O USO DE FERRAMENTAS DA WEB 2.0 NA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA DE ALUNOS DE PEDAGOGIA

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Trabalho apresentado na 8ª Semana de Humanidades UFC/UECE.Para citá-lo:MAIA, Dennys Leite; PINHEIRO, Joserlene Lima; BARRETO, Marcília Chagas. O uso de ferramentas da web 2.0 na Educação Matemática de alunos de Pedagogia. In: Anais da 8ª Semana de Humanidades UFC/UECE. Fortaleza: UFC/UECE, 2011.

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O USO DE FERRAMENTAS DA WEB 2.0 NA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA DE ALUNOS DE PEDAGOGIA

Dennys Leite Maia*

[email protected]

Joserlene Lima Pinheiro**

[email protected]

Marcilia Chagas Barreto***

[email protected]

RESUMO

Este trabalho relata a experiência com ferramentas da web 2.0 na formação de alunos de Pedagogia da Universidade Estadual do Ceará (UECE), durante uma disciplina voltada para o ensino da Matemática. Objetivou-se, além da formação docente para o uso pedagógico de tecnologias digitais (TD) na Educação Matemática (EM), promover o contato de futuros pedagogos com ferramentas que possibilitam compartilhamento de materiais digitais com potencial educativo. O poder público tem adotado políticas afim de disseminar a informática educativa nas escolas, haja visto pesquisas relatam que recursos digitais, como softwares educativos (SE) e objetos de aprendizagem (OA), auxiliam o processo de ensino e aprendizagem. No caso da EM contribuem para apreensão de conceitos matemáticos, dentre outros aspectos. Contudo, para efetivação dessas possibilidades, é imperiosa a formação docente para uso desses “novos” recursos didáticos. O referido curso de Pedagogia reserva pouco espaço no currículo para a formação em tecnologia. Como forma de proporcionar maior contato dos estudantes com as TD, a unidade Informática Educativa e a Geometria, da referida disciplina, teve suporte no ciberespaço onde foram utilizadas ferramentas de edição colaborativa de conteúdo e compartilhamento de arquivos. Para isto, procedeu-se a criação de um blogue para disponibilizar materiais de apoio didático como: textos, slides e um instrumental para análise de SE e OA de Matemática. É possível dizer que essa experiência proporcionou aos discentes aprendizagem colaborativa, uma vez que puderam socializar seus planos de aula na web e comentar os trabalhos dos colegas. Sobre isso, os estudantes de Pedagogia sinalizaram como bastante positivo. Esperamos que esta experiência seja disseminada em outras disciplinas do curso e que os alunos a integrem também em suas futuras práticas docente, seja para o ensino da Matemática como em outras áreas do conhecimento.

Palavras-chave: Educação Matemática – Formação Inicial de Professores – Web 2.0

INTRODUÇÃO

De acordo com Souza et al. (2007, p. 68) algumas dificuldades na aprendizagem

da Matemática por alunos brasileiros são decorrentes de estratégias de ensino adotadas por

seus professores. Em função disso, os autores consideram que o uso de recursos digitais “na

introdução de conceitos matemáticos pode contribuir para contornar essas dificuldades”.

Castro Filho et al. (2007) ressaltam que diversas pesquisas corroboram essa ideia.

Estudos como os de Bittar (2010), Gladcheff, Zuffi e Silva (2001) dentre outros, indicam que

o uso de tecnologias digitais (TD) para auxiliar o processo de ensino e aprendizagem em

* Aluno do curso de Mestrado Acadêmico em Educação da UECE e membro pesquisador do Grupo de Pesquisa Matemática e Ensino (MAES).

** Aluno do curso de Licenciatura em Pedagogia da UECE e membro do MAES.***Professora da UECE e coordenadora do MAES (Orientadora).

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Educação Matemática (EM), pode contribuir para a apreensão de conceitos matemáticos, além

do desenvolvimento de competências, como raciocínio lógico, dedução, e outros aspectos.

