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    O USO ESPONTNEO DE ANALOGIAS POR PROFESSORES DE BIOLOGIA:OBSERVAES DA PRTICA PEDAGGICA1

    THE SPONTANEOUS USE OF ANALOGIES BY BIOLOGY TEACHERS: OBSERVATIONS

    OF PEDAGOGICAL PRACTICE

    Daniela Frigo Ferraz- Mestre em Educao, UFSM

    Eduardo Adolfo Terrazzan- Depto. Metodologia do Ensino, UFSM

    ResumoEste artigo fruto de uma dissertao de mestrado onde evidenciamos o uso de

    analogias e metforas de forma espontnea por professores de Biologia no Ensino Mdio.

    Contrariamente nossa expectativa inicial, baseada na forte presena das colees

    didticas na prtica pedaggica dos professores em geral, em nossas observaes

    evidenciamos que poucas das analogias utilizadas coincidem com aquelas presentes nascolees didticas adotadas pelas professoras sujeitos da pesquisa. Detectamos outras

    fontes de onde podem proceder as analogias utilizadas pelos docentes que so

    apresentadas e discutidas neste texto. Alm disso discutimos os resultados referentes a

    incorporao das analogias ao planejamento pessoal das professoras sujeitos dessa

    pesquisa.

    Palavras-chave: formao inicial de professores, prtica de ensino de fsica, saberesdocentes

    AbstractThis study comes from a Masters dissertation which tries to make evidencies of the

    use of analogies and metaphors on a spontaneous way by high school biology teachers.

    Opposite to ones starting expectation based on the strong presence of didactic collections

    on the didactic practice of teachers in a general way, in the observations one evidenced that

    few of the used analogies are the same as the ones present in the didactic collections

    adopted by the teachers that were subject of the research. One detected another sources

    from which can come the analogies that are presented and discussed in this text. Besides it,

    one discusses the results refering to the incorporation of analogies in the personal planning

    of the referred teachers.

    key-words: pre-service teacher education, physics teaching methods courses, teacher

    knowledge

    1 Apoio parcial CAPES

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    1. INTRODUO

    Nos ltimos anos tm sido considervel o crescimento do interesse de

    educadores/pesquisadores de cincias pelo uso de analogias no Ensino de Cincias,

    principalmente no mbito internacional (Glynn et. al. (1998); Harrison & Treagust (1994);

    Ogborn & Martins (1996); Venville & Treagust (1996); Wilbers & Duit (2001). Esse interessepode ser considerado razovel, j que as analogias fazem parte do processo cognitivo

    humano e ainda auxiliam na compreenso dos conceitos cientficos por aproximarem dois

    domnios heterogneos. Ou seja, um domnio menos familiar (conceito cientfico a ser

    esclarecido), que chamaremos de alvo tornado compreensvel por semelhana com um

    domnio mais familiar, que chamaremos de anlogo (Glynn et al., 1998). Assim

    estabelecida uma relao entre um domnio menos conhecido com um domnio mais

    conhecido. Este ser o conceito por ns adotado. Um exemplo de uma analogia clssica

    utilizada na histria da Biologia a da escada de corda torcida para explicar a estrutura da

    molcula de DNA. O anlogo (domnio usado como base para comparaes estruturais) no

    exemplo citado seria a escada de corda e o alvo (domnio a ser explicado) seria a molcula

    de DNA.Por outro lado, poucos so os trabalhos encontrados na literatura sobre o uso

    espontneo de analogias por professores durante sua prtica pedaggica, que o foco do

    presente estudo.

    Atravs de levantamento bibliogrfico na literatura sobre analogias, conseguimos

    perceber que era possvel classificar trs grupos de investigaes que tratam sobre o uso de

    analogias como ferramentas no processo de ensino. Primeiramente, foi feito um

    levantamento mais amplo para conhecer e compreender o que era produzido na rea e para

    localizar os trabalhos que tratavam sobre o uso de analogias por professores no contexto

    escolar.

    Desse levantamento mais amplo, percebemos que existiam trabalhos que se

    referiam a avaliao de estratgias didticas para um uso efetivo de analogias para a

    construo de conceitos cientficos. Em alguns casos, os autores se utilizavam de anlises

    de textos didticos como base para construo de estratgias didticas para sala de aula.

    Por exemplo, Glynn et al. (1998) desenvolve o modelo TWA (Teaching with Analogies) a

    partir de uma anlise de livros texto de Cincias. Um segundo grupo de trabalhos se referia

    ao uso de analogias presentes em textos didticos (Curtis & Reigeluth (1984); Thiele &

    Treagust (1995); Dagher (1994); Iding (1997); Terrazzan et al. (2000). Por fim, o terceiro

    grupo de trabalhos tratava sobre o uso de analogias tal como elas so utilizadas no contexto

    escolar, ou seja, tal como so utilizadas por professores em sala de aula.

