASIL. Comando da Aeronáutica. Departamento de Pesquisas e Desenvolvimento. Plano básico de pesquisas e desenvolvimento para o quadriênio 2005-2008, Portaria nº 002/DG-5,

Brasília, 2005.

27 SANSÃO, W.; WASHINGTON, F. M. Projetos: planejamento, elaboração, análise. São Paulo: Atlas, 1996, p. 62.

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alavancagem do desenvolvimento tecnológico, industrial e econômico-social, como poderá

ser verificado nos exemplos de Acordos de Compensação que serão discriminados a seguir.

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2. ACORDOS DE OFFSET REALIZADOS PELA AERONÁUTICA

O objetivo da presente análise é determinar um indicador da ocorrência de inovação

nas empresas nacionais do setor aeroespacial, motivada pela transferência de tecnologia no

âmbito de Acordos de Offset, bem como identificar os fatores relacionados ao fenômeno em

foco.

Para a consecução desses objetivos, serão apresentados neste capítulo todos os acordos

que envolveram transferência de tecnologia e que foram adequadamente documentados, a fim

de se estabelecer o indicador de desempenho correlato.

O primeiro Acordo de Compensação que se enquadra nos objetivos desse estudo foi o

de fabricação, sob licença, da aeronave AT-26 (Xavante) de origem italiana (1968). Esse

offset foi de grande relevância para que a Embraer pudesse transportar o conhecimento

adquirido para a montagem de linhas de produção de outros produtos, como ocorreu na

produção da aeronave C-95 (Bandeirante) e da aeronave U-19 (Ipanema), de pequeno porte,

para aplicação no setor agrícola.

Conforme relata Modesti (2004, p. 32), durante o processo de aquisição das aeronaves

F-5 (Tiger), de origem norte-americana, a Aeronáutica exigiu do fornecedor que a Embraer

fosse capacitada a produzir e a montar os estabilizadores verticais e os pilones dessas

aeronaves. A partir dessa experiência, a empresa nacional foi capaz de empregar o

conhecimento absorvido na área de materiais compostos, de tratamentos térmicos e de

usinagens especiais e transportá-lo para a elaboração de novos componentes para as aeronaves

EMB (Xingu) e EMB-120 (Brasília), por efeito spin off.

Modesti (2004, p. 32) identifica outro exemplo de offset ocorrido em 1979, durante a

aquisição das aeronaves Boeing 737 e Airbus A300, pelas empresas Varig e Vasp,

respectivamente. Nesse processo, houve a exigência de se instalar, nas aeronaves, os assentos

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fabricados pelo Grupo Aeromot, com sede no Rio Grande do Sul, ocorrendo a capacitação da

empresa brasileira para esse fim.

Sabe-se que a Aeromot foi capaz de inovar em termos de qualidade dos assentos

produzidos. Entretanto, a falta de novos pedidos inviabilizou a produção e o aperfeiçoamento

dos conhecimentos obtidos.

Na década de 1980, uma grande oportunidade de offset foi criada com o início de um

programa de desenvolvimento conjunto entre Brasil e Itália, denominado Programa AMX,

cujo objetivo era produzir as aeronaves A-128. Segundo Modesti (2004, p. 47), esse Programa

envolveu uma operação de offset relacionada à co-produção e à produção sob licença.

Para o cumprimento dos compromissos da parte brasileira no Programa, foi realizada a

capacitação de recursos humanos de empresas como: Embraer, Celma, ABC Dados, Rolls

Royce do Brasil, Elebra, Eleb, Aeroeletrônica, Pirelli, Modata, entre outras, porém somente a

Embraer, a Celma e a Eleb conseguiram continuar o processo de incremento tecnológico e

empregar os conhecimentos adquiridos no Programa AMX em novos empreendimentos.

As outras empresas não tiveram encomendas e linhas de crédito que lhes permitissem

manter o processo de atualização da tecnologia recebida.

No início da década de 1990, ocorreu um Acordo de Compensação relacionado à

aquisição das aeronaves MD-11 pela Varig. Naquela ocasião, a Embraer foi beneficiada com

a assinatura de contratos para a produção de conjuntos de flaps desse tipo de aeronave, o que

envolveu treinamento e transferência de tecnologia para a empresa nacional.

Essa experiência possibilitou à Embraer desenvolver componentes para o CBA 123,

EMB 120 e EMB 145.

Outro Projeto de grande relevância, em termos de transferência de tecnologia, é o de

desenvolvimento de um radar embarcado multimodo29, denominado SCP – 01, para a

aeronave A-1 da FAB. Esse empreendimento visa à produção conjunta, com participação de

28 Aeronave militar à reação, subsônica, empregada pela Força Aérea Brasileira para a execução de missões de ataque.

29 Possui vários modos de operação (ar-mar, ar-solo e ar-ar).

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empresa brasileira e italiana (Mectron e Galileo) e envolve a compensação do Governo

Brasileiro por intermédio da capacitação de recursos humanos nacionais em alta tecnologia.

O Projeto sofreu atraso no seu desenvolvimento pela interrupção das atividades

operacionais das duas primeiras empresas nacionais contratadas para participar do

empreendimento (Tecnasa e Tectelcom), fato que teve origem em causas de caráter financeiro

e gerencial30.

Apesar da descontinuidade das operações das duas empresas, com o conhecimento

adquirido da parceria com a empresa italiana, ainda foi possível verificar a ocorrência de

inovação nos dois casos.

Com relação à Empresa Tecnasa, houve a transferência da capacitação afeta ao

desenvolvimento do Radar SCP-01 para a criação de novas soluções em termos de

equipamentos embarcáveis em aeronaves.

No caso da Empresa Tectelcom, houve a contratação da equipe que participou do

offset do Radar SCP-01 na Empresa Tecnasa. Não obstante o fato de estes recursos humanos

promoverem ações de melhoria da qualidade na nova empresa, não se pode considerar essas

atividades como inovadoras, haja vista tratar-se, tão-somente, de aplicação de métodos e

processos empregados na Tecnasa.

Nesses dois exemplos, a baixa produtividade em inovação está mais relacionada às

dificuldades gerenciais e financeiras dessas empresas do que no mérito do Acordo de Offset,

visto que houve o cumprimento integral das obrigações da empresa italiana (Galileo).

Em 2000, após a paralisação das operações da segunda empresa, o Comando da

Aeronáutica intercedeu para que a empresa Galileo subcontratasse a empresa Mectron

Engenharia Indústria e Comércio LTDA. Esta, por sua vez, contratou os recursos humanos

que haviam trabalhado no Projeto SCP-01 nas empresas Tectelcom e Tecnasa.

30 Informações contidas na Ficha Informativa do Projeto SCP-01 nº 04/PRAD/2004, do 4º trimestre de 2004 (DEPED).

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Na nova empresa, esses recursos humanos não só foram capazes de concluir o

desenvolvimento do radar, como também de empregar as experiências e os conhecimentos

adquiridos no Projeto SCP-01 para o desenvolvimento de novos produtos como mísseis e

radares, obtendo, inclusive, a capacidade de aplicar em projetos civis parte dessa tecnologia

de origem militar (tecnologia dual).

Em última análise, pode-se afirmar que a Mectron recebeu transferência de tecnologia

de forma indireta ao contratar engenheiros que haviam sido treinados antes de pertencerem

aos quadros da empresa. Esse fato não desqualifica o exemplo da Mectron, visto que a

empresa proporcionou os meios necessários para a ocorrência de inovação.

Na área do Sistema de Vigilância da Amazônia – SIVAM, também foram negociados

pela FAB alguns Acordos de Offset, com a participação da Fundação Aplicações de

Tecnologias Críticas – Atech pela parte brasileira.

A Atech absorveu tecnologia em duas oportunidades. Na primeira, a empresa

brasileira foi capacitada pela empresa americana Raytheon para implantar e para manter a

parte do Sivam relacionada ao processamento de imagens, ao acompanhamento

meteorológico e à gestão ambiental. Na segunda ocasião, houve o início da capacitação para o

desenvolvimento do Simulador de Ambiente para teste de Sistemas de Controle de Tráfego

Aéreo, sendo notório que a Atech foi capaz de desenvolver novos produtos para o mercado a

partir da experiência acumulada nos dois casos.

Em função do offset relativo ao Sivam, a Atech desenvolveu um Sistema Inteligente de

Monitoramento e Investigação, um Radar Meteorológico, um Sistema de Monitoramento

Ambiental e um Software para Suporte à Formação de Controladores de Operações Militares.

No desenvolvimento do Simulador de Ambiente para teste de Sistemas de Controle de

Tráfego Aéreo, apesar de parte do conhecimento ter sido transferido e possibilitado a criação

de novos produtos, esse acordo não foi totalmente cumprido pelo parceiro estrangeiro

(Empresa Alenia Marconi Systems). Nesse caso, o Governo Brasileiro não teve condições de

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pressionar a empresa estrangeira para concluir o acordo, porque o contrato principal, ao qual o

Acordo de Offset estava vinculado, havia-se encerrado.

Além dos exemplos citados de offset, existem outros acordos que estão em início de

negociação ou em execução, os quais são decorrentes do Programa de Fortalecimento do

Controle do Espaço Aéreo Brasileiro – PFCEAB, aprovado pelo Aviso n° 1166/Gab-

Ccivil/PR, de 17 de julho de 2000.

O PFCEAB tem por objetivo reverter a degradação operacional e o excessivo

envelhecimento da frota de aeronaves da Força Aérea Brasileira, envolvendo recursos para

aquisição e modernização de aeronaves e recuperação da logística que somam cerca de US$

3,5 bilhões.

Não obstante o fato de já serem visíveis os primeiros resultados dos Acordos de

Compensação afetos a esse Programa, para fins de análise na presente pesquisa, tais acordos

não serão considerados, visto que o tempo de implementação das obrigações de offset ainda

não foi suficiente para o desenvolvimento de todo o potencial das empresas nacionais em

termos de inovação.

A esse respeito, Chagas (2004, p. 62) informa que o período de implementação das

obrigações de offset pode variar de cinco a dez anos, fato que reforça o entendimento de ser

prematuro o estudo dos atuais acordos ligados ao PFCEAB no que se refere à inovação

tecnológica.

Após os levantamentos apresentados até o momento, torna-se possível estabelecer um

quadro que demonstre a incidência de inovações ocorridas com a prática de offset, conforme é

demonstrado a seguir:

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Quadro 2.1 – Resultado dos Acordos de Offset no âmbito da Aeronáutica

EMPRESA PROJETOOU PROGRAMA

TIPO DE OFFSET

OCORRÊNCIA DE INOVAÇÃO

MOTIVO DA NÃO OCORRÊNCIA DE INOVAÇÃO

1. ABC DADOS AM-X Capacitação Não Falta de demanda

2. Aeromot Compra de 737 e A300 Capacitação Sim -

3. Atech SIVAM Capacitação Sim -

4. Celma AM-X Produção sob licença Sim -

5. Eleb AM-X Capacitação Sim -6. Elebra AM-X Capacitação Não Falta de demanda7. Embraer AM-X Capacitação Sim -

8. Embraer AT-26 Produção sob licença Sim -

9. Embraer F-5 Capacitação Sim -10. Mectron SCP-01 Capacitação Sim -11. Modata AM-X Capacitação Não Falta de demanda12. Pirelli AM-X Capacitação Não Falta de demanda13. Rolls & Royce AM-X Capacitação Não Falta de demanda14. Tecnasa SCP-01 Capacitação Sim -15. Tectelcom SCP-01 Capacitação Não GestãoFONTES: 1 - WARWAR, Z. (Ed.). Panorama da prática de Offset no Brasil: uma visão da negociação internacional de acordos de compensação comercial, industrial e tecnológica. Brasília: Projecto Editorial/Livraria Suspensa, 2004.

2 – Questionários de pesquisa.

Em relação ao termo “gestão”, empregado no Quadro 2.1, ressalta-se que este não

deve ser entendido no sentido estrito às atividades relacionadas à inovação, mas como gestão

econômica racional, definida por Weber (1991, p. 37) como de caráter racional com

referência a fins e de acordo com um plano.

As medidas típicas da gestão econômica racional, segundo Weber (1991, p. 42), são:

1) distribuição planejada, entre o presente e o futuro (poupança), das utilidades com cuja disponibilidade crêem poder contar os agentes econômicos, por razões quaisquer;

2) distribuição planejada das utilidades disponíveis entre várias possibilidades de aplicação, estabelecendo-se uma ordem segundo a importância estimada delas: segundo a utilidade marginal;

3) abastecimento planejado – produção e obtenção – com aquelas utilidades das quais todos os meios para produzi-las ou obtê-las se encontram dentro do âmbito dos poderes de disposição dos agentes econômicos. No caso de um procedimento racional, realiza-se uma ação desta espécie quando se considera a urgência estimada do desejo superior ao presumível esforço exigido para obter o resultado esperado, isto é 1) ao dispêndio dos serviços provavelmente necessários, e 2) às outras possibilidades de aplicar os bens necessários neste caso e, portanto, ao produto final que se poderia obter aplicando-os de outra maneira (produção em sentido amplo que inclui também os serviços de transporte); e

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4) aquisição planejada de um poder garantido de disposição – ou da participação nesse poder – sobre aquelas utilidades.

Com as informações constantes no Quadro 2.1, é possível verificar a eficácia dos

Acordos de Compensação, em termos de ocorrência de inovação nas empresas, por

intermédio de um indicador de qualidade obtido com a seguinte equação:

inovaçãodepercentualoffsetdeacordosdetotalserviçosouprodutosnovosdeexistência =× 100

Assim sendo, considerando-se que dos quinze Projetos de Offset nove obtiveram um

resultado inovador, conclui-se que o indicador de eficácia é de 60 %.

O Quadro 2.1 também apresenta uma constatação relevante sobre as principais causas

da não ocorrência da inovação nas empresas beneficiárias de Acordos de Offset, a saber:

problemas relacionados à falta de demanda por produtos e por serviços novos, decorrentes das

tecnologias absorvidas dos parceiros estrangeiros, e problemas de gestão de empresas, com a

conseqüente paralisação das atividades no mercado.

Analisando-se a distribuição de freqüência dessas duas variáveis, que é obtida pela

divisão do dado absoluto (número de ocorrências) pelo total da população, conforme

estabelece Rizzini (1999, p.85), verifica-se o resultado expresso na Tabela a seguir:

Tabela 2.1 – Porcentagem de não ocorrência de inovação por variável independente

Variável independente Não inovação FreqüênciaFalta de contrato 5 83,33 %Gerência 1 16,66 %Total 6 100 %FONTES: 1 - WARWAR, Z. (Ed.). Panorama da prática de Offset no Brasil: uma visão da negociação internacional de acordos de compensação comercial, industrial e tecnológica. Brasília: Projecto Editorial/Livraria Suspensa, 2004.

2 – Questionários de pesquisa.

Sobre os aspectos relacionados às variáveis em uma análise de levantamento de dados,

Rosenberg (1976, p. 37) esclarece:

(...) quando um analista de levantamento de dados examina uma relação entre duas variáveis, sua primeira preocupação é a de atribuir-lhe significado e de fazê-lo tão explicitamente quanto possível. De um lado, o significado particular que ele atribua à relação determina, em geral, o passo seguinte a ser dado no trabalho de análise. De outro lado, a contribuição teórica da atribuição de significado dependerá do sistema de referência dentro do qual essa contribuição é encarada. A primeira questão que ele deverá colocar há de ser, portanto: É a relação simétrica, recíproca ou

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assimétrica? Se assimétrica, qual a variável independente (determinativa) e qual a dependente (efeito)? (...) Finalmente, as relações simétricas podem ser esclarecedoras no revelar como os estímulos afetam as respostas, como as disposições influenciam o comportamento, como as propriedades influenciam disposições ou comportamentos, como as precondições necessárias são responsáveis pelas conseqüências, como as variáveis podem estar imanentes nas estruturas e como se associam os fins e os meios. Cada tipo de interpretação traz sua contribuição particular para a compreensão dos fenômenos sociais e todas merecem a devida consideração no processo da análise de levantamento de dados.

Rosenberg (1976, 21) afirma que uma relação simétrica ocorre quando nenhuma das

variáveis tem ação sobre a outra. No caso das relações recíprocas, não é possível dizer qual a

variável independente (causal) e qual a dependente (efeito), embora forças causais estejam

indiscutivelmente em operação. Na relação assimétrica, postula-se que uma variável

independente é essencialmente responsável pela variável dependente.

Como exemplo de relação assimétrica, diz-se que se os jovens freqüentam com mais

assiduidade o cinema, é evidente que existe algum aspecto ligado à idade responsável por esse

procedimento, de vez que de maneira alguma a freqüência ao cinema pode tornar jovem uma

pessoa. Segundo Rosenberg (1976, p. 27), “as relações simétricas impelem, assim, para a vital

área da análise causal”.

Na verdade, a causação não passa de um tipo de determinação. E a determinação envolve uma conexão necessária entre duas variáveis; uma relação causal corresponde a apenas um dentre o número, muito maior, de tipos de conexão necessária entre variáveis.Tendo em vista que o material de que dispõe é uma correlação, com que base decide o analista de levantamento de dados qual é a variável determinante e qual a determinada? O critério básico para apreender o sentido da determinação é, aparentemente, suscetibilidade à influência.(...) Dois fatores estão presentes no decidir a respeito do sentido de influência das variáveis: (1) a ordem e (2) a fixidez ou alterabilidade das variáveis.A importância da seqüência temporal tem sido universalmente acentuada. Como o que aconteceu depois não pode ser responsável pelo que aconteceu antes, segue-se que a variável temporalmente anterior deve sempre ser a variável determinante ou independente. (ROSENBERG, 1976, p. 28)

Isso posto, constata-se que a falta de uma demanda que produza a carga de trabalho

necessária ao desenvolvimento do processo de inovação é uma variável independente bastante

relevante e, juntamente com a variável independente representada pela falha de gestão,

guardam uma relação assimétrica com a ocorrência da inovação nas empresas.

De acordo com Rosenberg (1976, p. 28), a seqüência temporal esclarece, nesse caso,

que o acontecimento posterior não pode ser responsável pelo que aconteceu antes; portanto, a

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falta de demanda e a falha de gestão ficam caracterizadas como sendo variáveis independentes

e capazes de influenciar a variável dependente “inovação”.

Weber (1976, p. 39) destaca que a orientação econômica do desenvolvimento

tecnológico pelas possibilidades de lucro é um dos fatos fundamentais da história da técnica.

O principal fator para o aprimoramento técnico é o condicionamento econômico, haja vista

que sem o cálculo racional como base da economia, isto é sem condições histórico-

econômicas concretas, não teria nascido a técnica racional.

Os dados apresentados nesse trabalho, relacionados à falta de demanda por produtos e

serviços decorrentes de Acordos de Offset, envolvendo transferência de tecnologia, vem ao

encontro da teoria econômica de Max Weber e confirma a hipótese de que esse fator afeta a

ocorrência de inovação nas empresas.

Nesse sentido, Taborda (2001, p. 136) esclarece que os exemplos de Acordos de

Offset realizados na Europa, especialmente na Suíça, indicam que os negócios de

compensação representam excelentes oportunidades para que instituições formais se

consolidem e para que o fluxo de informação atue como estímulo à capacidade de absorção

tecnológica e de aprendizagem das empresas. Entretanto esses resultados só foram

constatados após um período longo de maturação e de persistência em políticas de offset que

beneficiassem a indústria local.

Em relação à variável ‘gestão’, essencialmente intrínseca às empresas, que foi

identificada como sendo capaz de afetar a inovação, verifica-se que o levantamento de dados

também confirma a hipótese estabelecida nesse trabalho e está alinhado com o pensamento de

Deming (1990, p. 20), conforme apresentado a seguir:

Uma exigência para a inovação consiste na fé de que haverá um futuro. A inovação que fundamenta o futuro não poderá prosperar a menos que a direção tenha declarado seu compromisso inarredável com a qualidade e a produtividade.

É oportuno observar também que o resultado obtido expressa a experiência acumulada

pela Aeronáutica até o ano 2000, o que atende ao objetivo da pesquisa de analisar os Acordos

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de Offset que concluíram seu processo de implementação. Entretanto, é importante ressaltar

que, a partir desse ano, foram tomadas algumas medidas com grande potencial para impactar,

no futuro, o indicador estabelecido neste trabalho.

Nesse sentido, pode-se citar a aprovação, em 2004, da Lei 10.973, que dispõe sobre

incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo, por meio

de fundo específico. Além disso, em 2004, o Ministério da Defesa estabeleceu a concepção

estratégica para o Setor de Ciência, Tecnologia e Inovação de interesse da Defesa Nacional31,

que tem por objetivo viabilizar soluções científico-tecnológicas e inovações para a satisfação

das necessidades do País atinentes à defesa e ao desenvolvimento nacional.

O governo brasileiro também lançou a Lei de Inovação, complementada pela Medida

Provisória n° 252, em 2005, que ficou conhecida como “MP do Bem”. Com essas novas

normas, a partir de 2006 as empresas poderão deduzir do imposto de renda 180% do que

gastam com pesquisa e desenvolvimento.

Também é significativo, no âmbito deste estudo, o início do Programa de

Fortalecimento do Controle do Espaço Aéreo Brasileiro em 2000, o qual encerra um grande

potencial de implementação de Acordos de Offset.

Finalmente, depois de estabelecido um indicador de desempenho para os Acordos de

Offset celebrados pela Aeronáutica, em termos de inovação, resta proceder às análises

necessárias para a identificação das características intrínsecas a esse Comando e às empresas

que influenciam a atividade de geração de novos conhecimentos, produtos e serviços no

ambiente das indústrias do Setor de Defesa.

31 BRASIL. Ministério da Defesa; Ministério da Ciência e Tecnologia. Concepção estratégica: ciência, tecnologia e inovação de interesse da defesa nacional.

Brasília: MD/MCT, 2004.

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3. GESTÃO DE OFFSET NO ÂMBITO DA AERONÁUTICA

3.1ASPECTOS ASSOCIADOS À GESTÃO DE OFFSET

No que se refere à consolidação de um parque industrial e à capacitação tecnológica

voltadas para o segmento de Defesa, os Acordos de Compensação apresentam-se como uma

ferramenta capaz de reduzir o tempo necessário para se atingir o domínio de conhecimento,

em áreas de interesse, por meio de parcerias com empresas de países mais industrializados, as

quais dificilmente teriam interesse em investir no Brasil por outros meios.

A respeito do tempo demandado entre o estabelecimento de uma necessidade

operacional e o seu atendimento, O DEPED, órgão do COMAER responsável pelas atividades

de pesquisa, ressalta o seguinte:

Pesquisas científicas fornecem o suporte intelectual para que o conhecimento se transforme em tecnologia, e esta, em inovação no setor produtivo. Assim, um prazo usualmente maior de maturação é requerido para que o Empreendimento Ensino e Pesquisa possa produzir resultados mensuráveis por indicadores típicos de uma Força Armada focada em aspectos operacionais.32

A transferência de tecnologia, que pode ser efetivada por intermédio de offset, permite

alcançar resultados mais rápidos, eliminando-se os riscos de insucesso inerentes ao processo

de pesquisa.

Verzariu (1985, p. 45) esclarece que “a transferência de tecnologia envolve a produção

de componentes e equipamentos no país comprador, sob acordo contratual direto entre o

fabricante e o governo ou indústria daquele país”.

