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O USO DE FATORES DE CRESCIMENTO EM PRODUTOS COSMÉTICOS PARA TRATAMENTO DO ENVELHECIMENTO CUTÂNEO. Benta Maria Ferreira da Silva 1 Jocélia Maria Bolda 2 Ana Júlia von Borell du Vernay França 3 Resumo: O processo do envelhecimento pode provocar alterações psicológicas, quanto à autoconfiança e a autoestima, interferindo na aceitação da real condição e das relações interpessoais. A parte visível, que é o envelhecimento cutâneo, é tratada por meio de aplicações tópicas, em que as substâncias agem diretamente sobre a pele. Visando prevenir e combater os sinais do envelhecimento, as indústrias de cosméticos estão sempre em busca de novos ativos e alta tecnologia para atender a demanda de produtos. Consumidores cada vez mais esclarecidos, exigentes e preocupados com a aparência, buscam profissionais qualificados na área que, para tanto, deverão estar preparados quanto às alterações clínicas e histológicas no processo do envelhecimento cutâneo e no conhecimento de novas tecnologias para combatê-las. A metodologia utilizada para o presente trabalho foi descritiva bibliográfica, coletando dados de vários estudiosos, onde consta que é possível produzir peptídeos mimetizadores de fatores de crescimento através da engenharia genética, visando prevenir, retardar, combater e atenuar as marcas do tempo. Este trabalho tem como objetivo descrever as características dos fatores de crescimento na pele e sua aplicação em produtos cosméticos usados no envelhecimento cutâneo. Esses peptídeos são capazes de interagir com receptores na superfície das células da pele, emitindo um sinal que atravessa a membrana celular e efetua um comando que estimula a resposta biológica, promovendo um resultado mais rápido e significativo. Concluiu-se que o uso de fatores de crescimento e peptídeos é uma forte tendência a ser explorada no desenvolvimento de cosméticos. Palavras-chaves: Pele. Envelhecimento Cutâneo. Fatores de Crescimento. Peptídeos. 1 INTRODUÇÃO A pele humana é um órgão importante para a proteção de nosso corpo. Realiza diversas atividades dinâmicas, como crescimento, reparo e manutenção das células 1 Acadêmica do Curso de Cosmetologia e Estética da Universidade do Vale do Itajaí UNIVALI, Balneário Camboriú, Santa Catarina. E-mail: [email protected] 2 Acadêmica do Curso de Cosmetologia e Estética da Universidade do Vale do Itajaí UNIVALI, Balneário Camboriú, Santa Catarina. E-mail: [email protected] 3 Orientadora, Professora do Curso de Cosmetologia e Estética da Universidade do Vale do Itajaí UNIVALI, Balneário Camboriú, Santa Catarina. E-mail: [email protected]

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O USO DE FATORES DE CRESCIMENTO EM PRODUTOS COSMÉTICOS PARA TRATAMENTO DO ENVELHECIMENTO CUTÂNEO.

Benta Maria Ferreira da Silva1 Jocélia Maria Bolda2

Ana Júlia von Borell du Vernay França3

Resumo: O processo do envelhecimento pode provocar alterações psicológicas, quanto à autoconfiança e a autoestima, interferindo na aceitação da real condição e das relações interpessoais. A parte visível, que é o envelhecimento cutâneo, é tratada por meio de aplicações tópicas, em que as substâncias agem diretamente sobre a pele. Visando prevenir e combater os sinais do envelhecimento, as indústrias de cosméticos estão sempre em busca de novos ativos e alta tecnologia para atender a demanda de produtos. Consumidores cada vez mais esclarecidos, exigentes e preocupados com a aparência, buscam profissionais qualificados na área que, para tanto, deverão estar preparados quanto às alterações clínicas e histológicas no processo do envelhecimento cutâneo e no conhecimento de novas tecnologias para combatê-las. A metodologia utilizada para o presente trabalho foi descritiva bibliográfica, coletando dados de vários estudiosos, onde consta que é possível produzir peptídeos mimetizadores de fatores de crescimento através da engenharia genética, visando prevenir, retardar, combater e atenuar as marcas do tempo. Este trabalho tem como objetivo descrever as características dos fatores de crescimento na pele e sua aplicação em produtos cosméticos usados no envelhecimento cutâneo. Esses peptídeos são capazes de interagir com receptores na superfície das células da pele, emitindo um sinal que atravessa a membrana celular e efetua um comando que estimula a resposta biológica, promovendo um resultado mais rápido e significativo. Concluiu-se que o uso de fatores de crescimento e peptídeos é uma forte tendência a ser explorada no desenvolvimento de cosméticos.