    2. O USO DE ANALOGIAS POR PROFESSORES EM SALA DE AULA

    Poucos so os trabalhos existentes nesse campo, mas nos deteremos um pouco

    mais nesse item j que o foco dessa pesquisa se centrar no uso de analogias por

    professores em sua prtica pedaggica durante o ensino de biologia. Duit (1991) aponta

    dois trabalhos em que os professores so observados com o intuito de focalizar o uso de

    metforas ou analogias em sua fala. O primeiro deles o trabalho de Tierney (1988) que

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    observou quatro professores de estudos sociais durante 20 aulas. Tierney (1988) ressalta a

    maneira limitada com que as comparaes so realizadas e a ausncia de controle a

    respeito de como os alunos as interpretam, j que pressupem que os estudantes estavam

    familiarizados com o domnio anlogo e que poderiam usar metforas, analogias e similares

    sem qualquer orientao. O segundo trabalho se refere a um estudo de Treagust et al.

    (1990) e est relacionado a observao de aulas de cincias (40 aulas de 8 professores).Os professores, nesse estudo, raramente usaram analogias no seu ensino (nas quarenta

    aulas observadas, somente em oito delas foram detectadas). Quando estes professores

    usavam analogias, estas no eram usadas de uma forma elaborada. Neste estudo, os

    autores detectaram que os professores analisados pareciam no ter um repertrio de boas

    analogias e no estavam seguros com relao ao uso efetivo destas.

    Treagust et. al. (1992) realizam observaes de sete professores durante suas aulas

    de cincias, com o objetivo de examinar como esses professores usavam analogias como

    parte de seu ensino regular para ajudar os estudantes a compreender conceitos cientficos.

    Aps as quatro semanas de observaes, cada professor foi entrevistado sobre sua viso

    do uso de analogias no ensino. Durante todas as observaes feitas, somente seis

    indicaes claras do uso de anlogos foram encontradas. Para as anlises, os autoresbasearam-se em Curtis & Reingeluth (1984), trs das seis analogias observadas eram do

    tipo simples de comparao e trs eram enriquecidas. Os autores sugerem, que para um

    uso efetivo de analogias em aulas regulares de cincias, estas precisariam ser baseadas em

    um repertrio bem preparado de analogias, usadas em contedos especficos e em

    contextos especficos.

    Thiele & Treagust (1994) analisaram o uso de analogias por quatro professores de

    qumica. Cada um destes professores admitia usar analogias para ensinar qumica e sabia

    que o foco da pesquisa era sobre o uso de analogias no ensino de qumica. No total, foram

    observadas 43 aulas entre os quatro professores, sendo que os mesmos utilizaram-se de 45

    analogias. Especificamente, neste estudo, os autores se detiveram em pesquisar trs

    questes principais: 1) Por que os professores escolheram usar analogias quando estavam

    ensinando qumica. 2) De onde derivavam as analogias utilizadas por estes professores e 3)

    Como as caractersticas das analogias utilizadas variavam de professor para professor. Em

    relao a primeira questo, os autores destacaram que os docentes utilizavam analogias

    quando consideravam que os alunos no conseguiam compreender a explicao inicial. Em

    relao a segunda questo, os autores apontam que, normalmente, as analogias utilizadas

    pelos professores no foram planificadas com anterioridade aula, ou seja, as analogias

    aparecem de uma forma espontnea na hora de explicao. Houveram evidncias de que

    cada professor mantinha mentalmente um repertrio de analogias em seu trabalho e que

    eram recuperadas na hora de estimular os estudantes a responder uma questo. Assim, foi

    detectado que os professores recorrem sua prpria experincia ou leitura profissionalcomo fonte de analogias. Para responder a terceira questo, ou seja, determinar as

    caractersticas das analogias utilizadas pelos professores os autores determinaram algumas

    categorias de anlise.

