O TÍTULO JORNALÍSTICO NA INTERNET · reproduzidos na internet, em agosto de 2013. ... 2.1 – O...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM JORNALISMO
JEFERSON BERTOLINI
O TÍTULO JORNALÍSTICO NA INTERNET
Florianópolis
2014
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JEFERSON BERTOLINI
O TÍTULO JORNALÍSTICO NA INTERNET
Dissertação submetida ao Programa de Pós-
graduação em Jornalismo da Universidade
Federal de Santa Catarina para a obtenção do
Grau de Mestre em Jornalismo.
Orientadora: Profª. Drª. Raquel Ritter Longhi
Co-orientadora: Profª. Drª. Rita de Cássia
Romeiro Paulino
Florianópolis
2014
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Jeferson Bertolini
O TÍTULO JORNALÍSTICO NA INTERNET
Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de
“Mestre em Jornalismo”, e aprovada em sua forma final pelo Programa
de Pós-Graduação em Jornalismo
Florianópolis, 24 de março de 2014
______________________________________________________
Francisco Jose Castilhos Karam
Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo
Banca examinadora
______________________________________________________
Profª. Rita de Cássia Romeiro Paulino, Dra.
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) (Co-orientadora)
______________________________________________________
Prof. Rogério Christofoletti, Dr.
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
______________________________________________________
Jorge Kanehide Ijuim
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
______________________________________________________
Prof. Demétrio de Azeredo Soster, Dr.
Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc)
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Agradeço ao trabalhador brasileiro,
que sustenta o mundo das coisas
e o mundo das ideias.
A ele, também peço desculpas
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RESUMO
Esta é uma pesquisa sobre os títulos jornalísticos na internet. Buscamos
identificar e descrever os principais tipos de título jornalístico na web, e
apontar características deles a partir de comparação com títulos de
meios impressos. Na parte empírica, inicialmente foram observados 5
mil títulos publicados nos portais UOL, Globo.com, R7 e Terra, e nos
jornais Folha.com, Estadao.com, Oglobo.com e diariocatarinense.com
entre maio e agosto de 2013. Isso permitiu a criação de 10 categorias
que, acreditamos, sirvam de agregadores de características dos títulos na
internet. Depois, em outra amostra, foram comparados 210 títulos da
mesma notícia publicados pela Folha de S.Paulo na versão impressa e
reproduzidos na internet, em agosto de 2013. A comparação nos
permitiu registrar por que os títulos mudam de uma plataforma a outra.
Acreditamos que uma das contribuições deste trabalho seja definir
características gerais dos títulos jornalísticos na internet.
Palavras-chave: Título jornalístico. Internet. Plataformas digitais.
Jornalismo online.
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ABSTRACT
This is a study about the titles of the news published on the Internet. We
tried to identify and describe the main types of newspaper titles found
on the internet, and point features from them compared to titles of
printed media. In the empirical part, we analyzed 5000 titles published
on UOL, Globo.com, R7 and Terra, and newspapers Folha.com,
Estadao.com, Oglobo.com e diariocatarinense.com between may and
august 2013. This enabled the creation of 10 categories that serve as
aggregators features headline news on the internet. Then, in another
sample, we compare the same news titles published by the Folha de S.
Paulo in print media and reproduced on the internet, in august 2013.
The comparison allowed us to record that titles change from one
platform to another. We believe that one of the contributions of this
work was to define general characteristics of journalistic titles on the
internet.
Keywords: Newspaper title. Internet. Digital platforms. Online
Journalism.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Reprodução Gazeta do Rio de Janeiro de 1808 ..................49
Figura 2 – Reprodução Correio Braziliense de 1808 ...........................50
Figura 3 – Reprodução Correio Braziliense de 1817 ............................51
Figura 4 – Reprodução Jornal do Commercio de 1827 .......................52
Figura 5 – Reprodução jornal A Noite de 1914 ....................................53
Figura 6 – Reprodução de O Globo de 1925 ........................................54
Figura 7 – Reprodução New York Journal de 1898 .............................55
Figura 8 – Reprodução New York World de 1890 ...............................56
Figura 9 – Exemplo de título superalongado ......................................122
Figura 10 – Exemplo de título motorizado .........................................123
Figura 11 – Exemplo de título agregador ...........................................125
Figura 12 – Exemplo de título hiperdestacado ...................................127
Figura 13 – Exemplo de título autossuficiente ...................................129
Figura 14 – Exemplo de título antiestético .........................................132
Figura 15 – Exemplo de título introdutório ........................................135
Figura 16 – Exemplo de título em camadas .......................................137
Figura 17 – Exemplo de título mutante ..............................................139
Figura 18 – Exemplo de título dependente .........................................141
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LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Títulos analisados no comparativo internet/impresso .....144
Gráfico 2 – Títulos analisados cat. com e sem prejuízo ao leitor .......145
Gráfico 3 – Por que os títulos mudaram na internet x impresso ........147
Gráfico 4 – Títulos ajustados categoria sutilmente ............................148
Gráfico 5 – Títulos ajustados categoria radicalmente ........................150
Gráfico 6 – Comparativo: tamanho dos títulos web e impresso .........152
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Títulos comparativo internet/impresso, por editoria ........144
Quadro 2 – Títulos cat. com e sem prejuízo ao leitor, por editoria ....146
Quadro 3 – Títulos ajustados categoria sutilmente, por editoria ........149
Quadro 4 – Títulos ajustados categoria radicalmente, por editoria ....151
Quadro 5 – Comparativo: títulos web e impresso, por editoria ..........152
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SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO ............................................................................21
1.1 – Objetivos ......................................................................................28
1.2 – Procedimentos metodológicos ...................................................29
2 – DO JORNALISMO ......................................................................35
2.1 – O título na organização do texto ..................................................35
2.2 – Conversa, a raiz do jornalismo ....................................................37
2.3 – Rótulo, o embrião do título ..........................................................42
2.4 – Os títulos na imprensa brasileira .................................................45
2.5 – Tópico, a chave da compreensão do texto ...................................57
2.6 – Fala, o título sonoro .....................................................................62
2.7 – Etiqueta, combustível para motores de busca ..............................66
3 – DA TECNOLOGIA ......................................................................69
3.1 – A máquina como extensão do homem .........................................69
3.2 – Ciber, o espaço do homem e da máquina ....................................73
3.3 – A interatividade .......................................................................... 79
3.4 – O texto em camadas .............................................................81
3.5 – Mídia múltipla e convergente ......................................................84
3.6 – O fetiche do agora ......................................................................88
3.7 – O leitor e o navegador .................................................................90
4 – DA BELEZA .................................................................................95
4.1 – O pensamento sobre o belo ..........................................................95
4.2 – Questão de gosto e julgamento ..................................................100
4.3 – O darwinismo da beleza .............................................................102
4.4 – Design: para vender produtos e notícias ....................................105
4.5 – O consumo visual ......................................................................111
4.6 – Os dois lados do cérebro ............................................................112
4.7 – O ícone, na guerra e na arte .......................................................113
4.8 – Bonito de navegar ......................................................................114
5 – RESULTADOS DA PESQUISA ...............................................119 5.1 – Os tipos de título jornalístico na internet ...................................119
5.2 – Comparativo entre títulos na internet e no impresso .................142
5.3 – Nove características gerais do título jornalístico na internet .....156
20 CONSIDERAÇÕES FINAIS .....................................................161
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...........................................164
ANEXOS ...........................................................................................173
Anexos A – Lista de títulos usados no comparativo web/impresso ...174
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1 - INTRODUÇÃO
O encontro entre jornais impressos e plataformas digitais,
percebido com mais nitidez no Brasil a partir dos anos 1990, mudou
consideravelmente a forma de se produzir e se consumir notícias. Em
linhas gerais, o jornalismo na era dos computadores pessoais, dos tablets
e dos smartphones tem mais interatividade, hipertextualidade,
multimidialidade e instantaneidade (SALAVERRÍA, 2005). O
fenômeno muda também elementos do jornalismo, como os títulos, o
tema desta pesquisa.
Os títulos do jornalismo na internet conciliam a tradição histórica
de revelar a síntese da notícia (SOUSA, 2005), de prender a vista do
leitor (DOUGLAS, 1966) e do dizer muito em poucas palavras
(BURNETT, 1991) com funções exclusivas do ambiente digital, como
os links (o clique no título leva à notícia) e os sistemas de busca (os
buscadores usam palavras do título para posicionar a notícia nas telas de
resultado; eles representam em média 50% do tráfego de audiência
online1 no país).
Essa conciliação cria o que podemos chamar de um novo título
jornalístico. E é justamente neste ponto, que reúne o elemento
tradicional (título) e o ambiente emergente do jornalismo (internet), que
reside o nosso objeto de pesquisa: o impacto da adoção da tecnologia em elementos clássicos do jornalismo.
Partimos das seguintes perguntas norteadoras: 1) quais são as
principais características do título jornalístico na internet? 2) O que
dizem os principais estudos sobre os títulos jornalísticos em suas
interseções com o jornalismo escrito (onde estão os títulos), com a
tecnologia (recorte da pesquisa e fase atual do jornalismo) e com a
beleza (o título deve percebido como imagem, além de frase, porque
está superexposto em interfaces digitais)? 3) Quais são os principais
tipos de títulos jornalísticos na internet? e 4) Quais as principais
características do título jornalístico na internet frente aos títulos dos
jornais impressos?
O que propomos nesta pesquisa é um olhar sobre esse novo título,
abordando-o no ambiente digital, onde átomos são trocados por bits
1 Dado de mercado e endossado por editores dos principais portais de notícia e
jornais do país em seminário internacional de jornalismo online no Instituto
Internacional de Ciências Sociais, em São Paulo, em 2011.
22 (NEGROPONTE, 2005) e onde o leitor navega por dados
informacionais híbridos e labirínticos (SANTAELLA, 2004). Assim,
nosso objetivo geral é abordar os títulos jornalísticos na internet, a fim
de registrar algumas das suas principais características nessa
plataforma tecnológica comunicacional (os três objetivos específicos
estão explicados no tópico Objetivos).
Esta é uma pesquisa exploratória2, que usa uma combinação de
técnicas para chegar aos objetivos. De início, fizemos (a) um
levantamento bibliográfico sobre o título e suas interseções com o
jornalismo, a tecnologia e a beleza. Depois, recorremos (b) à observação
direta, não participante, através da qual analisamos 5 mil títulos de
notícias publicadas nos principais portais e jornais do país para elaborar
uma lista com 10 categorias de títulos jornalísticos na internet. Em
seguida fizemos a (c) descrição desses tipos de títulos identificados. E,
por fim, produzimos um (d) estudo comparativo de títulos publicados
pela Folha de S.Paulo na web e reproduzidos na edição impressa para
apontar as diferenças que tiveram nas duas plataformas (detalhes no
tópico Metodologia).
Decidimos por este tema por dois motivos: 1) pela importância
histórica do título jornalístico, de resumir a notícia (MELO, 1985), de
conciliar função técnica e estética (AMARAL, 1978) e de organizar a
macroestrutura do texto a um sistema mais simples de entendimento
(COMASSETTO, 2003); e 2) porque, na internet, o título vende a
notícia, literalmente, como mostra o modelo de cobrança criado pelo
The New York Times em 2011 e adotado por jornais do mundo inteiro.
Nele, a notícia só é vendida se houver clique no título3.
O chamado paywall era, no momento desta pesquisa, a principal
aposta de complemento de receita de alguns dos maiores jornais do país
e do mundo. No Brasil, Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo e O
Globo, para citar três exemplos, queixavam-se de perda de leitores em
seus formatos impressos e registravam, segundo o IVC, queda de
tiragem4.
2 Como observa Gil (2007), a pesquisa exploratória busca proporcionar maior
familiaridade com o problema. 3 Os principais jornais do país adotaram o modelo em 2012. Na Folha de
S.Paulo, o maior deles, o leitor sem assinatura digital podia em 2013 ler 10
notícias no site por mês antes de esbarrar no pay wall. 4 Os jornais brasileiros registraram 8% de queda de circulação em 2013 frente a
2012, segundo o IVC.
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Os 14 anos de experiência profissional como repórter e editor em
jornais e sites de notícias (até o fim deste trabalho) também foi
determinante à escolha do tema. Ela nos permitiu perceber o quanto um
título bem construído contribui à notícia, seja nos meios impressos ou
nos digitais, e o quanto melhora sua apresentação visual. Também
mostrou que titular é dificuldade comum entre repórteres, que títulos
bem feitos brotam de leads bem feitos, que títulos diretos e em voz ativa
atraem mais leitura, que muitas vezes uma página começa a ser
desenhada pelo título e que há pautas que nascem após o título ser
pensado.
Normalmente feito após a redação da matéria, o
título é, muitas vezes, procurado antes, na mente
do redator, com o objetivo de fazer saltar-lhe o
que de mais importante, em termos de jornal, deve
ser explorado na redação do assunto em pauta. Se
o redator não consegue imaginar um bom título
antes de escrever o material que tem em mãos, é
porque não compreendeu bem o valor do que
possui (AMARAL, 1978, p. 86).
Burnett (1991, p. 43) considera o título o elemento mais
importante da notícia porque “sem um título atraente o leitor não chega
sequer ao lead”. Na internet, isso é especialmente verdadeiro. Primeiro
porque o leitor só chega ao lead e, consequentemente, à notícia, se clicar
no título --- daí a importância de uma chamada ainda mais atraente.
Segundo porque é impossível, em homepages de site e em telas miúdas
de celulares inteligentes, ter uma ideia geral do tema noticiado --- no
digital perde-se contato com o conjunto de título, texto, linha de apoio e
foto que, nos meios impressos, dá uma noção do assunto.
É preciso também atentar à abundância de títulos no ambiente
digital. Especialmente por causa da atualização contínua
(SCHWINGEL, 2012) e da produção da notícia em ciclos 24/7
(BARBOSA, 2009) nota-se uma espécie de overdose informacional, que
cria um tipo de disputa de conteúdos e até pode causar, como brincara
certa vez a ombudsman da Folha de S.Paulo, Suzana Singer, uma “indigestão jornalística”.
Este trabalho percebe o título sob dois ângulos: 1) como frase,
que serve para anunciar e vender a notícia; e 2) como imagem, já que
em telas móveis, geralmente pequenas, e pela disseminação dos
24 aplicativos para tablets e celulares, que costumam se basear na lista de
notícias dos sites, o título torna-se o elemento mais visível da página.
No nosso entendimento, esses dois aspectos impactam na
audiência dos portais. E a briga pela audiência, por sua vez, muda a
construção dos títulos: os jornais devem fazê-los curtos e diretos para
serem mais impactantes, ou devem enchê-los de palavras para apostar na
busca mecânica? Nesse caso, dizer muito no título não espanta a leitura?
Será que o leitor não ficará satisfeito com o resumo da notícia em um
título rechonchudo e irá embora sem clicar? E a pressa? Será que, na
ânsia de publicar antes, os jornais estão publicando melhor? Ou têm
levado ao ar títulos confusos e sem foco?
Na internet, por causa de dilemas como esses, nos parece que
ainda não há um modelo apropriado de título jornalístico --- e não é
nossa intenção sugerir um neste trabalho. Nos meios impressos parece
haver consenso acerca do que fora proposto por Sousa (2005):
Um bom título acrescenta valor a uma peça
jornalística. Na tradição jornalística dominante, os
títulos devem ser informativos, sintetizando o
núcleo duro da informação numa frase forte, dura
e sedutora. Devem ter garra. Devem ser claros,
concisos, precisos, atuais e verídicos (SOUSA,
2005, p. 146).
Encontrar conceitos e estudos específicos sobre títulos
jornalísticos foi uma das maiores dificuldades deste trabalho. Até onde
pudemos notar, o assunto costuma estar apoiado em temas maiores,
como notícia, e muitas vezes ocupa espaço resumido nas publicações.
Esta situação nos obrigou a fazer um pequeno garimpo histórico para
tentar encontrar as primeiras publicações jornalísticas a usar títulos,
apesar de esse não ser nosso objetivo central. Em arquivos digitalizados
disponíveis na internet foi possível folhear exemplares de jornais
pioneiros no mundo, como o Aviso de Augsburg, publicado em 1609, na
Alemanha, e no Brasil, como a Gazeta do Rio de Janeiro e o Correio
Braziliense, de 1808, para tratar minimamente da questão.
Nesta pesquisa veremos que o uso do título não nasceu com os jornais. Foi adotado por eles ao longo da evolução da imprensa no país e
no mundo. Poderíamos dizer, então, que os títulos usados na imprensa
foram inspirados nos títulos dos livros, escritos a mão na China desde o
ano de 868. Não seria errado. Mas, para abraçar melhor a questão, é
preciso ir muito mais longe no tempo, pois a ideia de resumo contida
25 nos títulos, como poderemos perceber ao longo do estudo, tem relação
direta com duas características da humanidade: 1) a oralidade, de onde
vem a tradição humana de contar histórias e onde está a raiz do
jornalismo, e 2) a habilidade cognitiva pela qual simplificamos o todo
em tópicos menores para compreendê-lo melhor.
Os usuários da língua e, portanto, também os
leitores de jornais, têm a importante capacidade de
dizer sobre o que versava um texto ou uma
conversação. São capazes, embora com variação
subjetiva e social, de dizer qual é o tópico de um
discurso. Assim, podem formular o tema ou os
temas de um texto noticioso, em declaração como
“eu li no jornal que o presidente não negociará
com os russos”. Em outras palavras, os usuários
da língua são capazes de resumir unidades
complexas de informação por meio de uma ou
algumas sentenças, que exprimem o ponto
principal, o tema ou o tópico da informação. Em
termos intuitivos, tais temas ou tópicos organizam
o que é mais importante em um texto. Eles
definem, com efeito, o resultado do que é dito ou
escrito (VAN DIJK, 1992: 129).
Este trabalho trata exclusivamente de títulos jornalísticos
publicados em sites e portais de notícia, canais mais expostos à
expansão da internet e básicos para as plataformas digitais. Contudo,
acreditamos que o princípio de resumo dos títulos publicados nesses
canais tenha relação com os “títulos sonoros” do rádio e da televisão,
que, para chamar a atenção do público, apresentam tópicos enunciativos
antes da exposição da notícia.
Levamos em conta títulos das editorias de Cidades, Política,
Economia, Polícia, Esportes e Cultura. Estão incluídos títulos de
homepage, de listas de plantão, das páginas internas de notícias (aquelas
aonde se chega depois do clique no título) e de meios relacionados,
como as timelines de redes sociais.
Como já mencionado, esta pesquisa percebe o título em três temas macros: jornalismo, tecnologia e beleza. Entendemos o título
como o elemento que chama a atenção do leitor para a notícia de forma clara, objetiva, apelativa e resumida (AMARAL, 1978); o jornalismo
como a atividade cuja função é informar as pessoas para que elas
sejam livres e se autogovernem (KOVACH & ROSENSTIEL, 2003); a
26 tecnologia como o movimento que cria um ambiente humano novo
(MCLUHAN, 1964); e a beleza como aquilo que, sem depender de conceitos, agrada universalmente (KANT).
Dividimos o trabalho em cinco capítulos.
O primeiro busca fazer uma introdução ao tema pesquisado,
descrevendo seu contexto, o objeto de estudo, as perguntas norteadoras,
os porquês do tema, os autores mais consultados, os conceitos usados no
trabalho e avisa que, no referencial teórico, procuramos pontuar eventos
em vez de discuti-los e priorizamos uma abordagem plana ante uma
profunda. Nele apresentamos os objetivos geral e específicos do estudo
e detalhamos os procedimentos metodológicos.
O segundo busca contextualizar o tema central desta pesquisa, os
títulos, na comunicação social e no jornalismo. Trata-se de um resumo
dos principais eventos entre o surgimento da escrita até os dias atuais.
Foram abordados eventos como a escrita, o alfabeto, a organização do
texto e do pensamento humano a partir dessas conquistas e as primeiras
formas de jornalismo, com as rodas de conversa nos mercados gregos.
Um apanhado teórico sobre títulos jornalísticos fecha a etapa. Os
principais autores foram Laignier (2009), Walker (1996), Kovach &
Rosenstiel (2003), Sousa (2005), Melo (1985), Amaral (1978),
Comassetto (2003) e Van Dijk (1992).
O terceiro foca a face tecnológica, e busca traçar uma linha entre
o início da relação humana com equipamentos tecnológicos, como o
surgimento da roda, até as telas móveis sensíveis ao toque, último
dispositivo disponível no mercado no momento deste trabalho.
Seguimos este caminho por considerar que a tecnologia é algo que
acompanha o homem desde os primórdios, e não um dispositivo que
nasceu na era dos computadores pessoais. O tratado começa com a
teoria de Mcluhan (1964) sobre a máquina como extensão do corpo
humano, depois pontua eventos como a computação, computadores
pessoais, e retoma o tema jornalismo, agora em seu aspecto tecnológico,
tratando de tópicos como multimidialidade e convergência. Os
principais autores foram Mcluhan (1964), Clézio (2007), Santaella
(2004), Lévy (2003), Salaverría (2005), Scolari (2008), Lemus (2003) e
Schwingel (2012).
O quarto aborda beleza e design, porque também nos interessa perceber o aspecto visual dos títulos. Ele reúne conceitos desde o início
das discussões sobre o belo, na filosofia grega, até o mundo atual, da
imagem em movimento, do design em função dos produtos e das
interfaces navegacionais. Também menciona estudos de Darwin, para
27 quem as espécies se desenvolvem com base naquilo que é bonito (a
fêmea é atraída pelo macho mais belo, e vice-versa). Os principais
autores foram Santaella (1994), Eco (1996), Etcoff (1999), Bürdek
(2010), Fuentes (2006) e Scolari (2004).
O quinto capítulo é exclusivamente empírico e está dividido em
três partes. Na primeira, descrevemos os principais tipos de títulos
jornalísticos na internet, a partir da observação feita em 2013 em quatro
portais de notícias e quatro jornais. São 10 categorias. Todas têm um
texto explicativo, exemplos escritos e imagem. Na segunda, destacamos
características do título jornalístico na internet a partir de comparação
com títulos de meios impressos. Foram estudados títulos da Folha de
S.Paulo. A análise mostra características como tamanho, por que os
títulos mudaram ao serem transpostos do impresso para a internet e as
editorias que mais mudam títulos. A terceira concentra considerações
do autor desta pesquisa sobre os resultados obtidos com o estudo
bibliográfico, a observação dos títulos nos portais e com a comparação
dos títulos publicados na internet e no impresso.
Para encerrar, as considerações finais, em que avaliamos o
desenrolar do trabalho.
28
1.1 - OBJETIVOS
Esta pesquisa tem um objetivo geral e três específicos, que
destacamos abaixo:
Objetivo geral:
Abordar os títulos jornalísticos na internet, a fim de registrar
algumas das suas principais características nessa plataforma tecnológica
comunicacional.
Objetivos específicos:
1) Reunir conteúdo bibliográfico acerca dos títulos, com foco em
suas interseções com o jornalismo escrito (onde estão os títulos), com a
tecnologia (recorte da pesquisa e fase atual do jornalismo) e com a
beleza (o título deve percebido como imagem, além de frase, porque
está superexposto em interfaces digitais).
2) Identificar alguns dos principais tipos de título jornalístico na
internet, e descrevê-los em categorias.
3) Comparar títulos jornalísticos, da mesma notícia, publicados
simultaneamente na internet e em jornal impresso (a mesma notícia, em
plataformas diferentes), e registrar em categorias as características que
apresentam na web frente ao impresso.
29
1.2 - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Pelo perfil desta pesquisa, elegemos uma combinação de
procedimentos para atingir nosso objetivo geral e específicos.
De início, para cumprir o objetivo específico 1, de reunir
conteúdo bibliográfico acerca dos títulos, com foco em suas interseções
com o jornalismo escrito (onde estão os títulos), com a tecnologia (recorte da pesquisa e fase atual do jornalismo) e com a beleza (o título
deve percebido como imagem, além de frase, porque está superexposto
em interfaces digitais), fizemos (a) um levantamento bibliográfico.
Como pontua Fonseca (2002, p. 32), o levantamento de referências
teóricas é básico para qualquer trabalho científico porque “permite ao
pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto”.
Depois, para cumprir o objetivo específico 2, de identificar alguns dos principais tipos de título jornalístico na internet, e criar
categorias para descrevê-los, recorremos (b) à observação direta, não
participante, através da qual analisamos 5 mil títulos de notícias
publicadas nos principais portais e jornais do país entre maio e agosto de
2013 --- período definido por conveniência pessoal. A observação,
explica Abramo (1979), permite que o pesquisador assista ao fenômeno
estudado e registre suas observações onde mais lhe convier, seja em um
bloco de papel ou em uma máquina de filmar. No caso da internet,
complementa Adghirni (2007, p. 237), “observar é um desafio ao
pesquisador por causa do fluxo contínuo da informação e de sua
temporalidade” --- ficamos atentos a esse aspecto durante esta etapa.
A partir da observação, listamos 10 categorias com os tipos de
títulos jornalísticos que consideramos mais comuns na internet. O passo
seguinte foi a (c) descrição deles. Segundo Immacolata (2010, p.149), “a
descrição faz a ponte entre a fase de observação dos dados e a fase da
interpretação” deles.
Para o objetivo específico 3, de comparar títulos jornalísticos, da
mesma notícia, publicados simultaneamente na internet e em jornal
impresso (a mesma notícia, em plataformas diferentes), e registrar em categorias as características que apresentam na web frente ao
impresso, fizemos (d) um estudo comparativo: comparamos 210 títulos que a Folha de S.Paulo publicou na edição impressa e repetiu no site, ou
vice-versa, para apontarmos características do título web ante o do
jornal impresso. Este tipo de estudo, destaca Abramo (1979), permite
identificar o que há de comum e o que há de específico no fato
30 pesquisado. Quanto à amostra, Deslauriers (1991, p. 58) observa que “o
objetivo dela é produzir informações aprofundadas e ilustrativas: seja
ela pequena ou grande, o que importa é que a amostra seja capaz de
produzir novas informações”. A Folha foi escolhida porque é o jornal
mais lido do país nas versões online e impressa, segundo dados do
IBOPE e do Instituto Verificador de Circulação (IVC).
Na análise do material empírico usamos principalmente a
abordagem qualitativa. Nela, destaca Richardson (1989), citado por
Dalfovo (2008), não se emprega um instrumental estatístico como base
para analisar um problema, e os resultados do estudo passam por
interpretações do pesquisador.
De acordo com Richardson, os dados qualitativos podem incluir
informações não expressas em palavras, como pinturas, fotografias e
desenhos --- no nosso caso, imagens de títulos jornalísticos.
Na pesquisa qualitativa, acrescenta Dalfovo (2008), prioriza-se a
interpretação ante à quantificação, admite-se que o pesquisador exerce
influência sobre a situação ou evento pesquisado e há flexibilidade no
processo de conduzir a pesquisa.
Por outro lado, cabe ressaltar que nos aproximamos da
abordagem quantitativa, uma vez que recorremos a instrumentos
estatísticos para mensurar os tipos de títulos na internet (10 categorias) e
registrar em categorias as características que os títulos na internet
apresentam frente ao impresso.
Como observa Lopes (2010, p. 154), é cada vez maior a
dificuldade em fixar limite preciso entre pesquisas qualitativas e
quantitativas. “Apesar de cada uma ter sua lógica implícita, não se
pode esquecer que as operações quantitativas se apoiam em dados
qualitativos, originalmente coletados e logo transformados”.
Apontamos, assim, que este estudo tem perfil quali-quantitativo.
Trata-se de um modelo alternativo de pesquisa, ainda não assentado na
academia, que tenta conciliar ambas as metodologias (quali e quanti).
Observa Demo (1995, p. 231): “Embora metodologias alternativas
facilmente se unilateralizem na qualidade política, destruindo-a em
conseqüência, é importante lembrar que uma não é maior, nem melhor
que a outra. Ambas são da mesma importância metodológica”.
Os passos da pesquisa
Estudo bibliográfico: primeira etapa do trabalho, o estudo foi
feito com base em autores clássicos e emergentes no ambiente
31 acadêmico. Com ele, cumprimos o objetivo específico 1, de reunir
conteúdo bibliográfico acerca dos títulos, com foco em suas interseções com o jornalismo escrito (onde estão os títulos), com a tecnologia
(recorte da pesquisa e fase atual do jornalismo) e com a beleza (o título
deve percebido como imagem, além de frase, porque está superexposto em interfaces digitais). Focamos o título jornalístico em sua interseção
com os três temas macros deste estudo: o jornalismo, a tecnologia e a
beleza. No primeiro tema, buscamos autores que tratem especificamente
dos títulos jornalísticos e que o discutam em relação à notícia, ao lead e
ao design de página. Para ampliar o debate, avançamos por áreas afins,
como cognição e leitura. No segundo tema, priorizamos o registro de
alguns dos principais eventos tecnológicos relacionados ao jornalismo
na internet --- acreditamos que, pela proposta da pesquisa, o estilo “linha
do tempo” seria mais proveitoso que o debate de autores, em uma
espécie de tensão conceitual. No terceiro tema, nos esforçamos para
identificar autores e obras relevantes sobre beleza e design, pois
acreditamos que o título jornalístico, além de frase bem construída, deve
ser um elemento visivelmente atraente nas interfaces navegacionais.
Observação: usada para o cumprimento do objetivo específico 2,
de identificar tipos de títulos jornalísticos na internet, a observação foi a
parte mais exaustiva da pesquisa. Foram observados 5 mil títulos de
notícias nos portais UOL, Globo.com (incluindo G1 e
Globoesporte.com), R7 e Terra, e nos jornais Folha de S.Paulo, O
Estado de S.Paulo, O Globo e Diário Catarinense --- o total de títulos
observados não foi previamente definido; chegou-se a esse número após
observação de homepages e listas de notícias dos portais e sites de
jornais. A observação foi feita nos meses de maio, junho, julho e agosto
de 2013, com rechecagem em novembro e dezembro do mesmo ano.
Elegemos aleatoriamente uma semana de cada mês. Os meses foram
definidos por conveniência pessoal. Os portais foram escolhidos pela
audiência --- em 2013 eram os mais acessados do país, segundo o
IBOPE/Nielsen5. O mesmo critério foi adotado para a escolha da
Folha6, Estadão e O Globo. O DC foi selecionado para a pesquisa
5 A pesquisa indica que, em março de 2013, o UOL atingia 35,8 milhões de
visitas/mês, seguido de Globo.com, com 30,5 milhões; R7, com 27,4 milhões; e
Terra, com 26,9 milhões. 6 A Folha liderava a audiência online entre os jornais brasileiros, com média de
20 milhões de acessos/mês.
32 contemplar um veículo de médio porte
7, com métodos de trabalho às
vezes menos sofisticados.
Foram avaliados todos os títulos encontrados nesses veículos,
incluindo títulos de homepage (costumam ser ajustados pelo editor de
capa para se encaixarem no formato da primeira página do site ou nas
capas das editorias), títulos das páginas internas de notícias (aquelas
aonde se chega depois do clique no título; elas costumam trazer o título
escrito pelo repórter ou pelo editor/revisor), títulos das listas de últimas
notícias ou plantão (repetem o título das páginas internas de notícias,
sem as linhas de apoio, e também aparecem nos aplicativos) e títulos de
meios correlatos, como timelines de Twitter e Facebook (geralmente
formulados pelo editor de mídia social ou editores/revisores).
Tanto nos portais quanto nos jornais foram ignorados títulos de
blogs, de sites parceiros e de seções sem cunho jornalístico-noticioso ou
muito segmentadas, como “sonora” do Terra; “shopping” e “serviços”
do R7; “carros” e “jogos” do UOL; “opinião” e “tec” da Folha; “divirta-
se” e “link” do Estadão; “mais+” de O Globo; e “multimídia” e “diário
da redação” do Diário Catarinense. Foram avaliadas, em linhas gerais,
notícias de Cidades, Polícia, Economia, Política, Esportes e Cultura.
A observação foi feita em horários alternados, procurando um
equilíbrio de tempo entre editorias e veículos, mas sem uma
proporcionalidade rígida. Após a escolha dos portais e jornais,
procuramos seguir quase o ritmo do leitor experto, considerado por
Santaella (2004) aquele que conhece as ferramentas digitais e suas
aplicações e navega com velocidade e foco. Não se estabeleceu
previamente categorias de observação. A navegação foi, aos poucos,
revelando tendências de títulos jornalísticos na internet. O aparecimento
constante dessas tendências nos permitiu listar, no período delimitado de
observação, 10 categorias de títulos.
Descrição: após a observação, etapa na qual identificamos
diferentes tipos de títulos e listamos categorias para eles, passamos a
descrevê-los, como proposto no objetivo específico 2, de identificar
alguns dos principais tipos de título jornalístico na internet, e descrevê-los em categorias. Nesta fase, procurou-se registrar, em texto, suas
principais características, os ambientes em que mais aparecem (se na homepage ou na lista de “últimas”, por exemplo), as editorias, se tinham
7 O maior jornal do Grupo RBS em Santa Catarina tinha em 2013 média de 3
milhões de visitas/mês, segundo dados compartilhados pela empresa.
33 alguma semelhança com o jornalismo impresso etc. Buscou-se, também,
relacioná-los aos apontamentos levantados no estudo bibliográfico.
Comparação: esta etapa baseou-se na comparação de 210 títulos
de matérias publicadas pela Folha de S. Paulo na internet e reproduzidas
na edição impressa, e vice-versa, na penúltima semana de agosto de
2013, como nos propusemos no objetivo específico 3, de comparar
títulos jornalísticos, da mesma notícia, publicados simultaneamente na internet e em jornal impresso (a mesma notícia, em plataformas
diferentes), e registrar em categorias as características que apresentam
na web frente ao impresso. Os 210 títulos correspondem a todas as
matérias publicadas pela Folha no período delimitado --- uma semana
útil completa. Esses títulos não fazem parte da amostra de 5 mil títulos
observados para a criação das 10 categorias de títulos jornalísticos na
internet. Escolhemos a Folha por dois motivos: 1) porque é o maior
jornal do país nas versões impressa (320 mil exemplares/dia) e digital
(20 milhões de acessos/mês), e 2) porque, entre os cinco maiores jornais
do país, conforme mostrou nossa análise prévia, é a que mais mantém o
estilo hard news em seus títulos na edição impressa, em um formato
muito parecido com o que se costuma praticar nos portais e sites país
afora.
No impresso e no digital, a Folha orienta para “títulos atraentes e
fortes, capazes de tornar claro, em poucas palavras e em ordem lógica, o
objeto da notícia”8. Acreditamos que os resultados a que chegamos
seriam maiores em outros jornais referência no país, como Estadão e O
Globo, que seguem linhas mais flexíveis (às vezes até poéticas) em suas
versões impressas. Ou seja, o mesmo comparativo nesses jornais traria
números maiores que os verificados na Folha.
Foram analisados 210 títulos das editorias de Poder,
Internacional, Mercado, Cotidiano e Ilustrada. Títulos de colunistas, de
seção de artigos, de editoriais e afins foram ignorados. Como principal
critério, escolhemos títulos de matérias publicadas na edição impressa e
repetidas no site. A coincidência da mesma matéria nas duas
plataformas era básica para analisarmos as diferenças entre os títulos
adotados nas duas plataformas e podermos anotar as características que
tomaram no impresso e na internet. Os títulos foram extraídos entre os dias 18 e 23 de agosto. Foi
uma semana útil inteira, que abraçou todos os momentos de um jornal
8 Manual da redação: Folha de S.Paulo. 18ª ed. São Paulo: Publifolha, 2013
34 impresso, como o destaque ao noticiário esportivo na segunda-feira e o
noticiário de entretenimento na sexta-feira. O período também abrange
questões internas, que não nos preocupamos em anotar, como a variação
do tamanho da edição em função do número de anúncios --- no país, o
mercado publicitário costuma eleger a quinta-feira como o melhor dia
útil. A semana foi escolhida aleatoriamente, por conveniência. Não
houve nenhum evento predominante no noticiário, o que nos permite
imaginar que representa a rotina de uma redação jornalística em
qualquer época do ano.
Na sistematização do trabalho, partimos das notícias da edição
impressa, a nacional, e procuramos conteúdo afim publicado no site, na
lista de “últimas notícias”, em um período de 24 horas anteriores.
Notícias sobre o mesmo tema, mas apresentadas sob um foco totalmente
diferente em qualquer uma das plataformas, foram ignoradas. Como
exemplo disso podemos destacar um episódio do Mensalão, que na
internet foi tratado no seu aspecto cotidiano, com declarações de
ministros, e na edição impressa foi apresentado em uma perspectiva da
Justiça e as consequências para a imagem do país.
Para facilitar o estudo e para termos medições do todo e das
partes, dividimos a análise em editorias. O procedimento de seleção e
comparação foi igual para todas. Isso nos permitiu apontar, por
exemplo, quais editorias mais mudam os títulos entre a internet e o
impresso e o que elas mais alteram nos títulos.
Dividimos esta etapa do estudo em quatro partes: 1) análise geral
dos números, 2) impacto na leitura e compreensão da notícia, 3) por que
os títulos mudaram e 4) o tamanho dos títulos nas duas plataformas.
Para as partes 1, 2 e 3 criamos categorias, descritas no capítulo de
resultados. A parte 4 foi construída por uma média matemática, extraída
da soma das palavras do título (os artigos definidos e indefinidos
também foram considerados palavras). Somamos as palavras dos títulos
de cada plataforma, no todo e por editorias, e as confrontamos para
extrair a média.
35
2 - DO JORNALISMO
2.1 - O título na organização do texto
Muito antes de qualquer forma de jornalismo, o uso de uma
palavra-chave ou uma frase resumida sobre o texto já se apresentava
como um facilitador da leitura. Tal recurso, que hoje chamamos de
título, contribuiu com a organização textual e, indiretamente, com o
desenvolvimento do pensamento humano (MORRISON, 1990).
Ao passar de um amontoado de frases sem fim a um formato
parecido com o que usamos hoje, com separadores como capítulos,
parágrafos e títulos, o texto materializou o pensamento, tornando a
palavra um elemento mais visível e legível.
No mundo moderno, admitimos sem discutir que
existe não só uma relação entre a escrita, o
conhecimento e a organização textual, mas
também entre as palavras e as ideias do texto e a
forma ou estrutura em que são apresentadas ou
tratadas. Na verdade, a institucionalização da
cultura moderna, com sua afinidade com o escrito,
é condensada pela apresentação sistemática do
conhecimento, à medida que este avança da
introdução à conclusão, sob o formato específico
do livro. É de acordo com essas convenções que
normalmente dividimos o texto em unidades como
a página, o parágrafo e o capítulo; os títulos
corridos e as rubricas de disciplinas que dividem a
página e o parágrafo em linha coerente elevam o
desenvolvimento pedagógico da argumentação
(MORRISON, 1990, p. 173).
A organização do texto9 apresentou avanços a partir da
Grécia Antiga, se consolidando séculos mais tarde, e foi determinante
9 Walker (1996) defende que a escrita surgiu no Oriente Médio, por volta de
4000 a.C, para documentar as atividades comerciais da época, baseadas na troca
de cereais, carneiros e bois. Bottéro (1990, p. 20) acrescenta que a escrita foi
fundamental ao desenvolvimento da humanidade por perpetuar o conhecimento
e acabar com a frugalidade das palavras ditas. Ele observa que “o discurso oral
não pode ser retido com facilidade” e “o discurso escrito transcende o espaço e
a duração: uma vez fixado, pode ser repetido onde encontre um leitor”.
36 para fundamentar o pensamento crítico e filosófico. Segundo o autor, do
ponto de vista textual, há avanço entre Platão e Aristóteles:
As obras aristotélicas diferem fundamentalmente
das platônicas na medida em que os temas de
Platão, embora também constituam um sistema,
foram organizados principalmente em torno de
textos orais, cujo conteúdo e sentido ficam
explícitos devido a seus temas metafísicos. Em
contraste com Platão, Aristóteles procurou dispor
o pensamento com o que havia concebido como
um conjunto divisível de entidades, o todo em
categorias, cuja forma de explicação era, por sua
vez, sujeita à classificação (Ibid, p. 176).
Havelok (1973) acrescenta que a escrita de forma mais
organizada contribuiu para deixar a mente humana livre para pensar,
desenvolvendo pensamento e sociedades:
Na passagem do século 5 para o 4, o grande efeito
da revolução alfabética começou a se impor na
Grécia. A palavra predominante deixou de ser
uma vibração captada pelo ouvido e armazenada
na memória. Ela se tornou um artefato visível. O
armazenamento de informações para uso
posterior, como fórmula destinada a explicar a
dinâmica da cultura ocidental, deixa de ser uma
metáfora. A declaração documentada, que
permanece imutável através dos tempos, libertou
o cérebro de certos fardos formidáveis da
memorização, ao mesmo tempo em que
incrementou as energias disponíveis ao
pensamento conceitual. Os resultados, como
podem ser observados na história intelectual da
Grécia e da Europa, foram profundos
(HAVELOK, 1973, p. 60, apud Morrison, 1990,
p. 165).
Há certa divergência acerca do surgimento do texto escrito. De
um lado, estão os que defendem que o formato começou a se instituir no
século 7 a.C., a partir da chamada tese do aculturamento grego, que leva
mais em conta aspectos linguísticos. Esses dizem que o surgimento do
texto escrito se deu no século 7, de uma língua escrita definida, oriunda
37 do alfabeto grego, em 750 a.C.. Do outro, estão os que defendem que o
formato começou a ser desenvolvido no século 5 a.C., no conceito de
organização social, não só linguístico.
Os estudiosos do tema concordam que os primeiros textos foram
escritos em papiros, que “inicialmente apresentavam-se como um rolo
de largura inferior a 20 cm e de comprimento variável, sobre o qual
escrevia-se o texto com um pauzinho de junco, molhado em uma água
com goma e negro de fumo”, relata Fabre em A História da Comunicação (s.d.). O papiro foi a primeira forma de livro, o meio
impresso que adotou o uso de títulos para destacar conteúdos muito
tempo antes dos jornais.
Melo (2003, p. 14-15) observa que o aperfeiçoamento da escrita e
a evolução da fala tornaram o homem civilizado, e deu a ele a condição
de viver em sociedade. Segundo o autor, “a capacidade humana de gerar
símbolos comunitariamente reconhecidos e pacificamente legitimados
foi a alavanca que neutralizou a barbárie, dando passagem à civilização.
Os grupos humanos substituíram a força da violência pelo poder do
argumento”.
Bordenave (1983, p. 119) lembra que o texto escrito é um dos
elementos facilitadores da comunicação humana, que ele define como
“um processo natural, uma arte, uma tecnologia, um sistema e uma
ciência social pode ser um instrumento de legitimação de estruturas
sociais e de governos, como também a força que os contesta e os
transforma”. Ela “pode ser veículo de autoexpressão e de
relacionamento entre as pessoas, mas também pode ser sutil recurso de
opressão psicológica e moral. Através da comunicação a humanidade
luta, sonha, cria beleza, chora e ama”.
2.2 - Conversa, a raiz do jornalismo
Habilidade desenvolvida pelo homem desde a pré-história, a
conversa foi uma das primeiras formas notórias de jornalismo. Ela atraía
aos mercados públicos gregos, no século 4 a.C., pessoas que queriam
informar e ser informadas das novidades. Era um sistema parecido com
o que se vê atualmente no jornalismo em ambiente digital, onde as redes
sociais têm um papel semelhante, só que via computador. Uma explicação possível a essa perpetuação da conversa como
forma de informar reside no fato de que “a finalidade do jornalismo não
é definida pela tecnologia, pelos jornalistas ou pelas técnicas usadas no
dia a dia”, dizem Kovach & Rosenstiel (2003, p. 30). Para eles, “os
38 princípios e a finalidade do jornalismo são definidos por algo mais
elementar: a função exercida pelas notícias na vida das pessoas”.
Significa que o homem sempre teve a necessidade de se informar,
independentemente do tempo, tipo de mídia ou plataforma.
Beltrão (1992, p. 33-34) defende que o homem primitivo, mesmo
antes de conhecer a escrita, fazia uma forma de jornalismo, pois
transmitia aos seus semelhantes e à tribo, regularmente e de maneira
interpretativa, os fatos que interessavam à comunidade, como o
resultado da pesca e da caça, a aproximação de animais ferozes,
fenômenos da natureza, a escolha de líderes dos grupos e o relato das
batalhas.
Park (1945)10
vê características semelhantes nos animais. Ele
entende que a notícia, considerada como conhecimento, “é tão velha
quanto a humanidade”. Argumenta que “os animais inferiores não estão
isentos do tipo de comunicação que não é diferente da notícia”, e
exemplifica que “o cacarejar da galinha mãe é entendido pelos pintos
como sinal de perigo ou comida, e os pintos reagem de acordo”.
Stephens (1988) endossa os apontamentos de Park ao registrar
uma espécie de traço comum noticioso ao longo dos tempos, algo que se
mantém intocável mesmo com todo o desenvolvimento social e
tecnológico. O historiador norte-americano entende a notícia11
como
uma forma de contar histórias. “Os humanos sempre trocaram uma
mistura similar de notícias ao longo da história e através das culturas”
(STEPHENS, 1988, p. 18). Ele descobriu que “os padrões básicos do
valor da informação parecem ter variado muito pouco através da
história” (Ibid, p. 35).
10
O artigo A notícia como forma de conhecimento foi originalmente publicado
em 1945 e reapresentado em A Era Glacial do Jornalismo (2008), organizado
por Christa Berger e Beatriz Marocco. 11
Em Ideologia e Técnica da Notícia (1979), Nilson Lage reúne definições
clássicas de notícia: “Se o cachorro morde um homem, não é notícia; mas se um
homem morde o cachorro, aí, então, a notícia é sensacional (AMUS
CUMMINGS); “É algo que não se sabia ontem” (TURNER CATLEDGE); “É
uma compilação de fatos e eventos de interesse ou importância para os leitores
do jornal que a publica” (NEIL MACNEIL); “É tudo o que o público necessita
saber; tudo aquilo que o público deseja falar; quanto mais comentário suscite,
maior é seu valor” (COLLIERS WEKLY); “Informação atual, verdadeira,
carregada de interesse humano e capaz de despertar a atenção e a curiosidade de
grande número de pessoas” (AMARAL).
39
A busca por informação é duradoura porque é um instinto básico
do ser humano, apontam Kovach e Rosenstiel (2003, p. 36). “As pessoas
precisam saber o que acontece do outro lado do país e do mundo,
precisam estar a par de fatos que vão além de sua experiência” porque
“o conhecimento do desconhecido lhes dá segurança, permite-lhes
planejar e administrar suas próprias vidas. Trocar figurinhas com essa
informação se converte na base para a criação da comunidade,
propiciando as ligações entre as pessoas”.
Notícia é aquela parte da comunicação que nos
mantém informados dos fatos em andamento,
temas e figuras do mundo exterior. Em suas
épocas, antigos governantes usaram a informação
para manterem unidas suas sociedades. A
informação produzia um sentido de coesão e
metas comuns (...). Quanto mais democrática uma
sociedade, maior é a tendência para dispor de
mais notícias e informações. À medida que as
sociedades se faziam mais democráticas,
inclinavam-se na direção de uma espécie de pré-
jornalismo (Ibid).
No prefácio de Elementos do Jornalismo (2003), Fernando
Rodrigues acrescenta que, certa época, quando os antropólogos
começaram a comparar suas anotações sobre as poucas culturas
primitivas do mundo ainda existentes, “descobriram um aspecto
inesperado: desde as mais isoladas sociedades tribais na África até as
mais remotas ilhas do Pacífico, seus habitantes tinham uma definição
básica do que é notícia”. Eles “se divertiam com o mesmo tipo de
fofoca, procuravam as mesmas qualidades naqueles escolhidos para
recolher informações e depois espalhá-la. Queriam gente que pudesse se
mexer rápido, apurar os dados com exatidão e contá-los de forma
envolvente” (Ibid).
Na Grécia Antiga, dois nomes se tornaram referência na arte de
informar pela conversa: Heródoto e Tucídiles. O primeiro percorria a
Grécia (Europa) e a Pérsia (Ásia) atrás de histórias para contar; dizia
que queria evitar que os feitos e costumes de sua época se perdessem no
tempo (KAPUSCINSKI, 2006). O segundo era general e se destacava
pelas histórias de guerra, entre as quais a do Pelomponeso, de Esparta
com Atenas. Observemos o caso de Heródoto. Ele nasceu em
Halicarnasso, cidade da Ásia Menor, por volta de 485 a.C. Em meados
40 de 450 a.C. mudou-se para Atenas. Viajou muito e escreveu História,
sua única obra (HAMMER, 1954). Dedicou a vida a tentar descobrir
“por que os homens travam guerras entre si” e “o que move o homem”.
Queria saber por que a Grécia estava em guerra com a Pérsia, e por que
aqueles dois mundos (Ocidente e Oriente) viviam em luta.
O objetivo de Heródoto, como o próprio escreveu em História12
,
era “evitar que os vestígios das ações praticadas pelo homem se
apagassem com o tempo” e que “as grandes e maravilhosas explicações
dos gregos, assim como as dos bárbaros, permanecessem ignoradas”.
Ele deixa claro que o material recolhido foi testemunhado por ele ou
terceiros e que seu objetivo era ser o mais preciso possível, tal como
fazem ou deveriam fazer os repórteres dos tempos atuais. Algumas de
suas expressões em História, destacadas por Kapuscinski (2006),
deixam isso bem claro:
Estes são os costumes dos persas, como pude
observar. As perquirições que realizei em torno de
suas origens convenceram-me de que foi assim
que tudo aconteceu (...). Este é o meu relato sobre
o que se comenta em países distantes. Levamos as
investigações até onde era possível, e vamos dizer
o que soubemos de exato pelas fontes a que
recorremos (KAPUSCINSKI, 2006, p. 218-443).
Shoemaker (2006, p. 3) atesta que a notícia é uma característica
biológica. Diz que “as pessoas estão interessadas em notícia o tempo
inteiro”; “não importa se vêm de outras pessoas (conversa) ou de
veículos de massa, todos querem saber o que está acontecendo em
lugares distantes ou com seus vizinhos”. A evolução dos povos
“interfere no processo de assimilação e interesse pela notícia, mas não o
exclui”, sustenta.
A autora assinala uma característica duradoura da notícia. Ao
pesquisar o tema em 10 países do redor do mundo, ela constatou a
hipótese que tinha antes da viagem, de que as pessoas estão interessadas
basicamente em dois centros de informação: 1) pessoas, ideias ou
12
Na versão original, em papiro, o material apurado por Heródoto era acessível
a especialistas em grego antigo, capazes de ler um texto que mais parecia uma
palavra sem fim. No formato de livro que conhecemos hoje, História foi
publicado em 1954.
41 eventos que saiam da curva (para o bem ou para o mal), e 2) pessoas,
ideias e eventos que tenham alguma relevância para a sociedade.
Se você pedir para um jornalista definir o que é
notícia, ele provavelmente dirá `eu sei o que é
notícia quando elas acontecem´. Se você
pressionar o jornalista, provavelmente ele irá listar
uma série de condições que tornam pessoas ou
eventos mais noticiáveis: esquisitice ou novidade,
conflito ou controvérsia, interesse, importância,
impacto ou consequência, sensacionalismo e
proximidade (SHOEMAKER, 2003, p. 3).
Stephens (1988) também elenca valores de notícia que resistem
ao tempo, desde a época de Heródoto. Ele chama isso de “qualidades
duradouras da notícia”. De exemplo, cita o insólito, o extraordinário, o
catastrófico, a guerra, a violência, a morte e a celebridade.
O interesse do público por assuntos bizarros e curiosos ante os
importantes é uma constante no jornalismo. Preocupados com tópicos
dessa natureza, especialistas se reuniram nos EUA em 1997 e definiram
nove funções do jornalismo: sua primeira obrigação é com a verdade;
sua primeira lealdade é com os cidadãos; sua essência é a disciplina da
verificação; seus praticantes devem manter independência daqueles que
o cobrem; o jornalismo deve ser um monitor independente do poder; o
jornalismo deve abrir espaço à crítica ao compromisso público; o
jornalismo deve empenhar-se para apresentar o que é significativo de
forma interessante e relevante; o jornalismo deve apresentar as notícias
de forma compreensível e proporcional; os jornalistas devem ser livres
para trabalhar de acordo com sua consciência (KOVACH &
ROSENSTIEL, 2003).
A preocupação acerca do tema é antiga, como prova De
relationibus Novellis, a primeira tese sobre jornalismo apresentada em
uma universidade, defendida em 1690, na Universidade de Leipzig, na
Alemanha, por Tobias Peucer. A tese é dividida em 29 parágrafos, nos
quais o autor pontua diferenças entre jornalismo e história.
Apesar de escrever o texto há mais de três séculos, ele discute temas atuais como noticiabilidade e credibilidade. Um exemplo está no
décimo parágrafo, no qual diz que “é merecedor de mais credibilidade o
testemunho presencial”. Atualmente o tema é debatido na teoria do
jornalista sentado, sobre a apuração sem contato com as fontes
(NEVEU, 2001). A prática provoca polêmica porque sugere que, depois
42 da expansão da internet, o material de terceiros na rede tem mais
destaque do que o apurado pelo repórter.
O autor também debate o texto jornalístico e a forma para torná-
lo, ao mesmo tempo, informativo e atraente --- o que, para muitos
estudiosos da atualidade, seria uma forma de prolongar a existência dos
jornais. No parágrafo 22, o alemão diz que “o estilo dos periódicos não
há de ser nem oratório nem poético porque isso distancia o leitor
desejoso de novidade e causa confusão, além de não expor as coisas
com clareza suficiente”.
A tese de Peucer foi escrita pouco depois do surgimento dos
jornais impressos. Há certa divergência sobre o primeiro, sobretudo
porque no início do século 17 não se tinha uma definição clara a este
repeito. Contudo, nota-se algum consenso acerca do Aviso de Augsburg, publicado em 1609, na Alemanha. Na América, o pioneiro foi o Boston
Newsletter, em 1704 (BRIGGS & BURKE, 2006). No Brasil, a Gazeta,
publicada no Rio de Janeiro, em 1808.
Como atividade remunerada, o jornalismo se desenvolveu durante
o século 19, na sequência de um processo complexo de industrialização
da sociedade, escolarização, urbanização, avanços tecnológicos e
implantação de regimes políticos em que os princípios da liberdade de
imprensa se tornaram sagrados (TRAQUINA, 2004).
2.3 - Rótulo, o embrião do título
O título é um elemento relativamente novo no jornalismo. Os
primeiros jornais do mundo o ignoravam. Os que nasceram nas décadas
seguintes, também. Assim que surgiram, inspirados nos livros, serviam
só para separar conteúdos. Tinham letras iguais ao resto do texto e se
misturavam com data e procedência do material. Com o
desenvolvimento da imprensa, foram ganhando outros usos, como o
design da página, até chegar ao estágio atual, em que literalmente
vendem a notícia e agregam funções do link.
Os primitivos jornais não possuíam títulos com as
características atuais. Eles limitavam-se aos títulos
fixos, ou rubricas, simplesmente indicando aos
leitores pequenas diferenças temáticas entre os
textos publicados. Ou, eventualmente, continham
títulos-assuntos, destacando sobretudo as matérias
nitidamente opinativas das que se pretendiam
informativas (MELO, 1985, p.67).
43
O autor acrescenta que os jornais dos Estados Unidos, referência
para outros no mundo, usavam “títulos-rótulos, uma declaração genérica
e indefinida, com pouca ou nenhuma informação sobre a notícia”. As
chamadas “correspondiam ao estilo de diagramação vertical dos jornais
de então, eram miúdas, pouco maiores que o corpo tipográfico usado
para o texto e ocupavam apenas o topo da coluna”.
Sartori (1999, p. 113, apud Comassetto, 2003, p. 60) reforça que
“a manchete jornalística foi tendo seu papel alterado e sendo
aperfeiçoada na medida em que a atividade jornalística passou a
acompanhar as transformações da sociedade, devido ao processo de
industrialização”.
O desenvolvimento da imprensa norte-americana foi
determinante para a cristalização do uso dos títulos jornalísticos,
segundo Melo (1985). Trata-se de um período longo, que começou com
o Boston Newsletter, o primeiro jornal dos EUA, criado em 1704, e se
propagou até o século 19, com a consolidação do New York Journal, de
William Hearst (1863-1951), e do New York World, de Joseph Pulitzer
(1847-1911).
Principais empresários da notícia em Nova York, Hearst e
Pulitzer foram os protagonistas da chamada guerra jornalística, na qual
os títulos se destacaram: quando perceberam que o aspecto tipográfico
influenciava na venda de jornais, os dois começaram a modificar a
primeira página, introduzindo uma paginação equilibrada, com títulos de
duas colunas nas margens do jornal, incluindo subtítulos e, mais tarde,
manchetes que ocupavam oito colunas (MELO, 1985, p. 86).
O autor observa que “o contato com informações destacadas” vai
muito além do design da página, pois “desempenha um papel decisivo
na formação da visão de mundo que cotidianamente o cidadão obtém”.
“Saber que determinados fatos aconteceram e outros não, que
determinados personagens atuaram na cena social em primeiro plano,
que tais ou quais organizações figuraram na linha de frente das
novidades constitui referencial básico para moldar a atitude coletiva”
(Ibid, p. 67).
Como observa Comasseto (2003, p. 60-61), “o título do texto
jornalístico está hoje tão intimamente ligado à notícia que, sem ele, a matéria perde o sentido”. Segundo o autor, “o título serve, portanto, para
dar equilíbrio estético à página, anunciar o fato, resumir a notícia e
ativar fatores cognitivos que guiam a compreensão. Em geral, deve ser
44 constituído de uma frase, redigida em ordem direta e sempre com verbo,
o que garante impacto e expressividade”.
O título, embora resumido, tem todas as condições
de ser uma síntese precisa da notícia, expressando
sua macroproposição mais importante. Pode haver
casos, porém, de duas informações igualmente
relevantes, mas que, por razão de espaço, estilo do
veículo de comunicação e mesmo de eficiência,
não podem ser ditas em uma única frase, o que
deixaria o título demasiado longo e
comprometeria sua expressividade
(COMASSETTO, 2003, p. 61-62).
Pela importância que mostraram ter ao longo do desenvolvimento
da imprensa, os títulos foram se consolidando de tal forma que se
tornaram determinantes para a leitura ou não de uma notícia. Eles,
enfatiza Douglas (1966, p. 24), “prendem a vista do leitor”, fazendo-o
parar na notícia e “decidir, com fundamento nesse relance, se lerá ou
não o texto”.
Um estudo feito por García, Stark e Miller (1991) citado por
Sousa (1995) reforça este cenário. Ao pesquisar a leitura de notícias,
eles descobriram que os elementos textuais mais processados são,
geralmente, os títulos, incluindo os antetítulos e subtítulos, com cerca de
50% de audiência. O mesmo trabalho revelou que, depois de títulos, os
resumos com letras grandes são as peças mais lidas e que menos de
12,5% do texto de um jornal é lido em profundidade pelos leitores,
Para Amaral (1989, p. 86), os títulos podem revelar a identidade
do jornal porque “eles dão bem o tom da publicação, se séria,
escandalosa ou equilibrada”, e “informam também sobre a qualidade de
seus redatores e sua capacidade criadora”. Ao escrever poucas palavras,
sublinha, “o profissional já mostra quanto é capaz e evidencia o grau de
experiência da profissão. Um mau título altera, e até mesmo destrói, a
qualidade de uma boa matéria”.
O título é a designação que se põe acima da
matéria, chamando a atenção do leitor para a
mesma, de forma objetiva, clara, apelativa,
resumida, capaz de prender qualquer um que lhe
ponha os olhos e de levá-lo ao texto. A sua ideia é
a ideia central, a mais jornalística possível, do
assunto que ele assinala. Normalmente feito após
45
a redação da matéria é, muitas vezes, procurado
antes, na mente do redator, com o objetivo de
fazer saltar-lhe o que de mais importante, em
termos de jornal, deve ser explorado na redação
do assunto em pauta. Se o redator não consegue
imaginar um bom título antes de escrever o
material que tem em mãos, é porque não
compreendeu bem o valor do que possui
(AMARAL, 1989, p. 86).
Amaral considera titular “uma verdadeira arte” e lembra que “não
são todos os redatores, mesmo com muitos anos de tarimba, que
conseguem fazer um bom título, embora consigam redigir matérias
excelentes”. O autor assinala que, “para resumir a ideia central da
matéria em tão poucas palavras, às vezes divididas em duas ou três
linhas iguais, há que se dominar o idioma” (Ibid, p. 87).
2.4 - Os títulos na imprensa brasileira
Os primeiros jornais do Brasil, diferentemente dos primeiros
jornais do mundo, usavam algum elemento parecido com o que hoje
chamamos de título jornalístico. Eram chamadas discretas, em tipologia
praticamente igual ao resto do texto, que limitavam-se a apresentar
determinados conteúdos --- só alguns dos textos eram encabeçados por
tal destaque. Tanto a Gazeta do Rio de Janeiro, publicada a partir de 10
de setembro de 1808, como o Correio Braziliense, a partir de 1º de
junho daquele ano, apresentavam os textos com esse tipo de chamada.
Naquela época, vale destacar, a imprensa mundial estava prestes a
completar 200 anos (BRIGGS & BURKE, 2006).
A Gazeta do Rio de Janeiro foi criada pela Família Real, que
naquele ano mudara de Portugal para o Brasil, e circulava duas vezes
por semana, às quartas-feiras e aos sábados, mas podia ter edições
extras. Falava essencialmente dos assuntos da coroa, e se apresentava
como uma nova fonte de informação. Naquela época, a forma mais
comum de se comunicar algo relevante no Rio de Janeiro, a então
capital do país, era no fim das missas ou em panfletos colados em locais públicos.
O Correio Braziliense surgiu três meses antes, mas era impresso
em Londres, onde seu idealizador, Hipólito José da Costa, estava
exilado. Por isso é considerado o primeiro jornal brasileiro fora do país.
Era editado mensalmente, e chegava ao Brasil de navio, até 90 dias após
46 a impressão. Mas era teoricamente livre de censura, por isso trazia
críticas ao governo. Durou até dezembro de 1822, com circulação
regular. Depois batizou o jornal quase homônimo, não fosse o “s” no
lugar do “z”, editado em Brasília.
A Gazeta não era um jornal oficial, mas nela se
transcreviam todos os artigos, os decretos reais, e
era a possibilidade de D. João, de uma certa
maneira, se comunicar com o povo do Rio e
depois de todo o Brasil. É lógico que não eram
todas as pessoas que liam esta Gazeta; eram as
elites políticas, letradas, econômicas, mas também
as camadas médias, porque havia a leitura oral
(BASTOS, 2013).
O primeiro exemplar, em quatro páginas, destacava notícias sobre
economia vindas da Holanda, Suécia, Inglaterra e Rio de Janeiro. Sobre
os textos, apenas data e local. O que poderíamos tentar comparar com
um título está no último artigo, sobre um conflito na Europa. A chamada
era: Londres a 16 de Junho. Extrato de huma Carta escrita a bordo do Stativa. Discreto, o mesmo recurso foi usado nas 31 edições do primeiro
ano do jornal, como pudemos observar a partir de digitalização desse
material. Na segunda edição, de 17 de setembro de 1808, para citar
outro exemplo, está destacado antes do texto sobre uma nomeação em
Portugal: Auto de Eleição do Conselho Supremo deste Reino do Algarve, a que procedeu o Clero, Nobreza e Povo desta cidade, como
capital deste mesmo reino.
O Correio Braziliense seguia a mesma linha, com apresentações
discretas sobre alguns dos textos --- a maioria trazia apenas a data e a
procedência da notícia. Importante notar a evolução que houve em
poucos anos. A edição nº 175, a última a circular, em dezembro de
1822, já apresentava elementos visuais bem evoluídos, como o uso de
itálico em algumas chamadas. O último exemplar destacava a palavra
Política em letras garrafais e negritadas, seguida de Império do Brazil,
também em destaque. Um dos assuntos da edição foi um despacho de
Dom Pedro Primeiro: Acto da Acclamação do Senhor Dom Pedro Primeiro, Imperador Constitucional do Brazil, e seu Defensor Perpétuo.
A evolução dos títulos e layouts de página é percebida ao longo
do desenvolvimento da própria imprensa nacional. O Jornal do
Commercio, criado em 1° de outubro de 1827, no Rio de Janeiro, já
47 apresentava colunagem e títulos destacados, também em uma linguagem
muito aquém do que conhecemos hoje.
Uma consolidação dos títulos bem perto do formato que
conhecemos atualmente nos meios impressos pode ser percebida no
jornal A Noite, fundado por Irineu Marinho, em 1911. O jornal,
inicialmente vespertino, com tiragem de 5 mil exemplares, ficou com o
fundador das Organizações Globo até 1925, quando ele, com base nos
erros e acertos da primeira experiência, lançou O Globo, atualmente a
terceira maior tiragem do país. No prefácio de Irineu Marinho,
Imprensa e Cidade (2012), José Murilo de Carvalho destaca que A Noite
marcou o início de um sistema editorial apoiado em anunciantes:
Irineu Marinho buscou outro tipo de
independência, baseado na lucratividade do jornal.
Para ser lucrativa, a folha precisava de leitores e
anunciantes. Para aumentar a tiragem, o novo
jornal, a exemplo do que fizeram o Jornal do
Brasil no início da República, foi em busca do
leitor comum, adaptou a ele sua linguagem e
temática, ampliou a presença de reportagens. A
tática funcionou, como demonstrado nas tiragens
(mais de 20 mil exemplares em 1914), altas para
os padrões da época. O jornal dava resultado do
jogo do bicho na primeira página, caprichava no
noticiário policial, envolvia-se nos problemas da
cidade (CARVALHO, 2012, p. 12).
Uma análise nas reproduções de capa de A Noite (CARVALHO,
2012) mostra que o vespertino, em termos de títulos jornalísticos, se
aproxima muito do formato atual na mídia impressa. As chamadas
tinham tipologias destacadas, eram usadas no design da página e,
principalmente, resumiam a notícia. A maioria dos títulos carregava
questionamentos, típicos das reportagens opinativas da época, como
pode-se notar na edição de 28 de fevereiro de 1914. Os três principais
destaques da capa, cada um em uma coluna, são: A conflagração do
Norte/Está por horas a hecatombe de Fortaleza/Será destruído o açude de Quixadá; Os erros imperdoáveis/Por que nosso cáes abaixa? É feito
com lixo e latas vasias...(com s); A Victoria da fome/A crise de uma blague da imprensa amarella/Tresentos operários candidatos a doze
logares.
48
Com o surgimento de O Globo, em 1925, nota-se a presença das
manchetes, evoluções editoriais a partir dos títulos. O primeiro número,
de 29 de julho, destaca Voltam-se as vistas para nossa borracha em
letras de um canto a outro na página, seguido de títulos menores. Um
deles diz: Desvendan-se os mysterios de um archivo secreto. Outro
destaca: O que o Sr. Ford vem fazer no Pará. Além dos usos estéticos
em voga ainda hoje, nota-se uma aproximação à forma moderna de
escrever e titular notícias.
49
Imagens de jornais de época do Brasil e dos EUA
Figura 1: Primeira Gazeta do Rio, de 1808, ignorava títulos
50
Figura 2: Correio Braziliense, de 1808, ensaiava “títulos rótulo”
51
Figura 3: Em 1817, Correio apresentava avanço nas chamadas
52
Figura 4: Jornal do Commercio, de 1827: título destacado
53
Figura 5: A Noite, de 1914, avançou no uso de títulos destacados
54
Figura 6: O Globo, de 1925, ampliou tamanho de colunas
55
Figura 7: New York Journal, em 1898: pioneiro em manchetes
56
Figura 8: New York World, 1890: manchete ajuda a vender jornal
57
2.5 - Tópico, a chave da compreensão do texto
A estrutura do texto noticioso que lemos hoje no papel ou nas
telas moveis é mais antiga que o próprio jornalismo. Explica-se: apesar
de boa parte dos autores apontar a Segunda Guerra Mundial (1939-
1945) como um marco do formato atual, com texto organizado do mais
importante ao menos importante, essa técnica já era vista na Grécia
Antiga, na época dos contadores de história. Destaca Karam (2000):
Na imediaticidade em que atua o jornalismo, os
elementos retóricos da antiguidade greco-romana
constituem eixos fundamentais de seu discurso. É
com esta perspectiva, baseada na arte de dizer,
resultado da habilidade em fazer, que se estrutura
o discurso jornalístico. A escola norte-americana e
inglesa de jornalismo tomou o que havia de
melhor na arte de dizer para imprimir o ritmo da
lógica informativa específica do jornalismo na
segunda metade do século passado e durante o
século 20 (KARAM, 2009).
A proposta aqui não é discutir as raízes do texto jornalístico.
Marcamos tal ponto para nos aproximarmos dos estudos de Teun Van
Dijk, um dos autores mais respeitados na teoria e análise do discurso e
do texto. Com ajuda dele, pretendemos sublinhar a importância
cognitiva do título jornalístico, a utilidade disso para o leitor e impactos
desse processo na leitura e interpretação da notícia. O autor mostra que
os títulos jornalísticos vão muito além de dizer de que trata o texto,
resumindo a notícia e destacando o tópico principal dela em uma
sentença objetiva. Eles são determinantes para a compreensão do texto,
pois evocam a habilidade humana de simplificar informações em tópicos
para poder compreendê-la melhor, relacioná-la com conteúdos
guardados na memória e armazená-la, potencializando o próprio
processo de desenvolvimento da inteligência humana.
Van Dijk entende que todo texto é organizado em superestruturas
(ideia geral do texto) e macroestruturas (a organização do conteúdo). Ele
coloca os títulos no que chama de estrutura da relevância, a partir da
qual partem os tópicos (ideias) afins. Segundo o autor, tanto os
processos de produção como a compreensão e memorização cognitiva
da notícia dependem de um formato acordado entre jornalista e leitor.
58
Assumimos que há uma relação sistemática entre
texto noticioso e contexto. Assim, parece
plausível que as formas estruturais e os sentidos
globais de um texto de notícia não são arbitrários,
mas o resultado de hábitos sociais e profissionais
de jornalistas em ambientes institucionais, de um
lado, e uma condição importante para o
processamento cognitivo eficaz de um texto
noticioso, tanto por jornalistas como por leitores,
de outro (Ibid, p. 123).
Analisemos um exemplo destacado pelo autor, após estudo com
entrevistados em mais de cem países. O trabalho mostra, a partir da
relação truncada entre jornalistas e o ex-secretário de Defesa dos
Estados Unidos Caspar Weinberger, como funciona o processo de
simplificação nato dos leitores (Ibid, p. 130-131):
1) O secretário da Defesa Caspar Weinberger está
tão irritado com a cobertura feita pela mídia de
sua controvertida viagem ao Oriente Médio que
está considerando a possibilidade de proibir
repórteres de acompanhá-lo em sua próxima visita
ao Extremo Oriente. A principal queixa de
Weinberger: ele acha que a imprensa distorceu o
sentido de suas declarações, de forma que a
disposição dos EUA de vender bombas
sofisticadas à Jordânia apareceu como uma
decisão final que acarretou um protesto imediato
em Israel. Diz um assessor de Weinberger:
“Precisamos realmente dessas dores de cabeça
quando estamos tratando com governos
estrangeiros?” O importante tópico da venda de
armas provavelmente não surgirá em sua viagem
ao Extremo Oriente, já quem nem a China, nem
Taiwan constarão de seu itinerário.
2) O secretário de Defesa dos Estados Unidos,
Weinberger, está cogitando barrar repórteres em
sua próxima viagem ao Extremo Oriente, por
achar que poderiam perturbar tratativas delicadas
com governos estrangeiros, como aconteceu
durante suas conversações sobre armamentos, no
Oriente Médio.
3) Weinberger está cogitando não levar consigo a
imprensa em sua viagem ao Extremo Oriente, pois
59
reportagens anteriores tiveram efeitos negativos
sobre as relações com governos estrangeiros.
4) Weinberger está cogitando não levar a
imprensa em sua próxima viagem.
Van Dijk sustenta que o leitor tem capacidade nata para
simplificar temas escritos e falados para poder compreendê-los e
guardá-los melhor. Faz isso pelas técnicas que chama de apagamento,
generalização e reconstrução. Os temas são guardados na memória por
meio de uma espécie de escala de relevância, e o conhecimento
acumulado ajudará na compreensão dos próximos textos.
Os leitores usam macroestratégias adequadas para
a derivação de tópicos de um texto. Para o
discurso da notícia, essas estratégias têm
importantes mecanismos textuais para ajudar a
construir a estrutura temática, a saber, manchetes
e leads (...). A manchete e o lead podem ser
usados como sinais adequados para fazer
previsões eficazes sobre a informação mais
importante do texto. E quando uma manchete ou
lead não é uma sumarização adequada de todo o
sentido global do texto, podemos, formalmente ou
subjetivamente, dizer que são distorcidos (Ibid, p.
133-134).
O autor acredita que a mente humana no Ocidente está
configurada para leituras lineares, ou seja, da esquerda para a direita e
de cima para baixo, por causa do processo de organização da escrita que
se nota desde a Grécia Antiga. O jornalismo amplia isso, colocando, a
partir do título, informações mais importantes antes das menos
importantes. Cognitivamente falando, o objetivo da leitura de
um artigo de jornal é construir um modelo
particular da situação ou evento de que trata o
texto, e, por meio de um retrato particular da
situação atual, atualizar modelos mais gerais.
Estes, por fim, podem ser usados para formar ou
modificar scripts ou frames mais abstratos, por
exemplo, sobre guerras civis ou política
internacional (no caso do texto sobre o secretário
de Defesa dos EUA) (Ibid, p. 138).
60
Em uma leitura linear, a partir do título, o leitor costuma a)
ativar o modelo da situação atual, b) derivar uma estrutura temática dele,
c) decidir quais temas são mais importantes, d) assimilar o tema pelo
lead, e) ir confirmando as hipóteses nos parágrafos seguintes, f) avaliar
consequências da situação, g) identificar causas e condições.
No caso específico de manchetes e leads, eles a)
primeiramente são reconhecidos como elementos do jornalismo, b)
ativam conhecimento e crenças de importância, c) suas proposições
subjacentes ativam e instanciam scripts relevantes e modelos de
memória, d) indicam ou expressam macrotópicos importantes, e) os
primeiros parágrafos confirmam ou não o que se leu no lead e título.
A compreensão constitui complexo processo
estratégico de reconstrução, que envolve, além das
informações recebidas, as motivações e objetivos
do receptor, suas estimativas sobre as intenções do
falante, seus pressupostos contextuais e
representações cognitivas, ou seja, dados
circunstanciais mais experiências e conhecimentos
prévios guardados na memória e ativados no
momento (VAN DIJK, 1999, apud
COMASSETTO, 2003).
Segundo Trorndyke (1979), um dos primeiros psicólogos
da cognição a por à prova hipóteses sobre a organização estrutural das
notícias, a forma como o conteúdo semântico é distribuído no texto
ajuda a compreensão e permite melhor evocação dos episódios
relatados. Isso se deve à lógica macroestrutural da notícia, que prioriza
as informações relevantes na formação da sentença, pontua Comassetto
(2003, p. 45).
Os estudos sobre o papel das representações de
conhecimento de mundo na compreensão do discurso começaram com
Bartlett (2000), considerado o precursor de uma teoria dos esquemas,
também rotulados, em estudos mais recentes, sobre modelos cognitivos,
como cenários, frames e scripts. Para o autor, “esquema sugere uma
organização ativa de reações ou experiências do passado, que devem
estar sempre operando em qualquer resposta orgânica bem adaptada” (Bartlett, 2000, p. 201).
Van Dijk considera que existe um “vínculo óbvio” entre as
estruturas do texto: a superestrutura, que refere-se à estrutura
esquemática global, na qual o conteúdo é inserido; e a macroestrutura,
61 que se encarrega do conteúdo, da definição dos temas ou assuntos
principais e da sua distribuição ao longo da matéria. O elo entre as duas
estruturas é estabelecido no título e no lead, que ele denomina
“encabeçamento”. Comassetto (2003, p.46) lembra que “estas primeiras
e conhecidas categorias do esquema aparecem em posição de destaque,
no início do texto, carregando com elas as informações tidas como as
mais importantes”.
Para entender um texto, o leitor usa uma série de
conhecimentos, que permitem “o estabelecimento de laços entre o
material escrito e informações que já possuímos, para aumentar e
corrigir nosso saber” (VAN DIJK, 1983, p. 177). O autor (2005) cita
sete tipos de conhecimentos: Comum: necessário para entender o
significado geral das palavras, sentenças e parágrafos, estabelecer
coerência global e construir representação textual; : usado
para decodificar os itens léxicos e a sintaxe do texto; discurso: empregado para interpretar o texto como notícia, e algumas de
suas características (título, manchete); Especializado de objeto:
utilizado por grupos referência em determinados temas; Pessoal: usado
pelos leitores quando relacionam a informação transmitida pela notícia
com suas experiências pessoais; Comum e Pessoal: empregados na
formação de modelos mentais de eventos (estados ou situações)
relacionados à notícia (no caso de ataque a mulheres, por exemplo,
pode-se ativar conhecimentos sobre violência doméstica;
Social/situacional: importante na construção dos modelos de contexto
(saber que a notícia está no jornal).
Kleinan (1992, p. 35) acrescenta que, para processarmos e
entendermos o texto escrito, primeiramente usamos o conhecimento
linguístico, tanto em sua esfera lexical (reconhecimento instantâneo das
palavras impressas) quanto em sua esfera sintática (fatiamento de
conteúdo) e sintática-semântica (construção de elos coesivos).
Aspectos cognitivos da leitura são todos aqueles
ligados à relação entre o sujeito leitor e o texto
enquanto objeto, entre linguagem escrita e
compreensão, memória, inferência e pensamento
(...). O processamento do objeto começa pelos
olhos, que permitem a percepção do material
escrito. Esse material passa a uma memória de
trabalho, que o organiza em unidades
significativas. A memória de trabalho seria
ajudada nesse processo por uma memória
62
intermediária, que tornaria acessíveis, como num
estado de alerta, aqueles conhecimentos relevantes
para a compreensão do texto em questão, dentro
de todo o conhecimento que estaria organizado
em nossa memória de longo prazo ou semântica
(KLEIMAN, 1992, p. 36).
Para a autora, títulos mal formulados do ponto de vista linguístico
podem confundir o leitor, especialmente quando há “inversão da ordem
canônica, a ordem mais usual da linguagem”, aquela com sequência de
sujeito, verbo e complemento, “porque isso contraria nosso impulso
natural de pensar” (Ibid, p. 45).
Guimarães (1993, p. 50) acrescenta que “o título é parte
componente e importante da mensagem, além de um fator estratégico
para a articulação do texto, podendo desempenhar tanto função factual e
de chamada como função poética e expressiva”. Ela reforça que, “em se
tratando de notícias, os títulos, o cabeçalho e o ordenamento do texto
não são cronológicos nem lógicos, mas determinados por um princípio
da primazia --- os aspectos mais importantes figurando em primeiro
lugar”.
Os títulos expressam a macroestrutura (tema
central da notícia). Lidos em primeiro plano,
orientam a compreensão para a estrutura da
relevância na apresentação das notícias. Não são,
por conseguinte, meros artifícios publicitários,
mas chaves para a decodificação da mensagem, se
convenientemente propostos. Enunciados sucintos
de qualquer mensagem, sua interpretação deve ser
integrada numa leitura global (GUIMARÃES,
1993, p. 50).
2.6 - Fala, o título sonoro
A habilidade humana para contar histórias também ajuda a
moldar o formato dos títulos jornalísticos: dá-se o tópico mais relevante,
ou o que poderíamos chamar de núcleo fundamental da informação, para
em seguida partir aos detalhes do ocorrido e contexto.
Lage (2000) usa a notícia hipotética de um atropelamento do
bairro Costeira do Pirajubaé, em Florianópolis, para exemplificar como
um relato falado casa com a ideia de resumo vista nos títulos
jornalísticos. Na cena, a testemunha do acidente diz aos colegas ao
63 chegar ao trabalho: “Vi um sujeito morrer atropelado agora mesmo na
Costeira”. As circunstâncias e os detalhes do acidente viriam na
sequência do relato. Em um jornal, poderíamos imaginar a mesma
informação, com ajustes editoriais, para formar um título do tipo
“Homem morre atropelado na Costeira”.
Como destaca Sousa (2005), a principal função do título é fisgar
o leitor e revelar a essência da notícia, característica que não mudou
com o jornalismo em ambiente digital. Segundo o autor, os títulos
devem atrair o leitor porque são o primeiro contato com a notícia. Tanto
nas mídias digitais como nas impressas, normalmente estão ligados ao
lead, o primeiro parágrafo do texto, que funciona como uma espécie de
resumo do texto.
Nesse cenário, é importante notar que, em plataformas digitais,
para se chegar ao lead é preciso clicar no título. Perde-se o contato
visual entre estes dois elementos estabelecido na cultura impressa. Um
exemplo disso são os aplicativos para iPad e outros tablets da maior
parte dos jornais brasileiros. Neles, o leitor tem contato com uma lista
de notícias que traz basicamente o título. Daí a importância de ser
atraente, com verbos ativos.
Em uma teoria baseada na cultura do jornalismo impresso que se
aplica ao ambiente digital, Van Dijk (1990) observa que “títulos e lead
compensam a grande desorganização que o leitor tem que desemaranhar
ao longo do artigo”. Para ele, a notícia muitas vezes é constituída por
uma série de fatos, alguns mais, outros menos importantes, mas todos,
de alguma forma, relacionados a um tema principal. Cabe ao leitor
buscar esta relação, o que, na avaliação do autor, nem sempre é simples
frente ao grande número de informações expostas de forma atemporal e
que saltam de um parágrafo ao outro, detalhadas conforme a sua
importância. Ao analisar jornais impressos, dos quais vêm parte da
cultura percebida nos meios digitais, o pesquisador observa que, muitas
vezes, a leitura das notícias para no título. Daí a importância da atração.
Folhear o jornal é a estratégia efetiva que consiste
em uma série de interpretações textuais parciais,
que podem resultar suficientes para o
processamento informativo global: a informação
resultante deste processo se dirige até o processo
de decisão que pode levar a uma leitura posterior.
(...) O tempo de leitura é tão restrito, que (nos
jornais) somente se lê uma seleção de artigos
(VAN DIJK, 1990, p. 204).
64
Kleiman (1989) também considera que os títulos devem ser um
resumo da notícia. A pesquisadora alerta que, às vezes, as chamadas da
notícia podem decepcionar o leitor se não estiverem amarradas com o
restante do texto, sendo, portanto, um resumo do conteúdo. Ela lembra
de uma máxima praticada nas redações que diz que, se não der para tirar
o título do lead, o lead não está bem construído.
Textos cujos títulos não correspondem ao tema
são incompreendidos, ou distorcidos, pois o leitor
considerará como temáticas ou subtemáticas
apenas aquelas informações relativas à sua
primeira hipótese, com base no título, e tenderá a
ignorar aquilo que para ele é mero detalhe. Como,
de fato, é comum, tanto nos livros didáticos como
em outros textos, fornecer títulos que apelem para
o interesse do leitor, sem que reflitam
necessariamente a informação mais alta na
macroestrutura, há, então, inúmeras possibilidades
de o leitor menos eficiente fracassar na depressão
do tema (KLEIMAN, 1989, p. 59).
Estudos cognitivos, destaca Van Dijk (1989, p. 116) com base em
pesquisas feitas na Holanda, demonstram que, no início de narrativas e
relatos, o tempo de compreensão para as primeiras sentenças é
significativamente mais alto que para as outras sentenças do mesmo
episódio. A proporção é de 800 milésimos de segundo contra 600
milésimos de segundo. Para o autor, o texto jornalístico deve “assinalar
ao leitor o que é importante ou relevante” no processo de compreensão
da notícia, pois isso influi “na representação textual de sua memória
episódica”, que se refere a experiências vividas sobre determinado tema
(Ibid, p.293).
Ao estudar títulos e leads, Comassetto (2003, p. 75) concluiu que
“as informações mais importantes ou proeminentes, também
resumidoras da notícia, estão nos títulos e no lead”. São “elas que
organizam a macroestrutura detalhada no texto a um sentido mais
simples, possibilitando ao leitor não só construir um modelo situacional como também estabelecer uma linha de coerência na compreensão do
relato”.
65
Há quem diga que o título pode ser mais importante que o lead:
“Sem título atraente o leitor não chega sequer ao lead” (BURNETT,
1991, p. 43, apud COMASSETTO, 2003, p.59).
Para ser eficiente do ponto de vista jornalístico e cognitivo, o
título deve ser construído de palavras curtas e usuais e corresponder
exatamente ao conteúdo do texto que resume e interpreta, diz Amaral
(1978, p. 86).
Douglas (1966) assinala que os títulos indicam a importância
relativa das notícias e têm funções técnicas (anunciar a notícia e resumir
conteúdo) e estéticas (dar aspecto atraente à página). O autor diz que,
como nos títulos não “há lugar para notas elucidativas, a ordem é usar
palavras e frases absolutamente claras”
Em um ensaio para ajudar jornalistas, Sousa (2005) apontou nove
funções valiosas para o título jornalístico. Ele considera que é preciso a)
revelar a essência da notícia; b) antecipar a história sem a esgotar; c)
anunciar e apresentar a história; d) despertar a atenção do leitor; e) atrair
o leitor; f) agarrar o leitor; g) imprimir certa estética; h) organizar
graficamente o espaço; i) ajudar na hierarquia das peças jornalísticas.
Um bom título acrescenta valor a uma peça
jornalística. Na tradição jornalística dominante, os
títulos devem ser informativos, sintetizando o
núcleo duro da informação numa frase forte, dura
e sedutora. Devem ter garra. Devem ser claros,
concisos, precisos, atuais e verídicos (SOUSA,
2005, p. 146).
O autor também lista conselhos para titular: 1) o título é a última
coisa a se fazer quando se redige uma peça jornalística; 2) o título deve
ser extraído do lead; 3) os títulos não devem prometer o que o texto não
traz; 4) títulos afirmam ou negam, evitando a sugestão, a interrogação, o
comentário ou o enigma; 5) um bom título deve condensar um máximo
de informação num mínimo de palavras; 6) em princípio um título deve
ter um verbo explícito ou implícito, preferencialmente escrito na voz
ativa; 7) em princípio não se repetem palavras no mesmo título nem em
títulos que venham a surgir na mesma página; 8) deve ser compreensível para a maioria das pessoas; 9) nos títulos com mais de uma linha, o
número de caracteres de cada linha deve ser similar para dar equilíbrio;
10) o tom do título deve respeitar o tom da matéria.
66
2.7 - Etiqueta, combustível para motores de busca
A principal função do título jornalístico é apresentar o ponto
principal da notícia, resumindo o texto em uma ideia clara e concisa.
Mas não é a única. Ele também pode, como já vimos, influir no design
da página. Aqui, pretendemos pontuar seu papel para os buscadores de
notícia, um dos principais usos no universo digital, onde está
ambientada esta pesquisa. Trata-se de uma espécie de função agregada e
invisível: agregada porque avança-se na ideia de título para resumir a
notícia e alinhar a página; invisível porque está escondida nas palavras
do título. Conciliar as duas é tarefa dura para quem não domina o SEO
(do inglês, Ferramenta para Otimização de Busca), a engrenagem por
trás dos motores de busca e fundamental para a audiência do jornalismo
em ambiente digital.
Como lembra Juanjo Ramos (2012), os mecanismos para o bom
posicionamento de um site começam na construção do domínio, tanto
nas palavras do endereço quanto na extensão do país. Mas nossa
proposta é focar nos textos noticiosos e em seus respectivos
posicionamentos dentro da web, e não na internet como um todo. Como
trata-se de uma breve explanação técnica, usaremos esclarecimentos de
Contini (2011)13
. Comecemos pelos títulos, nosso foco, e,
coincidentemente, o elemento mais determinante para o funcionamento
dos motores de busca.
O título é ponto determinante para a notícia ser encontrada pelos
buscadores. Em uma escala de zero a 10, tem peso oito para robôs como
o do Google. Por isso, deve ter palavras-chave referentes ao tema
tratado no texto. Nota-se aqui que, além das amarrações cognitivas
vistas no tópico anterior, o título tem mais razões para ser fiel ao texto
da notícia. Assim, em caso de enchente em Santa Catarina, o título deve
trazer palavras como “enchente” e “Santa Catarina” porque presume-se
que, na busca de tal conteúdo, o internauta digitará essas expressões no
site de busca, não algo genérico como “água”, “destruição” e “cidades”,
que poderia levar a qualquer outro conteúdo de chuva.
O uso de expressões repetidas ao longo do texto é outro fator
relevante, apesar de ser um pecado no jornalismo. Então, no caso da
enchente em Santa Catarina, essas palavras devem ser mantidas do início ao fim do texto. Trocá-las por sinônimos como “enxurrada” e
13 Lista elaborada em curso presencial, em 2011, com Giresse Contini, analista
de web analytics e coordenador de tráfego de internet no Grupo RBS
67 “Estado” pode ser rico para o leitor, não para os robôs. Na lógica dos
buscadores, quanto mais palavras iguais, mais relevância elas têm. O
uso do negrito nessas palavras amplia a situação, pois ajudam a guiar os
robôs pelo texto.
A quantidade de links dentro da notícia também é importante.
Quanto mais notícias linkadas no texto, melhor, porque a audiência
delas é levada em conta pelos buscadores --- eles entendem que, quanto
mais lida for uma notícia, mais importante ela é, por isso pesam esse
histórico na busca. Funciona como uma espécie de credencial. Para
otimizar, o link deve ser feito nas palavras e ou expressões fortes do
texto, no nosso caso hipotético, “enchente” em “Santa Catarina”.
Também deve-se considerar o poder dos links externos, de outros
sites. Quanto mais audiência tiver esse site, maior é a visibilidade do
conteúdo e maiores serão as chances de aparecerem na frente nas
páginas de resultados de busca --- as hospedagens também contribuem
nesse processo, mas não destacaremos porque normalmente é função de
equipes técnicas, e aqui focamos atitudes que cabem ao jornalista na
hora de publicar a matéria.
Para terminar esta breve lista de regras de SEO, cabe lembrar que
o tempo tem papel fundamental. Na hipótese de dois jornais terem dado
o mesmo título, usado as mesmas palavras-chave e dado a mesma
quantidade de links internos, aparece na frente quem publicou antes e
quem tem mais idade.
Do ponto de vista da audiência, estar bem posicionado nos
buscadores é fundamental para qualquer site de notícias. Isso porque,
com alguma variação para mais ou para menos, 50% das visitas deles no
Brasil vêm por esses canais --- o leitor prefere escrever palavras-chave
em buscadores a digitar o endereço do site no navegador. Os outros 50%
vêm de portais de referência (comum em grandes grupos de
comunicação, quando um portal reúne seus jornais e rádios, por
exemplo), tráfego direto (quando o internauta digita o endereço no
navegador) e redes sociais, nessa ordem14
.
14
Média geral do mercado, conforme dados compartilhados por gestores de
Folha de S. Paulo, Gazeta do Povo, Estado de S. Paulo e O Globo no Instituto
Internacional de Ciências Sociais, em São Paulo, em 2011.
68
Criado em 2008, o Google Brasil era em 2013 o buscador mais
acessado do país, com quase 80% de preferência. Era seguido por Bing
(8%) e Ask (6%)15
.
Ele perdia para o Yahoo (82%) na chamada taxa de sucesso,
quando o internauta clica em um link após a pesquisa. Depois vinha
Bing (81%) e Ask (77%). O Google tinha 69%. As buscas feitas no país
são sucintas16
, com apenas uma palavra (30%). Depois vêm as com duas
palavras (20%), três (18%), quatro (11%) e cinco (7%).
No Brasil, nenhum jornal tinha em 2013 parceria com o Google
News, o que aparentemente diminuiria a importância das técnicas de
SEO na publicação de conteúdos. É assim desde 2011, quando a
Associação Nacional dos Jornais recomendou que seus associados não
permitissem a veiculação de conteúdo em tal plataforma enquanto não
houvesse remuneração pelos direitos de propriedade intelectual do
conteúdo. Mas o cenário é diferente em outros países. Em fevereiro de
2013, a imprensa francesa fez um acordo com o Google. Em troca de R$
161 milhões, permitiu que a empresa norte-americana indexasse o
conteúdo noticioso no Google News. Em 2012, um acordo do tipo foi
fechado na Bélgica.
As técnicas para bom posicionamento nos buscadores de internet
vão muito além do conteúdo noticioso. Valem para praticamente todos
os tipos de serviço de consulta na web. Tal comportamento tem crescido
com a popularização dos celulares inteligentes e o acesso remoto à rede.
Juanjo Ramos (2012, p. 6) diz que o “posicionamento local está
adquirindo cada vez mais relevância graças às buscas móveis, que
incluem a geolocalização do usuário de forma cada vez mais precisa”, e
isso melhora a busca. “O conceito de SEO local se resume a uma ideia:
proporcionar a informação necessária aos buscadores para que considere
nosso site relevante para os resultados de busca”.
15
Dados da pesquisa Serasa Experian, publicada pelo G1 em março de 2013.
Disponível em: <http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2013/03/google-e-
buscador-mais-acessado-mas-yahoo-e-o-mais-clicado-no-brasil.html>. Acesso
em: 20 de maio de 2013 16
Dados da pesquisa Serasa Experian, publicada no portal Adnews em março de
2013. Disponível em: <http://www.adnews.com.br/internet/google-brasil-segue-
no-topo-entre-os-buscadores>. Acesso em: 20 de maio de 2013
69
3 - DA TECNOLOGIA
3.1 - A máquina como extensão do homem
Não é correto pensar que a relação entre homem e tecnologia
inicia-se nos anos 1970, quando os computadores começaram a deixar
as salas gigantescas em que primeiramente foram instalados para ocupar
as mesas de escritórios e, mais recentemente, a palma da mão do
usuário. Tal como a busca pela informação/notícia, que destacamos no
tópico anterior, a tecnologia é biológica. Faz parte do desenvolvimento
social desde os primórdios, quando o homem, ainda habitante de
cavernas, sentia a necessidade de se autoproteger e evoluir, traços
notados até hoje, na era digital.
Como lembra Mcluhan (1964, p. 65), “a guerra e o temor da
guerra sempre foram considerados os maiores incentivos à extensão
tecnológica de nossos corpos”. Um dos maiores saltos tecnológicos da
humanidade aconteceu nesse contexto: a computação, raiz das
plataformas digitais tratadas neste trabalho, se desenvolveu com a
Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a partir de máquinas criadas para
interceptar mensagens de inimigos.
Algo semelhante ao temor da guerra já se percebia na era pré-
histórica (antes da escrita), quando o homem começou a viver em
grupos e se distinguir de outros animais por sua capacidade de criar
armas rudimentares de caça e autodefesa, como as lanças. Os
equipamentos de autoproteção foram sendo adaptados às necessidades e
ao descobrimento de novos materiais, como pedra e ferro, ao longo das
idades antiga (após a escrita, com formação das sociedades), média (a
partir do século 5, com o Império Romano), moderna (entre feudalismo
e capitalismo) e contemporânea (a partir da Revolução Francesa, em
1789).
O desenvolvimento não pautou-se só pelas necessidades de
defesa e ataque. A busca por uma vida mais confortável também foi
determinante. O exemplo mais notório disso talvez seja a invenção da
roda, que acelerou a vida a partir da idade antiga. Apesar de alguma
divergência entre os historiadores, a data mais citada para a invenção da
roda é 3500 a.C., quando datam as placas de argila nesse formato achadas onde hoje fica o Iraque.
Essas placas provavelmente foram feitas a partir de moldes
arredondados de madeira presos por ripas, defendem os historiadores.
Só por volta de 2000 a.C. é que a invenção, que se espalhara a outras
70 partes do mundo, começou a ter uso prático. O primeiro foi em veículos
de tração semelhantes às carroças. Outro foi puxar madeira e animais
abatidos, antes transportados por deslizamento, o que exigia mais força
e gastava mais tempo.
A roda é um exemplo claro de dois conceitos de Mcluhan que não
envelhecem e com os quais estamos alinhados neste trabalho: o de
aceleração, que diz que uma tecnologia nasce em função de uma
necessidade ou de uma tecnologia já existente; e o de extensão, que
classifica toda máquina como um prolongamento do corpo humano.
Dentro do conceito de aceleração, por exemplo, a roda ampliou o
ritmo de vida. Seu uso fez surgir a carroça, que despertou a necessidade
de se ter estradas; depois inspirou outros veículos, entre os quais a
bicicleta, e, mais tarde, os automóveis. Estes também alteraram a noção
de tempo, obrigando a pavimentação das vias, que se mostraram
esgotadas e impulsionaram a invenção de outros tipos de transportes,
como o avião. No conceito de extensão, a roda seria uma espécie de pé
em rotação, algo capaz de facilitar a vida, criado a partir do movimento
biológico e da necessidade de movimentar-se mais rapidamente.
Antes do aparecimento do veículo de rodas,
vigorava o princípio da tração (...). A bicicleta
elevou a roda ao plano de equilíbrio
aerodinâmico, e criou o aeroplano ---de maneira
indireta. As transformações da tecnologia têm o
caráter da evolução orgânica, porque todas as
tecnologias são extensões do nosso ser físico (...).
Toda tecnologia cria tensões e necessidades nos
seres humanos que a criaram. A nova necessidade
e a nova resposta tecnológica nascem do
abrangimento da tecnologia já existente, e assim
por diante, num processo incessante
(MCLUHAN, 1964, p.208).
Nesse contexto, a eletricidade17
representa outro marco
importante na relação do homem com a tecnologia, pois ela está para a
máquina como o sistema nervoso central está para o homem, segundo a
17
A eletricidade surgiu de um processo que começou em 600 a.C. com Tales de
Mileto (o grego descobriu a existência de um campo de força ao esfregar âmbar
e pele de animal), passou pela Revolução Industrial (em 1750, com máquinas a
vapor, acelerando o desenvolvimento de combustíveis fósseis como carvão, gás
e petróleo) até o uso coletivo, a partir do século 19.
71 teoria mcluhiana. Com a tecnologia elétrica, diz o autor, o homem
projetou para fora de si mesmo um modelo vivo do próprio sistema
nervoso central, que poderíamos chamar de “rede elétrica” que coordena
os diversos meios de nossos sentidos.
Fisiologicamente, no uso normal da tecnologia (de
seu corpo em extensão vária), o homem é
perpetuamente modificado por ela, mas em
compensação sempre encontra novos meios de
modificá-la. É como se o homem se tornasse o
órgão sexual do mundo da máquina, como a
abelha do mundo das plantas, fecundando-o e
permitindo o envolver de formas novas
(MCLUHAN, 1964, p.65).
A simbiose entre homem e máquina está em cada objeto
tecnológico, diz o autor, o que explicita a ideia de que todos os
equipamentos que dispomos são extensões de nosso próprio corpo. O
rádio, criado em 1912, um dos primeiros veículos de comunicação de
massa a basear-se em ondas de recepção e transmissão, é um exemplo
disso. Não é necessário entrar em detalhes técnicos para comparar o
ouvido humano ao receptor de rádio, segundo Mcluhan, porque “assim
como o equipamento contido no rádio é capaz de decodificar as ondas
eletromagnéticas e recodificá-las como som, o ouvido humano faz o
mesmo processo com a voz humana ao traduzir o som em ondas
eletromagnéticas”.
O relógio é outro exemplo. Com o surgimento do tipo mecânico,
no século 14, necessidades humanas como comer e dormir se
acomodaram mais ao aparelho do que às necessidades orgânicas.
Segundo a teoria mcluhiana, na sequência disso, assim que o padrão
passou a se expandir, até a roupa teve validade anual: os ciclos de moda
mudam a cada estação e de uma estação para a outra, favorecendo o
comércio.
Mcluhan diz que a essência da simbiose entre homem e máquina
reside no fato de que a tecnologia sempre exerceu fascínio na
humanidade, algo parecido com o que ocorrera na mitologia grega com Narciso, que se encantou com o reflexo da própria imagem na água.
Como diz o autor (1964, p. 59), “é fato que todos os homens se tornam
fascinados por qualquer extensão de si mesmos em qualquer material
que não seja o deles próprios”.
72
Ao longo da história, muitas novidades tecnológicas provocaram
fascínio na humanidade. O computador, certamente, foi uma delas. Ele é
um exemplo claro de extensão do homem na máquina. Quem poderia
guardar tantas informações em sua própria memória, se não usando um
computador? Quem processaria tantas informações e tão rapidamente
sem o equipamento? Com o computador, o homem projetou para fora de
si o próprio cérebro, especialmente as capacidades de guardar e
processar informações.
A computação, por sua vez, é um exemplo claro de que “a guerra
e o temor da guerra sempre foram considerados os maiores incentivos à
extensão tecnológica de nossos corpos”, como dizia Mcluhan (1964).
Ela desenvolveu-se a partir da Segunda Guerra Mundial por causa das
máquinas Enigma e Colossus18
, criadas para decifrar as mensagens de
Aliados (China, França, Grã-Bretanha, União Soviética e Estados
Unidos) e potencias do Eixo (Alemanha, Itália e Japão).
A guerra, no entanto, não foi o único combustível no
desenvolvimento da computação. A matemática também a impulsionou,
destaca Fonseca Filho (2007), para quem a a ciência dos computadores
nasceu do desejo de se compreender a capacidade que o homem tem de
resolver problemas de forma sistemática.
A história da computação está marcada por
interrupções repentinas, mudanças imprevistas,
tornando-se difícil a visão da evolução dos
computadores mediante uma mera enumeração
linear de invenções-nomes-datas. O desejo de
conhecer as vinculações que o trabalho de
determinados homens estabeleceram no tempo
vem acompanhado do impulso de compreender o
peso desses atos no conjunto da história da
computação (...). A computação é um corpo de
conhecimentos formado por uma infraestrutura
conceitual, e um edifício tecnológico onde se
materializam o hardware e o software. O primeiro
18 A Enigma foi projetada com apoio da Alemanha logo depois da Primeira
Guerra Mundial, nas primeiras tentativas de decifrar a criptografia rival. Foi
melhorada até a Segunda Guerra Mundial, quando teve seu ápice, mas seus
códigos foram revelados pelo Colossus, o computador criado pelos Aliados no
Bletchley Park, na Grã-Bretanha, pela equipe coordenada pelo matemático Alan
Turing.
73
fundamenta o segundo. A teoria da computação
tem seu desenvolvimento próprio e independente,
em boa parte, na tecnologia. Essa teoria baseia-se
na definição e construção de máquinas abstratas, e
no estudo do poder dessas máquinas na solução de
problemas (FILHO, 2007, p.13).
O autor explica que a preocupação constante de minimizar o
esforço repetitivo produziu o desenvolvimento de máquinas, como o
computador, que passaram a substituir os homens em determinadas
tarefas. Ele acrescenta que um marco para a computação foi o
aparecimento da noção de número natural, passando pela notação
aritmética e pela notação mais vinculada ao cálculo algébrico. Isso fez
surgir regras fixas que permitiram computar com rapidez e precisão.
Como destacam Asa Briggs e Peter Burke (2006, p. 273), “logo que
deixaram de ser consideradas máquinas de calcular ou úteis acessórios
de escritórios, nos anos 1970, os computadores passaram a fazer com
que todos os tipos de serviços, e não somente os de comunicações,
tomassem novas formas”.
3.2 - Ciber, o espaço do homem e da máquina
O encontro dos computadores pessoais com a internet, que nasceu
nos EUA nos anos 1960, solidificou um ambiente novo, com valor
incalculável para o desenvolvimento da comunicação e da própria
humanidade: o ciberespaço. Como lembra Santaella (2004), não há um
consenso sobre o sentido a ser dado a ciberespaço. Entretanto, destaca a
autora, a maioria dos estudiosos concorda que, no seu sentido mais
amplo, se refere a um sistema de comunicação eletrônica global que
reúne humanos e computadores em relação simbiótica que cresce graças
à comunicação interativa.
Ciberespaço é um espaço informacional, no qual
os dados são configurados de tal modo que o
usuário pode acessar, movimentar e trocar
informação com um incontável número de outros
usuários. O ciberespaço inclui, portanto, todas as
modalidades de uso que as redes possibilitam, de
modo que a realidade virtual é apenas a extensão
última desse processo até o ponto de produzir um
grau de imersão sensória total no ambiente
simulado. Em síntese, ciberespaço será
74
considerado como todo e qualquer espaço
informacional multidimensional que, dependendo
da interação do usuário, permite a este o acesso, a
manipulação, a transformação e o intercâmbio de
seus fluxos codificados de informação. Assim
sendo, o ciberespaço tem a dimensão que se abre
quando o usuário conecta-se com a rede. Esse
espaço também inclui os usuários dos aparelhos
sem fio, na medida em que estes permitem a
conexão e troca de informações. O ciberespaço é
um espaço feito de circuitos informacionais
navegáveis (SANTAELLA, 2004, p. 45).
Lévy (1996, p. 47) acrescenta que o avanço do ambiente virtual,
aquele que “não é falso ou imaginário, mas a dinâmica mesma do
mundo comum, através do qual compartilhamos uma realidade”, coloca
o computador no centro da relação humana moderna.
No limite, só há hoje um único computador, um
único suporte para texto, e tornou-se impossível
traçar seus limites, fixar seu contorno. É um
computador cujo centro está em toda parte e a
circunferência em nenhuma, um computador
hipertextual, disperso, vivo, pululante, inacabado,
virtual, um computador de Babel: o próprio
ciberespaço (Ibid, p. 47).
O autor enfatiza que o ciberespaço é um espaço não físico ou
territorial, que se compõe de um conjunto de redes de computadores
através das quais as informações circulam.
O espaço cibernético é um terreno onde está
funcionando a humanidade, hoje. É um novo
espaço de interação humana que já tem uma
importância enorme, sobretudo no plano
econômico e científico e, certamente, essa
importância vai ampliar-se e vai estender-se a
vários campos, como na Pedagogia, Estética, Arte
e Política. O espaço cibernético é a instauração de
uma rede de todas as memórias informatizadas e
de todos os computadores (Ibid, p. 35).
75
Um dos resultados dessa interação entre homens e máquinas em
rede é o que Lévy (1994, p. 28) classifica de inteligência coletiva,
aquela “distribuída por toda parte, que resulta em uma mobilização
efetiva das competências”. Segundo o autor (Ibid, p. 209), “ao
coordenar suas inteligências e imaginações, os membros dos coletivos
inteligentes provocam a abundância dos melhores, inventam um melhor
sempre novo e em toda parte variado”. De tal processo, baseado nas
“autoestradas da informação”, “emerge um novo meio de comunicação,
de pensamento e de trabalho para as sociedades humanas”.
Do ponto de vista etimológico, cabe destacar que cyber vem do
grego, e quer dizer controle. Espaço carrega a ideia principal de lugar. O
termo foi empregado pela primeira vez por Gibson (1984), que
considera o ciberespaço uma representação física e multidimensional do
universo abstrato da informação, um lugar para onde se vai com a
mente, catapultada pela tecnologia, enquanto o corpo fica para trás. Ao
narrar as aventuras de Case, seu personagem em Neuromancer, ele
contextualiza a expressão:
No monitor Sony, uma guerra do espaço
bidimensional desaparecia atrás de uma floresta
de brotos gerados matematicamente,
demonstrando as possibilidades espaciais das
espirais logarítmicas; e então entrou uma
filmagem militar azulada, com animais de
laboratório plugados a sistemas de controle,
capacetes controlando circuitos de comando de
tanques e aviões de combate: o cyberespaço. Uma
alucinação consensual vivida diariamente por
bilhões de operadores autorizados, em todas as
nações, por crianças aprendendo altos conceitos
matemáticos. Uma representação gráfica de dados
abstraídos dos bancos de dados de todos os
computadores do sistema humano. Uma
complexidade impensável. Linhas de luz
abrangendo o não-espaço da mente; constelações
infindáveis de dados. Como marés de luzes da
cidade (GIBSON, 1984, p. 67-68).
Antes, porém, já se havia feito menção ao termo cibernética. Foi
na década de 1940, pelo físico Norbert Wiener, significando ciência do
controle e da comunicação entre os seres vivos e as máquinas. A partir
76 daí, destaca Monteiro (2007), o prefixo ciber passou a ser usado para
designar termos relacionados à computação.
O ciberespaço não é algo que se possa medir, como um lote no
campo. Os autores costumam dizer que ele é caracterizado pela não-
espacialidade, estendendo-se por uma dimensão infinita ligada à
globalidade dos usuários da rede. Lemus (2003) diz que o potencial do
ciberespaço está em sua capacidade de criar uma comunicação ágil, livre
e social que pode ajudar na democratização dos meios de comunicação,
assim como dos espaços tradicionais das cidades. Desse modo, os
cidadãos poderiam debater seus problemas de forma coletiva,
incentivando o debate, a tomada de posição política e social.
Ao relacionarmos ciberespaço e jornalismo, temos o
ciberjornalismo, que muitos autores defendem como um novo
jornalismo. Há quem o diferencie com variantes como jornalismo
online, jornalismo digital e webjornalimo. Apesar de reconhecer que há
particularidades, acreditamos que, em essência, todos resumem-se a um
só jornalismo, aquele tem a função de informar, independentemente da
plataforma, e que, na ótica do interesse pela notícia, nos acompanha
desde a pré-história, como mencionado no primeiro capítulo.
Scolari (2008), citando Landow (2003), destaca um pensamento
bem equilibrado sobre o conflito entre o velho e o novo, comum diante
de cada invento e, no caso dos jornais, especialmente forte desde o
encontro entre os meios impressos e os digitais, nos anos 1990.
Cada inovação tecnológica tende a ser (mal)
interpretada frente às velhas tecnologias. Enfatizar
a continuidade pode nos deixar cegos diante das
possibilidades e benefícios de uma inovação. Sim,
é mais fácil entender um carro como fora um
carro sem cavalos ou ver os computadores como
máquinas de escrever. Mas a nossa tendência de
colocar o vinho novo em garrafas velhas, tão
comum nas primeiras fases de uma inovação
tecnológica, tem um custo elevado: pode esconder
elementos diferenciadores e nos fazer
contextualizar fenômenos novos de maneira
inapropriada (LANDOW, 2003, p. 35, apud
SCOLARI, 2008).
Smith (2010), para quem a transformação que se observa
atualmente já se viu em outros momentos, em outros veículos, como o
77 rádio e a televisão, também prega cautela ao se avaliar uma novidade
tecnológica. Para ele, a transformação atual, como as do passado,
emerge das novas necessidades dos leitores e das sociedades, que
influem na forma das novas tecnologias. O autor acrescenta que os sites
de internet tendem a copiar o jornalismo que já existe. Contudo, pondera
que a internet facilita a entrada (do pensamento) no mercado por seu
caráter democrático.
Dentro do que consideramos particularidades do jornalismo no
ciberespaço estão temas como ritmos produtivos e convergência de
redações. Aqui, a título de informação, decidimos compartilhar
definição de Schwingel (2012):
Ciberjornalismo é a modalidade jornalística no
ciberespaço, fundamentada pela utilização de
sistemas automatizados de produção de conteúdos
que possibilitam a composição de narrativas
hipertextuais, multimídias e interativas. Seu
processo de produção contempla a utilização
contínua, o armazenamento e recuperação de
conteúdos e a liberdade narrativa com a
flexibilização dos limites de tempo e espaço, e
com a possibilidade de incorporar o usuário nas
etapas de produção. Os sistemas de gerenciamento
e publicação de conteúdos são vinculados a
bancos de dados relacionais e complexos
(SCHWINGEL, 2012, p. 37).
Segundo a autora, há oito princípios para a composição do
ciberjornalismo: 1) multimidialidade, 2) interatividade, 3)
hipertextualidade, 4) customização de conteúdos, 5) memória, 6)
atualização contínua, 7) flexibilização dos limites de tempo e espaço
como fator de produção, e 8) uso de ferramentas automatizadas no
processo de produção.
Zamora (2002), citada por Schwingel, enumera como elementos
do jornalismo digital: 1) leitura não sequencial, 2) estar em rede
mundial, 3) ser instantâneo, 4) atualizável, 5) ter interatividade, 6)
profundidade, 7) personalidade, 8) disponibilidade, 9) multimídia, 10)
confiabilidade, 11) novo desenho, 12) serviços gratuitos, 13) nova
retórica, e 14) estar na tela.
Em nossa avaliação, a lista de Salaverría (2005, p. 25) é
conveniente para elencar as características do jornalismo na internet. Ele
78 considera que é preciso interatividade, hipertextualidade,
multimidialidade e instantaneidade, e define ciberjornalismo como a
“especialidade do jornalismo que emprega o ciberespaço para investigar,
produzir e, sobretudo, difundir conteúdos jornalísticos”.
Antes de abordarmos cada uma das quatro características
mencionadas por Salaverría, consideramos importante demarcar o início
do jornalismo na internet, que, como vimos anteriormente, só foi
popularizado nos anos 1990.
Há alguma divergência acerca do primeiro jornal na internet,
embora existam duas hipóteses mais aceitas. A primeira foi descrita
Dizard (2000), para quem o primeiro jornal da rede foi o Columbus
Dispath, dos EUA, que disponibilizou conteúdo na web em 1992. A
outra, pontua Schwingel (2012), diz que o primeiro site jornalístico foi
lançado em 1993, na faculdade de Jornalismo e Comunicação da
Flórida.
No Brasil, as empresas de comunicação
começaram a investir na internet em 1994, quando
o Ministério das Telecomunicações e o da Ciência
e Tecnologia discutiram possibilidades para a
liberação do acesso comercial da rede e
começaram testes comerciais com linhas discadas
(...). O Grupo Estado foi um dos primeiros a usar
a web em parte de seus serviços (SCHWINGEL,
2012, p. 29).
Mais importante do que as discussões acerca do pioneirismo
mundial e brasileiro na internet, é a forma como ela foi empregada. E
nisso há consenso entre os pesquisadores: no início (primeira fase), os
jornais fizeram uma transposição de conteúdo do meio impresso ao
meio digital. Depois, como lembra Conde (2013), chegaram elementos
como links e e-mail (segunda fase), os conteúdos exclusivos (terceira
fase) e as bases de dados (quarta fase).
Nesse cenário, cabe acrescentar a visão de Zamith (2011), para
quem o texto digital deve ser produzido originariamente para o meio
eletrônico e não deve em nenhum caso constituir uma mera transposição do meio impresso para o digital. O autor considera que limitar-se a (re)
transmitir na internet um noticiário de rádio ou de televisão, por mais
útil e ajuizado que isso seja, é utilizar o novo meio só como suporte de
difusão, desvalorizando a multiplicidade de características e de
possibilidades expressivas e comunicativas da rede.
79
A internet não só abarca as capacidades dos
velhos media (texto, imagens, gráficos, animação,
áudio, vídeo, distribuição em tempo real) como
oferece um largo espectro de novas capacidades,
incluindo a interatividade, controle por parte do
utilizador e personalização (PAVLIK, 2001, p.3).
Zamith (2011, p. 4) acredita que “o ciberjornalismo atual vive no
duplo embaraço de não encontrar um modelo de negócio sólido que o
viabilize e, simultaneamente, de ver parte do seu território invadido por
novos atores, muitos dos quais desconhecedores e/ou desrespeitadores
da função social e das normas éticas da atividade”. No entender do
autor, “são os próprios fundamentos do jornalismo que estão sendo
postos em causa. E um desses fundamentos é a obrigação de colocar o
fato em contexto, tarefa facilitada pelas potencialidades da internet, mas
nem sempre executada”.
3.3 - A interatividade
A aproximação entre emissor e receptor da mensagem talvez seja
o fato mais acentuado do jornalismo em meios digitais. O que outrora
fora feito por cartas em seções do leitor, agora se faz via online. Não à
toa, a interatividade é considerada de forma quase unânime como um
traço definidor desse jornalismo reconfigurado.
Salaverría (2005, p. 34-35) destaca quatro tipos de interatividade:
conversacional (a mais plena), de transmissão (só permite ativar ou
cancelar uma emissão de mensagem), de consulta (o usuário escolhe
entre um menu de alternativas) e de registro (pela qual os meios
entendem e se adaptam aos usuários).
Santaella (2004, p. 155), por sua vez, distingue três modalidades
de interatividade: de seleção (consiste, por exemplo, tocar nas teclas de
um videocassete para fazer avançar as imagens), de conteúdo (oferece
ao usuário a ocasião para modificações simuladas do conteúdo de
imagens ou mesmo criação de imagens), e interações mistas (quando
existe mais facilidade de acesso e de consulta).
Zamith (2011) lembra que a interatividade não nasceu com a
internet. Ela já estava presente no rádio e na televisão, apesar de
normalmente limitada a curtas intervenções, muito condicionadas pelos
temas escolhidos e coordenados pelo moderador do debate.
80
Na internet, as possibilidades de interação dos
visitantes, quer entre si, quer com os jornalistas,
são maiores, podendo assumir a forma de
comentários publicados junto às notícias, troca de
emails entre utilizadores e jornalistas, fóruns de
discussão, salas de comunicação instantânea,
inquéritos ou sistemas de votação/valoração dos
conteúdos. Paralelamente, o cibermeio pode
permitir que o utilizador participe ativamente no
processo de construção noticiosa, nomeadamente
através do envio ou publicação de informações,
correções, notícias ou reportagens, em texto,
fotografia e ou vídeo. A abertura ou não do
cibermeio à publicação de conteúdos gerados por
utilizadores tem suscitado grande controvérsia
(ZAMITH, 2011, p. 28).
Salaverría (2005, p. 14-15) destaca que, fora do campo
tecnológico operacional, o debate em torno da interatividade se mantém
em torno destas questões: 1) qual a contribuição dos cidadãos na
construção da atualidade, 2) os conteúdos gerados pelos utilizadores
melhoram a qualidade geral do trabalho jornalístico, 3) em que medida
as utopias democráticas que transporta a interatividade se refletem na
realidade cotidiana do trabalho jornalístico, 4) como incentivar a
participação dos utilizadores e assegurar a qualidade da produção de
conteúdos de atualidade, 5) qual o papel do jornalista na era do
jornalismo participativo, 6) até que ponto podem os jornalistas cidadãos
desempenhar as funções clássicas dos jornalistas nas redações: repórter,
cronista, entrevistador, editor, comentador e editorialista, 7) pode o
utilizador, ou o conjunto de utilizadores, participar em todas as fases do
processo noticioso: seleção de temas, recolha de dados, edição e
publicação, 8) podem as contribuições dos cidadãos chamar-se
jornalismo, 9) deve o jornalista ou o meio conservar o papel de
gatekeeper, 10) devem pagar-se as contribuições dos utilizadores?
A ideia de interatividade não pode estar associada só aos
computadores, defende Primo (2003). Segundo o autor, o adjetivo
interativo sempre serviu para qualificar qualquer sistema cujo
funcionamento permita ao usuário algum nível de participação.
Silva (1998) nota certa banalidade no termo. Ele cita exemplos
fora do mundo dos computadores:
81
Os exemplos são abundantes. O cinema cujas
cadeiras balançam sincronizadamente com o filme
exibido é chamado de cinema interativo.
Interativo apenas porque as cadeiras balançam,
mas ninguém está interagindo com coisa alguma.
Na televisão, quando um programa supõe
respostas dos telespectadores por telefone, é
chamada de tv interativa. Interativa somente
porque as pessoas respondem x ou y, sim ou não.
No teatro, quando os atores se envolvem
diretamente com pessoas da plateia, previamente
preparadas ou não, é teatro interativo (SILVA,
1998, p. 35).
O conceito de interação é usado em outras áreas do
conhecimento, que não a informática, observa Silva (1998). Na física,
refere-se ao comportamento de partículas cujo movimento é alterado
pelo movimento de outras partículas. Em sociologia e psicologia social a
premissa é: nenhuma ação humana ou social existe separada da
interação, conceito que para o setor designa a influência recíproca dos
atos de pessoas ou grupos.
Contudo, no âmbito tecnológico, o conceito de interatividade é
recente. Pode ter surgido no final dos anos 1970 e início da década de
1980 no contexto das novas engenharias de informação. Um dado que
permite esta afirmação é a ausência do termo nos dicionários de
informática até meados dos anos 1980, avalia Silva (Ibid).
De modo geral, autores, artistas e tecnólogos não têm feito
diferença entre interação e interatividade. E há os que dizem que
interação refere-se a relações humanas, enquanto interatividade está
restrita à relação homem-máquina (tecnologias, equipamentos, sistemas,
no sentido do sistema hipertextual, da tecnologia informática).
Manovich (2005, p. 55) diz que evita usar a palavra interativo sem
qualificação porque “o conceito se tornou tão vasto a ponto de não ser
mais útil”.
3.4 - O texto em camadas
Hipertexto e internet são elementos aparentemente fundidos na
chamada era da informação. Mas não se pode pensar que o texto com
hiperlinks, que torna a navegação sem rumo, tenha nascido com a rede
82 mundial de computadores. Como mostra Scolari (2008), as raízes do
hipertexto estão em pergaminhos da Europa Medieval.
Para o pesquisador argentino radicado espanhol, as anotações nas
laterais dos textos principais funcionavam como comentários que
orientavam o leitor, e os desenhos traziam informações adicionais. Essa
lógica se assemelha à encontrada atualmente nas redações, em que o
jornalista usa uma série de matérias linkadas para oferecer todos os
elementos acerca do assunto, muitas vezes descontextualizando o texto
principal.
A ideia de hipertexto foi descrita pela primeira vez pelo físico e
matemático Vannevar Bush no artigo As We May Think (1945). Ele
dizia que a maior parte dos sistemas de indexação de informações na
comunidade científica é artificial, que cada item é classificado apenas
por uma única rubrica, que a ordenação é puramente hierárquica
(classes, subclasses etc) e que a mente funciona por associações.
Entretanto, o termo só foi cunhado em 1965, por Ted Nelson,
para designar a escrita e a leitura não linear dos sistemas de
computadores. Nos anos 1990, Lévy explica, de forma muito clara,
como se deve entender este novo conceito:
Tecnicamente, um hipertexto é um conjunto de
nós ligados por conexões. Os nós podem ser
palavras, páginas, imagens, gráficos ou parte de
gráficos, sequências sonoras, documentos
complexos que podem eles mesmos ser
hipertexto. Os itens de informação não são ligados
linearmente, como numa corda com nós, mas cada
um deles, ou a maioria, amplia as suas conexões
em estrela, de modo reticular. Navegar num
hipertexto significa, portanto, desenhar um
percurso numa rede que pode ser tão complicada
quanto possível. Porque cada nó pode, por sua
vez, conter uma rede inteira (LÉVY, 1993, p. 33).
Noci e Salaverría (2003, p. 117) destacam que “o hipertexto pode
ser entendido como uma forma de discurso que se constrói a partir da
combinação de diversos textos”, não necessariamente linkados. Significa que podemos encontrar hipertexto na literatura (nas notas de
rodapé), nos textos acadêmicos e científicos (com as referências a
fontes) e no jornalismo (com citações do tipo leia mais ao lado).
83
Bertocchi (2007, p. 134-137, apud Zamith, 2011) destaca dois
grandes grupos de ações habitualmente dadas ao conceito de hipertexto:
associação e conexão. No primeiro, o hipertexto “trabalha mais por
associação do que por indexação; é um formato para a representação
não-sequencial de ideias; implica a abolição da linguagem tradicional,
linear, a apresentação e processamento da informação; é não linear e
dinâmico; apresenta um conteúdo que não está limitado pela estrutura e
organização”. No segundo, “é uma forma de documento eletrônico; é
uma abordagem à gestão da informação em que os dados estão
armazenados numa rede de nós e links (pode ser visto através de
navegadores e manipulado por programas de edição); conota uma
técnica para organizar informação textual de um modo complexo, não
linear, para facilitar a exploração rápida de grandes corpos de
conhecimento”. “Trata-se de uma base de dados hipertextual que
apresenta uma interface para permitir ao utilizador navegar por tal base,
passar pelos links desejados, explorando novas áreas de interesse; para
existir exige a presença simultânea de três elementos: nós (unidades
semânticas), associações conectando todos os nós (hiperligações) e uma
interface digital interativa”.
Para muitos estudiosos, o termo hipertexto vem antes do termo
hipermídia, frequentemente relacionados nos estudos acerca do
jornalismo no ciberespaço. O segundo se destaca do primeiro por
agregar novos conteúdos, segundo Negroponte (1995).
A hipermídia é um desenvolvimento do
hipertexto, designando a narrativa com grau de
interconexão, a informação vinculada (...). Pense
na hipermídia como uma coletânea de mensagens
elásticas que podem ser esticadas ou encolhidas
de acordo com as ações do leitor. As ideias podem
ser abertas ou analisadas com múltiplos níveis de
detalhamento (NEGROPONTE, 1995, p.71).
Feldman (1995, p. 4), citado por Santaella (2004, p. 48),
acrescenta que hipermídia significa “a interação sem suturas de dados,
textos e imagens de todas as espécies e sons dentro de um único
ambiente de informação digital”. O autor entende que “a hipermídia
mescla textos, imagens fixas e animadas, vídeos, sons, ruídos em um
todo complexo”. Ela configura-se por “esta mescla de vários setores
tecnológicos e várias mídias anteriormente separadas e agora
convergentes em um único aparelho, o computador, que é comumente
84 referida como convergência de mídias”. A hipermídia não é feita para
ser lida do começo ao fim, destaca, mas sim por meio de buscas,
descobertas e escolhas. “Hipermídia significa, sobretudo, enorme
concentração de informação. Ela pode consistir de milhares de nós, com
uma densa rede de nexos”.
Para Santaella (Ibid) há quatro traços marcantes da hipermídia: 1)
hibridização de linguagens (processos de sinais, códigos e mídias que a
hipermídia aciona), 2) capacidade de armazenar informação, 3)
cartograma navegacional e 4) linguagem interativa.
3.5 - Mídia múltipla e convergente
O termo multimídia existe desde os anos 1970, quando os EUA
criaram um simulador militar após tropas israelenses atacarem um
aeroporto de Uganda para resgatar reféns de terroristas pró-Palestina,
destaca Negroponte (1995, p. 68). Foi incorporado ao jornalismo a partir
dos anos 1990, com o início do processo que prevê a produção de
conteúdo jornalístico em texto, som e imagem para a internet. Como
observa Palácios (2002, p. 5), quando falamos de multimidialidade
estamos nos referindo “à convergência dos formatos dos media
tradicionais (imagem, texto e som) na narração do fato jornalístico”.
Salaverría (2010, p. 42-59) diz que “convergência, no mundo
jornalístico profissional, refere-se aos processos de integração das
redações, uma solução logística para a adaptação no mundo digital e
aumentar a produtividade”. No campo acadêmico, define que é “um
processo multidimensional que, facilitado pela implantação das
tecnologias digitais de comunicação, afeta os âmbitos tecnológico,
empresarial, profissional e editorial”, proporcionando “uma integração
de ferramentas, espaços, métodos de trabalho e linguagens”.
Para o autor, o marco estrutural da convergência é dividido em
três áreas fundamentais: tecnológica, empresarial e profissional.
A tecnológica está ligada às adaptações dos jornais e sempre
existiu porque “a história do jornalismo sempre esteve vinculada desde
suas origens às inovações tecnológicas”. No início, “o intervalo de
tempo entre cada descobrimento e sua correspondente implementação
jornalística tendia a ser grande”, o que não se percebe agora:
Esta apressada implementação das tecnologias
digitais está delegando ao jornalismo mudanças
rápidas e abruptas, difíceis de digerir em tão
pouco tempo. Rotinas produtivas e perfis
85
profissionais consolidados nos meios durante
décadas têm entrado em crise, e isso explica seus
problemas de adaptação ao novo entorno
tecnológico. Mais complicados são os modelos de
negócio para o jornalismo compatível com as
dinâmicas do uso da internet, onde está a
comunicação multidirecional, e o acesso gratuito.
Por isso, é habitual encontrar resistências a esta
transição (SALAVERRÍA, 2010, p. 33).
O espanhol diz que as ferramentas atuais obrigam mudanças no
processo de produção e entrega, já que os aparelhos cada vez menores e
mais rápidos, como os celulares, permitem a leitura em qualquer lugar e
atualizada a todo tempo.
A convergência empresarial é fruto da tecnológica, observa o
autor, porque as “empresas precisam reconfigurar suas estruturas e
processos de produção para responder aos desafios de um mercado de
comunicação regido por novas regras” (Ibid). O autor diz que, nesse
estágio, há duas estratégias de desenvolvimento: a centrífuga e a
centrípeda. A centrífuga consiste na diversificação midiática. Tal
processo começou nos anos 1990 e produziu empresas que compraram
outras ou se reinventaram para estar em múltiplas plataformas, com
presença em negócios editoriais, audiovisuais e de internet. A centrípeta
tem relação com a concentração de veículos em determinadas regiões, o
que afeta a democracia.
A convergência profissional, enfatiza o espanhol, interfere no
perfil de quem exerce a profissão, que precisa se adaptar aos novos
marcos tecnológicos e logísticos.
Estas mudanças mostram um denominador
comum: a crescente polivalência. Os jornalistas
que se acostumaram a desempenhar uma única
tarefa, como redação, foto ou infografia, para um
único meio começaram a ser uma ave rara do
passado. As empresas jornalísticas atuais buscam
profissionais capazes de assumir distintas tarefas e
com versatilidade para trabalhar em diferentes
meios de produção (SALAVERRÍA, 2010, p. 36).
Scolari (2008, p. 207) acrescenta que, no ambiente da
convergência jornalística, o profissional deve ter pelo menos três
polivalências: funcional ou tecnológica (base do profissional
86 multimídia), temática (sai de cena o setorista e entra o generalista) e
midiática (trabalha para vários meios ao mesmo tempo).
Barbosa (2009, p. 2) entende que “a convergência jornalística é
um processo sujeito a gradações e em evolução contínua, em que o fator
tecnológico é primordial, mas não o único a desencadeá-la”.
O que caracteriza a convergência jornalística é a
integração entre os meios distintos; a produção do
conteúdo dentro do ciclo contínuo 24/7;
reorganização das redações; jornalistas capazes de
tratar a notícia de maneira correta para impresso,
web, plataformas móveis; introdução de novas
funções além de habilidades multitarefas para os
jornalistas; comunidade/audiência ativa atuando
segundo o modelo pro-am (profissionais em
parceria com amadores); interatividade, hipertexto
e hipermídia para a criação de narrativas
jornalísticas originais (BARBOSA, 2009, p.3).
Erdal (2009, p. 216) acrescenta que o “jornalismo para múltiplas
plataformas tem sido chamado de jornalismo multimídia” e “a
convergência refere-se à comunicação ou produção onde duas ou mais
plataformas midiáticas se envolvem de maneira integrada”.
Para Kolodzy (2006, p. 7), o “jornalismo do futuro vai envolver
todo tipo de mídia: velha e nova, de nicho e de massa, pessoal e global,
envolvendo contação de histórias que combinem texto, foto e som. E
isso será impulsionado não só pelos jornalistas, mas pelas audiências,
como já se percebe hoje”. A autora entende que convergência “é ser
flexível o suficiente para produzir notícias e informações para qualquer
um, a qualquer hora, em todo o tempo e em qualquer lugar sem
abandonar os valores jornalísticos”.
Convergência de mídias é um processo contínuo,
que ocorre em várias intercessões das tecnologias
de mídia, indústria, conteúdo e audiência; não é
um estágio final. Convergência tecnológica
envolve a vinda de diferentes equipamentos e
ferramentas para a produção e distribuição de
notícias. Convergêcnia de conteúdo jornalístico
envolve trabalho jornalístico em diferentes mídias
convergindo para a produção de um produto
diferente para diferentes audiências. A
87
convergência de conteúdos abraça as demais ao
entregar um produto novo, que reúne texto,
imagem (estática ou movimento) e som. Ganha
espaço o conceito de informação (Ibid, p. 4-5).
Dentro das discussões acerca de convergência, a reorganização
ou integração das redações online e offline é tema recorrente. Tal
processo, ainda em curso, começou no início dos anos 2000. Saad
Corrêa (2008, p. 42-43), citada por Barbosa (2009) lembra que “uma
primeira onda de reconfiguração das redações ocorreu em empresas
informativas europeias dos países nórdicos e experiências pontuais em
empresas norte-americanas como o Orlando Sentinnel, na Flórida”. A
fusão do impresso e do online no New York Times, em agosto de 2005, e
a decisão do inglês Daily Telegraph, em 2006, em construir uma nova
redação integrada, parecem ter sido marcantes no desencadeamento
desta onda recente, diz a autora.
Para Jenkins (2006, p. 27-28), “a convergência não deve ser
compreendida só como um processo tecnológico que une múltiplas
funções dentro do mesmo aparelho”, mas algo que “represente uma
transformação cultural, à medida que os consumidores são incentivados
a procurar novas informações e fazer conexões em meio a conteúdos
midiáticos dispersos”. O autor entende que “próximo estágio da
evolução vai da mídia interativa para participativa” porque “a circulação
de conteúdos, por meio de diferentes sistemas midiáticos, sistemas
administrativos de mídias concorrentes e fronteiras nacionais, depende
fortemente da participação ativa dos consumidores” (Ibid).
Os velhos meios de comunicação nunca morrem,
nem desaparecem, necessariamente. O que morre
são as ferramentas que usamos para acessar seu
conteúdo (...). Cada antigo meio foi forçado a
conviver com os meios emergentes. É por isso que
a convergência parece mais plausível como uma
forma de entender os últimos 10 anos de
transformações dos meios do que o velho
paradigma da revolução digital. A convergência
das mídias é mais do que uma mudança
tecnológica. A convergência altera a relação entre
tecnologias existentes, indústrias, mercados,
gêneros e públicos. Ela modifica a lógica pela
qual a indústria midiática opera e pela qual os
consumidores processam a notícia e o
88
entretenimento. A convergência é uma mudança
no modo como encaramos nossas relações com as
mídias (JENKINS, 2006, p. 39-49).
Negroponte (1995) acredita que os meios de comunicação de
massa evoluirão até se tornarem um canal personalizado, com
informação circulando nos dois sentidos”. E Kellner (2001, p. 26-27)
enfatiza que “a cultura da mídia é a cultura dominante hoje em dia”, e
que, “com o advento da cultura da mídia, os indivíduos são submetidos
a um fluxo sem precedentes de imagens e sons dentro de sua própria
casa, e a um novo mundo virtual de informação, que está reordenando
percepções de espaço e tempo, anulando distinções entre realidade e
imagem, enquanto produz novos modos de experiência e subjetividade”.
Salaverría lembra que a expressão convergência não é algo que
nasceu no jornalismo digital. Surgiu no começo do século 18, no campo
da biologia, quando William Derham (1657-1735) usou os termos
convergência e divergência para descobrir os mecanismos adaptativos
da visão em distintos animais. No século 19, o conceito de convergência
foi assumido por teóricos da Matemática. Até Charles Darwin (1819-
1882) usou-o na teoria da origem das espécies. Nos meios de
comunicação, a literatura acadêmica descreve o tema desde os anos
1970, mas só depois de 1990, por causa das tecnologias digitais, ganhou
mais projeção.
3.6 - O fetiche do agora
Com o predomínio do jornalismo na internet, a ideia de
fechamento ou dead line nos jornais vem sendo repensada. E isso pode
ser bom, levando-se em conta o fato do instantâneo e da atualização
contínua; ou ruim, se considerarmos que muitos sites, ao publicar várias
pílulas noticiosas do mesmo tema, esquecem de agrupar o assunto em
uma matéria consolidada e contextualizada, o que as versões impressas
costumam fazer bem.
Salaverría (2005, p. 19) destaca que a instantaneidade foi sendo
incorporada ao noticiário na internet, e atualmente é importante na
cobertura de fatos imprevistos (acidentes, catástrofes naturais ou
atentados) e acontecimentos programados (competições esportivas,
conferências de imprensa). O espanhol recorda que “as primeiras
publicações jornalísticas na rede mantiveram uma periodicidade
89 inadequada, renovando conteúdos apenas uma vez por semana ou uma
ou duas vezes por dia, sempre à mesma hora”.
A instantaneidade dos dias atuais sublinha o ideal de
periodicidade pensado por Groth (1965), o primeiro a defender uma
ciência do jornalismo19
. Para o autor, a periodicidade não deveria
limitar-se a intervalos iguais entre os números de um jornal, mas guiar-
se pela “sucessão mais rápida possível da nova edição”.
A internet tem se mostrado eficiente em atualização, a ponto de
isso às vezes ser encarado como problema. Moretzsohn (2002) avalia
que há certa irracionalidade no conceito de atualidade, uma vez que,
aparentemente, na web, “o chegar antes parece mais importante que a
qualidade”. Outro problema ampliado pela rede é o que considera
“comprometimento dos ideais iluministas da verdade e imparcialidade
do trabalho jornalístico”, na medida em que esse ideal “se perde diante
da imposição da instantaneidade como valor fundamental”. A autora
chama de fetiche a aparente necessidade de chegar na frente ante dizer a
verdade.
Palácios (2004, p. 4) entende que “a rapidez do acesso,
combinada com a facilidade de produção e disponibilização, propiciadas
pela digitalização da informação e pelas tecnologias telemáticas, permite
uma extrema agilidade de atualização do material nos jornais da web”.
Para o autor, “isso possibilita o acompanhamento contínuo em torno do
desenvolvimento dos assuntos jornalísticos de maior interesse”.
Mielniczuk (2002, p. 7) define instantaneidade como “uma
característica que assume outra dimensão na web”. Segundo a autora,
rádio e televisão são veículos instantâneos por causa da possibilidade de
entradas ao vivo, mas essa informação extra se desprende do todo. No
ambiente digital, “o material fica disponível, acumulando-se a cada
novo bloco de texto, para formar uma única narrativa sobre determinado
fato”.
19
O autor assinala quatro elementos básicos aos jornais: periodicidade,
atualidade, universalidade e difusão. Para o autor, periodicidade não se limita ao
tempo de publicação de um determinado número, mas como o jornalismo
interfere no ritmo de vida das pessoas, representando, inclusive,
comportamentos e padrões econômicos, políticos, sociais, culturais e
psicológicos. A universalidade refere-se à abrangência e à heterogeneidade com
que o jornalismo seleciona e apresenta os fatos. A atualidade diz respeito aos
fatos novos. A difusão corresponde ao acesso do público à informação.
90
Adghirni (2002, p. 2) lembra que “o desenvolvimento das
tecnologias de comunicação permitiu a instalação de novos circuitos de
informação rápidos e eficazes. A circulação da informação em redes
globalizadas altamente velozes introduziu no jornalismo a noção de
tempo real”. A partir de então “os jornais passaram a funcionar como
agências de notícias que despejam informação em fluxo contínuo
diretamente para o público, que é convidado a reagir e a participar dos
acontecimentos”. No entender da autora, “isso dá à internet a
possibilidade de ser uma mídia realmente interativa nos processos de
comunicação”.
O tempo real materializa o conceito e turbina a
informação porque renova sua produção de forma
contínua. A noticia é produzida e multiplicada em
cadeia na medida em que o anúncio de um fato
novo ou de uma declaração tem repercussão na
sociedade e gera outras notícias. No início, o
tempo real era uma exclusividade para assinantes
que pagavam caro por este serviço. Para receber
as informações, o usuário deveria se conectar ao
servidor da empresa jornalística através de um
modem decodificador instalado no seu
computador. A agência Broadcast, do Grupo
Estado, foi pioneira neste tipo de informação e
hoje ainda é a mais importante agência de
notícias em tempo real para assinantes, na
área econômica (Ibid, p. 3).
3.7 - O leitor e o navegador
Santaella (2004) aponta que nossos hábitos de leitura derivam de
dois momentos: a chegada do conhecimento às universidades e a
Revolução Industrial. O primeiro está inserido entre o século 5, quando
os mosteiros e outros estabelecimentos eclesiásticos detinham o
monopólio da leitura, e o século 12, quando surgiram mudanças
intelectuais e sociais provocadas pela fundação das universidades e
desenvolvimento da instrução entre os leigos. O segundo é percebido a partir de 1750, com a industrialização, que transformou os hábitos de
leitura sobretudo pela revolução nos sistemas de impressão e
desenvolvimento da indústria do papel e o surgimento da publicidade.
91
A autora cita três tipos de leitores: o contemplativo, o movente e
o imersivo. O contemplativo, como sugere o nome, tem o hábito da
contemplação, da meditação, do livro impresso e da imagem expositiva.
Nasce no Renascimento e perdura até meados do século 19. A ideia de
leitura com os olhos vem desse tempo, quando o silêncio era obrigatório
nas bibliotecas das universidades --- o que era uma novidade
desconfortável tornou-se um hábito importante porque acelerou a leitura
e, consequentemente, o conhecimento. Foi nesse estágio também que
ocorreram mudanças significativas na forma da apresentação dos livros:
eles passaram a ser impressos em papel, que podia ser fabricado em
grandes quantidades, e depois passaram também a ter os primeiros
traços de diagramação, com contraste entre branco e preto, marcação
dos parágrafos e linhas. Segundo Santaella (2004, p. 22), isso produzia
uma leitura mais ágil, que permitia conexões intelectuais e nova forma
de raciocínio. De forma resumida, pode-se dizer que esse tipo de leitor é
aquele que lidou (lida) com objetos e signos duráveis, imóveis,
localizáveis e manuseáveis como livros, pinturas e mapas, e que, entre
seus sentidos, a visão é o que predomina.
O leitor movente é aquele que podemos chamar de filho da
industrialização e dos centros urbanos que se formaram a partir de
então, especialmente na Europa. Ele lê o mundo em movimento, mistura
signos. Nasce com a explosão do jornal impresso e com o universo
reprodutivo da fotografia e do cinema. Atravessa a era industrial e
mantém suas características básicas com a revolução eletrônica e o
boom da televisão. O hábito da leitura se dá em um ambiente dinâmico,
com comunicação acelerada pelo surgimento do telégrafo e do telefone.
Era um momento em que, ao se preocupar mais com as novidades e
adaptação nas cidades, o homem lentamente se desligava do passado. O
surgimento da publicidade se deu neste momento e contribuiu com a
proliferação de imagens e mensagens visuais, em um mundo de
produtos à venda, expostos ao desejo, como veremos melhor no
próximo capítulo.
O desenvolvimento da publicidade, depois da revolução, colocou
na vida cotidiana embalagens de produtos, cartazes e placas “em que
praticamos o ato de ler de modo tão automático que nem chegamos a
nos dar conta disso” (Santaella, 2004, p. 17). A impressão mecânica, aliada ao telégrafo e à fotografia, fez
surgir uma linguagem híbrida, acelerada, típica dos jornais, o primeiro
grande rival dos livros, que obrigou o leitor a ter novos ritmos de
atenção. Nesse contexto, aquele leitor do livro, que gostava de meditar,
92 observar, que não tinha urgências, aprende a conviver com o leitor
movente, o leitor de formas, volumes, massas de luzes que acendem e se
apagam.
O terceiro tipo de leitor, o imersivo, agrega tudo isso à
virtualidade. Ao lado da leitura da imagem estática, como desenho e
fotografia, e da leitura de jornal, revistas, signos urbanos, há o leitor
expectador da imagem em movimento, que convive com as imagens
evanescentes da computação gráfica e que manipula o texto em
superfícies eletrônicas. Como classifica a autora, o aspecto mais
espetacular da era digital está na conversão de qualquer tipo de
informação, seja em som, imagem ou texto, em bits.
A inscrição na tela cria uma organização e uma
estruturação do texto que não é de modo algum a
mesma com a qual se defrontava o leitor do livro
em rolo da Antiguidade ou o leitor medieval,
moderno e contemporâneo do livro manuscrito ou
impresso, onde o texto é organizado a partir de
sua estrutura em cadernos, folhas e páginas. O
fluxo sequencial do texto na tela, a continuidade
que lhe é dada, o fato de que suas fronteiras não
são mais tão radicalmente visíveis, como no livro
que encerra, no interior de sua em cadernação ou
de sua capa, o texto que ele carrega, a
possibilidade para o leitor embaralhar,
entrecruzar, reunir textos escritos na mesma
memória eletrônica: todos estes traços indicam
que a revolução do livro eletrônico é uma
revolução nas estruturas do suporte material do
escrito assim como nas maneiras de ler
(CHARTIER, 1998, p. 12-13, apud
SANTAELLA, 2004, p. 32).
O leitor imersivo navega em uma tela eletrônica, programando
leituras num universo de signos evanescentes e eternamente disponíveis.
Não é mais um leitor contemplativo que segue as sequências de um
texto, virando páginas, manuseando volumes, percorrendo com passos lentos a biblioteca. Mas um leitor em estado de prontidão, conectando-
se entre nós e nexos, num roteiro labiríntico que ele próprio ajudou a
construir ao interagir com os nós entre palavras, imagens,
documentação, músicas, vídeo etc.
93
Dos leitores contemplativo, movente e imersivo partimos para
uma classificação parecida, a dos navegadores da rede de comunicação.
Há três tipos: o novato, o leigo e o experto, segundo Santaella (2004).
Como indica o nome, os leigos são mais lentos e hesitantes do
que os demais. Para navegar, usam repetidamente operações de busca.
Avançam, erram e se autocorrigem seguidamente até encontrar uma
solução. Usuários irregulares, usam a rede poucas vezes por semana. E
sempre que o fazem, por insegurança na navegação, recorrem aos
mesmos percursos nos labirintos intermináveis da web.
Os novatos estão um passo a frente dos leigos, mas também
apresentam dificuldades. As características mais comuns são
desorientação diante da tela do computador, ansiedade e insegurança nas
operações de navegação e, em alguns casos, até impaciência em relação
ao tempo e atenção que seriam necessários para tentar compreender os
indicadores de navegação. Há entre eles uma tendência de abandonar as
operações no meio do caminho porque alguns mostram perplexidade
diante da tela. Os ícones de navegação os intimidam. É difícil saber o
que significam e por que estão ali.
O experto é o mais avançado dos três. Conhece as ferramentas
digitais e suas aplicações, e navega com velocidade e foco. Transita pela
rede com familiaridade em função da representação mental clara que
tem da estrutura, da qualidade e dos mecanismos de navegação. Diante
da máquina, tem estratégias precisas porque conhece o conjunto, o que
lhe permite tomar decisões rápidas.
Como observa Santaella (2004), os perfis dos navegadores leigo,
novato e experto fazem parte de uma esfera maior de pensamento e
correspondem aos três tipos de raciocínio humano descritos por Pierce
(1975): dedutivo, indutivo e abdutivo. Segundo a autora, o raciocínio
abdutivo é próprio do novato, que usa o método de tentativas, de erro e
acerto, ao navegar por territórios desconhecidos. O indutivo tem a ver
com o leigo, o internauta em processo de aprendizado. O dedutivo casa
com o experto, que já conhece as regras do jogo.
Para Pierce, citado por Santaella, a abdução consiste em, diante
de um fato surpreendente, chegarmos a uma hipótese que possa explicá-
lo (somos capazes de fazer inferências porque a passagem da premissa à
conclusão é auxiliada por um princípio-guia). A indução é um raciocínio que assume que aquilo que é
verdadeiro de uma coleção completa é também verdadeiro para um
número de exemplares que são extraídos dela. Isso também pode ser
chamado de argumento estatístico. Assim, a função da indução é
94 substituir para uma série de muitos objetos, apenas um que os engloba e
um número indefinido de outros.
A dedução comprova que um fato é como necessariamente é.
Nela, a mente está sob domínio de um hábito ou associação em virtude
do qual uma ideia geral sugere em cada caso uma reação correspondente
--- no sistema DOS, que predominava na computação antes do
lançamento do Mac, sobre o qual falamos no início do capítulo, se as
regras e os códigos não estivessem internalizados, não se conseguia
fazer nada com o computador.
95
4 - DA BELEZA
4.1 - O pensamento sobre o belo
A filosofia é o ponto de partida deste capítulo: de uma referência
ao belo, tema abordado por Platão mais de 300 anos a.C., seguiremos
até o design gráfico, que trata o título jornalístico como imagem. O que
é preciso para considerar algo bonito? O belo é instintivo? É o mesmo
que estética? E o gosto, o que é? Por que muda de uma pessoa para
outra?
Como vimos anteriormente, os títulos jornalísticos têm funções
técnicas (ligadas à escrita, com frases curtas e usuais) e estéticas
(ligadas à imagem, porque também foram pensados para dar harmonia
às páginas). As duas se juntaram no século 19, quando empresários da
imprensa norte-americana passaram a valorizar os títulos ao perceberam
que o aspecto visual influenciava na venda de jornais. Dito de outra
forma, quando descobriram que, nos jornais, o belo atraía o leitor ---
algo como ocorre com roupas, comida e parceiros.
Atualmente, funções técnicas e estéticas estão intimamente
ligadas, especialmente nos meios impressos, onde os títulos são
diagramados nas páginas sob o mantra “valorizar”, “blocar” e “alinhar”.
Nos meios digitais, devido à publicação contínua e apressada e os
limites técnicos das ferramentas de edição de homepage, não têm a
mesma ligação. Ou seja, o belo ainda é um desafio. Será que este
descuido estético impacta na venda de notícias?
A palavra estética vem grego aisthesism. Significa sentir. Não
com o coração ou sentimentos, mas com os sentidos, nossa rede de
percepções físicas. Com o passar do tempo, o termo tornou-se tão
utilizado que agora pode servir para qualificar tanto as filosofias do belo
quanto objetos inspirados na arte, como o design, nosso tema de
interesse aqui.
Na filosofia, o primeiro a empregar o termo estética foi
Alexander Gottlieb Baumgarten (1714-1762), aponta Santaella (1994).
Ele usou a palavra no texto Reflexões filosóficas sobre algumas questões pertencentes à poesia (1735), definindo-a como a ciência da percepção
em geral. Depois, Baumgarten ajustou a própria definição, chamando-a de perfeição da cognição sensitiva, que encontra na beleza seu objeto
próprio.
A primeira grande obra a dar forma e conteúdo à estética
filosófica foi Crítica e Julgamento (1790), do alemão Immanuel Kant
96 (1724-1804), acrescenta a autora (1994, p. 11). Trata-se de uma obra
que aborda temas acerca das regiões mais sensíveis do pensamento,
como o sentimento, o discurso e a ação.
Apesar de a palavra estética, em contexto filosófico, só ter
aparecido em 1735, questões relativas ao termo surgiram no mundo
grego20
. Platão (428-348 a.C.) foi o primeiro a desenvolver uma teoria
das artes inserida na filosofia do belo. Seus apontamentos são, até os
dias atuais, fundamentais para quem pesquisa nesta área. A teoria dele
tem dois conceitos básicos: o de mimese (ou imitação) e o de
entusiasmo criador. O primeiro é mais aplicável às artes visuais. O
segundo, às artes verbais e à música.
Platão concebia a arte como uma atividade prática qualquer, bem
diferente da ideia de inspiração ou sobrenatural que se tem hoje --- em
parte, essa visão atual tem elo com o Renascimento, nos séculos 12 e 13,
que aproximou mais o homem de si mesmo e de Deus.
Na concepção platônica, os trabalhos realizados com as mãos
eram vistos como inferiores frente aos produtos do intelecto, como o
pensamento, por isso sua natureza era mais pobre. Resumidamente, a
arte limitava-se a uma espécie de fazer mecânico, que chamava de
téchne. O conceito de mimese vem dessa ideia de repetição e
mecanicismo. O grego entendia a arte como cópia imperfeita do ideal ou
imitação da imitação no universo de formas e ideias. Também a
considerava aparência de segunda ordem, o que a afastava do ideal e da
verdade.
Santaella (1994, p. 26) observa que “o conceito de mimese foi o
primeiro a detectar e discutir o problema fundamental do qual nenhuma
forma de arte pode escapar: o problema da sua duplicidade, que veio a
receber, ao longo dos séculos, as mais variadas denominações, entre elas
representação, ilusão, expressão, simulação etc”.
A obra de Platão acerca das teorias da arte é tão ampla que dela
derivam quatro temas gerais: 1) a ideia geral de arte ou téchne; 2) o
20 De forma resumida, as estéticas filosóficas do Ocidente passaram por três
fases: 1) o nascimento das teorias do belo e do fazer criador nas obras de Platão
e de Aristóteles; 2) o deslocamento da ênfase no objeto da beleza para o sujeito
que a percebe, com Anthony Ashley Cooper, Lorde de Shaftesbury, René
Descartes e Thomas Hobbes; 3) a partir do século 19, com Arthur Schopenhauer
e Friedrich Nietzsche, e do século 20, com Martin Heidegger, com o
deslocamento da preocupação com o belo às versões particularizadas e
diferenciais, período no qual a questão filosófica foi cedendo terreno para as
teorias da arte (SANTAELLA, 1994).
97 conceito de mimese; 3) o conceito de inspiração, entusiasmo, loucura ou
obcessão como condição para a criação; e 4) o conceito de loucura
erótica e sua conexão com a visão do belo.
O conceito de loucura21
é o mais destacado dos quatro porque,
apesar de aparentemente contraditório ao pensamento inicial, do fazer
mecânico, ele tira a arte do terreno técnico por meio de características
instintivas como a inspiração. E isso, admitia Platão, transcendia as
regras e o saber fazer.
Aristóteles (384-322 a.C.) também pensou sobre o tema. Para ele,
a arte era resultado de uma habilidade para o fazer. Não o fazer
repetitivo, mas àquele capaz de transfigurar a matéria a ponto de
alcançar um poder revelatório --- a ideia de arte desliza do fazer
mecânico ao campo da habilidade intelectual.
Ele dizia que o belo é fruto ou resultado do domínio que o artista
tem da téchne, de quão habilmente ele é capaz de utilizar os meios de
composição, tendo em vista a simetria, a harmonia e a completude. E
entendia que a arte é valiosa por poder reparar as deficiências da
natureza, especialmente as humanas, e por trazer uma contribuição
moral capaz de levar ao engano e alimentar paixões.
Apesar de aparentemente oposta à filosofia platônica, a
aristotélica sugou dela os conceitos de téchne e mimese. Juntas, essas
duas correntes de pensamento serviram de referência a filósofos de
gerações seguintes. Um deles foi Longino (século 3 d.C.). No ensaio
Sobre o Sublime, ele levanta duas questões relevantes para qualquer tipo
de arte: 1) qual a qualidade que faz uma obra ser grande ou sublime, e 2)
como a qualidade pode ser produzida.
Longino, esclarece Barbas (2006), não apresenta uma fórmula
mágica para responder aos seus dois questionamentos. Contudo, deixa
claro no texto que, para aflorar, o sublime depende de uma disposição
da alma, uma habilidade para absorver grandes concepções e alimentar
paixões impetuosas. Na obra dele nota-se o primeiro grande passo que
descola a arte e suas conexões da técnica, elevando-a ao patamar
abstrato das sensações.
O termo sublime tem suas raízes na Antiguidade e
etimologicamente vem do latim sublimis,
composto de sub-limen, o que está suspenso na
21
A exemplo do que fez com as teorias da arte, o filósofo também criou
categorias para definir os tipos de loucura, todas ligadas a instintos: profética,
iniciatória, poética e erótica (Ibid).
98
arquitrave da porta, o Intel entre duas colunas. É,
pois, um termo que, nas suas origens, está ligado à
arquitetura, tendo o sentido direto de elevado, de
algo que está acima da cabeça do homem
(BARBAS, 2006, p. 2).
Outro a sugar das obras platônica e aristotélica foi Plotino (205-
270 d. C.). Como aponta Santaella (1994, p. 32-33), no mesmo instante
que ele levou a filosofia de Platão às consequências lógicas, a temperou
com misticismo. Citou, por exemplo, a alma do mundo, que se
manifesta em nossas almas e cria o mundo sensível. Para Plotino, a
beleza nasce da unificação da multiplicidade da matéria sob a força de
algum caráter essencial. Ele costumava dizer que, na natureza, isso será
produzido pela alma do mundo, e, na arte, pela alma do mundo
manifesta na alma humana.
Com a passar do tempo, a beleza descrita pela filosofia foi se
aproximando de questões divinas. Foi assim em Santo Agostinho (354-
430). Ele entendia que, na medida em que a arte concorda com as
verdades da fé e reflete as harmonias do poder criador divino, ela está
justificada.
Umberto Eco (1972, p. 34) diz que Santo Tomás de Aquino
(1225-1274) foi quem levou mais para perto de Deus as aparições do
belo. Segundo o autor, “os medievais apossaram-se de temas, problemas
e soluções do mundo clássico, usando-os no contexto de uma
sensibilidade nova e diferente. Desse modo, estavam dispostos a receber
a beleza na sua aparição como realidade puramente inteligível, como
harmonia moral ou esplendor metafísico”. Ao mesmo tempo, “não
conseguiram descartar totalmente a beleza sensível porque um valor
mais alto, no nível teórico, era conferido à beleza do espírito”.
Santo Tomás entendia a beleza como uma propriedade
transcendental e constante do ser. Para ele, ser é aquilo que pode ser
visto como belo. Todos os seres contêm as condições constantes da
beleza, uma vez que o universo, como obra do seu criador, é
necessariamente belo, uma sinfonia de beleza.
Como explica Eco, para Santo Tomás todo belo é bom, e tudo
que é bom o é por estar associado numa perfeição definida com um certo ato de existir. O belo e o bem estão fundados na forma, que é a
razão por que algo está em ato, ou tem atualidade, sendo bom por si
mesmo. Santo Tomás criou uma lista com três tópicos para determinar
aquilo que é belo. Segundo ele, para a beleza existir precisa de 1)
integridade, porque a mente gosta de ser; 2) proporção, porque à mente
99 agradam a ordem e unidade; e 3) brilho e claridade, porque a mente
gosta da luz e da inteligibilidade.
Jacques Maritain (1882-1973) é outro exemplo de associação da
beleza com eventos abstratos. O foco dele era a alma e os sentidos da
visão e audição. Acreditava que toda beleza sensível envolve um certo
deleite dos olhos ou do ouvido, ou da imaginação, mas não pode haver
qualquer beleza se a mente não estiver, do mesmo modo, deleitada. Em
um ensaio sobre beleza, escreveu:
O belo é o que dá alegria, não qualquer alegria,
mas alegria no conhecimento; não a alegria
peculiar ao ato de conhecer, mas uma alegria
superabundante, extrapolando tal ato devido ao
objeto conhecido. Se algo exalta e delicia a alma
pelo simples fato de ser dado na intuição da alma,
é bom de ser apreendido, é belo. A beleza é
essencialmente o objeto da inteligência, pois o que
conhece, no pleno sentido da palavra, é a mente,
apenas ela aberta para a infinitude do ser (...). O
belo se relaciona à visão e audição entre todos os
sentidos por que esses dois são máxime
cognoscitive (...). O belo conatural ao homem é
aquele que vem deliciar a alma através dos
sentidos e suas intuições. Esse também é o belo
particular de nossa arte, que trabalha sobre uma
matéria sensível para o regozijo do espírito. Ela
tem o sabor do paraíso terrestre porque restaura,
por um breve momento, a paz simultânea e a
delícia da mente e dos sentidos (MARITAIN, s.d.,
apud SANTAELLA, 1994, p. 34-35).
Marsilio Ficino (1433-1499), citado por Eco, também fixou
Platão como ponto de partida a seus estudos sobre o que é bonito. Em
De Amore (1475), ele defende que:
A criação é o processo dominante conduzido pela
necessidade do amor, tal qual uma corrente em
movimento de espiritualidade divina, viajando de
Deus para o mundo e deste de volta a Deus. A
beleza visível é o meio para a beleza inteligível.
Este meio se realiza através do amor humano,
enquanto a beleza inteligível só pode ter a
realização divina (FICINO, 1987, p. 35).
100
Com o “fim” da filosofia e de escolas como o Renascimento, a
arte foi suplantada pelo capital, o mundo das coisas. A partir de então
exigiu-se só as qualidades humanas do artista, capaz de produzir objetos
belos. O valor dos objetos artísticos, dali para a frente, seria duplo:
espiritual e mercantil.
4.2 - Questão de gosto e julgamento
É inevitável falar em gosto e tópicos acerca do gosto, como
julgamento e capacidade de julgar, quando se discute o que é belo. Do
ponto de vista científico, um marco dos estudos sobre o que é gosto
encontra-se em Sobre os Prazeres da Imaginação, publicado em 1712,
por Addison. Nele, o sublime não foi separado do belo e da beleza,
como o fazem muitos filósofos, mas passou a ser visto como um dos
tipos da beleza, a incomum, a inusitada.
Addison definira gosto como “a faculdade da alma que discerne o
belo com prazer e as imperfeições com desprazer”. Ele formulou três
perguntas (e respostas) acerca do termo: 1) qual o caráter do sentimento
do belo? (é um prazer interior, uma alegria e um deleite); 2) o que há
nos objetos para causar isto? (pelo menos uma em três tipos de beleza: a
percebida entre os membros da mesma espécie, a da arte e natureza, e a
beleza da semelhança); 3) qual é o estado que nos torna mais receptivos
para perceber a beleza? (o desinteresse estético) (KIVY, 1997, p. 254,
apud SANTAELLA, 1994, p. 39).
A teoria do sublime, algo quase que intocável e mais bonito que o
bonito, é destaque em Edmund Burke (1729-1797). Para ele, “a beleza
une e civiliza por meio da forma; o sublime não tem forma, mas
desperta os sentimentos morais mais profundos”.
Burke, destaca Barbas (2006, p. 12-13), definia o belo como “a
qualidade ou as qualidades do corpo pelas quais se provoca o amor ou
paixão idêntica”. Ele entendia o gosto “como algo natural, comum a
todos, que nasce de um prazer por um objeto natural, seja na satisfação
de determinado sentido, seja pela percepção da semelhança que agrada a
imaginação” humana.
Kant também relacionou o belo ao prazer. No ensaio Observações sobre o Sentimento do Belo e do Sublime (1960), o prazer
é visto como uma sensação ou sentimento. Ele volta ao tema em Crítica
do Julgamento (1993, p. 42), onde define três faculdades da mente
humana: da cognição, do desejo e do prazer e desprazer.
101
O alemão dizia que os julgamentos funcionam sob quatro
rubricas, cada uma delas com três momentos: 1) quantidade (universal,
particular, singular); 2) qualidade (afirmativo, negativo, infinito); 3)
relação (categorial, hipotético, disjuntivo); e 4) modalidade
(problemático, assertivo, apodítico).
Estudiosa do tema, Santaella (1994, p. 49-51) explica como
funcionam as quatro rubricas/momentos: Primeiro momento: gosto é a
faculdade de apreciar um objeto ou um modo de representação através
de um prazer ou aversão, independentemente de qualquer interesse. O
objeto de tal prazer é chamado belo. Segundo momento: o belo é aquilo
que, sem depender de um conceito, agrada universalmente. Terceiro
momento: o belo é a forma da finalidade em um objeto, mas na medida
em que nele é percebido independentemente da representação de um
fim. Quarto momento: o belo é aquilo que, independentemente de um
conceito, é conhecível como um prazer necessário.
Em Kant há três tipos de prazer: o agradável, o prazer no bom e o
prazer no belo, acrescenta a autora. Os objetos de cada um desses
prazeres são: sensações, no caso do agradável; conceitos, no caso do
bom; e formas perceptivas, no caso do sentimento de prazer.
Kant diferenciava os sentidos em inferiores e superiores. Os
inferiores são cheiro, gosto e toque; os superiores são visão e audição,
mais caracterizadores da forma.
Na experiência do belo, nossos poderes cognitivos
jogam livremente, ao mesmo tempo em que se
relacionam, de algum modo, com a forma do
objeto mais do que com seu conteúdo sensório.
Nesse jogo livre, estabelece-se uma harmonia
entre a imaginação e o entendimento dos poderes
mentais e gera prazer desinteressado
(SANTAELLA, 1994, p. 53).
Para Kant há diferenças entre o belo e o sublime. O belo é formal,
limitado e relativo ao entendimento discursivo e por vezes até lúdico. O
sublime é informe, selvagem, invocando as ideias quase intuitivas da
razão.
A beleza encoraja o avanço da vida, o sublime o
suspende. Brincamos com a beleza, mas
respeitamos o sublime. Enquanto a beleza, por si
mesma, parece se adaptar à nossa sensibilidade,o
102
sublime desconcerta e ultraja a imaginação,
levando nossa sensibilidade meramente empírica a
um reino mais elevado (Ibid, p. 55).
O alemão dizia que os objetos podem ser chamados de belos, não
de sublimes, porque a apresentação da sublimidade é descoberta na
mente. Para ele, a mente, mais do que os objetos, expõe o caráter do
sublime.
Ao estudar a moralidade em Kant, Cohen (1982, p. 221-236) diz
que há três modos através dos quais as coisas fazem sentido para nós: 1)
quando algo nos dá prazer sensório, 2) quando contemplamos algo a fim
de compreendê-lo, e 3) quando usamos algo para alguma finalidade.
No caso do objeto belo, diz ele, citado por Santaella (2004, p.
61), não se trata de nenhuma dessas três alternativas. E, não obstante,
ele faz sentido para nós, mesmo que seja inexplicável. No pensamento
kantiano, o belo é a finalidade de um objeto, na medida em que é
percebido no objeto sem qualquer representação de finalidade.
4.3 - O darwinismo da beleza
Do mundo das ideias partimos ao mundo das coisas. Mais
especificamente aos apontamentos de Charles Darwin (1809-1882), que
mostram que, além de provocar emoções e agradar a alma, como visto
anteriormente, a beleza é condição para a manutenção da vida.
Ao estudar pássaros, o naturalista percebeu que a beleza do
macho guia as escolhas da fêmea na hora do acasalamento. Ele destaca
que “os machos sem adornos ou não atraentes se sairão igualmente bem
na batalha pela vida e na luta para deixar uma prole numerosa se machos
mais bem-dotados não estiveram presentes” porque “as fêmeas tendem a
optar por parceiros de linhagens mais fortes e simétricas” (1981, p. 258).
A beleza é uma das maneiras de a vida se perpetuar, e a fixação
por ela também está profundamente ligada à biologia humana, pontua
Etcoff (1999), a primeira estudiosa do tema a relacionar Darwin e
beleza.
Os estudos darwinianos com pássaros mostram que modelos de
beleza se propagam e se adaptam ao tempo, sempre mantendo ligação
com o processo evolutivo. De acordo com a teoria do britânico, pássaros
de variadas espécies desenvolveram bicos maiores, plumagens
coloridas, penas alongadas e cantos graves e agudos ao longo dos
séculos para terem mais chance de atraírem as fêmeas e se acasalarem.
103
Darwin descobriu comportamento semelhante em outros animais:
a fêmea do peixe-espada gosta de machos de espadas compridas
(extensão de cor viva da nadadeira anal); as andorinhas preferem
machos com caudas longas; os pavões com caudas mais elaboradas
atraem mais parceiras; insetos e sapos também têm obsessão por
tamanho, e ambos fazem som durante o período de reprodução.
Tamanho e intensidade do barulho estão relacionados, e as fêmeas
respondem sobretudo aos coaxos mais baixos, que tendem a ser emitidos
pelos machos maiores e, portanto, mais fortes, capazes de proteger a
prole.
O geneticista Ronald Fisher destaca, na teoria Fora de Controle,
publicada em 1930, que a preferência por machos mais bonitos integra o
ciclo evolutivo de todas as espécies. Ele descobriu que a andorinha
fêmea que se relaciona com um macho de cauda longa gera filhotes de
cauda grande, provocando uma espécie de melhoramento com o tempo.
Em tal cenário, explica Etcoff (1999, p. 198), “a preferência se
propaga quando outras fêmeas reparam nos pássaros de cauda grande.
Quando a preferência se desenvolve, independentemente da razão,
ocorre uma pressão da seleção para se conformar a ela, pois só então as
fêmeas terão filhos preferidos como parceiros. Um processo semelhante
ocorre com a popularidade de alguns discos, moda, livro ou filme”.
Também há nas leis da natureza comprovadas por Darwin os
ideais de tamanho (o macho dominante é o maior, e do tamanho derivam
associações com virilidade e reprodução da espécie) e de simetria
(formas equilibradas agradam mais). Vejamos o comportamento
humano masculino nesses dois enfoques. Primeiro, o tamanho. Houve
um tempo em que homens usavam sapatos de salto para parecem mais
altos, o que dava-lhes mais poder. Líderes baixos criaram palanques
para parecerem maiores. De tão propagado ao longo dos tempos, o perfil
virou até refrão de música --- a mais notória delas talvez seja Amante
Profissional, da banda Erva Doce, já extinta, que dizia “moreno alto,
bonito e sensual”. E há que se considerar também a febre das academias,
do peitoral e braços fortes, e até mesmo os anabolizantes.
Os músculos peitorais são o chifre do macho
humano, suas armas de guerra. Talvez os homens
não cacem nem combatam mais com armas de
arremesso, mas um peito largo ainda repercute a
capacidade de sobrevivência. Em geral, o torso
masculino mais atraente é considerado em forma
de V, formado a partir de ombros largos até a
104
cintura e quadris mais estreitos. A forma menos
apreciada por homens e mulheres é a de pera, com
ombros estreitos e o traseiro largo (ETCOFF, 1999, p. 207).
Há quem considere que a vontade masculina de aumentar o corpo
para parecer mais atraente seja o inverso do que ocorre com mulheres
que vivem querendo parecer magras. O homem com disformia muscular
é aquele que, por mais forte que esteja, se sente pequeno, assim como
mulheres com anorexia, por mais magras que estejam, se sentem gordas.
Agora vejamos o segundo ponto, o da simetria. Para os animais, a
simetria é um sinal de bom desenvolvimento, resistência a parasitas,
mais anos de vida e fertilidade. Como exemplifica Darwin, a vespa
fêmea prefere o macho com as asas dianteiras simétricas, e as abelhas
são atraídas por flores simétricas porque essas têm mais néctar.
Mulheres simétricas também são as mais preferidas. Aos olhos dos
parceiros, parecem mais férteis.
Poderíamos perguntar por que, em algumas tribos africanas, a
mulher obesa é a preferida para acasalar. Etcoff lembra que as forças
darwinianas são múltiplas e, às vezes, contraditórias. Alimentar-se é
uma aspiração. Atrair parceiros, outra. E o que motiva a atração do
parceiro está ligado tanto à saúde quanto ao status; uma fêmea obesa
pode representar fartura, boa fonte de alimentação à cria.
O motivo status pode, às vezes, provocar impulsos
que se contrapõem ao motivo alimentar-se e
atropelam a estética. Podemos saber que os corpos
esqueléticos ou obesos não parecem tão bons
quanto os de peso médio, mas os valorizamos
como emblema de status e os desejamos da
mesma maneira que desejamos quaisquer outros
apetrechos de beleza (ETCOFF, 1999, p. 233).
Como lembra a autora norte-americana, a beleza visual não reina
soberana em nosso mundo sensual. Também somos seduzidos por
vozes, gestos convidativos, cheiros. Importante lembrar que cultivar a
beleza custa caro, consome tempo e dinheiro. Mas, especialmente as
mulheres, são muito recompensadas por sua aparência, de uma maneira
que nem sempre o são por outros atributos.
No caso dos humanos, ser bonito está ligado à preocupação de
nunca deixar de ser desejável sexualmente e de não ser alguém que já
105 fora desejado sexualmente, diz a autora. Assim, adultos querem se
passar por adolescentes. E isso já se via antes da era cristã: Cleópatra foi
a primeira mulher a se depilar, por exemplo. Antes disso, havia uma
infinidade de homens e mulheres marcando o corpo e o adornando com
objetos para parecerem mais bonitos e mais atraentes sexualmente.
4.4 - Design: para vender produtos e notícias
O design é ponto relevante nesta pesquisa porque também
pretendemos abordar o aspecto visual dos títulos jornalísticos nas telas
digitais. Para tanto, é necessário entender como o design se
desenvolveu, quais foram as suas contribuições para o jornalismo
impresso, de onde o digital herdou as noções de alinhamento e afins, e o
quanto está presente em outros aspectos de nossas vidas, como a compra
de um móvel.
Bürdek (2010, p. 409) diz que “a linguagem é o mais importante
critério na estratégia do design” em ambiente digital porque “é ela quem
faz a conexão entre os mundos real e virtual”. Segundo o autor, “há no
design uma capacidade de conexão entre a experiência do
desenvolvimento de produtos analógicos com o mundo dos produtos
digitais. Trata-se da transição da matéria para a linguagem e, então, de
sua visualização”.
O design tem relação com o belo, que, como vimos no início
deste capítulo, está ligado a emoções e sentidos. Diante de uma obra de
design bem feita, seja um objeto de decoração ou um visual gráfico, é
comum percebermos exclamações típicas de quem se emociona ao olhar
uma obra de arte ou uma peça de artesanato --- design, arte e artesanato
têm pontos de intersecção, sobretudo nas questões ligadas à emoção e
criação, apesar de serem atividades distintas.
Para Denis (2000, p. 16) design é, em sentido amplo, “a atividade
que atribui forma material a conceitos intelectuais e que gera projetos no
sentido objetivo de planos, esboços ou modelos para a produção em
série por meios mecânicos”. O termo design gráfico surgiu por volta de
1800, com o desenvolvimento dos meios impressos. No mundo digital,
onde situamos nossos estudos, foi batizado de webdesign.
Do ponto de vista histórico, a passagem da fabricação artesanal de determinado objeto, em que o mesmo indivíduo o concebe e o
executa, à fabricação industrial, na qual se separam as etapas de projetar
e executar, é um dos marcos do design. Os produtos gráficos viveram
essa fase no século 15: os impressos produzidos na Europa passaram a
106 ser feitos em série por meios mecânicos, com etapas distintas de projeto
e execução --- com o passar do tempo, tais etapas ficaram mais
específicas, sobretudo após a Revolução Industrial, em 1750.
Fuentes (2006, p. 26) defende que “o design se faz, não nasce,
porque é uma atividade quase que exclusivamente humana”. O autor
destaca que o desenho, no sentido de representação, base do design e da
comunicação humana, é uma atividade de grupos evoluídos, percebida
desde os primórdios, que não se conhece no resto das manifestações da
natureza, com exceção de algumas espécies de primatas.
Para o homem, desenhar (representar) é uma
atividade tão primária e tão vital como o são as
necessidades mais básicas. Acompanha sua
tentativa de comunicação desde as sociedades
mais antigas. A utilização de sinais, imagens
figurativas e combinação de ambos antecede, pelo
menos para as culturas ocidentais, as
sistematizações em forma de alfabeto, que
podemos considerar o auge da designação
simbólica. Em uma rápida visão cronológica, suas
simbologias e sua intenção de transmitir
conceitos, a unicidade e a imobilidade próprias de
suas características técnicas o fazem transmissor
de sinais (FUENTES, 2006, p. 79).
A prática do design também é antiga. A origem dos produtos
configurados com função otimizada, como o é hoje, pode ser encontrada
no tempo dos ancestrais. É o que sugere o trabalho do artista e
construtor romano Vitruvius (80-10 a.C). Como assinala Bürdek (1997),
Vitruvius deixou uma série de escritos que estão entre os registros mais
antigos da arquitetura. Ele dizia que o arquiteto deve ter interesse pela
arte e pela ciência, ser hábil na linguagem, além de ter conhecimento
histórico e filosófico. É dele uma frase que entrou para a história do
design e que casa com os propósitos de beleza na apresentação de
notícia: “Toda construção deve obedecer a três categorias: solidez,
utilidade e beleza.”
Os estudos acerca do design em sua concepção atual, não como algo baseado na atividade pré-histórica de se expressar por meio de
desenhos, são relativamente novos no país. Os primeiros datam de 1920.
Mas foi só a partir de 1980 que atingiram maturidade acadêmica
(DENIS, 1999). Os primeiros textos acerca do design, como é comum
diante de um campo novo, procuravam determinar o que é design e
107 designer, o profissional do setor. Eles também destacam a etimologia da
palavra, que julgamos conveniente compartilhar.
A origem da palavra está na Língua Inglesa, na qual o substantivo
design se refere às ideias de plano, desígnio ou intenção, configuração,
arranjo e estrutura. Antes, porém, em sua origem do latim, a palavra
vem de designare, verbo que abrange os sentidos de designar e
desenhar. Nota-se, aqui, que o termo design traz, desde o princípio, uma
ambiguidade entre o aspecto abstrato relacionado à arte de
conceber/projetar/atribuir e o concreto de registrar/configurar/formar.
O surgimento das indústrias foi determinante para o
aprimoramento do design. A Revolução Industrial, percebida na
Inglaterra por volta de 1750, ampliou a oferta de produtos de toda
ordem, de cerâmicas a revistas ilustradas, e consequentemente provocou
uma onda de consumismo Europa afora. Natural, então, que também
seja um marco para o design.
A Revolução Industrial dividiu o sistema que produção em
etapas, mecanizou o trabalho e se apoiou em inovações tecnológicas.
Assim, entre os séculos 18 e 19, verificou-se um aumento da
produtividade, com custos cada vez menores em função da rapidez no
processo e da redução da mão de obra.
Importante destacar que, pelo menos cem anos antes da
revolução, havia um mercado consumidor expressivo na região por
causa do acúmulo de riqueza em países europeus. Era época de
pequenas oficinas, que entre outros objetos produziam artigos de luxo e
exclusivos, feitos por artesões considerados artistas. Nessa época
residem os primórdios da industrialização e das atividades do design.
A França do rei Luís XIV (1638-1715) é referência para o
período por suas manufaturas exclusivas: o monarca tinha fábricas para
produção de moveis, vidros e tapetes. E ao perceber o impacto que os
produtos bonitos tinham sobre as vendas, contratou um pintor para criar
formas a objetos a serem fabricados em oficinas a partir de desenhos.
A ideia das manufaturas reais espalhou-se por outros países da
Europa, diz Denis (1999, p. 23). Na Alemanha, por exemplo, surgiu, em
1709, a cerâmica de Meissen, a primeira a produzir porcelana na
Europa. Ela também empregava artistas para projetar as peças porque já
estava assimilado que o que era visualmente atraente vendia mais. No século 18 começaram a surgir na Europa indústrias da
iniciativa privada. A cidade de Lyons, na França, tornou-se um centro
internacional de fabricação de sedas. A Catalunha desenvolveu bem a
indústria têxtil. Na mesma época, a Inglaterra começou a se especializar
108 em cerâmica e, graças a uma visão que reunia tecnologia, comércio e
design, deu início a exportações para Ásia e Américas.
Com a oferta de produtos, as vendas chegaram à classe média da
época. Foi preciso pensar espaços próprios para comercializá-los.
Depois do surgimento das primeiras fábricas na
Europa, apareceu a ideia de se realizar exposições
de artigos industriais e manufaturados com o
objetivo de vender produtos. Entretanto, os
organizadores não demoraram a perceber que
muita gente ia às mostras para se divertir, não para
fazer compras. Não era a intenção, mas foi daí que
nasceu o conceito de compras e diversão que deu
início aos shoppings e os mantêm cheios até os
dias atuais (DENIS, 1999, p. 79-81).
Para o design, tais exposições foram importantes porque
representavam, a quem já trabalhava com o desenvolvimento de peças, a
oportunidade de trocar experiências e ver o que de melhor a indústria
estava produzindo. Os próprios prédios montados para essas exposições
eram referências em beleza e inovação de formas. O Palácio de Cristal
(Londres, 1851) e a Torre Eiffel (Paris, 1889), para citar dois exemplos,
são desta época e até hoje atraem visitantes do mundo inteiro.
Nas grandes capitais da Europa, impulsionada por tais
exposições, a segunda metade do século 19 foi marcada por uma
explosão do consumo, principalmente com o surgimento das primeiras
lojas de departamento, em 1860. Com abundância de mercadorias, lojas
como a norte-americana Macy´s transformaram as compras em
atividades de lazer.
Paralelamente, as grandes cidades entraram na era dos
espetáculos de circo e teatro. Tanto as exposições universais quanto as
lojas de departamento viraram cenário de uma vivência à parte da
existência comum: o hábito de olhar como forma de consumir.
No caso da imprensa, dois fenômenos registrados por conta da
industrialização contribuíram de maneira determinante ao seu
desenvolvimento: a concentração de pessoas na cidade em busca de
emprego, e o aumento de renda com o trabalho assalariado. A difusão da alfabetização também foi importante. Com pessoas um pouco mais
instruídas e com jornada de trabalho sob algum controle, logo formou-se
um público leitor e verificou-se um consumo dos impressos de
informação e entretenimento.
109
A indústria gráfica percebia ali um de seus melhores momentos.
De um lado, havia procura. Do outro, tecnologia que permitia uma
impressão cada vez mais rápida. Logo tornou-se indispensável o design
gráfico, de onde brota a vertente que nos interessa neste capítulo, mas
com foco nos meios digitais.
Começou-se a notar que pensar o design não se
restringia aos objetos utilitários ou à arquitetura,
mas abrangia a palavra escrita. Para ser
comunicada, a palavra deve necessariamente
partir de um alfabeto, e estão contidos nos
alfabetos os desenhos de letras, seu estilo, a forma
da letra (AZEVEDO, 1998, p. 32)
Além das tipologias, havia a necessidade de sinalizar a cidade a
quem chegava em busca de trabalho. Também era preciso mostrar os
novos objetos da linha de produção para estimular as vendas. Tudo
passou a ser informação nas ruas, com destaque para os cartazes e
anúncios, e os olhos humanos passaram a conviver com um tipo de
informação rápida, visível e apelativa até então inexistente.
A indústria gráfica, como outros setores da economia da época,
experimentou diversos avanços. Um dos saltos mais significativos foi o
uso da polpa de madeira para fabricar papel, segundo Denis (1999, p.
41). O procedimento já havia sido empregado timidamente no século 18,
mas só se generalizou a partir de 1840, com a introdução das máquinas
no processo de fabricação. O papel foi se tornando abundante e barato, o
que alavancava os materiais impressos.
Outro avanço foi o aperfeiçoamento da fundição mecânica de
tipos metálicos, o que facilitou a produção de letras de maiores
dimensões e variedade, e propiciou a criação de fontes novas e as
primeiras serifas. Também foram introduzidas durante o século 19 a
estereotipia e as maquinas de composição, que culminaram no linotipo
de Mergenthaler, um dos marcos da indústria gráfica.
Entretanto, a mais relevante dentre as novas tecnologias da época
foi a introdução da prensa cilíndrica a vapor, em 1812, um marco na
mecanização do processo de impressão. Para se ter ideia, a capacidade de impressão passou de 250 folhas/hora nas prensas de 1800 para 4,2
mil folhas/hora na máquina que dois engenheiros da época fizeram para
o The Times em 1827 (CLAIR, 1976, p. 360-380; MEGGS, 1992, p.
132-137, apud DENIS, 1999).
110
Os avanços na parte de maquinaria da indústria gráfica causaram
uma espécie de desânimo em tipógrafos, compositores, impressores e
artesãos porque suas atividades tinham de ser repensadas --- algo
parecido com o que nota-se agora com os meios digitais.
Nesse contexto, o papel do designer ganhou projeção. Com
muitos impressos nas ruas, um dos critérios que distinguia a qualidade
entre eles era a originalidade do projeto e as ilustrações, e não a
qualidade da impressão. Dois nomes foram marcantes nos anos que se
seguiram: Francisco de Paula Brito, o principal editor brasileiro na
época, e Henrique Fleiuss, desenhista, litógrafo e editor. O primeiro
dirigiu entre 1831 e 1861 algumas das principais editoras do Rio de
Janeiro, responsáveis pela publicação de diversos jornais e revistas e boa
parte da literatura nacional da época. O segundo começou em 1860 a
publicação da Semana Ilustrada, a mais duradoura e influente da
primeira leva de revistas ilustradas brasileiras, que começaram a circular
em 1844 com A Lanterna Mágica.
Importante também destacar as evoluções no campo da imagem
ao desenvolvimento da indústria gráfica. Primeiro com a xilogravura
(com matriz de madeira), depois com a litografia (sobre pedra e zinco) e
a gravura em metal (sobre chapas de aço), técnicas aprimoradas para o
uso comercial no século 19. Era a primeira vez na história que se
imprimia imagens em larga escala e a baixo custo. A expansão do
mercado foi expressiva. Na França, por exemplo, o número de
semanários ilustrados em circulação aumentou 17 vezes entre 1830 e
1880 (JOBLING & CROWLEY, 1996, p. 11). A proliferação de jornais
e revistas ilustrados deu início a um processo de avanços nas tecnologias
disponíveis para impressão de imagens, culminando na fotogravura, em
1880.
No Brasil, apesar do atraso secular na introdução da imprensa, o
uso da litografia teve início com apenas alguns anos de defasagem em
relação à França, Portugal, Espanha e Estados Unidos. Porém, enquanto
neste último país o número de oficinas de litografia em operação passou
de cerca de 60 em 1860 a 700 em 1890, no Brasil o número no mesmo
período foi de 115 apenas para 128. Em parte, isso de deveu às
características sociais e econômicas brasileiras, o que nota-se até hoje.
Quando uma nova tecnologia surge em um
contexto que não está preparado para assimilá-la,
ela tende a ser desprezada ou ignorada, como é o
caso da descoberta do processo fotográfico por
Hercules Florence no interior de São Paulo, seis
111
anos antes de Daguerre anunciar a invenção que
revolucionou a comunicação visual moderna
como nenhuma outra (DENIS, 1999, p. 51).
Com a consolidação da imprensa, outra atividade ligada ao design
se desenvolveu: a publicidade. Presente em pequenos anúncios nos
jornais e em grandes reclames fixados nas paredes da cidade, a
publicidade começou a se definir na passagem do século 19 para o
século 20 como o veículo para a expressão dos sonhos.
As primeiras agências especializadas nesse tipo de material
surgiram em 1840, mas com atuação restrita para venda de espaço de
anúncio. Só a partir de 1890 começaram a se envolver na concepção de
campanhas --- no Brasil a propaganda ensaiou seus primeiros passos
após a criação dos primeiros jornais, em 1808.
4.5 - O consumo visual
O ditado popular que diz que uma imagem vale mais que mil
palavras dá a noção do quanto uma fotografia pode agradar nossa visão,
que, como vimos anteriormente, representa um “sentido superior”,
segundo classificação kantiana. Neste tópico, para tentar entender nosso
hábito de olhar, apresentaremos resumo da fotografia e de estudos sobre
o funcionamento do cérebro humano.
Comecemos com a foto, um marco para a imprensa. Do ponto de
vista histórico, o processo fotográfico data do final do século 18 e início
do século 19, quando surgiram as primeiras imagens captadas pela
exposição à luz de chapas preparadas quimicamente. O ponto máximo
desses experimentos foi atingido em 1839, quando Louis Daguerre, na
França, e Fox Talbot, na Inglaterra, divulgaram suas descobertas com
um intervalo de 24 dias.
Como era de se esperar, a novidade provocou uma corrida
desenfreada em busca do aparelho que marca o início da era fotográfica,
talvez a mais profunda do olhar humano de todos os tempos. Ao Brasil a
novidade chegou em 1840.
Oliveira e Vicentini (2009, p. 14) observam que “o anúncio da
gravação da imagem feito por Daguerre provocou grande polêmica entre
alguns pintores, que acreditavam que o único método de captação de
imagem acabaria com a arte de pintar”.
De algum modo, a polêmica voltou há alguns anos, envolvendo
duas formas distintas de captação da imagem: a fotografia analógica e a
112 fotografia digital. A analógica viveu um período marcante no século 20,
quando a imagem passou a ser usada em grande escala pela imprensa
mundial --- isso fez aumentar a exigência por equipamentos mais leves.
Mas, com o surgimento da fotografia digital, no final dos anos 1980, o
glamour conquistado pelo analógico, dos tons de cinza aos químicos
usados na revelação, entrou em declínio.
Atualmente, o mercado define em três as categorias de
profissionais depois da foto em pixel: o veterano que se adapta, o
profissional que evoluiu com o digital, e o que se criou no digital
(OLIVEIRA e VICENTINI, 2009).
Os modelos digitais agilizaram o trabalho do fotógrafo. E
também mudaram a relação da imprensa com o público: leitores
passaram a fotografar com câmeras digitais e celulares para contribuir
com os jornais, favorecendo o jornalismo colaborativo. Esse
comportamento alterou também a forma como os jornais percebem a
fotografia: antes da chegada dos amadores, se perseguia o flagrante;
agora, com a impossibilidade de concorrer com tantas pessoas aptas a
um clic nas ruas, se valoriza a produção.
4.6 - Os dois lados do cérebro
Do ponto de vista cognitivo, a fotografia facilita a fixação da
informação nova porque o cérebro humano, desde os primórdios, está
condicionado a ler sinais. Edwards (1984, p. 38) compara nosso cérebro
a uma noz: “Visto de cima, ele lembra as duas metades de uma noz: são
aparentemente semelhantes, enroladas, arredondadas e ligadas no
centro”.
Essas duas metades, destaca a autora, são chamadas de
hemisférios esquerdo e direito. A ligação do sistema nervoso ao cérebro
é feita em cruzamento. Ou seja: o hemisfério esquerdo controla o lado
direito do corpo; o hemisfério direito, controla o lado esquerdo. Logo, a
mão direita está ligada ao hemisfério esquerdo. A esquerda, ao direito.
A ligeira assimetria percebida no cérebro humano não é igual nos
animais. Em macacos, cachorros, ursos e outros bichos os hemisférios
cerebrais são essencialmente iguais, por isso são menos desenvolvidos.
No homem, a diferença de tamanhos explica, por exemplo, por que temos mais habilidade com uma mão do que outra e porque, uns
mais que outros, temos sensibilidade às imagens. Não sensibilidade no
sentido do toque. Mas no sentido de importar-se com sua simetria ou
113 assimetria --- no caso deste trabalho, assimetria seriam títulos
desalinhados.
A função da linguagem e os estímulos que provocam prazer no
belo localizam-se no hemisfério esquerdo na maioria dos indivíduos.
Segundo Edwards (Ibid, p. 39), os cientistas descobriram isso há 150
anos ao estudar lesões no cérebro, como derrames. Ficou constatado que
as lesões no lado esquerdo afetavam o lado direito do corpo, e vice-
versa.
Por causa de descobertas do gênero, cientistas passaram a chamar
o lado esquerdo de hemisfério dominante ou principal, e o lado direito
de subordinado ou secundário. Outros elementos endossam esse
pensamento. Em latim, esquerdo é sinister, ou seja, sinistro, mau,
omisso. O direito é dexter, de onde vem a palavra destreza, habilidade,
aptidão.
Outros estudos citados por Edwards indicam que existe vida
independente nos hemisférios quando o feixe que os une é cortado. Uma
das funções do feixe é permitir a comunicação entre os dois lados do
cérebro, facilitando a transmissão do aprendizado e da memória --- o
gosto, tema abordado no início deste capítulo, estaria associado à
memória sensorial. Alguns trabalhos indicam que a modalidade de
funcionamento do hemisfério esquerdo é verbal e analítica, ao passo que
a do hemisfério direito é não-verbal e global.
4.7 - O ícone, na guerra e na arte
Um dos marcos para o design gráfico, de onde parte a cultura
visual transportada para as plataformas digitais, está ancorado em um
dos momentos mais tristes da história mundial: a Primeira Guerra
(1914-1919), período em que a atividade foi aprimorada a partir do
desenvolvimento de informações em ícones bélicos.
Além de pôsteres produzidos para incitar o envolvimento das
nações, o design foi usado para tornar claros os mapas de guerra,
criando um complexo sistema de signos para organizar e identificar as
tropas aliadas, os grupos inimigos e a localização das bases de
suprimentos. Também foi necessário no conjunto de símbolos para
distinguir hierarquias. Hollis (2001, p. 20) acrescenta que “os signos e símbolos para a
identificação de posto e unidade militares eram um código de status
imediatamente compreendido. A insígnia regimental, com seu emblema
114 heráldico e seu mote, tinha em comum com os pôsteres modernos o
mesmo design econômico e as imagens e os slogans enxutos e fortes”.
Por outro lado, o design também se desenvolveu a reboque de
grandes movimentos artísticos, a maioria dos quais surgidos na Europa
no fim do século 19, como o Art Nouveau (França), o Jugendstil (Alemanha) e o Modern Style (Inglaterra). Juntos, eles representavam
um sentido de vida artístico que deveria se refletir nos produtos da vida
diária.
A escola Bauhaus, da Alemanha, surgiu nessa época. Fundada em
1906, tornou-se referência para o design por demarcar a mudança no
perfil profissional do artesão/artista ao designer atual. A Bauhaus,
tratada em todos os livros de design, surgiu da união de um seminário de
artes aplicadas com uma escola de artes aplicadas. Os dois mentores,
Henry van de Velde e Walter Gropius, determinaram que só magos da
pintura cubista poderiam trabalhar como professores. Entre eles estavam
Paul Klee, Lyonel Feininger e Oscar Schlemmer.
Com a Bauhaus foi criado um novo tipo de
profissional para a indústria, alguém que
dominava igualmente a moderna técnica e a
respectiva linguagem formal. Gropius criou com
isso os fundamentos para a mudança da prática
profissional do tradicional artista/artesão no
designer industrial como atualmente (BÜRDEK,
2010, p. 37).
A ideia de Gropius era que, na Bauhaus, a arte e a técnica
deveriam tornar-se uma nova e moderna unidade. A frase emblema era:
“A técnica não necessita da arte, mas a arte necessita muito da técnica”.
Se fossem unidas, diziam os fundadores, haveria uma noção de princípio
social: consolidar a arte no povo. Os alunos faziam curso na escola cujo
lema era inventar construindo e reparar descobrindo. De início, a meta
era criar produtos para camadas mais amplas da população, que fossem
acessíveis e tivessem funcionalidade.
4.8 - Bonito de navegar
A popularização dos computadores pessoais, a partir dos anos
1970, foi cirúrgica para os rumos do design moderno. Profissionais da
área passaram a produzir de formatos de máquinas até modelos de chip
e interfaces.
115
Com a popularização da informática, surgiu um novo conceito
dentro do design: o da interação, que significa como lidamos com um
produto digital no qual as estruturas de ação nos indicam um
procedimento de uso. Como defende Bürdek (2010, p. 35), “tornou-se
evidente que não se deve deixar os engenheiros e programadores lidar
com o assunto das interfaces entre produtos digitais e o homem” porque
“suas ideias impregnadas de matemática e física e as soluções daí
resultantes colidem com as expectativas do usuário leigo”.
Na ótica do design, a popularização dos computadores pessoais
teve três grandes impactos: a construção de máquinas cada vez menores
e ergonômicas, o desenvolvimento de interfaces e a facilidade para criar
novos projetos com os programas de projeção como CAD.
Fischer (1998), citado por Bürdek (2010), definiu nove
atribuições do design no campo do microeletrônico: 1) reforçar as
funções indicativas de material escondido, 2) miniaturização de peças,
3) trabalhar com custo cada vez mais reduzido, 4) atuar em todos os
tipos de diplays, 5) intervir em produtos automáticos, 6) controles
remotos, 7) construções modulares, 8) materiais luminosos e 9) gráfica
de produtos.
Bürdek entende que as experiências com os produtos analógicos
são base para o ambiente digital, pois as funções comunicativas são
transmitidas no desenvolvimento e na configuração de produtos
imateriais. Sendo assim, pontua o autor, os princípios estéticos são
utilizáveis particularmente no design de tela: grid, regularidade,
irregularidade, simetria, assimetria, distinto, indistinto. Todos estes
aspectos são encontrados nas páginas www ou em displays de produtos
digitais.
O desenvolvimento da era eletrônica, no fim do século passado,
trouxe ao design gráfico uma questão no estilo de ser ou não ser, de
Shakespeare. A pergunta fundamental, com a introdução da máquina e
de todos os programas para a correção de fontes e cores, é: vale mais a
infinidade da criação com lápis e papel, ou a agilidade de criar usando a
máquina, com os limites que os programas têm?
Para Fuentes (2006), o final do século 20 mostrou uma saturação
de imagens, pela poluição visual, bombardeio de publicidade e pelo
olhar como forma de consumir. Mas ele considera errado dizer que a fragmentação visual é um fenômeno da era eletrônica.
Seja olhando para um outdoor a partir de um trem
em movimento ou passando os canais de televisão
116
em revista, a velocidade do olhar humano
pressupõe um processo de fragmentação e
sobreposição de imagens. Um outdoor é tanto um
fragmento inserido em uma paisagem quanto o é
um comercial de televisão. A diferença entre os
dois está mais na atitude do observador do que na
disposição da coisa observada (FUENTES, 2006,
p. 212).
É possível argumentar, segundo o autor, que, em função dos
avanços da tecnologia eletrônica, o eixo conceitual do design vem se
deslocando da autonomia relativa atribuída ao produto, como entidade
fixa no tempo e no espaço, para uma noção mais fluida do processo de
interação, bem mais próxima da maneira em que se conceituou o objeto
gráfico. O primeiro impacto dessas transformações conceituais se deu
no campo do design gráfico, no qual vem se sucedendo nos últimos 30
anos uma série de iniciativas dedicadas à substituição do tradicional por
projetos com emprego de desordem visual, ruído.
Mais que um mero modismo, essa visão de design tem suas bases
conceituais ancoradas na evolução das tecnologias digitais e nas
possibilidades que estas trouxeram de superar limites tradicionais da
diagramação e da tipografia. Com o aparecimento de plataformas
operacionais como os sistemas Macintosh (1984) e Windows (1997)
tornou-se possível, simples e barato manipular fontes, espaçamento,
entrelinhamento e uma série de elementos gráficos que antes eram de
domínio do tipógrafo profissional. Ao mesmo tempo em que a
popularização das tecnologias digitais injetou, sem sombra de dúvida,
uma grande dose de liberdade no exercício do design, pode-se dizer que
elas também trouxeram novos limites para a imaginação humana, pois
agora se pensa só dentro dos recursos do programa.
O risco de bitolar a excentricidade criativa é
constante em qualquer sistema operacional que
retira o controle instrumental do usuário, mesmo
que seja para potencializar de forma exponencial a
execução. Algumas pesquisas sugerem até que o
uso do computador no processo projetivo, apesar
de aumentar o número de decisões a serem
tomadas pelo projetista, pode acabar reduzindo
em última análise a sua capacidade de gerar novas
soluções e podem resultar, portanto, em uma
maior homogeneidade em alguns aspectos
117
fundamentais (THACKARA, 1988, p. 2007, apud
FUENTES, 1996).
Uma crítica semelhante pode-se fazer à internet, outra área de
grande crescimento para o design nos últimos anos. Ao mesmo tempo
em que os desafios da navegação e da conjugação de linguagens gráficas
com o som e a imagem em movimento representam uma frente de
trabalho para o designer, boa parte da produção na área começa a
empregar estratégias repetitivas e previsíveis, segundo Funtes.
Embora os sistemas de informática nos permitam
trabalhar as ideias quase diretamente sobre o real
nunca deixa de ser necessário moldar uma ideia
com os velhos e queridos lápis e papel, o contato
com a realidade. De alguma forma, e exceto nos
programas puramente virtuais, o destino final de
nossas ideias será material palpável e visível
como matéria (FUENTES, 2006, p. 55).
No caso específico das plataformas digitais, o design deve
contribuir com uma navegação intuitiva, facilitando a comunicação com
a máquina. Como observa Mantovani (1995, p. 65), “as tecnologias que
funcionam bem têm a característica de desaparecer, de confundir-se com
o entorno em vez de atrair a luz dos refletores; a atenção do usuário
deve concentrar-se naquilo que ele quer fazer, não no instrumento.
Quando comemos, nossa atenção se concentra na comida, e não no
talher, a menos que o talher se dobre ou se rompa”.
Scolari (2004, p. 40) lembra que o termo interface existe há mais
de um século e nasceu no campo da hidrostática. Era usado no fim do
século 19 para definir uma superfície entre duas porções de matéria ou
espaço que tem um limite em comum. Para o autor, “a interface não é
uma espécie de membrana que separa dois espaços ou porções de
matéria, mas um dispositivo que garante a comunicação (aqui entendida
como intercâmbio de dados) entre dois sistemas informáticos ou entre
um sistema informático e uma rede de comunicação”.
Manovich (2005, p. 120) relaciona as interfaces ao impulso
humano de ler símbolos, e pensa a interface como um tecido cultural,
que atua “entre o homem, o computador e a cultura”, sendo a “maneira
que os computadores apresentam dados culturais e nos permitem
relacionarmo-nos com eles”. O autor (2004, p. 135) diz que “a
visualização dinâmica de dados é uma das mais genuínas e novas formas
118 culturais proporcionadas pela computação” e que no ambiente digital
intuitivo “podemos visualizar maiores conjuntos de dados, criar
visualizações dinâmicas, alimentar dados em tempo real e mapear um
tipo de representação noutro (imagens em sons, sons em espaços 3D)”.
O papel da simulação eletrônica é revolucionário.
A maioria dos programas para a manipulação da
mídia não simula simplesmente as interfaces das
antigas mídias, mas permite novo tipo de
operações no conteúdo da mídia. Em outras
palavras, essas ferramentas contêm o potencial
para transformar a mídia em metamídia. A lógica
da metamídia ajusta-se a outros paradigmas
estéticos atuais, como a remixagem de conteúdos
(mais visíveis na música, arquitetura e moda) e a
remixagem das tradições culturais (submersas na
globalização). A metamídia pode ser entendida
com um terceiro tipo de remixagem, aquele que
mistura a cultura e os computadores
(MANOVICH, 2004, p. 137-138).
Os simuladores eletrônicos baseiam-se, em boa parte dos casos,
em metáforas. Como observa Ford (1994, p. 43), citado por Scolari
(2004), toda metáfora implica “na busca de um modelo no outro lado,
em outra série, uma conexão isomórfica” que nos permite construir uma
explicação e ordenar o sentido diante de algo que “nos resulta novo,
inexplicável, ou pelo menos formalizável”.
Para Scolari (2004, p. 45), “as metáforas são potentes agentes
modeladores da percepção, pensamento e ações cotidianas presentes em
todos os sistemas semióticos que, quando conseguem articular e dar
coerência a uma orientação discursiva, se constituem em eficazes
dispositivos retóricos de persuasão”. O autor lembra que a informática
está carregada de metáforas, desde o vírus que infecta os componentes
de silício até a janela que abre e fecha com o dedo no mouse.
119
5 - RESULTADOS DA PESQUISA
5.1 - Os tipos de títulos jornalísticos na internet
Neste capítulo apresentaremos os resultados da parte empírica
deste trabalho. Ele está dividido em duas etapas:
Na primeira etapa, em cumprimento ao objetivo específico 2, de
identificar os principais tipos de título jornalístico na internet, e descrevê-los em categorias, apontaremos 10 tipos de títulos (categorias)
identificados em nossa observação, todos acompanhados de descrição,
exemplos escritos e imagem.
Na segunda etapa, em consonância com o objetivo específico 3,
de comparar títulos jornalísticos, da mesma notícia, publicados simultaneamente na internet e em jornal impresso, mostraremos
resultados do estudo no qual comparamos títulos de matérias publicadas
pela Folha de S.Paulo em seu site e repetidas no impresso.
Para a primeira etapa, como destacado no início deste trabalho,
no tópico Metodologia, observamos 5 mil títulos de notícias nos portais
UOL, Globo.com, R7 e Terra, e nos jornais Folha de S.Paulo, O Estado
de S.Paulo, O Globo e Diário Catarinense.
A observação foi feita nos meses de maio, junho, julho e agosto
de 2013, com rechecagem em novembro e dezembro do mesmo ano.
Foram avaliados os títulos de homepage, títulos das páginas internas de
notícias, títulos das listas de últimas notícias e títulos de meios
correlatos, como timelines de Twitter e Facebook. Em linhas gerais,
foram avaliadas notícias de Cidades, Polícia, Economia, Política,
Esportes e Cultura.
Na análise do material empírico desta etapa usamos abordagens
qualitativas. Nelas, observam Dalfovo (2008) e Fonseca (2002),
prioriza-se a interpretação, admite-se que o pesquisador exerce
influência sobre a situação ou evento pesquisado, há flexibilidade no
processo de conduzir a pesquisa, as amostras são consideradas
representativas do todo e os resultados são tomados como se
constituíssem um retrato real do alvo da pesquisa.
A lista está assim estabelecida: 1) títulos superalongados, 2)
títulos motorizados, 3) títulos agregadores, 4) títulos hiperdestacados, 5) títulos autossuficientes, 6) títulos antiestéticos, 7) títulos introdutórios,
8) título em camadas, 9) títulos mutantes e 10) títulos dependentes.
Importante observar que, em algum momento, pode haver interligação
entre algumas das categorias.
120
Títulos superalongados: pertencem a esta categoria aqueles
títulos que trazem muito mais que o resumo da notícia, e que, por isso,
em determinados momentos podem destoar da tradição histórica de
revelar a essência da notícia (SOUSA, 2005) e de dizer muito em poucas
palavras (BURNETT, 1991). Neles, a frase até pode ser forte e
impactante, mas é longa. Às vezes cansativa. Sujeito e ação se perdem
no amontoado de palavras. Em geral, são percebidos nas páginas da
notícia (onde lê-se o texto). Nas homepages, que costumam ter alguma
limitação de espaço, como nas publicações impressas, são raros. No
nosso entendimento, uma das explicações possíveis para esse tipo de
título é o fim da “ditadura do espaço”, que obriga o jornalista dos meios
impressos a um forte exercício de concisão e praticamente não existe no
ambiente digital --- não é necessário contar toques ou avaliar quebra de
linhas ao titular notícias na web (página da notícia). Outra razão
possível é a pressa. Por causa dela, muitos jornalistas talvez titulem sem
refletir sobre o ponto central da notícia, limitando-se a usar no título
uma frase do lead.
No cenário da leitura paga, iniciado pelo New York Times em
2011, os títulos superalongados podem ser perigosos, do ponto de vista
das metas de audiência, se disserem mais do que o necessário para o
título: o leitor que souber tudo lendo o título pode ir embora sem clicar
na notícia. E isso impacta na audiência, que costuma ser medida pelo
clique. Como lembra Sousa (2005), o título deve “antecipar a notícia
sem esgotá-la”.
Um título extraído do Globo.com em 29 de julho de 2013 pode
ajudar a entender melhor a ideia de superalongamento: “Caminhão de
combustível bate em 5 carros, explode e deixa pelo menos 9 mortos em
MG”22
. Nesse caso, para concluir o lead, talvez bastasse acrescentar
“quando” e “onde”. A situação hipotética ficaria assim: “Um caminhão
de combustível bateu em cinco carros, explodiu e deixou pelo menos
nove mortos em Minas Gerais na madrugada desta segunda-feira (18)”.
Em outro cenário, os títulos superalongados podem flertar com a
prolixidade, poluindo a informação central da notícia com expressões e
palavras desnecessárias. E isso, no nosso entendimento, também
contraria a máxima da síntese da notícia (MELO, 1985). Nesse cenário,
os superalongados trazem informações irrelevantes e geralmente são escritos de maneira desconexa. Na maioria dos casos, também
22 Disponível em: < http://oglobo.globo.com/pais/caminhao-de-combustivel-bate-em-5-carros-explode-deixa-pelo-menos-9-mortos-em-mg-9269331>
121 contrariam a ordem canônica da frase (a mais usual, que coloca na
sequência sujeito, verbo e complemento). E isso, como observa Kleiman
(1992), faz com que sejam “mal compreendidos pelo leitor”.
Por enxertar palavras demais, esse tipo de título muitas vezes não
casa com o tópico central do texto, o que retarda o processo cognitivo de
compreensão da notícia, segundo Van Dijk (2003). O leitor, diz o
estudioso holandês, espera que a informação do título se confirme no
lead e que o conteúdo do lead seja explicado ao longo do texto, em uma
espécie de escala de importância. Uma explicação possível para essa
falta de foco seria o que Amaral (1978) chama de “falta de experiência
profissional”, aquela que “impede o jornalista de compreender bem o
que é o mais importante do conteúdo que tem em mãos”.
Como exemplo desta “gordura editorial” trazemos um título do
Diário Catarinense de 30 de julho de 2013: “Especialistas ensinam
como elaborar um currículo profissional sem exageros e com todas as
informações essenciais”23
. Uma alternativa possível, dependendo da
ocasião, poderia ser algo como “Saiba como montar currículo
profissional sem exageros” ou “Currículo profissional precisa ser
objetivo, diz especialista”.
Os títulos superalongados, em outra ocasião, costumam valorizar
o “quando” e o “onde” mesmo que estas informações não sejam
relevantes para a compreensão da notícia. É uma espécie de sufixo de
tempo (“nesta quinta-feira”, “neste domingo”) ou de local (no bairro
Canasvieiras, no Norte da Ilha, em Florianópolis) que, especialmente
por razões de espaço, não costuma ser visto nas publicações impressas.
Este hábito de valorizar o “quando” e o “onde” nasceu no
segundo ciclo do jornalismo na internet, quando os jornais passaram a
produzir conteúdo exclusivo para a web em vez de simplesmente
transportá-los (BARBOZA, 2009). No início, o costume representava
uma maneira de marcar o tempo da notícia, já que a ideia de atualização
contínua (SCHWINGEL, 2012) começava a se fortalecer, e a cultura de
fechamento do jornal, no fim da noite, começava a se dissipar. Com a
evolução do noticiário online e o aculturamento do internauta, tal prática
tornou-se dispensável, mas ainda é percebida em jornais menores, como
se fosse um vício.
23 Disponível em: <http://diariocatarinense.clicrbs.com.br/sc/economia/noticia/2013/07/especialistas-ensinam-como-elaborar-um-curriculo-profissional-sem-exageros-e-com-todas-as-informacoes-essenciais-4217294.html>
122
Figura 9: título superalongado pode ser completo a ponto de
se parecer com o próprio lead da notícia (Oglobo.com)
>> excesso de palavras pode tornar o título cansativo,
flertando com a prolixidade e falta de objetividade (DC)
>> às vezes inútil ao título, hábito de destacar “quando”
e “onde”, da fase inicial da internet, alonga a frase (DC)
123
Título motorizado: serve para potencializar a audiência online
por meio de técnicas de SEO (do inglês, Ferramenta para Otimização de
Busca). É mais usado em coberturas que duram dias, como o julgamento
do Mensalão, mas também aparece no noticiário cotidiano por causa do
poder dos buscadores. O título é o elemento mais relevante para o
ranqueamento das notícias nas páginas de busca, segundo Contini
(2011) e Ramos (2012). Estar bem posicionado nos buscadores é
fundamental para a audiência porque, com alguma variação para mais
ou para menos, 50% dos acessos vêm por esses canais --- o leitor parece
preferir escrever palavras-chave em buscadores a digitar o endereço do
site. O título motorizado é praticamente invisível para o internauta
comum. Ele caracteriza-se pela repetição de palavras-chave ao longo da
cobertura. No caso do julgamento do massacre do Carandiru, as
chamadas destacaram as palavras “massacre” e “Carandiru” porque
presumia-se que, ao procurar tal conteúdo, o internauta digitaria essas
expressões no site de busca, não algo genérico como “preso”, “tiros” e
“cadeia paulista”, que poderia levar a qualquer outro conteúdo de
violência em prisão.
O título motorizado é diferente do hábito da imprensa de batizar
coberturas com uma espécie de cartola especial, como fez a Folha com
os protestos de junho de 2013, batizando o movimento de “O país em
protesto”. No título motorizado, essas palavras são espalhadas no título
em vez de servirem de cartola. Os riscos mais comuns do título
motorizado são o flerte com a prolixidade e a falta de objetividade.
Figura 10: repetição de palavras-chave, para facilitar trabalho
de buscadores, caracteriza título motorizado (Terra)
124
Títulos agregadores: são aqueles que reúnem informações
complementares ou divergentes sobre o mesmo tema, na mesma frase.
Às vezes, esse agrupamento é marcado por ponto e vírgula. Nesses
casos, a segunda ideia costuma explicar ou dar contexto à primeira, ou
apresentar uma consequência. É muito comum quando se pretende
regionalizar a informação maior. A Fórmula 1 é um exemplo. O piloto
que vence a corrida recebe destaque em todas as regiões do mundo; o
piloto da casa (interesse regional) vem depois do ponto e vírgula, como
mostra título da Folha de S. Paulo em 28 de julho de 2013: “Hamilton
vence na Hungria; Massa termina em oitavo”. Esse tipo de agrupamento
também aparece em casos de denúncia, em que o jornalista entende ser
necessário destacar no mesmo título algo como “fulano nega” depois do
ponto e vírgula. Trata-se de uma forma de juntar o que Van Dijk (1983)
chama de “vínculos óbvios do texto”, aqueles que leitor só confirma no
decorrer da notícia. Para entender melhor situações de “contexto”
analisemos exemplo de 30 de julho do UOL: “Itaú ganha R$ 7,1 bi no 1º
semestre; 2º maior lucro da história dos bancos”24
. Na mesma data,
Globo.com oferecia um exemplo de ideia de “consequência” (no caso, a
resposta da polícia).
Os títulos agregadores também podem “somar” informações. Isso
ocorre quando usam o “e” para reuni-las. Nesses casos, geralmente a
segunda metade do título dá ideia de continuidade ou providência, como
mostra exemplo do DC em 30 de julho de 2013: “Queda de menina em
mirante expõe insegurança e autoridades prometem medidas contra
novos acidentes”25
. Ao “somar” informações, o título agregador reúne
na mesma frase aquilo que, em publicações impressas, costuma ser
destacado nas linhas de apoio. Ele é comum nos casos em que o
jornalista não identifica o fato mais relevante da notícia entre dois
possíveis, e cita ambos com o “e” no meio. Como pontua Amaral
(1978), o “título também informa sobre a qualidade dos redatores e sua
capacidade de criar e resumir”.
24 Disponível em:<http://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2013/07/30/itau-ganha-r-71-bi-no-1-semestre-2-maior-lucro-da-historia-dos-bancos.htm> 25 Disponível em: <http://diariocatarinense.clicrbs.com.br/sc/geral/noticia/2013/07/queda-de-menina-em-mirante-expoe-inseguranca-e-autoridades-prometem-medidas-contra-novos-acidentes-4217254.html>
125
Figura 11: títulos agregadores reúnem informações sobre
o mesmo tema (acima, contextualizam a informação) (UOL)
>> também podem “somar” a informação usando o “e”,
dando ideia de “continuidade” ou “providência” (DC)
126
Títulos hiperdestacados: costumam ser usados só em ocasiões
especiais, como a visita do Papa ou um desastre aéreo. Eles são
diferentes daqueles que, em dias de noticiário rotineiro, ocupam o topo
do site, fazendo as vezes de manchete. Os hiperdestacados mudam o
formato da tela para indicar que o fato é fora do comum, e por isso
merecem aparecer em fonte maior e em mais colunas --- em geral,
avançam de uma ponta a outra do site, sem limitar-se a colunas. Esse
tipo de título só é usado na homepage. Ele não difere dos demais em sua
composição gramatical; só em sua apresentação, do ponto de vista
gráfico. Por ser usado na capa, onde há limites de espaço, pode ser
pensado em toques e linhas, o que desafia o jornalista. Como observa
Amaral (1978), “para resumir a ideia central da matéria em poucas
palavras, às vezes divididas em duas ou três linhas iguais, há que se
dominar o idioma”.
No ambiente digital, o título superdestacado é o que mais “prende
a vista do leitor pelas suas funções técnicas (chamar a atenção para o
fato) e estéticas (dar equilíbrio à página)” (DOUGLAS, 1966). Em
geral, é usado com parcimônia, pois dentro das limitações técnicas dos
sites, é o único disponível em uma cobertura especial (rigidez de
layout). Usá-lo com frequência enfraqueceria seu impacto visual --- no
papel, exceto pelo projeto gráfico, não há nada que impeça o uso de
títulos em fontes, tamanhos e cores diferentes em caso de notícia fora da
curva. Quando usados, os títulos hiperdestacados levam para baixo todo
o conteúdo do site. Em muitos casos, forma-se em torno dele uma caixa
editorial, com conteúdo variado sobre o mesmo tema: galerias de fotos,
vídeos, infográficos e outras notícias. Nesse cenário, ele dá link à
matéria principal e serve de referência para títulos correlatos, como
mostra exemplo da Folha em novembro de 2013, quando o ex-diretor do
Banco do Brasil Henrique Pizzolato fugiu do país para escapar da cadeia
por envolvimento no caso do Mensalão (imagem abaixo).
Em determinadas ocasiões, o título hiperdestacado não conduz a
uma matéria, mas a uma narração ao vivo, o popular minuto a minuto ---
o recurso foi muito visto em quase todos os portais e jornais brasileiros
em junho de 2013, na onda de protestos por um país melhor. Nesses
casos, ele destaca uma das situações narradas, geralmente a mais
chamativa, sem que haja uma matéria completa linkada nele, como é o normal. Tal recurso visa chamar a atenção para o evento maior,
destacando/atualizando particularidades. Não se pode dizer que o leitor,
que “espera confirmar no texto a informação do título” (KLEIMAN,
1989), seja enganado nesses eventos, pois trata-se de dispositivo da
127 internet já assimilado. Nesses eventos, esse recurso é uma forma de
evitar chamadas pouco apelativas como “Siga a cobertura ao vivo” ou
“Ao vivo: acompanhe os protestos pelo país”. Em casos de grande
relevância, a atualização desse tipo de título forma quase uma narração
na própria homepage, a área mais visualizada de qualquer site. No caso
dos protestos de junho, eventos como a prisão de algum estudante com
coquetel molotov não tinham potencial para gerar um título/narração. A
invasão do Senado, sim. Em muitos casos, as chamadas vêm
acompanhadas das expressões “ao vivo”, “agora” e “acompanhe”, que
dão noção de tempo real, termo criado a partir da circulação da
informação em redes globalizadas, segundo Adghirni (2002).
Figura 12: título superdestacado muda o layout da tela, e só é usado em
ocasiões especiais. É mais que a manchete (Folha.com)
128
>> em eventos “fora da curva”, não leva à matéria alguma,
só dá suporte a itens narrados no minuto a minuto (Folha.com)
129
Títulos autossuficientes: aqueles que, pelo menos por alguns
momentos, dispensam até a notícia em seu formato usual --- o que é
impensável no meio impresso. Beira o cúmulo da concisão jornalística
porque são, sozinhos, toda a notícia --- às vezes podem ter um
complemento na linha de apoio. Costumam ser usados em situações de
urgência, quando o jornalista tem só o núcleo central da informação e
considera importante publicá-la mesmo assim. A morte de um líder
importante seria um exemplo. O título autossuficiente encabeça uma
única notícia. Às vezes é acompanhado de um parágrafo, com
basicamente as mesmas informações do título, para não deixar em
branco o campo tradicionalmente ocupado pelo texto da notícia. Em
quase todos os casos é seguido da expressão “mais informações em
instantes”, dando a ideia de “estar em rede e ser instantâneo”
(ZAMORA, 2002). O título autossuficiente é pouco comum, mas pode
ser encontrado nas homepages e nas listas de notícia, onde geralmente
se vê diferença entre o “publicada às” e o “atualizada às”. Além do fator
pressa, muitos jornais usam esse tipo de título de olho na audiência via
redes sociais: ao ser publicada, mesmo sem texto, a página da notícia
gera link, a partir do qual inicia-se o compartilhamento; gerar um novo
link no meio desse processo representa perder audiência.
Figura 13: notícia se resume ao título e à linha de apoio (Estadão)
130
>> no mesmo link, houve atualização (hora) e correção (mortes)
131
Títulos antiestéticos: são aqueles apresentados sem os cuidados
estéticos que o leitor habituou-se a ver nos meios impressos. Eles ferem
os princípios de simetria e regularidade do design de página (BÜRDEK,
2010). São vistos com mais frequência nas capas de edição automática,
sem intervenção de um jornalista. Esse tipo de título fere uma das
funções nobres do título, de “dar equilíbrio à página” (COMASSETO,
2003), e contrariam a máxima jornalística que prega que a composição
visual da página (ou tela) é determinante para o consumo da notícia. Um
marco a esse respeito está no século 19, com a chamada guerra
jornalística, entre os donos do New York Journal, William Hearst, e do
New York World, Joseph Pulitzer. Os dois perceberam que o aspecto
tipográfico influenciava na venda de jornais e começaram a modificar a
primeira página, introduzindo uma paginação equilibrada, “com títulos
de duas colunas nas margens do jornal, incluindo subtítulos e, mais
tarde, manchetes que ocupavam oito colunas” (MELO, 1985). Os títulos
antiestéticos são especialmente evidentes nas capas das editorias, que
costumam ter menos da metade da audiência da home. Por esse motivo,
muitas delas são atualizadas por publicadores automáticos, como no DC,
de onde tiramos o exemplo abaixo.
Em outra frente, a apresentação visual do título pode ser
comprometida pelo “gesso” das interfaces digitais. Nesse cenário, a
frase aparece incompleta na tela. Ela termina em reticências, deixando o
leitor sem parte da informação. O problema é mais comum em
aplicativos de celulares e tablets abastecidos com o mesmo conteúdo do
portal referência.
132
Figura 14: título antiestético desrespeita princípios
de simetria e regularidade do design gráfico (DC)
>> além de ferir padrões estéticos, às vezes leitor
fica privado de parte da informação (Terra)
133
Títulos introdutórios: antes da informação central, fazem um
enunciado para colocar o leitor no assunto. O enunciado geralmente traz
uma espécie de memória da informação central, resgatando o último fato
acerca do tema. Também é comum trazerem explicações históricas ou
comportamentais. Em geral, esse tipo de título começa com o “como”. É
mais comum nas páginas de notícias que nas homepages. Também é
visto nas versões impressas, mas na internet, especialmente por causa do
espaço ilimitado, é muito mais frequente. Tornou-se quase obrigatório
no noticiário esportivo, como mostram exemplos do Globo.com em 2 de
agosto de 2013: “Com 14 troféus, técnico Guardiola diz que ganhar
títulos não é tudo”26
; “Pronto para brilhar, Bolt mira recordes e quer a
coroa dos 100m rasos”27
; “Engasgada com jejum, Dani Lins quer fim da
série de vices: `estou cansada´”28
; e “Com Kaká de titular, Real estreia
com vitória nos EUA ao superar o Galaxy”29
.
O enunciado pode ajudar o leitor, quando o coloca no assunto,
fornecendo uma memória episódica, mas também pode atrapalhá-lo, se
descambar para expressões gordurosas. Como aponta Van Dijk (2003),
os títulos são determinantes para a compreensão do texto, pois é habito
humano simplificar informações em tópicos para poder compreendê-la
melhor. Para ilustrar, dois exemplos extraídos do UOL em 30 de julho
de 2013: “Após 5º ouro em mundiais, Cielo diz: `se o mundo acabar,
26 Disponível em: <http://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/futebol-alemao/noticia/2013/08/com-14-trofeus-na-carreira-guardiola-diz-que-ganhar-titulos-nao-e-tudo.html> 27 Disponível em: <http://globoesporte.globo.com/atletismo/noticia/2013/08/pronto-para-brilhar-no-mundial-bolt-mira-recordes-e-coroa-dos-100m.html> 28 Disponível em: <http://globoesporte.globo.com/volei/noticia/2013/08/engasgada-com-jejum-dani-lins-quer-fim-de-serie-de-vices-estou-cansada.html> 29 Disponível em: < http://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/noticia/2013/08/com-kaka-de-titular-real-estreia-com-vitoria-nos-eua-ao-superar-o-galaxy.html>
134 estou feliz com o que conquistei´”
30; e “Depois de ano complicado,
Messi mostra otimismo para nova temporada”31
.
Em casos extremos, o título introdutório traz apenas uma palavra-
chave antes da informação central da notícia. A palavra destacada
mostra rapidamente ao leitor sobre o que diz a notícia. Geralmente é
seguida de dois pontos para reforçar a marcação. O recurso não exclui o
uso da cartola tradicional, criada na mídia impressa para amarrar ou
apresentar um tema, e também usada na internet. Poderia ser menos
utilizado, mas tornou-se uma espécie de hábito no ambiente digital,
bombardeado de informações, onde é preciso demarcar bem uma
informação para fisgar a atenção do leitor.
Este recurso é visto em todas as editorias, mas parece mais
comum no noticiário de entretenimento: usa-se o nome da celebridade
seguido de dois pontos antes de, propriamente, destacar a informação
sobre o que o ator ou a atriz fez; usa-se “cinema” ou “música” antes de
titular lançamentos de filmes e discos; opta-se por “flagra” e “babado”
antes de destacar o novo escândalo das celebridades.
Entre os títulos encontrados no ambiente digital, o perfil “cartola”
é o que mais lembra os primeiros formatos de títulos jornalísticos,
descritos por Melo (1985) como “rótulos ou rubricas”. Essas marcações
“limitavam-se a separar conteúdos e indicar ao leitor pequenas
diferenças temáticas entre o conteúdo publicado”.
No noticiário cotidiano (trânsito, clima, cidades), a introdução
por “cartola” é muito usada para valorizar o “onde”, como mostra
exemplo do portal Terra de 1º de agosto de 2013: “Alemanha: mulher
dá à luz bebê de 6,1 kg de parto normal”.
30 Disponível em: <http://esporte.uol.com.br/natacao/ultimas-noticias/2013/07/30/apos-5-ouro-em-mundiais-cielo-diz-se-o-mundo-acabar-estou-feliz-com-o-que-conquistei.htm> 31 Disponível em: <http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas-noticias/2013/07/30/depois-de-ano-decepcionante-messi-mostra-otimismo-para-nova-temporada-do-barcelona.htm>
135
Figura 15: título introdutório cria enunciado para colocar leitor no
assunto; e costuma valorizar o “como” (Globo.com)
>> em casos extremos, usa só uma “cartola”, precedida de dois pontos
(:), para delimitar tópico para introduzir assunto (UOL)
136
Título em camadas: é aquele que revela um novo conteúdo após
o clique, como se a informação estivesse disposta em camadas. No caso
da homepage, o título apresentado ali é o primeiro a atrair a atenção do
leitor. Após o clique, ele revela um segundo título, sobre a mesma
notícia. O primeiro costuma ser menor, pensado dentro do espaço
disponível na tela. O segundo tende a ser maior, já que na página da
notícia não há o mesmo rigor espacial. O primeiro pode ser pensado pela
máxima da frase curta e usual (MELO, 1985). O segundo, pelos motores
de busca, que, como citado anteriormente, representam mais da metade
da audiência online dos principais portais do país32
. Há, na passagem de
um tipo ao outro, o que poderíamos chamar de “efeito surpresa”.
Do ponto de vista dos editores de portal, a relação entre camadas
pode representar uma chance de melhorar o título: aquele que foi mal
construído, seja por não valorizar uma informação importante ou por
usar verbos inexpressivos, pode ser ajustado (ou esquentado, na gíria
jornalística) ao ser levado à homepage, onde o índice de cliques é maior
--- o ajuste na página da notícia leva mais tempo, e às vezes pode até ser
ignorado.
O título em camadas é próprio da internet, pois toda navegação se
dá a partir do clique, que revela uma página após a outra. Mas, em
comparação com os jornais impressos, poderíamos fazer uma relação
com os títulos de capa (primeira página) e os títulos da notícia (na
página da notícia, em sua respectiva editoria). Na internet, há casos em
que essa relação entre as camadas é explorada editorialmente. A editoria
de Esportes talvez use o recurso com mais propriedade. Vejamos o
exemplo do portal Globo.com (Esportes) de 2 de agosto, data em que
Neymar e Messi jogaram juntos pela primeira vez no Barcelona.
“Pontapé inicial”, dizia o título da homepage --- para o título fazer
sentido, havia uma foto de Neymar chutando a bola, com se estivesse
dando um pontapé. Na página da notícia, à qual se chegava após o
clique no título, lia-se: “Criador x criatura: agora no Barça, Neymar revê
Santos no Camp Nou”. Em outra frente, a relação entre camadas de
32 Para se posicionar bem nas páginas de resultado de busca, as notícias
precisam estar acompanhados de outras técnicas de SEO. Em geral, além das
palavras do título, os buscadores consideram a hora em que a notícia foi
publicada (quanto antes, melhor), a repetição de palavras-chave no texto (é um
pecado no jornalismo, mas robôs não entendem sinônimos), a idade do site
(quanto mais velho, melhor), a quantidade de links dentro das matérias (os
cliques que elas tiveram somam pontos) e a parceria com grandes portais (dar e
receber links de gigantes ajuda muito).
137 títulos pode ser frustrante para o leitor. Isso geralmente ocorre quando
há diferença de informação entre o título da homepage e o título da
página da notícia. Tal problema é comum quando a notícia é atualizada
na página, e não na capa --- às vezes por falha de comunicação entre
repórter e editor de home.
Figura 16: título em camadas tem um formato na homepage (neste
caso, para casar com a foto) e outro na página da notícia (Globo.com)
>> na página da notícia, na “segunda camada”, título
apresentou composição menos “hard” (Globo.com)
138
Títulos mutantes: são aqueles que mudam substancialmente sua
construção de acordo com os acontecimentos. Eles podem flertar com a
falta de ética jornalística, uma vez que, sem a perenidade do papel, têm
condições para “atualizar” a informação em vez de “corrigi-la” --- nesse
caso, o título mutante é apagado no todo ou em parte relevante ao ser
reescrito para um ajuste significativo, como mudar de vivo para morto a
condição de alguém. Exemplo semelhante a isso verificamos em 28 de
agosto do Diário Catarinense: às 9h44 foi publicado “Dois são baleados
no Morro da Caixa, em Florianópolis”; às 10h40 a notícia foi atualizada
e o título mudou para “Homem é morto pela polícia no Morro da Caixa,
em Florianópolis”. Há uma mudança radical de informação e um tempo
considerável entre a primeira publicação (com dados do momento) e a
atualização (com dados novos). E isso, a nosso ver, mereceria uma nova
matéria. Em um cenário mais “ingênuo”, a mutação ocorre diante de
uma atualização típica da internet, como o ajuste na quantidade de
cidades em emergência por causa da chuva (em caso de enchente, esse
tipo de número muda rapidamente, e seria inviável fazer novas matérias)
ou o número de presos em uma grande operação policial.
Há também uma mutação proposital em função do público e do
canal de divulgação da notícia. Isso é muito comum nas redes sociais,
que representam grande fonte de tráfego online. Assim, em um
momento o título mutante pode ser curto e direto como manda a tradição
jornalística, e em outro ser carregado de detalhes, estar associado a fotos
ou vídeos e culminar com uma pergunta.
No Twitter, até onde pudemos observar, eles costumam ter viés
mais noticioso e “resumir a notícia’, como recomenda Melo (1985). Em
alguns casos, o resumo se deve ao limite de 140 caracteres (e há de se
reservar espaço do link da notícia). No Facebook, geralmente vêm
acompanhados de informações adicionais (às vezes o lead inteiro),
elementos como fotografias e gráficos, e perguntas para estimular o
debate, uma das características da rede criada por Mark Zuckerberg. Nos
dois casos, o título social pode salvar o título da página da notícia, se
este não estiver suficientemente atraente. Exemplo do Terra mostra que,
mesmo com assuntos frugais, o título nas páginas de notícias costuma
ser mais objetivo que nas redes sociais. Na lista de notícias, o tema foi
titulado “Dispositivo escaneia `comida´ e revela quantidade de calorias”. No Facebook, a chamada foi precedida de pergunta: “Preocupada com
dieta? Canadenses desenvolvem dispositivo que `escaneia´ comida e
revela a quantidade de calorias dos ingredientes”.
139
Figura 17: Título mutante pode “apagar” título original
(ver primeiro e último tuite) ao atualizar a notícia (DC)
>> também pode mudar de acordo com canal
de divulgação, como o Facebook (abaixo) (Terra)
>> o título da notícia (figura acima) foi modificado
para se adaptar à rede social (Terra)
140
Títulos dependentes: são aqueles títulos que, sozinhos, não
permitem que o leitor entenda a notícia que apresenta. Um dos títulos
dependentes mais clássicos é aquele que faz parte de um tema maior,
algo como uma retranca no jornalismo impresso, e vai ao ar sem as
amarrações necessárias. Ao ser publicado, perde o sentido, tornando-se
desinteressante ao leitor. O problema ocorre principalmente na lista de
“últimas” notícias. Nelas, o leitor perde o contato com o tema central,
mesmo quando há cartolas. A dificuldade aumenta quando a publicação
dessas partes do todo é feita em horários alternados.
Esse tipo de situação, da parte desprendida do todo, geralmente
ocorre quando o conteúdo do jornal impresso é replicado sem os devidos
ajustes para o site. No online, diferentemente do impresso, não há a
visualização da página, que permite entender, por meio de uma cartola,
que os conteúdos ali fazem parte de um conjunto de informações.
Vejamos um exemplo de outubro de 2013, período de revisão de nossa
lista de títulos, encontrado no DC. O título “Evoluir ainda é preciso”,
sozinho, é indizível. Veio do impresso e para ser levado ao ar na internet
deveria ter um complemento, como “Evoluir ainda é preciso, diz
repórter que investiga desaparecidos”.
Outra situação de dependência ocorre diante de grandes
acontecimentos, em que os jornais buscam constantemente
complementar o assunto principal com “conteúdos correlatos”.
Exemplo: se um avião cai, este será o assunto principal. Matérias com a
lista de passageiros, última revisão da aeronave e relato de testemunhas
seriam os conteúdos correlatos. Para não ficarem sem sentido, essas
últimas precisam de elementos identificadores. Nas homes devem estar
agrupadas em mesmo bloco editorial, como fez o UOL em 31 de julho
de 2013, durante o mundial de esportes aquáticos de 2013, em
Barcelona, com o principal nadador brasileiro: Sob a cartola “Esportes
aquáticos”, estavam o título principal “Provas não olímpicas turbinam
Brasil no mundial com ouro de Cielo”, e os agregados “Atleta muda
treino por novos músculos” e “Estou feliz se ele está feliz, diz
treinador”.
Os títulos dependentes podem, por outro lado, se converter em
facilitadores de leitura. Do ponto de vista do leitor, quando bem
amarrados ao tema central e agrupados na homepage, agilizam a leitura. Do ponto de vista dos portais, são uma forma de ampliar a audiência, já
que, quanto mais cliques, maior o índice de leitura.
141
Figura 18: título dependente é aquele que, quando publicado
separado do tema central, perde sentido (DC)
>> quando corretamente agrupado na homepage, pode
agilizar a leitura e ampliar audiência do portal (UOL)
142
5.2 - Comparativo entre títulos na internet e impresso
Nesta segunda etapa, como destacado anteriormente,
mostraremos os resultados do estudo comparativo de títulos de matérias
publicadas pela Folha de S.Paulo em seu site e repetidas no impresso (a
mesma matéria, nas duas plataformas).
Esta etapa refere-se ao objetivo específico 3, de comparar títulos
jornalísticos, da mesma notícia, publicados simultaneamente na internet e em jornal impresso.
Como explicado no tópico Metodologia, foram analisados 210
títulos das editorias de Poder, Internacional, Mercado, Cotidiano e
Ilustrada. Excluímos da análise títulos de colunistas, de seção de artigos,
de editoriais e afins.
A análise levou em conta títulos publicados entre os dias 18 e 23
de agosto de 2013. Foi uma semana útil inteira, escolhida
aleatoriamente, por conveniência. Não houve nenhum evento
predominante no noticiário no período, o que nos permite imaginar que
representa a rotina de uma redação jornalística em qualquer época do
ano.
Partimos das notícias da edição impressa, a nacional, e
procuramos conteúdo afim publicado no site, na lista de “últimas
notícias”, em um período de 24 horas anteriores. Notícias sobre o
mesmo tema, mas apresentadas sob um foco totalmente diferente em
qualquer uma das plataformas, foram ignoradas.
Para facilitar o estudo e para termos medições do todo e das
partes, dividimos a análise em editorias. O procedimento de seleção e
comparação foi igual para todas. Isso nos permitiu apontar, por
exemplo, quais das seções mais mudam e o que elas mais mudam entre
as notícias publicadas na versão impressa e na internet.
Dividimos esta etapa do estudo em quatro partes: 1) análise geral
dos números, 2) impacto na leitura e compreensão da notícia, 3) por que
os títulos mudaram e 4) o tamanho dos títulos nas duas plataformas.
Para as partes 1, 2 e 3 criamos categorias, descritas nas próximas
páginas.
A parte 4 foi construída por uma média matemática, extraída da
soma das palavras do título (os artigos definidos e indefinidos também foram considerados palavras). Somamos as palavras dos títulos de cada
plataforma, no todo e por editorias, e as confrontamos para extrair a
média.
Seguem os resultados:
143
1) Análise geral dos números
>> Categorias
a) Títulos sem ajustes entre site e impresso: títulos da mesma
notícia que apareceram 100% iguais na internet e na edição impressa.
Exemplo: “Nixon e Pelé discutem futebol em áudios divulgados pelos
Estados Unidos” (21/08).
b) Títulos com ajustes entre site e impresso: títulos da mesma
notícia que apareceram diferentes, em qualquer grau, na internet e na
edição impressa. Exemplo: site “Itamaraty pede devolução de pertences
de brasileiro detido em Londres”; impresso “Itamaraty pede bens de
brasileiro de volta” (21/08).
c) Títulos ajustados sutilmente: títulos da mesma notícia, com a
mesma construção frasal, mas publicados na internet com
palavras/informações a mais ou a menos. Exemplo: site “Supremo reduz
chance de José Dirceu ter pena menor”; impresso “STF reduz chance de
Dirceu ter pena menor” (22/08).
d) Títulos ajustados radicalmente: títulos da mesma notícia que
no site e no impresso foram publicados sem a mesma construção frasal e
apresentavam abordagens diferentes nas duas plataformas. Exemplo:
site “Namorado brasileiro de jornalista que denunciou ciberespionagem
é detido em Londres”; impresso “Londres detém brasileiro por
terrorismo” (18/08).
>> Resultados totais
Total de títulos analisados: 210
Sem ajustes entre site e impresso: 43 (20,47%)
Com ajustes entre site e impresso: 167 (79,53%)
Dos 167 com ajustes... Ajustados sutilmente: 54 (32,33% dos com ajustes)
Ajustados radicalmente: 113 (67,66% dos com ajustes)
144
>> Resultados por editorias
Editoria Títulos
analisados
Sem
ajustes
Com
ajustes
Ajustados
sutilmente
Ajustados
radicalmente
Cotidiano 52 10 ou
19,23%
42 ou
80,76%
Dos
42
20 ou
47,61%
22 ou
52,38%
Esportes 37 7 ou
18,91%
30 ou
81,08%
Dos
30
9 ou
30%
21 ou
70%
Mercado 36 11 ou
30,55%
25 ou
69,44%
Dos
25
5 ou
20%
20 ou
80%
Poder 34 7 ou
20,58%
27 ou
79,41%
Dos
27
6 ou
22,22%
21 ou
77,77%
Internacional 29 2 ou
6,89%
27 ou
93,10%
Dos
27
5 ou
6,89%
22 ou
81,48%
Ilustrada 22 6 ou
27,27%
16 ou
72,72%
Dos
16
9 ou
56,25%
7 ou
43,75%
Total 210 43 ou
20,47%
167 ou
79,53%
Dos
167
54 ou
32,33%
113 ou
67,66%
210
167
43
Total Com ajustes Sem ajustes
Os títulos
145
2) Impacto na leitura e compreensão do texto
>> Categorias
a) Sem prejuízo ao leitor: título manteve-se compreensível no
site, mesmo sem os elementos de apoio usados na versão impressa,
como cartolas. Exemplo: “Prova para Itamaraty faz crítica à França”
(22/08) (não há dificuldade para entendimento tanto no site quanto na
versão impressa).
b) Com prejuízo ao leitor: título publicado no site foi afetado,
em qualquer grau, pela falta de elementos de apoio usados na versão
impressa, como cartola. Exemplos: “Barbosa defende pressa para
encerrar julgamento” (julgamento do quê?); “Plano Diretor prevê
confisco de imóvel abandonado” (onde?); e “Para defender título,
Palmeiras encara rival da elite nas oitavas” (de qual torneio?).
>> Números gerais
Total de títulos s/ ajustes entre site e impresso: 43 (20,47% de 210)
Sem prejuízo ao leitor: 39 (90,69 dos sem ajustes)
Com prejuízo ao leitor: 4 (9,30% dos sem ajustes)
43 39
4
Igual site e impresso S/ prejuízo leitor C/ prejuízo leitor
146
>> Números por editoria
Editoria Total de
títulos sem
ajustes
Com prejuízo
ao leitor
Sem prejuízo
ao leitor
Poder 7 1 6
Internacional 2 2
Cotidiano 10 1 9
Esportes 7 2 5
Ilustrada 6 6
Mercado 11 11
Totais 43 4 39
Observação: todos os 43 títulos sem ajustes foram
encontrados no site entre 3h e 4h, quando o conteúdo de notícias do
impresso é publicado na internet. Essas 43 matérias referem-se a conteúdos exclusivos ou avanços substanciais em relação ao noticiário
factual. Para esta análise, não levou-se em conta o conhecimento prévio sobre determinado tema, o que ajuda na compreensão da notícia (VAN
DIJK, 2003; KLEIMAN, 1989).
147
3) Por que os títulos mudaram
>> Números totais
Total de títulos com ajustes: 167
Ajustados sutilmente: 54 (32,33%)
Ajustados radicalmente: 113 (67,66%)
>> Categorias sutilmente
a) Acrescentou detalhe (onde, como ou quando): título
que trouxe informação extra e melhorou a informação. Exemplo: site
“Bienal de São Paulo terá quinteto de curadores na edição 2014”;
impresso “Bienal terá quinteto de curadores na edição 2014” (23/08).
b) Introduziu fato: título que relacionou tema atual a
antigo, facilitando a vida do leitor. Exemplo: site “Após ficar fora de
pódio no Mundial, Fabiana Murer é bronze em etapa da Liga Diamante”; impresso “Fabiana Murer é bronze em etapa da Liga
Diamante” (22/08).
c) Abriu sigla ou nome: o título trouxe siglas abertas ou
nomes completos dos personagens. Exemplo: site “Agente da Polícia
0
50
100
150
200
Títulos ajustados Radicalmente Sutilmente
148 Federal é preso acusado de extorquir R$ 2 milhões”; impresso “Agente
da PF é preso acusado de extorquir R$ 2 milhões” (21/08).
d) Excluiu palavras: o título manteve o mesmo radical noticioso
do papel, mas excluiu palavras, sem prejuízo ao leitor. Exemplo: site
“Ataque no Sinai mata 24 policiais egípcios”; impresso “Ataque no
deserto do Sinai mata 24 policiais egípcios” (19/08).
>> Resultados categoria sutilmente
Títulos ajustados sutilmente: 54
Acrescentou detalhe: 23 (42,59% do total 54)
Abriu sigla ou nome: 12 (22,22%)
Introduziu fato: 10 (18,51%)
Excluiu palavras: 9 (16,66% do total)
0
10
20
30
40
50
60
Aj. sutilmente
Acre. detalhe
Abriu sigla Introduziu fato
Excluiu palavra
149
>> Resultados sutilmente por editorias
Poder Inter. Esp. Ilust. Cotid. Merc. Total
Acrescentou
detalhe
2 3 5 3 10 23
Abriu sigla 2 6 4 12
Excluiu
palavras
2 3 3 1 9
Introduziu
fato
2 1 3 3 1 10
6 5 9 9 20 5 54
>> Categorias radicalmente
a) Menos conciso: título de site que usou mais palavras
que o impresso para dar a mesma informação. Exemplo: site “Taxa de
desemprego desacelera e vai a 5,6% em julho, diz IBGE”; impresso
“Desemprego recua para 5,6% em julho” (22/08).
b) Mais eventos: título de site que destacou mais de duas
ações do sujeito/personagem/evento, para agregar dado ou por falta de
foco. Exemplo: site “Sonnen surpreende em luta, finaliza Shogun e
provoca Wanderlei no UFC em Boston”; impresso “Sonnen derrota
Shogun e provoca brasileiro” (18/08).
c) Resumiu, sem explicar: título de site que limitou-se a
resumir o lead, sem explicar ou traduzir a notícia ao leitor. Exemplo:
site “Latam Airlines tem prejuízo de US$ 330 mi no 2º trimestre e culpa
dólar”; impresso “Desvalorização do real dá prejuízo à dona da TAM”
(21/08) (não significa que a notícia na internet ficou incompreensível,
mas a versão impressa ficou mais clara).
d) Acrescentou contexto: título de site que acrescentou
informação de contexto ou explicação para ajudar leitor a entender
evento. Exemplo: site “Com preços mais altos, cresce crédito para
imóveis acima de R$ 1 milhão”; impresso “Cresce crédito para imóveis
acima de R$ 1 milhão” (19/08).
150
e) Layout de página: título de site que apresentou
diferenças em relação ao impresso por causa da diagramação do papel
(construção foi invertida ou palavras foram trocadas/cortadas para se
alinharem a projeto gráfico). Exemplo: site “Denise Stoklos transforma
Carta ao Pai, clássico de Kafka, em crítica aos políticos”; impresso
“Stoklos transforma/Carta ao Pai em/crítica aos políticos” (em três
linhas iguais) (21/08).
f) Acerto de ordem estilística: o título precisou ser
reconstruído na internet para ter sentido. Exemplo: site “Orestes une
ficção e realidade para mostrar consequências da ditadura nos dias de
hoje”; impresso “São tantas as verdades” (19/08).
>> Resultados categoria radicalmente
Total de títulos ajustados radicalmente: 113
Mais eventos: 37 (32,74%)
Resumiu, sem explicar: 27 (23,89%)
Menos conciso: 26 (23%)
Layout de página: 9 (7,96%)
Acrescentou contexto: 9 (7,96%)
Acerto ordem estilística: 5 (4,42%)
0
20
40
60
80
100
120
Títulos rad.
Mais eventos
Resumiu, s/
explicar
Menos conciso
Layout página
Acre. contexto
Ord. estilística
151
>> Resultados radicalmente por editoria
Poder Inter. Esp. Ilust. Cotid. Merc. Total
Mais
eventos
6 6 10 2 9 4 37
Resumiu, s/
explicar
6 4 5 4 8 27
Menos
conciso
6 6 4 6 4 26
Layout de
página
3 1 1 3 1 9
Acrescentou
contexto
5 1 3 9
Ordem
estilística
5 5
21 22 21 7 22 20 113
152
4) Tamanho dos títulos nas duas plataformas
>> Resultados gerais
Títulos analisados na internet: 210
Títulos analisados no papel: os mesmos 210
Média geral de palavras na internet: 10,83 (33,86% maior)
Média geral de palavras no papel: 8,09 (fatia menor)
>> Resultados por editorias
Editoria Média de
palavras no
site
Média de
palavras no
impresso
Percentual de
aumento
Ilustrada 11 7,54 45,88%
Esportes 11,56 8,56 35,04%
Poder 10,52 7,79 35,04%
Mercado 10,16 7,72 31,60%
Internacional 10,66 8,22 29,68%
Cotidiano 11,11 8,74 27,11%
O tamanho
153
Considerações sobre comparação de títulos web/impreso
Análise geral
A análise feita a partir da comparação de 210 títulos da Folha de S.Paulo sugere que o título jornalístico na internet está maior que no
impresso. Na amostra analisada, o percentual de aumento foi de 33,86%.
Na ótica otimista, é possível entender que o tamanho maior seja
indicativo de um título mais completo, que acrescenta informações,
especialmente detalhes de como, quando e onde, como mostra exemplo
extraído da Folha de S.Paulo em 20 de agosto: Site “Em carta, sindicato
pede dinheiro para ações contra Mais Médicos”; impresso “Sindicato
pede dinheiro para ações contra Mais Médicos”. No caso específico, a
palavra “carta” é um detalhe que faz pouca diferença no entendimento
do enunciado. Mas nossa observação mostrou que, em determinados
casos, a palavra extra pode acionar conhecimentos prévios sobre certos
temas e estimular a leitura ou acelerar a compreensão do assunto. