O Uso Da Aromaterapia Na Melhora Da Autoestima

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1113 Rev Esc Enferm USP 2011; 45(5):1113-20 www.ee.usp.br/reeusp/ RESUMO Os objevos deste estudo foram vericar se a inalação dos óleos essenciais de rosa e de ylang-ylang alteram a percepção da autoesma e comparar a ecácia dos mes- mos. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Éca em Pesquisa do Hospital da Uni- versidade de São Paulo. Parciparam 43 funcionários dos setores de Higienização e da Central de Materiais e Esterilização du- rante os meses de maio a julho de 2009. Os sujeitos foram randomizados em três grupos: dois que receberem os óleos es- senciais e outro que recebeu placebo (es- sência de rosa). A avaliação da autoesma foi feita através de uma escala já validada no Brasil, sendo aplicada antes do uso dos aromas, depois de 30 dias de uso e ao completar 60 dias. Dentre os resultados, vericou-se que a amostra era constuída por 88,6% de indivíduos com média e alta autoesma e que os óleos essenciais em questão não alteraram de forma signica- va a percepção da autoesma. DESCRITORES Aromaterapia Autoimagem Terapias complementares Enfermagem O uso da aromaterapia na melhora da autoestima ARTIGO ORIGINAL ABSTRACT The objecves of this study were to verify if inhaling rose and ylang-ylang essenal oils has any eect on one’s percepon of self-esteem, and compare their eciency. The study was approved by the University of São Paulo Hospital Research Ethics Com- miee. Parcipants were 43 workers from the Sanitaon Department and from the Materials and Sterilizaon Center, and the study took place from May to July 2009. Subjects were randomly assigned to one of three groups: two that received the essen- al oils and a third that received placebo (rose essence). The self-esteem evaluaon was performed using a scale validated in Brazil, which was applied before using the aromas, as well as 30 and 60 days aer the use. Results showed that the sample consisted of 88.6% individuals with me- dium and high self-esteem, and that the essenal oils did not make any signicant changes to their percepon of self-esteem. DESCRIPTORS Aromatherapy Self-concept Complementary therapies Nursing RESUMEN Estudio que objevó vericar si la inha- lación de aceites esenciales de Rosa y de Ylang-ylang altera la percepción de la au- toesma, y comparar la ecacia de ambos. El proyecto fue aprobado por el Comité de Éca en Invesgación del Hospital Uni- versitario de la Universidad de São Paulo. Parciparon 43 empleados de los sectores de Higienización y Central de Materiales y Esterilización, de mayo a julio de 2009. Los sujetos fueron randomizados en tres gru- pos: dos recibieron los aceites esenciales y el otro placebo (esencia de Rosa). La eva- luación de autoesma se realizó mediante escala ya validada en Brasil, aplicándosela inicialmente, luego de 30 días de uso y al completarse 60 días. Según los resultados, se vericó que la muestra estaba cons- tuida por 88,6% de individuos con media y alta autoesma y que los aceites esenciales en cuesón no alteraron signicavamente la percepción de la autoesma. DESCRIPTORES Aromaterapia Autoimagem Terapias complementarias Enfermería Juliana Rizzo Gnatta 1 , Maria Filomena Mourão Zotelli 2 , Dulce Regina Batista Carmo 3 , Cristiane de Lion Botero Couto Lopes 4 , Noemi Marisa Brunet Rogenski 5 , Maria Júlia Paes da Silva 6 THE USE OF AROMATHERAPY TO IMPROVE SELF-ESTEEM EL USO DE AROMOTERAPIA EN LA MEJORA DE LA AUTOESTIMA 1 Enfermeira pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. Membro do Grupo de Pesquisa Estudo das Práticas Alternativas ou Complementares de Saúde da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil. [email protected] 2 Enfermeira do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil. fi[email protected] 3 Mestre em Enfermagem pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. Enfermeira Chefe do Setor de Higienização Especializada do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil. [email protected] 4 Mestre em Enfermagem pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. Enfermeira Chefe da Central de Material e Esterilização do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil. [email protected] 5 Doutoranda em Enfermagem pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. Diretora da Divisão de Enfermagem Cirúrgica do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo. Doutoranda em Enfermagem pela Escola de Enfermagem da USP. [email protected] 6 Professora Titular do Departamento de Enfermagem Médico Cirúrgica da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. Diretora do Departamento de Enfermagem do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo. Líder do Grupo de Pesquisa Estudo das Práticas Alternativas ou Complementares de Saúde da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil. [email protected] Recebido: 02/05/2010 Aprovado: 20/12/2010 Português / Inglês www.scielo.br/reeusp

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O Uso Da Aromaterapia Na Melhora Da Autoestima

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  • 1113O uso da aromaterapia na melhora da autoestimaGnatta JR, Zotelli MFM, Carmo DRB, Lopes CLBC, Rogenski NMB, Silva MJP

    Rev Esc Enferm USP2011; 45(5):1113-20

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    RESUMOOs objeti vos deste estudo foram verifi car se a inalao dos leos essenciais de rosa e de ylang-ylang alteram a percepo da autoesti ma e comparar a efi ccia dos mes-mos. O projeto foi aprovado pelo Comit de ti ca em Pesquisa do Hospital da Uni-versidade de So Paulo. Parti ciparam 43 funcionrios dos setores de Higienizao e da Central de Materiais e Esterilizao du-rante os meses de maio a julho de 2009. Os sujeitos foram randomizados em trs grupos: dois que receberem os leos es-senciais e outro que recebeu placebo (es-sncia de rosa). A avaliao da autoesti ma foi feita atravs de uma escala j validada no Brasil, sendo aplicada antes do uso dos aromas, depois de 30 dias de uso e ao completar 60 dias. Dentre os resultados, verifi cou-se que a amostra era consti tuda por 88,6% de indivduos com mdia e alta autoesti ma e que os leos essenciais em questo no alteraram de forma signifi ca-ti va a percepo da autoesti ma.

