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O VELHO E O GATO

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O VELHO E O GATO

NILS UDDENBERG

O VELHO E O GATO

Tradução deEUGÉNIO SANTOS

ParaLotta, Daniel,

Samuel e Eliasque tornaram a Bichana possível!

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I

Sou médico de formação. Sou docente depsiquiatria e filosofia de vida e o governo suecoatribuiu-me muito gentilmente o título honoríficode Professor. Gosto de me definir como escritor:publiquei ao longo dos anos vários livros, algunsdos quais venderam muito bem. Atualmente, soutambém dono de uma gata, ou será que é ao con-trário? Pois, acho que sim.

Esta é a história de como me vejo com umgato, apesar de ter decidido que nunca haveria deter animais domésticos. Trata-se de uma históriabanal, talvez até um pouco ridícula. Mas já passeidos setenta anos, não tenho um estatuto a defen-der nem uma carreira por que lutar. Posso dar-meao luxo de a contar. À semelhança de muitos ho-mens de certa idade, tenho um coração mole e

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sensível. A gata, contudo, como já veremos, é de-tentora de uma vontade de ferro, ou talvez sejamelhor descrevê-la como sendo determinada, me-tódica e cautelosa. Nunca houve um confronto,mas a gata acabou por ter aquilo que queria. Foiassim que tudo começou.

Em finais de outubro, a minha mulher e euregressámos da Namíbia. Sempre adorei viajar e játínhamos estado em África. Desta vez, andámospelo deserto namibiano durante duas semanasnum todo-o-terreno, visitámos os grandes parquesnacionais de vida selvagem e vimos elefantes, ze-bras e muitos antílopes elegantes percorrendo osimensos espaços abertos. Naturalmente, tambémtínhamos visto, como era de esperar, os grandesfelinos — leões e leopardos — mas não muitosdesta vez.

Vivemos numa pequena casa no centro deLund: o jardim é circundado por uma cerca demadeira, em boa parte coberta de hera. Temos umestacionamento coberto para o carro e no espaçoque o separa do jardim, junto à janela do nossoquarto, existe uma cancela que mantemos semprefechada. Um dia, cerca de uma semana depois do

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nosso regresso, quando subi as persianas para dei-xar entrar a pálida luz de outono, havia um gatosentado nela, a olhar-me com os seus grandesolhos amarelos. Era um gatinho tigrado, cinzentoe castanho, sem manchas brancas. Nunca o tínha-mos visto, mas deduzimos que vivesse numa dascasas da vizinhança.

Continuou a mostrar-se nos dias seguintes etornou-se claro que tinha por hábito ficar no barra-cão dos arrumos: a estrutura é a mesma da cobertu-ra para o carro, mas a entrada faz-se pelo jardim.Por vezes, quando ia buscar alguma coisa, o gatoespreitava do cesto onde guardo as ferramentas dejardinagem e não tardámos a perceber que passavafrequentemente a noite ali dentro, naquela míseraproteção contra o vento, o frio e a chuva. Era evi-dente que dormira no cesto naquela manhã inespe-rada em que o tínhamos visto na cancela do jardim.Tinha procurado manter-se o mais confortávelpossível; fazia frio e, alguns dias mais tarde, olhá-mos para o interior do barracão e vimos que se ti-nha aninhado. Não devia estar muito cómodo, asferramentas de jardinagem não são propriamente acompanhia ideal para partilhar o leito. A única coi-sa que lhe podia dar algum conforto eram as mi-nhas luvas de jardinagem.

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Estivemos em Estocolmo, onde temos umapartamento, durante quase duas semanas. Nesseperíodo, esperei que o gato intuísse que não podiacontar connosco e que compreendesse que só ti-nha a ganhar se regressasse a casa ou se encontras-se outro benfeitor. Mas quando voltámos conti-nuava deitado no cesto de jardinagem e olhou-noscom os seus olhos enormes ao abrirmos a portado barracão.

O inverno não tardou a chegar e o barracão,sem aquecimento e onde o vento entra pelas fres-tas, não devia ser propriamente um lugar agradávelpara passar as noites geladas. Mas o gato pareciaestar bem, mostrava-se animado, alerta e em boaforma, com o pelo farto e lustroso. Mas como sealimentava? Talvez tivesse um dono algures aliperto, a quem recorrer de quando em quando porum bocado de comida...

Há algo de especial nos olhos dos gatos. Sãograndes e olham em frente; à semelhança dos se-res humanos e dos primatas, os gatos são dotadosde visão tridimensional. Também nunca desviamos olhos, tal como as crianças, fitam diretamente.