    Dagher (1995) faz um estudo bastante aprofundado em relao ao uso de analogias

    em sala de aula. Observa 20 professores de cincias. Destes, somente 11 usaram analogias

    em seu discurso verbal. Utiliza-se de um mtodo que chama de mtodo naturalstico de

    anlise, pois acredita que as analogias observadas so nicas, exibindo diferentes

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    estruturas e funes, dependendo de seu contexto. Assim, antes de usar esquemas declassificao preestabelecidos ou buscar padres para criar um novo esquema, a autoraprefere investigar as analogias utilizadas pelos professores como eventos nicos fixados emcontextos especficos. Aps as observaes das analogias encontradas, a autora criaepisdios de anlise. Os domnios analgicos selecionados incluem experincias da vida

    cotidiana (resfriados comuns), observaes de experincias da vida (polcia, carteira demotorista), fico cientfica (aliens), histrias personalizadas (crianas em um bote) eobjetos comuns (baterias). Isto mostra a preocupao dos professores em trazer situaescotidianas para expressar os conceitos cientficos numa linguagem comum. Os professorestecem as analogias naturalmente em sua discusso e a desenvolvem com mais ou menosextenso, dependendo, talvez, da percepo do professor da importncia do assunto queest tratando. Tampouco se detm para considerar em que medida as comparaesutilizadas so compreendidas pelos alunos, j que os estudantes se comportam comosimples ouvintes e s ocasionalmente como participantes ativos.

    Pensamos ser de fundamental importncia trabalhos descritivos sobre como osprofessores usam analogias nas suas aulas, como os comentados anteriormente, para um

    melhor entendimento sobre sua funo em sala de aula. Desenvolver uma melhorcompreenso sobre o que os professores fazem naturalmente necessrio para que,conhecendo os elementos componentes da prtica pedaggica, os mesmos possamanalis-los e repens-los.

    Ressalta-se ainda que o presente trabalho parte de um estudo mais amplo ondeadotou-se trs eixos para analisar as analogias presentes nas atividades de ensino dasprofessoras sujeitos da pesquisa. No primeiro deles, organizamos os resultados geraisreferentes ao uso espontneo de analogias em sala de aula, analisando o nvel deorganizao das analogias utilizadas. Em um segundo eixo, analisamos e discutimos asfontes de onde provm as analogias utilizadas pelas professoras. Ainda, em um terceiroeixo, apresentamos os resultados obtidos em relao incorporao das analogias ao

    planejamento didtico-pedaggico pessoal das professoras. Neste trabalho, discutimos osresultados referentes ao segundo e terceiro eixo citados.

    3. ASPECTOS METODOLGICOS

    As analogias mapeadas nesse trabalho foram fruto de um levantamento realizadopela observao e audio-gravao das aulas de seis professoras, sujeitos de nossapesquisa. importante salientar que optamos por revelar os objetivos da pesquisa ao grupoo que pode e certamente deve ter promovido interferncia nos dados obtidos. Mesmo assim,

    mantivemos essa postura por acreditar ser mais tica.Em um primeiro momento procedemos a observao das aulas de quatroprofessoras (professoras 1, 2, 3 e 4) em uma 1 srie do Ensino Mdio do Colgio EstadualManoel Ribas. A escolha dessas professoras se deu pela nossa facilidade de contato comas mesmas, bem como o seu consentimento para a observao de suas aulas.

    Em um segundo momento, demos continuidade as observaes, em outras escolas(Maria Rocha e Coronel Pillar) com outras duas professoras (professoras 5 e 6) em uma 2srie do Ensino Mdio. O critrio para a escolha destas escolas e sries decorreu da

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    escolha das professoras. Para a escolha das professoras, nesta segunda etapa de

    observaes, adotamos como critrios:

    1. Duas foram escolhidas entre as j observadas no semestre anterior e que mais

    utilizaram analogias durante as observaes anteriores (Professoras 1 e 2).

    Sendo a professora 1 em uma 2 srie do Ensino Mdio e a professora 2 em uma

    1 srie do Ensino Mdio. Ambas do Colgio Estadual Manoel Ribas.2. Uma (Professora 6), da Escola Estadual de 1 e 2 graus Coronel Pilar,

    ministrando aulas para 2 srie do Ensino Mdio.

    3. Uma (Professora 5), do Colgio Estadual Prof. Maria Rocha, ministrando aulas

    para 1 srie do Ensino Mdio foi escolhida por conhecermos a referida

    professora e seu trabalho, o que facilitou nosso contato e entrada em suas aulas.

    Com o objetivo de detectar as fontes de onde procediam as analogias utilizadas

    empregamos a anlise documental nos livros didticos. Em nossa investigao, utilizamos

    os livros didticos de biologia que haviam sido selecionados entre os mais utilizados nas

    escolas estaduais de Ensino Mdio de Santa Maria e tambm os quadros-sntese

    elaborados a partir dos livros didticos no projeto Linguagem e formao de Conceitos:Implicaes para o Ensino de Cincias Naturais. Assim, confrontvamos as analogias

    utilizadas pelas professoras com as analgias presentes nos livros didticos por ns

    analisados anteriormente (Terrazzan et al. 2000).

