O uso do livro de josué no

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O USO DO LIVRO DE JOSUÉ NO NOVO TESTAMENTO. WILLIAN ORLANDI

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  • 1. O USO DO LIVRO DE JOSU NO NOVO TESTAMENTO. WILLIAN ORLANDI

2. 2 RESUMO Esse estudo trata sobre como o livro de Josu usado, interpretado e entendido pelos autores do Novo Testamento. Valendo-me da exegese histrico-gramatical dos textos neotestamentrios, mostrarei como naturalmente as narrativas de Josu eram entendidas algumas vezes tipologicamente sem negar sua historicidade. Eventos que realmente aconteceram no tempo e no espao, mas que no eram um fim em si mesmos, antes, dentro do contexto maior da histria da Salvao, apontavam para um futuro escatolgico. 3. 3 ABSTRACT This study deals with how the book of Joshua is used, interpreted and understood by the authors of the New Testament. Drawing upon the historical-grammatical exegesis of the New Testament texts, I will show how naturally the narratives of Joshua were understood sometimes "typologically" without denying its historicity. Events that really happened in time and space, but they were not an end in themselves, rather, within the larger context of history of salvation, pointed to an eschatological future. 4. 4 SUMRIO INTRODUO..............................................................................................................5 1. O uso histrico............................................................................................................6 2. O uso doutrinal/moral.................................................................................................7 3. O uso Cristolgico/escatolgico.................................................................................8 CONCLUSO..............................................................................................................12 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .........................................................................14 5. 5 INTRODUO Este um breve estudo exegtico-teolgico das passagens neotestamentrias onde encontramos uma citao, aluso ou eco do livro de Josu. Em nossos conturbados dias, o mtodo histrico-crtico na hermenutica acaba negando a inspirao, autoridade, veracidade, confiabilidade histrica e harmonia das Sagradas Escrituras o que diametralmente oposto aos pressupostos da mentalidade apostlica crist do primeiro sculo. A crtica das fontes, que procura reconstruir a histria religiosa de Israel atravs de vrias fontes diferentes, acaba retalhando os documentos cannicos como Josu, se distanciando, como o ocidente do oriente, da leitura dos apstolos (e cristos em geral), que liam Josu (e os demais livros do A.T.) canonicamente como uma unidade literria. A crtica da forma, especialmente o mtodo diacrnico proposto por Gerhard Von Rad, defende que no se pode falar de uma teologia do Antigo Testamento como um sistema unificado de pensamento, o que tambm difere do pensamento apostlico, que entendia cada livro do A.T. como parte do escopo maior do Cnon e da histria da salvao que culminou na plenitude dos tempos, i.e., a encarnao do Verbo Divino, a vinda do Messias. Neste estudo primeiramente demonstrarei que os autores do Novo Testamento liam Josu como um livro histrico fidedigno, ou seja, os acontecimentos descritos em Josu (e todo o texto desse livro em geral) so dignos de confiana, pois realmente aconteceram no passado. um relato fiel do que Deus fez ao Seu povo naquele momento da histria. Em segundo lugar, veremos que os escritores do N.T. tambm se valiam do texto de Josu para ensinar a seus leitores/comunidades doutrinas e tambm para a exortao, pois toda Escritura divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justia (2 Tm 3.16). Em terceiro e ltimo lugar, analisaremos como Josu tipificava Cristo na viso apostlica e como sua mensagem no se detinha ao tempo de Josu, mas transcende para um futuro escatolgico. No irei expor cada tema de Josu que aparece no N.T. (e tambm no A.T.), como por exemplo, a Soberania de Deus, a guerra santa, aliana, etc. Irei deter-me apenas aos textos do N.T. que citam, aludem ou ecoam Josu. Concluirei com uma aplicao prtica do quadro geral desse sucinto estudo. Soli Deo Glria 6. 