Freire (2011) observa que as TD têm sido utilizadas nas aulas de Matemática para

complementar situações de ensino em que recursos analógicos não são suficientes. Neste

sentido, Mendes (2009) acrescenta que o computador pode exercer um papel decisivo no

ensino de Matemática.

Contudo, para efetivação dessas possibilidades, entendemos que é imperiosa a

formação docente para uso desses recursos didáticos. Importa observar que o professor é

responsável pela condução do processo de ensino-aprendizagem em contexto escolar.

Consequentemente a preparação docente para o uso pedagógico das tecnologias digitais é

imprescindível, tanto para os professores em serviço como os que estão em formação. E, ao se

falar desse segundo grupo, os locais onde os futuros professores devem adquirir esses

conhecimentos são nos cursos de licenciaturas das instituições de ensino superior (IES).

No caso do professor que irá ensinar Matemática na Educação Infantil e anos

iniciais do Ensino Fundamental a formação ocorre nos cursos de Licenciatura em Pedagogia.

Esses cursos são responsáveis por instrumentalizar os futuros professores sobre diferentes

estratégias de ensino e aprendizagem, com diferentes recursos, sejam eles analógicos, como

material concreto, sejam digitais, como softwares educativos/educacionais1 (SE) e objetos de

aprendizagem (OA).

No caso da Universidade Estadual do Ceará (UECE), Maia e Barreto (2010),

apontam que são poucos os espaços no currículo do curso de Pedagogia, campus do Itaperi,

em Fortaleza, que oferecem formação para o uso pedagógico de tecnologias digitais. Das 72

disciplinas do curso, existe apenas uma optativa, com 68 horas-aula, denominada Tecnologias

Digitais em Educação, com vistas ao trabalho pedagógico com as TD. Ademais, esta

disciplina é disponibilizada a 2 dos 3 eixos de aprofundamento do curso, quais sejam: Ensino

Fundamental e Gestão Educacional (MAIA, 2011). No eixo - Educação Infantil - a referida

disciplina não compõe o rol das optativas, embora o Referencial Curricular Nacional para a

Educação Infantil (RCN) considere que as tecnologias “enriqueçam a quantidade de recursos

de que o professor pode lançar mão” (BRASIL, 1998, p. 112).

1 A depender de sua finalidade e uso, um software pode ser educativo ou educacional. Educativo é aquele desenvolvido para o propósito de ser uma ferramenta no auxílio do aprendizado. Já educacional é o programa que não foi idealizado com o caráter pedagógico, mas pode ser utilizado para esse fim, como uma planilha eletrônica, por exemplo.

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Além da disciplina Tecnologias Digitais em Educação, que tem um caráter mais

geral, englobando conceitos e teorias sobre informática educativa, no caso específico da

Educação Matemática, os futuros pedagogos formados pela UECE têm as disciplinas de

ensino da Matemática2, que recentemente reservaram espaço em seus programas a inserção

das tecnologias digitais como estratégia de ensino. Com isto, entendemos que os espaços para

que os futuros pedagogos vivenciem o uso de tecnologias digitais, ferramentas de

aprendizagem colaborativa em rede, dentre outros recursos disponíveis, inclusive na internet,

ainda são muito restritos.

O objetivo da experiência aqui relatada foi, além da formação docente para o uso

pedagógico de tecnologias digitais na EM, promover o contato de futuros pedagogos com

ferramentas que possibilitam compartilhamento de materiais digitais com potencial educativo.

Tais recursos possibilitam uma maior interação entre os pares no ciberespaço, e cria um

ambiente que favorece a aprendizagem colaborativa. Como sugere Valente (2009, p. 104)

o espaço físico está dando lugar ao desenvolvimento de um outro espaço como o ciberespaço (LEVY, 1998) ou a constituição das redes de aprendizagem – learning network (HARASIM et al., 1995) – onde todos, aprendizes e professor, estão interagindo, cooperando e aprendendo juntos.