    Realizamos ainda uma entrevista semi-estruturada com todas as professoras sujeitos

    da pesquisa. As entrevistas foram realizadas diretamente pela pesquisadora, atravs de

    conversas previamente marcadas, com roteiro que orientou o desenrolar da mesma. O

    objetivo principal da entrevista foi detectar como se dava o planejamento das aulas.

    4. RESULTADOS E DISCUSSO

    No total, a partir das observaes sobre o uso espontneo de analogias pelas

    professoras escolhidas, podemos identificar 108 ocorrncias. No Colgio Estadual Manoel

    Ribas, no perodo de setembro a dezembro de 2000, na observao de 65 aulas, obtivemos

    um total de 56 analogias utilizadas. J no perodo de maro a junho de 2001, obtivemos um

    total de 52 analogias em 87 aulas observadas nos colgios Manoel Ribas, Maria Rocha e

    Coronel Pillar (Quadros I e II).

    PERODO 25/09/2000 a 06/12/2000

    ESCOLA SRIE PROFA. N DE AULAS

    OBSERVADAS

    N DE ANALOGIAS

    UTILIZADAS

    1 1 15 24

    1 2 21 16

    1 3 10 16

    Colgio Estadual

    Manoel Ribas

    1 4 19 00

    TOTAIS 65 56

    QUADRO I - Nmero de aulas observadas e nmero de analogias utilizadas pelas

    professoras no perodo de setembro a dezembro de 2000.

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    PERODO 19/03/2001 a 01/06/2001

    ESCOLA SRIE PROFA. N DE AULAS

    OBSERVADAS

    N DE ANALOGIAS

    UTILIZADAS

    2 1 27 13

    Colgio Estadual

    Manoel Ribas

    1 2 14 06

    Colgio Estadual

    Prof. Maria Rocha

    1 5 29 17

    Escola Estadual de

    1 e 2 graus

    Coronel Pilar

    2 6 17 16

    TOTAIS 87 52

    QUADRO II- Nmero de aulas observadas e nmero de analogias utilizadas pelas

    professoras no perodo de maro a junho de 2001.

    O nmero significativo de analogias encontradas mostram o quanto as analogias

    esto presentes no processo de ensino. So recursos didticos que os professores lanam

    mo para auxiliarem o processo de ensino-aprendizagem. Logicamente que nem todas asanalogias utilizadas foram totalmente pertinentes, do ponto de vista de seu uso, no ensino

    dos contedos desenvolvidos. Alguns tipos se mostraram mais eficientes, quer dizer,

    quando a professora utilizava a analogia organizada de uma determinada forma esta parecia

    mais adequada para o ensino.

    5. AS FONTES DE ONDE PROVM AS ANALOGIAS UTILIZADAS PELAS

    PROFESSORAS

    Comparando as analogias utilizadas pelas professoras com as dos quadros-sntese

    dos levantamentos realizados anteriormente em colees didticas (Terrazzan et al. 2000),

    constatamos coincidncia somente em 02 (dois) casos. Em outros 19 (dezenove) casos,

    alvo e anlogo utilizados eram semelhantes, mas os encaminhamentos dados foram

    diferentes dos apresentados nas colees didticas. A maioria das analogias utilizadas

    pelas professoras 87 (oitenta e sete) tinham alvo e anlogo diferentes dos apresentados nas

    colees didticas de referncia (Tabela 1).

    Contrariamente nossa expectativa inicial, baseada na forte presena das colees

    didticas na prtica pedaggica dos professores em geral, em nossas observaes,

    evidenciamos que poucas das analogias utilizadas coincidem com aquelas presentes nas

    colees didticas adotadas pelas professoras. Isto confirmado pela porcentagem de

    analogias da tabela 1, onde somente 1.86% das analogias utilizadas pelas professorascoincidem com as apresentadas nas colees didticas por ns analisadas.

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    GRAU DE COINCIDNCIA ENTRE AS ANALOGIASUTILIZADAS EM AULA E AS ANALOGIAS PRESENTES NAS

    COLEES DIDTICAS

    PROF. N . DE ANALOGIASUTILIZADAS PELAS

    PROFESSORAS

    Mesmo alvo

    Mesmo anlogo

    Mesmo

    encaminhamento

    Mesmo alvo

    Mesmo anlogo

    Diferente

    encaminhamento

    Alvodiferente

    Anlogo

    diferente1 37 01 02 34

    2 22 00 06 163 16 01 01 144 00 00 00 005 17 00 05 126 16 00 05 11

    TOTAIS 02 19 87PERCENTUAL 1.86% 17.59% 80.55%

    TABELA 1 - Grau de coincidncia entre as analogias utilizadas em aula pelasprofessoras observadas e as analogias presentes nas colees didticas (Terrazzan et al.

