Ocina de leitura: uma alternativa prática no domínioda linguagem

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    Joo Jos LOPES1

    Resumo: O Projeto de leitura Livro Aberto, criado em abril de 2008, umainiciativa do professor de Lngua Portuguesa Joo Jos Lopes, daEscola EstadualImaculada Conceio, Porto Firme (MG). resultado de sua inquietaocom a decincia na leitura, interpretao e produo escrita de textos dosalunos do Ensino Fundamental e Mdio. Tem como proposta estabelecer umaponte entre oralidade e escrita, visando aprimorar a uncia e a tessiturade textos de diferentes gneros. Apresenta a leitura como instrumento para acompreenso dos vrios discursos que a envolvem, voltada para a formaode leitores e produtores de textos, numa perspectiva crtica e construtiva. Temcomo alvo o alunado da escola em todo o perodo do ano letivo e seu princpiopedaggico processa-se por meio da leitura, compreenso e produo detextos diversos. Sua execuo no se restringe apenas s salas de aula - uma proposta que busca parcerias de outros professores dessa disciplinaou de disciplinas diferentes, como tambm a participao de bibliotecrios,contadores de histrias e voluntrios da comunidade escolar.

    Palavras-chave: projeto de leitura; interpretao de texto; produo detexto.

    Abstract: The Reading Project Livro Aberto, created in April 2008, is aninitiative of the teacher of Portuguese Joo Jos Lopes, ofImaculada ConceioSchool, Porto Firme (MG). It is a result of its concern with disabilities inreading, interpretation and production of written texts of the elementary

    and secondary education. It has a proposal to establish a connection betweenoral communication and writing, to improve uency and production of textsfrom dierent genres. It presents reading as a tool for understanding of thevarious discourses surrounding it, aimed at educating readers and producersof texts, in a critical and constructive perspective. It targets the student bodyof the school throughout the period of the school year and their pedagogicalprinciple takes place through reading, comprehension and production oftexts. Its execution is not restricted to classrooms - it is a proposal that seekspartnerships with other teachers of physics or of dierent disciplines, but alsothe participation of librarians, storytellers and volunteers from the schoolcommunity.

    Keywords: Reading project; Text interpretation; Text production.

    Introduo

    A leitura imprescindvel na vida das pessoas desde criana. Ler

    por prazer ou por necessidade, mas ler de tudo, o que fundamentalpara que a pessoa adquira habilidades como o manejo adequado detextos dos mais variados gneros da lngua. Para o crtico Antonio

    1 Mestrando em Estudos Literrios pela Universidade Federal de Viosa (MG) - 2011-2013. E-mail: [email protected]

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    Candido (1989), a literatura pode ser a cura para muitos males denossa sociedade.

    Acabei de focalizar a relao da literatura com os direitos

    humanos de dois ngulos diferentes. Primeiro, veriquei que aliteratura corresponde a uma necessidade universal que deveser satisfeita sob pena de mutilar a personalidade, porque pelofato de dar forma aos sentimentos e viso do mundo elanos organiza, nos liberta do caos e, portanto nos humaniza(CANDIDO, 1989, p. 186).

    A concepo apresentada por Candido aponta que o domnio

    pleno da lngua, em suas diferentes modalidades de comunicao,possui uma relao estreita com a possibilidade de participao doindivduo poltica e socialmente, uma vez que por meio dela que oshomens estabelecem os mais diferentes vnculos entre si, tanto nacomunicao de suas ideias e sentimentos, como tambm na busca deacesso informao, em que expressam e defendem pontos de vista,

    partilham ou constroem vises de mundo, produzem conhecimentos.Por conseguinte, o domnio da leitura torna-se um dos instrumentosessenciais para a formao do homem como cidado, mesmo que narealidade os estudantes de modo geral apresentem diculdade na

    expresso oral, a no assimilao da norma lingustica e o desinteresse

    pelo texto, dentro e fora da escola.Objetivando desenvolver uma reexo a respeito da prtica da

    leitura na escola hoje, apresentamos os seguintes problemas: Como oespao escolar est organizado para desenvolver a habilidade da leituracomo prtica social? O que tem sido feito no sentido de minimizar adefasagem dos alunos no que tange leitura, interpretao e produo

    textual? Como so planejadas as aes pedaggicas junto ao assistente

    de biblioteca e demais funcionrios ou voluntrios, como os amigos

    da escola? Os professores, principalmente aqueles que lecionamPortugus, conhecem o acervo bibliogrco de sua cidade?

    Para Cagliari (1994, p. 25), o objetivo fundamental da escola desenvolver a leitura para que o aluno se saia bem em todas asdisciplinas, pois se ele for um bom leitor, a escola cumpriu em grandeparte a sua tarefa. O autor dene que a leitura deve ser a extenso da

    escola na vida das pessoas para que elas sejam capazes de entendera sociedade em que vivem e transform-la num mundo melhor. Nesta

    perspectiva, o projeto Livro Aberto prope que o professor seja o

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    Considerando o que determinam os PCNs no que tange ao

    trabalho com leitura, apresentamos uma mostra referente a atividadescom textos e histrias contadas em ofcina de leitura, proposta do

    projeto Livro Aberto, como alternativa na prtica do professor deLngua Portuguesa em seu trabalho com leitura de diferentes gnerose domnios discursivos, visando despertar no aluno/ leitor o prazer deler e, com isso, favorecer um contato mais ntimo com o texto, aguar

    sua curiosidade, desenvolver seu gosto pela leitura, e poder assimestimular a observao, a reexo, o debate, a anlise crtica.

    A importncia do espao escolar para leitura

    A escola pblica enfrenta hoje desaos gigantescos tanto na

    esfera social, como cultural e poltica, o que evidentemente leva oseducadores a repesar novas estratgias que viabilizem uma slidaformao humana, formal e instrumental dos educandos em temposmodernos. Por essa razo, tem-se discutido a problemtica dainfraestrutura escolar: a noo de espao vem sendo reconstruda,ressignicada, enriquecida, deixando de ser vista unicamente em sua

    dimenso geomtrica, para assumir tambm importncia social. Dessa

    maneira, o espao fsico escolar torna-se um elemento indispensvela ser observado. A sua organizao deve ser pensada, no mnimo que

    seja, tendo como princpio oferecer um lugar acolhedor e prazerosopara os que dele usufruem. De acordo com Vera Bastos de Oliveira

    (2000, p. 158), O ambiente, com ou sem o conhecimento do educador,envia mensagens e, os que aprendem, respondem a elas. A inuncia

    do meio atravs da interao possibilitada por seus elementos contnua e penetrante. E arma que os espaos construdos para os

    estudos devem ser explorados em uma relao de interao total, deaprendizagem, de troca de saberes entre os pares, de liberdade de ire vir, de prazer, de individualidades, de partilhas, enm, de se divertir

    aprendendo.Tanto a biblioteca da escola como outro acervo bibliotecrio ou

    mesmo a sala de aula so espaos privilegiados em que os leitorespodero conviver com os mais variados tipos de textos. A escolha do

    acervo e a denio de emprstimo de livros um passo importantssimo,

    como tambm fundamental que a equipe de professores da escola

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    explore coletivamente esse acervo e troque ideias sobre boas escolhas

    de livros, tendo em vista o que conhece sobre as preferncias e a

    faixa etria com a qual trabalha. Outra coisa importante denir uma

    espcie de cronograma como hora da leitura, no sentido de organizaro tempo para o ensino de outros contedos curriculares.Percebe-se que novos leitores so formados na interao com os

    materiais de leitura de qualidade, bem como estabelecem contato comoutros leitores experientes quando o espao para a efetivao dessa

    interao agradvel. Pensando assim, o projeto Livro Aberto buscaconduzir o trabalho com leitura de forma satisfatria. um projeto queconsta de espaos mltiplos: h momentos em que a leitura se realiza

    na biblioteca, em rodas de leitura no ptio da escola, em sala de aulasob a orientao do professor, ou, quando for necessrio, em qualqueroutro ambiente que propicie um momento para sua realizao - tudoisso dentro do planejamento, claro.

    Atividades desenvolvidas

    A seguir, apresentamos algumas atividades que fazem parte

    do projeto Livro Aberto e que tm sido realizadas concomitantes aos

    contedos de Lngua Portuguesa, trabalhadas durante o ano letivona Escola Estadual Imaculada Conceio, na cidade de Porto Firme,em Minas Gerais. Constam de diversos textos elencados segundo o

    gnero discursivo. Lembramos que tais atividades foram ajustadas e

    executadas sem perda ou prejuzo dos contedos curriculares, mas

    como estratgias para a diversicao das aulas de leitura, compreenso

    e produo escrita. bom que seja esclarecido aqui que ao sugerir leituras,

    consideramos fatores como sexo, idade, nvel socioeconmico,desenvolvimento psicolgico e grau de escolaridade dos alunos. As

    atividades com leituras ou contao de histrias foram desenvolvidasde maneira variada e diversicada, evitando tambm sobrecarga das

    aulas. Assim, foram realizados cinco tipos distintos de atividades:

    a) leitura de jornais esta atividade foi desenvolvida emequipe. Reunimos os alunos em grupo de trs ou quatro pessoas

    e distribumos alguns jornais. Aps uma leitura, zemos a

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    escolha de uma coluna do jornal de cada grupo e pedimos queos membros a comentassem. A escolha foi feita tambm pelos

    alunos que manifestaram interesse por um trecho que lhes

    chamou ateno. A produo escrita constou de um pequenojornal elaborado pelos alunos com as principais notcias dacidade. Cada turma cou responsvel pelas notcias do ms,

    passando a vez para outros grupos nos meses subsequentes.b) hora da histria escalamos um dia da semana paracontao de histria em cada turma. Dividimos os alunos em

    duplas e pedimos que trouxessem uma histria, que poderia ser

    oral ou escrita. O espao para esse momento variou segundocritrio do professor. importante que o professor tambm contehistrias nas turmas em que trabalha, pelo menos a primeiraantes das apresentaes dos alunos. interessante tambmtrazer, se puder, um contador de histrias.c) leitura em voz alta a escolha de pequenos livros,contos, crnicas, poemas etc. constituiu uma boa estratgia

    para um trabalho com cirandas de leituras, que organizamosquinzenalmente. Para isso, zemos sorteios dos alunos que

    caram responsveis pela leitura, a qual deveria ser feita com

    disciplina: a postura vocal, o respeito pontuao, a pausaetc. Ao nal, os alunos responsveis pela histria entregaram

    uma pequena anlise, na qual expunham seu ponto de vista.

    Outra variedade de trabalhos escritos que tambm surtiu efeitofoi a elaborao de um varal de poemas, crnicas, contos etc.,

    produzidos pelos alunos.d) visita biblioteca e escolha do livro para a realizaodeste trabalho, pedimos aos alunos que visitassem a biblioteca

    da escola ou do municpio e escolhessem livros com temticasvariadas (contos, notcias, curiosidades cientcas, grandes

    invenes etc.). Aps a leitura, pedimos a confeco de um

    mural, no qual cada aluno fez a cha tcnica do livro lido e

    um pequeno comentrio crtico sobre ele. Por se tratar de umaatividade extraclasse, foi repetida mais vezes durante o ano

    letivo.e) roda de leitores ou seminrio aps a leitura de um livro

    pela turma, dispomos os alunos em crculo e zemos perguntas

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    sobre o tema, as personagens, anlise comparativa etc. epedimos a eles que questionassem os colegas sobre o livro lido;em outros momentos dividimos os alunos da classe em grupos,

    cando cada grupo responsvel pela leitura de uma obra literriae apresentao em seminrio, organizado com antecedncia

    pelo professor. As atividades escritas, tanto para roda de leitores

    quanto para seminrio, constaram de um roteiro de anliseque o professor entregou s equipes previamente. Em outros

    momentos, dependendo do gnero textual, da disposio dos

    alunos e do local de apresentao, foram realizadas pequenasdramatizaes, que enriqueceram muito o trabalho.

    Resultados alcanados

    Os momentos literrios ou hora da leitura contemplados peloprojeto Livro Aberto tem apresentado bons resultados, uma vez que,atravs da coordenao de seu idealizador, juntamente com a equipepedaggica e demais voluntrios, as atividades tm sido conduzidas

    de modo a proporcionar ao pblico leitor (nesse caso, os alunos) o

    prazer pela leitura, a melhoria da qualidade dos textos produzidos,

    a desenvoltura no procedimento da leitura oral e o gosto pelo ato deouvir histrias.

    A participao assdua dos alunos durante os momentos de

    apresentaes, mostrando conhecimento do livro lido ou da histriacontada, a partir da exposio oral ou escrita, apresentou um rendimento

    superior em comparao s situaes iniciais.

    As sesses de discusses tm superado as expectativas

    com relao satisfao e frequncia do pblico - observou-se a

    participao de todos ao nal de cada sesso, quando foi aberto oespao para o momento do bate-papo informal sobre o texto lido.

    Consideraes nais

    Buscando correlacionar a leitura compreenso e produo

    escrita, o projeto Livro Aberto tem sido desenvolvido como suportepedaggico, sob superviso do professor de Portugus Joo Jos Lopes,

    naEscola Estadual Imaculada Conceio

    , em Porto Firme, Minas Gerais,

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    durante o ano letivo. A nalidade principal do projeto visa despertar

    no aluno/ leitor o interesse pelos livros como tambm a necessidadede fazer da leitura um passaporte para o sucesso escolar. Nesta

    perspectiva, o trabalho com leitura, seja em classe, ou extraclasse, sejaatravs de textos lidos ou contao de histrias, deve ser uma prtica

    constante. Se por um lado tem a nalidade principal de formar leitores

    competentes, por outro, auxilia a produo de textos e a interpretao

    em quaisquer outras disciplinas.

    REFERNCIAS

    CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetizao e lingustica. 2 ed. So Paulo:Scipione, 1994.

    CANDIDO, Antonio. Direitos humanos e literatura.In. FESTER, A. C. Ribeiro eoutros. Direitos humanos e Literatura. So Paulo: Brasiliense, 1989.

    CAVALCANTI, Joana. Leitura: o despertar da Cidadania. 1 ed. Recife,UNESCO, 2002.

    CERTEAU, Michel de. A inveno do cotidiano: Artes de fazer. Traduo deEphraim Ferreira Alves. 4 ed. Petrpolis: Editora Vozes, 1999.

    FERREIRO, Emlia. Reexes sobre alfabetizao. Traduo HorcioGonzales et al., 24. ed. Atualizada. So Paulo: Cortez, 2001.

    FREIRE, Paulo. A importncia do ato de ler: em trs artigos que secompletam. 41. ed. So Paulo: Cortez, 2001.

    MEC (Ministrio da Educao) Parmetros Curriculares Nacionais. LnguaPortuguesa. Braslia, MEC.1998.

    OLIVEIRA, Vera Barros de. O brincar e a criana do nascimento aos seisanos. Petrpolis: Vozes, 2000.

    SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAO DE MINAS GERAIS. ContedoBsico Comum Portugus (2005). Educao Bsica - Ensino Fundamentale Mdio.

    TEBEROSKY, A.; L. T. Alm da alfabetizao. 4. ed., So Paulo: tica,1996.

    Recebido em 24 de outubro de 2012.Aceito em 29 de maro de 2013.

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