No caso da Educação Matemática, Bittar (2010) coloca que a partir do momento

em que professores passam a trabalhar em grupo, de forma coletiva e colaborativa, podem

achar soluções para um mesmo problema. Considerando esses pressupostos, realizamos nossa

experiência com um grupo de estudantes de Pedagogia, durante a disciplina de Matemática II

para a Educação Infantil e Ensino Fundamental. Os dados aqui relatados foram são oriundos

de observações e discussões realizadas durante o decorrer da referida disciplina.

A seguir relataremos como se deu a exploração de conteúdos relacionados ao

ensino e a apreensão de conceitos Matemáticos com uso de recursos digitais. Destacamos a

inovação dessa prática em virtude do uso de ferramentas internet que tornaram essas trocas e

interações ainda mais significativas, sendo chamadas, pela mudança que implementaram na

rede, de web 2.0.

2 Existem duas disciplinas para o ensino de Matemática na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Enquanto Matemática I é destinada aos conteúdos de Aritmética (Números e Operações e Tratamento da Informação), Matemática II foca a Geometria (Espaço e Forma e Grandezas e Medidas).

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A DISCIPLINA DE ENSINO DE MATEMÁTICA COM USO DA WEB 2.0

Na disciplina de Matemática II na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino

Fundamental, foi criada uma unidade chamada de Informática Educativa e a Geometria,

constituída por 12 horas-aula presenciais. Para este momento foi planejada uma apresentação

para abordar a relação entre computadores e educação, o uso de recursos pedagógicos digitais,

como OA e as possibilidades dos SE livres para o ensino de Matemática nos primeiros anos

de escolarização.

As aulas ocorreram no laboratório de informática da Secretaria de Educação a

Distância (SEaD) da UECE para que os estudantes pudessem ter acesso aos recursos digitais a

serem explorados. Convém ressaltar que essa pôde ser considerada uma prática inovadora no

referido curso de Pedagogia em virtude de não apenas propiciar aos estudantes um outro

espaço físico de aula, como sugere Masetto (2010), como também o espaço virtual, uma vez

que foi feito uso de ferramentas da internet para explorar os momentos entre aulas

(MASETTO, 2010) e dinamizar aquela prática.

Para suporte das atividades albergadas no ciberespaço um blogue para a disciplina

foi desenvolvido3. Esta ferramenta permitiu aos alunos acesso aos textos utilizados como

referência bibliográfica, assistir a vídeos que fomentaram as discussões, bem como acessar as

atividades propostas, além de interagir com colegas, comentando suas produções.

Ao fim da unidade, foi sugerida uma atividade final. A proposta foi que os

estudantes, em grupos, elaborassem um plano de aula para ensinar algum conteúdo de

Geometria com auxílio de qualquer um dos recursos digitais explorados. Nessa atividade os

estudantes tiveram de preencher um plano de aula, disponibilizado no blogue, considerando a

duração da atividade, o nível de ensino, conteúdos e disciplinas envolvidas, caso pensassem

em uma atividade interdisciplinar. Ademais, os futuros pedagogos definiram objetivos geral e

específicos da aula, descreveram uma metodologia, além de considerar os recursos utilizados

e propor uma forma de avaliação. Em momento posterior, os estudantes socializaram com

seus colegas suas propostas de atividades em forma de apresentação de slides, também

disponibilizado no blogue.

Para efetivação dessas experiências, foram incorporados ao blogue outras

ferramentas da web 2.0 que possibilitam maior (co)autoria e colaboração em rede. A esta nova

relação na internet e as ferramenta advindas desse processo é que trataremos a seguir.