    2000)

    Atravs das entrevistas realizadas com as professoras, confirmamos o resultado deque poucas analogias utilizadas pelas professoras provm dos livros didticos. Detectamosoutras fontes de onde podem proceder as analogias utilizadaspelas mesmas. A maioriadas professoras diz que o uso de analogias j faz parte de seu cotidiano, do seu dia adia, de sua criatividade e da sua prpria experincia profissional, de modo a facilitar oentendimento dos alunos, conforme seqncias que seguem:

    SEQNCIA 011. Entrevistadora: Onde voc busca estas analogias que voc utiliza?2. Profa 1: Ah, do cotidiano, sei l....No sei te dizer da onde eu busco, eu uso diariamenten. Comparando, o conhecimento que tu tem, muito maior que o deles, ento tu sabe quetu pode comparar uma coisa com a outra, at porque a prpria biologia tu pode estudarcomparando n? Do cotidiano, do dia a dia.

    SEQNCIA 021. Entrevistadora: O objetivo especfico desta entrevista saber como se d oplanejamento dos professores e tambm pra gente tentar verificar de onde vm essasanalogias que vocs utilizam nas aulas de vocs.2. Profa 6: Hum. Da onde? Do alm! (Risos) Da onde que eu tirei isso. A maioria... a nica

    que eu no, a nica que no assim, que eu tenha tirado aquela da escada, porque tnos livros j; mas o resto ...vem da criatividade, as vezes eu fico matutando como que eupoderia fazer. E, s vezes, sai do improviso. s vezes, na aula, assim, aquela da manta,saiu do improviso na aula, s que eu no usei agora porque no tava frio.

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    Sendo parte integrante da cognio no surpreendente o fato de que as

    professoras sujeitos da pesquisa usem analogias de uma forma espontnea e que estas

    sejam provindas de sua prpria criatividade e experincia profissional.

    6. A INCORPORAO DAS ANALOGIAS AO PLANEJAMENTO DIDTICO-PEDAGGICO PESSOAL DAS PROFESSORAS.

    Quanto ao planejamento das professoras sujeitos da pesquisa, percebemos que este

    feito de uma maneira automtica. Ou seja, as professoras, na grande maioria, seguem um

    programa preestabelecido, onde apresentado um rol de contedos que deve ser

    desenvolvidos durante o ano letivo. Este programa, o Programa de Ingresso ao Ensino

    Superior (PEIES), hoje uma das principais formas de acesso ao Ensino Superior,

    juntamente com o tradicional vestibular. Este programa prev o ingresso a Universidade

    Federal de Santa Maria, atravs de um processo seletivo dividido em trs fases. Cada fase

    referente a uma srie do Ensino Mdio. Assim, ao final de cada ano letivo, o aluno faz uma

    prova referente aos contedos preestabelecidos pelo programa. O aluno com bomdesempenho, nas trs etapas, pode ter garantido seu acesso a universidade sem prestar

    vestibular quando da concluso deste nvel de ensino.

    Tambm, detectamos que, na grande maioria das vezes, as professoras planejam as

    suas aulas baseados nos livros didticos adotados, mas sempre recorrem a outras fontes

    para sua explicao, seja outros livros didticos, livros que usaram na universidade,

    revistas, jornais, cursos que participam. A grande maioria das professoras no usa

    analogias em seu planejamento de maneira explicita. Algumas, como por exemplo a

    professora 1, at pensam em usar quando esto planejando, quando acham que a

    linguagem do livro didtico muito difcil para os alunos:

    SEQNCIA 031. Entrevistadora: Primeiramente, eu vou pedir para tu falares um pouquinho como oplanejamento das tuas aulas, como se d a organizao geral do teu planejamento, que

    pressupostos que tu usas para planejar as tuas aulas.

    2. Profa 1: Bom, primeiro n, eu primeiro leio o contedo no livro que eles seguem, t. Adepois eu procuro em outros livros, que o livros deles (referindo-se ao livro adotado que o

    Amabis & Martho, volume nico) tem uma linguagem muito difcil, a linguagem do Amabis

    bem difcil, bem complicada, ento, eu procuro ler em outros livros para chegar o mais perto

    do que t ali n. Para poder comparar e poder explicar melhor, t? Porque aquela linguagem

    para eles difcil. E, assim oh, as analogias que eu uso, assim, eu mesmo busco sabe?