    DESCRITORES AromaterapiaAutoimagemTerapias complementaresEnfermagem

    O uso da aromaterapia na melhora da autoestima

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    ABSTRACTThe objecti ves of this study were to verify if inhaling rose and ylang-ylang essenti al oils has any e ect on ones percepti on of self-esteem, and compare their e ciency. The study was approved by the University of So Paulo Hospital Research Ethics Com-mitt ee. Parti cipants were 43 workers from the Sanitati on Department and from the Materials and Sterilizati on Center, and the study took place from May to July 2009. Subjects were randomly assigned to one of three groups: two that received the essen-ti al oils and a third that received placebo (rose essence). The self-esteem evaluati on was performed using a scale validated in Brazil, which was applied before using the aromas, as well as 30 and 60 days aft er the use. Results showed that the sample consisted of 88.6% individuals with me-dium and high self-esteem, and that the essenti al oils did not make any signifi cant changes to their percepti on of self-esteem.

    DESCRIPTORS AromatherapySelf-conceptComplementary therapiesNursing

    RESUMEN Estudio que objeti v verifi car si la inha-lacin de aceites esenciales de Rosa y de Ylang-ylang altera la percepcin de la au-toesti ma, y comparar la efi cacia de ambos. El proyecto fue aprobado por el Comit de ti ca en Investi gacin del Hospital Uni-versitario de la Universidad de So Paulo. Parti ciparon 43 empleados de los sectores de Higienizacin y Central de Materiales y Esterilizacin, de mayo a julio de 2009. Los sujetos fueron randomizados en tres gru-pos: dos recibieron los aceites esenciales y el otro placebo (esencia de Rosa). La eva-luacin de autoesti ma se realiz mediante escala ya validada en Brasil, aplicndosela inicialmente, luego de 30 das de uso y al completarse 60 das. Segn los resultados, se verifi c que la muestra estaba consti -tuida por 88,6% de individuos con media y alta autoesti ma y que los aceites esenciales en cuesti n no alteraron signifi cati vamente la percepcin de la autoesti ma.

    DESCRIPTORES AromaterapiaAutoimagemTerapias complementariasEnfermera

    Juliana Rizzo Gnatta1, Maria Filomena Mouro Zotelli2, Dulce Regina Batista Carmo3, Cristiane de Lion Botero Couto Lopes4, Noemi Marisa Brunet Rogenski5, Maria Jlia Paes da Silva6

    THE USE OF AROMATHERAPY TO IMPROVE SELF-ESTEEM

    EL USO DE AROMOTERAPIA EN LA MEJORA DE LA AUTOESTIMA

    1 Enfermeira pela Escola de Enfermagem da Universidade de So Paulo. Membro do Grupo de Pesquisa Estudo das Prticas Alternativas ou Complementares de Sade da Escola de Enfermagem da Universidade de So Paulo. So Paulo, SP, Brasil. [email protected] 2 Enfermeira do Hospital Universitrio da Universidade de So Paulo. So Paulo, SP, Brasil. fi [email protected] 3 Mestre em Enfermagem pela Escola de Enfermagem da Universidade de So Paulo. Enfermeira Chefe do Setor de Higienizao Especializada do Hospital Universitrio da Universidade de So Paulo. So Paulo, SP, Brasil. [email protected] 4 Mestre em Enfermagem pela Escola de Enfermagem da Universidade de So Paulo. Enfermeira Chefe da Central de Material e Esterilizao do Hospital Universitrio da Universidade de So Paulo. So Paulo, SP, Brasil. [email protected] 5 Doutoranda em Enfermagem pela Escola de Enfermagem da Universidade de So Paulo. Diretora da Diviso de Enfermagem Cirrgica do Hospital Universitrio da Universidade de So Paulo. Doutoranda em Enfermagem pela Escola de Enfermagem da USP. [email protected] 6 Professora Titular do Departamento de Enfermagem Mdico Cirrgica da Escola de Enfermagem da Universidade de So Paulo. Diretora do Departamento de Enfermagem do Hospital Universitrio da Universidade de So Paulo. Lder do Grupo de Pesquisa Estudo das Prticas Alternativas ou Complementares de Sade da Escola de Enfermagem da Universidade de So Paulo. So Paulo, SP, Brasil. [email protected]

    Recebido: 02/05/2010Aprovado: 20/12/2010

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  • 1114 Rev Esc Enferm USP2011; 45(5):1113-20www.ee.usp.br/reeusp/O uso da aromaterapia na melhora da autoestimaGnatta JR, Zotelli MFM, Carmo DRB, Lopes CLBC, Rogenski NMB, Silva MJP

    INTRODUO

    As Terapias Naturais, Alternati vas ou Complementa-res so defi nidas pela Lei Municipal de So Paulo 13.717, implementada em 2004, como todas as prti cas de pro-moo de sade e preveno de doenas que uti lizem ba-sicamente recursos naturais(1). Essas prti cas podem ser consideradas alternati vas quando se exclui a ati vidade da medicina convencional, ou complementares quando alia-das tcnica mdica alopti ca(2).