Palavras-chaves: Pele. Envelhecimento Cutâneo. Fatores de Crescimento. Peptídeos.

1 INTRODUÇÃO

A pele humana é um órgão importante para a proteção de nosso corpo. Realiza

diversas atividades dinâmicas, como crescimento, reparo e manutenção das células

1 Acadêmica do Curso de Cosmetologia e Estética da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI,

Balneário Camboriú, Santa Catarina. E-mail: [email protected] 2 Acadêmica do Curso de Cosmetologia e Estética da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI,

Balneário Camboriú, Santa Catarina. E-mail: [email protected] 3 Orientadora, Professora do Curso de Cosmetologia e Estética da Universidade do Vale do Itajaí –

UNIVALI, Balneário Camboriú, Santa Catarina. E-mail: [email protected]

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que a compõem. Com o envelhecimento, esses moduladores, conhecidos como fatores

de crescimento, diminuem e o resultado é uma resposta celular bem mais lenta do que

a promovida pela pele jovem.

As pessoas vêm se dedicando cada vez mais aos cuidados da pele, e os motivos para

isto foram se modificando ao longo dos tempos, de acordo com o nível de informação

que passaram a ter sobre o assunto, tornando-as mais exigentes. Estes cuidados com

a pele passaram a ser fator primordial especialmente para a auto-estima, nas relações

sociais e na qualidade de vida do ser humano.

É consenso que a maioria das pessoas sempre manifestou preocupação em ter a pele

com boa aparência e vitalidade, especialmente as mulheres. Esta tendência vem sendo

demonstrada, inclusive, pelo crescimento e desenvolvimento de novos métodos no

setor de produtos cosméticos e serviços estéticos. As pessoas estão dando preferência

a estes, em detrimento às cirurgias plásticas (RACCO, 2011).

O foco do trabalho dos profissionais das áreas cosmética e estética, conforme Harris

(2005) baseia-se na melhora do aspecto da pele e na prevenção de danos que possam

acelerar os processos de envelhecimento da mesma, como as condições climáticas e

ambientais, as situações patológicas e o estresse cotidiano.

Hoje o consumo do setor cosmético passou de item de luxo a uma necessidade. O

Brasil é considerado o terceiro país que consome mais produtos cosméticos no mundo

(ABIHPEC, 2011). Cientes disto, os cientistas da área cosmética passaram a se

empenhar mais no estudo da aplicação de novos princípios ativos e tratamentos de alta

tecnologia, oferecendo uma nova perspectiva para a indústria de cosméticos.

Dentre esta nova tecnologia, destacam-se os peptídeos mimetizadores do fator de

crescimento, visando prevenir, retardar, combater e atenuar as marcas do tempo. Estes

peptídeos são capazes de interagir com receptores na superfície das células da pele,

emitindo um sinal que atravessa a membrana celular e efetua um comando que

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estimula uma resposta biológica, a qual pode ser útil no combate aos sinais do

envelhecimento cutâneo. Quando colocados em contato com a pele madura, os

peptídeos poderão enviar respostas celulares que finalizarão em um processo de

reparo no tecido alterado (RACCO, 2011)

Evidenciando este cenário, o presente trabalho tem como objetivo descrever as

características dos fatores de crescimento na pele e sua aplicação no envelhecimento

cutâneo.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Pele e suas Funções

A pele é um dos maiores órgãos do corpo humano e desempenha várias funções.

