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Além da atmosfera terrestre reina um silên- cio profundo, mas não absoluto. Não tendo um meio material denso suficiente para propagar-se, o som não consegue manter-se audível aos ouvidos humanos. Para que seja possível ouvir uma explosão espacial como as dos filmes de ficção, audível para o homem, é necessário que haja um meio material especialmente denso a ponto de transmitir as frequências que nossos ouvidos escutam. De fato se a explosão provocar uma ejeção de material, esse material poderia transmitir o som até nossos ouvidos, ainda que a amplitudes baixíssimas, muito embora não possamos expô-los diretamente às pressões baixas além da alta atmosfera. Alguns fenômenos emitem sons intensos o suficiente para conseguirem atravessar o espaço in- terestelar e chegar até a Terra. É o caso de buracos ne- gros que habitam em galáxias que possuem muito gás e poeira. A matéria gasosa, ao ser tragada pelo buraco negro, perturba o espaço ao redor (muito denso) ag- indo como um alto falante cósmico. Esse som, muito embora extremamente potente, ao chegar a Terra após atravessar um meio de quase vácuo, chega muito fraco tendo que ser amplificado por um “super microfone” para que seja audível. Outra forma de “escutar” os astros é captan- do as ondas de rádio emitidas por estes. Por ser uma radiação eletromagnética as ondas de rádio (assim como a luz) conseguem transpor o “vazio” do espaço e, quando captadas, podem ser transformadas em sons, como acontece nos rádios comuns. Estrelas como o Sol geram um som com pa- drão parecido com o dos grilos, enquanto planetas gi- gantes como Júpiter geram um som mais mecânicos como esteiras industriais. Esses sons, muito embora não sejam sons naturais, nos ajudam a compreender a física desses objetos. O estudo das ondas de rádio tem sido de grande valia para a Astrofísica, pois permite o estudo de objetos muito pouco energéticos que são in- visíveis em outras frequências. Além de ser marcante para a nossa comunicação, sinais dessa espécie vindo de outros astros podem indicar a existência de difer- entes formas de vida inteligente. Sons no Espaço Leia também: Novas descobertas acirram a busca pela vida fora da Terra............................................................................. 2 Solarigrafia .................................................................. 3 Tempestade em Saturno............................................. 3 Céu da Estação............................................................. 4 Carta Celeste ............................................................... 5 Descoberta de supernova feita por menina de 10 anos................................................................................. 6 Sobre Conselhos e Ciência........................................... 6 Inscrições para o curso de Evolução Estelar no ON..7 Cruzadas Astronômicas .............................................. 7 Ilustração de Filipe Mecenas ....................................... 8 Informativo do GOA #9, Verão 2011 - Departamento de Física - Centro de Ciências Exatas - UFES - www.cce.ufes.br/goa observativo2.indd 1 08/02/2011 19:10:00

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Além da atmosfera terrestre reina um silên-cio profundo, mas não absoluto. Não tendo um meio material denso suficiente para propagar-se, o som não consegue manter-se audível aos ouvidos humanos. Para que seja possível ouvir uma explosão espacial como as dos filmes de ficção, audível para o homem, é necessário que haja um meio material especialmente denso a ponto de transmitir as frequências que nossos ouvidos escutam. De fato se a explosão provocar uma ejeção de material, esse material poderia transmitir o som até nossos ouvidos, ainda que a amplitudes baixíssimas, muito embora não possamos expô-los diretamente às pressões baixas além da alta atmosfera. Alguns fenômenos emitem sons intensos o suficiente para conseguirem atravessar o espaço in-terestelar e chegar até a Terra. É o caso de buracos ne-gros que habitam em galáxias que possuem muito gás e poeira. A matéria gasosa, ao ser tragada pelo buraco negro, perturba o espaço ao redor (muito denso) ag-indo como um alto falante cósmico. Esse som, muito embora extremamente potente, ao chegar a Terra após

atravessar um meio de quase vácuo, chega muito fraco tendo que ser amplificado por um “super microfone” para que seja audível. Outra forma de “escutar” os astros é captan-do as ondas de rádio emitidas por estes. Por ser uma radiação eletromagnética as ondas de rádio (assim como a luz) conseguem transpor o “vazio” do espaço e, quando captadas, podem ser transformadas em sons, como acontece nos rádios comuns. Estrelas como o Sol geram um som com pa-drão parecido com o dos grilos, enquanto planetas gi-gantes como Júpiter geram um som mais mecânicos como esteiras industriais. Esses sons, muito embora não sejam sons naturais, nos ajudam a compreender a física desses objetos. O estudo das ondas de rádio tem sido de grande valia para a Astrofísica, pois permite o estudo de objetos muito pouco energéticos que são in-visíveis em outras frequências. Além de ser marcante para a nossa comunicação, sinais dessa espécie vindo de outros astros podem indicar a existência de difer-entes formas de vida inteligente.

Sons no Espaço

Leia também:Novas descobertas acirram a busca pela vida fora da Terra............................................................................. 2

Solarigrafia .................................................................. 3

Tempestade em Saturno............................................. 3

Céu da Estação............................................................. 4

Carta Celeste ............................................................... 5

Descoberta de supernova feita por menina de 10 anos................................................................................. 6

Sobre Conselhos e Ciência........................................... 6

Inscrições para o curso de Evolução Estelar no ON..7

Cruzadas Astronômicas .............................................. 7

Ilustração de Filipe Mecenas ....................................... 8

Informativo do GOA #9, Verão 2011 - Departamento de Física - Centro de Ciências Exatas - UFES - www.cce.ufes.br/goa

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No início de dezembro do último ano, a equipe do Insti-tuto de Astrobiologia da Nasa, coordenada pela geomicrobióloga Felisa Wolfe-Simon, publicou resultados sobre uma bactéria de metabolismo curiosamente distinto. A parente distante da conhecida E. Coli, apresenta no lugar das ligações usuais de fósforo (P) entre as subunidades do DNA, ligações de arsênio (As). Até então, acreditava-se que os elementos essenciais à vida eram carbono, nitrogênio, oxigênio, hidrogênio, enxofre e fósforo – pois destes elementos são for-mados os ácidos nucleicos, lipídios e proteínas. Indiretamente, a bactéria oriunda do Lago Mono, leste da Califórnia, sugere que não apenas locais semelhantes à Terra podem ser habitáveis, mas uma infinidade de outros ambientes podem ser alvo da busca por vida fora da Terra. Por volta de 1600, o filósofo Giordano Bruno

afirmou que as estrelas eram incontáveis sistemas solares. Olhar para o céu agora com esta afirmativa em mente parece muito mais excitante! Há (relativamente) pouco tempo o astrônomo Carl Sagan, sugeriu que poderíamos estar “olhando de uma forma míope os céus”. A descoberta sobre esta bacté-ria corrige em alguns graus o nosso foco. Obviamente, a busca inicial é sempre por organismos mais simples. De todo modo, é sempre bom saber onde podemos achar o que procuramos.

Espera-se que, um corpo que orbita há pouco mais de uma unidade astronômica (UA) de uma estrela como o Sol e não possui atmosfera, também não possua água na superfície, pois ela seria rapidamente vaporizada. Entretanto, o asteroide 24 Themis, localizado a cerca de 2 UA da Terra, está coberto de gelo segundo artigos da revista Nature publicados no primeiro semestre de 2010. Esta descoberta reforça a idéia de que os oceanos da Terra vieram na verdade “dos céus” (do espaço). A descoberta foi feita com base na espectroscopia da luz solar refletida por 24 Themis, um dos maiores astros do Cinturão de Asteróides, região entre as órbitas Marte e Júpiter. Os dados foram obtidos pelo telescópio Keck em Mauna Kea, no Havaí, e apresentam características de absorção indicativas de presença de água e compostos orgânicos

não identificados. Aparentemente, o gelo pode estar a alguns metros da superfície, vindo à tona por conta de bombardeios de pequenos objetos ou através de uma lenta sublimação. A presen-ça do gelo é recorrente em cometas, que vêm de regiões muito mais frias e distantes, mas é incomum em asteróides. Em 2000 meteoritos encontrados no Lago Tagish, próx-imo ao Alasca, com massa total entre 5 e 10 quilos, apresenta-ram-se compostos majoritariamente por minerais como olivina, magnetita e vários carbonatos, convencendo (depois de elimina-das as possibilidades de contaminação) que sua matéria orgânica viera sim, de fora da Terra. Na década de 80 o meteorito Kaidun surpreendeu pela grande quantidade de minerais em sua com-posição – cerca de 60 – e ainda mais por sua possível origem: Phobos, um dos satélites do planeta Marte. Objetos como 24 Themis são muito importantes, pois podem conter informações chave sobre a história do Sistema Solar, inclusive do nosso planeta. Um dos autores do principal artigo a descrever a descoberta, Humberto Campins da Univer-sidade da Flórida Central, prevê ainda que asteróides poderão se tornar importantes para o estudo da origem da vida. “Asteróides e cometas podem ter trazido para a Terra os blocos constituintes para a vida se formar e evoluir em nosso planeta (...) Embora as condições nos asteró ides não sejam favoráveis para a vida, o es-tudo de astros primitivos como fertilizadores pode se tornar uma área de interesse para cientistas”.

Novas descobertas acirram a busca pela vida fora da Terra.Bactéria descoberta pela Nasa pode substituir o Fósforo pelo Arsênio no DNA.

Asteróides, assim como cometas, podem conter base da vida

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O Observatório Nacional (ON) volta a ofer-ecer o curso de Evolução Estelar. Voltado para leigos com interesse em astronomia o curso disponibiliza o material de estudo em pdf no sítio do ON, as provas podem ser feitas a distância, pela internet. O conteúdo é dividido em quatro módulos. A ementa abrange desde sistemas de coordenadas celestes, magnitudes e cores à vida e morte de estre-las. Uma prova é aplicada ao final de cada curso, a aprovação para o certificado é mediante a nota final igual ou superior a sete. As inscrições foram abertas no dia 01/12/2010 e serão encerradas um dia antes da primeira prova, dia 17/03/2011. O curso tem duração até julho de 2011.

Inscrições para o curso de Evolução Estelar no ON

Cruzadas Astronômicas1) Técnica utilizada para fotografar o movimento aparente do Sol.2) Chuva de Meteoros com duração até 20 defevereiro.3) Sigla União Astronômica Internacional (inglês). 4) Fase da Lua no dia 4 de março de 2011.5) Evolução ________, curso oferecido pelo ON. 6) Elemento químico capaz de substituir o Fósforo no Código Genético.7) Hemisfério do planeta Saturno onde recentemente foi observada uma enorme tempestade elétrica.8) Observatório Nacional.9) Ejeção de partículas solares no meiointerplanetário.10) Idade da astrônoma mais jovem a descobrir uma supernova. 11) Unidade Astronômica. 12) Câmera fotográfica que não possui lente.13) Constelação onde Júpiter estava no início de 2011. 14) Programa gratuito usado no Observativo 9 para gerar a Carta Celeste.15) 24 ______ . Um dos maiores corpos do Cinturão

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Equipe GOA: Nikolai Bassani, Mário De Prá, Polyanna Oliveira, Júlio XavierCoordenação: Marcio Malacarne Revisão: Sérgio Vitorino BorbaColaboradores: Syrios Gomes, Bernardo BragaDiagramação e Projeto Gráfico: Equipe GOAContatos: (+55 27) 4009 7664 www.cce.ufes.br/goa | [email protected]. F. Ferrari, 514, Cep 29075- 910, VitóriaES.

Expediente

Realização Apoio Parceria

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Júpiter começa o ano em Peixes, no alto do céu ao entardecer. Mantendo magnitude próxima de -2, a cada dia ficará mais baixo no horizonte Oeste, até desaparecer de nossa visão em abril. E maio, quando estará em conjunção com Marte, Vênus e Mercúrio, sua observação será possível no nascer do Sol.

Mercúrio também começa janeiro em sua elon-gação máxima, acompan-hando Vênus nas manhãs. O tímido planeta dificilmente será visto em fevereiro e março ao dar sua volta por trás do Sol.

Vênus continua visív-el como a “Estrela Matutina”, embelezando (com magnitude -4!) o nascer do Sol. O planeta passou o Reveillon em Libra, durante sua elongação máxi-ma, e a cada dia aproxima-se mais de nossa estrela, o Sol, no céu.

Marte permanece em conjunção escondido atrás do Sol, seguindo a estrela por Sagitário, Capricórnio, Aquário e Peixes.

Saturno nasce inicial-mente na madrugada, e a cada dia mais cedo até que em mar-ço surge no horizonte Leste já durante o por do Sol. O plan-eta passa todo o verão próximo a estrela Spica, em Virgem, e com magnitude perto de 1.

Céu da EstaçãoOs planetas visiveis nessa estação

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somente longe d

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Luminosa das cidades

Fevereiro01 Conjunção de Mercúrio com a Lua Sagitário03 00h30min Lua Nova Aquário06 e 07 Conjunção de Júpiter com a Lua Peixes08 09h30min Pico da chuva Alfa-Centaurídeas Radiante em Centauro11 05h18min Lua no Quarto Crescente Áries18 06h35min Lua Cheia Leão20 Conjunção de Saturno com a Lua Virgem24 20h26min Lua no Quarto Minguante Escorpião

Março01 Conjunção de Vênus com a Lua Sagitário/Capricórnio04 17h45min Lua Nova Aquário07 Conjunção de Júpiter com a Lua Peixes12 20h44min Lua no Quarto Crescente Touro19 15h10min Lua Cheia Virgem20 Conjunção de Saturno com a Lua Virgem26 09h07min Lua no Quarto Minguante Sagitário31 Conjunção de Vênus com a Lua Peixes

Tabela de EfeméridesEfemérides astronômicas são uma compilação de fenômenos que ocorrerão com os astros e que temos interesse em observar.

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Carta Celeste

Como Usar a Carta Celeste Para boa parte do Brasil, esta carta representa a posição aproximada dos astros no céu nas seguintes datas: Meio de Janeiro às 0h30min; De janeiro para fevereiro às 23h30min; De fevereiro para março às 20h30min; Final de março às 18h30min. Para entender a carta, posicione-a sobre a cabeça e observe de baixo para cima, lendo as instruções no contorno. A linha azul (o Equador Celeste) representa o limite entre o Hemisfério Celeste Sul e o Hemisfério Celeste Norte, é a projeção da Linha do Equador terrestre no céu. Os nomes dos Astros estão com inicial maiúscula e os das CONSTELAÇÕES em caixa alta. As principais estrelas das constelações ocidentais visíveis nesta carta estão unidas por linhas. A “grande man-cha azul” na carta é a Via Láctea, a nossa galáxia, que infelizmente não conseguimos visualizar das cidades devido à Poluição Luminosa.”

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As

manchas

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Luminosa das cidades

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A pequena Kathryn Aurora Gray, uma canadense de ap-enas 10 anos, é responsável pela descoberta da supernova 2010lt. A Sociedade Real de Astronomia do Canadá anunciou esta como a pessoa mais jovem a fazer um achado desse tipo. Acompanhada pelo pai, Paul Gray, e pelo astrônomo David Lane, a jovem astrônoma foi capaz de detectar uma alter-ação no brilho da galáxia UGC 3378, que dista 240 milhões de anos-luz da Terra. Essa variação de brilho é causada pela morte de uma estrela massiva que ao consumir todo o seu combustível nuclear entra em colapso gravitacional, gerando uma supernova, que pode brilhar mais do que a própria galáxia que habita. A descoberta foi comunicada pela União Astronômica Internacional (IAU, do inglês) após o fenômeno ter sido confir-mado, conforme a regra da IAU, por dois astrônomos amadores, Brian Tieman e Jack Newton.

Neste natal minha avó nos leu uma passagem da Bíblia sobre a sabedoria dos mais velhos e como deve-se respeitar o que dizem. A experiência que se acumulou desde a juventude dá for-ma a um entendimento “da vida” de como as coisas funcionam e, frequentemente, isso é o suficiente pra saber o que fazer. É como um experiente jogador de xadrez que pode literalmente sentir o jogo, sentir o arranjo do tabuleiro, ter intuição sobre áreas que se deve dar mais atenção, saber o “rumo” que a partida está tomando ou o quão bom ou ruim é um movimento. Falo aqui do “saber o que fazer”, diferente do “pensar em o que fazer”. Ao ouvir conselhos de uma pessoa experiente, deve-se lembrar do abismo entre o vivido e o descrito; o que acredito ser a distinção que Bertrand Russel faz entre “conhecimento direto” e “conheci-mento por descrição”. Por isso, o mais valioso no conselho do experiente não é exatamente as palavras usadas, é a sabedoria por trás, é a vivência que é delineada com elas. É uma arte saber contornar bem a sabedoria, “desenhá-la” com palavras, criar uma mensagem eficiente. Sou cientista e apaixonado por linguagem e comunicação e, sendo desse jeito, não posso deixar de notar al-gumas tendências na forma da Ciência “desenhar com palavras” e o resultado dessa forma na mensagem. Por mais que seja ateu, e não esteja sequer falando de religião, acho a Bíblia uma boa fonte de ilustrações de ideias, apesar dela conter muitas ideias que eu não concorde. Ela trás um pouco de sabedoria em uma forma ab-strata e poética e, para falar de linguagem, gosto de usar a Torre de Babel. Conforme Gênesis 11 conta, em toda terra havia so-mente uma língua e empregavam-se as mesmas palavras. O povo pôs-se a construir uma cidade e erguer uma torre que seria alta a ponto de tocar o céu. Todavia, Deus não queria que o povo se aglomerasse em torno de uma cidade só, desejava que os ho-mens se espalhassem e populassem a terra. Ele desceu e confun-diu a língua de seu povo, fazendo com que os homens não mais se entendessem e que a construção fosse abandonada. Esse mito etiológico demonstra como o entendimento e a união podem er-guer projetos grandiosos e como a confusão os pode destruir. Comunicar-se bem é muito difícil, especialmente quando lida-mos com muitas pessoas.