    No cenrio mundial atual, assim como a medicina tra-dicional tem sido notada pelos seus avanos tecnolgi-cos, o uso das tcnicas teraputi cas complementares tem ganhado destaque tanto em pases ocidentais desenvol-vidos quanto nos pases pobres e em desenvolvimento(3). O crescimento dessas terapias est relacionado no ape-nas sua efi ccia e baixo custo, que tm sido comprova-dos atravs de inmeros estudos, mas tambm viso holsti ca de assistncia, j descrita em diversas Teorias de Enfermagem(4).

    Essa nova tendncia de cuidados sade se refl ete desde a dcada de 1970, quando a Organizao Mundial de Sade (OMS) de-terminou a Insti tuio das Medicinas Alter-nati vas como um instrumento vlido e signi-fi cante, principalmente para a promoo da sade s populaes mais carentes(5). Poste-riormente, no documento sobre Estratgias da Medicina Tradicional de 2004, a OMS re-forou a necessidade de fortalecer polti cas que propiciem o uso racional das terapias complementares nos sistemas nacionais de ateno sade, alm de preconizar o de-senvolvimento de estudos que verifi quem a efeti vidade e segurana dessas prti cas(6). A Sade Pblica brasileira se adequou a este panorama atravs do Sistema nico de Sade (SUS), por meio da Portaria 971, que incenti va e regulamenta a uti liza-o de algumas terapias complementares nas unidades de atendimento dos estados, municpios e Distrito Federal(7).

    Nesse contexto, o enfermeiro exerce papel fundamen-tal, pois alm de ser um dos principais profi ssionais que atuam na rea da sade, ele quem estabelece vnculos mais profundos com a comunidade, estando apto a escla-recer e orient-la a respeito do uso dessas tcnicas tera-puti cas(8). Alm disso, para a Enfermagem, essas terapias representam tambm a possibilidade de mais uma rea de atuao, visto que atravs da Resoluo 197 de 1997 do COFEN, as Terapias Complementares esto fi xadas co-mo uma Especialidade de competncia do profi ssional de Enfermagem, desde que este conclua algum curso na rea especfi ca, em insti tuio reconhecida de ensino, com a carga horria mnima de 360 horas(9).

    A Aromaterapia est inclusa dentro dessas prti cas e uma terapia baseada no uso de concentrados volteis

    extrado das plantas, com a fi nalidade de modifi car o hu-mor ou comportamento de uma pessoa e melhorar seu bem estar f sico, mental e emocional. Os leos essenciais so condensados obti dos a parti r dos materiais desti lados das plantas, sendo compostos por molculas qumicas de alta complexidade(10). So substncias que podem atuar de diversas maneiras no organismo e podem ser aplicados di-retamente na pele ou inalados. Quando atuam atravs do olfato, as molculas dos leos so absorvidas pelos nervos olfati vos, os quais tm uma ligao direta com o sistema nervoso central e levam o est mulo ao sistema lmbico, sen-do este responsvel pelos senti mentos, memrias, impul-sos e emoes. Quando a atuao via cutnea, as mol-culas so absorvidas e caem na circulao sangunea, sendo transportadas para os tecidos e rgos do corpo. Por fi m, quando ingeridos, os leos essenciais so absorvidos pelos intesti nos e levados aos diversos tecidos corporais(11).

    O enfermeiro lida diretamente com a ateno integral sade, visando cuidar do bem-estar f sico e mental de seus clientes. Assim, a Aromaterapia pode representar a este profi ssional uma nova ferramenta a ser empregada

    no tratamento de desequilbrios tanto f sicos quanto emocionais, como, por exemplo, no cuidado de pessoas com baixa autoesti ma.

    A autoesti ma conceituada como uma tendncia relati vamente estvel de senti r--se bem (positi va) ou senti r-se mal (negati -va) consigo mesmo. Quando ela positi va, expressa o senti mento do indivduo em considerar-se bom o sufi ciente e capaz, sem necessariamente senti r-se superior aos ou-tros. Todavia, quando negati va, implica em autorrejeio, insati sfao e desprezo consigo prprio, levando o indivduo a dese-jar a invisibilidade aos olhos dos demais. O nvel de aceitao ou rejeio em relao a

    si mesmo consti tui um fenmeno de aprendizagem que abrange toda a existncia pessoal(12).

    Como a assistncia de Enfermagem est tambm fun-damentada na percepo da autoimagem do indivduo(13), podemos, atravs da Aromaterapia, possibilitar s pesso-as uma nova chance para que desenvolvam uma visualiza-o positi va de sua autoimagem.

    Segundo estudos, o conceito de autoesti ma defi ni-do como um importante indicador de sade mental(14) e para se avaliar o grau de autoesti ma de cada indivduo essencial o uso de instrumentos confi veis. Dela Cole-ta props uma escala, j validada no Brasil, baseada em afi rmaes coti dianas com fi nalidade de mensurar o nvel de auto-esti ma(15). Embasado nessa escala e uti lizando-se a Aromaterapia com instrumento de transformao que se pretende ati ngir os objeti vos deste estudo.

    Para se desenvolver a pesquisa, foram escolhidos dois setores do Hospital Universitrio da Universidade de So Paulo (HU-USP) ligados higiene. O primeiro deles o

    ...a Aromaterapia pode representar a este profi ssional [enfermeiro] uma nova ferramenta a ser empregada no tratamento de

    desequilbrios tanto fsicos quanto

    emocionais...