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É fácil começar a ver neles uma súplica, talvez atécensura. Seja como for, tivemos pena e tirámos docesto as ferramentas duras, substituindo-as poruma toalha de praia velha. Uns meses antes, onosso filho, que tinha vindo de visita com a suafamília, deixara esquecida um pouco de ração doseu cão. Talvez os gatos comam comida de cão,pensámos nós. Deitámos um pouco no prato deum vaso e servimo-la lá fora, pois não queríamosque entrasse em casa. O gato cheirou-a, primeirohesitante, depois começou a comer vorazmente.Tinha fome, disso não havia dúvida.

Fomos novamente para Estocolmo e tam-bém desta vez ficámos lá quase duas semanas.Quando regressámos, tinha nevado e eu fui aobarracão buscar uma pá para limpar a neve acu-mulada à frente do lugar para o carro. O GATO

CONTINUAVA ALI!O que podíamos nós fazer? Tínhamos discu-

tido o assunto em Estocolmo. Estávamos com es-perança de que tivesse desistido, afinal não tínha-mos sido muito hospitaleiros. Sem dúvida que eraum gato vivo e terno, e nós nunca tivemos nadacontra os gatos, mas tínhamos o hábito de passarlongas temporadas na capital e gostávamos de via-jar. Com o nosso estilo de vida, não podíamos

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ter um, era impossível. Os gatos precisam de podercontar com os donos e nós não éramos fiáveis.Provavelmente, estava apenas perdido, dizíamos àlaia de consolo, alguém ali perto andaria de certezaà procura de um gatinho tigrado castanho e cin-zento.

Afixámos anúncios. Alguém da rua ao ladorespondeu a perguntar se o seu gato nos incomo-dava. De modo nenhum, respondemos, mas talvezsentisse falta dele? Não sentia. Evidentemente, ogato que costumava passar as noites no nosso bar-racão não era seu. Não se fizeram ouvir outros in-teressados, de modo que tirámos os anúncios.E ali estávamos nós, sem saber o que fazer, comum gato que decidira ir viver connosco.

De tempos a tempos, víamos na merceariaonde fazíamos as compras panfletos a pedir doa-ções para uma associação que se ocupava de gatosvadios. Pareciam ser boas pessoas e amantes dosanimais, habituadas a cuidar dos gatos abandona-dos: talvez nos conseguissem ajudar a arranjar umlar para o nosso. Sim, compreendiam o problemae estavam satisfeitos por termos recorrido a eles,mas o espaço que tinham para os gatos necessita-dos estava cheio. A abarrotar.

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Só restava a polícia. Telefonei. Responde-meuma simpática voz feminina, à qual explico, comcerto embaraço, que não tenho nenhuma infraçãoa denunciar, apenas uma pergunta estúpida.«O que se faz quando se encontra no jardim umgato que não se quer ir embora?» Tinha esperançade que alguém tivesse informado a polícia de umgato desaparecido. A chamada foi transferida e fa-lei com outra senhora simpática, desta vez umaagente da polícia, que consultou o registo de gatosdesaparecidos, mas nenhum se assemelhava aonosso.

Continuei a conversar com a polícia simpáti-ca e confidenciei-lhe que estava a ser difícil defen-dermo-nos das tentativas de contacto do bicho.Não nos parecia bem deixar dormir lá fora no in-verno gelado aquela criatura tão teimosamente fiel.A senhora ao telefone foi muito compreensiva:quem sabe, talvez também ela tivesse um gatinho.Explicou que os gatos podem estar lá fora no in-verno, sim, mas que, se fizesse muito frio, às vezespassavam mal. Podiam ficar com as orelhas e aponta da cauda queimadas do frio e precisavam de

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alimento para criar uma proteção contra o frio.Sim, eu sabia isso.

Mas eu não podia mesmo ficar com ele. Sen-do assim, o que devia fazer? O mais importante,respondeu a polícia simpática, era nunca lhe darde comer. São dependentes, explicou ela, e, se selhes dá de comer, ficam. Admiti com um certosentimento de culpa que tínhamos sido tomadosde compaixão por aquela criaturinha tenaz e fiel eque uma vez por outra lhe tínhamos dado de co-mer. Mas sempre fora de casa, acrescentei, comoque a sublinhar a minha firmeza. Era verdade, oupelo menos quase. Sem sinal de censura na voz,respondeu que isso bastava. O gato via-nos já co-mo um recurso a aproveitar. Compreendi muitobem o que ela queria dizer.

Claro que a polícia podia ir buscar o animal,prosseguiu, desde que eu o conseguisse apanhar.A polícia trazia a transportadora. Expliquei queapanhá-lo era o menor dos problemas, o bichinhoprocurava o nosso contacto mal aparecíamos. Deia volta à questão: o que faria depois a polícia?Bem, explicou a agente compreensiva, iremos levá--lo para um gatil, onde se tentará encontrar alguémque cuide dele. Na pior das hipóteses, teriam de opôr a dormir. Lembrei-me das experiências com

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gatos que fiz quando, durante algum tempo da mi-nha juventude, fui professor e investigador do Insti-tuto de Fisiologia, e não quis saber mais. Agradecia sua ajuda e desliguei.