Segundo Scotti e Velasco (2003, p. 49), ela é responsável pela “regulação térmica,

retenção de água, proteção aos microorganismos, produção de melanina, estimulação

sobre glândulas, regeneração celular, entre outras”.

Recobrindo todo o nosso corpo, a pele apresenta uma camada denominada epiderme,

responsável pela proteção contra atritos. Ela é composta por diversas células, sendo

que 80% destas são queratinócitos, os quais se renovam continuamente para formar a

camada mais externa, o estrato córneo (SCOTTI; VELASCO, 2003; PEYREFITTE,

1998).

Na epiderme encontram-se também as células de Langerhans e os melanócitos. Harris

(2005, p.24), diz que as células de Langerhans “são processadoras de antígenos,

responsáveis pelo desenvolvimento de reações de sensibilização e alergias cutâneas

por contato”. Já os melanócitos são células responsáveis pela produção de melanina,

que têm como função proteger a pele dos raios UV.

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Na derme encontra-se um tecido conjuntivo denso composto por células, como os

fibroblastos, e por macromoléculas sintetizadas por eles, que constituem a matriz

extracelular (MEC). Segundo estudos de Obagi (2004) e Scotti e Velasco (2003), essas

macromoléculas são formadas basicamente por colágeno, elastina, glicosaminoglicanas

e glicoproteínas de estrutura.

A atividade metabólica da derme é controlada por diversos mediadores extracelulares,

como as citoquinas e os hormônios, promovendo dessa forma a síntese das principais

proteínas da pele e a manutenção da estrutura da matriz extracelular. Sua integridade é

de grande importância para a estrutura do tecido conjuntivo, pois o desequilíbrio da

matriz extracelular causa alterações na resistência, sustentação e flexibilidade da pele

(SCOTTI; VELASCO, 2003).

2.2 O Envelhecimento Cutâneo

Atualmente, considerando o aumento da expectativa de vida das pessoas, a população

idosa tem procurado recursos para melhorar a aparência e reverter os sinais de

envelhecimento. Por este motivo, estima-se que futuramente haverá uma busca ainda

maior por consultas a esteticistas, dermatologistas e cirurgiões plásticos. Estes

profissionais deverão estar atualizados quanto às alterações clínicas e histológicas

próprias do processo de envelhecimento cutâneo (GILCHREST; KRUTMANN, 2007).

O envelhecimento cutâneo é um fenômeno biológico complexo e acontece por dois

fatores: genético (cronoenvelhecimento ou envelhecimento intrínseco) e ambiental

(fotoenvelhecimento, envelhecimento extrínseco ou envelhecimento actínico). De

acordo com Gilchrest e Krutmann (2007, p. 15), é

[...] um processo resultante do desgaste e da senescência das células que, por fim, termina em perda da viabilidade e morte, é afetado por um programa genético e também pelos danos ambientais e endógenos cumulativos que ocorrem ao longo de toda a vida do organismo.

Portanto, a conservação da pele é determinada pelos fatores acima citados, conforme

definem Harris (2005) e Scotti e Velasco (2003):

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intrínsecos: como hereditariedade, raça, hormônios e patologias;

extrínsecos: como a exposição solar (sem dúvida, o fator mais estudado), a

umidade, temperatura, poluição ambiental e tabagismo.

Com o envelhecimento intrínseco, o processo de renovação dos queratinócitos torna-se

desacelerado, sendo um dos principais fatores para o afinamento da pele, causando os

primeiros sinais do envelhecimento cutâneo. A derme torna-se mais fina e a junção

dermoepidérmica se achata. Os fibroblastos são as primeiras células que sofrem com o

processo de envelhecimento intrínseco. Tornam-se menores, diminuindo a atividade

metabólica e sua proliferação, causando a degeneração de colágeno e elastina. Ocorre

também alargamento dos espaços intercelulares, diminuição quanto ao número e

atividade dos melanócitos e das células de Langerhans, tornando o organismo mais

suscetível à radiação ultravioleta. Em consequência, percebe-se flacidez,

aprofundamento das rugas de expressão, ressecamento e mudança na espessura

(OBAGI, 2004; SCOTTI; VELASCO, 2003; PRUNIÉRAS, 1994; HARRIS, 2005).