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    setor de Higienizao composto, em sua maioria, por funcionrios anti gos e que j tm uma carreira longa no ramo. Pela prpria ati vidade e devido idade dos traba-lhadores, a restrio f sica um fator comum e relevante, capaz de interferir na autoesti ma e at mesmo prejudicar o profi ssional se este no for aceito no seu meio. O outro setor a Central de Materiais e Esterilizao (CME) his-toricamente, concentra trabalhadores que apresentam problemas de relacionamento na assistncia direta ao pa-ciente, desajustes que interferem na relao com a equi-pe de trabalho ou problemas de sade que limitam suas ati vidades motoras(16). Ao longo de dcadas, esses profi s-sionais foram transferidos para as CME dos hospitais por considerar-se que o trabalho nesta unidade era menos complexo, uma vez que o trabalhador no realiza ati vida-des consideradas nobres para a Enfermagem e, portanto, no haveria necessidade de manter profi ssionais mais qualifi cados para realizarem tarefas de reprocessamento dos materiais. Embora em menor escala, essa situao persiste na maioria dos servios de sade. Somado a isto, a localizao f sica, muitas vezes adaptada e inadequada, com recursos materiais e tecnolgicos insufi cientes ou an-ti quados, pode despertar o senti mento de desvalorizao profi ssional. Estes fatores podem contribuir para a baixa autoesti ma do grupo.

    Apesar deste cenrio estar em transformao atual-mente, esse esti gma ainda pode repercuti r na autoesti ma de seus funcionrios. Assim, esses dois setores ligados higiene, os quais so fundamentais para uma assistncia de qualidade, tornam-se interessantes para que se desen-volva o presente estudo, uma vez que uma boa autoes-ti ma dos funcionrios pode resultar em maior sati sfao com o trabalho. Para isso, este estudo props como inter-veno o uso da Aromaterapia atravs da inalao de le-os essenciais de Rosa ou ylang-ylang ou ainda de essncia de Rosa (grupo placebo). De acordo com a literatura sobre Aromaterapia(10-11,17), estes dois leos essenciais so indi-cados para melhorar a autoesti ma, embora cada um deles atue de forma suti lmente diferente no sistema lmbico. Tal bibliografi a(10-11,17) afi rma que tanto o leo de Rosa quanto o de ylang-ylang, pelo fato de pertencerem quimicamente ao grupo funcional dos lcoois terpnicos e sendo com-postos derivados do cido mevalnico, consti tudos por hidrocarbonetos e grupamento hidroxila, possuem uma fragrncia agradvel e animadora. Ambos os leos em estudo apresentam em sua composio o geraniol, o que lhes confere caractersti cas de atuao semelhantes(17), sendo que o leo de ylang-ylang indicado para frustra-es, medos e depresses, enquanto que o leo de Rosa recomendado para traumati smos emocionais, desgostos, depresses e tristezas(18). Portanto, conforme encontrado nos estudos(10-11,17) sobre Aromaterapia, espera-se que o grupo que uti lizar leo essencial (OE) de Rosa tenha uma melhora considervel da autoesti ma, seguido pelo grupo que uti lizar o leo de ylang-ylang e, por fi m, o grupo que fi zer uso do placebo no obtenha melhora alguma.

    Esta pesquisa teve como objeti vos verifi car se o uso do leo essencial de rosa e de ylang-ylang altera a percepo da autoesti ma e comparar a efi ccia dos leos de rosa e de ylang-ylang na percepo da autoesti ma.

    MTODO

    Trata-se de um estudo de campo, experimental, com abordagem quanti tati va, realizado com os funcionrios pertencentes aos setores de Higienizao e CME do Hos-pital Universitrio da Universidade de So Paulo (HU-USP) e que teve seu projeto de pesquisa analisado e aprova-do pelo Comit de ti ca em Pesquisa do mesmo Hospital (Protocolo n 896/09).

    Todos os funcionrios dos setores j citados foram con-vidados a parti cipar, desde que atendessem aos seguintes critrios de incluso: a)ser funcionrio do setor h, pelo menos, seis meses; b)aceitar parti cipar da pesquisa, res-pondendo a escala de autoesti ma, usando o leo essencial ou essncia e assinando o Termo de Consenti mento Livre e Esclarecido (TCLE). Foi considerado como critrio de exclu-so o funcionrio entrar em frias ou licena mdica no pe-rodo do estudo. Todos os interessados foram previamen-te adverti dos de que havia um risco mnimo imediato em parti cipar do estudo para aquelas pessoas que so alrgicas aos aromas de rosa ou ylang-ylang, pois estas poderiam responder com reaes de hipersensibilidade. No caso de alguma intercorrncia decorrente da pesquisa, seria dispo-nibilizado atendimento no prprio HU.

    Os funcionrios que aceitaram parti cipar, aps terem conhecimento do objeti vo e mtodo da pesquisa, assina-ram o TCLE e foram sorteados, aleatoriamente, para com-porem um dos trs grupos: grupo a receber leo essencial de Rosa, grupo a receber leo essencial de ylang-ylang ou grupo controle que recebeu a essncia de rosa. Os gru-pos foram denominados G1, G2 e G3, respecti vamente, pelos pesquisadores a fi m de facilitar o cegamento do es-tudo. Nenhum dos parti cipantes teve conhecimento pr-vio do leo ou essncia que usou.