Alguma coisa dentro de mim dizia: «Não!»Com as suas obstinadas aproximações, o gato de-monstrara uma forma de lealdade perante a qualme era difícil ficar impassível. Deixar que fosse apolícia a ocupar-se dele parecia-me uma traição.Mais valia, pensei eu, eu mesmo levá-lo à clínicaveterinária mais próxima e pagar para que fosseposto a dormir da maneira mais suave possível.Uma morte boa era melhor do que uma vida má.Eu tinha começado a assumir a responsabilidadepelo bem-estar do animal.

Dávamos-lhe de comer, sempre fora de casa.E ele comia. E continuava a dormir no barracão.A princípio, limitávamo-nos a dar-lhe de comer devez em quando. Mas havia tanta neve e fazia tantofrio que a nossa compaixão aumentou. Os linces eos gatos-selvagens conseguem sobreviver a inver-nos gelados, pensei. Mas só se tiverem o que co-mer. A ração para cães que o nosso filho deixaraesquecida acabou e tentámos oferecer ao gato osnossos restos: salsicha, frango, peixe gratinado.

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É verdade que comia tudo, mas mostrava-se umpouco hesitante e não tardou a que fôssemos aosupermercado comprar uma embalagem de raçãode atum. Senti-me um pouco constrangido aopousar a comida para gatos à frente da empregadada caixa, que conhecia bem. Eu não era o tipo depessoa que comprava aquelas coisas. Não corres-pondia à imagem que eu fazia de mim mesmo, emcerto sentido, e senti a necessidade de explicar:«Um gatinho veio instalar-se no nosso barracão dojardim e temos pena dele.» «Agora vais ser difícilque se vá embora», explicou ela. Parecia convicta,talvez também ela tivesse experiência na matéria.Pois, nunca há de ir embora, pensei com um pe-queno suspiro.

O gatinho ficou feliz da vida quando voltá-mos a casa com a nova comida. É evidente que osprodutores de ração para animais sabem bem oque lhes agrada. Além disso era barata, uma emba-lagem durava muito tempo e assegurávamo-nos deque nunca faltava.

Muito gradualmente, tanto que quase nemnos demos conta, começámos a considerar o ani-mal parte do nosso quotidiano. Foi com um certoespanto que constatei que a pergunta «Onde está

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o gato?» se tornava uma das mais frequentes. Semque o tivéssemos decidido, tínhamos arranjado umgato.

Mas eu ainda não estava convencido de que,com o nosso estilo de vida, estivéssemos aptos ater um animal. A nossa filha, que vira o gatito emdiversas ocasiões, veio em nosso socorro. Estava apar do nosso dilema e afirmara com toda a fran-queza que achava que ter um gato «se adequava anós». Sabia-nos bem ter aquele animal à nossa vol-ta. Além disso, também ela estava encantada e osseus dois filhos falavam com entusiasmo do gatodos avós. Mas o nosso genro era firme, não queriagatos em casa. A nossa filha, que é assistente so-cial e está habituada a resolver os problemas daspessoas, seja de ordem prática, seja emotiva, senten-ciou: «Podemos organizar-nos com uma custódiapartilhada. Quando vocês estiverem em Estocol-mo, tomo eu conta do gato». E assim foi decidido.O gato podia ficar.

Durante as férias de Natal, não tínhamosgrandes motivos para ir a Estocolmo e passou um

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mês e meio sem que lá fôssemos uma única vez.Os nossos dias eram rotineiros. O gato, que tínha-mos descoberto ser uma fêmea e a quem começá-ramos a chamar «a nossa bichana», continuava adormir no barracão. Seria a nossa hesitação em tê--la que nos levava a tratá-la assim ou acaso quere-ríamos pôr à prova a sua determinação? Bem, essanão deixava lugar a dúvidas. Todas as manhãs,quando abríamos as persianas, ela estava sentadano alpendre, na neve ou mesmo no parapeito dajanela, outras vezes vinha disparada pela passagemque os nossos netos tinham limpado de neve entreo barracão e a casa: «o corredor da gata», chama-vam-lhe eles. Passada apenas uma semana, a gataaparecia mal tocávamos nas persianas. Estava ali àespera de que chegássemos? Talvez nos sentissequando nos começávamos a mexer e fizesse porchegar depressa ao seu posto? Um salto para den-tro e uma caminhada veloz até à cozinha para verse havia comida e leite. E de facto havia: agora jádentro casa.

