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Departamento de Artes e Design “Observatórios Livres" & Design de Mídia Digital: em Busca de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável do Planeta Aluno: Renan Kogut Orientadora: Rejane Spitz Introdução A busca de soluções para o desenvolvimento sustentável de nosso planeta demanda a criação de observatórios livres que permitam que comunidades pequenas desenvolvam um conhecimento gerado localmente, facilitando a busca de soluções rápidas para as questões relacionadas a mudanças climáticas e do meio ambiente. Esses observatórios podem alterar significativamente o modo como as pessoas lidam com a ciência, contribuindo para o desenvolvimento de uma sociedade mais sustentável. Assim surgiu o projeto “The Open Observatory”[1], fruto de uma colaboração entre a LEONARDO/ International Society for the Arts, Science and Technology (EUA) e o Núcleo de Arte Eletrônica (NAE) da PUC-Rio (Brasil). Para iniciar seu "Observatório Livre", em 2009 o NAE aceitou o convite do Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente (NIMA) da PUC-Rio para participar de projeto PIMAR (Programa Integrado de Monitoria Remota de Fragmentos Florestais e de Crescimento Urbano no Rio de Janeiro), e desenvolveu um portal social onde os visitantes podem visualizar informações acerca de desmatamentos e outros crimes ambientais, assim como fazer denúncias e tornarem-se pessoas engajadas na melhoria das condições ecológicas de seus arredores [2]. Dando continuidade ao seu “Observatório Livre”, em 2011/2012 o NAE estabeleceu uma parceria com o IPTI (Instituto de Pesquisas em Tecnologia e Inovação) no Projeto ARTE COM CIÊNCIA, que promoveu feiras escolares de arte, ciência e ecologia em escolas estaduais dos municípios de Estância, Santa Luzia do Itanhy e Indiaroba, no Sergipe, onde alunos e professores apresentaram seus projetos, desenvolvidos com o apoio dos especialistas do consórcio de pesquisa formado pelo IPTI e pela Universidade Federal de Sergipe. Os dois melhores projetos – selecionados por um júri do qual também fez parte a Coordenadora do NAE (Profa. Rejane Spitz) - estão sendo transformados pelo NAE em instalações interativas para museus de arte e ciência do Sergipe.

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Departamento de Artes e Design

“Observatórios Livres" & Design de Mídia Digital: em Busca de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável do Planeta

Aluno: Renan KogutOrientadora: Rejane Spitz

IntroduçãoA busca de soluções para o desenvolvimento sustentável de nosso planeta demanda a

criação de observatórios livres que permitam que comunidades pequenas desenvolvam um conhecimento gerado localmente, facilitando a busca de soluções rápidas para as questões relacionadas a mudanças climáticas e do meio ambiente. Esses observatórios podem alterar significativamente o modo como as pessoas lidam com a ciência, contribuindo para o desenvolvimento de uma sociedade mais sustentável. Assim surgiu o projeto “The Open Observatory”[1], fruto de uma colaboração entre a LEONARDO/ International Society for the Arts, Science and Technology (EUA) e o Núcleo de Arte Eletrônica (NAE) da PUC-Rio (Brasil). Para iniciar seu "Observatório Livre", em 2009 o NAE aceitou o convite do Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente (NIMA) da PUC-Rio para participar de projeto PIMAR (Programa Integrado de Monitoria Remota de Fragmentos Florestais e de Crescimento Urbano no Rio de Janeiro), e desenvolveu um portal social onde os visitantes podem visualizar informações acerca de desmatamentos e outros crimes ambientais, assim como fazer denúncias e tornarem-se pessoas engajadas na melhoria das condições ecológicas de seus arredores [2]. Dando continuidade ao seu “Observatório Livre”, em 2011/2012 o NAE estabeleceu uma parceria com o IPTI (Instituto de Pesquisas em Tecnologia e Inovação) no Projeto ARTE COM CIÊNCIA, que promoveu feiras escolares de arte, ciência e ecologia em escolas estaduais dos municípios de Estância, Santa Luzia do Itanhy e Indiaroba, no Sergipe, onde alunos e professores apresentaram seus projetos, desenvolvidos com o apoio dos especialistas do consórcio de pesquisa formado pelo IPTI e pela Universidade Federal de Sergipe. Os dois melhores projetos – selecionados por um júri do qual também fez parte a Coordenadora do NAE (Profa. Rejane Spitz) - estão sendo transformados pelo NAE em instalações interativas para museus de arte e ciência do Sergipe.

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Figura 1. Alunos de ensino médio expondo seus trabalhos na Feira de Ciências, promovida pelo Projeto “Arte com Ciência”

ObjetivosO projeto “Arte com Ciência” tem por objetivo “consolidar uma metodologia re-

aplicável de aprimoramento do ensino e da aprendizagem de ciências exatas e naturais, com ênfase nos setores de Petróleo & Gás, Biocombustíveis e Petroquímica, através de uma abordagem que explora a relação entre arte (sensibilização), ciência (método) e ecologia (meio-ambiente), aplicada a instituições de nível médio.” [3]. Os projetos das feiras escolares selecionados nesta etapa foram: a) “fogão solar”, que tem por objetivo mostrar as vantagens do seu uso em relação aos demais métodos de cozimento de alimentos (carvão, à gás e à lenha) e transmitir os conceitos inerentes da física que ocorrem nesse dispositivo (como ótica e calor específico); b)“pesca predatória do aratu”, que tem por objetivo a conscientização da população local sobre a importância da preservação de espécimes em extinção do manguezal, com foco nos crustáceos (carangueijo-uçá e aratu).

Metodologia

A. Contato com o cliente

Primeiramente houve o contato com o cliente, no caso, o Coordenador do projeto “Arte com Ciência” (do IPTI), que veio à PUC-Rio no início de 2012 para dar uma explicação geral sobre o projeto e discutir o briefing inicial dos dois projetos selecionados.

O primeiro projeto visa explicar os temas da física e matemática relacionados com o processo de uso do FOGÃO SOLAR, com interatividade e adequado a cada série de alunos do ensino médio. Será preciso comparar o consumo de energia e custo do fogão solar com fogões que usam outros tipos de energia (carvão, gás e lenha) para cozimento de alimentos. Além disso, a solução final deverá dar às pessoas o conhecimento de como fazer seu próprio fogão solar. O segundo projeto visa a conscientização da população local sobre a preservação de

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espécimes em extinção do manguezal, com foco nos crustáceos (carangueijo-uçá e aratu). Será preciso sensibilizar os visitantes do museu, mostrando a beleza dos manguezais e dos caranguejos, e os perigos da PESCA PREDATÓRIA, que ocorre principalmente de noite. Isso ocorre porque é muito fácil de capturar as espécies nesse horário, já que elas ficam paralisadas ao primeiro facho de luz (de uma lanterna, por exemplo).

B. Geração de ideias

Após o conhecimento dos projetos, o Núcleo de Arte Eletrônica (NAE) da PUC-Rio reuniu uma equipe composta por alunos da graduação, pós-graduação e professores do Departamento de Artes & Design. Iniciou-se então o processo de brainstorming, onde cada integrante da equipe propôs várias ideias, de forma livre, ainda sem pensar em questões de viabilidade técnica ou limitações financeiras.

Figura 2. Primeiro brainstorm feito no quadro branco

Para o projeto do fogão solar inicialmente foi contemplado o uso de animações como uma forma de atrair o público mais jovem. Assim, o personagem em desenho animado guiaria os visitantes, mostrando os conceitos matemáticos e físicos envolvidos, além de explicar a montagem e a diferença de um fogão solar para outros tipos.

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Figura 3. Personagem explicando para o visitante sobre o fogão solar

Outra ideia sugerida foi a criação de uma mesa interativa com uma representação virtual do fogão solar, de forma que o visitante poderia mexer nas variáveis (tempo de cozimento, tipo de alimento, hora do dia, entre outros) e ver - em tempo real - o resultado.

Figura 4. Rascunho da ideia da mesa interativa do fogão solar

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Para o segundo projeto, relativo à pesca predatória, definiu-se desde cedo que neste trabalho focalizaríamos em especial o caso do crustáceo conhecido como “aratu” por uma questão de simplificação do conceito. Então, para se recriar o ambiente de pesca de aratus - o manguezal – decidiu-se fazer uma instalação multimídia interativa, de forma a explorar o lado sensorial do manguezal (com imagem, som, tato e possivelmente aroma, todos integrados), do mesmo jeito que este seria no mundo real.

Chegou-se finalmente à ideia de se fazer um jogo, pois estes têm um poder enorme de engajamento e conscientização (já que podem educar de uma maneira divertida).

Figura 5. Rascunho inicial do jogo

C. Seleção de alternativas e soluções finais

Na seleção de alternativas, foram usadas como base de julgamento algumas restrições, desde limitação técnica até financeira. No caso do fogão solar, a falta de dados em relação aos conceitos exatos de física e matemática que deveriam ser passados foi um dos motivos pelos quais a solução final ficou bastante diferente das ideias originais. Em conversa com o Coordenador do Projeto “Arte com Ciência” discutiu-se as possíveis alternativas, e as variáveis foram então simplificadas para um total de nove opções:

- Três horários do dia (8 hs,10 hs e 12 hs);

- Três tipos de alimento (arroz, feijão e mandioca);

- Três tipos de clima (ensolarado, nublado e chuvoso).

Em consequência dessa decisão toda a dinâmica do dispositivo mudou, já que agora o usuário terá poucas opções de escolha. Então, como solução final, está sendo criada uma plataforma com sensores em que as pessoas podem pisar para selecionar suas opções. Quando um botão é apertado (a partir da presença do usuário, que pisará num determinado ponto da plataforma, e com isto acionará o sensor), aparecerá na frente do jogador (em um monitor) uma imagem mostrando como essa variação influencia no cozimento no fogão solar, e apresentando também gráficos explicativos sobre os conceitos físicos e matemáticos presentes.

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Figura 6. Representações em 3D da exposição interativa do fogão solar (detalhamento: plataforma com sensores, monitor, e stand com simulação real de um fogão solar)

Figura 7. Rascunho do layout das informações visuais no monitor

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Figura 8. Layout do dia ensolarado

Para o projeto de pesca predatória de aratus, decidiu-se fazer um jogo que será projetado no chão, de forma a se ter uma representação gráfica do manguezal, simulando situações de dia e noite. O jogador estará munido de uma vara física que, através de sensores, poderá interagir com a projeção. Seu objetivo é capturar os aratus, porém ganhando pontos apenas se observar os princípios da pesca não predatória (a pesca deve ser feita unicamente de dia, e não devem ser pescados os filhotes nem as fêmeas com ovas). Dessa forma, criou-se um espaço lúdico e interativo de conscientização e aprendizagem.

Figura 9. Representação esquemática do jogo (com 1 jogador)

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Figura 10. Layouts do manguezal de dia, entardecer e noite

Quanto o ambiente se torna escuro (representando a noite), a vara de pesca se torna uma “lanterna”, de forma a iluminar apenas uma área de luz do manguezal virtual. Assim como ocorre no mundo real, caso o usuário passe a vara (“lanterna”) por cima de um aratu, ele ficará paralisado e, consequentemente, será muito mais fácil de ser capturado. Porém, o jogador perderá pontos se isso acontecer, e deixará o ambiente vazio para o próximo visitante.

Figura 11. Foco de iluminação da vara (“lanterna”)

Os pontos de todos os usuários serão contabilizados e mostrados em um monitor à parte, denominado de “placar”. Dessa forma, ter-se-á uma forma de controle do ambiente do manguezal virtual, de forma a se criar realmente um ecossistema, onde todos devem ajudar a mantê-lo equilibrado.

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Figura 12. Wireframe básico das informações que ficarão contidas no painel

ConclusõesAo participar ativamente de todas as etapas de criação de uma instalação interativa -

desde o contato com o “cliente", o brainstorming, a geração de alternativas e a escolha do partido adotado - pude observar o processo completo e aprender sobre as diferentes etapas de criação. A próxima etapa do projeto será a produção final dessas instalações. Além disso, é interessante notar como a viabilidade técnica e financeira são importantes e podem moldar o futuro das soluções apresentadas.

Referências1 – MALINA, R. Intimate Science and Hard Humanities. LEONARDO, Vol. 42, No. 3, 2009, p. 184.2 – SPITZ,R. Intimate Science for the Naked Eye. In DOMSCHKE, G., FERRAN, B., MAHFUZ, R. & WOLFSBERGER, A. (eds). Paralelo - Unfolding Narratives: in Art, Technology & Environment / Paralelo - Narrativas em Percurso: sobre Arte, Tecnologia e Meio-Ambiente. British Council, AHRC (Arts & Humanities Research Council) & Mondriaan Foundation, Virtueel Platform, 2010, pp. 216 -225.3 – ARTE COM CIÊNCIA. Página Principal. Disponível em: <http://www.artecomciencia-ipti.blogspot.com.br/>. Acesso em: 01 jul. 2012.