    Muito pouco se encontra nos livros ento eu procuro comparar com alguma coisa.3. Entrevistadora: Quais so os outros livros que tu usas?4. Profa 1: Eu uso....5. Entrevistadora: So livros didticos ou outros tipos de livros?6. Profa 1: Livros didticos, e tambm assim oh, quando o assunto, sei l, quando t muitosimplificado ali, eu procuro nos livros da universidade, pra entender o difcil pra depois ir

    para o mais simples, t, poder explicar o mximo para eles.

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    7. Entrevistadora: Como se d a utilizao deste planejamento que tu elaboras, durante oano letivo? Tu fazes um planejamento geral pra todo ano? Como que ?8. Profa 1: No, no. Assim, que a gente j tem as reunies dos professores e a gente jplaneja o contedo que tem que ser dado durante o ano todo, t. A, assim: por bimestre agente tem reunio, a gente planeja o contedo pr bimestre. A ento eu planejo as minhas

    aulas em cima do bimestre, sabe? Se der tempo de dar mais, eu dou n.9. Entrevistadora: Quando tu fazes o teu planejamento tu colocas alguma analogia demaneira explcita? Assim: eu vou usar tal analogia nessa aula aqui.10. Profa 1: No. No coloco. Se bem que eu no preciso escrever, fica guardado nacabea, eu j sei como que eu vou falar pra eles, eu no... eu s fao um resumo damatria, fao um resumo pra...n. Fao no papel, porque eu no uso o livro. O livro praeles, sabe. Eu tento modificar aquela linguagem do livro, eu busco...eu falo na minhalinguagem, at porque eu escrevo no quadro...eu explico, eu falo: no, escrevam isso, coisae tal. T, mas no escrevo assim. No digo: vou usar e tal. S penso, assim, na hora queeu t lendo, que eu t...estudando a matria eu j penso: ah, podia comparar com isso,com aquilo.

    Outras, como a professora 6, acham que a analogia uma coisa natural, que jvinha sendo usada durante os vrios anos de magistrio. Para ela, a analogia surge nahora da explicao. Ao mesmo tempo, em algumas falas, afirma que as vezes ficamatutando, fica planejando, pensando sobre o que poderia fazer para facilitar oentendimento dos alunos:

    SEQNCIA 04

    1. Entrevistadora: Voltando um pouco para o planejamento. Tu te baseias em que prafazeres o teu planejamento?2. Profa 6: A bibliografia indicada por eles (referindo-se ao programa do PEIS). Mas a maior

    parte eu pego do Amabis.3. Entrevistadora: Mais livros didticos?4. Profa 6: . Tambm quando eu entro na parte de gentica, o ano passado eu usei muitoa parte do genoma. Eu uso muito o jornal tambm. Mas eu uso bastante o jornal, revistas,essas coisas assim. Mas assim, mais o, essencialmente o Amabis, que eu adoto. E mebaseio bastante, tambm, nas apostilas do cursinho, que tem bastante esquema sabe. Oesquema facilita muito.5. Entrevistadora: Ento, quando tu fazes teu planejamento, tu no planejas: Ah, eu vouusar uma analogia. Como que , tu explicita: Em tal matria eu vou utilizar essasanalogia?6. Profa 6

    : No, no. O nosso planejamento no papel , uma cpia daquilo que t l noPEIS; no fica muito fora daquilo ali. E na parte, assim, de metodologia, de estratgia, euboto.... essa parte de analogia, eu nunca botei no planejamento no papel. Tem umas que jso antigas, eu vi que funcionou, e eu continuei, n, usando. Mas assim, as vezes, n, saiao acaso.7. Entrevistadora: E desde quando tu usas esse recurso?8. Profa 6: Eu sei, assim, por mim. Eu sou muito de, na hora de memorizar as coisas, eusempre fao analogias. Eu comparo, inclusive com as crianas em casa, eu sempre procurei

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    passar dessa forma. Talvez j venha, j de bastante tempo. Eu nem sei de quando. Se foidesde o comeo. Desde o tempo de faculdade eu me lembro que eu fazia muito disso. Pramemorizar, eu comparava, com certas coisas.

    A grande maioria das analogias utilizadas pelas professoras no foram planificadas

    com anterioridade aula, geralmente, elas apareciam de uma forma espontnea na hora deexplicao, geralmente, quando a professora percebia que os alunos no conseguiamcompreender a explicao inicial, que o aluno ficava com dvida:

    SEQNCIA 05

    1. Profa. 3: No planejamento eu nunca fiz planejamento de analogia. conforme a aula tindo. Normalmente tu t falando uma coisa, tu olha que eles ficam assim, meio n, eles note questionam, mas eles ficam te olhando meio abobalhados, meio.... a tu sabe que algumacoisa t errada, ento tu... eu puxo da minha cabea e fao uma relao: Oh, aqui n...Normalmente nem todos, mas sempre um grupo olha e te: Ah! Tu nota que j abriu sabe.

