OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE COMPÓSITO DE...

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OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE COMPÓSITO DE POLIPROPILENO REFORÇADO COM FIBRA DE PALMEIRA Larissa Calil Santana Orientadora: Profa. Dra. Maria da Rosa Capri LORENA 2014 ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

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OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE COMPÓSITO DE POLIPROPILENO

REFORÇADO COM FIBRA DE PALMEIRA

Larissa Calil Santana

Orientadora: Profa. Dra. Maria da Rosa Capri

LORENA

2014

ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

0

LARISSA CALIL SANTANA

OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE COMPÓSITO DE POLIPROPILENO

REFORÇADO COM FIBRA DE PALMEIRA

Orientadora: Profa. Dra. Maria da Rosa

Capri

LORENA

2014

Trabalho de Conclusão de Curso de

Graduação apresentado à Escola de

Engenharia de Lorena da Universidade

de São Paulo como requisito parcial para

conclusão da graduação do curso de

Engenharia Química.

1

AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO Serviço de Biblioteca Escola de Engenharia de Lorena

Santana, Larissa Calil

Obtenção e caracterização de compósito de polipropileno reforçado com fibra de

palmeira / Larissa Calil Santana. - Lorena, 2014.

48f.

Monografia apresentada como requisito parcial para a conclusão do Curso de

Graduação de Engenharia Química - Escola de Engenharia de Lorena da

Universidade de São Paulo.

Orientadora: Maria da Rosa Capri

1. Fibras vegetais 2. Palmeiras 3. Materiais compósitos I. Capri, Maria da

Rosa, Orient.

2

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus, em quem sempre encontro forças para enfrentar

os desafios da vida, iluminando e abençando o meu caminho.

Aos meus pais, José Antônio e Adriana, e as minhas irmãs, Lais e Laila, que sempre

me apoiaram, incondicionalmente, e são essenciais na minha vida.

À minha avó, Tereza, que, mesmo não estando mais em vida, foi de extrema

importância para que eu conseguisse chegar até aqui, não medindo esforços para

me orientar e ajudar no que fosse preciso.

Aos meus amigos que trouxeram muita alegria e companheirismo a essa

caminhada.

Ao professor Luis Fernando Figueiredo Faria, que confiou e acreditou em mim e com

quem sempre pude contar ao longo da minha graduação.

À minha orientadora, Maria da Rosa Capri, que, brilhantemente, esteve ao meu lado

para a realização deste trabalho.

À professora Daniella Regina Mulinari, que tornou possível a realização deste

trabalho, com sua paciência e dedicação.

Ao professor Clodoaldo Saron, que, gentilmente, cedeu seu laboratório para que

fossem feitas análises de FTIR e TGA/DSC. Assim como, ao seu aluno de mestrado

Diego Pinzón, que me auxiliou no uso dos equipamentos.

Ao técnico Bento Ferreira, que me auxiliou com análises.

Ao professor Adilson Roberto Gonçalves, que cedeu seu laboratório para que

algumas análises fossem feitas.

Ao Unifoa, onde foram processados os compósitos e foram feitas análises de MEV e

DRX.

3

RESUMO

SANTANA, L.C. Obtenção e caracterização de compósito de polipropileno reforçado com fibra de palmeira. 2014. 48f. Monografia (Trabalho de conclusão de curso) - Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2014.

A busca pela obtenção de materiais compósitos poliméricos reforçados com fibras

naturais, assim como sua aplicação nos mais diversos setores, tem sido crescente.

As pesquisas nesta área ganham cada vez mais visibilidade devido às inúmeras

vantagens apresentadas por este tipo de reforço, quando comparado aos

tradicionalmente utilizados. A principal vantagem em relação ao uso das fibras

naturais está ligada à ideia de sustentabilidade, altamente difundidade na sociedade

atual. Estes reforços são provenientes de resíduos agroindustriais, sendo alguns

deles: rejeitos de algodão, bagaço e palha de cana-de-açúcar, fibra de coco,

pseudocaule da bananeira, fibra de palmeira, entre outros. Assim, por se tratar de

um material renovável e biodegradável, ganha destaque ambiental e econômico.

Este trabalho teve o objetivo de obter e caracterizar compósito de polipropileno

reforçado com fibras da palmeira real australiana. Ao longo do projeto, foram

estudadas modificações físicas e químicas das fibras in natura, lavadas com água

quente e mercerizadas. Os compósitos de polipropileno reforçados com 5%, 10% e

20% (m/m) de fibras in natura e mercerizadas foram avaliados termicamente. A

obtenção deste novo material, com características sinergéticas, visou seu melhor

entendimento e aprimoramento das técnicas que viabilizarão o amplo uso das fibras

naturais como reforço em compósitos. As fibras foram caracterizadas tanto

quimicamente, assim como, pelas técnicas de MEV, FTIR, DRX e TGA/DSC. Os

resultados da caracterização química comprovaram o aumento no teor de celulose e

redução nos teores de hemicelulose, de lignina e de cinzas nas fibras tratadas. O

FTIR mostrou redução da hidrofilicidade das fibras após tratamento, além de

evidenciar redução/eliminação de grupos químicos característicos da hemicelulose e

da lignina. As fibras mercerizadas apresentaram maior índice de cristalinidade

quando comparadas às fibras in natura e lavadas. O MEV comprovou alterações

morfológicas nas fibras, como aumento de rugosidade após o tratamento, o que

facilita o entrelaçamento do reforço com sua matriz, melhorando as características

do compósito. Os estudos térmicos das fibras mostraram que a mercerização, assim

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com a lavagem, provocou aumento nas temperaturas de degradação e a maior

entalpia de evaporação foi observada na fibra mercerizada. Os compósitos de fibras

tratadas apresentaram as maiores temperaturas de degradação e de fusão. O

aumento no teor de fibras levaram aos maiores incrementos.

Palavras-chave: fibras de palmeira, compósitos, polipropileno, caracterização

5

ABSTRACT

SANTANA, L.C. Preparation and characterization of composite polypropylene-palm fiber . 2014. 48f. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso ) – Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena/SP, 2014.

The quest for obtaining polymeric composites reinforced with natural fibers as well as

their application in various sectors, has been increasing. Research in this area are

gaining more visibility due to the numerous advantages offered by this type of

reinforcement when compared to traditionally used.The main advantage over the use

of natural fibers is linked to the idea of sustainability, highly diffused in society today.

These reinforcements are coming from agro-industrial residues, some of them are:

waste cotton, sugarcane bagasse and straw, coir , pseudo stem of banana, palm

fiber, among others. Thus, because it is a renewable and biodegradable material, it

gains environmental and economic prominence.This work aimed to obtain and

characterize composite of polypropylene reinforced with Australian royal palm fibers.

Throughout the project, physical and chemical modifications of in natura, washed

with hot water and mercerized fibers were studied. Polypropylene composites

reinforced with 5%, 10 % and 20 % (w/ w) of in natura and mercerized fibers were

evaluated thermally. Obtaining this new material, with synergistic characteristics,

aimed its better understanding and improvement of techniques that will enable the

widespread use of natural fibers as reinforcement for composites.The fibers were

characterized both chemically as well as by SEM techniques, FTIR , XRD and TGA /

DSC. The results of the chemical characterization confirmed increase in cellulose

and reduction of hemicellulose, lignin and ash in the treated fibers. The FTIR showed

reduced hydrophilicity of the fibers after treatment, besides highlighting the reduction

/ elimination of chemical groups characteristic of hemicellulose and lignin. The

crystallinity index of mercerized fibers was the largest of the three, according to XRD

results. The SEM demonstrated morphological changes of fibers such as increased

surface roughness after the treatment, which facilitates the entanglement of the

reinforcement with a matrix, improving the characteristics of the composite. The

thermal studies of the fibers showed that mercerization, as well as washing, caused

an increase in the temperatures of degradation and the highest enthalpy of

evaporation was observed in mercerized fiber. The treated fiber composites showed

6

the highest temperatures of degradation and fusion. The increase in fiber content led

to larger increments.

Keywords: palm fibers, composites, polypropylene, characterization

7

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 7

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...................................................................... 9

2.1 COMPÓSITOS......................................................................................... 9

2.2 MATRIZ – POLIPROPILENO.................................................................. 10

2.3 REFORÇO – FIBRAS DE PALMEIRA REAL AUSTRALIANA................ 12

2.3.1 Tratamento............................................................................................ 15

2.3.2 Processamento de Materiais Compósitos............................................ 17

2.3.3 Propriedade Térmica............................................................................ 17

3 METODOLOGIA......................................................................................... 19

3.1 OBTENÇÃO DAS FIBRAS...................................................................... 19

3.2 MODIFICAÇÃO........................................................................................ 20

3.3 ANÁLISE DAS FIBRAS........................................................................... 20

3.3.1 Caracterização Química....................................................................... 20

3.3.1.1 Determinação de carboidratos e ácidos orgânicos por CLAE........... 21

3.3.1.2 Determinação de lignina insolúvel em ácido...................................... 21

3.3.1.3 Determinação do teor de cinzas........................................................ 21

3.3.1.4 Determinação da lignina solúvel........................................................ 22

3.3.1.5 Determinação de furfural e hidroximetilfurfural.................................. 22

3.3.2 Espectroscopia de Infravermelho (FTIR).............................................. 23

3.3.3 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)......................................... 23

3.3.4 Difratometria de Raios X (DRX)............................................................ 23

3.3.5 Termogravimetria (TGA) / Calorimetria Diferencial de Varredura

(DSC).............................................................................................................

24

3.4 PREPARAÇÃO DO COMPÓSITO........................................................... 24

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES............................................................... 26

4.1 CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA DAS FIBRAS......................................... 26

4.2 MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA (MEV)....................... 28

4.3 ESPECTROSCOPIA DE INFRAVERMELHO (FTIR).............................. 32

4.4 DIFRATOMETRIA DE RAIOS X (DRX)................................................... 33

4.5 TERMOGRAVIMETRIA (TGA) / CALORIMETRIA DIFERENCIAL DE

VARREDURA (DSC).....................................................................................

35

5 CONCLUSÕES........................................................................................... 43

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................... 45

7

1. INTRODUÇÃO

Diante do aumento dos problemas ambientais e com a busca por matérias-

primas que atendam aos preceitos de uma realidade pautada no respeito ao meio

ambiente e às gerações futuras, a incorporação de fibras naturais a polímeros

largamente utilizados nas indústrias vem ganhando notoriedade devido às inúmeras

possibilidades de aplicação; ao ganho de propriedades, não percebidas no uso

separado destes materiais; à redução no consumo energético; à redução na

poluição; à oportunidade de dar uma destinação a resíduos agroindustriais.

A maioria dos produtos industrializados apresenta problemas quanto à

maneira adequada de se fazer o descarte, isto se deve a não biodegradabilidade

destes, requerendo elevados gastos energéticos nos processos de degradação da

matéria-prima. O uso da fibra da palmeira e de outros insumos agrícolas como

reforço em matrizes poliméricas alerta o mercado para uma nova geração de

materiais, muito promissores, que permite ganhos qualitativos e quantitativos a

produtos e processos, além de atender ao ideal sustentável.

Quanto aos reforços naturais propostos, é importante destacar que o volume

produzido é grande, o que torna o projeto muito interessante. No entanto, a

compatibilidade entre um material lignocelulósico e uma matriz polimérica possui um

papel determinante nas propriedades do compósito final, pois é através da interface

que ocorre a transferência de carga da matriz para a fibra (MULINARI, 2009).

Quando há incompatibilidade, a interface é a região mais fraca do material, local

onde ocorre a falha, que acaba comprometendo o reforço do compósito, devido à

transferência ineficiente de esforços na interface fibra/matriz (LI; HU; YU, 2008;

ZHENG et. al., 2007; BHATNAGAR; SAIN, 2005). A tensão interfacial entre a fibra e

a matriz pode ser diminuída submetendo as fibras a modificações (TSERKI et. al.,

2005; GOMES et. al., 2007; BERTOTI; LUPORINI; ESPERIDIÃO, 2009; JOHN;

ANANDJIWAL, 2009; GU, 2009).

Um dos grandes problemas de quem trabalha com polímeros é a poluição do

local de trabalho, fato que não ocorreria com o uso do compósito reforçado com

fibras naturais. É importante destacar também que a ISO 14000 permite que estes

compósitos sejam considerados uma estratégia na redução dos problemas

ambientais (MULINARI, 2009).

8

Diante dos inúmeros avanços nesta área e da crescente aplicação deste tipo

de material, este trabalho teve o objetivo de obter e caracterizar termicamente um

compósito de polipropileno (PP) reforçado com fibras de Palmeira Real Australiana,

o que agregará valor à matéria-prima, até então tida como resíduo do campo, e

permitirá o desenvolvimento de um material com características térmicas, mecânicas

e químicas viáveis a inúmeros usos industriais.

9

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. COMPÓSITOS

Os compósitos são materiais que combinam propriedades físicas e mecânicas

que não podem ser encontradas em um mesmo material simultaneamente na

natureza. Os compósitos são obtidos pela mistura de materiais imiscíveis, visando

combinar e/ou melhorar suas propriedades em um material final. Muitos desses

compósitos aliam baixa densidade com alta resistência mecânica e química, além de

propriedades específicas desejáveis para aplicações bem definidas (MILÉO, 2011).

O desenvolvimento na Ciência dos Materiais no século XX trouxe à tona o

universo dos compósitos como eficientes materiais para aplicações de engenharia. A

busca cada vez maior por materiais que reunam resistência, durabilidade, pouca

deformabilidade e capacidade de absorver e dissipar energia, sem que ocorra

ruptura com facilidade faz com que os compósitos sejam estudados e aprimorados

ainda mais.

Em meio à busca pelo aprimoramento dos compósitos, ganhou destaque o

compósito reforçado com fibras sintéticas (de carbono, de vidro, de poliamida

aromática e de boro são as mais comuns). Este reforço conferiu ao material

compósito elevada resistência à tração, baixo peso específico, resistência à

corrosão, elevada resistência à fadiga, bom amortecimento ao choque e ao

isolamento eletromagnético. Estas características obviamente sofrem variações

dependendo dos materiais constituintes, da posição das fibras de reforço e da

interação matriz/reforço (MULINARI, 2009).

O desenvolvimento nos estudos nesta área levou à utilização de fibras

naturais como uma alternativa ao uso das fibras sintéticas. As fibras naturais

mostraram-se tão satisfatórias quanto às sintéticas, no que diz respeito ao ganho de

propriedades, e ainda apresentam outras vantagens quando comparadas à fibra

sintética mais utilizada, a de vidro. A Tabela 1 comparativa expõe claramente tais

observações.

10

PROPRIEDADES FIBRAS NATURAIS FIBRAS DE VIDRO

DENSIDADE BAIXA ALTA

RECICLABILIDADE SIM NÃO

FONTE RENOVÁVEL SIM NÃO

CONSUMO DE ENERGIA

PARA A PRODUÇÃO BAIXO ALTO

ABRASIVIDADE AOS

EQUIPAMENTOS NÃO SIM

RISCO À SAÚDE QUANDO

INALADA NÃO SIM

DESCARTE AMBIENTAL BIODEGRADÁVEL NÃO-BIODEGRADÁVEL

O aspecto econômico-social também ganha destaque com o emprego das

fibras vegetais devido ao aumento na geração de empregos rurais e industriais ao

longo da cadeia produtiva deste tipo de compósito. Além disso, o Brasil possui uma

grande extensão territorial cultivável e está entre os países com a maior biomassa

do mundo.

2.2. MATRIZ – POLIPROPILENO

Dependendo do tipo de aplicação desejada para o material produzido, assim

como do processo e custos envolvidos em sua fabricação, a matriz polimérica

escolhida mudará.

Polímeros termoplásticos e termorrígidos são os mais largamente

empregados. A diferença entre eles está basicamente no comportamento assumido

quando aquecidos. O termorrígido, uma vez polimerizado e rígido, não sofrerá fusão

quando submetido a aquecimento. Uma tentativa de fundí-lo, certamente degradará

o material. Já, os termoplásticos podem ser fundidos com o calor (temperaturas

variando entre 135°C e 250°C, dependendo do polímero) e endurecidos com o

abaixamento da temperatura (RODA, 2011).

Os termoplásticos, portanto, são mais amplamente utilizados devido a

características como processabilidade fácil e econômica, dureza e possibilidade de

reciclagem (RODA, 2011). Tais vantagens motivam a busca por melhorias nas

propriedades deste tipo de material muito utilizado nos mais diversos ramos.

Tabela 1 – Comparação entre fibras naturais e fibras de vidro (MULINARI, 2009).

11

A escolha do polímero a ser utilizado no compósito também deve levar em

consideração a temperatura de degradação das fibras naturais, que gira em torno de

220°C. Assim, é essencial que a temperatura de processamento da matriz

polimérica seja inferior (DA LUZ, 2007).

O polipropileno (PP), polímero termoplástico escolhido como matriz dos

compósitos deste trabalho, é produzido pela polimerização do propileno, um

subproduto gasoso do refino de petróleo, em condições específicas de temperatura

e pressão e com uso de catalisador. Este polímero tornou-se comercialmente viável

após pesquisas do professor G. Natta, em 1954, que utilizou catalisador

estereoespecífico de Ziegler, possibilitando o controle da orientação do grupo metila,

CH3, na cadeia polimérica, o que leva à formação de polipropilenos de estruturas

regulares, como o sindiotático e o isotático (GALLI; HAYLOCK; SIMONAZZI, 1995).

O polipropileno pode ser atático (Figura 1a), quando não houver regularidade

na disposição do grupo metila; isotático (Figura 1b), quando todos os grupos metila

estão do mesmo lado e no mesmo plano da cadeia polimérica ou sindiotático (Figura

1c), quando grupos metilas estão dispostos acima e abaixo do plano da cadeia de

forma alternada.

As propriedades do polipropileno dependem, principalmente, de sua

taticidade, da massa molar e das condições de cristalização (CANEVAROLO,

2006). No propileno atático prevalece uma estrutura praticamente amorfa,

Figura 1 – Estrutura isoméricas: polipropileno atático (a); polipropileno isotático (b); polipropileno

sindiotático (c). (CUNHA, 2010)

12

apresentando maior flexibilidade e maciez. Os polipropilenos sindiotáticos e

isotáticos são mais cristalinos, em decorrência da regularidade dos arranjos. O

sindiotático é menos rígido, tem melhor resistência ao impacto e possui menor ponto

de fusão, quando comparado ao isotático. A maior cristalinidade do isotático

proporciona boa rigidez ao material e eleva sua resistência à tração (MAIER;

CALAFUT, 1998).

O polipropileno homopolímero, o mais usado comercialmente, é isotático à

temperatura ambiente. Apresenta cristalinidade entre 40-70% e grau de isotaticidade

entre 93-95%. Dentre as principais características do material estão: boa rigidez, alta

resistência térmica, resistência ao impacto limitada a baixas temperaturas (DALPIAZ,

2006).

2.3. REFORÇO – FIBRAS DE PALMEIRA REAL AUSTRALIANA

As fibras lignocelulósicas são constituídas de três componentes básicos,

sendo eles: celulose, hemicelulose e lignina, em percentuais próximos a 40%, 30% e

20%, respectivamente.

A celulose está de 15-30% na constituição da massa seca da parede celular

primária do vegetal e até 40% na massa seca da parede celular secundária, onde se

encontra na forma de microfibrilas, que possuem regiões cristalinas intercaladas com

regiões amorfas. As microfibrilas são formadas por unidades de glicose e celobiose,

unidas umas às outras por ligações de hidrogênio (Figura 2) (GUTMAIS, 2008).

Figura 2 – Microfibrilas de celulose com regiões amorfa e cristalina intercaladas e estrutura molecular

parcial da celulose. (COTTON INCORPORATED, 2011)

13

As hemiceluloses são polissacarídeos de cadeia linear ou ramificada. Elas

são amorfas e de baixo peso molecular. Elas encontram-se depositadas, de maneira

intercalada, nas microfibrilas de celulose, conferindo elasticidade e flexibilidade. A

hemicelulose (Figura 3) pode ser um homopolímero, quando for constituída de

apenas uma unidade; ou um heteropolímero, quando tiver duas ou mais unidades

(AGUIAR, 2010).

A lignina é uma macromolécula (Figura 4), formada por inúmeros grupos

aromáticos e alifáticos, altamente ramificada, amorfa e de estrutura tridimensional.

Ela é encontrada na lamela média dos vegetais e, em menor quantidade, nas

paredes celulares secundárias (FASANELLA, 2008).

Figura 3 – Estrutura molecular parcial da hemicelulose. (ALVES, 2011)

Figura 4 – Estrutura parcial hipotética da lignina. (FENGEL; WEGENER, 1984)

14

A Palmeira Real Australiana (Archontophoenix alexandrae) era utilizada no

Brasil apenas como planta ornamental. No entanto, em 1990, esta espécie surgiu

como uma alternativa à exploração predatória das espécies nativas, como os

palmitos Juçara e Açai, tradicionalmente cultivados no país.

Atualmente, a Palmeira Real Australiana tem sido muito bem aceita para

exploração racional do palmito. O produto extraído apresenta sabor, coloração e

textura muito satisfatórios e muito diferentes das espécies tradicionalmente

utilizadas.

Esta espécie de palmeira não é exigente quanto a solos, se adaptando a

vários tipos, inclusive solos pobres e de baixo pH. O clima adequado para cultivo é o

quente e úmido.

A partir do cultivo, é gerada uma grande quantidade de resíduos. Para cada

palmeira retirada, cerca de 400g de palmito comercial é extraído e o resíduo gerado,

que constitui 80-90% do peso total da palma, é formado, principalmente, de folhas e

bainhas das folhas (Figura 5) (RIBEIRO, 1996).

Figura 5 - Resíduos, estipes (A); bainhas externas e internas (B) e segmento foliar (C) da

Archontophoenix alexandrae, descartados no campo (ADENESKY FILHO, 2007).

15

Estes resíduos celulósicos são utilizados como fonte energética na

alimentação de caldeiras, na fabricação de fertilizantes ou na cobertura de solos.

Considerando-se que, a cada planta de palmito colhida, obtêm-se cerca de 400g de

palmito comercial e, aproximadamente, 13kg de resíduos, gerando cerca de 20

toneladas de “lixo” por semana, conforme dados da empresa Natusol, uma

destinação mais nobre a estes insumos representa um excelente ganho econômico

(FERMINO et al, 2010).

2.3.1. Tratamento

Na obtenção de compósitos é essencial que a adesão interfacial entre reforço

e matriz se dê de maneira adequada, pois é na interface que ocorrerá a

transferência da solicitação mecânica da matriz para o reforço. Esta interação está

condicionada a dois fatores: molhabilidade e adesividade. Esta relacionada às forças

coesivas e, aquela, ao grau de contato das superfícies (BLEDZKI; REIHMANE;

GASSAN, 1996; KEENER; STUART; BROWN, 2004).

Diante das diferentes naturezas químicas dos materiais utilizados na

fabricação dos compósitos, é natural que se espere uma relativa dificuldade na

perfeita interação entre estes. Assim sendo, as fibras devem ser tratadas e

modificadas quimicamente para melhorar a adesão fibra-matriz ou, até mesmo, para

alterar as suas características.

As fibras naturais são materiais lignocelulósicos que apresentam muitos

grupos hidroxilas em suas cadeias, o que lhe confere caráter hidrofílico. Em

contrapartida, matrizes poliméricas termoplásticas, como o polipropileno, possuem

grande hidrofobicidade. Esta dualidade em um mesmo material gera fragilidade

estrutural. Assim, alterações químicas são feitas a fim de melhorar as propriedades

do compósito desenvolvido.

Este trabalho usou para modificação das fibras naturais da palmeira uma

técnica conhecida como mercerização, que consiste na utilização de solução de

hidróxido de sódio para realizar as alterações químicas no material. A solução é

geralmente diluída, evitando degradação das fibras, pela extração excessiva de

polioses e lignina.

16

Os grupos funcionais presentes na estrutura da celulose podem tornar-se

mais acessíveis através de tratamentos que levem ao intumescimento das cadeias

de polissacarídeo, interferindo nas ligações de hidrogênio intermoleculares e

diminuindo a cristalinidade da molécula. O intumescimento, que corresponde à

interação física entre os grupos hidroxila da celulose e agentes químicos, pode ser

classificado como intercristalino e intracristalino (NEVEL; ZERONIAN, 1985).

No intumescimento intercristalino, como é o intumescimento com água, o

agente intumescedor penetra somente nos interstícios entre as unidades das

estruturas fibrilares e intumesce as áreas menos ordenadas, causando o inchamento

das fibrilas de celulose. No intumescimento intracristalino, o agente entra nos

interstícios fibrilares e penetra nas regiões não cristalinas e cristalinas, provocando,

muitas vezes, mudanças drásticas na rede cristalina (LACERDA, 2012).

A mercerização, processo de intumescimento intracristalino, no qual fibras

vegetais são tratadas com solução aquosa de uma base forte, leva à solubilização

da hemicelulose e da lignina e ainda altera a cristalinidade da celulose. Este

tratamento deixa a superfície da fibra mais rugosa e melhora sua aderência

mecânica. Esta técnica, como dito acima, aumenta a quantidade de celulose amorfa,

por enfraquecer ligações de hidrogênio presentes na molécula, criando um

distanciamento entre as cadeias celulósicas. As hidroxilas resultantes do tratamento

com a base forte contribuem para a quebra destas ligações, à medida que novas

ligações de hidrogênio são formadas com as cadeias celulósicas. Este processo de

quebra/interação de ligações faz com que grupos, antes inacessíveis a ação de

agentes químicos, fiquem mais expostos para formação de ligações de hidrogênio

intra e intermoleculares, facilitando a interação das fibras com novos materiais

(CARVALHO, 2002; ALBINANTE; PACHECO; VISCONTE, 2012)

A modificação com hidróxido de sódio ativará as hidroxilas da celulose das

fibras, transformando-as em alcóxidos, o que beneficiará o uso deste material como

reforço. A reação que ocorre esta indicada na Figura 6.

Fibra --- OH + NaOH Fibra --- O-Na+ + H2O

Figura 6 - Reação das fibras naturais com hidróxido de sódio (mercerização) (SIQUEIRA, 2011)

A mercerização é uma técnica que tem sido muito estudada nos últimos anos

por aliar baixo custo e satisfação de resultados (RAZERA; FROLLINI, 2004).

17

2.3.2. Processamento de materiais compósitos

A obtenção de compósitos poliméricos reforçados com fibras naturais requer

uma ou mais fases de processamento. As etapas básicas são: mistura, que objetiva

distribuição homogênea das fibras na matriz, e moldagem.

Para a mistura podem ser usados o processo de extrusão ou um misturador

termocinético de alta intensidade. A moldagem é, normalmente, feita por injeção.

A extrusão consiste na aplicação de pressão e de alta temperatura para derreter

a matriz polimérica, que passará por um orifício continuamente, produzindo formas,

como lâminas, filmes ou canos. Durante a passagem do polímero pelas roscas

aquecidas, as fibras são adicionadas e, assim, misturadas a ele (SIQUEIRA, 2011).

O misturador termocinético de alta intensidade permite uma melhor distribuição

das fibras no polímero, além de permitir que amostras sejam obtidas em menos de

um minuto. Neste equipamento, o calor é gerado pela alta rotação das palhetas e o

material fica entre estas palhetas e as paredes da cápsula de mistura. Uma

desvantagem observada é a diminuição no comprimentos das fibras devido a ação

do cisalhamento intenso (SIQUEIRA, 2011).

Na moldagem por injeção, há a formação de um líquido viscoso, resultante do

aquecimento e derretimento do composto. Este líquido é forçado para um molde a

uma temperatura bem mais baixa, ganhando a forma desejada. O produto obtido

pode ter tamanhos e massas bastante diferentes, dependendo do tipo de molde e de

injetora utilizados.

2.3.3. Propriedade térmica

A caracterização térmica dos compósitos poliméricos reforçados com fibras

naturais é um parâmetro muito importante a ser determinado, pois a quantidade de

reforço na matriz poderá influenciar diretamente sobre as propriedades finais do

compósito (CHOUDHURY, 2008; MÜLLER; LAURINDO; YAMASHITA, 2009).

A avaliação das propriedades térmicas do compósito desenvolvido é essencial

para o entendimento do quanto a adição das fibras influenciou em sua estabilidade e

degradação, possibilitando a definição de futuras aplicações e de processamentos

aos quais poderão ser submetidos.

18

As temperaturas de degradação de materiais lignocelulósicos podem ser

consideradas parâmetros críticos, por serem relativamente baixas, tornando-se

imprescindível a análise da resistência térmica das fibras. A degradação das fibras

durante o processamento de compósitos altera suas propriedades mecânicas e cria

vazios no compósito que resultam numa menor resistência. Ocorrem também

mudanças de coloração e de odor no material.

Este trabalho teve como foco principal o estudo do comportamento térmico do

compósito obtido, assim como das fibras usadas como reforço.

19

3. METODOLOGIA

A metodologia utilizada para alcançar os objetivos deste trabalho foi realizada

para obter informações necessárias à determinação das propriedades térmicas dos

compósitos. A metodologia empregada está baseada em trabalhos de Iniciação

Científica e Mestrado, respectivamente, orientados pela Profa. Dra. Maria da Rosa

Capri (SIQUEIRA, 2011) e pela Profa. Dra. Daniela Mulinari (DE OLIVEIRA, 2013).

O fluxograma da Figura 7 apresenta um esquema das etapas envolvidas no

trabalho:

3.1. OBTENÇÃO DAS FIBRAS

As fibras da Palmeira Real Australiana utilizadas no trabalho foram cedidas

pela Indústria Beira Rio LTDA, localizada em Barra Mansa – RJ. Estas fibras foram

inicialmente moídas e peneiradas a 40 mesh, conforme sugestão da literatura

Fibras da Palmeira Real Australiana

(moídas e peneiradas a 40 mesh)

Fibras modificadas

Mistura em homogeneizador de

plásticos

Moinho granulador

Compósito

PP/Fibras (5-20 % m/m)

Caracterização do compósito

Caracterização :

-Química

-FTIR

-MEV

-DRX

-TGA

Tratamento

PP + Fibras

Caracterização

Térmica:

-TGA/DSC

Figura 7 – Fluxograma da metodologia utilizada no trabalho

20

utilizada como referência do desenvolvimento desta metodologia. Em seguida, foram

secas em estufa, a 80°C.

3.2. MODIFICAÇÃO

A modificação química das fibras da Palmeira Real Australiana foi realizada

pela imersão destas em uma solução de NaOH a 10%, durante 1 hora e em

temperatura ambiente. Em seguida, as fibras foram lavadas exaustivamente com

água destilada até atingir o pH da água destilada e secas em estufa a 80°C.

Parte das fibras peneiradas também foram lavadas com água quente, a

100°C, até que a água de lavagem não apresentasse mais mudança de coloração,

em seguida, foram secas em estufa a 80°C. Estas fibras foram separadamente

analisadas para que uma comparação intermediária, entre a fibra in natura e tratada,

pudesse ser realizada.

3.3. ANÁLISE DAS FIBRAS

As fibras da Palmeira Real Australiana in natura e modificadas foram

caracterizadas:

-Quimicamente pela metodologia proposta por Gouveia et al (2009);

-Funcionalmente por Espectroscopia de Infravermelho (FTIR);

-Fisicamente por Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) e por

Difratometria de Raios X (DRX);

-Termicamente por Termogravimetria (TGA) e por Calorimetria Diferencial de

Varredura (DSC).

3.3.1. Caracterização Química

A caracterização química da fibras de palmeira in natura e modificadas seguiu

a metodologia proposta por Rocha et al (2007) e validada por Gouveia et al (2009).

A análise levou à determinação das ligninas solúveis e insolúveis (lignina total),

21

carboidratos, ácidos orgânicos, furfural, hidroximetilfurfural e cinzas. Todas as

análises foram realizadas em triplicata.

3.3.1.1. Determinação de carboidratos e ácidos orgânicos por CLAE

Os hidrolisados obtidos foram analisados por cromatografia líquida de alta

eficiência (CLAE). As amostras foram diluídas e filtradas em membrana 0,45μm e

seguidos de cartucho Sep-Pak C18 e encaminhados ao cromatógrafo Shimadzu

modelo CR 7A, empregando um detector de índice de refração Shimadzu RID-6A e

uma coluna Aminex HPX 87H (300x7,8mm, BioRad). Como fase móvel foi

empregado H2SO4 0,005 mol/L com fluxo de 0,6 ml/min a 45°C e volume de amostra

20μL. Assim, as concentrações de D-glicose, D-xilose, L-L-arabinose e ácido acético

foram determinadas.

A conversão em equivalentes de celulose, hemicelulose e grupos acetil foi

obtida pela correção das concentrações obtidas por CLAE, considerando a massa

seca do material inicial e os fatores de hidrólise.

3.3.1.2. Determinação de lignina insolúvel em ácido

O material insolúvel retido no papel de filtro proveniente da etapa de hidrólise

ácida para caracterização química foi lavado com aproximadamente 1,5 L de água

destilada, para remoção de ácido residual (até pH próximo de 7), a seco em estufa à

temperatura de 105°C até massa constante. A porcentagem de lignina insolúvel em

meio ácido foi calculada em relação à massa de material lignocelulósico seco

descontando-se a massa de cinzas presentes na lignina.

3.3.1.3. Determinação do teor de cinzas

Os materiais resultantes da etapa de determinação de lignina insolúvel foram

colocados em cadinhos de porcelana previamente calcinados e tarados. Em

seguida, esses materiais foram calcinados, inicialmente a 400°C e depois por mais 2

22

h a 800°C. Após a calcinação, os cadinhos foram resfriados em dessecador e a

massa de cinzas determinada. A massa real de lignina Klason foi calculada

descontando-se a massa de cinzas.

3.3.1.4. Determinação da lignina solúvel

Para determinação da lignina solúvel, uma alíquota de 5 ml do hidrolisado

obtido foi alcalinizada com NaOH 6,5 mol/L até atingir pH 12,5 e diluída em balão

volumétrico de 50 ml. A absorbância a 280 nm foi determinada em

Espectrofotômetro Varian Cary 50 Conc, utilizando como referência água destilada

pH 12,5. Determinou-se a concentração de lignina solúvel a partir da Equação 1:

[( ) ( )] (

) (Equação 1)

Onde:

CLig: Concentração de lignina solúvel no hidrolisado (g/L);

Apd= CFurf. εFurf + CHMF. εHMF – Absorvância, em 280, dos produtos de

decomposição dos açúcares (furfural e HMF);

εHMF: Absortividade do hidroximetilfurfural (114 L.g-1.cm-1);

εFurf : Absortividade do furfural (146,85 L.g-1.cm-1);

CHMF: Concentração de hidroximetilfurfural no hidrolisado (g/L);

CFurf: Concentração de furfural no hidrolisado (g/L);

AT: Absorvância da solução de lignina junto com os produtos de degradação,

em 280 nm.

(GOUVEIA et al, 2009)

3.3.1.5. Determinação de furfural e hidroximetilfurfural

Furfural e hidroximetilfurfural presentes no hidrolisado ácido foram

determinados por CLAE. As amostras foram devidamente diluídas e filtradas em

membrana de 0,45μm e encaminhadas ao cromatógrafo Shimadzu modelo CR 7A

com detector de UV Visível, empregando uma coluna C-18 (250x4,6 mm Microsorb)

23

e, como fase móvel, solução de acetonitrila/água 1:8(v/v) com 1% de ácido acético,

num fluxo de 0,8 ml/min, a 30°C, volume de amostra 20μL.

As concentrações de furfural e HMF foram obtidas a partir de curvas de

calibração traçadas para cada componente, sendo convertidas em equivalentes de

hemicelulose ecelulose. Os fatores de conversão usados foram 1,3749 e 1,2857,

respectivamente (GOUVEIA et al, 2009).

3.3.2. Espectroscopia de Infravermelho (FTIR)

Esta técnica foi utilizada com o objetivo de avaliar as modificações químicas

nas fibras in natura, lavadas e mercerizadas, além de identificar vibrações e

estiramentos das ligações efetivas.

As análises foram realizadas em Espectrofotômetro Shimadzu IRPrestige-21,

do Departamento de Engenharia de Materiais da EEL-USP, numa faixa espectral de

4000 a 400cm-1 com 64 scans.

3.3.3. Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)

As fibras in natura e modificadas foram morfologicamente analisadas por

Microscopia Eletrônica de Varredura, em um microscópio da marca JEOL JSM5310,

disponível no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais/INPE em São José dos

Campos, operando de 15 a 20 kw e utilizando detector de elétrons secundários.

3.3.4. Difratometria de Raios X (DRX)

Esta técnica foi utilizada com o objetivo de analisar a cristalinidade das fibras

in natura e modificadas. Para obter os difratogramas, será utilizado um difratômetro

de Raios X da Shimadzu DRX-6000, disponível no Laboratório de Caracterização de

Materiais do Unifoa, com fonte de radiação CuKα (ʎ= 1,5418 Å), voltagem de 40 kV,

corrente de 30 mA, varredura 0,05 (2θ/ 5s) para valores de 2θ entre 10 e 70º.

24

O índice de cristalinidade foi calculado pela Equação 2, empregando-se o

método desenvolvido por Segal e colaboradores:

IC=1-(I1/I2)x100% (Equação 2)

Onde:

I1: intensidade do mínimo de difração, relacionada à parte amorfa

I2: intensidade do máximo de difração relacionada à parte cristalina

(SEGAL et al, 1959)

3.3.5. Termogravimetria (TGA) / Calorimetria Diferencial de Varredura (DSC)

As análises térmicas, TGA e DSC, realizadas do Departamento de

Engenharia de Materiais da EEL-USP, foram feitas simultaneamente em uma

termobalança Netzsch STA 449 F3 Jupter, com uma razão de aquecimento de

10K/min, em fluxo de nitrogênio, no intervalo de temperatura de 20 a 900°C. Foram

analisadas as fibras in natura, lavadas e mercerizadas, assim como, o polímero puro

e os compósitos obtidos. As curvas obtidas permitiram análises de temperaturas de

fusão e de degradação, da perda de massa ao longo do aquecimento, das entalpias

envolvidas e do tempo envolvido em cada mudança sofrida pelo material.

3.4. PREPARAÇÃO DO COMPÓSITO

O Polipropileno H301 usado no preparo dos compósitos foi cedido pela

BRASKEM. Este é um homopolímero de médio índice de fluidez, com distribuição

normal de peso molecular e aditivado para uso geral. É indicado para processos de

moldagem por injeção e extrusão de fibras. Este produto apresenta excelente

processabilidade com boa estabilidade do fundido, bom balanço rigidez/impacto e

baixa transferência de odor e sabor (BRASKEM, 2012).

As propriedades do PP utilizado neste trabalho estão resumidas na Tabela 2.

25

Os compósitos (5-20% em massa de reforço) foram obtidos em um misturador

termocinético de alta intensidade, mais conhecido como homogeneizador “Dryser”

(Figura 8), da MH Equipamentos, modelo MH-1000, com rotação das palhetas

próxima a 30 rpm. No homogeneizador ocorre a fusão do polímero, ao qual são

adicionadas as fibras. A temperatura atingida é inferior à temperatura de degradação

do reforço utilizado. Inicialmente o reforço e a matriz foram secos em estufas a 80

ºC.

Após mistura entre reforço e matriz no homogeneizador, o material foi moído

em moinho granulador da marca Plastimax (Figura 9) e novamente seco em estufa a

80 ºC. As diferentes proporções de fibras utilizadas estão apresentadas na Tabela 3.

Propriedades Método ASTM Unidades Valores

Índice de fluidez (230°C/2,16 kg) D 1238 g/10 min 10

Densidade D 792 g/cm³ 0,905

Módulo de flexão secante a 1% D 790 MPa 1200

Resistência à tração no escoamento D 638 MPa 32

Alongamento no escoamento D 638 % 14

Dureza Rockwell (escala R) D 785 - 100

Resistência ao impacto Izod a 23°C D 256 J/m 25

Temperatura de deflexão térmica a 0,455 MPa D 648 °C 91

Temperatura de deflexão térmica a 1,820 MPa D 648 °C 53

Temperatura de amolecimento Vicat a 10 N D 1525 °C 153

Amostra Tipo de fibra usada como reforço

Quantidde de PP (%m/m)

Quantidade de reforço (%m/m)

CPN 5% Fibra in natura 95 5

CPN 10% Fibra in natura 90 10

CPN 20% Fibra in natura 80 20

CPT 5% Fibra modificada 95 5

CPT 10% Fibra modificada 90 10

CPT 20% Fibra modificada 80 20

Tabela 2 – Propriedades do Polipropileno H 301 (BRASKEM, 2012)

Tabela 3 – Descrição dos compósitos de PP reforçados com diferentes proporções de

fibras

26

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1. CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA DAS FIBRAS

Nesta etapa do trabalho três diferentes tipos de fibras foram caracterizadas:

fibra in natura peneirada a 40 mesh (Figura 10 A), fibra peneirada a 40 mesh lavada

com água quente (Figura 10 B) e fibra peneirada a 40 mesh tratada com NaOH

(Figura10 C). Notou-se um escurecimento das fibras com a realização dos

tratamentos, o que se deve, possivelmente, à remoção de parte da lignina, deixando

a lignina residual mais exposta à oxidação.

Figura 8 - Homogeneizador (a) e detalhe da cápsula de mistura (b).

Figura 9 – Moinho granulador

27

Após a metodologia proposta, foram determinadas as porcentagens de

celulose, hemicelulose, lignina e cinzas em cada uma das fibras. Os resultados da

caracterização química (Tabela 4) evidenciam elevados teores de celulose nas

fibras, sendo que houve um aumento gradual ao longo das modificações. O

tratamento alcalino foi o que se mostrou mais satisfatório, com um incremento

19,2%.

Os teores de hemicelulose, de lignina e de cinzas nas fibras foram reduzidos

com os tratamentos feitos. Esta redução também ficou mais evidente na fibra

tratada, apesar da fibra lavada ter apresentado bons resultados. As reduções nas

quantidades de hemicelulose e de lignina, respectivamente, na fibra lavada foram de

2,45% e 13,4%; já, na fibra tratada, foram de 16,7% e 25,3%.

Assim, conclui-se que as modificações realizadas nas fibras mostraram-se

eficientes e os resultados obtidos são favoráveis à obtenção de compósitos com

uma melhor interação matriz-reforço, uma vez que, elevados teores de celulose

facilitam o entrelaçamento das fibras com a matriz polimérica.

COMPONENTES FIBRA IN NATURA FIBRA LAVADA FIBRA TRATADA

CELULOSE (%) 52,3% 54,5% 62,3%

HEMICELULOSE (%) 24,5% 23,9% 20,4%

LIGNINA TOTAL (%) 21,7% 18,8% 16,2%

CINZAS (%) 2,2% 1,9% 1,7%

TOTAL (%) 100,7% 99,1% 100,6%

Figura 10 - Fibras da Palmeira Real Australiana in natura (A), lavada (B) e tratada (C)

Tabela 4 – Caracterização química das fibras in natura, lavada e tratada.

A B C

28

4.2. MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA (MEV)

As microscopias eletrônicas da fibra in natura (Figura 11) evidenciam uma

estrutura fibrilar com certa desordem, o que está relacionado à presença de material

amorfo, hemicelulose e lignina. Os fragmentos observados são cilindrícos e

alongados e possuem uma superfície lisa com estrutura rugosa. A homogeneidade

da superfície se deve à presença de extrativos, ainda presentes na fibra antes do

tratamento, atuando como uma espécie de “cera”.

As fibras lavadas (Figura 12) apresentaram como maior alteração

morfológica, quando comparadas às fibras in natura, uma maior rugosidade e uma

superfície menos lisa. Isto mostra que a lavagem com água quente removeu parte

das impurezas presentes nas fibras, deixando-as com aspecto mais rugoso, o que

facilita a adesão matriz-reforço.

Ao analisar as microscopias da fibra tratada com NaOH (Figura 13), percebe-

se uma maior ordem dos fragmentos, o que se deve ao predomínio de fração

cristalina nas fibras, ou seja, de celulose. As superfícies das fibras também se

mostraram menos homogêneas e mais rugosas, quando comparadas às fibras in

natura e lavadas. Esta rugosidade elevada comprova a eficácia do tratamento, pois

ela proporcionará um maior entrelaçamento das fibras com a matriz. Pode-se

observar ainda que o tamanho dos fragmentos diminuiu, devido à desagregação das

fibras em microfibrilas, processo conhecido como desfibrilação. A desfibrilação

proporciona uma maior área de contato para interação com a matriz.

29

200µm 200µm

FIBRA IN NATURA

A

1mm

B1 B2

C1 C2

D1 D2

1mm

2mm

200 µm 200 µm

300 µm 300 µm

Figura 11 – MEV da fibra in natura: (A) 40X; (B1) e (B2) 100X; (C1) e (C2) 300X; (D1) e (D2) 500X

30

200µm 200µm

500µm

FIBRA LAVADA

A

B

C

D

1mm

200 µm

300 µm

Figura 12 – MEV da fibra lavada: (A) 100X; (B) 150X; (C) 250X; (D) 500X

31

FIBRA TRATADA

A

B

C

D

1mm

200 µm

300 µm

500µm

Figura 13 – MEV da fibra tratada: (A) 100X; (B) 180X; (C) 250X; (D) 500X

32

4.3. ESPECTROSCOPIA DE INFRAVERMELHO (FTIR)

A espectroscopia de infravermelho foi utilizada para analisar a estrutura do

material lignocelulósico, identificando picos característicos de grupos químicos

presentes em seus principais constituintes, celulose, hemicelulose e lignina.

Os espectros obtidos para as fibras in natura, lavada e tratada (Figura 14)

comprovam eficiência dos tratamentos realizados, diante da redução gradativa da

hidrofilicidade das fibras, que fica evidenciada no pico próximo a 3300 cm-1, atribuído

ao estiramento de ligações –OH de polissacarídeos (DE OLIVEIRA, 2013).

A redução do caráter hidrofílico aproxima os constituintes do compósito,

reforço e matriz, no que diz respeito à polaridade. Menos grupos –OH reduzem a

polaridade da fibra e melhora a interação desta com o polipropileno apolar.

A banda próxima a 2885 cm-1 é característica do estiramento simétrico de

ligações C-H em polissacarídeos e característica de espectros lignocelulósicos (DE

OLIVEIRA, 2013).

Observa-se o quase desaparecimento da banda em torno de 1730 cm-1 no

espectro da fibra tratada, referente ao estiramento de ligações C=O de grupos acetil

éster ou carboxílicos, indicando alta remoção de hemicelulose (DE OLIVEIRA;

MARQUES; MERAT, 2013).

A banda em 1595 cm-1 está relacionada à vibração de ligações C=C de anéis

aromáticos, típicos da estrutura da lignina, e foi reduzido com as modificações

realizadas (DE OLIVEIRA, 2013). Nota-se também o desaparecimento da banda em

1230 cm-1 relaciona-se com o grupo funcional C-O-C da lignina. Estes

comportamentos comprovam remoção deste componente com os tratamentos

realizados (DE OLIVEIRA; MARQUES; MERAT, 2013).

As bandas entre 1100-1050 cm-1 são atribuídos a ligações C-O de álcoois e

relacionam-se com a molécula de celulose.

33

4.4. DIFRATOMETRIA DE RAIOS X (DRX)

Os difratogramas (Figura 15) obtidos para as fibras in natura, lavada e

tratadas apresentaram comportamentos típicos de estruturas semicristalinas. Neles

estão evidenciados dois picos bem definidos referentes às fases amorfa e cristalina

dos materiais. O pico de menor intensidade (I1) é referente à fase amorfa e se

encontra próximo de 2Ө=17°, já, o pico mais elevado (I2) está relacionado à fração

cristalina e está próximo de 2Ө=21°. (DE OLIVEIRA; MARQUES; MERAT, 2013)

As análises de DRX das três diferentes fibras foram comparadas quanto ao

índice de cristalidade, por meio do método desenvolvido por Segal e colaboradores

(1959) e os resultados obtidos estão apresentados na Tabela 5. O índice de

cristalidade foi obtido pela Equação 2.

Figura 14 – FTIR das fibras in natura, lavada e tratada

34

MATERIAL I1 I2 IC

FIBRA IN NATURA 504 686 26,5%

FIBRA LAVADA 398 582 31,6%

FIBRA TRATADA 528 832 36,5%

Os dados da tabela comprovam a eficácia do tratamento alcalino, devido ao

aumento de 10% do índice de cristalinidade nas fibras tratadas, quando

comparadas às in natura. Percebe-se, ainda, que o processo de lavagem também

proporcionou um ganho de 5,1% na cristalidade do material. Estes incrementos se

devem à remoção de material amorfo, proporcionando um maior empacotamento

das cadeias celulósicas. Assim, conclui-se que o material mercerizado terá uma

melhor interação com a matriz.

Tabela 5 – Índices de cristalinidade das fibras de palmeira in natura, lavada e tratada

Figura 15 – Difratogramas de raios X das fibras in natura, lavada e tratada.

35

4.5. TERMOGRAVIMETRIA (TGA) / CALORIMETRIA DIFERENCIAL DE

VARREDURA (DSC)

Análises de termogravimetria e de DSC foram realizadas nas fibras in natura,

lavadas e tratadas, assim como, no polímero puro e nos compósitos 5%, 10% e

20% de fibras in natura (Figura 16) e tratadas (Figura 17). Os comportamentos

térmicos destes materiais foram avaliados individualmente e estão expostos nas

curvas das Figuras 18-23.

A B

C

Figura 16 – Compósitos de fibra in natura: CPN 20% (A); CPN 10% (B); CPN 5% (C)

36

A B

Figura 17– Compósitos de fibra tratada: CPT 20% (A); CPT 10% (B); CPT 5% (C)

C

37

Figura 18 – Curvas de TGA das fibras in natura, lavadas e tratadas

Figura 19 – Curva TGA PP H301 puro (BARBOZA; DE PAOLI, 2002)

38

Figura 20 – Curvas de TGA dos compósitos

Figura 21 – Curvas de DSC das fibras in natura, lavadas e tratadas

en

do

térm

ico

39

Figura 23 – Curvas de DSC dos compósitos

Figura 22 – Curvas de DSC PP H301 puro (BARBOZA; DE PAOLI, 2002)

en

do

térm

ico

40

Segundo a literatura, as fibras naturais são decompostas em duas etapas

principais. Em um primeiro momento ocorre despolimerização térmica da

hemicelulose e a quebra de ligações glicosídicas da celulose. Em seguida, ocorre a

decomposição da α-celulose. A decomposição da lignina acontece numa faixa de

temperatura que vai de 200-500°C (MANFREDI et al, 2006).

Analisando-se as curvas de TGA das fibras (Figura 18), percebe-se um

momento inicial de perda de massa, em torno de 100°C, referente à desidratação do

material, que, mesmo tendo sido seco antes das análises, apresenta caráter

hidrofílico, dificultando a total eliminação de água. Um segundo momento de perda

de massa fica bem evidenciado em temperaturas próximas a 200-220°C e está

relacionado à degradação das fibras. Na Tabela 6, pode ser observado, com

clareza, que as maiores temperaturas de degradação foram obtidas nas fibras

modificadas, sendo que a fibra mercerizada mostrou-se mais resistente à

degradação.

Pelas curvas de DSC das fibras (Figura 21), nota-se que as fibras in natura e

lavadas têm curvas com comportamentos bastante semelhantes; já, a fibra

mercerizada diferencia-se por apresentar um pico exotérmico bem definido, próximo

a 350°C, referente à entalpia de cristalização do material. Assim, pode-se dizer que

a mercerização provocou deslocamento das curvas para temperaturas superiores,

en

do

térm

ico

Figura 24 – Curvas de DSC dos compósitos e das fibras

41

quando comparadas às demais fibras. Uma possível explicação para este fato seria

a eliminação de componentes das fibras quando estas são tratadas com NaOH.

MATERIAL

TGA

TDESIDRATAÇÃO (°C)

TDEGRADAÇÃO (°C)

Fibra in natura 99,68 206,68

Fibra lavada 99,82 218,82

Fibra tratada 99,66 221,66

A Figura 19, referente à curva de TGA do polipropileno puro mostra um único

momento perda de massa acentuada, ocorrendo em 330°C, relacionado à

degradação do polímero. As curvas de TGA dos compósitos (Figura 20) levam à

identificação de duas temperaturas de degradação, a primeira, em torno de 250-

290°C, corresponde à temperatura de degradação do reforço e a segunda refere-se

à degradação da matriz polimérica. Como evidenciado na Tabela 7, as temperaturas

de degradação do reforço aumentaram com o tratamento, exceto para o compósito

reforçado com 20% m/m de fibra. As temperaturas de degradação da matriz foram

maiores nos compósitos reforçados com fibras tratadas. A maior temperatura de

degradação, 368, 15°C, foi observada no compósito CPT 20%. Assim, pode-se dizer

que a mercerização foi eficiente e permitiu uma melhor adesão entre matriz e reforço

lignocelulósico.

A curva de DSC da Figura 22 mostra que a temperatura de fusão do polímero

puro é de 170°C. Comparando-se com as curvas de DSC dos compósitos (Figura

23), nota-se que as temperaturas de fusão dos compósitos foram maiores,

principalmente, nos compósitos reforçados com fibras tratadas. Como apresentado

na Tabela 7, a maior alteração na temperatura de fusão, foi observada no compósito

reforçado com 20% m/m de fibra, evidenciando uma tendência de aumento . O

tratamento das fibras não resultou em alteração significativa na temperatura de

fusão do compósito reforçado com 5% m/m de fibras. As curvas de DSC dos

compósitos apresentaram comportamento bastante semelhantes entre si e, pela

Figura 24, fica evidenciada a diferença de comportamento destas comparadas às

curvas das fibras.

Tabela 6 – Dados obtidos das curvas de TGA das fibras

42

MATERIAL

TGA DSC

TDEGRADAÇÃO (°C)

T FUSÃO (°C)

CPN 5% 252,45 352,45 175,23

CPT 5% 282,96 355,96 175,24

CPN 10% 254,74 364,74 171,70

CPT 10% 264,38 367,38 175,24

CPN 20% 260,74 361,74 170,54

CPT 20% 246,15 368,15 175,75

Dessa forma, pode-se dizer que os tratamentos realizados foram positivos no

que diz respeito ao aumento na temperatura de degradação das fibras estudadas e

a fibra mercerizada foi a que apresentou maior entalpia de evaporação, o que

comprova aumento na hidrofilicidade do material, como já havia sido observado em

análises de FTIR. Os compósitos tiveram suas temperaturas de degradação e de

fusão também aumentadas com o uso de fibras mercerizadas como reforço e as

maiores temperaturas de degradação e de fusão foram obtidas no compósito com

maior proporção de fibras. As entalpias de fusão reduziram nos compósitos

reforçados com com 5% e 10% m/m de fibras tratadas.

Tabela 7 – Dados obtidos das curvas de TGA e DSC dos compósitos

43

5. CONCLUSÕES

As análises dos resultados obtidos neste trabalho permitiram avaliar o

comportamento da fibra da palmeira Real Australiana diante dos tratamentos de

lavagem e de mercerização realizados antes da preparação do compósito, assim

como do comportamento térmico dos compósitos feitos com fibra in natura e com

fibra mercerizada.

Os resultados de caracterização química, MEV, FTIR, DRX e TGA/DSC para

as fibras in natura, lavada e tratada, levaram às seguintes conclusões:

-Caracterização química: houve aumento, ao longo dos tratamentos, nos

teores de celulose, assim como, redução nas quantidades de hemicelulose, lignina e

cinzas. Os maiores aumentos e reduções foram notados nas fibras tratadas com

NaOH;

-MEV: as fibras lavadas apresentaram maior rugosidade e superfícies menos

lisas, devido à remoção de impurezas no processo de lavagem. As fibras tratadas

mostraram fragmentos mais ordenados e menores, superfícies menos homogêneas

e mais rugosas, comprovando a eficácia do tratamento, uma vez que, a rugosidade

facilita a interação da matriz com o reforço;

-FTIR: notou-se redução gradativa da hidrofilicidade das fibras com os

tratamentos realizados, assim como eliminação/redução de grupos característicos

das estruturas da hemicelulose e da lignina;

-DRX: comprovou aumento no índice de cristalinidade das fibras, sendo que,

o maior índice foi da fibra mercerizada;

-TGA/DSC: a mercerização e a lavagem provocaram aumento na temperatura

de degradação das fibras. A curva de DSC das fibras mercerizadas apresentou um

pico bem definido, em torno de 350°C, referente à entalpia de cristalização do

material; já, as curvas das fibras in natura e lavadas não apresentaram este pico.

As análises térmicas dos compósitos preparados levaram às seguintes

observações: compósitos com fibras tratadas apresentaram temperaturas de

degradação e de fusão maiores do que os compósitos de fibra in natura e o aumento

na quantidade de fibras levou aos maiores incrementos.

Assim, pode-se dizer que os tratamentos realizados foram capazes de

promover mudanças físicas e químicas nas fibras, de forma a facilitar a interação do

material lignocelulósico com sua matriz. Apesar do tempo limitado para realização

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deste trabalho não ter permitido o estudo de compósitos de fibra lavada, somente a

caracterização das fibras já foi capaz que comprovar a eficácia da lavagem.

O uso de fibras lavadas ou tratadas na confecção de compósitos dependerá

de um estudo da viabilidade econômica de cada tratamento, diante das

características requeridas para o material diante da aplicação a que se destina.

Muitas vezes, o incremento na temperatura de degradação não necessita ser tão

alto e, somente a lavagem já é capaz de promover ganhos satisfatórios em

propriedades, a um custo mais baixo e impactando menos no meio ambiente com o

descarte de resíduos do processo.

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