Contudo, a transferência de tecnologia, por si só, não é uma panacéia que permite o

pleno desenvolvimento da indústria nacional. Outro aspecto importante e que contribui para a

sinergia do processo é a capacidade de inovação das empresas brasileiras.

32 BRASIL. Comando da Aeronáutica. Departamento de Pesquisas e Desenvolvimento. Plano estratégico de pesquisas e desenvolvimento, Portaria nº 006/DG-5, Brasília, 2005.

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Por outro lado, o quadro de baixos investimentos no setor de defesa brasileiro,

agravado por freqüentes contingenciamentos à LOA (Lei Orçamentária Anual)33, torna

bastante difícil a implementação de políticas que visem à consolidação de um parque

industrial interno capaz de induzir um processo permanente de inovação no setor aeroespacial

e que permitam um desempenho das Forças Armadas, em caso de guerra, em um patamar

elevado de independência dos fornecedores externos.

Face às dificuldades mencionadas, algumas experiências foram realizadas em prol de

consolidar a capacitação nacional em produtos de Defesa, o que se configura numa tendência

verificada nos países de industrialização recente34, empregando-se compensações nos

contratos internacionais relacionados ao campo aeroespacial, as quais resultaram no

estabelecimento de uma política específica, orientada para objetivos como35:

- promoção do crescimento dos níveis tecnológicos e da qualidade das

indústrias do setor aeroespacial;

- criação de novas oportunidades de mercado para a exportação de bens e serviços;

- ampliação e refinamento do mercado de trabalho;

- obtenção de recursos externos para a capacitação industrial e tecnológica do setor

aeroespacial; e

- geração de economia em moeda forte.

Desde a primeira experiência com compensação comercial e tecnológica, na década de

1950, a Aeronáutica já demonstrava um esforço constante em alcançar os objetivos

mencionados, mais tarde, na Política estabelecida em 1991, com destaque para a Embraer,

aparentemente, exemplo de aplicação bem-sucedida do processo de compensação comercial.

33 BRASIL. Presidência da República. Decreto nº 5379, de 25 de janeiro de 2005. Dispõe sobre a programação orçamentária e financeira e estabelece o cronograma mensal de desembolso do

Poder Executivo para o exercício 05.

34 Bureau of Industry and Security. Inpact of offsets in defense trade: an annual report to congress. Disponível em:<http://www.bis.doc.gov/DefenseIndustrialBasePrograms/

OSIES/offsets /default.htm>. Acesso em 01 Abr. 05.

35 BRASIL. Ministério da Aeronáutica. Política de compensação comercial, industrial e tecnológica, Portaria n° 853/GM-2, Brasília, 1991: Disponível em:< http://www.bndes.gov.br>.

Acesso em: 21 Mar. 05.

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Modesti (2004, p.41) afirma que existem duas questões que o comprador deve

responder para que seja possível iniciar um Acordo de Offset: “saber exatamente o que se

deseja receber e se o País tem condições de absorver o que o fornecedor estrangeiro tem a

oferecer”.

Ao estabelecer como prioridade o incremento dos níveis tecnológicos e da qualidade

das indústrias do setor aeroespacial, a Política de Compensação Comercial, Industrial e

Tecnológica da Aeronáutica responde a pergunta sobre o que se pretende receber.

Quanto à capacidade de receber o que se pretende, é possível afirmar que a indústria

aeroespacial brasileira se consolidou por meio de uma infra-estrutura capaz de exportar uma

quantidade e uma variedade significativa de produtos e serviços tanto militares quanto civis,

merecendo destaque ainda a existência do Centro Técnico Aeroespacial – CTA, o qual é

dedicado à atividade de pesquisa para o setor aeroespacial.

Esse cenário é bastante favorável à consecução de offset direto, pois o fornecedor

estrangeiro encontra mais opções na análise das parcerias que possuam maior probabilidade

de sucesso.

Nesse sentido, Taborda (2001, p. 40) destaca que o aproveitamento de offset direto no

âmbito dos processos de aquisições militares pode representar um potencial importante em

termos de absorção de novas competências.

Experiências em países como Espanha, Suíça, Canadá e Israel demonstram que os

Acordos de Compensação são capazes de promover um incremento da base de competência

em setores de elevada intensidade tecnológica.

Um exemplo desse potencial do offset é apresentado por Taborda (2001, p. 37). Trata-

se da implementação de compensação tecnológica relacionada ao contrato de aquisição de três

fragatas para a Marinha Portuguesa.

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Naquela oportunidade, foi fundada a empresa portuguesa Edisoft para executar a

manutenção do sistema de controle e dos radares da fragata, fornecidos pela empresa

holandesa Signaal.

O cumprimento do Acordo de Compensação teve início com o treinamento de pessoal

da Edisoft no software embarcado e na participação da empresa Signaal no capital inicial da

parceira portuguesa.

A partir dos conhecimentos absorvidos no tratamento de dados recebidos pelo radar

das fragatas, a Edisoft foi capaz de desenvolver novas aplicações militares e civis, sendo

exemplo deste potencial a elaboração de sistemas de controle de tráfego aéreo, marítimo e

terrestre.

O desenvolvimento de novas competências pela Edisoft permitiu não só o seu

fortalecimento no mercado, mas também a participação em novas parcerias, como ocorreu no

desenvolvimento de sistemas para os submarinos adquiridos para a Marinha Portuguesa, onde

a empresa participa do Projeto junto com o consórcio francês DCNI.

Esse exemplo demonstra que o sucesso de empreendimentos como os executados pela

empresa Edsoft depende do acompanhamento e da coordenação realizados pelo governo nas

atividades de offset.

Assim sendo, considerando aspectos como necessidade de fomento, principalmente

quando se trata de empresas de pequeno e médio porte, será procedida nesse capítulo uma

pesquisa focada na gerência de offset, exercida no âmbito do Comando da Aeronáutica, com

vistas à verificação da ocorrência de procedimentos que certifiquem o grau de capacitação das

empresas nacionais e que viabilizem uma carga de trabalho às indústrias do setor aeroespacial

adequada à formação e ampliação de uma base de competência inovadora.

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3.2 NEGOCIAÇÃO DE CONTRATOS DE OFFSET NO ÂMBITO DO COMANDO DA

AERONÁUTICA

Não obstante a existência de um volume adequado de informações documentais sobre

a política de offset no Comando da Aeronáutica, ou seja, em um nível estratégico, por outro

lado, no que se refere aos processos internos de negociação dos acordos, os procedimentos

adotados são baseados, preponderantemente, na experiência e na formação acadêmica das

pessoas responsáveis pela condução dos acordos na Aeronáutica.

A forma como a gerência de offset da Aeronáutica se relaciona com as empresas

estrangeiras, no contexto dos acordos em foco, está fundamentada, principalmente, na

experiência acumulada nos diversos acordos realizados, mormente naqueles relacionados ao

Programa de Fortalecimento do Controle do Espaço Aéreo Brasileiro, existindo pouca

documentação a esse respeito.

Essas circunstâncias determinaram que se buscasse a coleta de informações por

intermédio de questionários e entrevistas, predominantemente qualitativas, e, em menor grau,

de pesquisas documentais, com vistas a identificar a existência de um processo sistemático

que privilegiasse as ações em prol do incremento da qualidade e do potencial inovador das

empresas.

Para a análise dos dados apurados, será empregada a técnica de Análise do Discurso,

procurando, nesse estudo, os significados partilhados pelos sujeitos de um dado conjunto

social (quadros do Comando da Aeronáutica), num determinado contexto e época específicos,

conforme o que estabelece Rizzini (1999, p. 98 – 110), com vistas a se esclarecer alguns

pontos do processo de negociação de offset na Aeronáutica.

A apresentação da análise seguirá quatro momentos, a saber:

a) a constituição do corpus da análise;

b) o destaque dos temas;

c) a escolha da tipologia da análise; e

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d) a busca da coerência interna do discurso.

3.3 CRITÉRIOS ADOTADOS PARA AVALIAR A CAPACITAÇÃO DAS EMPRESAS

NACIONAIS QUE PARTICIPAM DE OFFSET

Dentre as vantagens identificadas nos Acordos de Offset, Taborda (2001, p. 10)

destaca que esse mecanismo pode funcionar como ferramenta de política pública para o

desenvolvimento econômico, por via do estímulo à capacidade empreendedora e à inovação

tecnológica nas empresas.

Por outro lado, não é razoável imaginar que as empresas nacionais serão capazes de

inovar a partir de determinada tecnologia recebida, por meio de uma parceria de offset, se, a

priori, não for verificada a capacitação dessas empresas para obter o conhecimento

pretendido.

Nesse sentido, é realizado um estudo do processo de negociação de offset, conduzido

pela Aeronáutica, a fim de identificar os critérios que são utilizados para garantir o

nivelamento técnico entre os grupos envolvidos com a transferência de tecnologia, conforme

o que estabelece Valeriano (1998, p. 42).

Para proceder ao levantamento de dados necessários, foi realizada uma entrevista

semi-dirigida com o Ten Cel Av José Augusto Crepaldi Affonso, formado pela Academia da

Força Aérea - AFA e Chefe da Divisão de Coordenação Industrial do Subdepartamento de

Desenvolvimento e Programas – SDDP, tendo participado integralmente nas negociações de

offset do Projeto VC-X e dos Projetos CL-X e P-3BR a partir da seleção da empresa

fornecedora.

Também foram obtidas informações por meio de questionário de pesquisa preenchido

pelo Engenheiro Roberto Yaegachi, o qual trabalha na Divisão de Coordenação e Fomento

Aeroespacial do Instituto de Fomento e Coordenação Industrial – IFI. O Eng. Roberto é

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formado em engenharia eletrônica pela Universidade do Vale do Paraíba – UNIVAP, tendo

participado nas negociações de offset relacionadas aos Projetos VC-X, CL-X e P-3BR, bem

como no acompanhamento da implementação do Projeto de Compensação do Projeto F-5BR.

No aspecto afeto ao levantamento de dados documentais, analisando-se a legislação

que norteia a atividade de offset na Aeronáutica (Portaria n° 853/ GM3 e Portaria n°

747/GM2), é possível verificar que não há nenhum tipo de referência a requisito ou a

exigência, em termos de nível de capacitação, para que qualquer empresa se habilite a

participar de um Projeto de Offset.

Ao ser perguntado sobre as exigências que o Comando da Aeronáutica estabelece para

que uma empresa nacional se habilite a participar de um Acordo de Offset, o representante do

IFI, respondeu36:

Uma forma de se inserir requisitos ou exigências para que empresas brasileiras participem dos projetos de offset seria através dos RFP - Request for Proposal - ou Pedido de oferta.(...) Porém, da mesma forma como ocorre na legislação existente sobre offset, o COMAER não tem estabelecido requisitos para que empresas se candidatem como beneficiárias das transações de offset.

O Pedido de Oferta é o documento que consolida os requisitos para a oferta técnica,

comercial, logística e industrial, sendo os requisitos para a oferta de offset parte integrante do

documento em foco. É nesse documento que se estabelece os objetivos básicos da

compensação, os quais são divididos em requisitos mandatórios, desejáveis e opcionais,

necessários para a apresentação de ofertas em um Projeto de Aquisição, de Modernização ou

de Desenvolvimento.

A título de exemplificação, ao ser analisado o Termo de Compromisso para a

Atividade de Compensação do Projeto CL-X37, verifica-se que a empresa estrangeira é

obrigada a prestar os seguintes esclarecimentos sobre a oferta final de offset:

– descrição detalhada;

– aplicação;

36 Resposta ao questionário encaminhado ao IFI.

37 Anexo 3 do Volume I do Pedido de Oferta do Projeto CL-X, de 31 de outubro de 2001.

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– empresas brasileiras recebedoras em potencial e o tipo de offset;

– valor líquido pretendido e multiplicador pretendido;

– homens-hora diretamente envolvidos;

– investimentos brasileiros necessários;

– período previsto para aplicação da compensação;

– termos e condições gerais requeridas; e

– observações.

Essas informações permitem conhecer com maior profundidade as características do

Projeto de Offset que está sendo proposto e servem de subsídio para que a equipe da

Aeronáutica possa deliberar sobre a capacidade de a empresa nacional participar ou não da

parceria proposta.

Destaca-se que, no processo de formação da parceria do Projeto de Offset, a avaliação

da capacidade da empresa nacional fica a critério da ofertante estrangeira, a qual,

naturalmente, não terá interesse de apresentar uma oferta de offset que não tenha um elevado

potencial de retorno financeiro, mormente quando a ofertante propõe a criação de uma nova

empresa.

O interesse da ofertante estrangeira no sucesso do Projeto de Offset pode ser melhor

compreendido pelo fato de se tratar de uma ação economicamente orientada. Esse tipo de

ação, conforme define Weber (1991, p. 37), tem por objetivo obter certos tipos de utilidades38,

e seu caráter econômico, no contexto de uma economia de troca, impõe que os gastos em

dinheiro sejam compensados pela venda dos produtos obtidos.

Segundo Crepaldi 39, a Aeronáutica adota o seguinte procedimento nos Acordos de

Compensação:

No primeiro momento de um Processo de Seleção, que é o procedimento adotado pelo SDDP para seleção de empresas ofertantes de equipamentos e serviços, só se

38 Por utilidades entendemos sempre as probabilidades concretas e particulares de aplicabilidade presente ou futura, consideradas como tais por um ou vários agentes econômicos cuja

presumível importância como meios para os fins desse agente orienta suas atividades econômicas. (WEBER, 1991. p. 40)

39 Entrevista semi-dirigida, baseada nas perguntas constantes no Apêndice 1, realizada em 26 de agosto de 2005 nas dependências do SDDP.

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exige que a oferta de offset atenda aos anseios da Aeronáutica, expressos no RFP, que podem abranger áreas como: transferência de tecnologia, subcontratação, investimento entre outros. (...) Após selecionada a empresa, o Projeto de Compensação da ofertante é analisado pelo SDDP, podendo ser alterado nessa etapa. Por fim, havendo concluído as negociações, é assinado um Acordo de Compensação vinculado ao Contrato Comercial.

A vinculação do Acordo de Compensação ao Contrato Comercial visa estabelecer uma

relação de dominação do interesse público sobre o interesse privado.

Segundo Weber (1991, p. 139), compreende-se “dominação” como:

(...) a probabilidade de encontrar obediência para ordens específicas (ou todas) dentro de determinado grupo de pessoas. Não significa, portanto, toda espécie de possibilidade de exercer “poder” ou influência sobre outras pessoas. Em cada caso individual, a dominação (autoridade) assim definida pode basear-se nos mais diversos motivos de submissão: desde o hábito inconsciente até considerações puramente racionais, referentes a fins. Certo mínimo de vontade de obedecer, isto é, de interesse (externo ou interno) na obediência, faz parte de toda relação autêntica de dominação.

Para Weber (1991, p. 141), esse tipo de dominação é de caráter racional, ou seja,

baseada na crença da legitimidade das ordens estatuídas e do direito de mando daqueles que,

em virtude dessas ordens, estão nomeados para exercer a dominação (dominação legal).

A legitimidade de uma dominação deve naturalmente ser considerada apenas uma probabilidade de, em grau relevante, ser reconhecida e praticamente tratada como tal. Nem de longe ocorre que toda obediência a uma dominação esteja orientada primordialmente por essa crença. A obediência de um indivíduo ou de grupos inteiros pode ser dissimulada por uma questão de oportunidade, exercida na prática por interesse material próprio. (WEBER, 1991, p. 140)

Em relação à etapa de análise das propostas de offset, Yaegachi informou que:

(...) as capacidades industriais, tecnológicas e empresariais são consideradas quando o Projeto de Offset é avaliado integralmente pela Aeronáutica, após a seleção da empresa que será responsável pela prestação de serviço ou produção do equipamento referente ao contrato comercial. (...) Atualmente, o IFI desenvolve a atividade de análise empresarial em empresas do setor aeroespacial e de Defesa. Nessa análise, são avaliados itens tais como: capacidade tecnológica, sistema de gestão da qualidade, aspectos estratégicos e organizacionais, entre outros, procurando estabelecer o perfil técnico-produtivo da organização. (...) O IFI tem utilizado os resultados dessa análise como suporte às elaborações de pareceres sobre Projetos de Compensação que possuem foco no setor industrial, aeroespacial e de Defesa. 40

Isso mostra que o sucesso de um Projeto de Offset dependerá da capacidade de

resposta da empresa beneficiária frente às exigências do projeto em foco, seja em termos de

potencial para absorção de tecnologia, capacidade industrial e financeira para fazer frente às

40 Resposta ao questionário encaminhado ao IFI.

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contrapartidas necessárias para viabilizar o Projeto, como por exemplo: a compra de uma

nova máquina ou equipamento.

Conforme informado pelo representante do SDDP, após a apresentação das ofertas de

offset, o SDDP, com o assessoramento do IFI, analisa as propostas quanto à viabilidade

podendo, em alguns casos, rejeitar a oferta por não atender ao RFP, o que não impede a

empresa ofertante de propor alternativa para o problema.

O nível de atenção com capacidade da empresa beneficiária, segundo Yaegachi,

dependerá:

(...) da modalidade e do tipo de offset no qual a empresa estará participando. Por exemplo, se o Projeto se refere a uma compensação direta, onde as transações estão diretamente relacionadas com o objeto do respectivo contrato comercial, haverá uma preocupação maior por parte do COMAER em relação à capacidade de a empresa nacional cumprir com os requisitos técnicos do Projeto de Offset e com isso não vir a prejudicar o cumprimento das obrigações da ofertante estrangeira, referentes ao objeto do Contrato Comercial.41.

Nesse caso, a empresa brasileira é considerada como uma subcontratada e é avaliada

sob a ótica dos Requisitos Técnicos Logísticos e Industriais – RTLIB, os quais estabelecem o

plano de qualidade, tanto para a contratada, que é a própria ofertante estrangeira, como para a

subcontratada, que, nesse exemplo, se trata de uma empresa brasileira.

Note-se que, nessas circunstâncias, o requisito que avalia a empresa beneficiária não é

um requisito específico para o offset, mas sim requisitos de outro subgrupo dos Requisitos

Industriais. O Eng. Roberto Yaegachi exemplifica esse caso com cláusulas de offset típicas,

conforme se segue:

As empresas brasileiras consideradas para participar dos Projetos de Compensação deverão satisfazer os requisitos de qualidade e capacidade tecnológica e as especificações técnicas reconhecidas internacionalmente. (...) Em conformidade com o previsto no Art. 72 da Lei 8.666/93, a contratada poderá, a título de compensação, subcontratar, junto a empresas nacionais, itens relacionados aos bens ou aos serviços, ficando sob sua responsabilidade os riscos e os ônus decorrentes da subcontratação.42

No caso de o Projeto de Offset ser considerado da modalidade de compensação

indireta ou não relacionada, ou seja, aquele que envolve transações de compensação não

41 Resposta ao questionário encaminhado ao IFI.

42 Resposta ao questionário encaminhado ao IFI.

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relacionadas diretamente ao objeto do respectivo contrato comercial, mas afetas ao setor

aeroespacial ou a outros setores da economia, o grau de preocupação com a capacidade da

beneficiária vai diminuir à medida que esta relação seja mais próxima de uma relação de

negócios (parceria comercial) entre a beneficiária e a empresa fornecedora estrangeira. Nesses

casos, o fornecedor estrangeiro assume toda a responsabilidade pelo negócio.

A esse respeito, o representante do SDDP informou o que se segue:

A empresa ofertante pode se basear no Catálogo das Empresas do Setor Aeroespacial Brasileiro - CESAER para escolher parceiros brasileiros (...) Nesse catálogo constam as empresas que o IFI, como Órgão de fomento da Aeronáutica, tem controle sobre os processos de qualidade e sobre a situação dessas empresas43.

Ainda segundo Crepaldi, o importante, no primeiro momento, é exigir que a ofertante

apresente propostas que beneficiem o setor aeroespacial nacional (indústria, institutos,

fundações, universidades etc.), sem determinar a obrigatoriedade de considerar uma entidade

específica.

Conforme enfatizado por Crepaldi, esse procedimento é justificado pelo fato de o

Acordo de Compensação ser tratado como um contrato público, não oneroso, que resulta em

obrigações e deveres para ambas as partes (governo e empresa ofertante) , estando ligado ao

contrato comercial por meio de cláusula vinculante. Por esse motivo, os aspectos relacionados

à capacidade técnica das empresas devem ser avaliados pelas empresas ofertantes, pois do

contrário, na visão da Aeronáutica, no caso de ocorrer qualquer problema com esta empresa,

que dificulte ou impeça a consecução dos objetivos da parceria, poderá advir também

prejuízos para a contratante por ter se responsabilizado, sob o enfoque jurídico, nesse

processo de escolha.

Em uma situação hipotética de a Aeronáutica exigir que a empresa estrangeira faça sua

proposta de offset com uma empresa nacional específica, além da questão relacionada ao

comprometimento da administração pública com a capacidade tecnológica dessa empresa, é

43 Entrevista semi-dirigida, baseada nas perguntas constantes no Apêndice 1, realizada em 26 de agosto de 2005 nas dependências do SDDP.

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possível inferir também a ocorrência de questionamentos jurídicos por parte de outra empresa

nacional que se considere preterida no processo44.

Também é possível imaginar que, caso não haja a competência tecnológica exigida

para a absorção da tecnologia pretendida, certamente ocorrerá um aumento dos custos do

objeto do contrato comercial para que seja possível elevar a capacitação da parceira nacional.

Quanto aos direitos da empresa contratada, Yaegachi afirma que há cláusulas de

salvaguarda inseridas nos Acordos de Offset que asseguram a viabilidade do negócio para a

empresa estrangeira, tais como:

A contratada não será obrigada a desenvolver uma transação de compensação se a referida transação não for competitiva em termos de preço, qualidade e suprimento, quando comparada com outras alternativas nos mercados internacionais. Neste caso a contratada deverá apresentar uma transação de compensação alternativa. (...) ou: caso as obrigações constantes dos programas de aplicação de compensação sejam retardadas por motivos imputáveis exclusivamente à contratante e/ou aos beneficiários, devidamente comprovados, a contratada não incorrerá em multa, e o cumprimento daquelas obrigações poderá ser retardado pelo período correspondente ao atraso provocado pela contratante e/ou pelos beneficiários.

3.4 CRITÉRIOS ADOTADOS PARA PROPORCIONAR CARGA DE TRABALHO ÀS

EMPRESAS NACIONAIS QUE PARTICIPAM DE OFFSET

Com relação às vantagens dos Acordos de Offset, Taborda (2001, p.9) esclarece:

A tendência verificada em casos internacionais aponta que cada negócio no âmbito de um processo de contrapartidas tende hoje para uma parceria com vantagens para ambas as partes, O comprador quer que o fornecedor melhore a sua condição por via de um relacionamento que ultrapasse a lógica da oferta de menor preço. Por outro lado o fornecedor pretende satisfazer as necessidades do comprador, por via de soluções criativas e de um menor custo possível. Do ponto de vista das empresas, os negócios de contrapartidas apresentam-se também como uma forma de poder competir para além do preço.

Essa parceria pode ser compreendida como uma relação associativa racional entre

participantes individuais na troca45, conforme conceituação definida por Weber (1991, p. 26),

na medida em que os participantes fazem algum tipo de acordo com o fim, por exemplo, de

aumentar suas oportunidades na luta por melhores preços.44 Entrevista semi-dirigida, baseada nas perguntas constantes no Apêndice 1, realizada em 26 de agosto de 2005 nas dependências do SDDP.