No envelhecimento extrínseco, Scotti e Velasco (2003) explicam que ocorre a

renovação cada vez mais deficiente dos queratinócitos e fibroblastos, a redução da

síntese de colágeno, em conjunto com a acentuação da atividade de metaloproteinases

(MMP), enzimas que degradam as proteínas da matriz extracelular. Estes fatores

provocam a diminuição da espessura da epiderme e da derme, a redução da

quantidade total de colágeno, o acúmulo anormal das fibras de elastina e o decréscimo

dos níveis de fatores de crescimento. De acordo com Obagi, (2004) e Kede; Andrade

(2009), a derme se apresenta espessa devido à massiva elastose, causada pelo sol;

resultando em uma pele áspera, amarelada, marcada por rugas profundas e manchas

pigmentadas.

Harris (2005) destaca que existem diferenças entre a pele cronoenvelhecida e

fotoenvelhecida. No entanto, a redução da expectativa de vida celular, a resposta

diminuída aos fatores de crescimento, a interrupção na síntese da matriz extracelular e

a elevação da atividade proteolítica são mudanças típicas do cronoenvelhecimento,

mas também são observadas mais acentuadamente no fotoenvelhecimento. Harris

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(2005, p.224) ressalta que “em decorrência dessas alterações, a pele envelhecida

torna-se mais fina, mais inflexível, menos tensa e menos elástica”. Portanto, segundo

Obagi (2004), é na derme que devem agir os procedimentos de rejuvenescimento para

correção de cicatrizes e rugas.

2.3 Fatores de Crescimento

Segundo Hilling (2010, p. 44), os fatores de crescimento humanos (HGF, sigla em

inglês para Human Growth Factors) são “proteínas produzidas pelos ribossomos de

muitos tipos diferentes de células, em todo o organismo, e se ligam a receptores na

superfície das células, inicialmente para ativar a proliferação e, ou, a diferenciação

celular”. Os fatores de crescimento, de acordo com Kede e Andrade (2009, p. 99), são

“proteínas reguladoras, mediadores biológicos naturais que atuam sobre os processos

de reparo e regeneração celular. Eles são encontrados em vários tecidos em fase de

cicatrização e/ou renovação celular”. Para Hilling (2010), os fatores de crescimento

agem como mensageiros químicos entre as células. São responsáveis por ativar e

desativar diversas atividades celulares; promover o aumento da taxa de crescimento

das células no organismo; contribuir com a divisão celular, com o crescimento de novas

células e vasos sanguíneos, com a produção e a distribuição de colágeno e elastina.

Portanto, fatores de crescimento são proteínas (citoquinas) produzidas por células do

tecido e são responsáveis pelo fenômeno conhecido como comunicação celular, a qual

depende do funcionamento dos sistemas nervoso, endócrino e imunitário que, de

acordo com Scotti e Velasco (2003), pode acontecer através da emissão de moléculas

mensageiras (neuromediadoras e hormônios), tendo como finalidade a célula alvo,

podendo estar próxima ou afastada das células emissoras e são as citoquinas que

fazem a comunicação para as células afastadas. Essa comunicação acontece por

reconhecimento específico do mensageiro pela célula receptora, através de seus

receptores celulares.

Scotti e Velasco (2003, p.95) explicam que:

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Os queratinócitos são como antenas da pele e sinalizantes biológicos, enquanto os fibroblastos sintetizam a maioria das estruturas de suporte da pele (colágeno e elastina), e se estas estruturas da pele sofrerem danos, os queratinócitos são os primeiros a apresentar alterações bioquímicas, mas como são os fibroblastos que reparam o tecido danificado, portanto, é necessário o envio de mensageiros entre os queratinócitos e os fibroblastos.

Esses mensageiros são os fatores de crescimento, que possuem papel importante na

comunicação entre as células, participando da divisão e do crescimento das células, de

novos vasos sanguíneos, bem como da produção e distribuição de colágeno e elastina.