    Aps a randomizao dos parti cipantes para comporem um dos trs grupos, cada um dos sujeitos respondeu a esca-la de autoesti ma de Dela Coleta(15). Esta escala, j validada pelo autor, composta por 15 afi rmaes do ti po certo--errado, sendo que as mesmas resultam num escore de au-toesti ma do parti cipante aps a aplicao de um gabarito. As classifi caes de autoesti ma equivalem a uma pontuao de 0 a 5 para baixa autoesti ma, de 6 a 10 para mdia e de 11 a 15 para alta autoesti ma. A escala j descrita foi empregada como instrumento para avaliar a autoesti ma dos parti cipan-tes em trs momentos: imediatamente antes do incio do uso dos aromas, aps 30 dias e ao fi nal de 60 dias de uso. Alm do escore de auto-esti ma, foram coletados os seguin-tes dados, por meio de questi onrio: nome (iniciais), idade, sexo, tempo de trabalho no setor e grau de escolaridade.

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    Aps o preenchimento da escala de autoesti ma, cada sujeito parti cipante passou a receber uma gota de leo ou essncia no incio do seu turno de trabalho, de acordo com o grupo em que estava incluso. A gota foi pingada num al-godo situado dentro de um aromati zador pessoal, o qual foi fornecido pelos pesquisadores a cada um dos parti ci-pantes e que foi uti lizado diariamente no pescoo durante o perodo proposto pelo estudo. O aromati zador pessoal consti tudo por um cordo com duas extremidades ligadas a um pequeno receptculo de cermica, no qual se insere um pedao de algodo onde se insti la a gota de leo es-sencial ou essncia a ser inalada. Cada sujeito uti lizou esse aromati zador durante o seu expediente de trabalho por um perodo de 60 dias. Ao fi nal de 30 dias de uso do aromati -zador pessoal juntamente com seu contedo, os parti cipan-tes responderem a escala de Dela Coleta, a qual foi aplicada novamente aps completarem os 60 dias de uso.

    Efetuada a coleta de dados, analisou-se quanti tati va-mente as respostas conti das nos questi onrios. Os dados foram inseridos em planilhas no programa Microsoft Ex-cel e processados pelo SPSS verso 1.80. A parti r desse programa, buscou-se analisar os dados atravs de um mo-delo linear geral Anlise de Varincia (ANOVA) com a fi nalidade de avaliar as diferenas entre as mdias dos su-jeitos antes e depois de cada ms de uti lizao do leo es-sencial. Os pressupostos da Anlise de Varincia so que

    as variveis tenham normalidade e homogeneidade nas varincias(19). Para verifi car a normalidade, foi uti lizado o teste de Kolmogorov-Smirnov e a homogeneidade das va-rincias foi verifi cada com o teste de Levene.

    importante ressaltar ainda que, por questes ti cas, foi oferecido aos membros do grupo controle a oportunida-de de uti lizarem por dois meses, aps o trmino da coleta, um dos leos (rosa ou ylang-ylang) de sua preferncia.

    RESULTADOS

    Foram 59 voluntrios que se dispuseram a parti cipar do estudo, sendo 40 da Higienizao e 19 da CME. Desse to-tal, 43 concluram efeti vamente o estudo. Das 16 desistn-cias, 12 ocorreram antes de completar um ms de estudo e apenas quatro aps 30 dias de uso do aroma. O grupo que uti lizou o leo essencial de ylang-ylang, denominado G2, teve 21 parti cipantes (14 da Higienizao e 7 da CME), sendo que 15 concluram a pesquisa. O grupo G1, o qual fez uso do OE de Rosa, contou com 19 sujeitos (13 da Hi-gienizao e seis da CME) e teve cinco excluses por de-sistncias. Finalmente, o grupo controle que fez uso da essncia de Rosa denominado G3, teve 19 parti cipantes (13 da Higienizao e 6 da CME) e concluiu a pesquisa com 14. A Figura 1 demonstra o fl uxograma dos sujeitos em seus respecti vos grupos.

    Aceitos no Ensaio por critrios deeligibilidade (n=59)

    G1 (interveno) uso de OE deRosa (n=19)

    G2 (interveno) uso de OEde ylang-ylang (n=21)

    G3 (controle) uso de essnciade Rosa (n=19)

    Excludos pordesistncia (n=5)

    Excludos pordesistncia (n=6)

    Excludos pordesistncia (n=5)

    Concluintes doprotocolo (n=14)

    Concluintes doprotocolo (n=15)

    Concluintes doprotocolo (n=14)

    Randomizao

    Anlise Anlise

    Figura 1 - Fluxo dos sujeitos ao longo do estudo OE=leo Essencial

    As mdias de idade foram G1=49.42, G2=47.14 e G3=46.37 anos com desvio padro de 8.95, 8.09 e 8.54 respecti vamente; as mdias do tempo de trabalho dos funcionrios nas unidades foram de G1=13.76, G2=13.40 e G3=13.44 anos com desvio padro de 6.09, 7.56 e 7.42 respecti vamente. Em relao ao sexo, apenas duas pes-soas eram do sexo masculino, indicando que 96,61% dos parti cipantes pertenciam ao sexo feminino.

    Quanto ao grau de escolaridade, houve predomnio dos sujeitos com Ensino Mdio completo (42,4%) seguido pelos que concluram Ensino Fundamental (25,4%) e Superior com-pleto (13,9%). A menor representati vidade foi de indivduos com o Ensino Fundamental incompleto (1,7%); os 16,5% res-tante era composto pelas taxas referentes ao Ensino Mdio ou Superior incompleto. A maioria dos parti cipantes (72,9%) ti nha relacionamento estvel no momento do estudo.