45 A troca racional só é possível quando ambas as partes esperam beneficiar-se dela ou quando uma delas se encontra numa situação forçada, condicionada por algum poder econômico ou por

simples necessidades. (WEBER, 1991. p. 44)

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Nesse contexto, para que a empresa nacional, participante de um Acordo de Offset,

passe a desenvolver soluções criativas é de se esperar que haja uma garantia de mercado que

lhe permita apresentar essa característica.

Por isso, será verificado, na presente etapa do estudo, o potencial que os Acordos de

Compensação negociados pela Aeronáutica apresentam de prover as indústrias nacionais de

mercado para seus novos produtos e serviços.

Também será pesquisada a ocorrência de procedimentos na Aeronáutica que visem à

indução de características inovadoras nas empresas nacionais, como forma de tornar essas

organizações mais competitivas e de aumentar as chances de atender ao mercado com novos

produtos e serviços.

Com relação à inovação, foi formulada a seguinte pergunta ao Eng. Roberto Yaegachi:

“As empresas proponentes a Acordos de Offset são orientadas, em algum momento do

processo, em relação aos aspectos ligados à inovação como forma de aumentar as chances de

sucesso do empreendimento em foco?”

Em atenção a essa pergunta, o representante do IFI respondeu:

O IFI tem assessorado o SDDP nos assuntos relacionados à negociação, gestão e acompanhamento de Acordos de Compensação, não tendo desempenhado nenhuma atividade de orientação da forma como foi colocada na questão acima. Basicamente, o estágio de desenvolvimento da Divisão no tema offset não tem permitido que a atividade de assessoria técnica aos beneficiários ou proponentes vá além da promoção e divulgação das oportunidades geradas pela compensação, divulgação das áreas de interesse do CTA para a compensação tecnológica, bem como divulgação das empresas brasileiras com potencial para participar nos programas de compensação. Além dessas tarefas, o IFI também acompanha o cumprimento das transações de offset.46

Para a mesma questão, o representante do SDDP respondeu que não era realizada

nenhuma atividade destinada a induzir uma gestão inovadora nas empresas beneficiárias de

offset.

Quanto aos aspectos relacionados à manutenção de carga de trabalho para as indústrias

beneficiárias de offset, como forma de viabilizar a transformação da tecnologia recebida em

46 Resposta ao questionário encaminhado ao IFI.

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novos produtos e serviços, os representantes dos dois órgãos do COMAER apresentaram

respostas semelhantes sobre a questão47.

Pela área do IFI, o representante daquele Órgão explicou que tanto a Política de

Compensação Comercial, Industrial e Tecnológica quanto a Ação da Política de

Compensação Comercial, Industrial e Tecnológica do Comando da Aeronáutica fazem

referência a um dos principais objetivos do offset que é a criação de novas oportunidades de

mercado para a exportação de bens e serviços, visando ao aumento da carga de trabalho das

indústrias do setor aeroespacial.

O Eng. Roberto Yaegachi destaca também que:

Nos últimos programas de aquisição, o COMAER tem buscado direcionar e privilegiar Projetos de Compensação que incluam tanto um programa de capacitação quanto um pacote de subcontratação, de modo a tornar o Projeto auto-sustentável. Nesses programas, o tema foi amplamente discutido com as empresas estrangeiras.

Segundo o representante do IFI, nos processos de aquisição mais recentes,

coordenados pelo SDDP, o COMAER tem requerido das empresas fornecedoras estrangeiras

um plano de auto-sustentabilidade do Projeto de Offset quando este é voltado para a área

industrial, comercial ou tecnológica.

Como considerações finais, o representante do IFI informou desconhecer qualquer

outro mecanismo ou esforço governamental que tenha como objetivo assegurar diretamente

essa carga de trabalho para empresas que tenham sido capacitadas por intermédio de Projetos

de Offset.

Sobre o aspecto de carga de trabalho para as empresas, o representante do SDDP

apresentou, entre vários exemplos de Acordo de Offset bem-sucedido, o offset negociado no

âmbito do Projeto VC-X, conforme discriminado a seguir:

No Projeto de Offset apresentado pela empresa AIRBUS havia a proposta de criação da empresa SOPEÇAERO. Nesse modelo de negócio, a empresa estrangeira se propunha não só a criar e capacitar uma empresa, como também proporcionar carga de trabalho. Isso porque, do ponto de vista comercial, caso não houvesse demanda para os produtos da empresa beneficiária de offset, também não ocorreria o retorno do investimento da empresa estrangeira.

47 Resposta ao questionário encaminhado ao IFI e entrevista semi-dirigida, baseada nas perguntas constantes no Apêndice 1, realizada em 26 de agosto de 2005 nas dependências do SDDP.

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Esse exemplo demonstra a tendência de as empresas já embutirem a carga de trabalho quando oferecem esse tipo de offset, pois o que se busca são Projetos que representem bons negócios para ambas as partes.

Ainda em continuidade às obrigações de offset referentes ao Projeto VC-X, o

representante do SDDP acrescentou:

A empresa AIRBUS, que tem uma obrigação de offset da ordem de U$ 8 milhões no âmbito do Projeto, apresentou uma proposta de manutenção da capacidade da empresa Rolls & Royce do Brasil para fazer a manutenção da turbina RB211, haja vista que a Petrobras adquiriria 23 unidades dessas turbinas. Esta capacitação permitirá que a Petrobras faça a revisão desses equipamentos no País e propiciará a capacitação de mão-de-obra especializada em indústria do setor aeroespacial.

Outro caso de Acordo de Compensação, citado por Crepaldi, foi o relacionado ao

Projeto P-3BR, conforme descrito a seguir:

Nesse acordo, a gerência do projeto teve a preocupação de pedir a fornecedora uma proposta de revisão dos motores no Brasil. Com isso, haverá a transferência de tecnologia para esse fim a uma empresa nacional que será subcontratada, posteriormente, para proceder a revisão dos motores de aeronave P-3.Nesse caso específico, a Aeronáutica buscou garantir carga de trabalho em um primeiro momento. Espera-se que, depois de terminado o ciclo de vida desses motores, a empresa seja capaz de usar seus conhecimentos para alcançar novos mercados.

Crepaldi acrescentou também que:

De uma forma geral, todos os Acordos de Compensação que envolvem a transferência de tecnologia para empresas beneficiárias nacionais contemplam também a carga de trabalho necessária, pelo menos, para atender aos fornecimentos previstos no contrato comercial. As exceções ficam por conta das atividades de transferência de tecnologia para os Parques de Material Aeronáutico, para o Centro Técnico Aeroespacial ou para as Universidades, em atenção a objetivos estratégicos da Aeronáutica.

Por fim, o representante do SDDP afirmou que estão em andamento as ações para a

criação de um Comitê de Compensação48, vinculado ao Estado-Maior da Aeronáutica. Esse

Comitê será responsável por determinar o modelo de Acordo de Compensação para cada

projeto dentro de uma orientação estratégica, ou seja, direcionando as ações de offset para as

áreas do setor aeroespacial de maior interesse.

3.5 ANÁLISE DO DISCURSO

48 Trata-se da proposta de criação de um Comitê no Estado-Maior da Aeronáutica, encaminhada para aprovação do Comandante da Aeronáutica por meio do 10° Despacho n° 3/4SC3/775, de

11 de agosto de 2005.

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Nos tópicos anteriores, foi realizada uma seleção prévia dos textos, em consonância

com o que estabelece Rizzini (1999, p. 102), com o objetivo de identificar a autoria do

discurso (constatada sempre a autoria como sendo dos respondentes), de abandonar os

diálogos que não versavam sobre o tema em foco, bem como de abandonar as redundâncias e

outros usos da linguagem relacionados com a atenção ao interlocutor.

Do ponto de vista da tipologia do discurso, verifica-se que tanto os locutores quanto o

interlocutor possuem um nível de compreensão elevado sobre o tema, não havendo primazia

de um sobre o outro, o que demonstra tratar-se de um discurso reversível e de alternância de

ponto de vista, cuja estratégia de argumentação está fundamentada nas regras e conceitos

básicos constantes na Política e Estratégia de Compensação Comercial, Industrial e

Tecnológica da Aeronáutica49. Destaca-se também que os argumentos se apóiam na

experiência dos participantes, nas ligações reconhecidas entre as premissas e nas explicações

fundamentadas em uma lógica do tipo causa/efeito, meio/fim etc.

Em prosseguimento à constituição do corpus de análise, será procedida, na próxima

etapa da análise, uma seleção dos extratos dos diálogos com vistas a apresentar uma redução

do diálogo, em que serão destacados os temas e os argumentos apresentados pelos

respondentes às questões enunciadas pelo interlocutor.

Quadro 3.1 – Redução dos argumentos afetos à temática de gerenciamento de offset na

Aeronáutica.

QUESTÕES FORMULADAS PELO

INTERLOCUTOR (TEMAS)

RESPOSTAS DO REPRESENTANTE DO IFI

RESPOSTAS DO REPRESENTANTE DO SDDP

1a - Quais são as exigências que o COMAER estabelece para que uma empresa brasileira se habilite a participar de um Acordo de Offset?

1 – O COMAER não tem estabelecido requisitos para que as empresas se candidatem.

2 – Uma forma de se inserir requisitos para que empresas participem de offset seria

1 – No primeiro momento só se exige que a oferta de offset atenda ao RFP.

49 Trata-se da proposta de Diretriz do Comando da Aeronáutica – DCA 360-1, encaminhada para aprovação do Comandante da Aeronáutica por meio do 10° Despacho n° 3/4SC3/775, de 11

de agosto de 2005.

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Tema:Habilitação para participar de offset

através do RFP.

3 - No processo de formação da parceria do Projeto de Offset, a avaliação da capacidade da empresa nacional fica a critério da ofertante estrangeira, a qual, naturalmente, não terá interesse de apresentar uma oferta de offset que não tenha um elevado potencial de retorno financeiro

4 – A contratada não será obrigada a desenvolver uma transação de compensação se não for competitiva em termos de preço, qualidade e suprimento.

2 - O importante, no primeiro momento, é exigir que a ofertante apresente propostas que beneficiem o setor aeroespacial nacional, sem determinar a obrigatoriedade de considerar uma empresa específica.

3 – Pelo fato de o Acordo de Compensação ser tratado como um contrato que resulta em obrigações para o governo e para a empresa ofertante, estando ligado ao contrato comercial por meio de cláusula vinculante, os aspectos relacionados à capacidade técnica das empresas devem ser avaliados pelas empresas ofertantes, pois, do contrário, no caso de ocorrer qualquer problema com a empresa nacional poderá advir também prejuízos para a contratante

4 - Em uma situação hipotética de a Aeronáutica exigir que a empresa estrangeira faça sua proposta de offset com uma empresa nacional específica, é possível inferir também a ocorrência de questionamentos jurídicos por parte de outra empresa nacional que se considere preterida no processo

5 – Caso se exija que o offset seja direcionado para uma empresa nacional com capacitação técnica aquém da necessária para o Projeto, é de se esperar um aumento de valor do contrato principal para atender ao nivelamento técnico da empresa nacional.

6 – O SDDP pode rejeitar aquelas ofertas que não atenderem ao RFP.

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2a - O COMAER estabelece algum tipo de verificação de desempenho, como critério para credenciamento de empresa nacional para participar de Acordo de Offset?

Tema:Constatação da capacidade tecnológica das empresas nacionais.

1 - A avaliação da capacidade da empresa nacional fica a critério da ofertante estrangeira, a qual, naturalmente, não terá interesse de apresentar uma oferta de offset que não tenha um elevado potencial de retorno financeiro, mormente quando a ofertante propõe a criação de uma nova empresa.

2 – A empresa ofertante é obrigada a prestar esclarecimentos na sua oferta final sobre as empresas brasileiras recebedoras de offset.

3 – As informações constantes na oferta final da empresa estrangeira servem de subsídio para que a Aeronáutica delibere sobre a capacidade da empresa nacional.

4 – As capacidades industriais das empresas nacionais são consideradas após a seleção da empresa que será responsável pela prestação do serviço ou entrega do produto.

5 – Na formação da parceria de offset, a avaliação da capacidade da empresa nacional fica a critério da ofertante.

6 – O IFI desenvolve a atividade de análise empresarial em indústrias do setor aeroespacial.

7 – O IFI utiliza o resultado dessa análise para emissão de

1 – Após selecionada a empresa ofertante, o Projeto de offset é analisado, podendo ser alterado.

2 – O SDDP, com o assessoramento do IFI, analisa as propostas quanto à viabilidade.

3 – No catálogo CESAER constam as empresas em que o IFI mantém um controle dos processos de qualidade e da situação da empresa.

4 – A empresa ofertante pode basear-se no CESAER para escolher seus parceiros no Brasil.

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parecer sobre Projetos de Offset.

8 – Projetos que envolvem compensação direta resultam em maior preocupação com relação a capacidade técnica da empresa nacional.

9 – Nos casos de compensação direta, a empresa estrangeira e a nacional são avaliadas sob a ótica de requisitos de qualidade e capacidade tecnológica.

10 – A contratada poderá, a título de compensação, subcontratar junto a empresas nacionais, ficando sob sua responsabilidade os riscos e os ônus decorrentes da subcontratação.

11 – Nos casos de offset na modalidade indireta a preocupação, por parte do COMAER, com a capacidade da beneficiária é menor, ficando a responsabilidade pelo negócio a cargo do fornecedor estrangeiro.

3a - As empresas proponentes a Acordos de Offset são orientadas em relação aos aspectos ligados à inovação como forma de aumentar as chances de sucesso do empreendimento em foco?

Tema:Ênfase na capacidade de inovação junto às empresas nacionais.

O IFI não tem desempenhado nenhuma atividade de orientação da forma como foi colocada na questão.

Não é realizada nenhuma atividade para induzir uma gestão inovadora nas empresas beneficiárias de offset.

4a - Existe a preocupação em se proporcionar carga de trabalho para as empresas nacionais, no que se refere à capacitação absorvida por meio de Acordos de Offset?

Tema:

1 – As Portarias n° 853/ GM3 e n° 747/GM2 informam que um dos principais objetivos do offset é a criação de novas oportunidades de mercado.

2 – Nos últimos programas de aquisição o COMAER tem buscado Projetos de Compensação que incluam

1 – O Projeto VC-X teve um Acordo de Offset que estabeleceu a criação de uma empresa, a sua capacitação e a subcontratação

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Demanda por produtos e serviços.

capacitação com um pacote de subcontratação, de modo a tornar o Projeto auto-sustentável.

3 – Desconhece qualquer outro mecanismo que tenha como objetivo assegurar carga de trabalho às empresas.

para a produção.

2 – Existe a tendência de as empresas estrangeiras embutirem a carga de trabalho quando oferecem offset com transferência de tecnologia.

3 - A empresa AIRBUS apresentou proposta de garantir a capacidade de a empresa Rolls & Royce do Brasil fazer a manutenção da turbina RB 211 para a Petrobras.

4- No offset do Projeto P-3BR haverá transferência de tecnologia para que uma empresa nacional faça as revisões dos motores da aeronave P-3.

FONTE: Questionários respondidos pelo Engenheiro Roberto Yaegachi e pelo Ten Cel Av José Augusto Crepaldi Affonso.

A partir das informações contidas no Quadro 3.1, será verificada a coerência interna

do discurso por intermédio da identificação do tipo de argumentos e dos silogismos

empregados.

Destaca-se, no tocante à dialética, a ocorrência de duas lógicas importantes para a

análise a ser realizada: a lógica dedutiva e a lógica indutiva.

Segundo Sainsbury (2001, p. 10) uma maneira de as premissas de um argumento

constituírem boas razões a favor da sua conclusão é quando a conclusão se segue das

premissas. Vamos chamar “válido” qualquer argumento cuja conclusão se siga das suas

premissas. Em geral, um argumento é válido unicamente se for impossível que as premissas

sejam todas verdadeiras, mas a conclusão falsa.

Considerem-se dois argumentos a seguir:

1 – “Todos os homens são mortais. Sócrates é um homem. Logo, Sócrates é mortal”.

2 – “O sol nasceu todas as manhãs até hoje. Logo (é provável que) nasça amanhã”.

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O primeiro é um exemplo de um argumento classificado como válido pela lógica

dedutiva, em que, conforme afirma Schopenhauer (2001, p. 22), de premissas verdadeiras só

podem resultar proposições verdadeiras, embora de premissas falsas nem sempre resultem

proposições falsas.

O segundo é um argumento que não é classificado como válido pela lógica dedutiva.

Contudo, o lógico indutivo deve atribuir ao último um estatuto favorável qualquer. Sem

dúvida, as razões que as premissas do argumento 2 nos dão a favor da sua conclusão são

muito melhores do que as razões dadas pela mesma premissa a favor da conclusão oposta.

Sainsbury (2001, p. 10) apresenta ainda outro exemplo de lógica indutiva:

3 – “O sol nasceu todas as manhãs até hoje. Logo (é provável que) não nasça

amanhã”.

Para Sainsbury (2001, p. 10), isso pode parecer um argumento tolo, mas,

aparentemente, é qualquer raciocínio semelhante ao apresentado que dá vida a alguns

apostadores. Caso semelhante ocorre no fenômeno denominado de “falácia de Monte Carlo”,

o qual consiste na crença de que se o vermelho saiu várias vezes na roleta, é mais provável

que da próxima vez saia o preto. O lógico dedutivo contrasta os argumentos 1 e 2 ao afirmar

que o primeiro, mas não o segundo, é válido. O lógico indutivo irá contrastar os argumentos 2

e 3 – provavelmente sem usar a palavra “válido”, mas dizendo talvez que o 2, ao contrário do

3, é “indutivamente forte”. As premissas do argumento 2, mas não as do 3, fornecem fortes

razões a favor da sua conclusão.

A verdade das premissas de um argumento dedutivo válido, conforme Sainsbury

(2001, p. 11), torna a falsidade da sua conclusão impossível, mas isso não acontece no caso de

argumentos indutivamente fortes. Outro modo de colocar essa questão é que as razões

apresentadas por um argumento dedutivamente válido são conclusivas, ou seja, a verdade das

premissas garante a verdade da conclusão. Esse modo de traçar o contraste adapta-se aos

argumentos 1 e 2. A verdade da premissa do 2 pode tornar a conclusão provável, mas não a

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garante. A lógica indutiva, como terminologia da força indutiva sublinha, tem de se ocupar de

uma relação que se obtém num grau maior ou menor.

Considerando as informações relativas ao processo lógico dedutivo e indutivo, será

analisado, a seguir, o resultado dos questionários, conforme cada tema constante no Quadro

3.1.

No caso dos critérios estabelecidos pela Aeronáutica para que uma empresa brasileira

se habilite a participar de Acordo de Offset, apesar de o pesquisador ter sido informado que a

Aeronáutica não estabelece requisito para que uma empresa participe de offset, é necessário

confrontar essa afirmação com outras respostas para se obter uma visão mais abrangente da

argumentação.

Observa-se que o outro respondente enfatiza a necessidade de não se direcionar o

offset para uma empresa específica, haja vista a possibilidade de a contratante ser

responsabilizada em caso de problemas relacionados à capacitação da beneficiária nacional ou

em caso de uma outra empresa brasileira questionar o processo por se considerar preterida.

Interpretando-se a primeira afirmação à luz das considerações sobre a possibilidade de

acionamento jurídico da parte contratante, deduz-se que o primeiro respondente buscou

enfatizar a necessidade de se ter um acesso das empresas, no início do processo de formação

de parcerias de offset, o mais abrangente possível.

Sob um enfoque lógico dedutivo válido, considerando algumas premissas, destacadas

em negrito no Quadro 3.1, tais como: “No primeiro momento só se exige que a oferta de

offset atenda ao RFP”, “O importante é exigir que a ofertante apresente propostas que

beneficiem o setor aeroespacial”, “os aspectos relacionados à capacidade técnica das

empresas devem ser avaliados pelas empresas ofertantes” e “O SDDP pode rejeitar aquelas

ofertas que não atenderem ao RFP”, logo, conclui-se que a Aeronáutica exerce um controle da

capacitação técnica das empresas numa etapa intermediária do processo, permitindo um

amplo acesso das empresas nacionais no início das negociações.

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No que se refere à constatação da capacidade tecnológica das empresas nacionais,

necessária à absorção da tecnologia pretendida, verifica-se que a Aeronáutica, por intermédio

do IFI, desenvolve a atividade de análise empresarial em indústrias do setor aeroespacial.

Além disso, no catálogo CESAER constam as empresas em que o IFI mantém um controle

dos processos, o que constitui uma fonte de consulta, de caráter não obrigatório, para facilitar

a análise dos fornecedores estrangeiros, afeta ao processo de formação de parcerias de offset.

Dentro de um enfoque dedutivo, é possível apresentar um argumento válido a esse

respeito.

Nos casos em que é criada uma parceria de offset para a manufatura de produtos ou

prestação de serviços relacionados ao cumprimento do contrato principal, considerando como

premissas que: “os aspectos relacionados à capacidade técnica das empresas devem ser

avaliados pelas empresas ofertantes” e “a ofertante estrangeira não terá interesse de apresentar

uma oferta de offset que não tenha um elevado potencial de retorno financeiro”; logo, pode-se

afirmar que, nesses casos, a empresa brasileira sempre terá o nível de conhecimento

necessário à absorção da tecnologia pretendida.

No tocante à questão da orientação das empresas quanto à capacidade de inovação,

ambos os respondentes foram enfáticos em afirmar que não havia nenhuma ação do Comando

da Aeronáutica nesse sentido.

Em relação à indução de demanda por produtos e serviços, constata-se que a

Aeronáutica não direciona o offset para empresas específicas, em função de questões de

caráter jurídico e de possível incremento no valor dos contratos principais.

Por outro lado, numa ótica lógica indutiva forte, considerando premissas como: “O

Projeto VC-X teve um Acordo de Offset que estabeleceu a criação de uma empresa, a sua

capacitação e a subcontratação”, “A AIRBUS apresentou proposta de garantir a capacidade de

a empresa Rolls & Royce do Brasil fazer a manutenção da turbina RB 211”, “No Projeto

P-3BR haverá transferência de tecnologia para que uma empresa nacional faça as revisões dos

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motores” e “existe a tendência de as empresas estrangeiras embutirem a carga de trabalho

quando oferecem offset com transferência de tecnologia”, logo, é provável que a continuação

dos esforços em privilegiar Acordos de Offset que incluam a capacitação com um pacote de

subcontratação, resultem em Projetos auto-sustentáveis.

Finalmente, considerando-se os exemplos de demanda por produtos de empresas

nacionais em decorrência de Acordos de Offset, verifica-se que o processo de compensação é

uma ferramenta adequada para prover carga de trabalho às empresas e potencializar a

capacidade de inovação da indústria nacional.

A esse respeito, Ronan (2004, p. 148) complementa:

Assim, apesar da incipiente experiência do Brasil no offset, o estudo realizado permitiu atestar que não é tarde para se definir uma política capaz de garantir a presença no grupo de países que se destacam no uso de tal prática, mesmo que o tema ainda seja pouco conhecido e, conseqüentemente, ainda não devidamente explorado no País.Esta perspectiva de que o Brasil realmente tem condições de se destacar no cenário mundial do offset advém da tímida, mas significante experiência que o Brasil vem acumulando nos negócios que envolvem o offset.A relevante contribuição que o Comando da Aeronáutica vem dando às questões de compensação nos últimos anos, não apenas no âmbito dos acordos realizados pela própria Aeronáutica, como também na participação em Acordos de Offset celebrados por outras instituições é uma demonstração inequívoca do potencial dessa ferramenta. O planejamento e a execução das atividades relacionadas ao tema offset no Brasil, em sua parcela mais relevante, foram conduzidos pelo Comando da Aeronáutica, certamente estimulado por suas prementes necessidades de pesquisa e desenvolvimento no campo da aeronáutica e do espaço.Contudo, ainda se verifica a falta de uma participação e integração mais expressiva dos órgãos de planejamento estratégico correlatos no âmbito do Governo como um todo, a fim de que a prática de offset possa surtir efeitos mais significativos.Nesse sentido, na Inglaterra, por exemplo, já existe não apenas uma, mas várias instituições que oferecem suporte à prática de offset, atuando como facilitador na troca do conhecimento relativo ao assunto, o que pode trazer grandes benefícios para aqueles que lidam com o tema.

Contudo, atribuir carga de trabalho não é garantia de que haverá um processo de

inovação. A esse respeito, Taborda (2001, p.13) enfatiza a necessidade de esforço das

empresas na área de gestão do conhecimento e que cabe a cada entidade desenvolver a

capacidade de aprender a partir da tecnologia de que dispõe e reforçar o seu conhecimento por

via de informação externa que a leva a desenvolver novas idéias aceites pelo mercado, razão

pela qual serão verificadas a seguir as características de inovação ligadas às empresas

nacionais.

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4. POTENCIAL DE INOVAÇÃO DAS EMPRESAS

4.1 INOVAÇÃO NAS EMPRESAS

O processo de inovação inter-relaciona-se com o significado do termo empreendedor,

usado por Peter F. Drucker para caracterizar o indivíduo que cria uma nova satisfação para o

cliente ou uma nova demanda. O empreendedor cria algo novo e diferente e muda ou

transforma valores. O empreendedor sempre está buscando a mudança, reage a ela, e explora-

a como sendo uma oportunidade. (DRUCKER, 1986)

Segundo o pensamento de Drucker (1986, p. 36), a inovação é o instrumento utilizado

pelo empreendedor, por meio do qual é possível explorar as mudanças como uma

oportunidade para um negócio diferente ou para um serviço diferente com vistas a criar

riqueza.

A inovação promove uma mudança no potencial de produção de um recurso já

existente ou cria-o. Um exemplo disso pode ser verificado na descoberta da penicilina. Até a

década de 1920, o fungo da penicilina era visto como uma praga, porém quando Alexander

Fleming constatou que esta praga era um bactericida eficiente, logo o fungo passou a ser

reconhecido como um recurso de valor. (DRUCKER, 1986)

Ainda conforme o pensamento do teórico americano, destaca-se também que as

inovações não são exclusivamente técnicas ou científicas, mas, também, sociais, como foi o

caso da invenção do seguro e das compras a prazo: ambos exemplos de grande impacto

econômico. (DRUCKER, 1986)

Raramente se observa a ocorrência de inovações em decorrência da genialidade de

alguém. O mais comum é a busca sistemática, deliberada e organizada de mudanças e a

análise sistemática de oportunidades com o propósito de estabelecer inovações técnicas,

sociais e econômicas. (DRUCKER, 1986)

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Para Drucker (1986, p. 33), a capacidade de inovar está ligada ao comportamento e

não a traços da personalidade e está mais fundamentada no conceito e na teoria que na

intuição.

Deming (1990, p. 15), por sua vez, enfatiza a necessidade de planos integrados com

objetivos e métodos para se alcançar um patamar futuro almejado. “Esperanças, sem o suporte

de um método que permita realizá-las, permanecerão como meras esperanças”.

Uma exigência para a inovação, segundo Deming (1990, p. 20), consiste na fé de que

haverá um futuro. A inovação, que fundamenta o futuro, não poderá prosperar a menos que a

direção tenha declarado seu compromisso inarredável com a qualidade e com a produtividade.

Até que tal política seja consagrada como instituição, a administração média e todos os

demais níveis da empresa permanecerão céticos quanto à eficácia de seus melhores esforços.

Ao estabelecer os 14 princípios necessários para que uma empresa se mantenha

competitiva e em atividade, Deming enfatizou, no seu primeiro princípio, a importância que

deve ser depositada na constância de propósitos para a melhoria do produto e do serviço.

Mais importante que o lucro imediato é a visão quanto à existência da empresa daqui a

dez, vinte ou trinta anos.

Para Deming (1990, p. 20), “é um erro supor que uma produção eficiente do produto e

do serviço manterá uma organização solvente e à frente da concorrência”.

Com relação à constância de propósitos, Deming (1990, p. 20) afirma que a primeira

preocupação deve ser direcionada para a inovação como forma de permanecer no mercado no

futuro. Este aspecto é mais importante do que problemas imediatos como: manutenção do

nível de qualidade do produto, controle da produção, lucro, vendas etc. A determinação de se

manter uma constância de propósitos, em termos de inovação, demanda o estabelecimento de

planos que considerem novos produtos e serviços, para os quais haverá mercado.

Para que seja criado um ambiente adequado ao desenvolvimento de inovações

sistemáticas, é necessária, conforme entendimento de Drucker (1986, p. 46), a observância de

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sete fontes para oportunidades inovadoras, sendo as quatro primeiras de domínio interno às

organizações públicas ou privadas, conforme discriminado a seguir:

– o inesperado – sucesso ou fracasso (a oportunidade oferecida pelo sucesso ou

fracasso inesperado requer análise, pois o fato inesperado é só um sintoma);

– a incongruência – discrepância entre a realidade e a concepção de como ela deveria

ser;

– a inovação baseada na necessidade do processo – substitui uma ligação que esteja

fraca ou reprojeta um antigo processo;

– as mudanças na estrutura do setor industrial ou na estrutura do mercado que pega a

todos desprevenidos – estruturas industriais e de mercado são bastante frágeis e

qualquer arranhão pode desintegrá-las;

– as mudanças demográficas – são mudanças externas no meio social, filosófico

político e intelectual;

– as mudanças em percepção – a mudança na forma como as pessoas reagem a uma

circunstância pode oferecer uma excelente oportunidade de inovação; e

– o conhecimento novo (científico e não-científico) – as inovações baseadas em

conhecimento apresentam o mais longo tempo de espera para se tornar aplicável à

tecnologia e outro longo tempo antes que a nova tecnologia se transforme em

produtos, processos ou serviços no mercado.

No que se refere aos riscos envolvidos no desenvolvimento de cada fonte de inovação,

Drucker (1986, p. 47) acrescenta:

Ao contrário da crença quase geral, o conhecimento novo – e especialmente o conhecimento científico novo – não é a mais confiável ou mais previsível fonte de inovações bem-sucedidas. (...) a análise rotineira e sem glamour de sintomas de mudanças latentes, como o sucesso inesperado ou o fracasso inesperado, envolve riscos e incertezas razoavelmente baixos. E as inovações que daí advirem possuem, tipicamente, o menor tempo de espera entre o início do empreendimento e seus resultados mensuráveis.

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Além das fontes que oferecem oportunidades de desenvolvimento de inovação nas

empresas, Drucker (1986, p. 190 - 191) também destaca alguns princípios de inovação que ele

chamou de “os faça”.

Esses princípios são:

1 – (...) todas as fontes de oportunidade inovadora devem ser sistematicamente analisadas e estudadas. Não basta estar alerta a elas. A busca tem que ser organizada, e deve ser feita em base ordeira e sistemática;2 – A inovação é tanto conceitual quanto perceptual. Não basta elaborar analiticamente o que uma inovação deve ser para atender a uma oportunidade, é necessário sair a campo para verificar com os usuários suas expectativas, seus valores e necessidades;3 – Uma inovação para ser eficaz precisa ser simples e tem que ser concentrada. Quanto maior a complexidade maior a dificuldade de ajuste. Uma inovação deve ser específica para não confundir, ou seja, deve atender a uma necessidade específica;4 – As inovações eficazes começam pequenas. Não são grandiosas; e5 – (...) uma inovação bem sucedida visa à liderança”. Caso uma inovação não vise à liderança desde o início, dificilmente poderá se estabelecer, pois será suplantada pela concorrência.

Com base nesses conhecimentos, buscar-se-á aplicar um questionário de pesquisa, que

emprega técnicas qualitativas e quantitativas, com vistas a estabelecer um diagnóstico

estratégico das empresas nacionais que participaram de Acordos de Offset, o qual permitirá

verificar a real situação dessas empresas quanto aos aspectos ligados à inovação, tomando-se

por base as sete fontes para oportunidades nessa área, identificadas por Peter Drucker, e a

visão de constância de propósitos de Deming.

Segundo McDaniel (2003, p. 122), a pesquisa qualitativa pode melhorar a eficiência

da pesquisa quantitativa. Os padrões exigidos na pesquisa quantitativa podem ser

enriquecidos com o acréscimo de informações qualitativas sobre os motivos e motivações das

pessoas.

Para Oliveira (1994, p. 80), diagnóstico estratégico deve ser compreendido como:

O diagnóstico estratégico corresponde à primeira fase do processo de planejamento estratégico e procura responder à pergunta básica: “qual a real situação da empresa quanto aos seus aspectos internos e externos?”, verificando o que a empresa tem de bom, de regular ou de ruim no seu processo administrativo.

Após a realização de todos os levantamentos sobre as empresas, serão feitas análises

comparativas entre o grau de desempenho das empresas no quesito “inovação”, os resultados

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dessas empresas em termos de quantidade de novos produtos e serviços lançados no mercado

e o diagnóstico estratégico. Busca-se, assim, alcançar a validação de construto da medida, ou

seja, demonstrar que esta se comporta conforme a teoria subjacente. (MCDANIEL, 2003)

4.2 APLICAÇÃO DO MÉTODO AHP

Segundo Gomes (2004, p. 41), um dos métodos mais usados para decisão multicritério

é o Método de Análise Hierárquica denominado AHP (abreviação do inglês Analytic

Hierarchy Process).

Normalmente, a hierarquia linear é a estrutura que melhor representa, em termos de

simplicidade, a dependência entre os níveis dos componentes de um sistema em relação a

outro nível, de forma seqüencial. Dessa forma, um problema complexo pode ser decomposto

em etapas na busca de relações de causa e efeito, dentro de um encadeamento linear.

O topo da hierarquia representa um objetivo global, enquanto nos níveis inferiores

estão dispostos os critérios que causam algum tipo de impacto no critério do nível superior.

Na base da hierarquia, são encontradas as alternativas existentes.

Após a construção da hierarquia, cada decisor procede a comparação, par a par, de

cada elemento de determinado nível, criando-se uma matriz quadrada em que a importância

relativa dos atributos pode ser expressa. Nessa matriz, consoante uma escala predefinida, é

possível estabelecer preferência entre os elementos comparados, sob o prisma de um elemento

do nível imediatamente superior, conforme estabelece Gomes (2004, p. 52).

Sobre esse tema Schmidt (1995, p. 1) acrescenta:

A teoria reflete a maneira pela qual a mente humana conceitualiza e estrutura um problema complexo. O método natural de funcionamento da mente humana, quando se defronta com um grande número de elementos, controláveis ou não, em uma situação complexa, é agregá-los a grupos, segundo propriedades comuns, isto é, quando o ser humano identifica alguma coisa, decompõe a complexidade encontrada; quando descobre relações, sintetiza; este é o processo fundamental da percepção: decomposição e síntese.

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A metodologia baseia-se no princípio de que para a tomada de decisão, a experiência e

o conhecimento das pessoas são pelo menos tão valiosos quanto os dados utilizados.

Para a elaboração da estrutura proposta, é necessária ainda a aplicação de alguns

conceitos básicos que serão explicitados a seguir.

1- Elementos fundamentais do Método AHP

Afirma Gomes (2004, p. 44) que os elementos fundamentais do Método são:

– atributos e propriedades – um conjunto finito de alternativas comparados segundo um conjunto finito de propriedades;– correlação binária – na correlação par a par um elemento pode ser preferível ou indiferente a outro;– escala fundamental – associa-se a cada elemento um valor (números positivos reais) de prioridade sobre os outros elementos; e– hierarquia – um conjunto de elementos ordenados em níveis hierárquicos homogêneos, segundo classificação de preferências.

2- Escala fundamental de Saaty

Gomes (2004) afirma que existe um limite psicológico segundo o qual o ser humano

só é capaz de julgar corretamente as diferenças por meio de, no máximo, nove pontos de uma

escala de comparação. Por esse motivo, Saaty (1991, p. 67) definiu a Escala Fundamental

discriminada a seguir:

Quadro 4.1 - Escala de comparação de elementos

ESCALA DE COMPARAÇÃO DE ELEMENTOS

1 Igual importância As duas contribuem igualmente para o objetivo.

3 Importância pequena de uma sobre a outra

A experiência e o juízo favorecem uma atividade em relação à outra.

5 Importância grande ou essencialA experiência ou juízo favorece fortemente uma atividade em relação à outra.

7 Importância muito grande ou demonstrada

Uma atividade é muito fortemente favorecida em relação à outra. Pode ser demonstrada na prática.

9 Importância absolutaA evidência favorece uma atividade em relação à outra, com o mais alto grau de segurança.

2,4,6,8 Valores intermediários Quando se procura uma condição de compromisso entre duas definições.

FONTE: Gomes (2004, p. 48)

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OBJETIVO GLOBAL

CRITÉRIOS DE 2O

NÍVEL

SUBCRITÉRIOS DE 3O NÍVEL

ALTERNATIVAS

76

3- Estruturação

Estruturação dos critérios na formulação de modelo hierárquico típico do Método

AHP:

De acordo com o exposto, elementos que têm características globais devem ser

representados no nível mais alto da hierarquia, os outros, com características que especificam

o problema, podem ser desenvolvidos nos níveis mais baixos. A tarefa de determinar

prioridades requer que o critério e as características das alternativas sejam comparadas. As

alternativas devem ser confrontadas entre si, em relação aos elementos do nível mais alto.

4- Elaboração de matriz de decisão

Para problemas em que não se pode ou não se tem condição de validar resultados por

meio de medições com instrumentos, o processo de comparação par-a-par é uma ferramenta

muito útil.

As comparações paritárias, em combinação com a estrutura hierárquica, são adequadas

à dedução de medidas, isto é, os pares de comparação são usados para estimar a escala

fundamental na qual os elementos de cada nível são medidos.

Classificação das Empresas Quanto ao Aspecto Inovação

Fatores internos às empresas.

Fatores externos às empresas.

Inesperado Incongruência Necessidade do Processo

Mudança na

Estrutura

Mudança Demográfica

Mudança de

Percepção

Conhecimento Novo

Empresas

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O Método AHP, após a divisão do problema em níveis hierárquicos, determina, de forma clara e por meio da síntese dos valores dos agentes de decisão, uma medida global para cada uma das alternativas, priorizando-as ou classificando-as ao finalizar o método.Depois de construir a hierarquia, cada decisor deve fazer uma comparação, par-a-par, de cada elemento em um nível hierárquico dado, criando-se uma matriz de decisão quadrada. Nessa matriz, o decisor representará, a partir de uma escala predefinida, sua preferência entre os elementos comparados, sob o enfoque de um elemento do nível imediatamente superior. Dito de outra forma, dado um elemento de um nível superior Ck, será feita a comparação dos elementos de um nível inferior Aj, em relação a Ck, gerando uma matriz quadrada de preferências. (GOMES, 2004. p. 42 – 43)

A quantificação dos julgamentos, necessária para medir o grau de importância do

elemento de um determinado nível sobre aqueles de nível inferior, pelo processo de

comparação par-a-par, é feita por intermédio da escala de valores de Saaty (Quadro 4.1).

(...) Assim, será gerada uma matriz quadrada similar à seguinte:

nnnn

n

n

aaa

aaaaaa

...:...::

...

...

21

22221

11211

Portanto, o decisor deverá fazer n(n-1)/2 comparações, sendo n o número de elementos do nível analisado. Na matriz quadrada, têm-se aji, para i = 1, 2, ..., n e j = 1, 2, ..., n. Essas matrizes são sempre matrizes recíprocas positivas. As comparações par-a-par são realizadas em todos os níveis hierárquicos.Denomina-se matriz dominante aquela que expressa o número de vezes em que uma alternativa domina ou é dominada pelas demais. É uma matriz quadrada, visto que as alternativas são comparadas par-a-par. A matriz dominante também é conhecida como matriz de decisão.Uma alternativa é considerada superior a outra se ela domina a outra alternativa em um número de fatores maior que o número de fatores nos quais a outra alternativa a domina.Cada elemento aji do vetor linha da matriz dominante representa a dominação da alternativa Ai sobre a alternativa Aj. A diagonal principal da matriz dominante é preenchida com um valor estipulado, que representa a não-dominância de uma alternativa sobre outra. (GOMES, 2004. p. 43)

Segundo Gomes (2004, p. 49), considerando-se uma matriz de decisão A, o método

AHP calcula resultados parciais dentro de cada critério ( ) ,,...1, njAv ji = denominado valor de

impacto da alternativa j em relação à alternativa i , em que esses resultados representam

valores numéricos das atribuições verbais dadas pelo decisor a cada comparação de

alternativas.

Para a obtenção do vetor prioridades ou de impacto das alternativas deve-se empregar

as seguintes expressões:

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Para a normalização dos resultados da matriz A utiliza-se: ( ) njAv ji ,...,1,1 ==∑ ,

onde n corresponde ao número de alternativas comparadas. (1)

Cada parte do somatório é expressa por:,)(

1∑

=

= n

iij

ijji

a

aAv j = 1,..., n (2)

O vetor prioridade da alternativa i em relação ao critério Ck

( ) ( ) ninAjviAivkn

j,...,1,

1

== ∑=

(3)

Destaca-se que o mesmo processo pode ser seguido para a obtenção do vetor

prioridades para os critérios dos diversos níveis.

Para ilustrar o procedimento supramencionado, será apresentada a matriz de decisão

estabelecida para os critérios de segundo nível (Quadro 4.2), e os subcritérios de terceiro nível

dos fatores internos (Quadro 4.3), bem como as circunstâncias que fundamentam a

importância relativa de cada critério.

Quadro 4.2 – Matriz de comparação de critérios de segundo nível

MATRIZ DE COMPARAÇÃO DE CRITÉRIOS DE SEGUNDO NÍVELFATORES INTERNOS FATORES EXTERNOS

FATORES INTERNOS 1 1/5FATORES EXTERNOS 5 1

Para os critérios do segundo nível, o decisor estabeleceu que os fatores externos são

mais importantes que os internos.

A maior importância dos fatores externos em relação aos internos é justificável por se

entender que a competitividade das empresas no mercado global depende,

preponderantemente, do desempenho nas fontes de inovação localizadas fora do ambiente de

produção.

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A respeito dos fatores externos, destaca-se o comentário sobre o resultado da Segunda

Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica (Pintec), proferido pela economista Mariana

Rebouças:

Outra informação relevante é que a criação aumentou mais em produtos do que em processos de produção. Ou seja, deu-se da porta da fábrica para fora. (...) A pesquisa indica uma mudança no patamar da competitividade da indústria brasileira. Em vez de concentrar todo o esforço em cortar custos e alterar processos de produção, a tendência é ganhar mercado diferenciando produtos50.

Aplicando-se as equações (2) e (3), obtêm-se as ponderações 0,833 para os fatores

externos e 0,167 para os fatores internos. Portanto, para o avaliador, os critérios externos são

cerca de cinco vezes mais significativos ( 99,4167,0833,0 = ), para fins de avaliação de

inovação, do que os fatores internos.

Quadro 4.3 – Matriz de comparação de fatores internos51

Inesperado Incongruência Necessidade do processoInesperado 1 2 4Incongruência 1/2 1 4Necessidade do processo 1/4 1/4 1

Ao ser normalizada essa matriz, segundo a equação (2), obtém-se:

Quadro 4.4 – Matriz de comparação de fatores internos normalizada

Inesperado Incongruência Necessidade do ProcessoInesperado 4/7 8/13 4/9Incongruência 2/7 4/13 4/9Necessidade do Processo 1/7 1/13 1/9

Aplicando-se a equação (3), obtém-se o vetor de prioridades, conforme se segue:

– Inesperado - (4/7 + 8/13 + 4/9)/3 = 0,544.

– Incongruência - (2/7 + 4/13 + 4/9)/3 = 0,346.

– Necessidade do Processo - (1/7 + 1/13 +1/9)/3 = 0,110.

Portanto, a ordem de prioridade dos subcritérios é Inesperado, Incongruência e

Necessidade do Processo.

50 REBOUÇAS, M. Segunda pesquisa industrial de inovação tecnológica. In: RYDLEWSKI, C. Os eleitos da inovação. Revista Veja, São Paulo, ano 38, n. 1912, p. 93, 6 jul. 2005.

51 As circunstâncias que fundamentam os pesos aplicados nessa matriz estão descritas na seção 4.3.

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5- Consistência e medida da inconsistência

Para testar a consistência das respostas, o que indica que os dados estão logicamente

relacionados, é necessário estimar o autovalor.

Seja n o número de elementos a serem comparados, λmax o autovalor de A e w o vetor

próprio correspondente ou vetor prioridades. Caso os juízos emitidos pelo decisor sejam

perfeitamente consistentes, têm-se λmax = n e aij = wi / wj (wi/wj é a importância relativa dos

elementos da linha de ordem i em relação aos elementos da coluna de ordem j). Contudo,

quase sempre se verifica alguma inconsistência nos juízos. Portanto, quanto mais próximo

estiver o valor de λmax de n, maior será a confiabilidade dos juízos.

Assim, sendo A a matriz quadrada de ordem n, com ℜ∈ija , será necessário encontrar

o vetor que satisfaça a equação:

wAw ×= maxλ (4)

Para obter o autovalor, tem-se:

[ ]i

in

ii w

Awvn ∑

=

=1

max1λ (5)

A será consistente se, e somente se, λmax ≥ n. Prova: No caso de A ser consistente,

então, quando for calculada a magnitude da perturbação da matriz A pela relação

( )( )1IC max

−−= n

nλ , o Índice de Consistência (IC) terá um valor menor que 0,1. (6)

No entanto, Saaty alerta em Gomes (2004, p. 47) para o seguinte aspecto:

É interessante ressaltar que os juízos apresentados, além de terem a possibilidade de violar a relação de consistência, podem não ser transitivos, isto é, se a importância relativa de Ci em relação a Cj fosse maior, e a importância de Cj em relação a Ck

fosse igualmente maior, a relação de importância de Ci não teria que ser necessariamente maior que Ck, que é uma idéia comum na mente humana.

Saaty propõe em Gomes (2004, p. 47) que o cálculo da Razão de Consistência (RC)

seja realizado pela equação:

IRICRC = (7)

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Segundo Gomes (2004, p. 47), o IC deve ser calculado pela equação (6) e o IR , por

sua vez, é um índice aleatório, calculado para matrizes quadradas de ordem n pelo

Laboratório Nacional de Oak Ridge. O IR é um índice de consistência randômico,

determinado por meio de experimentos e após tabelado, o qual representa o quão bem os

resultados obtidos dos julgamentos correspondem à realidade.

Alguns valores de IR são relacionados a seguir:

Quadro 4.5 – Valores do índice aleatório

VALORES DE IR PARA MATRIZES QUADRADAS DE ORDEM NN 2 3 4 5 6 7IR 0,0 0,58 0,90 1,12 1,24 1,32

FONTE: Gomes (2004, p.48).

No que se refere à Razão de Consistência ( RC ), quanto maior for seu valor, menor

será a consistência. Assim, quando n =2, RC é nulo; quando n =3, RC deve ser menor que

0,05; quando n =4, RC deve ser menor que 0,09. Em geral, uma inconsistência é considerada

aceitável para n > 4, quando RC ≤ 0,10.

6- Síntese do processo

Para fins de uma melhor visualização do processo, é apresentada, no quadro a seguir,

uma representação esquemática de cada etapa de operacionalização do método.

Quadro 4.6 – AHP passo a passo

Modelo hierárquico Matriz de comparação

Verificação de consistência Pesos relativos

Priorização das alternativas

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4.3 LEVANTAMENTO DE DADOS SOBRE AS EMPRESAS

Considerando a necessidade de preservar as fontes que contribuíram no processo de

levantamento de dados, serão omitidos os nomes das empresas participantes para fins de

elaboração da análise em foco.

Quanto aos critérios adotados, estipulou-se que só seriam analisados os Acordos de

Offset que tiveram por objetivo a transferência de tecnologia para uma empresa nacional.

Para a seleção dos respondentes, foi definido que os questionários deveriam ser

preenchidos por pessoas que tivessem participado diretamente do processo de negociação ou

de implementação do offset e que tivessem um tempo de permanência na empresa que lhes

possibilitassem conhecer e acompanhar a condução das estratégias de gestão aplicadas aos

negócios com offset, havendo situação em que o próprio presidente da empresa respondeu as

perguntas do pesquisador.

Outro critério relevante para a padronização das informações apuradas, o qual limitou

o número de participantes na pesquisa, foi o de consultar apenas as empresas que já tivessem

chegado ao término de todo o processo de implementação das obrigações com offset, o qual

pode demorar algo entre cinco e dez anos para ser concluído. Tal fato implicou a exclusão de

todas as empresas nacionais que estão participando dos Acordos de Offset decorrentes dos

diversos Projetos do PFCEAB, haja vista que o Programa em foco só começou a ser

executado a partir de 2000.

Também cabe ressaltar que foi recomendado aos respondentes observar a necessidade

de se avaliar o desempenho de cada organização à época da vigência do offset, visando, com

isso, evitar distorções entre as características da empresa em um determinado período e o

resultado em termos de inovação.

Em relação às inovações desenvolvidas pelas empresas nacionais, foi informado aos

participantes da pesquisa que os produtos e serviços diretamente ligados à capacitação

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recebida da fornecedora estrangeira não deveriam ser relacionados como uma atividade

inovadora, haja vista que não representa a ocorrência de spin off.

Quanto ao entendimento do termo “inovação”, no contexto da atividade industrial,

todos os pesquisados reportaram a compreensão de se tratar de um empreendimento que

demanda um trabalho sistemático para ser alcançado. Tal procedimento teve por objetivo

evitar interpretação diferente daquela preconizada no âmbito desta pesquisa e possibilitar uma

reorientação oportuna.

Sob o ponto de vista estratégico da empresa, ligado ao compromisso da direção com o

futuro da organização, fator que, segundo Deming (1990, p. 20), é fundamental para que a

inovação prospere, foi identificado que das sete empresas pesquisadas, três (D, F e G)

reportaram possuir visão gerencial de curto e longo prazo e as demais afirmaram manter uma

visão de longo prazo, alinhada com o objetivo estratégico de desenvolver novos produtos e

serviços que permitirão atender a novos mercados.

Para fins de apresentação das informações constantes nos questionários, serão

estabelecidas três etapas distintas para cada empresa. Na primeira etapa, serão apresentadas as

características gerais das empresas e do Acordo de Offset executado. Na segunda etapa, será

transcrita a visão que o respondente atribui para a sua empresa no que se refere aos objetivos

estratégicos. Na terceira etapa, apresentar-se-ão as informações quantitativas afetas ao

desempenho da empresa relacionado às sete fontes de inovação descritas por Drucker (1986,

p. 46).

Em relação à primeira empresa, que, no contexto dessa pesquisa, será denominada

“Empresa A”, seus negócios são focados no desenvolvimento e aplicação de tecnologias do

conhecimento, que agreguem valor para o negócio de seus clientes, e que contribuam para o

desenvolvimento nacional.

Seus objetivos são:

– promover a realização de estudos e pesquisas de desenvolvimento científico, tecnológico e industrial, nas áreas de tecnologias críticas, especialmente nos campos

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aeroespacial, de sistemas de defesa, de telecomunicações, de energia, de meios de transporte e de ciências ambientais e atmosféricas;– promover a realização de estudos, pesquisas e desenvolvimento de projetos e produtos para aplicação na proteção e vigilância do território nacional e do seu meio ambiente, compreendendo as ações e etapas desde a concepção, especializações e desenvolvimento de projetos básicos e executivos, até o desenvolvimento de produtos e equipamentos dedicados, em cooperação com a indústria nacional, incluindo sofwares básicos e aplicativos necessários ou resultantes;– atender às demandas dos setores público e privado, nas mesmas áreas, com base nos conhecimentos especializados desenvolvidos e incorporados, inclusive mediante a realização de trabalhos e execução de projetos e programas e a operação de infra-estruturas afetas aos interesses estratégicos nacionais;– promover a formação e o aperfeiçoamento de recursos humanos nas áreas de interesse; e– colaborar com as instituições nacionais, públicas ou privadas, cujas finalidades contemplem os objetivos estabelecidos e outros objetivos de independência estratégica do País.52

O respondente informou que o Acordo de Offset executado pela empresa tinha por

objetivo a absorção de tecnologia do Programa SIVAM e que o empreendimento resultou em

novos produtos, desenvolvidos no período compreendido entre o ano de 2001 e 2002,

conforme é apresentado a seguir:

1 - Sistema Inteligente de Monitoramento e Investigação para processamento de

imagens;

2 - Radar Meteorológico; e

3 - Suíte Integrada para Gestão.

Em relação às respostas de caráter quantitativo, transcreve-se no quadro a seguir a

avaliação estabelecida pelo respondente53, na qual a cada fonte de inovação é atribuído um

grau representativo do nível de esforço da empresa para explorar a fonte respectiva.

Dessa forma, o grau “0” é atribuído às empresas que não buscam explorar essa fonte

de inovação, o grau “1” àquelas empresas que apresentam baixo nível de esforço na

exploração da fonte, o grau “2” àquelas que apresentam um nível médio de esforço e o grau

“3” às empresas que apresentam um alto nível de esforço.

Quadro 4.7 – Avaliação de desempenho da Empresa A

52 Informações obtidas no endereço eletrônico da empresa na internet.

53 Referente às questões de n° 6 a n° 11 do questionário constante no Apêndice 2.

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Fontes de Inovação Avaliação de Desempenho0 1 2 3

Circunstância inesperada XIncongruência XNecessidade do processo XMudança na estrutura XMudança demográfica XMudança de percepção XConhecimento novo XFONTE: Resposta ao questionário encaminhado à empresa.

A empresa denominada de “Empresa B” tem seu foco de negócios voltado para a

manutenção, as grandes recuperações e as modificações em aeronaves, a comercialização de

aviões, de peças e de equipamentos dos principais fabricantes de material aeronáutico do

mundo.

No seu parque de manutenção, são realizados serviços de inspeção, revisão e

manutenção de muitos modelos de aeronaves de pequeno e médio porte por intermédio de

seções especializadas. A empresa também projeta e produz poltronas para diferentes modelos

de aeronaves, alvos aéreos para atender à Força Aérea e produz estruturas metálicas e de

material composto para fabricantes de aeronaves.54

No que tange aos resultados afetos à empresa, o respondente informou que o Acordo

de Offset executado tinha por objetivo a absorção de tecnologia para a fabricação de

aeronaves de pequeno porte em material composto e que o empreendimento resultou em

novos produtos, desenvolvidos no período compreendido entre o ano de 1993 e 2001,

conforme é apresentado a seguir:

1- desenvolvimento de aeronave de pequeno porte com motor de 81 hp;

2- desenvolvimento de aeronave de pequeno porte com motor de 100 hp;

3- desenvolvimento de aeronave de pequeno porte com motor de 115 hp; e

4- desenvolvimento de aeronave de treinamento com trem de pouso triciclo fixo e

motor de 115 hp.

54 Informações obtidas no endereço eletrônico da empresa na internet.

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Em relação às respostas de caráter quantitativo, transcreve-se no quadro a seguir a

avaliação estabelecida pelo respondente.

Quadro 4.8 – Avaliação de desempenho da Empresa B

Fontes de Inovação Avaliação de Desempenho0 1 2 3

Circunstância inesperada XIncongruência XNecessidade do processo XMudança na estrutura XMudança demográfica XMudança de percepção XConhecimento novo XFONTE: Resposta ao questionário encaminhado à empresa.

A empresa denominada de “Empresa C” tem seu foco de negócios no setor de

telecomunicações e de rádio-navegação, tendo desenvolvido também radares embarcados e

radares meteorológicos.

O respondente pela empresa informou que o Acordo de Offset executado tinha por

objetivo a transferência de tecnologia para a empresa nacional, com vistas à industrialização

de radares embarcáveis em aeronaves de combate e que o empreendimento resultou em novos

produtos, desenvolvidos no período compreendido entre o ano de 1988 e 1994, conforme é

apresentado a seguir:

1- desenvolvimento de metodologia para o setor de Engenharia de Projeto e

Engenharia de Processo que facilitou a entrada da empresa no setor Espacial; e

2- sedimentação da empresa na área de equipamentos embarcáveis.

Em relação às respostas de caráter quantitativo, transcreve-se no quadro a seguir a

avaliação estabelecida pelo respondente.

Quadro 4.9 – Avaliação de desempenho da Empresa C

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Fontes de Inovação Avaliação de Desempenho0 1 2 3

Circunstância inesperada XIncongruência XNecessidade do processo XMudança na estrutura XMudança demográfica XMudança de percepção XConhecimento novo XFONTE: Resposta ao questionário encaminhado à empresa.

A empresa denominada de “Empresa D” tem seu foco de negócios voltado para

projetos de alto teor tecnológico, atuando nas seguintes áreas:

– automação industrial;

– médica;

– aeronáutica;

– espacial; e

– defesa.

A empresa está plenamente capacitada para o desenvolvimento e fabricação de

sistemas inteligentes de defesa, tendo um quadro de funcionários distribuídos em áreas de

engenharia, projeto, manufatura e administração.55

Com relação aos resultados obtidos pela empresa, o respondente informou que o

Acordo de Offset executado tinha por objetivo a capacitação para o desenvolvimento conjunto

de partes de um radar embarcado em aeronave de combate.

Foi reportado também que o compromisso de offset da empresa ofertante havia sido

cumprido com outra empresa brasileira que não a Empresa D, contudo, considerando a

interrupção das atividades daquela empresa nacional e a subcontratação da Empresa D pela

ofertante, para a finalização do desenvolvimento e fabricação de partes do mesmo radar, tendo

contratado, para esse fim, os recursos humanos da primeira beneficiária do offset; julga-se,

portanto, que a Empresa D é uma beneficiária indireta do offset em tela, o que torna

perfeitamente adequada a sua experiência ao objetivo desta pesquisa.55 Informações obtidas no endereço eletrônico da empresa na internet.

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A Empresa D, por intermédio da capacitação dos recursos humanos mencionados

anteriormente, no âmbito do Acordo de Offset, foi capaz de desenvolver novos produtos em

um período compreendido entre o ano de 2002 e 2005, conforme é apresentado a seguir:

1– modificação no processo de montagem do dispositivo de movimentação de radar

com resultados significativos em termos de precisão do apontamento;

2– montagem de linha de produção de radares; e

3– montagem de linha de produção de míssil.

Em relação às respostas de caráter quantitativo, transcreve-se no quadro a seguir a

avaliação estabelecida pelo respondente.

Quadro 4.10 – Avaliação de desempenho da Empresa D

Fontes de Inovação Avaliação de Desempenho0 1 2 3

Circunstância inesperada XIncongruência XNecessidade do processo XMudança na estrutura XMudança demográfica XMudança de percepção XConhecimento novo XFONTE: Resposta ao questionário encaminhado à empresa.

A empresa denominada de “Empresa E” tem seu foco de negócios no mercado

aeroespacial, nos segmentos de aviação regional, aviação executiva, comercial e de defesa, a

empresa utiliza tecnologia de ponta para desenvolver, produzir e fornecer suporte pós-venda

para seus produtos principais : sistemas de trem de pouso, componentes hidráulicos e

eletromecânicos, tais como atuadores, acumuladores e pilones.56

O respondente pela empresa informou que o Acordo de Offset executado tinha por

objetivo a transferência de tecnologia para a empresa nacional com vistas à fabricação de trem

de pouso principal, de equipamentos hidráulicos necessários para o acionamento do trem de

pouso (válvulas e atuadores), roda, freio, sistema de antitravamento (anti-skid), válvulas de

combustível e sistema de alijamento para a aeronave AM-X. Destacou também que o 56 Informações obtidas no endereço eletrônico da empresa na internet.

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empreendimento resultou em novos produtos, desenvolvidos no período compreendido entre

o ano de 1987 e 2005, conforme é apresentado a seguir:

1– desenvolvimento, qualificação e fabricação de trem de pouso para a aeronave

CBA-123;

2– desenvolvimento, qualificação e fabricação de trem de pouso para a aeronave

EMB-145;

3– desenvolvimento, qualificação e fabricação de trem de pouso para a aeronave EMB

-314;

4– desenvolvimento, qualificação e fabricação de trem de pouso para a aeronave EMB

-170;

5– desenvolvimento, qualificação e fabricação de trem de pouso para a aeronave EMB

-190;

6– desenvolvimento, qualificação e fabricação de trem de pouso para a aeronave S-92;

7– desenvolvimento, qualificação e fabricação de trem de pouso para a aeronave

RAH-66;

8– fabricação de trem de pouso para a aeronave EMB -312;

9– fabricação de trem de pouso para a aeronave Global Express;

10– fabricação de trem de pouso para a aeronave Airmacchi M-346;

11– desenvolvimento de componentes hidráulicos para a aeronave EMB-312;

12– desenvolvimento de componentes hidráulicos para a aeronave EMB-120;

13– desenvolvimento de componentes hidráulicos para a aeronave EMB-110;

14– desenvolvimento de componentes hidráulicos para a aeronave EMB-145;

15– desenvolvimento de componentes hidráulicos para a aeronave EMB-170;

16– desenvolvimento de componentes hidráulicos para a aeronave EMB-314;

17– desenvolvimento de componentes hidráulicos para a aeronave S-92;

18– projeto de pilones para EMB-314; e

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90

19– fabricação de atuadores hidráulicos da aeronave Airbus 320.

Em relação às respostas de caráter quantitativo, transcreve-se no quadro a seguir a

avaliação estabelecida pelo respondente.

Quadro 4.11 – Avaliação de desempenho da Empresa E

Fontes de Inovação Avaliação de Desempenho0 1 2 3

Circunstância inesperada XIncongruência XNecessidade do processo XMudança na estrutura XMudança demográfica XMudança de percepção XConhecimento novo XFONTE: Resposta ao questionário encaminhado à empresa.

A empresa denominada de “Empresa F” tem seu foco de negócios voltado para a

revisão e reparo de motores aeronáuticos, seus acessórios e peças.

O respondente pela empresa informou que o Acordo de Offset executado tinha por

objetivo a fabricação de partes e peças do motor Rolls & Royce Spey Mk 807 e que o

empreendimento resultou em novos produtos, desenvolvidos no período compreendido entre

o ano de 1985 e 1991, conforme é apresentado a seguir:

1– fabricação de combustion case para motores RR trent;

2– fabricação de LPT blades para motores RR trent;

3– fabricação de ring T5 para motores PWC PT6;

4– fabricação de HPC case para motores CFM-56-7;

5– fabricação de shroud LPT para motor GE CF6-80C;

6– fabricação de peça para motor GARRET;

7– fabricação de peça para motor SNECMA;

8– fabricação de peça para motor TURBOMECA;

9– fabricação de blades para turbina da Petrobras;

10– aplicação de solda em teto de caminhões Mercedez-Benz (solda TIG linear);

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91

11– aplicação de laser drilling CNC em painel de instrumentos para caminhões

Mercedez-Benz;

12– banhos galvanoplásticos para a Gillete do Brasil;

13– metalização (plasma spray);

14– afiamento de facas industriais rotativas;

15– TND em mangas de eixo de ônibus; e

16– implementação de programa de reparo de peças de turbinas estacionárias e

compressoras para a Petrobras.

Em relação às respostas de caráter quantitativo, transcreve-se no quadro a seguir a

avaliação estabelecida pelo respondente.

Quadro 4.12 – Avaliação de desempenho da Empresa F

Fontes de Inovação Avaliação de Desempenho0 1 2 3

Circunstância inesperada XIncongruência XNecessidade do processo XMudança na estrutura XMudança demográfica XMudança de percepção XConhecimento novo XFONTE: Resposta ao questionário encaminhado à empresa.

Quanto aos resultados afetos à empresa denominada de “Empresa G” tem seu foco de

negócios voltado para o provimento de projetos, a fabricação, a comercialização e o pós-

venda de aeronaves.57

O respondente pela empresa informou que o Acordo de Offset executado tinha por

objetivo a absorção de tecnologia para o desenvolvimento e integração de sistemas aviônicos

e de software embarcado em aeronave militar e que o empreendimento resultou em novos

produtos, desenvolvidos no período compreendido entre o ano de 1982 e 1998, conforme é

apresentado a seguir:

57 Informações obtidas no endereço eletrônico da empresa na internet.

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92

1– desenvolvimento de sistemas aviônicos incluindo a definição, especificação,

integração e teste em solo e em vôo;

2– desenvolvimento de software de missão embarcados;

3– desenvolvimento rigs de integração de sistemas;

4– desenvolvimento de estações de planejamento de missão;

5– desenvolvimento de simuladores;

6– desenvolvimento de estações de debrifim; e

7– qualificação de equipamentos.

Em relação às respostas de caráter quantitativo, transcreve-se no quadro a seguir a

avaliação estabelecida pelo respondente.

Quadro 4.13 – Avaliação de desempenho da Empresa G

Fontes de Inovação Avaliação de Desempenho0 1 2 3

Circunstância inesperada XIncongruência XNecessidade do processo XMudança na estrutura XMudança demográfica XMudança de percepção XConhecimento novo XFONTE: Resposta ao questionário encaminhado à empresa.

4.4 AVALIAÇÃO DAS EMPRESAS SEGUNDO A CAPACIDADE DE INOVAR

Para proceder as comparações paritárias, estabelecendo a relação de importância entre

os subcritérios do critério “fatores internos”, considerou-se que as fontes de inovação foram

apresentadas, conforme afirma Drucker (1986, p. 47), em uma ordem crescente em termos de

risco e de incerteza. Também é assumido o fato de que o tempo de implementação das

inovações aumenta conforme nos afastamos da primeira fonte de inovação para a última.

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93

As avaliações do decisor também tomaram em consideração a análise de dados

realizada na Segunda Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística, que identificou um acréscimo nas inovações em produtos, ou seja, da

porta da fábrica para fora.

O resultado dessa pesquisa é transcrito a seguir: “A pesquisa indica uma mudança no

patamar da competitividade da indústria brasileira. Em vez de concentrar todo o esforço em

cortar custos e alterar processos de produção, a tendência é ganhar mercado diferenciando

produtos58”.

Tomando por base os aspectos apresentados e as comparações já estabelecidas na

seção 4.2 (Aplicação do Método AHP), para os subcritérios de terceiro nível, relacionados aos

fatores internos, chegou-se à seguinte ordem de prioridade: Inesperado, Incongruência e

Necessidade do Processo.

Posteriormente, deve ser calculada a Razão de Consistência (RC) dos juízos realizados

pelo decisor, conforme discriminado a seguir:

Ao aplicar-se a equação (4) obtém-se: 33,005,166,1

11,034,054,0

14/14/1412/1421

=×=Aw .

Ao aplicar-se a equação (5) obtém-se: 054,311,033,0

34,005,1

54,066,1

31

max =

⊕⊕=λ .

Ao aplicar-se a equação (6) obtém-se ( )( )1IC max

−−= n

nλ = (3,054 – 3)/(3-1) =

0,027.

Dado que n = 3 e que o índice aleatório, IR, associado é 0,58 (Quadro 4.2), calcula-se

o valor de RC:

RC = IC/IR = 0,027/0,58 = 0,047

58 RYDLEWSKI, C. Os eleitos da inovação. Revista Veja, São Paulo, ano 38, n. 1912, p. 93, 6 jul. 2005.

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94

Considerando que RC deve ficar abaixo de 0,05 para ser considerado aceitável, logo a

inconsistência dos juízos emitidos pelo decisor está dentro dos parâmetros previstos.

Em relação ao julgamento sobre as alternativas ligadas ao critério “fatores externos”,

considerou-se não só os aspectos afetos ao incremento de custos e riscos, os quais seguem a

mesma lógica descrita para o critério “fatores internos”, mas também as peculiaridades afetas

ao setor aeroespacial.

Trata-se de um segmento de mercado que busca produtos e serviços de alta tecnologia

e confiabilidade e que é caracterizado pela concorrência forte entre produtores internacionais.

Nesse segmento, a produção de riqueza flui, inicialmente, da inovação radical e não

tanto do aperfeiçoamento de técnicas e produtos já conhecidos.

A empresa que traz uma novidade ao mercado ganha um prêmio extra por chegar

primeiro; contudo, essa vantagem não dura para sempre. Outros tentarão imitá-la num

ambiente em que há grande competitividade.

Assim sendo, considerando-se as informações supracitadas e a escala de comparação

de elementos, constante no Quadro 4.1, chega-se ao vetor de pesos apresentados no quadro a

seguir:

Quadro 4.14 – Matriz de comparação de fatores externos

Matriz de comparação dos subcritérios do critério fatores externosMudança na

EstruturaMudança

DemográficaMudança de Percepção

Conhecimento Novo

Mudança na Estrutura 1 3 3 1/3

Mudança demográfica 1/3 1 2 1/3

Mudança de percepção 1/3 1/2 1 1/3

Conhecimento novo 3 3 3 1

Para que a matriz seja normalizada (Quadro 4.15), emprega-se a equação (2),

conforme discriminado a seguir:

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95

Quadro 4.15 – Matriz de comparação de subcritérios normalizada

Mudança na Estrutura

Mudança Demográfica

Mudança de Percepção

Conhecimento Novo

Mudança na Estrutura 3/14 2/5 3/9 1/6

Mudança demográfica 1/14 2/15 2/9 1/6

Mudança de percepção 1/14 1/15 1/9 1/6

Conhecimento novo 9/14 2/5 3/9 1/2

FONTE: Informações do questionário de pesquisa.

O vetor prioridades é então obtido pela aplicação da equação (3), conforme se segue:

– Mudança na estrutura - (3/14 + 2/5 + 3/9 + 1/6)/4 = 0,278.

– Mudança demográfica - (1/14 + 2/15 + 2/9 + 1/6)/4 = 0,148.

– Mudança de percepção - (1/14 + 1/15 + 1/9 + 1/6)/4 = 0,104.

– Conhecimento novo - (9/14 + 2/5 + 3/9 + 1/2)/4 = 0,469.

Portanto, a ordem de prioridade dos subcritérios é Conhecimento Novo, Mudança na

Estrutura, Mudança Demográfica e Mudança de Percepção.

Para fins de verificação da Razão de Consistência dos juízos realizados pelo decisor,

serão empregadas as equações (4), (5) e (6), conforme discriminado a seguir:

245,8709,1421,2766,4

876,1416,0593,0114,1

13333/112/13/13/1213/13/1331

=×=Aw

22,4876,1245,8

416,0709,1

593,0421,2

114,1776,4

41

max =

⊕⊕⊕=λ

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96

( )( )1IC max

−−= n

nλ = (4,22– 4)/(4-1) = 0,07

Dado que n = 4 e que o índice aleatório, IR, associado é 0,9 (Quadro 4.2), calcula-se o

valor de RC:

RC = IC/IR = 0,07/0,9 = 0,078.

Considerando que para n = 4 o RC deve ser menor que 0,09, conforme estabelece

Gomes (2004, p. 48); portanto, a inconsistência dos juízos emitidos pelo decisor é aceitável.

Tomando por base as respostas aos questionários encaminhados às empresas e

apresentadas anteriormente, proceder-se-á as comparações entre as prioridades de cada

alternativa (empresa) em relação a cada subcritério de terceiro nível.

O desempenho de cada empresa em função dos subcritérios de terceiro nível é medido

por intermédio de uma relação estabelecida entre os graus atribuídos pelos respondentes dos

questionários, que variam de “0” a “3” e a escala de comparação de elementos de Saaty

(1991, p. 67), conforme é descrito no Quadro 4.16 a seguir:

Quadro 4.16 – Escala de equivalência

Diferença entre os graus atribuídos pelos respondentes.

Escala de comparação. Significado

Nenhuma 1 Igual importância1 3 Importância pequena de uma sobre a outra 2 5 Importância grande ou essencial3 7 Importância muito grande ou demonstrada

Com o resultado da equivalência entre o resultado dos questionários e os graus da

escala de comparação de elementos (Quadro 4.1), será possível produzir as matrizes de

comparação das empresas, com base nos subcritérios de terceiro nível.

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97

Subcritério “Circunstância Inesperada”:

Matriz de comparação das alternativas segundo o “Inesperado”.Emp. A Emp. B Emp. C Emp. D Emp. E Emp. F Emp.G

Emp. A 1 1 3 1 1 1 1Emp. B 1 1 3 1 1 1 1Emp. C 1/3 1/3 1 1/3 1/3 1/3 1/3Emp. D 1 1 3 1 1 1 1Emp. E 1 1 3 1 1 1 1Emp. F 1 1 3 1 1 1 1Emp. G 1 1 3 1 1 1 1

FONTE: Informações do questionário de pesquisa.

Os vetores prioridades das alternativas, comparadas segundo o subcritério

“Circunstância Inesperada”, empregando-se as equações (2) e (3), são 0,158 para as empresas

A, B, D, E, F e G e 0,053 para a empresa C.

Subcritério “Incongruência”:

Matriz de comparação das alternativas segundo a “Incongruência”.Emp. A Emp. B Emp. C Emp. D Emp. E Emp. F Emp.G

Emp. A 1 3 3 5 1 3 1Emp. B 1/3 1 1 3 1/3 1 1/3Emp. C 1/3 1 1 3 1/3 1 1/3Emp. D 1/5 1/3 1/3 1 1/5 1/3 1/5Emp. E 1 3 3 5 1 3 1Emp. F 1/3 1 1 3 1/3 1 1/3Emp. G 1 3 3 5 1 3 1

FONTE: Informações do questionário de pesquisa.

Os vetores prioridades das alternativas, comparadas segundo o subcritério

“Incongruência”, empregando-se as equações (2) e (3), são 0,235 para as empresas A, E e G,

0,086 para as empresas B, C e F e 0,046 para a empresa D.

Subcritério “Necessidade do Processo”:

Matriz de comparação das alternativas segundo a “Necessidade do Processo”.Emp. A Emp. B Emp. C Emp. D Emp. E Emp. F Emp.G

Emp. A 1 3 5 1 1 3 3Emp. B 1/3 1 3 1/3 1/3 1 1Emp. C 1/5 1/3 1 1/5 1/5 1/3 1/3Emp. D 1 3 5 1 1 3 3Emp. E 1 3 5 1 1 3 3Emp. F 1/3 1 3 1/3 1/3 1 1Emp. G 1/3 1 3 1/3 1/3 1 1

FONTE: Informações do questionário de pesquisa.

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98

Os vetores prioridades das alternativas, comparadas segundo o subcritério

“Necessidade do Processo”, empregando-se as equações (2) e (3), são 0,308 para a empresas

D, 0,235 para as empresas A e E, 0,086 para as empresas B, F e G e 0,038 para a empresa C.

Subcritério “Mudança de Estrutura”:

Matriz de comparação das alternativas segundo a “Mudança na Estrutura”Emp. A Emp. B Emp. C Emp. D Emp. E Emp. F Emp.G

Emp. A 1 3 3 3 3 5 3Emp. B 1/3 1 1 1 1 3 1Emp. C 1/3 1 1 1 1 3 1Emp. D 1/3 1 1 1 1 3 1Emp. E 1/3 1 1 1 1 3 1Emp. F 1/5 1/3 1/3 1/3 1/3 1 1/3Emp. G 1/3 1 1 1 1 3 1

FONTE: Informações do questionário de pesquisa.

Os vetores prioridades das alternativas, comparadas segundo o subcritério “Mudança

de Estrutura”, empregando-se as equações (2) e (3), são 0,341 para a empresa A, 0,141 para a

empresa D, 0,123 para as empresas B, C, E e G e 0,045 para a empresa F.

Subcritério “Mudança demográfica”:

Matriz de comparação das alternativas segundo a “Mudança Demográfica”.Emp. A Emp. B Emp. C Emp. D Emp. E Emp. F Emp.G

Emp. A 1 1/5 1 1/5 1/3 1 1/5Emp. B 5 1 5 1 3 5 1Emp. C 1 1/5 1 1/5 1/3 1 1/5Emp. D 5 1 5 1 3 5 1Emp. E 3 1/3 3 1/3 1 3 1/3Emp. F 1 1/5 1 1/5 1/3 1 1/5Emp. G 5 1 5 1 3 5 1

FONTE: Informações do questionário de pesquisa.

Os vetores prioridades das alternativas, comparadas segundo o subcritério “Mudança

Demográfica”, empregando-se as equações (2) e (3), são 0,333 para a empresa D, 0,250 para

as empresas B e G, 0,111 para a empresa E e 0,047 para as empresas A, C e F.

Page 101: OFFSET: O EXEMPLO DO SETOR AEROESPACIAL BRASILEIRO · 2018-11-09 · implementação de exigências de transferência de tecnologia, com resultados bastante expressivos em termos

99

Subcritério “Mudança de percepção”:

Matriz de comparação das alternativas segundo a “Mudança de Percepção”.Emp. A Emp. B Emp. C Emp. D Emp. E Emp. F Emp.G

Emp. A 1 1/3 1 1/3 1 1 1/3Emp. B 3 1 3 1 3 3 1Emp. C 1 1/3 1 1/3 1 1 1/3Emp. D 3 1 3 1 3 3 1Emp. E 1 1/3 1 1/3 1 1 1/3Emp. F 1 1/3 1 1/3 1 1 1/3Emp. G 3 1 3 1 3 3 1

FONTE: Informações do questionário de pesquisa.

Os vetores prioridades das alternativas, comparadas segundo o subcritério “Mudança

de Percepção”, empregando-se as equações (2) e (3), são 0,305 para a empresa D, 0,231 para

as empresas B e G, 0,077 para as empresas A, C, E e F.

Subcritério “Conhecimento Novo”:

Matriz de comparação das alternativas segundo o “Conhecimento Novo”.Emp. A Emp. B Emp. C Emp. D Emp. E Emp. F Emp.G

Emp. A 1 1 1 1/3 1 1/3 1/3Emp. B 1 1 1 1/3 1 1/3 1/3Emp. C 1 1 1 1/3 1 1/3 1/3Emp. D 3 3 3 1 3 1 1Emp. E 1 1 1 1/3 1 1/3 1/3Emp. F 3 3 3 1 3 1 1Emp. G 3 3 3 1 3 1 1

FONTE: Informações do questionário de pesquisa.

Os vetores prioridades das alternativas, comparadas segundo o subcritério

“Conhecimento Novo”, empregando-se as equações (2) e (3), são 0,305 para a empresa D,

0,231 para as empresas F e G, 0,077 para as empresas A, B, C e E.

Desse modo, os pesos atribuídos aos critérios e às alternativas pelo Método AHP

Clássico são apresentados no Quadro 4.17 a seguir:

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Quadro 4.17 – Atribuição de pesos

Critério Fatores internos Fatores externosPeso 0,167 0,833

Subcritério Inesperado Incongruência Necessidade do Processo

Mudança na

Estrutura

Mudança Demográfica

Mudança de

Percepção

C. Novo

Peso 0,544 0,346 0,110 0,278 0,148 0,104 0,469

Alternativa Pesos

Emp. A 0,158 0,235 0,235 0,341 0,047 0,077 0,077Emp. B 0,158 0,086 0,086 0,123 0,250 0,231 0,077Emp. C 0,053 0,086 0,038 0,123 0,047 0,077 0,077Emp. D 0,158 0,046 0,308 0,141 0,333 0,305 0,305Emp. E 0,158 0,235 0,235 0,123 0,111 0,077 0,077Emp. F 0,158 0,086 0,086 0,045 0,047 0,077 0,231Emp. G 0,158 0,235 0,086 0,123 0,250 0,231 0,231

Para se obter os valores finais de cada alternativa, emprega-se um processo de

agregação e ordenamento fundamentado na seguinte função aditiva:

( ) ( ) ( ) ,,...,1,1

njAvCwAf jii

m

ij =×= ∑

= onde n corresponde ao número de

alternativas, m ao número de critérios de um mesmo nível e w é o vetor prioridades do

critério iC .

Empresa A - 0,158 x 0,544 x 0,167 +0,235 x 0,346 x 0,167 +0,235 x 0,110 x 0,167 +0,341 x 0,278 x 0,833 +0,047 x 0,148 x 0,833 +0,077 x 0,104 x 0,833 +0,077 x 0,469 x 0,833 = 0,154

Empresa B - 0,158 x 0,544 x 0,167 +0,086 x 0,346 x 0,167 +0,086 x 0,110 x 0,167 +0,123 x 0,278 x 0,833 +0,250 x 0,148 x 0,833 +0,231 x 0,104 x 0,833 +0,077 x 0,469 x 0,833 = 0,130

Empresa C - 0,053 x 0,544 x 0,167 +0,086 x 0,346 x 0,167 +

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101

0,038 x 0,110 x 0,167 +0,123 x 0,278 x 0,833 +0,047 x 0,148 x 0,833 +0,077 x 0,104 x 0,833 +0,077 x 0,469 x 0,833 = 0,082

Empresa D - 0,158 x 0,544 x 0,167 +0,046 x 0,346 x 0,167 +0,308 x 0,110 x 0,167 +0,141 x 0,278 x 0,833 +0,333 x 0,148 x 0,833 +0,305 x 0,104 x 0,833 +0,305 x 0,469 x 0,833 = 0,242

Empresa E - 0,158 x 0,544 x 0,167 +0,235 x 0,346 x 0,167 +0,235 x 0,110 x 0,167 +0,123 x 0,278 x 0,833 +0,111 x 0,148 x 0,833 +0,077 x 0,104 x 0,833 +0,077 x 0,469 x 0,833 = 0,111

Empresa F - 0,158 x 0,544 x 0,167 +0,086 x 0,346 x 0,167 +0,086 x 0,110 x 0,167 +0,045 x 0,278 x 0,833 +0,047 x 0,148 x 0,833 +0,077 x 0,104 x 0,833 +0,231 x 0,469 x 0,833 = 0,134

Empresa G - 0,158 x 0,544 x 0,167 +0,235 x 0,346 x 0,167 +0,086 x 0,110 x 0,167 +0,123 x 0,278 x 0,833 +0,250 x 0,148 x 0,833 +0,231 x 0,104 x 0,833 +0,231 x 0,469 x 0,833 = 0,199

Ao serem observados os resultados apresentados anteriormente, constata-se que a

classificação das empresas, em ordem decrescente em termos de potencial de inovação, é a

estabelecida no Quadro 4.18 a seguir:

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102

Quadro 4.18 – Classificação das empresas

Alternativa PontuaçãoEmpresa D 0,242Empresa G 0,199Empresa A 0,154Empresa F 0,134Empresa B 0,130Empresa E 0,111Empresa C 0,082

No que se relaciona às inovações, não é possível considerá-las como um parâmetro

para comparação com o resultado da metodologia aplicada. Isso se deve ao fato de o período

de ocorrência das inovações variar de 2 a 17 anos entre as empresas estudadas, razão pela qual

não cabe estabelecer uma média de inovações por empresas, haja vista o fato de não ser

comprovada a existência de uma linearidade de ocorrência de inovações no tempo.

Não obstante essas observações, o resultado apurado nas empresas demonstra que a

atividade de offset, conduzida pela Aeronáutica, acarretou inovações nas empresas que

contribuíram para a consolidação de suas atividades nos mercados interno e externo, graças ao

efeito spin off originado na transferência de tecnologia, conforme ficou constatado nas

respostas aos questionários de pesquisa.

Em todos os sete casos analisados, constatou-se que o conhecimento absorvido por

meio de offset contribuiu para a diversificação de produtos e serviços oferecidos por essas

empresas.

Por outro lado, ao ser analisado o desempenho das empresas pela aplicação do

método, e considerando aspectos relativos à participação dessas empresas no mercado, o

resultado final alcançado, em termos de capacidade inovadora, vem ao encontro de aspectos

levantados por Weber (1991, p. 56), referentes à orientação econômica das empresas em

função do mercado.

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103

Todo cálculo racional em dinheiro, e particularmente por isso, todo cálculo de capital, em caso de aquisição no mercado, está orientado pelas oportunidades de preços provindas da luta de preços e de concorrência e de compromisso entre interesses diversos que ocorrem no mercado. (WEBER, 1991, p. 57)

Para Weber (1991, p.58), a luta entre homens no mercado, como condição da

existência do cálculo racional em dinheiro, pressupõe a influência decisiva do resultado pela

possibilidade de oferecer preços mais elevados, para o caso de consumidores com padrão

elevado de rendimento, ou pela possibilidade de vender por preços mais baixos, por parte dos

produtores mais bem equipados para a obtenção de bens.

1- Os preços em dinheiro são produtos de lutas e compromissos, portanto, de constelações de poder. O “dinheiro” não é uma inofensiva “referência a utilidades indeterminadas” que possa ser alterada arbitrariamente sem que isso tenha por conseqüência a eliminação fundamental do caráter dos preços, marcada pela luta dos homens uns contra os outros, é, em primeiro lugar, meio de luta e preço de luta, e meio de cálculo apenas na forma de uma expressão quantitativa da estimativa das probabilidades na luta de interesses.2- O cálculo em dinheiro alcança o grau máximo de racionalidade, como meio de orientação de caráter calculável para a gestão econômica, na forma do cálculo de capital e, nesse caso, com a condição material do máximo de liberdade de mercado no sentido de ausência de monopólios tanto forçadamente impostos e economicamente irracionais quanto voluntariamente criados e economicamente racionais (isto é, orientados pelas oportunidades de mercado). A luta de concorrência pela venda dos produtos, concatenada a essa situação, produz grande quantidade de gastos, especialmente para a organização da venda e a propaganda, os quais não existiriam sem aquela concorrência. (...) O cálculo de capital rigoroso está, além disso, vinculado socialmente à “disciplina da empresa” e à apropriação dos meios materiais de produção ou obtenção, isto é, à existência de uma relação de dominação. (WEBER, 1991, p. 68)

A orientação econômica das empresas em função dos mercados, preconizada por Max

Weber, está refletida também no desempenho obtido pelas empresas, em termos de inovação,

com a aplicação do método preconizado nesta pesquisa.

Drucker (1986, p. 44), define inovação como algo capaz de mudar o valor e a

satisfação obtidos dos recursos pelo consumidor.

Assim, observando-se o resultado da classificação alcançada pelas empresas (da mais

inovadora para a menos inovadora) observa-se a busca de maior rentabilidade dos produtos e

serviços oferecidos, envidando-se mais ou menos esforços em atividades inovadoras

conforme o grau de dificuldade encontrado na concorrência em nível de mercado.

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Nesse sentido, apresentam-se a seguir algumas peculiaridades de cada empresa que

corroboram as observações supramencionadas.

A empresa D, que possui o melhor desempenho em termos de inovação, negocia

sistemas d’armas de elevada sofisticação tecnológica e depende, preponderantemente, das

aquisições da Força Aérea para poder continuar operando. No mercado internacional, a

mercabilidade de seus produtos e de seus serviços é limitada em conseqüência de efeitos de

regulação. A empresa encontra uma concorrência forte aos seus produtos por existirem

sistemas em estado tecnológico mais evoluído do que os seus. Assim, para manter sua

atividade, a empresa precisa investir continuamente na área do conhecimento novo e buscar

acessar mercados onde seus concorrentes encontrem obstáculos de ordem política para a

comercialização de armamentos.

A empresa G também enfrenta uma forte concorrência aos seus produtos no mercado

internacional e negocia, da mesma maneira que a empresa D, produtos de alto valor

tecnológico agregado e em condições de igualdade com seus concorrentes. A situação da

empresa G nesse mercado é um pouco mais vantajosa, se comparada à empresa D, por

apresentar uma diversificação maior de produtos oferecidos e por ter maior liberdade de

mercado para realizar seus negócios.

A empresa A, por sua vez, desenvolve soluções para seus clientes que demandam um

elevado grau de capacitação de seus recursos humanos. Apesar da diversificação dos produtos

e serviços oferecidos e a liberdade de mercado para realizar seus negócios, a empresa

depende, primordialmente, das aquisições do governo no mercado interno e sofre alguma

concorrência por parte da empresa G nesse mercado.

A empresa F, à época em que empreendeu suas atividades de offset, encontrou pouca

concorrência no seu ramo de atividade no mercado interno. Porém, em um determinado

período de pouca demanda, a empresa se viu forçada a diversificar suas atividades por meio

de spin off do conhecimento recebido por meio de offset.

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Quanto à empresa B, com a quinta posição na classificação por inovação, seu ramo de

atividade não envolve um nível tecnológico tão elevado quanto o das empresas já

mencionadas, conforme pode ser constatado pela descrição dos negócios, apresentada na

página 83. No que se refere ao mercado, a diversificação de produtos e serviços lhe

proporciona uma situação mais favorável do que a das empresas com melhor desempenho em

inovação, segundo o método apresentado nessa pesquisa.

O nível tecnológico dos produtos e serviços oferecidos pela empresa E são similares

ao da empresa B, contudo, sua posição no mercado é mais favorável do que a desta última por

ser a única fornecedora de componentes e sistemas específicos para a empresa G, que é uma

grande empresa do setor aeroespacial cujos produtos são comercializados em diversos países.

Em relação à empresa C, não obstante o foco de seus negócios ser relacionado a

produtos de alta tecnologia, o que demanda um grande empenho sistemático na busca de

novos conhecimentos, segundo as informações apresentadas pelo respondente, constata-se um

esforço médio nesse quesito e também naqueles relacionados às fontes externas de inovação,

consideradas, no âmbito dessa pesquisa, como critérios relevantes para o sucesso empresarial

em um mercado global.

Destaca-se que a empresa C interrompeu suas atividades algum tempo após a

realização do Acordo de Offset, e seus recursos humanos foram contratados, posteriormante,

pela empresa D, primeira colocada na classificação por inovação, tendo contribuído com suas

experiências naquele Acordo para o aperfeiçoamento de produtos, processos e serviços na

empresa D59.

Outro aspecto relevante a ser considerado é que os recursos humanos da empresa C

apresentaram uma produtividade, em termos de inovação, bastante superior quando

contratados para desenvolver um radar para a empresa D.

59 Informações constantes nos questionários de pesquisa.

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Esse fato indica que as mesmas pessoas podem desenvolver resultados diferentes, no

que tange a inovações, trabalhando com a mesma tecnologia e o mesmo tipo de atividades,

quando submetidas a estratégias empresariais diferentes.

As circunstâncias apresentadas sobre o contexto do mercado em que essas empresas

atuam podem influenciar as análises econômicas afetas, por exemplo, à Taxa Interna de

Retorno – TIR dos Projetos de Offset, que é, segundo Woiler (1996, p. 177), a taxa de

desconto que torna nulo o valor atual líquido do investimento.

A Taxa Interna de Retorno é um indicador que mede a vantagem de se investir em um

projeto, como, por exemplo, o Projeto de Offset, ou de se buscar uma outra opção de mercado

que proporcione um retorno de capital mais atraente.

O modelo de comparação de empresas inovadoras proposto neste trabalho sugere que,

ao estabelecer esse tipo de análise e optar por prosseguir com uma parceria com o fornecedor

estrangeiro, em um acordo de transferência de tecnologia, o empresário nacional tenderá a

promover ações inovadoras que acarretem a melhoria do retorno do capital investido quando

essa margem de lucro for estreita.

Além da Taxa Interna de Retorno, outros indicadores poderão surtir o mesmo tipo de

reação dos empresários nacionais, como é o caso da Análise de Mercado e da Análise de

Risco e de Incerteza.

Quanto à análise de mercado, Woiler (1996, p. 41) acrescenta que as modificações

estruturais da economia aceleraram com a abertura para o comércio exterior, fato este que está

provocando uma série de exigências de preço e de qualidade para os produtos a serem

exportados.

Também é plausível inferir que uma estratégia empresarial voltada para resultados de

longo prazo e para uma ação sistemática de implementação e acompanhamento de fontes de

inovação no ambiente externo às empresas, defendidos nesse trabalho, tenha contribuído para

a permanência dessas empresas em atividade.

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Assim sendo, apesar de não ser possível generalizar os resultados em função do

reduzido universo amostral disponível, a metodologia aplicada sugere que a capacidade

inovadora das empresas guarda uma relação direta com o grau de dificuldade que essas

empresas encontram na concorrência de mercado, ou seja, uma relação assimétrica, conforme

conceitua Rosenberg (1976, p. 27), em que a concorrência no mercado é a variável

independente e a inovação na empresa a variável dependente.

A validação do método exigiria ainda o levantamento de mais indicadores, podendo-se

sugerir a aplicação de indicadores relacionados ao retorno de capital investido em

determinado offset.

Desse modo, empregando-se, por exemplo, o “tempo de recuperação”, definido por

Woiler (1996, p. 174) como sendo o prazo de tempo necessário para que os desembolsos

sejam integralmente recuperados, poder-se-ia estabelecer um indicador que mostrasse a

relação existente entre o prazo de recuperação do capital, investido em tecnologia recebida

por meio de offset, e a capacidade inovadora da empresa.

Para viabilizar as verificações de retorno de investimentos em offset, propostas nesse

trabalho como indicadores a serem comparados com informações relacionadas à capacidade

de inovação das indústrias, sugere-se ainda o emprego de análises verticais no Balanço

Patrimonial, conforme preconizado por Marion (1998, p. 479 – 488), com vistas a se obter o

percentual de valores de cada novo produto ou serviço, decorrentes de transferência de

tecnologia, dentro de um mesmo grupo de contas.

Segundo Marion (1998, p. 479 - 488), também é possível obter uma visão comparativa

anual da participação de um produto ou um serviço específico, sobre o total de vendas da

empresa, por intermédio de análise horizontal nos Demonstrativos de Resultados dessas

empresas.

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CONCLUSÃO

A prática do offset, da forma como é conhecida atualmente, teve início no mundo logo

após a Segunda Guerra Mundial e, especificamente, no Brasil no início da década de 1950,

graças à iniciativa adotada pela Aeronáutica na aquisição de suas aeronaves.

No Brasil, apesar de o offset já ser praticado desde os seus primórdios, a

obrigatoriedade dessa prática só foi estabelecida em 1992, com a aprovação da Diretriz

Ministerial para a Ação da Política de Compensação Comercial, Industrial e Tecnológica do

Ministério da Aeronáutica, a qual consolidou a experiência acumulada pelo Setor

Aeroespacial até aquele momento.

No que se refere aos aspectos ligados à transferência de tecnologia, no contexto dos

Acordos de Offset, uma das grandes experiências nacionais foi o Programa Complementar

Industrial (PIC) do Programa AM-X, que envolveu a co-produção e a capacitação do parque

industrial nacional para atender aos compromissos ligados ao work share estabelecido.

A capacitação absorvida por diversas empresas do setor aeroespacial, no âmbito desse

Programa, continua trazendo benefícios para o País até os dias atuais, fato comprovado pelos

novos produtos e serviços surgidos em decorrência do treinamento recebido dos parceiros

italianos.

Essa experiência demonstrou que os Acordos de Compensação são ferramentas úteis

para queimar etapas no processo de obtenção de tecnologias, para estabelecer a

nacionalização de setores essenciais para a manutenção do ciclo de vida de equipamentos do

Setor de Defesa e para criar uma base de competência tecnológica que permita um melhor

balanceamento das relações comerciais com outros países.

Por outro lado, o mercado globalizado exige cada vez mais competitividade das

empresas. Em um ambiente caracterizado por forte concorrência comercial, essas empresas

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necessitam empreender um esforço adicional em atividades inovadoras que lhes permitam

oferecer produtos e serviços de boa qualidade e a preços adequados.

Nesse sentido, o Comando da Aeronáutica tem envidado esforços, por meio do

mecanismo do offset, para fortalecer as indústrias estratégicas do setor aeroespacial,

promovendo, principalmente, atividades de transferência de tecnologia com posterior

subcontratação de empresa nacional.

Considerando os limitados recursos orçamentários disponíveis para aquisições de

equipamentos para a Força Aérea, e a importância de se ter um parque industrial que garanta,

em grau elevado, a autonomia operacional da Aeronáutica, torna-se necessário implementar

ações que induzam o efeito spin off nas empresas e garantam uma diversificação da produção.

Assim, ao ser analisada a demanda por produtos de empresas nacionais, originados de

Acordos de Compensação, fator considerado nesta pesquisa como relevante para o fomento da

capacidade inovadora dessas empresas, constatou-se que a Aeronáutica tem utilizado

sistematicamente o offset para atribuir carga de trabalho para a indústria aeroespacial

nacional.

Contudo, foi evidenciado também que o modelo adotado para a gestão dessa atividade

não permite determinar quais empresas brasileiras serão beneficiárias do offset, haja vista que

existem limitações de ordem técnica (capacitação da empresa nacional) e legal. Assim, a

escolha dos parceiros nacionais fica a cargo da empresa estrangeira. A Aeronáutica, por sua

vez, pode exercer um certo controle do processo ao aprovar ou não os Projetos de Offset

apresentados pelas empresas, em função das prioridades estabelecidas em termos de

tecnologias sensíveis para o desenvolvimento do setor aeroespacial.

Não obstante o fato de a demanda por produtos decorrentes de offset ser um fator

significante para a ocorrência de inovações, haja vista que, em todos os casos analisados, foi

constatada a ocorrência de novos produtos e serviços para atender ao mercado, ficou

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evidenciado nos levantamentos realizados que atribuir carga de trabalho, por si só, não é

garantia de que haverá um incremento no processo de inovação.

A empresa também precisará se empenhar, por iniciativa própria, para desenvolver

novas idéias, visto que não existe atualmente nenhum mecanismo que exija a comprovação de

uma gestão inovadora como pré-requisito para habilitação aos Acordos de Offset.

Na questão dos fatores controlados pelas empresas que contribuem para a ocorrência

de uma gestão inovadora, foram estabelecidas e monitoradas sete fontes de inovação capazes

de fornecer indicadores para fins de determinação do potencial inovador dessas empresas.

Assim, em função de critérios e subcritérios específicos para o desempenho ideal das

indústrias do setor aeroespacial brasileiro, no contexto do mercado global, foi desenvolvido

um método de comparação de desempenho inovador, o qual estabeleceu uma seqüência

decrescente de empresas em função do potencial inovador de cada uma.

Em que pese o fato de o universo amostral ser insuficiente para a validação do método,

constatou-se que o desempenho inovador das empresas guarda uma relação lógica com as

dificuldades que cada empresa encontra para comercializar seus produtos no mercado.

Nesse sentido, quanto mais difíceis as condições de mercado e os riscos associados,

maiores as ações de cada empresa para fomentar a capacidade inovadora interna, fato que

pode contribuir para melhorar a rentabilidade de um Projeto de Offset.

Por outro lado, também pôde ser verificado que uma empresa do setor aeroespacial

que não manteve uma gestão inovadora, conforme os critérios preconizados na pesquisa, não

permaneceu em atividade após a conclusão do processo de transferência de tecnologia pelo

offset.

Isso posto, sugere-se, para futuras pesquisas, a realização de um estudo de caso, a ser

conduzido no âmbito da empresa C, com vistas a se determinar a relação entre o modelo de

gestão inovadora adotado pela empresa e a descontinuidade de suas operações no mercado.

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No que se refere à Aeronáutica, para os requisitos de sistemas e materiais que não

possam ser atendidos pela indústria nacional, entende-se ser necessário perseverar no modelo

de gerenciamento das atividades de offset, no que tange à participação das empresas

nacionais, visto que contribui para a formação de parcerias de longo prazo com fornecedores

estrangeiros, fato que promove uma alavancagem dos negócios do setor aeronáutico, com

ganhos para todos os participantes.

Contudo, como forma de contribuição para o aperfeiçoamento do processo, acredita-se

que seria possível promover incentivos que fomentassem o desenvolvimento de capacidade

inovadora nas empresas.

Assim sendo, considerando que o tema offset tem sido discutido em nível de governo,

com vistas à adoção de uma política nacional para a condução das compras dos diversos

ministérios, em prol do crescimento dos níveis tecnológico e industrial brasileiro60, e que

existe a possibilidade de financiamento dos custos envolvidos nas operações de offset, sugere-

se a liberação desse tipo de fomento condicionada a um compromisso do empresário em se

adequar a um modelo de gestão inovador.

Com essa atitude, não se pretende somente privilegiar as empresas mais bem

classificadas em termos de inovação, mas criar mecanismos que minimizem os riscos que

serão enfrentados por aquelas empresas posicionadas com potenciais menores de inovação.

Uma dessas ferramentas de incentivo seria o empréstimo sem juros e pagamento

dividido em 100 (cem) parcelas, denominado Programa Juro Zero, que é oferecido para micro

e pequenas empresas inovadoras, com drástica redução de burocracia.

O Programa Juro Zero é dirigido a empresas inovadoras com faturamento anual de até

R$ 10,5 milhões e os recursos disponibilizados são corrigidos apenas pelo Índice de Preços ao

Consumidor Amplo – IPCA, não havendo carência. Nessa modalidade de empréstimo, o

empresário começa a pagar no mês seguinte à liberação.

60 Seminário internacional sobre compensação comercial, industrial e tecnológica – offset. Disponível em: <http://www.braziltradenet.gov.br/eventos/offset /P/frmoffset.aspx?

CodEvento=1096&Tipo=4&Logado=Nao>. Acesso em: 04 out.05.

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Esse tipo de financiamento é disponibilizado pela Financiadora de Estudos e Projetos

– FINEP61, a qual tem sido considerada, no âmbito dos estudos para a elaboração de uma

política de offset para o Governo Federal, como uma entidade capaz de financiar os

investimentos iniciais das empresas nacionais em Acordos de Compensação.

Finalmente, o que se propõe é que o incentivo à inovação supramencionado seja

precedido de uma análise das empresas baseada nos critérios e no método proposto e

apresentado nesta pesquisa.

61 Juro zero. Disponível em : <[email protected]>. Acesso em 04 out. 05.

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LEGISLAÇÃO

BRASIL. Constituição (1998). Constituição da República Federativa do Brasil. 29. ed. Atu. e amp. São Paulo: Saraiva, 2002.

BRASIL. Comando da Aeronáutica. Portaria n° 747/GM-2. Estabelece a ação da política de compensação comercial, industrial e tecnológica do Ministério da Aeronáutica, Brasília, DF, 21 de set. 1992.

______. Portaria n° 853/GM-2. Estabelece a política de compensação comercial, industrial e tecnológica, Brasília, DF, 18 de dez. 1991: Disponível em:< http://www.bndes.gov.br>. Acesso em: 21 Mar. 05.

______. Portaria nº R-102/GM3. Estabelece o ciclo de vida de sistemas e materiais da aeronáutica, Brasília, DF, 26 de mar. 1992.

______. Portaria nº 006/DG-5. Estabelece o plano estratégico de pesquisas e desenvolvimento, Brasília, DF, 13 de jan. 2005.

______. Portaria nº 002/DG-5. Estabelece o plano básico de pesquisas e desenvolvimento para o quadriênio 2005-2008, Brasília, DF, 13 de jan. 2005.

BRASIL. Ministério da Defesa; Ministério da Ciência e Tecnologia. Concepção estratégica: ciência, tecnologia e inovação de interesse da defesa nacional. Brasília: MD/MCT, 2004.

BRASIL. Ministério da Defesa. Portaria Normativa nº 414/MD. Dispõe sobre a doutrina militar de defesa. Brasília, DF, 31 de jul. 2001.

______. Portaria Normativa nº 764/MD. Aprova a política e as diretrizes de compensação comercial, industrial e tecnológica do Ministério da Defesa. Brasília, DF, 27 de dez. 2002.

BRASIL. Presidência da República. Decreto nº 5379, de 25 de janeiro de 2005. Dispõe sobre a programação orçamentária e financeira e estabelece o cronograma mensal de desembolso do Poder Executivo para o exercício de 2005, e dá providências, Brasília, 2005: Disponível em:< http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 21 mar. 05.

______. Lei nº 10.973, de 2 de dezembro de 2004. Dispõe sobre incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo e dá outras providencias, Brasília, 2004.

______. Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993. Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da constituição federal, institui normas para licitações e contratos da administração pública e dá outras providencias, Brasília, 1993.

______. Decreto nº 5484, de 30 de junho de 2005. Aprova a política de defesa nacional, e dá outras providências. Brasília, 2005: Disponível em:<http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 29 Nov. 05.

______. Medida Provisória nº 252, de 16 de junho de 2005. Institui o Regime Especial de Tributação para a Plataforma de Exportação de Serviços de Tecnologia da Informação – REPES, o Regime Especial de Aquisição de Bens de Capital para Empresas Exportadoras –

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RECAP e o Programa de Inclusão Digital, dispõe sobre incentivos fiscais para a inovação tecnológica e dá outras providências, Brasília, 2005.

______. Nova política industrial, Brasília, 1998: Disponível em:< http://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 21 Mar. 05.

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INTERNET

BARBOSA, M. L. A. A biblioteca e os bibliotecários como atores de políticas de informação voltadas para o desenvolvimento. In: V CINFORM: encontro nacional de ciência da informação, 5., 2004, Salvador. Anais. Salvador: UFBA, 2004. Disponível em: <http://www.cinform.br/v_anais/frames/html>. Acesso em: 07 abr. 05.

BARTELS, W. A visão da AIAB frente aos projetos do PFCEAB. Disponível em <http://www.ifi.cta.br/cfa/arq/workshop_2003/10-09/02-AIAB.ppt>. Acesso em: 07 abr. 05.

Bureau of Industry and Security. Impact of offsets in defense trade: an annual report to congress. Disponível em: <http://www.bis.doc.gov/DefenseIndustrialBasePrograms/OSIES/offsets /default.htm>. Acesso em: 01 abr. 05.

Compensação comercial, industrial e tecnológica da Aeronáutica (“OFFSET”): Disponível em: <http://www.ifi.cta.br>. Acesso em: 28 mar. 05.

Eltronic procurements industrial cooperation offset systems: Disponível em: <http://www.epicos.com>. Acesso em: 28 mar. 05.

CARVALHO, J. C. de. Bretton Woods aos 60 anos. Rio de Janeiro: UFRJ, [2004?]. Seção Textos para Discussão. Disponível em: <http://www.ie.ufrj.br/moeda/pdfs/bretton_woods_aos_60_anos.pdf>. Acesso em: 01 Abr. 05.

PEREIRA, J. M. Política industrial, propriedade intelectual e desenvolvimento. [S.I.]: Revista Espaço Acadêmico, n. 39, 2004. Disponível em: <http://www.espacoacademico.com.br/039/39cpereira.htm>. Acesso em 17 de jun. 2005.

SCHIMIDT, A.M.A. Processo de apoio à tomada de decisão: AHP e MACBETH. Florianópolis: UFSC, 1995. Disponível em: <http://www.eps.ufsc.br>. Acesso em: 19 set. 05.

Seminário internacional sobre compensação comercial, industrial e tecnológica – offset. Disponível em: <http://www.braziltradenet.gov.br/eventos/offset/P/frmoffset.aspx?CodEvento=1096&Tipo=4&Logado=Nao>. Acesso em: 04 out. 05.

Juro zero. Disponível em : <[email protected]>. Acesso em 04 out. 05.

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REVISTA

Transferência de tecnologia à luz da política de defesa brasileira. Revista da UNIFA, Rio de Janeiro, ano 16, n. 18, p.76, dez. 2003.

Mensagem do Comandante da Aeronáutica para o diretório das indústrias brasileiras de defesa e segurança. Indústria Brasileira de Defesa e Segurança – Diretório 2005, São Paulo, p. 12, 2005.

Mensagem do Comandante da Marinha para o diretório das indústrias brasileiras de defesa e segurança. Indústria Brasileira de Defesa e Segurança – Diretório 2005, São Paulo, p. 8, 2005.

REBOUÇAS, M. Segunda pesquisa industrial de inovação tecnológica. In: RYDLEWSKI, C. Os eleitos da inovação. Revista Veja, São Paulo, ano 38, n. 1912, p. 93, 6 jul. 2005.

RYDLEWSKI, C. Os eleitos da inovação. Veja, São Paulo, ano 38, n. 1912, p. 90-95, 6 jul. 2005.

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GLOSSÁRIO

Análise horizontal – É a observação de uma seqüência de um mesmo índice ou de uma

seqüência de valores de uma mesma conta, durante vários anos ou períodos. A análise

horizontal tem a finalidade de evidenciar a evolução dos itens das demonstrações contábeis,

por meio dos períodos.

Análise de mercado – Ponto de partida para a elaboração de um projeto e um de seus

aspectos mais importantes. É do estudo de mercado que são obtidos elementos tais como:

escassez de demanda futura, regiões de possível comercialização do produto, preço de venda e

custos e estoques nos canais de comercialização.

Análise de risco – A principal fonte de risco nos projetos de investimento é o fato de que o

volume de informação envolvido é muito grande e os valores são projetados no futuro. Nestas

condições, a análise do projeto é feita sobre uma base duplamente variável: os dados

coletados e processados (sendo a grande maioria estimativas) e o fato de que o futuro muito

possivelmente não se comportará de acordos com as projeções.

Acordo de Compensação ou Acordo de Offset – É o instrumento legal que formaliza o

compromisso e as obrigações do fornecedor estrangeiro para compensar as importações

realizadas nos seguintes casos: diretamente, pelas Forças Armadas; indiretamente, pelas

Forças Armadas, nas contratações de empresas nacionais que tenham que realizar importações

vinculadas ao cumprimento dos contratos; e por operadores e mantenedores da Aviação Civil,

nas importações que exijam autorização da Aeronáutica quando atuando como Poder

Concedente. O Acordo de Compensação pode ser implementado mediante a inserção de uma

cláusula de compensação em um contrato de aquisição, um contrato específico correlacionado

com a compra, ou um acordo de cooperação comercial, industrial e tecnológica.

Análise vertical – É a técnica que mede proporções entre valores e que ajuda a determinar

quais as contas de maior importância e relevância para a análise.

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Barter – Significa troca direta. Corresponde a uma transação suportada por um único contrato

que especifica a troca de determinados bens por outros de valor equivalente. Inexistente, pois,

qualquer contrapartida em moeda.

Buy-Back – Refere-se a um Acordo de Compensação com o fornecedor estrangeiro para que

ele aceite, como pagamento, total ou parcial, produtos derivados do produto originalmente

importado.

Cartal – É um termo introduzido pela obra Staatliche Theorie des Geldes de Knaap. Incluem-

se nesta categoria todas as espécies de dinheiro, divididas em parcelas e cunhadas ou

carimbadas, metálicas e não metálicas, que foram providas de validade pela ordem jurídica ou

por um acordo.

CL-X – Projeto de aquisição das aeronaves de transporte de categoria leve para a FAB.

Compensação direta – Refere-se aos Acordos de Compensação que envolvem bens e

serviços diretamente relacionados com o objeto dos contratos de importação.

Compensação indireta – Refere-se aos Acordos de Compensação que envolvem bens e

serviços não diretamente relacionados com o objeto dos contratos de importação.

Co-produção – Refere-se à produção realizada no País, baseada em um acordo entre o

Governo brasileiro e um ou mais governos estrangeiros, que permita ao governo ou empresa

estrangeira fornecer informações técnicas para a produção de todo ou parte de um produto

originado no exterior. Os acordos de licença entre governos são aqui incluídos, porém, os

acordos de licença comerciais entre duas ou mais empresas privadas são excluídos.

Counter-Purchase – Refere-se a um acordo com o fornecedor estrangeiro para que ele

compre, ou consiga um comprador para um determinado valor em produtos (normalmente

estabelecido como uma percentagem do valor da aquisição) de fabricante nacional, durante

um período determinado.

Dinheiro – Denomina-se dinheiro um meio de pagamento cartal que serve de meio de troca.

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Dorsal Fin – Dispositivo aerodinâmico acoplado ao lado superior da fuselagem de uma

aeronave.

Fatores multiplicadores – São índices numéricos utilizados com a finalidade de valorizar

para mais ou para menos os produtos de interesse do comprador. Representam também o fator

aplicado ao Valor Nominal das atividades fornecidas a título de compensação, para a

determinação do montante de crédito a ser contabilizado na Transação de Compensação

correspondente.

F-5BR – Projeto de modernização das aeronaves F-5 do acervo da FAB.

Gestão aquisitiva – É o comportamento orientado pelas oportunidades de ganhar novos

poderes de disposição sobre bens.

Gestão econômica racional – É aquela em que a “previdência”, essencial em toda economia

racional, pode exprimir-se e de fato se exprime em considerações de caráter numérico e

calculável.

Gestão patrimonial – Significa o emprego e a obtenção (seja por produção, seja por troca)

contínuos de bens com o fim de abastecimento próprio ou de conseguir outros bens para

utilização própria. Seu fundamento, para um indivíduo ou para um grupo cuja gestão

econômica apresenta este caráter, constitui, no caso de procedimento racional, o plano de

orçamento, no qual se expressa de que forma devem ser satisfeitas, mediante renda esperada,

as necessidades previstas de um período orçamentário.

Inovação – É o processo pelo qual uma idéia ou invenção é transposta para a economia, ou

seja, ela percorre o trajeto que vai desde esta idéia, fazendo uso de tecnologias existentes ou

buscadas para tanto, até criar o novo produto, processo ou serviço e colocá-lo em

disponibilidade para consumo ou uso.

Investimentos – Referem-se àqueles realizados pelo fornecedor estrangeiro, originado de um

Acordo de Compensação, na forma de capital para estabelecer ou expandir uma empresa

nacional por intermédio de "joint venture" ou de investimento direto.

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Liberdade de mercado – Grau de autonomia de cada interessado na troca, dentro da luta de

preços e de concorrência.

Maquinofatura – É o sistema fabril em que máquinas participam do processo de produção.

Meios de troca – É denominado meio de troca ou de pagamento cartal aquele artefato que,

em virtude da forma que recebeu, tem determinada vigência formal – convencional, jurídica,

pactuada ou imposta – dentro de determinado domínio pessoal ou regional, e que pode

dividir-se em parcelas, quer dizer, representa determinado valor nominal ou um múltiplo ou

uma fração deste, de modo que com eles é possível um cálculo puramente mecânico.

Mercabilidade – Grau de regularidade com que um objeto costuma tornar-se objeto de troca

no mercado.

Parque Industrial Aeroespacial – É o conjunto das empresas, ou frações de empresas

nacionais, e de outras organizações, privadas ou governamentais, civis ou militares, que

geram produtos ou serviços (exceto intermediação ou comercialização), especificamente

destinados à fabricação, ao emprego ou ao apoio direto de aeronaves, radares, sistemas de

comunicação e navegação, armamento ou de engenhos espaciais.

Consideram-se, assim, também integrantes do Parque Industrial Aeroespacial os meios

industriais e tecnológicos da própria Aeronáutica (Parques de Material Aeronáutico, Centro

Técnico Aeroespacial, etc.), assim como aqueles das demais Forças Singulares e demais

entidades, públicas ou privadas, do Brasil, que produzam bens e serviços de interesse da

Aeronáutica.

Pilone – Interface entre a aeronave e as cargas externas.

Produção sob licença – É uma reprodução de um componente ou produto que tenha origem

no exterior, baseado em um contrato comercial de transferência de informação técnica entre

empresas fornecedoras estrangeiras e os fabricantes nacionais.

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Produção sob subcontrato – Refere-se à produção de parte de um componente originado de

um fornecedor estrangeiro. O subcontrato não envolve, necessariamente, a licença de

informações técnicas e, usualmente, é um acordo comercial direto entre o fornecedor

estrangeiro e o fabricante nacional.

Processo de seleção – É uma atividade permanente no COMAER, tanto em função das

limitações de vida útil quanto da contínua obsolescência dos equipamentos. Envolve a

participação de diversos órgãos de sua estrutura e se configura como um processo de

avaliação e de escolha de melhor oferta e, conseqüentemente, de fornecedor de equipamentos

ou serviços para projetos específicos, com base nos seus aspectos técnicos, logísticos,

industriais, comerciais e interesses de compensação comercial.

Plano de implementação de compensação – Definição das etapas e a sua execução para a

implementação do Acordo Compensação.

P-3BR – Projeto de modernização das aeronaves P-3.

Premissa – São afirmações escolhidas pelo locutor para o conjunto de todos aqueles sobre os

quais o locutor quer exercer influência através de seu discurso.

Rentabilidade – Significa o lucro de um período que se considera possível na base do cálculo

prévio e que o empresário pretende realizar mediante determinadas medidas, e que, conforme

cálculo posterior, efetivamente se realiza e do qual a gestão patrimonial do empresário pode

dispor sem prejudicar possibilidades futuras de rentabilidade.

Risco – Em termos de investimento, diz-se que há risco quando existe a possibilidade de que

ocorram variações no retorno associado a determinada alternativa.

Silogismo – É a dedução feita a partir de duas proposições denominadas premissas, de modo

a originar uma terceira proposição logicamente implicada, denominada conclusão.

Situação de mercado – Denomina-se “situação de mercado” de um objeto de troca a

totalidade das possibilidades de troca do mesmo por dinheiro, que podem ser reconhecidas

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pelos interessados na troca, no momento de sua orientação na luta de preços e de

concorrência.

Spin Off – Significa o aproveitamento de descobertas científicas de determinado setor em

outros setores industriais.

Técnica racional – Significa uma aplicação de meios que, consciente e planejadamente, está

orientada pela experiência e pela reflexão, e, em seu máximo de racionalidade, pelo

pensamento científico. O critério de racionalidade para a técnica é, entre outros também, o

famoso princípio do “esforço mínimo”: o resultado ótimo em comparação com os meios a

serem aplicados.

Tecnologia dual – Tecnologia de uso militar e civil.

Valor atual líquido – Sendo admitida determinada taxa de juros (também chamada taxa de

desconto), o valor atual líquido pode ser definido como sendo a soma algébrica dos saldos do

fluxo de caixa descontados àquela taxa para determinada data.

VC-X – Projeto de aquisição de aeronave presidencial.

Work Share – Divisão de trabalho em um projeto de desenvolvimento.

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APÊNDICE 1

QUESTIONÁRIO APLICADO AOS GERENTES DE OFFSET DA AERONÁUTICA

Nome / posto:

Função:

Data:Este questionário tem por objetivo o levantamento de informações a respeito de Acordos de Offset implementados no Brasil, com ênfase nos aspectos ligados à inovação tecnológica.Sua participação é de fundamental importância para a identificação de problemas e aperfeiçoamento do processo.

PERGUNTAS1 - Quais são as exigências que o Comando da Aeronáutica estabelece para que uma empresa brasileira se habilite a participar de um Acordo de Compensação comercial, industrial e tecnológica?

2 – O Comando da Aeronáutica estabelece algum tipo de verificação de desempenho, como critério para credenciamento, em empresa nacional que se apresenta para participar de Acordo de Offset?

3 – As empresas proponentes a Acordos de Offset são orientadas, em algum momento do processo, em relação aos aspectos ligados à inovação como forma de aumentar as chances de sucesso do empreendimento em foco?

4 - Existe a preocupação em se proporcionar carga de trabalho para as empresas nacionais, no que se refere à capacitação absorvida por meio de Acordos de Offset?

Outras considerações julgadas oportunas:

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APÊNDICE 2

QUESTIONÁRIO APLICADO ÀS EMPRESAS

Nome do respondente:Empresa:Descrição do offset praticado pela empresa:

Cargo do respondente por ocasião da implementação do offset:

Este questionário tem por objetivo realizar um levantamento de informações a respeito de Acordos de Offset implementados no Brasil e identificar o posicionamento das empresas com relação à adoção de práticas inovadoras no âmbito de tais acordos.Sua participação é de fundamental importância para a identificação de obstáculos para oaperfeiçoamento das atividades de compensação comercial afetas ao setor aeroespacial.

1 - Quando se fala em “inovação” que idéia vem a sua mente?( ) um lampejo de genialidade.( ) algo que resulta de um trabalho sistemático.

Visando à perfeita compreensão dos objetivos desse questionário, transcreve-se a seguir um trecho da obra “Inovação e Espírito Empreendedor”, de Peter Drucker (1986, p.45), que aborda a questão da inovação:

Todavia, os empreendedores querem mais. Não se contentam em simplesmente melhorar o que já existe, ou em modificá-lo. Eles procuram criar valores novos e diferentes, e satisfações novas e diferentes, convertendo um “material” em um “recurso” ou combinar recursos existentes em uma nova e mais produtiva configuração.É a mudança o que sempre proporciona a oportunidade para o novo e o diferente. A inovação sistemática, portanto, consiste na busca deliberada e organizada de mudanças, e na análise sistemática das oportunidades que tais mudanças podem oferecer para a inovação econômica ou social.(...) A maioria esmagadora das inovações bem-sucedidas explora a mudança. Por certo, existem inovações que em si mesmas constituem uma importante mudança; algumas das principais inovações técnicas, como a do avião, são exemplos. Mas, elas são exceções e razoavelmente incomuns.(...) a disciplina de inovação é uma disciplina de diagnóstico: um exame sistemático das áreas de mudança que tipicamente oferecem oportunidades empreendedoras.

Segundo o autor (DRUCKER, 1986), a inovação sistemática significa o monitoramento de sete fontes para uma oportunidade inovadora: o sucesso ou fracasso inesperado, a incongruência entre a realidade e como se presume que deveria ser, a necessidade do processo, a mudança na estrutura do setor industrial ou do mercado, a mudança demográfica, a mudança de percepção e o conhecimento novo.

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2 – No que se refere ao Acordo de Compensação acima descrito, a empresa estrangeira cumpriu integralmente com os compromissos assumidos?( ) sim ( ) não

Caso negativo, enumere os impactos do não-cumprimento integral ou parcial do acordo para a empresa brasileira.

3 – Cite os novos produtos ou serviços desenvolvidos a partir dos conhecimentos absorvidos por intermédio do Acordo de Offset. Por exemplo, se o objetivo do offset foi a fabricação sob licença, então o que se pede não é o objeto desse acordo, mas outros produtos que a empresa desenvolveu a partir do conhecimento adquirido com a fabricação sob licença.

4 – Quando ocorreu a primeira e a última inovação relacionada ao Acordo de Offset?

5 - Visão da empresa por ocasião da realização do Acordo de Offset: ( ) de curto prazo. Voltada somente para a consecução de contratos imediatos.( ) de longo prazo. Alinhada com o objetivo estratégico de desenvolver novos produtos e serviços que permitirão atender a novos mercados no futuro.( ) ambos.( ) não sabe.

Nas questões de 6 a 12 a seguir, dê a sua opinião em relação ao desempenho da empresa quanto ao acompanhamento das sete fontes de oportunidade de “inovação” que serão discriminadas abaixo. Nesse sentido, deverá ser atribuída a seguinte escala de medidas para aferição de cada questão:

0 – a empresa não busca explorar essa fonte de inovação. 1 – a empresa apresenta baixo nível de esforço na exploração dessa fonte de inovação. 2 – a empresa apresenta um nível médio de esforço na exploração dessa fonte de

inovação. 3 – a empresa apresenta um alto nível de esforço na exploração dessa fonte de

inovação.

É importante ressaltar que, para responder tais questões, deve-se considerar a situação da empresa, bem como o seu potencial, à época em que foi implementado o offset.

FONTES DE INOVAÇÃO AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO

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6 – CIRCUNSTÂNCIA INESPERADA (FRACASSO OU SUCESSO) Um produto projetado para um uso específico, especialmente se científico ou técnico, freqüentemente mantém o mercado e o propósito original para o qual fora projetado, mas nem sempre. Qualquer produto novo cria mercados que ninguém antes sequer imaginava, como é o caso, por exemplo, do DDT (Dicloro Difenil Tricloroetano). Desenvolvido durante a Segunda Guerra Mundial para proteger os soldados americanos de insetos e parasitas tropicais, encontrou sua maior aplicação na agricultura.Outro exemplo foi a aquisição de licença para a produção na Índia de um projeto europeu de bicicleta motorizada. A venda dessa bicicleta no mercado indiano nunca decolou. Entretanto, houve uma grande demanda pelos motores desses veículos para serem empregados em dispositivos de irrigação. Em função desse fato, o fabricante das bicicletas tornou-se líder no segmento de bombas de irrigação.Pergunta-se: sua empresa busca, de alguma forma, aproveitar esse tipo de oportunidade de inovação ou desconsidera essas novas aplicações por não estarem em conformidade com o propósito para o qual o produto foi planejado?

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7 - INCONGRUÊNCIA ENTRE A REALIDADE PERCEBIDA E A REALIDADE DE FATO Uma incongruência é uma dissonância entre o que é e o que deveria ser. Ela pressagia uma falha latente e cria uma instabilidade na qual esforços de pequena monta podem mover grandes massas e ocasionar uma reestruturação da configuração econômica e social.Existem alguns tipos de incongruência, tais como: entre realidades econômicas de um setor industrial, entre a realidade de um setor e os pressupostos sobre ela, entre os esforços de um setor e os valores e as expectativas de seus clientes e dentro do ritmo ou lógica de um processo.Como exemplo de incongruência entre a realidade e os pressupostos sobre ela, cita-se que, no início da década de 1950, os custos do frete marítimo estavam crescendo em saltos rápidos e demorava cada vez mais tempo para o recebimento das mercadorias, fato que decorria do acúmulo de produtos nos portos. A indústria de construção naval tinha concentrado esforços no desenvolvimento de navios mais rápidos, que consumissem menos combustível e que operassem com tripulação reduzida, ou seja, direcionaram-se os esforços para os custos do navio em alto-mar que já eram baixos. O foco deveria ser no tempo de carregamento em terra, o qual influenciava no custo do navio parado. A resposta inovadora foi o desenvolvimento do navio roll-on, roll off e do navio container, acarretando a redução em 75% do tempo de atracação.Um outro exemplo, ligado à incongruência entre valores e expectativas do consumidor, é o caso da venda de televisores no Japão. Na década de 1950, um certo industrial japonês acreditava que a televisão não era um produto para os pobres, sob o ponto de vista econômico, e se surpreendeu ao descobrir que para os clientes das classes mais pobres o aparelho de televisão tinha um sentido muito mais amplo que o de um simples aparelho elétrico de uso caseiro. Representava um mundo novo e o acesso a toda uma vida nova, fato esse que abria uma grande oportunidade de negócio.Pergunta-se: sua empresa analisa as discrepâncias entre a realidade e a concepção de como ela deveria ser com o propósito de obter soluções inovadoras?

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8 - NECESSIDADE DO PROCESSO A necessidade do processo, ao contrário de outras fontes de inovação, não se inicia com um evento no meio ambiente, seja interno ou externo. Está concentrada na tarefa e não na situação. É o aperfeiçoamento de um processo que já existe, substitui uma ligação que esteja fraca ou reprojeta um antigo processo a partir do conhecimento existente. Às vezes, essa fonte de inovação torna possível um processo fornecendo o elo que faltava. Como exemplo, pode-se citar o que ocorreu nas estradas japonesas após 1965. Com o rápido crescimento da indústria automobilística, o governo pavimentou diversas estradas que, no entanto, deixavam a desejar em termos de segurança. Com o crescimento do número de acidentes, logo houve grande pressão sobre o governo por uma solução. Naturalmente, reconstruir as estradas estava fora de cogitação. Um jovem japonês, Tamon Iwasa, viu nesta crise uma oportunidade inovadora. Ele redesenhou o refletor rodoviário tradicional de modo que os “olhos de gato” que servem de espelho pudessem ser ajustados para refletir os faróis dos carros vindos de qualquer direção. O governo apressou-se em instalar os refletores às centenas de milhares e logo as taxas de acidentes caíram. Destaca-se ainda nesse exemplo que a mudança no processo não requeria conhecimento novo nem uma nova ciência para a sua consecução. Um outro caso que demonstra claramente a oportunidade para inovação do processo está relacionado a um procedimento cirúrgico. O processo da cirurgia de catarata em si era bem antigo. A enzima para aperfeiçoar o processo era conhecida há décadas. A inovação foi o preservador para manter a enzima fresca sob refrigeração. Assim que a necessidade do processo foi satisfeita, nenhum cirurgião pôde sequer imaginar operar sem o preservador.Pergunta-se: sua empresa analisa de forma sistemática os processos existentes com vistas a encontrar soluções inovadoras?

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9 - MUDANÇAS NA ESTRUTURA As estruturas do setor industrial e do mercado, às vezes, duram por muitos anos, e se mostram, aparentemente, estáveis. Contudo, ao contrário do que parece, essas estruturas são bastante frágeis.No início do século XX, por exemplo, o automóvel era um produto de luxo para os muito ricos. Em 1905, o americano William Crapo Durant percebeu o potencial de mudança na estrutura de mercado como oportunidade para montar uma grande empresa automobilística, profissionalmente administrada, que pudesse satisfazer todos os segmentos do que, como ele previa, viria a ser um enorme mercado “universal”. Ele fundou a General Motors nessa época.Existem quatro indicadores quase certos e bem visíveis de mudança iminente na estrutura industrial:

- rápido crescimento de um setor;- convergência de tecnologias que eram vistas como

separadas;- atendimento inadequado ao mercado; e- evolução rápida da forma de negociar.

Pergunta-se: sua empresa analisa, de forma sistemática, a possibilidade de uma eventual alteração nas estruturas do setor e está apta a se adequar a uma nova realidade do mercado?

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10 - MUDANÇAS DEMOGRÁFICAS São mudanças na população. As mais visíveis são: grandeza, estrutura etária, composição, emprego, status educacional e renda.A demografia provoca um forte impacto sobre o que será comprado, por quem e em que quantidade.A esse respeito, sabe-se que a cadeia varejista Sears havia percebido, em meados da década de 1950, uma rápida urbanização de cidades latino-americanas. Assim sendo, a empresa começou a construir lojas em São Paulo, Cidade do México, Lima e Bogotá, conforme o modelo americano, tornando-se, em poucos anos, a principal empresa varejista da América Latina.Um exemplo mais recente pode ser observado na iniciativa da EMBRAER em se estabelecer na China, com o propósito de aproveitar as oportunidades futuras de um mercado em processo de rápida expansão no setor de transporte aéreo de carga e de passageiros. Pergunta-se: sua empresa analisa, de forma sistemática, as tendências demográficas do mercado com vistas a antecipar soluções inovadoras?

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11 - MUDANÇAS EM PERCEPÇÃO A empresa busca perceber as mudanças no ambiente ou na forma como as pessoas reagem a uma circunstância com o objetivo de aproveitar oportunidades de inovação. Para uma melhor compreensão do fator cita-se a mudança recente no padrão alimentar das pessoas que abriu espaços para inovações em termos de fast food, ou a insegurança no Iraque, decorrente da invasão norte-americana, que induz uma demanda por veículos blindados específicos para autoridades civis e para emprego militar.Pergunta-se: sua empresa analisa, de forma sistemática, as mudanças de comportamento do mercado com vistas a antecipar soluções inovadoras?

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12 - CONHECIMENTO NOVO Nesse caso, o conhecimento não é necessariamente técnico ou científico. As inovações sociais baseadas em conhecimento podem ter igual ou maior impacto.As inovações baseadas no conhecimento possuem o mais longo tempo desde o aparecimento até a aplicação.As inovações ligadas ao conhecimento quase nunca se baseiam em um só fator, mas em vários tipos de conhecimentos, e nem todos eles científicos ou tecnológicos, o que representa maior risco.Por exemplo, os ingleses desenvolveram a penicilina, mas foram os americanos que dela se beneficiaram. Os cientistas ingleses conseguiram as substâncias certas e o uso correto, mas fracassaram em identificar o processo de fabricação como fator crítico de conhecimento, fato que abriu caminho para o sucesso da empresa americana Pfizer.Pergunta-se: sua empresa analisa de forma meticulosa o potencial e a viabilidade de inovação na área do conhecimento e pratica uma administração empreendedora na gestão do conhecimento, com vistas a alcançar uma posição de liderança?

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Outras informações julgadas oportunas:

As informações constantes nesse questionário serão utilizadas no âmbito da pesquisa sem se fazer menção ao nome dos participantes nem das empresas.

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ANEXO 1

VALIDAÇAO DE QUESTIONÁRIO APLICADO NAS EMPRESAS

Leitura do questionário constante do projeto:OFFSET: O EXEMPLO DO SETOR AEROESPACIAL BRASILEIRO

• Autor do projeto: Rogério Luiz Veríssimo Cruz

• Leitura realizada por Ronan Coura Ivo (Economista, mestre em Política e Gestão da Ciência e Tecnologia pelo Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília).

A proposta de pesquisa apresenta-se relevante e audaciosa, o que demanda grande objetividade e conhecimento quanto às questões que serão investigadas. Nesse sentido, dada a escassez de informações sistematizadas na literatura sobre o tema, as entrevistas e questionários tornam-se instrumentos essenciais para o cumprimento da tarefa do pesquisador.

Há de se ressaltar que o tema recai fundamentalmente sobre a área de defesa, fato esse que pode dificultar o acesso às informações em virtude do grau de confidencialidade com o qual muitas vezes o tema é tratado nesse meio. As perguntas que compõem o questionário estão bem elaboradas e adequadas para o levantamento das informações e apuração dos dados. Apresenta estreita relação com a sistematização do projeto que guarda características essenciais esperadas em uma tese de mestrado, refletindo sistematização de experiência concreta de gestão e possibilidade de influir positivamente nesta.

Diante do exposto, acredito que as observações apresentadas a seguir assumem um caráter meramente sugestivo.

QUADROS INTRODUTÓRIOS• O enunciado “descrição do offset” no terceiro quadro à fl. 1, pode ser mais específico se se solicitar a “experiência de offset na empresa” ou a “descrição do offset praticado/realizado na empresa”. • Na introdução, acrescentar “no âmbito de tais acordos” ao final do primeiro parágrafo.• No segundo parágrafos, substituir “óbices” por “obstáculos” e acrescentar “para o” antes da palavra “aperfeiçoamento”.

QUESTÃO 1• Ver observação no tópico “introdução das questões 5 a 11”.• Negritar os termos: “o sucesso ou fracasso inesperado”, “incongruência”, “necessidade do processo”, “mudança na estrutura”, “mudança demográfica”, “conhecimento novo” e “mudança de percepção”.

QUESTÃO 2• Substituir “em foco” por “acima descrito”. • No segundo parágrafo, substituir “complemente sua resposta com ênfase nos” por “enumere os”.

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• Ainda nesse parágrafo, acrescentar a expressão “ou parcial” após “não-cumprimento integral”.

QUESTÃO 3• Avaliar a conveniência de se manter a segunda frase (“Por exemplo... sob licença”) como esclarecimento da questão, uma vez que pode induzir o respondente a se limitar à fabricação sob licença. Talvez a explicação pudesse ser dada antes da questão, nos seguintes termos: “Ao vivenciar uma experiência de offset, as empresas têm a possibilidade de adquirir novos conhecimentos e novas tecnologias que permitem o desenvolvimento de novos processos e produtos. No caso da sua empresa, cite os novos...”.

QUESTÃO 4• Colocar os parênteses no início de cada alternativa, e não ao final. • Substituir o ponto final após a palavra “prazo” por vírgula.

INTRODUÇÃO DAS QUESTÕES 5 A 11• Primeiramente, poder-se-ia começar a questão nos seguintes termos: “Nas questões de nº 5 a 11 a seguir, dê a sua opinião em relação ao desempenho da empresa quanto ao acompanhamento das sete fontes de oportunidade de “inovação”, que serão discriminadas abaixo.Nesse sentido, deverá ser atribuída a seguinte escala de medidas para a aferição de cada questão:0...1...2...3...

É importante ressaltar que, para responder tais questões, deve-se considerar a situação da empresa bem como o seu potencial à época em que foi implementado o offset.”• O tema ora em debate, “fontes de inovação”, também foi tratado na primeira questão. Desse modo, sugere-se que esta primeira questão seja posicionado como “questão 4”, não havendo prejuízo para o restante do questionário.

QUESTÃO 5• Acrescentar “original” após o termo “propósito”.

QUESTÃO 6• No último parágrafo, acrescentar, após “soluções inovadoras”, a expressão “à época da implementação do offset em questão“.

QUESTÃO 7• Sugere-se que se proponha um questionamento ao final dos exemplos dados, tal como ocorreu nas questões 5 e 6, a fim de delimitar e enfatizar qual o objetivo proposto na questão.

QUESTÃO 8• Reajustar a sentença “os segmentos do que ele previa viria a ser” por “os segmentos do que, como ele previa, viria a ser”.• Atentar para o questionamento final, que parece estar subdividido em duas perguntas que, por sua vez, podem ensejar duas respostas diferentes.

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QUESTÃO 9• Reposicionar a vírgula na expressão “em poucos, anos”• Idem observação constante da questão 7

QUESTÃO 10• Idem observação constante da questão 7

QUESTÃO 11• Atentar para o fato de que as três perguntas constantes da questão 11 induzem o avaliador a responder cada uma delas separadamente. Importante enfatizar no texto se realmente é este o objetivo da questão.

QUADROS DE CONCLUSÃO• Reposicionar o quadro relativo ao cargo do respondente para os quadros introdutórios, logo após o nome e a empresa.

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ANEXO 2

VALIDAÇAO DE QUESTIONÁRIO APLICADO NA AERONÁUTICA

Leitura de questionário constante do projeto:OFFSET: O EXEMPLO DA AERONÁUTICAvalidação do questionário

Autor do projeto: Rogério Luiz Veríssimo Cruz

Leitura realizada por: Ronan Coura Ivo

O questionário apresenta-se pertinente com o objetivo do trabalho. A objetividade na formulação das questões reflete o conhecimento do autor sobre o assunto, na medida em que busca orientar os entrevistados para o foco direto do interesse do trabalho buscado pelo Autor.

Desse modo, as observações a seguir colocadas constituem meras sugestões, que não causariam maiores impactos no resultado buscado pelo Autor.

Pergunta nº 2:

Propõe-se a seguinte alteração na formulação da questão:

O Comando da Aeronáutica estabelece algum tipo de verificação de desempenho em empresa nacional que se apresenta para participar de Acordo de Offset, como critério para seu credenciamento?

Pergunta nº 3:

A expressão “empresas proponentes a Acordos de Offset” enseja dúvidas se se refere às empresas estrangeiras, que propõem Acordos de Offset, ou às empresas nacionais, que se candidatam a ser beneficiárias dos Acordos de Offset firmados pelo Brasil.

a) No primeiro caso, a questão poderia ser construída da seguinte forma:As empresas estrangeiras proponentes de Acordos de Offset são orientadas, durante o processo de negociação, em relação ao aumento das chances de sucesso do empreendimento, caso a proposta dê enfoque à inovação?

b) Já no segundo caso, a pergunta poderia ser assim formulada: As empresas nacionais candidatas a se beneficiarem dos Acordos de Offset firmados pelo Brasil são orientadas a dar enfoque em inovação para o aumento das chances de sucesso do empreendimento?Ou ainda: As empresas nacionais candidatas a se beneficiarem dos Acordos de Offset firmados pelo Comando da Aeronáutica são orientadas a dar enfoque em inovação para o aumento das chances de sucesso do empreendimento?

Pergunta nº 4:

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Questiona-se:

1) a expressão “carga de trabalho” tem significado claro e num mesmo sentido para todos os destinatários do questionário?

2) a pergunta, tal como formulada, não esclarece a quem cabe esta preocupação de “proporcionar carga de trabalho para as empresas nacionais”. Em outras palavras: existe a preocupação por parte de quem?