(PHARMA SPECIAL, 2011).

O envelhecimento cutâneo sofre mudanças na composição, na estrutura e nos

processos bioquímicos da pele, alterando suas propriedades e funções. Na concepção

de Harris (2005), as células senescentes perdem a capacidade de se replicar devido à

redução de sinalizadores celulares, que seriam os responsáveis pelo processo de

mitose. Há também a diminuição de outros sinalizadores e moléculas efetoras, como o

Fator de Crescimento da Epiderme (Epidermal Growth Factor- EGF), citoquinas

(interleucinas, interferon, etc.), causando alterações funcionais nas células. As células

senescentes também não passam mais pelo processo apoptótico, que significa morte

programada. Em consequência, ocorre um aumento de células cujas funções estão

prejudicadas, comprometendo dessa maneira todo o tecido.

Através de revisão bibliográfica atualizada produzida por Gilchrest e Krutmann (2007),

as pesquisadoras ressaltam que o envelhecimento da pele é afetado pelas alterações

dos fatores de crescimento e dos hormônios que declinam com a idade. Entre eles,

podemos citar os hormônios sexuais, hormônios do crescimento, melatonina, cortisol,

tiroxina e fator I de crescimento que se assemelha à insulina. Diminui também a forma

ativa de vitamina D, que age na homeostasia do cálcio. Consequentemente, os níveis

das citoquinas, dos fibroblastos, do fator de crescimento derivado de plaquetas e fator

de crescimento epidérmico, entre outros, também são diminuídos.

Hilling (2010) em seus estudos verificou que os cientistas Stanley Cohen e Rita Levi-

Montalcini realizaram um trabalho em 1986, sobre o papel do fator de crescimento da

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epiderme e do nervo na biologia celular. Este trabalho serviu como base para as atuais

aplicações clínicas do HGFs no tratamento de condições da pele, na reversão de sinais

de envelhecimento e também na cicatrização de ferimentos na córnea dos olhos e na

pele.

A partir deste trabalho, Hilling (2010) relata que muitas pesquisas foram realizadas

sobre o conhecimento dos HGFs, incluindo o EGF, como também outros importantes

fatores de crescimento humano:

TGF-b (1-3) (fator transformador beta do crescimento): ajuda a estimular o

colágeno, inibir a divisão celular e permitir que as células encontrem

nutrientes;

PDFG (fator de crescimento derivado das plaquetas): contribui para ativar a

cicatrização de ferimentos, promover novo crescimento da pele, reduzir o

tecido cicatricial e a formar vasos sanguíneos mais fortes;

GM-CSF (fator estimulante de colônias de granulócitos e macrófagos): ajuda a

restaurar a resposta de glóbulos sanguíneos à decomposição da estrutura da

pele, combatendo infecções como acne; descoloração da pele como

hiperpigmentação e inflamações como rosácea;

Interleucinas (IL-3, IL-6-8): auxilia a melhorar as defesas naturais das células e

a resposta antiinflamatória;

EGF (fator de crescimento epidérmico): atua nas células epidérmicas,

endoteliais e fibroblastos; estimula a angiogênese, a proliferação celular e a

síntese de colágeno.

2.4 Aplicação Tópica de Fatores de Crescimento

Kede e Andrade (2009, p. 99) relatam que “o estudo do papel dos fatores de

crescimento na reparação de feridas cutâneas levou a pesquisas que demonstraram

resultados cosméticos e clínicos positivos através da aplicação tópica de fatores de

crescimento no tratamento do fotoenvelhecimento”.

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A partir de 1994, foram concedidas patentes de cosméticos com a tecnologia inicial de

HGFs, e os fatores de crescimento foram lançados na indústria de tratamento tópico da

pele. Hilling (2010, p. 44) comenta em seu estudo que “A Food and Drug Administration

(FDA) permite o uso de fatores de crescimento em cosméticos porque esses fatores

são encontrados naturalmente no organismo e agem localmente como substâncias

parácrinas e autócrinas, e não como substâncias endócrinas”.