    SEQNCIA 061. Profa. 5: Ela espontnea (referindo-se ao uso de analogias) s vezes eu nem meprogramo para usar aquela analogia, mas eu expliquei uma vez e vi que no ficou bem, queeu no consegui chega at eles, no consegui passa o recado, a eu vou explicar uma outravez, pra no fica igual a explicao, por que a gente sempre tenta muda alguma coisa n,da usando a analogia chama mais a ateno, tenta fixa.

    Quando perguntvamos s professoras sobre suas idias acerca do papel dasanalogias como recurso didtico para procurar obter dados referentes a preocupaes eexpectativas do professor em situao de aula ao usar analogias, obtivemos um resultadopositivo em relao a esse item, ou seja, as professoras achavam que as analogiascontribuam no sentido de trazer um elemento do cotidiano dos alunos, e isso facilitava aexplicao do contedo cientfico:

    SEQNCIA 07

    1. Entrevistadora: Qual a tua idia acerca do papel das analogias como recurso didtico?2. Profa 1: Pra mim timo. Se no fossem as analogias... se no tivesse como compararuma coisa com a outra, era muito mais difcil dos alunos entenderem, sabe, as analogiasque tu usa, tu geralmente, compara com o cotidiano deles, coisas que eles usam nocotidiano, que eles conhecem. A, fica muito mais fcil. Tu no faz analogias com coisa queeles desconhecem...no. coisa da vida diria deles, sabe? Isso muito importante...sabe, como se tivesse passando do livro pra vida deles entendeu? como se eles tirassem do

    livro e passassem pra vida diria deles. Isso importante, porque no pode ficar ali, a vidaseparada do livro, n. A inteno essa. Tu passar a matria pra vida deles, tentar explicar,juntar os dois mundos, aqui da escola e l de fora, n. No distanciar, aproximar, ento tuusa as analogias, tu aproxima, n. bem mais fcil. timo.

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    SEQNCIA 08

    1. Entrevistadora: O que que tu pensas sobre o papel das analogias como recursodidtico?2. Profa 6: Eu acho que timo. vlido. Basta ver que onde eu posso usar, eu tocolocando no meio. Eu gosto muito, memorizo muito atravs disso. Tu tem um retorno.

    No entanto, algumas professoras, ao mesmo tempo que achavam que as analogiascontribuam para facilitar a compreenso inicial de um certo contedo, ficavam com dvidasem relao a como estas deveriam ser usadas, achavam que deveria ter-se certo cuidadoao usar analogias j que essas poderiam estar promovendo uma idia errada:

    SEQNCIA 09

    1. Profa. 6: Eu acho que a analogia facilita. Eu acho que eu vou me repeti at n. Eu achoque facilita mas, as vezes, eu me questiono, n, se no vai dar uma idia errada, n.Algumas.... por que a gente usa assim... espontneo, as vezes, a gente pode ser maisfeliz e as vezes menos feliz na associao que a gente vai faze n. Por que, tipo assim, tem

    umas que no tem erro n, associa o tubo digestivo como tubo, no tem chance de erranisso a. Mas outras, a gente pode ser menos feliz na analogia e passa uma idia errada proaluno.

    SEQNCIA 10

    1. Profa. 2: Como eu te disse, eu acho que um bom recurso (as analogias). S que euacho ainda que tem que se tomar bastante cuidado, n. No usar analogia em todo ocontedo, em qualquer hora, em qualquer momento, n, por que a fica meio complicado,n. O aluno passa a enxerga isso como sendo a aula em si. Eu acho que a analogia temque ser bem clara, bem explicada n. Salientando pr aluno que uma comparao aquiloali, n. Eu acho bom, mas eu acho que tem que ser bem estudada, bem avaliada, n, praver se ela serve realmente pra aquele fim, pra aquele contedo.

    Percebemos que o maior medo das professoras que os alunos possam reter maiso conceito anlogo em detrimento do alvo e na hora de explicao propor o anlogo. A estefato talvez se deva o receio em usar este tipo de recurso:

    SEQNCIA 11

    1. Entrevistadora: Desde quando que tu usas este tipo de recurso?2. Profa. 5: Analogia?3. Entrevistadora: .4. Profa. 5:

    Eu acho que eu sempre usei, por que, ah, uma coisa que no e planejada,ento assim... e tambm assistindo outros cursos que a gente v outros professoresusando, ento, que facilita o entendimento. E a, tu passa a ... at usar, at no te sentir malpor usar aquele, aquele instrumento.5. Entrevistadora: Como assim no te sentir mal?6. Profa. 5: No. No sentir errada.7. Entrevistadora: Que tipo de curso que tu participaste sobre analogias? No foi cursoespecfico sobre analogias?