3 Acessível em: <http://informaticaeducativaematematica.blogspot.com/>

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A web 2.0 e suas relações com a educação

A educação e formação dos indivíduos dentro do contexto onde o ciberespaço

apresenta-se a uma geração em contexto mundial, ávida por experimentar coletivamente

diferentes formas de comunicação, deve considerar as mudanças contemporâneas sobre a

relação com o saber.

O ritmo de mudanças dos saberes e práticas estabelecidas na sociedade tornam

obsoletas muitas das competências adquiridas ao longo da formação acadêmica e profissional

dos sujeitos. Dessa forma, o mundo das diferentes atividades humanas gira cada vez mais

rápido sustentado pelo pivô do processo de “aprender, transmitir saberes e produzir

conhecimentos” (LÉVY, 1999. p. 159). Outra constatação é que

o ciberespaço suporta tecnologias intelectuais que ampliam, exteriorizam e alteram muitas funções cognitivas humanas: a memória (bancos de dados, hipertextos, fichários digitais [numéricos] de todas as ordens), a imaginação (simulações), a percepção (sensores digitais, telepresença, realidades virtuais), os raciocínios (inteligência artificial, modelização de fenômenos complexos). Tais tecnologias intelectuais favorecem novas formas de acesso à informação, como: navegação hipertextual, caça de informações através de motores de procura, knowbots, agentes de software, exploração contextual por mapas dinâmicos de dados, novos estilos de raciocínio e conhecimento, tais como a simulação, uma verdadeira industrialização da experiência de pensamento, que não pertence nem à dedução lógica, nem à indução a partir da experiência.

Uma vez que essas tecnologias intelectuais materializam-se nos artefatos digitais

de alta plasticidade, facilidade de alteração, reprodução e transferência, trabalhar com estes

objetos culturais, estabelece um outro patamar potencial ao desenvolvimento da inteligência

individual e coletiva dos grupos inseridos neste cenário, implicando mudanças profundas à

prática de educação e formação.

Reconhecemos o computador como ferramenta de maior destaque dentro deste

contexto de mudanças sociais. Porém a invasão dessas máquinas nos diferentes ambientes

educacionais e o uso de tecnologias intelectuais, mediadas por elas, não foram ainda

devidamente aprofundadas e estão, estas mesmas tecnologias, sujeitas ao constante ritmo de

mudanças que seus usos implementam na sociedade.

Portanto, julgamos oportuno trabalhar dentro da disciplina com elementos

vinculados ao uso do computador conectado à rede mundial de computadores, pela

possibilidade de experimentar essas características anunciadas por Lévy (1999). É importante

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ressaltar, porém, que estas podem ser apreciadas com maior profundidade através do que vem

sendo chamado de web 2.0.

Utilizaremos este termo, mesmo reconhecendo que “ainda existe um enorme

desacordo sobre o que significa web 2.0, com alguns menosprezando a expressão - como

sendo um termo de marketing sem nenhum sentido e outros aceitando-a - como a nova forma

convencional de conhecimento” (O'REILLY, 2005. p. 1). Considerando isto, nos apoiaremos

no conceito difundido por Anderson (apud Martins, 2008, p. 108) que concebe a web 2.0

como “um conjunto de tecnologias associadas aos termos: blog, wiki, podcast, rss, feeds etc

que facilita uma conexão mais social da web e onde toda a gente pode adicionar e editar

informação”.

Tal opção pelo termo pode ser melhor compreendida quando observamos as

principais características emanadas dos usos da internet desde sua popularização. Até meados

da década de 1990, a internet tinha uma maior ênfase em seu uso a partir da compreensão da

mesma como um enorme repositório mundial de informações e conteúdos que permitiriam

que seus usuários de diversos locais, colaborassem entre si, porém de forma restrita. Essa

estrutura pode ser comparada à estrutura hierarquizada onde os pares podem facilmente ser

identificados enquanto provedor e usuário.