A comunicação parácrina ocorre entre células vizinhas, sem utilizar a circulação

sanguínea. Já a autócrina acontece quando uma célula secreta um mensageiro químico

para atuar em seus próprios receptores. A endócrina torna possível a ligação de células

distantes através de sinais químicos, sendo os hormônios as moléculas sinalizadoras,

que atingem a célula alvo através da circulação, de acordo com a figura 1.

(UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE, 2011).

Figura 1 - Secreção dos mensageiros químicos

Fonte: Universidade Federal Fluminense(2011)

Estudos científicos publicados pela Pharma Special (2011) mostram que Fitzpatrick

revisou os efeitos da aplicação tópica de fatores de crescimento na cura de ferimentos,

e seus potenciais usos em tratar pele com fotodano. O pesquisador utilizou uma mistura

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de múltiplos fatores de crescimento derivados de fibroblastos humanos e obteve

resultados cosméticos positivos, como o aumento da nova formação de colágeno e da

espessura epidermal e também melhora clínica.

Portanto, fatores de crescimento humano podem ser utilizados como princípio ativo em

produtos cosméticos. São produzidos através da inoculação de genes humanos em

bactérias como a E.coli. O produto secretado pela bactéria é filtrado e separado por

eletroforese, e este já é o fator de crescimento ativado. Para uma melhor absorção,

estas moléculas são nanoencapsuladas, conforme se observa na figura 2. (PHARMA

SPECIAL, 2011).

Figura 2 - Síntese dos Fatores de Crescimento

Fonte: PHARMA SPECIAL (2011)

Vários estudos foram realizados e, apesar dos resultados positivos, existem obstáculos

como os custos dos processos de bioengenharia empregados na obtenção dos HGFs

derivados de fontes humanas (HILLING, 2010).

Assim, a indústria química cosmética vem desenvolvendo, através da engenharia genética, diferentes fatores de crescimento e seus peptídeos

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similares. Estes peptídeos mimetizadores de fatores de crescimento têm como proposta apresentar efeitos similares aos fatores de crescimento endógenos. (KEDE; ANDRADE, 2009, p. 99).

Perricone (2006, p.182-183) expõe os resultados de sua pesquisa a respeito da

aplicação tópica de peptídeos:

À medida que envelhecemos, a renovação celular diminui, nossa derme fica menos espessa, em função da perda de colágeno e elastina, e experimentamos uma redução de vasos sanguíneos importantes, que carregam nutrientes para a membrana das células. Tudo isso pode ser melhorado significativamente com a aplicação tópica de peptídeos. [...] Os resultados da aplicação tópica de peptídeos são os mais expressivos que já vi em meus vinte anos de pesquisa. As fórmulas tópicas à base de neuropeptídeos que desenvolvi contêm múltiplos peptídeos; o meio é uma base especial, que permite que as moléculas penetrem na pele, onde conseguem ativar receptores e assim, auferir o máximo de benefícios.

Para Perricone (2006, p. 181), “talvez a maior revolução no cuidado da pele e no

rejuvenescimento em muitos anos seja o desenvolvimento de produtos tópicos à base

de peptídeos”.

Empresa que produz fatores de crescimento homólogos aos fatores de crescimento

humano, através de engenharia genética, garante que esses ativos quando

suplementados via exógena, as atividades celulares serão reativadas e o processo de

rejuvenescimento será bem mais acelerado (PHARMA SPECIAL, 2011).

Conforme descrito anteriormente, vários são os fatores de crescimento sintetizados pela

nossa pele. Estes apresentam distintas funções no processo de cicatrização e

renovação celular. Após estudos realizados pela Pharma Special (2011), seus

pesquisadores descrevem os resultados obtidos através da utilização de vários tipos de

fatores de crescimento e seus efeitos benéficos na pele. Quando usados para aplicação

em cosméticos, teremos disponíveis os seguintes ativos:

O Fator de Crescimento Epidermal (EGF) reduz e previne linhas de

expressão e rugas pela ativação de novas células, mantém a uniformidade

no tom da pele, devolvendo vitalidade e energia, auxilia na cicatrização e no

tratamento de manchas.