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    8. Profa. 5: No, no. Curso comum. Os professores do curso usavam vrias analogias. Eeu nunca esqueo uma que o Elgio colocou como exemplo, quando ele tava falando docentrolo. Ele usou que era o .... associou assim como o ... pra dar estrutura pra clula, eleassociou a clula como uma barraca e o centrolo como se fosse o suporte, o pau dabarraca. E, at ele fez um parntese, n, que as vezes as analogias leva o aluno a ficar com

    a idia s da analogia. No consegue abstrair realmente o que a analogia significa. Ento,s vezes, a analogia pode ser problemtica.9. Entrevistadora: E a ele deu alguma sugesto pra resolver esse tipo de problema?10. Profa. 5:No. Ele colocou isso por que ele, assim oh, ficou surpreso quando ele pegouuma avaliao de uma aluna, e era uma aluna da medicina, quando a aluna escreveu naprova, exatamente o que ele tinha dito. A analogia que ele tinha citado. Eu me questionobastante n. Mas que no momento que tu t explicando, s vezes, tu v que, que tu temque acha um jeito do aluno associa com alguma coisa, por que a biologia to cheia denomes n. Pra eles tanto nome diferente, numa aula s. Muitas vezes eles mesmo dizem:A professora, tu fala numa linguagem que a gente entende. Ou ento, que eu vou ensinarum contedo que algum j ensinou e que eles no fixaram: Ah professora, mas assim

    ficou mais fcil. Ento... eu no sei, eu tambm no sei se eu to certa usando analogias,n.

    procedente a dvida das professoras em relao ao uso de analogias, j que,como foi discutido anteriormente, se no for dada a devida ateno no momento do usodeste tipo de recurso didtico, corre-se o risco de levantar um nmero maior de concepesalternativas e no alcanar os objetivos propostos para uma atividade de ensino. Noentanto, para que se torne um recurso efetivo necessrio tomar-se determinados cuidadosna hora de se trabalhar com analogias, o que discutido a seguir.

    7. CONSIDERAES FINAIS

    As observaes das aulas das professoras e as entrevistas realizadas revelaram,que, ao usarem analogias as professoras o fazem de uma forma espontnea, lanando mode recursos de docncia. Entre estes recursos esto as analogias, que, sem dvida alguma,auxiliam o processo de ensino. Sendo espontneas, as analogias utilizadas pelasprofessoras sujeitos da pesquisa, eram provenientes, na maioria das vezes, de um insight,da prpria criatividade ou do improviso. Isto provoca uma aparncia de espontaneismo.Mas, na verdade, poderamos especular que estes recursos seriam alguns dos constituintesimprescindveis do saber-fazer docente. Este saber-fazer diretamente influenciado pela

    sensibilidade das professoras que ao perceberem a estranheza de seus alunos para comdeterminado contedo fazem intervenes educacionais, sem que estas sejam previstas apriori. Quer dizer, lanam mo de algum tipo de recurso para que os mesmos compreendammelhor. A utilizao destes recursos permite, entre outras coisas, a emergncia deanalogias originais que surgem em suas salas de aula oportunizando uma aproximaomaior do cotidiano real dos alunos.

    Reconhecemos o papel fundamental do uso de analogias no trabalho docente ereafirmamos o seu uso como um dos recursos didticos que nortear o trabalho do

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    professor. Porm, o professor deve possuir um conhecimento didtico para mediar e

    reconhecer quais recursos adotados no ensino podero contribuir para ajud-lo. Nesse

    sentido, um conhecimento da teoria relacionada a esse tipo de recurso por parte dos

    professores que a utilizaro bem como conhecimento das discusses sobre as vantagens e

    desvantagens das estratgias de ensino com analogias devem ser consideradas pelos

    professores.Tendo um conhecimento relacionado ao uso de recursos como analogias os

    professores tero condies de fazer seu planejamento usando as analogias de uma forma

    mais estruturada. Porm, essa forma mais organizada de pensar o uso de analogias no

    deve ser um simples transplante de uma estratgia j constituda para ser aplicada em sala

    de aula, mas sim uma construo resultante das pesquisas na rea, do uso espontneo

    pelos professores e do uso pelo prprio aluno.

    Por fim, os resultados desta pesquisa mostram que se faz urgente, na formao

    inicial e continuada dos professores, a insero e discusso da questo sobre o uso de

    analogias no ensino, sua funo, suas utilidades, suas vantagens e desvantagens, enfim,

    como usar analogias de uma forma efetiva.

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