No entanto, a própria dinâmica do uso da rede em relação às atividades locais e

globais passaram a delinear outras posturas das empresas que utilizavam-na para negociar

produtos e serviços, bem como dos novos usuários que, enfim, legitimam usos e demandam

mudanças nos padrões estabelecidos.

O delineamento da web como plataforma, onde serviços e produtos passam a

diferenciar-se cada vez menos, requer outra postura do usuário, estabelecendo outra cultura

tecnológica. A crescente descentralização e redefinição das características dos usuários faz

com que, cada vez mais, todos os usuários da web sejam autores e operadores das

informações, ao invés de simples usuários ou destinatários dos artefatos presentes na rede.

A mudança em questão atinge profundamente as relações entre estes elementos e a

esta mudança axial, é o que O'Reilly batiza por web 2.0, compreendendo a rede como um

lugar sem fronteiras rígidas mas, pelo contrário caracterizada por um centro gravitacional

estabelecido sobre as seguintes características, quais sejam: i) serviços ao invés de software

“empacotado”; ii) arquitetura de participação; iii) escalabilidade de custo eficiente; iv) fonte e

transformação de dados remixáveis; v) software em mais de um dispositivo; e vi) emprego da

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inteligência coletiva (O'REILLY, 2005).

A nova organização estabelecida facilita o acesso e a navegabilidade na web

requerendo menos habilidades técnicas, deslocando o foco para o uso da rede de modo a

estimular a participação dos usuários em outro nível de interação social, seja através de

comentários em sites de grandes jornais, ou pela possibilidade de criar paginas pessoais onde

podemos lançar para usuários do mundo inteiro nossas próprias produções.

Ao discutir a web 2.0, com foco na educação, Marinho (2010, p. 201) ressalta a

possibilidade dos usuários poderem “se tornar, além de (co)autor ou (co)produtor, distribuidor

de conteúdos, compartilhando a sua produção com os demais indivíduos imersos em uma

cibercultura”. Carvalho (2008, p. 8), por seu turno, ao estabelecer uma correspondência entre

atividades na web 2.0 e educação afirma que:

Escrever on line é estimulante para os professores e para os alunos. Além disso, muitos dos alunos passam a ser muito mais empenhados e responsáveis pelas suas publicações (RICHARDSON, 2006). Neste momento, os agentes educativos podem, com toda a facilidade, escrever on line no blogue, gravar um assunto no podcast ou disponibilizar um filme no YouTube. O ambiente de trabalho deixa de estar no computador pessoal do professor e passa a estar online, sempre acessível, a partir de qualquer lugar do planeta com acesso à internet.

De fato, a web 2.0 propicia mudanças na construção do conhecimento, à medida

que estabelece um ambiente de intenso processo de informação, criação e compartilhamento,

como ecossistema onde a aprendizagem se desencadeia. Para tanto, é necessário que o uso das

ferramentas, advindas dessa nova forma de se relacionar com a internet, tenha ênfase em

processos pedagógicos mediados pelo ambiente. Com isto, apresentam-se grandes

possibilidades para o processo de ensino-aprendizagem, sendo professores e alunos partícipes

desse aprendizado em uma teia infinita de relações possíveis. Convém ressaltar que não é o

uso per si das ferramentas web 2.0 que garante melhoria em tais processos. Defendemos a

necessidade da formação dos professores para o uso, crítico e rigoroso, destes recursos com

grande potencial pedagógico.

Os recursos on line existentes e as ferramentas de fácil publicação da web 2.0

constituem uma oportunidade para que professores e alunos possam aprender

colaborativamente, divulgando e compartilhando as suas experiências e saberes. É importante

começar por uma ferramenta, para se apropriar das suas funcionalidades e potencialidades,

integrando-as depois nas suas práticas letivas (CARVALHO, 2008).