Mas o que dizer da ciência e de sua forma de falar? A ciência (enquanto conhecimento humano) se subdividiu, ao lon-go do tempo, em setores cada vez mais numerosos e restritos de modo que o sentido das palavras se transforma completamente de uma área para a outra. O entendimento do texto científico está, normalmente, atrelado à compreensão de toda uma gama de outros textos que dão o sabor certo aos termos usados. Nor-malmente, só depois de explorar dezenas de artigos próximos pode-se absorver o sentido das palavras, começar a entender mais amplamente o seu papel em uma frase. Minha alternativa para entender um termo que se mostra denso (e pelo menos essa densidade consigo sentir) é consultar meus professores orienta-dores de pesquisa, que têm enorme capacidade de fornecer vida a eles; fazê-los ter sentido, passar a sensação que emergiu do seu uso. Esse processo, frequentemente, envolve contar-me mais a respeito do autor, quais são suas direções de pesquisa, com quem cooperou, seus esforços passados, os frutos de seu trabalho, as direções que segue e as possíveis intenções por trás do texto; envolve personificar o narrador e o contexto da narrativa. Não estou falando que deveríamos abandonar a forma como produ-zimos ciência, mas complementá-la; usar formas adicionais de colaborar e passar mensagens. Deveríamos usar o lado mais hu-mano da comunicação: falho, abstrato e sentimental; menos en-genharia, mais arte, usar mais adjetivos. Os conselhos dos meus orientadores de pesquisa (assim como os de minha família) não são métodos ou teorias científicas; são experiência bruta de que posso me servir para extrair sensação e direcionar minha aten-ção. No caso do xadrez, por mais que eu só tenha começado a entendê-lo jogando, houve um exercício simples que facilitou muito meu aprendizado: imaginar o centro do tabuleiro como o cume de uma colina e a vantagem estratégica que se tem em uma batalha ao dominar o topo. A ciência deveria munir-se de mais ferramentas para expressar-se, para passar ideias, pois não é só de razão que se constitui o pensamento.

Ps: Este texto foi inspirado pelos livros “O homem que confun-diu sua mulher com um chapéu” e “O olhar da mente” de Oliver Sacks.

Sobre Conselhos e CiênciaPor Bernardo Braga

Opinião

Descoberta de Supernova feita por menina de 10 anos!

Kathryn Gray em frente ao computador onde analisou a supernova

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Solarigrafia é como foi chamada a técnica uti-lizada acima, de acordo com os inventores Slawomir Decyk, Pawel Kula e Diego Lopez Calvin, quando publicaram na internet imagens desse tipo pelo pro-jeto Solaris, em 2000. A foto foi tirada sem qualquer dispositivo eletrônico (como CCDs ou CMOS) ou processos químicos de revelação posterior. A câmera utilizada

é uma pin-hole, de fabricação caseira, com um papel fotográfico sem o uso de sequer uma lente. A imagem é gradualmente gravada conforme é exposta a luz, processo que pode demorar de um dia até seis meses, quando é possível observar todo o movimento do Sol, do ponto de menor altura até o ponto de maior.

Solarigrafia Foto da estação

Tempestade em Saturno Vista pela primeira vez em 8 de Dezembro e se prolongando até além do natal uma incrível tem-pestade elétrica pôde ser observada próxima ao polo norte de Saturno. A tempestade já foi observada em 2004 e 2005 no hemisfério Sul do planeta. Por sua aparência, ficou conhecida entre os astrônomos como ‘Tempestade do Dragão’. A mesma ficou oculta sob camadas at-mosféricas superiores, “escondendo-se” até seu rea-parecimento em Dezembro de 2010, fato similar ao desaparecimento de uma das tradicionais faixas mar-rom avermelhadas de Júpiter também em 2010 (Leia “Procura-se Listra Gigante Marrom”, Observativo#7). Presume-se que essa tempestade seja um fenô-meno de longa duração que atravessa de um hemisfé-rio ao outro ocultando e revelando-se sazonalmente.

Saturno é provavelmente o planeta com maiornúmero de tempestades elétricas do Sistema Solar e também com ventos mais rápidos.

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A imagem acima usou um tempo de exposição próximo a dois meses | crédito: http://www.flickr.com/photos/waxtastic

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