Uma vez por outra, não se precipitava ime-diatamente para nós. Para minha surpresa e irrita-ção, reparei que ficava preocupado. Onde estavaela? Será que lhe tinha acontecido alguma coisa?

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Estava desiludida connosco e tinha-nos deixado?Não era só a gata que se afeiçoara a nós, ou, me-lhor, ao nosso jardim e à nossa casa. Também nósnos tínhamos afeiçoado a ela.

Detesto o inverno. Nascido e criado em Skåne,nunca aprendi a fazer nada de divertido com tem-peraturas abaixo de zero e neve acumulada. Skatese esquis parecem não assentar nos meus pés. Paramim, a neve não passa de um obstáculo que deixaas estradas intransitáveis e escorregadias. Cada dia

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escuro e de neve no inverno é algo que tem de sersuportado, e o meu humor nem sempre é dos me-lhores. Os outros tentam consolar-me dizendo quea neve ilumina. Sim, é verdade, admito-o, mas nãotenho dúvidas: prefiro a escuridão com liberdadede movimentos. Talvez isto pareça um resmungo,mas considero sinceramente que os dias amenos efoscos de inverno são infinitamente melhores doque o mais radioso dos sóis na neve acabada decair.

A gata vem em meu auxílio. Certa manhã,sentada como de costume no parapeito da janela,olhava-nos com os seus olhos enormes e redon-dos. Mas, para poder entrar, teria de andar paratrás ou de saltar novamente para a neve e depoissaltar para a janela certa. Olhou em redor, esprei-tou para a neve com repugnância e preferiu re-cuar. Mas andar para trás num parapeito cheio deneve não é propriamente fácil, nem para um gati-nho ágil, e as suas manobras eram tão cómicasque não pude deixar de me rir. O meu humor so-turno de inverno aligeirou-se logo.

A gata tinha-nos dado uma boa dose depreocupações, é certo, sobretudo quando tentá-mos ver-nos livres dela, mas não podíamos negar

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que também nos trazia muita alegria. Se te ajudá-mos a sobreviver ao inverno, pensei eu, tambémnos podes ajudar a nós.

Como eu disse, naquele inverno caiu muitaneve e tínhamos muita no nosso velho telhado,onde as telhas de amianto começavam a ceder aofim de cinquenta anos de serviço. Quando veio otempo bom, depois de um período de neve e frio,começou a gotejar em casa. Numa tentativa de pôrum fim àquele desastre, fomos buscar o escadote etentámos limpar a neve. Foi um trabalho árduo, ascalhas estavam cheias de gelo duro, o cano paraescoar a chuva estava gelado e coberto por umimpressionante pingente de gelo. Tirávamos paza-das e dizíamos imprecações, mas a gata estava nassuas sete quintas. Adorava subir o escadote queusávamos para trabalhar. Quando reparámos pelaprimeira vez que ela tinha subido ao telhado, per-guntámo-nos como haveria de descer. Correumuito bem; com calma e cuidado, pousou as patasnos degraus do escadote e desceu com toda a ele-gância que se possa imaginar. Sacámos da máquinafotográfica da minha mulher. Que doçura, disse-mos nós com orgulho. Não havia dúvida de que

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tinha agilidade e inteligência para se escapar deembrulhadas.

Estava feito! A nossa resistência tinha sidoquebrada, ou melhor, tinha sido gradualmente cor-roída. A gata vencera. Creio que ela sempre soubeque venceria. De outro modo, não se teria mostra-do tão metódica e determinada. E a minha mulhere também eu tínhamos capitulado perante as suasartes sedutoras.

Alguns amigos meus, da minha idade, apaixo-naram-se por uma nova mulher, muitas vezes maisjovem. Não seria sincero se negasse que me atrai aideia de sentir de novo a embriaguez da paixão,que rejuvenesce o corpo e o espírito. Mas nuncaseria capaz de o fazer, e de resto não há razão ne-nhuma para isso. Eu e a minha mulher estamosmuitíssimo bem juntos, partilhámos uma vida lon-ga. Perdê-la seria um dano demasiado grande paraque nova paixão o pudesse compensar. Neste ca-so, é muito melhor entregar o meu coração —porque foi exatamente isso que aconteceu — a umgato.

A gatinha suscita sentimentos de ternura e in-teresse. Jogou a sua sorte connosco e é bastante

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fiel. Os meus sentimentos por ela espantam-me.Tal como uma paixão súbita, aquilo que me acon-teceu é completamente inesperado. A gata exerceuma influência sobre a minha vida. Não é precisoseparar-me, mas posso deixar-me envolver de umamaneira que não achava possível. A nossa filha dizque a gatinha me anima, e provavelmente há nissouma certa verdade.