A formação dos professores precisa ser substancial quanto aos conceitos e

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conteúdos desenvolvidos ao longo do curso de formação, no entanto, o mesmo não prescinde

ou pode ocorrer de modo apartado da habilitação para o uso destas tecnologias. Acreditamos

que este é o sentido que devemos imprimir à nossa prática educacional, apresentando recursos

e aplicações, potenciais e limites ao uso das tecnologias digitais na educação. É necessário

compreender que “as ideias apresentadas, por exemplo, num blogue são, como salienta

Siemens (2002), o ponto de partida para o diálogo, não o ponto de chegada” (CARVALHO,

2008. p.12).

Apresentaremos a seguir as ferramentas da web 2.0 que utilizamos em nossa

prática, considerando objetivos de aprendizagem a serem alcançados.

O uso do blogue Informática Educativa e Matemática

Os blogues são ferramentas de edição colaborativa de conteúdo por excelência e

uma das que mais se destacam pelo potencial educativo. Os blogues atuais possibilitam a

integração de diversas mídias como texto, imagens, sons, vídeos dentre outras, favorecendo

maior produção de conteúdo e aprendizagem colaborativas. Além disso, essa característica

tornam os blogues educativos verdadeiros ambientes virtuais de aprendizagem. Cruz (2008)

aponta como vantagens para o uso de um blogue na educação a facilidade de criação e

manuseio e a possibilidade da inserção de comentários e de outras mídias.

Em nossa experiência, o blogue Informática Educativa e Matemática foi

hospedado no serviço gratuito Blogger (blogger.com). Neste espaço virtual, dedicado ao

desenvolvimento da unidade da disciplina, todo o material utilizado ainda está

disponibilizado. Textos para referência bibliográfica, vídeos que incitaram as discussões, os

slides apresentados durantes as aulas, acesso à memórias das aulas, bem como um espaço com

comentários sobre suas produções, servindo inclusive, como elemento para avaliação do

processo de ensino-aprendizagem.

Importa observar que todas essas funções foram exploradas com uso de outras

ferramentas da web integradas aos blogue. Como é o caso do GoogleDocs e do SlideShare,

relatados a seguir.

Compartilhando e produzindo documentos com o GoogleDocs

O GoogleDocs (docs.google.com) é um pacote de aplicativos desenvolvido pela

empresa Google. O objetivo é fornecer de modo on line, através de um navegador web,

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diferentes serviços que permitam compartilhamento e edição, inclusive simultânea, de

arquivos criados pelos seus usuários.

Atualmente a referida suíte de aplicativos on line é composta por: processador de

texto, programa de apresentações, planilha eletrônica, gerenciador de formulários e editor de

imagens. Alguns dos recursos mais peculiares são a portabilidade de documentos, que permite

a edição do mesmo documento por mais de um usuário e o recurso de publicação direta em

blogue ou site.

No caso da disponibilização de conteúdo em domínio público assume certa

relevância em virtude da ideia de socializar o conhecimento construído. Utilizando o

GoogleDocs, por exemplo, é possível produzir um artigo coletivo, criar um formulário para

coleta de dados de uma pesquisa e depois tabulá-los numa planilha eletrônica, dentre outras

possibilidades. Nessa experiência, o serviço do GoogleDocs foi utilizado para a criação de um

questionário submetido aos alunos sobre a concepção deles acerca de sua formação para uso

pedagógico de tecnologias digitais.

Contudo, no que compete ao uso da ferramenta à luz dos objetivos de

aprendizagem do curso, diz respeito ao instrumental de classificação dos recursos explorados

na disciplina. A função formulários do GoogleDocs foi utilizada na montagem de um

questionário para avaliação de softwares e objetos de aprendizagem apresentados aos alunos,

denominado Formulário para classificação de recursos digitais para o ensino da Geometria4.

Os alunos foram convidados a preenchê-lo a partir das discussões feitas em sala e das leituras

relacionados ao assunto. Para essa atividade os alunos puderam consultar os Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCN) de Matemática, o Referencial Curricular Nacional para a

Educação Infantil (RCN), utilizados como referências bibliográficas, ambos em versões

digitais, além dos slides da apresentação da aula e outros textos indicados.

Para essa atividade os estudantes tinham que preencher itens do formulário,

considerando:

• Nome do recurso ou da seção para que no documento final pudesse ser

identificado;

• Tipo de recurso, se tratava-se de um OA ou SE;

• Abordagem pedagógica em que se baseia. De acordo com as referências

estudadas, os recursos poderia ser construcionista ou instrucionista;

4 Acessível em: <http://migre.me/4f8n3>

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• Público alvo a que se destina, pois considerando que o espaço de atuação do

pedagogo, os recursos tinham que ser classificados quanto à faixa etária escolar

(Educação Infantil, 1º e 2º ciclos do Ensino Fundamental);

• Bloco de conteúdo de Geometria explorado, segundo as diretrizes curriculares

oficiais. Os estudantes tiveram que considerar se o recurso estaria apto para o

trabalho com Espaço e forma ou Grandezas e medidas;

• Identificar conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais, explorados pelas

diretrizes curriculares oficiais como elementos importantes para o processo de

ensino e aprendizagem; e

• Indicar sugestões aos recursos visando sua melhoria seja no âmbito técnico, como,

principalmente, de ordem pedagógica.

Ao final, os estudantes puderam ter um único documento com uma série de

recursos classificados e que poderá contribuir para suas futuras práticas docente.

Compartilhando textos com o Scribd

O Scribd (pt.scribd.com) funciona como um “clube do livro” onde seus usuários

se relacionam a partir de interesses em comum, no caso, portadores de textos, dos mais

variados. Mensalmente, milhões de usuários acessam seu endereço para desenvolver

atividades como leitura e inclusão de textos, bem como a publicação de documentos e

comentários. Sua filosofia é unir leitores e criadores de conteúdo escrito em suas diversas

características e formatos com o intuito de acompanhar a revolução que se desenvolve no

mundo da publicação e da leitura, apostando da participação e na colaboração como

fundamentos.

O Scribd possibilita acesso aos documentos compartilhados não apenas em seu

site. É possível que os usuários, através da ferramenta de incorporação, acessem os textos de

outras ferramentas da web 2.0 como o facebook, twitter e o blogger. Para nossa disciplina,

essa característica foi determinante para a escolha desta ferramenta. O Scribd foi utilizado

para que os estudantes tivessem acesso aos textos adotados como referências da disciplina,

além de um modelo de plano de aula utilizado na atividade final do curso. Todos esses

documentos foram incorporados ao blogue para que o acesso fosse facilitado.

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Compartilhamento e produção de apresentações através do Slideshare

Na mesma filosofia da ferramenta anterior, o SlideShare constitui uma

comunidade mundial de compartilhamento de apresentações de slides. A ferramenta serve de

ambiente para criação e compartilhamento de apresentações que podem ser incorporados às

outras ferramentas da web 2.0, permitindo uma divulgação de profundo alcance.

O serviço do SlideShare foi utilizado na disciplina para que, além da

disponibilização das apresentações das aulas, os alunos estruturassem a atividade final. A

ideia era fazer com que as produções servissem como uma espécie de portfólio para os alunos,

em que eles pudessem consultar quando desejassem. Assim, foi indicado que o trabalho fosse

apresentado em forma de slides, disponibilizado no referido repositório on line e depois

incorporado ao blogue para que todos tivessem acesso. Importa observar que eram elementos

necessários na apresentação: i) apresentação com imagem do recurso; ii) objetivos da aula;

iii) metodologia adotada; iv) material utilizado e, v) forma de avaliação.

Em seguida, uma vez as propostas de aula incorporadas ao blogue em forma de

apresentação, os alunos tiveram que acessar as atividades dos colegas e tecer comentários.