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O Fator de Crescimento Insulínico (IGF) estimula a mitose das células,

melhorando a aparência de rugas e marcas de expressão, aumenta a

produção de colágeno e elastina da pele e reduz manchas avermelhadas.

O Fator de Crescimento Fibroblástico Básico (bFGF) reduz e previne linhas

de expressão e rugas pela ativação de novas células da derme, repara

cicatrizes e escoriações, melhora a elasticidade da pele.

O Fator de Crescimento Fibroblástico Ácido (a FGF) melhora a elasticidade

da pele, induz a síntese de colágeno e elastina.

O Fator de Crescimento de Transformação (TGF-B3) induz a proliferação,

crescimento e a diferenciação celular, cura de ferimentos pela indução de

novas células, reduz rugas pelo estímulo à síntese de colágeno e elastina.

Na pele, os fatores de crescimento e peptídeos são responsáveis por iniciar o processo

de cicatrização (remodelação) substituir o tecido danificado, estimular a produção de

matriz extracelular (fibras e glicosaminoglicanas) e desta forma regenerar o tecido

(PHARMA SPECIAL, 2011).

Após pesquisas nos sites de algumas empresas de produtos cosméticos, lista-se na

sequencia alguns dos produtos disponíveis no mercado, que contem fatores de

crescimento:

Figura 3 - Complexo GF-Volumetry

Fonte: Lancôme Paris (2011)

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Figura 4 - Creme Facial Antissinais CICLOS Priorage 45+ FPS 15

Fonte: RACCO (2011)

Figura 5 - Fator de Crescimento Epidermal (EGF), Fator de Crescimento

Insulínico (IGF), Fator de Crescimento Vascular (VEGF)

Fonte: Bello Cuerpo (2011)

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Figura 6 - Fator de crescimento do fibroblasto (FGF)

Fonte: Alibaba.com(2011)

Figura 7 - Fator de Crescimento.Ação GFP = Grow Factor Peptides

Fonte: Dermáge (2011)

Figura 8 - Fator de Crescimento IGF.

Fonte: NatulePele (2011)

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Figura 9 - Fatores de Crescimento Epidérmico

Fonte: Mesoestetic (2011)

3 METODOLOGIA

O método utilizado para a elaboração do trabalho foi pesquisa tipo descritivo.

Na pesquisa tipo descritiva, que Barros e Lehfeld (2007) salientam que “não há

interferência do pesquisador, isto é, ele descreve o objeto da pesquisa. Procura

descobrir a frequência com que um fenômeno ocorre, sua natureza, características,

causas, relações e conexões com outros fenômenos”.

De acordo com Gil (2002), as características mais significativas das pesquisas

descritivas, “está na utilização de técnicas padronizadas de coletas de dados”,

proporcionando uma nova visão do problema.

Para a realização do presente trabalho foi utilizada a pesquisa descritiva bibliográfica

com material já produzido por vários estudiosos, assimilando os conceitos e explorando

os aspectos já publicados em livros da área, existentes nos acervos da Biblioteca da

UNIVALI de Balneário Camboriú, como também em artigos científicos, sites da Internet,

publicações periódicas e livros de referência informativa.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho, apoiado por levantamento bibliográfico que inclui diversos

pesquisadores renomados da área de Cosmetologia, conclui-se que o uso de fatores de

crescimento para o reparo tecidual e a redução de sinais de envelhecimento é uma

forte tendência a ser explorada no mercado cosmético.

A chegada dos produtos e dos ativos baseados nos fatores de crescimento já marca um

novo momento na história da cosmetologia e dos cosméticos funcionais. A expectativa

é de que nos próximos anos sejam realizados estudos mais aprofundados relativos à

melhor utilização dos fatores de crescimento em produtos cosméticos.

O estudo dos fatores de crescimento em produtos cosméticos foi de grande valia para

nós como futuras Tecnólogas em Cosmetologia e Estética, em virtude do referente

assunto abordar uma nova tecnologia para tratamento do envelhecimento cutâneo.

REFERÊNCIAS

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