6 1. O USO HISTRICO. Certamente no havia liberalismo teolgico entre os judeus ortodoxos do primeiro sculo. Eles levavam a srio as Sagradas Escrituras e tinham suas histrias como verum eventus. Seguiu-se logicamente a mesma mentalidade na igreja crist do primeiro sculo. Os cristos primitivos criam que os acontecimentos no livro de Josu (e nos demais livros do A.T.) realmente aconteceram no tempo e no espao no contexto do desenvolvimento da Heilsgeschichte (o que difere da era patrstica onde a leitura de Josu tinha uma enfase alegrica, o que continuou na era Medieval, tendo seu fim na reforma protestantei ). Dois discursos em Atos apresentam um carter de uma reviso em pblico da histria de Israelii . O primeiro deles o grande discurso (o maior no livro de Atos) do proto-mrtire cristo, Estevo. Em atos 7. 45 lemos: ...o qual nossos pais, tendo-o por sua vez recebido, o levaram sob a direo de Josu, quando entraram na posse da terra das naes que Deus expulsou da presena dos nossos pais, at os dias de Davi. (enfase minha). No contexto, a perseguio contra a comunidade crist estava crescendo o que acarretou na priso dos apstolos (At 5. 17-42). Para resolver um problema interno, a igreja escolhe sete homens os quais eram .... de boa reputao, cheios do Esprito e de sabedoria (At 6.3) entre os quais se encontrava Estevo. Alguns homens maliciosos e invejosos vieram para debater contra ele mas no resistiram a sabedoria e ao Esprito, pelo qual ele falava (At 6. 10). Atravs de subornos e falsas testemunhas, o levaram perante o sindrio, onde fez uma magistral defesa, expondo a histria do povo de Deus, comeando por Abrao indo at Salomo. ...o levaram sob a direo de Josu.... A gerao de Israelitas que entrou na terra prometida naturalmente levou consigo os acessrios de sua adorao. A passagem de Josu 3. 14, que estava na mente de Estevo em At 7. 45, descreve os sacerdotes levando a arca da aliana quando cruzaram o Jordo, e Josu 18.1 registra que a tenda da revelao foi estabelecida em Siliii . ...quando tomaram posse da terra das naes que Deus expulsou da presena dos nossos pais, at os dias de Davi. O substantivo (kataskhesei) geralmente se refere a tomada de posse da terra de Cana (Gn 17. 8; 48.4; Lv 24. 25; Nm 13. 2)iv . Tomar posse das naes aqui, comenta I. Howard Marshall, parece referir se a tomar 7. 7 posse da terra que eles habitavam quando os expulsaram de lv . O verbo expulsar (exotheo) ocorre em Deuteronmio 13.6 (LXX) num contexto diferente. A fraseologia aqui baseada em Josu 23. 9 e 24. 18, textos que descrevem o modo pelo qual O Senhor expulsou e destruiu as naes diante dos Israelistas. A ideia principal, portanto, o desalojamento das naes que antes habitavam a terravi . No se v aqui nenhuma tipologia entre Josu e Jesusvii , e nenhuma aluso tipolgica igreja que inclua as naes. Estevo est fazendo um discurso histrico aos judeus do sindrio. O outro discurso histrico de Paulo na sinagoga de Antioquia (At 13. 16-41), onde ele oferece um rpido esboo dos eventos de xodo a Davi (At 13. 17-22) dando um salto at os tempos de Jesus. No verso 19 ele diz: Havendo destrudo as sete naes na terra de Cana, deu-lhes o territrio delas por herana. A referncia expulso das sete naes apoia-se em Deuteronmio 7.1, enquanto o segmento deu-lhes o territrio (em Cana) por herana vem de Josu 14. 1viii . O escritor de Hebreus e Tiago irmo de Jesus tambm demonstram em suas epstolas a historicidade do livro de Josu (Hb 4; 11 e Tg 2) e tambm Mateus ao incluir Raabe na genealogia de Cristo (Mt 1.5). 2. O USO DOUTRINAL/MORAL Um secundus usus do livro de Josu no Novo Testamento a apropriao da narrativa de Josu para ensinar alguma doutrina, exortar e demonstrar algum exemplo moral. Tiago faz isso em sua epstola, usando a narrativa de Raabe, ele diz: E de igual modo no foi a meretriz Raabe tambm justificada pelas obras, quando acolheu os espias, e os fez sair por outro caminho? (Tg 2. 25). O termo (omois de igual modo) faz a ligao no entre 2. 25 e 2. 24 mas sim ao exemplo de Abrao em 2. 20-23 colocando a f da prostituta de Jeric na mesma essncia com a f de Abrao. O episdio de Raabe (Js 2) no menciona explicitamente a sua f (como Genesis 15 menciona a f de Abrao) embora o fluxo narrativo deixe poucas dvidas; ela ouvira as histrias dos atos poderosos do Deus de Israel e sua confiana nele a levou a aes concretas assim como a f que Abrao depositou em Deus o levou a agir por meio de atos concretos.ix Em 1 Clemente 12 ns descobrimos um tipo proftico de expiao no cordo vermelho usado por Raabe para descer os espias (Js 2.18) e no Judasmo posterior Raabe identificada como um brilhante exemplo de um clssico proslito, isto , um gentio que se identifica com o povo de Israel, mas nenhuma dessas categorias o ponto de Tiago. 8. 8 A sua inteno demonstrar a inseparabilidade entre f e obras e desconstruir os argumentos daqueles que pensam que algum pode ter f e no obrasx . D. A. Carson conclui: O mais conceituado ancestral de Israel e uma obscura prostituta gentia exemplificam a importncia da verdade de que a f genuna mostra-se em aes. De qualquer modo, Tiago usa a narrativa de Raabe com propsito moral de exemploxi . O escritor de Hebreus tambm entende Raabe como um exemplo de f e por isso ela no foi destruda com os outros desobedientes de Jeric, pela sua corajosa e pacfica hospitalidade para com os espias israelitas (Hb 11. 31). 3. O USO CRISTOLGICO/ESCATOLGICO. Hebreus 4. 1-11 diz: Temamos, portanto, que, sendo-nos deixada a promessa de entrar no seu descanso, suceda parecer que algum de vs tenha falhado. 2 Porque tambm a ns foi pregado o evangelho, assim como a eles; mas a palavra pregada nada lhes aproveitou, visto no ter sido acompanhada pela f naqueles que a ouviram. 3 Porque ns, os que temos crido, que entramos no descanso, tal como disse: Assim jurei na minha ira: No entraro no meu descanso; embora as suas obras estivessem acabadas desde a fundao do mundo; 4 pois em certo lugar disse ele assim do stimo dia: E descansou Deus, no stimo dia, de todas as suas obras; 5 e outra vez, neste lugar: No entraro no meu descanso. 6 Visto, pois, restar que alguns entrem nele, e que aqueles a quem anteriormente foram pregadas as boas novas no entraram por causa da desobedincia, 7 determina outra vez um certo dia, Hoje, dizendo por Davi, depois de tanto tempo, como antes fora dito: Hoje, se ouvirdes a sua voz, no endureais os vossos coraes. 8 Porque, se Josu lhes houvesse dado descanso, no teria falado, posteriormente, a respeito de outro dia. 9 Portanto resta ainda um repouso sabtico para o povo de Deus. 10 Pois aquele que entrou no descanso de Deus, esse tambm descansou de suas obras, assim como Deus das suas. 11 Ora, vista disso, procuremos diligentemente entrar naquele descanso, para que ningum caia no mesmo exemplo de desobedincia. A unidade de 4. 1-11 desempenha um papel significativo na extensa exortao de 3. 1 4. 16 e oferece um contraponto ao exemplo negativo do perodo do deserto, pela proclamao de uma promessa de descanso aos que creem na palavra de Deusxii . A questo principal do autor nessa transio que h um descanso para o povo da nova aliana de Deusxiii . George H. Guthire, comentando essa passagem diz: Em 4. 3-5, o autor diz que o crente que entra no descanso mencionado em Salmos 95. 11 (94. 11 LXX), e esse descanso existe desde que Deus concluiu a criao. Assim o autor associa o descanso de Salmos 95. 11 com o descanso de Deus no stimo dia da criao (Gn 2.2). 9. 9 O autor rene as duas passagens com base na analogia verbal e introduz o versculo de Gnesis para definir o descanso de maneira mais clara. O fato de Davi ter falado de um descanso que pode ser adquirido (ou perdido) hoje, muito depois dos israelitas terem entrado na terra prometida, sob a liderana de Josu, demonstra que Deus tinha em mente mais do que uma entrada fsica na terra (4. 6-8). O autor conclui, portanto, que um descanso sabtico ainda est disponvel para o povo de Deusxiv . Portanto, o descanso do povo Israelita em Cana era uma sombra de um futuro descanso mais glorioso. Joo Calvino disse: O autor no pretende negar que pelo termo descanso Davi entendesse a terra de Cana, na qual Josu introduziu o povo. Seno que tem em vista que este no o descanso final a que os fiis aspiram, o qual a nossa possesso comum com os fiis daquele tempo. Certamente que olhavam para alm daquela possesso terrena. Alis, a terra de Cana s era considerada de muito valor pelo fato de ser ela o tipo e o smbolo de nossa herana espiritual. Portanto, quando tomaram posse dela, no atingiram o descanso como se tivessem alcanado a resposta a todas as suas oraes, ao contrrio, entenderam que tomaram posse do significado espiritual contido nela. Aqueles a quem Davi dirigiu o Salmo desfrutavam da posse da terra, porm estavam sendo encorajados a buscarem um descanso superior. Vemos, pois, que a terra de Cana foi um descanso, mas em forma de sombra para alm da qual os crentes tem que prosseguir. nesse sentido que o apstolo afirma que Josu no lhes deu descanso, porque sob sua liderana o povo entrou na terra prometida a fim de empenhar se por alcanar o cu ainda com maior zeloxv . Da mesma maneira, John Owen, na sua massiva exposio de Hebreus, diz que o autor ... ensina os hebreus que todas aquelas coisas que foram ditas sobre o descanso de Deus na terra de Cana, e nas instituies mosaicas, no contm a realidade ou a prpria substncia nelas... Josu no deu a eles o descanso real, mas apenas aquele que foi tipicamente instrutivo para a ocasio que haveria de virxvi . Muitos telogos encontram dificuldades em entender o que o autor de Hebreus quer dizer com descanso. Em 4. 10 ele o define como uma interrupo das obras de algum, mas no especifica onde ou quando isso acontece. Alguns estudiosos entendem somente como um destino escatolgico, talvez o santo dos santos celestial, introduzido no fim dos tempos (Hofius 1970). Outros entendem como um estado espiritual experimentado no tempo presente pelos fiis (Theissen 1969). O relato de Gnesis 1 e 2 demonstra que todos os seis primeiros dias tiveram comeo e fim com exceo do stimo dia (que talvez indique um dia sem fim). Isso nos ensina que o descanso no est preso a categorias de espao/tempo e que tambm uma realidade emprica presente. No precisamos cair nos extremos de presente/futuro. O escritor de Hebreus mostra uma realidade j / ainda no. O crente entra no descanso e assim o experimenta no presente, mas a sua plenitude continua a ser uma promessa a se consumar no futuroxvii . Nesse sentido, Attridge (1989, p. 128) escreve: Assim, a imagem do descanso mais bem entendida como smbolo de todo o processo soteriolgico que Hebreus nunca articula plenamente, mas que envolve as dimenses pessoais e coletiva. o processo de entrada na presena de Deus, a ptria celestial (11.16), o reino inabalvel (12.28), 10. 10 iniciado no batismo (10.22) e consumado escatologicamente como um todoxviii . O descanso mencionado em Gn 2.2, nas palavras de Von Rad (1966, p. 102), uma expectativa escatolgica, um cumprimento das profecias da redeno. A. T. Lincon (1982, p. 212) entende que o descanso de Gn 2.2 mostra a consumao dos propsitos de Deus para a criao. E quais so esses propsitos? A redeno de Seu povo e um descanso consumado num ambiente celestial. Assim Lincon interpretada esse descanso a luz de uma escatologia inaugurada. Ainda que esta viso esteja correta, precisamos estreitar um pouco mais seu significado. O descanso deve ser interpretado como a entrada na Nova Aliana, por meio do grande Dia do Sacrifcio da Expiao pelo grande sumo sacerdote, Jesusxix . Em primeiro lugar, Levtico 16. 29-31 e 23. 26-32 apresentam o Dia da Expiao como um sbado de descanso durante o qual as pessoas no poderiam faze obra alguma e era purificada de seus pecados. Nas duas passagens, a ordenana do sbado est em associao direta com a oferta do sumo sacerdote no Dia da Expiao, e essa oferta recebe ateno especial do autor de Hebreus (2. 17-18; 4. 14-5.4; 7. 26-28; 8.3-10. 18)xx . Em segundo lugar, os pesquisadores em geral no conseguem perceber essas profundas conexes lexicais existentes entre 3.1 4.3 e os dois resumos mais importantes sobre a obra sacerdotal de Cristo na epstola, a saber, 4. 14-16 e 10. 19-25, passagens que formam uma inclusio em torno do discurso do autor sobre a designao do sumo sacerdote celestial e sua oferta superiorxxi . Analisando cuidadosamente, o resumo de 10. 19-25 volta atrs e se conecta com a seo de exortao (3.1 4.13), por meio de termos relacionados: irmos (3.1; 10.19); o nome Iesus Jesus ou Josu (3,1; 4.8; 10.19); considerai (3.1; 10.24); Cristo como o grande sumo sacerdote (3.1; 10.19,21); entrando em (4.1.3,5,6,10,11; 10. 19,20); confiana (3.6; 10.19); sua casa (3.6; 10.21); Deus (3.4,12; 4. 4,10,12); etc. Assim h pelo menos 21 paralelos entre o resumo da obra de Cristo no tabernculo celestial, em 10. 19-25 (apenas sete versculos), e 3.1 4.13. Isso demonstra que o autor conduz com habilidade o tema do livro para 10. 19-25, que vem a ser o resumo da obra sacerdotal de Cristo e o pice do texto que comea em 3.1 4. 11 e inclui a passagem sobre o descansoxxii . Portanto, podemos concluir que o descanso mencionado pelo autor de Hebreus a entrada pessoal na Nova Aliana. Alguns membros da comunidade o rejeitaram porque no uniram a f com o ouvir o evangelho (4. 1-2). Todos devem se esforar para entrar nesse descanso (4. 11). A entrada na Nova aliana envolve uma postura corajosa ao lado de Cristo e de Seu povo, porm ao mesmo tempo, implica o descanso das prprias obras (4.10). No contexto, isso aponta para uma vida de f e obedincia a Deus, na qual uma pessoa se afasta de um estilo de vida errante e abraa a palavra proclamada de Deus. Por fim, um descanso no qual se pode entrar agora pela f (4.3) e que ser consumado no final dos temposxxiii . Uma ltima passagem a ser examinada nesse estudo est no primeiro captulo da epstola de Paulo aos colossenses, verso 12 que diz: Dando graas ao Pai, que vos fez idneos parte que vos cabe da herana dos santos na luz. 11. 11 Este segmento do captulo parte da orao intercessora paulina iniciada em 1.9. Paulo ora para que seus leitores sejam cheios da sabedoria de Deus para viverem de um modo digno do Senhor, agradando-lhe em tudo. Em 12.b-14 Paulo apresenta a razo da ao de graas, a qual est arraigada na linguagem do xodo de Israel e na subsequente herana da terra prometida. Ao escrever esses versos, Paulo no tem nenhuma passagem especfica do Antigo Testamento em mente, mas com certeza o xodo de Israel teve uma grande influncia na linguagem aqui. Em Cristo os crentes tem a redeno, (apolutrsin 1.14) e eles foram libertos do domnio das trevas, (hos erusato hmas ek ts exousias tou skotous 1.13). Da mesma maneira, Israel foi liberto da escravido do Egito. A septuaginta trata amplamente a libertao israelita dos egpcios como redeno (). Igualmente, as profecias que tratam do segundo xodo a libertao de Israel do exlio empregam a linguagem de redenoxxiv . A frase participar da herana (Lit. Trad.) foi originalmente identificada com a poro da terra para cada tribo aps a conquista (Js 13.1 19. 51)xxv . Quando Paula fala sobre a herana dos santos parece estar desenvolvendo uma exegese tipolgica judaica que aplicava a promessa a respeito de Israel participar da herana em Cana, a uma recompensa eterna no final dos tempos. Particularmente notvel a forma como a linguagem poderia ser transferida para a esperana escatolgica de participao na ressurreio e/ou na vida aps a morte na vida eterna do cu (Dn 12.13; Sab 5.5; 1En 48.7)xxvi . Os Documentos do Mar Morto nos apresentam uma relao mais estreita: IQS 11:7-8 Deus tem dado a eles (sabedoria, conhecimento, justia, poder e glria) aos Seus escolhidos como uma eterna possesso e fez com que eles possussem a poro da herana dos santos. E tambm IQH 11:10-12 Pela causa da Sua glria tens purificado os homens do pecado para eles serem santos para Ti... para que eles sejam um [com] os filhos da Tua verdade e participantes da poro dos Teus santos. O pensamento to prximo que ele deve ajudar a esclarecer o significado aqui. "Luz" aqui presumivelmente denota a luz do cu, aquela iluminao transcendente que por si s d clareza de viso, incluindo a clareza de auto percepo (por exemplo Joo 1. 4-5; 3. 19-21; 2 Corntios 4. 6; Ef 5. 13-14, 1 Joo 1.5,7; 2.8). Aqueles que recebem essa herana na luz e vivem de acordo podem ser chamados de filhos da luz (como em Lc 16.8; Jo 12. 36; 1Ts 5.5). Os aliancistas Qunranitas entendiam a si mesmos da mesma maneiraxxvii . Eo ipso, percebemos que os motifs de descanso e herana em Josu so usados numa perspectiva histrico-redentiva pelos autores neotestamentrios que possuam uma viso tipolgica/escatolgica tanto da pessoa como do livro de Josu. fcil entendermos como a comunidade crist primitiva logo associou Josu com Cristo. Quando os espies so enviados a explorarem a terra de Cana, ficamos sabendo pela primeira vez que Moiss mudou o nome de Osias da tribo de Efraim para Josu (Nm 13. 16; Cf. Dt 32.44)xxviii . Osias significa salvao e Josu, mais especfico, significa YWHW salva e no grego idntico ao nome de Jesus (Iesous). Uma outra 12. 12 base seria o ofcio proftico de Cristo. Bastard identificou o profeta semelhante a Moiss de Deuteronmio 18. 15-19 com Josuxxix . Um claro tipo de Cristo que O Profeta Escatolgico Divino, superior a Moiss. O livro de Josu termina com o falecimento do mesmo, identificado como servo do Senhor (Ebed Iahweh). Esse ttulo posteriormente foi usado para descrever o futuro Messiasxxx . Para Oscar Cullman, o ttulo Ebed Iahweh o centro da cristologia do novo testamentoxxxi . Assim como Josu era o lder do povo de Deus e os conduziu possesso da terra prometida, sendo o agente/servo de Deus na destruio de Seus inimigos, assim tambm Cristo O supremo lder do povo de Deus que conquistou para ns a eterna Cana celestial, trunfando sobre o pecado, o diabo e a morte. CONCLUSO Infelizmente, a tendncia das inclinaes humanas sempre polariza para algum extremo devido aos efeitos noticos da queda admica no pecado. A moderao estranha a ns e sem a graa de Deus sempre tomamos o rumo de algum extremismo desnecessrio. Se isso verdade no que diz respeito as questes naturais, quanto mais nas questes espirituais. Alguns se aproximam das Escrituras (para ler, meditar, ensinar) como se ela fosse meramente um livro histrico. Leem as narrativas que tratam da vida de Abrao, Isaque, Jac, Josu, Davi como se fossem exclusivamente eventos passados. As Escrituras passam a no ter outra finalidade a no ser satisfazer a curiosidade alheia, ou se rebaixa a um livro de pesquisa dos povos/naes do passado. Outros usam o Antigo Testamento apenas para ensinar princpios morais e ticos atravs de bons e maus exemplos que ali encontram. Pregadores exortam com veemncia a seus ouvintes para serem corajosos e perseverantes como Josu (os exemplos nessa rea so ilimitados). E realmente no h problema nisso, mas quando se faz apenas isso, acabamos por destronizar Cristo de Seu lugar preeminente nas Escrituras. Quase que inevitavelmente iremos cair no extremismo do legalismo numa religio de boas obras isenta da graa redentora de Cristo. Por fim, ao vermos esse perigo, tendemos a correr para um outro extremo e tentar achar Cristo em cada trecho, frase ou palavra das Escrituras. O problema disso que 13. 13 iremos desenfreadamente alegorizar vrias passagens das Escrituras entrando no campo da especulao/imaginao nos distanciando de uma exegese sria do texto Sagrado. Ns devemos humildemente ir at os ps de Cristo e Seus apstolos para aprendermos com eles a maneira correta de se interpretar e aplicar o Antigo Testamento. Aprendemos que as histrias do Antigo Testamento so verdadeiras e confiveis pois so as prprias palavras do Deus vivo. Tambm aprendemos que O Esprito Santo registrou o que registrou para nos ensinar e exortar a no cometermos os mesmos erros cometidos pelo povo de Deus no passado e tambm para nos ensinar verdades eternas. O apstolo Paulo usa os exemplos do povo de Israel para exortar a igreja de Corinto e ele diz: Estas coisas lhes sobrevieram como exemplos e foram escritas para advertncia vossa, de ns outros sobre quem os fins dos sculos tem chegado (1 Co 10. 11). E nunca podemos perder de vista a revelao Messinica no Antigo Testamento. O prprio Cristo ressurreto disse aos Seus discpulos antes de Sua ascenso: So essas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de Mim est escrito na lei de Moiss, nos profetas e nos Salmos; ento, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras (Lc 24. 44-45). Em suma, jamais entenderemos apropriadamente as Escrituras se Deus no abrir o nosso entendimento e nos dar f para cremos que ela a infalvel, suficiente e inerrante Palavra de Deus, e que ns que estamos em Cristo experimentamos o poder da era escatolgica para vivermos essa palavra e tambm para vermos Cristo Jesus, nosso Senhor em suas pginas... 14. 14 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS i Cf. Kevin Vanhoozer Dictionary for theological interpretation of the Bible, p. 736. ii Luke Timothy Johnson Septuagintal Midrash in the Speeches of Acts , p. 24. iii G. K. Beale e D. A. Carson Comentrio do uso do Antigo Testamento no Novo Testamento, p. 709. iv Ibid. v Ibid. vi Ibid. vii Em grego, os nomes Josu e Jesus so o mesmo (, como no texto de At 7. 45). viii Ibid. p. 728. ix G. K. Beale e D. A. Carson Comentrio do uso do Antigo Testamento no Novo Testamento, p. 1233. x Scot McKnight The new international commentary on the new testament The letter of James p.256. xi Ibid. xii G. K. Beale e D. A. Carson Comentrio do uso do Antigo Testamento no Novo Testamento, p. 1174. xiii Ibid. xiv Ibid. p. 1175. xv Joo Calvino Comentrio de Hebreus pp. 100-101. xvi John Owen An exposition of the epistle to the Hebrews with preliminary exercitations, Vol IV, p. 320 xvii G. K. Beale e D. A. Carson Comentrio do uso do Antigo Testamento no Novo Testamento, p. 1178. xviii Ibid. xix Ibid. xx Ibid. xxi Ibid. xxii Ibid. xxiii Ibid. p. 1179. xxiv Cf. Is 44. 22-24; 51.11; 52.3; 62.12; etc. xxv David E. Garland The NVI application commentary from biblical text to contemporary life Colossians / philemon, p. 66. xxvi James Dunn The new international greek testament commentary (NIGTC) The epistles to the Colossians and to philemon p. 76. xxvii Ibid. xxviii Richard Hess Josu, introduo e comentrio, p. 23. xxix H. M. Bastard The understanding of the prophets in Deuteronomy, SJOT, 8, p. 236-251. xxx Cf. Is 42. 1-4; 49. 1-7; 50. 4-11; 52.13 53.12; etc. xxxi Oscar Cullman Cristologia do Novo Testamento, p. 75.