Com esta prática pretendeu-se, não apenas instrumentalizar os alunos acerca dos recursos

digitais explorados na disciplina e os processos pedagógicos envolvidos, mas também

permitir que houvesse interação e trocas entre eles, dentro da perspectiva da aprendizagem

colaborativa em rede.

Como esta atividade compunha parte da nota final, todos os alunos comentaram,

pelo menos, cinco planos de aulas de colegas. Convém registrar que não observamos a

presença de tímidos-virtuais (BORBA; MALHEIROS; ZULATTO, 2001). Pelo contrário.

Acreditamos, a exemplo de experiências passadas, que a apresentação virtual foi mais

proveitosa do que o encontro presencial. Os estudantes participaram de fato, comentando os

trabalhos dos demais, apresentando sugestões e, devido a necessidade da conclusão da tarefa,

assistiram a apresentação, não necessariamente no horária de aula.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para Lévy (1999) “toda e qualquer reflexão séria sobre o devir dos sistemas de

educação e formação na cibercultura deve apoiar-se numa análise prévia da mutação

contemporânea da relação com o saber”. A experiência relatada busca auxiliar a construção

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desse devir junto aos professores em formação no curso de Pedagogia da UECE.

A experiência proporcionou aos envolvidos na disciplina uma oportunidade de

aprendizagem colaborativa, seja através da socialização dos planos de aula na web,

comentários feitos aos trabalhos dos colegas e ainda pelo esforço de utilizar o computador e a

web 2.0 como recursos didáticos. Ademais todos vivenciaram espaços diferentes de aula.

Além da experiência de aprendizado em um espaço físico diferente, tiveram ainda acesso a

práticas do ciberespaço.

Outro ponto relevante foi a percepção de que a Matemática pode ser trabalhada

em outra perspectiva. Os estudantes assumiram em suas colocações que passaram a conhecer

estratégias de ensino com uso de TD que focavam desde o lúdico, devido as práticas com uso

de jogos educativos de Matemática, a propostas que visavam o desenvolvimento formal de

diferentes modos de pensar.

Sobre as práticas que vivenciaram, os estudantes de Pedagogia sinalizaram como

uma oportunidade bastante positiva. Com isto, esperamos que esta experiência seja

disseminada em outras disciplinas e cursos voltados para a formação de professores.

Esperamos contribuir deste modo para os pedagogos egressos da UECE possuam uma

formação que auxilie na integração destes recursos em futuras práticas docente, para o ensino

da Matemática e em outras áreas do conhecimento.

REFERÊNCIAS

BITTAR, M. A parceria Escola x Universidade na inserção da tecnologia nas aulas de Matemática: um projeto de pesquisa-ação. In: DALBEN, Â.; DINIZ, J.; LEAL, L.; SANTOS, L. (Orgs.). Convergências e tensões no campo da formação e do trabalho docente: Educação Ambiental, Educação em Ciências, Educação em Espaços não-escolares, Educação Matemática. Belo Horizonte: Autêntica, 2010, p. 591-609.

BORBA, M. de C.; MALHEIROS, A. P. dos S.; ZULATTO, R. B. A. Educação a distância online. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.

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CASTRO FILHO, J. A.; FREIRE, R. S.; LEITE, M. A.; MACÊDO, L. N. O desenvolvimento de conceitos matemáticos e científicos com o auxilio de objetos de aprendizagem. In LOPES, C. R.; FERNANDES, M. A. (Orgs.). Informática na educação: elaboração de objetos de

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CRUZ, S. Blogue, YouTube, Flickr e Delicious: software social. In: CARVALHO, A. A. A. (Org.). Manual de ferramentas da Web 2.0 para professores. Lisboa: DGIDC, Ministério da Educação, 2008.

FREIRE, R. S. Formação docente e conceitos algébricos nos anos iniciais do Ensino Fundamental. 2011. Tese (Doutorado em Educação Brasileira) - Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2011.

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