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    Para verifi car se os grupos, aps a randomizao, fi -caram semelhantes no que se refere idade e tempo de trabalho, foram realizadas duas Anlises de Varincia, com os fatores aroma e sexo. A idade (p=0,437) e tem-po de trabalho (p=0,612) apresentaram normalidade e homogeneidade nas varincias (p=0,665 e p=0,367) res-pecti vamente.

    No houve diferena entre os trs grupos para a mdia de idade (p=0,893) e tempo de trabalho (p=0,993). No houve diferena das mdias de tempo de trabalho entre o sexo (p=0,081) e houve para idade (p=0,025). Entretanto, deve-se ressaltar a diferena entre o tamanho dos grupos,

    pois havia apenas dois representantes do sexo masculino contra as 57 mulheres parti cipantes da pesquisa.

    Como a escala de autoesti ma foi aplicada em trs mo-mentos: antes do incio do uso do aroma, aps 30 dias e aps 60 dias de uso, foi realizado o teste de Anlise de Varincia para Medidas Repeti das, como fator os grupos e covariveis a idade e o tempo de trabalho. Como o pressuposto de esfe-ricidade no foi atendido (teste de Mauchlys p=0,000), para o teste de hiptese foi uti lizada a correo de Greenhouse--Geisser. Os resultados esto apresentados na Tabela 1. im-portante ressaltar que a varivel sexo no foi usada como fa-tor devido baixa quanti dade do sexo masculino na amostra.

    Tabela 1 - ANOVA para o efeito do aroma utilizado entre os participantes conforme questionrio de autoestima e as covariveis idade e tempo de trabalho - So Paulo - 2010

    Fonte de variao GL Quadrado Mdio F p-valor

    Mdia dos questionrios 1,508 350,115 0,474 0,570

    Idade 1,508 1459,236 1,977 0,156

    Tempo de trabalho 1,508 1058,485 1,434 0,243

    Grupo 3,015 142,854 0,193 0,901

    Erro 79,906 738,267

    De acordo com a Tabela 1, no houve diferena entre as mdias nas trs repeti es (p=0,570), entre os grupos (p=0,901) e idade (p=0,156) e tempo de trabalho (p=0,243). Como a ANOVA de Medidas Repeti das no apresentou dife-

    renas, buscou-se simplifi car a anlise realizando a diferen-a dos escores entre o primeiro (antes do incio do uso do aroma) e o terceiro momento (aps 60 dias de uso). A Tabe-la 2 apresenta as estat sti cas descriti vas dessas diferenas.

    Tabela 2 - Descritiva da diferena entre os escores de autoestima entre o primeiro e o terceiro momento de aplicao do questionrio conforme os grupos - So Paulo - 2010

    A varivel mdia das diferenas entre o questi onrio aplicado no primeiro e no terceiro momento apresentou distribuio normal (p=0,057) e homogeneidade das vari-ncias (p=0,132). A ANOVA no indicou diferena entre os grupos (p=0,684).

    A anlise estat sti ca descrita at ento foi realizada toman-do como base a incluso de todos os sujeitos parti cipantes da pesquisa. Entretanto, com a aplicao do questi onrio no primeiro momento, verifi cou-se que no se tratava de uma

    pesquisa realizada com indivduos que apresentavam baixa autoesti ma, pois a maior parte dos parti cipantes ti nham m-dia ou alta autoesti ma, conforme consta na Tabela 3.

    Por isso, considerou-se importante reavaliar os resulta-dos parti ndo da classifi cao dos escores obti dos no primei-ro questi onrio de Dela Coleta. Ou seja, os sujeitos foram classifi cados de acordo com seu escore obti do no primeiro momento de aplicao do questi onrio de Dela Coleta e divididos num ranking de baixa, mdia ou alta autoesti ma.

    Grupo Mnimo Mdia Desvio padro Mediana Mximo N

    G1 -5,00 -1,07 1,38 -1,00 0 14

    G2 -6,00 -1,80 3,12 -2,00 7 15

    G3 -9,00 -1,86 3,06 -1,50 2 14

    AutoestimaG1 G2 G3 Total

    N % N % N % N %

    Baixa 1 7,1 2 13,3 2 14,3 5 11,6

    Mdia 2 14,3 6 40,0 3 21,4 11 25,6

    Alta 11 78,6 7 46,7 9 64,3 27 62,8

    Total 14 100 15 100 14 100 43 100

    Tabela 3 - Distribuio do escore de autoestima dos sujeitos participantes no primeiro momento de aplicao dos questionrios, con-forme o ranking de Dela Coleta - So Paulo - 2010

  • 1118 Rev Esc Enferm USP2011; 45(5):1113-20www.ee.usp.br/reeusp/O uso da aromaterapia na melhora da autoestimaGnatta JR, Zotelli MFM, Carmo DRB, Lopes CLBC, Rogenski NMB, Silva MJP

    Primeiramente, foram selecionados apenas os sujei-tos que obti veram escore at 5 (equivalente a baixa au-toesti ma) no primeiro questi onrio aplicado no primeiro momento. Para os sujeitos classifi cados com baixa auto-esti ma (n=5), a diferena entre os questi onrios do pri-meiro e do terceiro momento apresentou distribuio normal (p=0,577), porm no apresentou homogeneida-de das varincias (p=0,000). Aplicou-se o teste de Kruskal--Wallis e no houve diferena signifi cati va entre os grupos (p=0,687) na melhora da autoesti ma.

    Posteriormente, foram avaliados os resultados dos in-divduos que obti veram escores de 6 a 10 no questi onrio aplicado no primeiro momento, abrangendo apenas os sujeitos com mdia autoesti ma. Estes distriburam-se da seguinte maneira: seis pertenciam ao G2, dois ao G1 e trs ao G3. Para os sujeitos classifi cados com mdia autoesti -ma (n=11), a diferena entre os questi onrios do primeiro e do terceiro momento apresentou distribuio normal (p=0,436) e homogeneidade das varincias (p=0,112). A ANOVA indicou que no houve diferena entre as mdias (p=0,714).

    Por fi m, realizou-se uma lti ma anlise que incluiu apenas os sujeitos que obti veram um escore de at 10 pontos no primeiro questi onrio, ou seja, englobando os parti cipantes tanto com baixa quanto com mdia autoes-ti ma. Dessa forma, a amostra consti tui-se de trs indivdu-os do G1, oito do G2 e cinco do G3 e o teste da ANOVA in-dicou que no houve diferena entre os grupos (p=0,714).

    DISCUSSO

    Ao iniciar a anlise deste estudo verifi cou-se um vis em sua elaborao: o fato de no se ter determinado em sua metodologia a seleo apenas dos sujeitos que obti -vessem um escore de baixa autoesti ma (valores de 0 a 5) no instrumento de coleta de dados, no caso, a Escala de Dela Coleta.

    A premissa de que os funcionrios dos setores em questo (CME e Higienizao) teriam baixa autoesti ma provm das referncias da rea de Enfermagem, as quais mencionam que a maioria dos trabalhadores dessas uni-dades tem problemas de relacionamento e de sade, o que possivelmente poderia afetar a autoesti ma desses profi ssionais. Entretanto, dos 43 parti cipantes que con-cluram o estudo, apenas cinco ti nham baixa autoesti ma quando responderam o primeiro questi onrio, o que con-tradiz a literatura(16) uti lizada como base para defi nir qual seria a populao deste ensaio clnico. Isso demonstra que se parti u de uma amostra que foi selecionada de forma incorreta, inclusive deixando em aberto a necessidade de novos estudos sobre o perfi l dos funcionrios desses seto-res, j que o resultado encontrado refl ete uma mudana positi va a qual difere do esti gma que tem sido carregado por estes profi ssionais.

    Apesar da literatura referendada sobre Aromatera-pia(10-11,17) indicar o uso dos leos de escolha desta pesqui-sa para melhora de inmeros fatores emocionais poss-veis de interferirem na autopercepo do bem estar do indivduo, inclusive embasando-se em princpios cient fi -cos, no h uma descrio da quanti dade, tempo de uso e nem da forma de aplicao. Como no foi encontrado nenhum trabalho semelhante, houve a necessidade de se estabelecer quais seriam os procedimentos para a coleta de dados desta pesquisa que, no caso deste estudo, fi cou defi nido como a inalao diria de uma gota de leo es-sencial ou essncia, durante o perodo de 60 dias. Exis-te a possibilidade de se obter outros resultados caso os aromas fossem uti lizados em contato com a pele, pois h publicaes que avaliaram a absoro de leos essenciais e verifi caram presena de linalol no sangue cinco minutos aps uma massagem com leo de lavanda(20).

    Com a realizao desta pesquisa, ainda no se pode afi rmar uma forma ideal de aplicao e sugere-se existi r a possibilidade de ser necessrio o contato cutneo com os leos essenciais para que se obtenha um resultado sa-ti sfatrio. Assim, atravs da execuo da coleta de dados deste estudo, fi ca explcita a necessidade de novos traba-lhos cient fi cos com variaes no delineamento da meto-dologia, principalmente em relao via de aplicao, fre-quncia e tempo de uso dos aromas, visto que a rea de prti cas complementares ainda tem sua pesquisa muito incipiente.

    Entretanto, como existe uma literatura em mbito mundial, j anti ga, sobre o potencial dos leos essenciais e seus respecti vos grupos qumicos, acredita-se que tal fato refora a necessidade de novas pesquisas, pois seria um equvoco determinar a efi ccia ou no dos leos es-senciais baseando-se em apenas um nico estudo, volta-do para uma rea especfi ca, no caso, a autoesti ma. Ou seja, o fato dos resultados deste trabalho no terem com-provado a efi ccia da prti ca atravs da metodologia em-pregada no garante que a Aromaterapia no seja efi caz; por exemplo, se uti lizada atravs de outras vias de aplica-o ou diferentes dosagens e frequncias de uso. poss-vel encontrar referncias em livros sobre o uso dos leos essenciais de rosa e ylang-ylang para melhora da auto--esti ma, porm no existem relatos em peridicos sobre estudos experimetais desenvolvidos. Reafi rma-se que so necessrios mais estudos na rea, j que no foi possvel verifi car atravs dos resultados desta pesquisa a efi ccia dos leos essenciais em questo e nem qual deles seria o mais indicado para melhorar a autoesti ma, visto que os sujeitos dos trs grupos ti veram uma melhora, porm no signifi cati va estat sti camente.

    Os leos essenciais so molculas qumicas de alta com-plexidade e o processamento dessas notas olfati vas em nos-so sistema lmbico no se d necessariamente de uma ma-neira idnti ca em todos os indivduos. Sabe-se que os cheiros nos remetem a lembranas, podendo estas serem boas ou

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    ruins; a leitura desses complexos moleculares poder ser in-fl uenciada por inmeras variveis intrnsecas ao sujeito, co-mo sua cultura e personalidade. Alm disso, de acordo com uma Reviso Sistemti ca(21) que avaliou publicaes sobre Aromaterapia e que realizou uma anlise sobre os efeitos dos aromas na fi siologia, no humor e no comportamento, existem inmeras variantes do mesmo aroma que tm si-do uti lizadas em laboratrios com resultados semelhantes, sugerindo que no a percepo psicolgica da estrutura qumica da molcula que importante. A questo da funo da estrutura, no entanto, foi examinada por um teste com molculas quimicamente idnti cas, que apresentavam pe-quenas diferenas na orientao molecular. Aparentemente, concluiu-se que a quiralidade ocasionada pelos carbonos as-simtricos nesses compostos que vai infl uenciar os resul-tados devido s diferentes orientaes de molculas quirais, ou seja, essas molculas se ligaro de diferentes formas aos receptores do sistema lmbico. Os receptores olfati vos so especialmente orientados para moldar as interaes de ajus-te, por isso que as diferentes formas quirais das molculas produzem odores diferentes um dos outros(21).

    A parti r dessas consideraes, este trabalho foi rea-valiado e inferiu-se que a escolha de um placebo para o grupo controle pode ser uma falha em pesquisas sobre prti cas complementares, pois se qualquer aroma capaz de esti mular os receptores olfati vos, assim como os OE, a essncia tambm vai interagir com esses receptores, sendo capaz, portanto, de produzir algum ti po de resposta no sistema lmbico. Como se sabe, este sistema est re-lacionado diretamente com nosso comportamento, sen-ti mentos e emoes, logo o est mulo da essncia poder despertar algum ti po de memria olfati va, principalmente porque essa variante do aroma de Rosas est muito mais presente no coti diano aromti co da populao do que as prprias molculas do leo essencial puro de Rosas ou de Ylang ylang, j que estes so matrias primas caras e pou-co uti lizadas nas indstrias que aromati zam seus produ-tos, como cosmti cos, gneros de limpeza e aliment cios.

    Uma difi culdade encontrada na elaborao deste estu-do foi que apesar dos principais livros aceitos na rea de Aromaterapia fazerem indicaes de uso dos leos essen-ciais, no h referncias de como chegaram a esses resul-tados e nem citam se realizaram pesquisas na rea.

    Pelo fato da autoesti ma ser um conhecimento com-plexo, envolvendo um conjunto de senti mentos do sujeito acerca de si mesmo que podem ser positi vos ou negati -vos(12), mesmo tendo trabalhado com uma escala j valida-

    da, nota-se que cada uma das frases desse instrumento aborda diferentes aspectos da autoaceitao ou rejeio do indivduo, entretanto no aponta quais os aspectos consti tuintes da autoesti ma que esto defi citrios. Alm disso, esta divergncia entre os resultados da avaliao da autoesti ma, quando aplicada a escala de Dela Coleta e a constatada nos estudos com trabalhadores de CME, po-de ocorrer porque neste instrumento as questes so mais voltadas aos senti mentos frente a convivncia com a fam-lia e a comunidade em que as pessoas esto inseridas, ou seja, uma escala que avalia fatores da autoesti ma fora do contexto profi ssional. Se houvessem questes no instru-mento abordando senti mentos frente aos outros profi ssio-nais da sade, as diferentes nuances que caracterizam uma autoesti ma prejudicada poderiam ser detectadas.

    CONCLUSO

    De acordo com os objeti vos propostos, verifi cou-se que os leos essenciais de rosa e ylang-ylang no alte-raram de forma signifi cati va a percepo da autoesti ma. Portanto, no foi possvel comparar a efeti vidade entre eles, uma vez que tanto os parti cipantes que uti lizaram os leos essenciais quanto os que usaram a essncia de Rosa (placebo) no apresentaram melhora signifi cati va. Entretanto, vale ressaltar que se parti u de uma populao na qual era predominante a mdia e alta autoesti ma e, por isso, avaliou-se tambm os resultados dos indivduos que obti veram o escore de mdia autoesti ma no primeiro questi onrio no primeiro momento, sendo que no obti -vemos diferena entre os grupos. Por fi m, analisou-se os sujeitos que apresentaram baixa ou mdia autoesti ma no primeiro questi onrio, os quais tambm no apresenta-ram diferena entre as mdias.

    Novos trabalhos que alterem metodologia e o instru-mento de coleta de dados, no caso a escala para se avaliar a autoesti ma, devem ser realizados, uma vez que a Aro-materapia representa uma vasta rea a ser pesquisada. Trabalhos como este, que explicitam dosagem, tempo e forma de aplicao, agregam conhecimento s reas de Enfermagem e das Prti cas Complementares. H muitas variveis ainda no conhecidas que abrangem no somen-te a forma de aplicao e uti lizao dos leos essenciais, mas tambm inmeros fatores intrnsecos aos indivduos, como personalidade e cultura. Contudo, ressalta-se que um avano no Brasil a aplicao de uma escala j validada num estudo sobre terapias complementares de sade.

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    Correspondncia: Juliana Rizzo GnattaAl. dos Bambus, 639 - Parque Petrpolis CEP 07600-000 - Mairipor, SP, Brasil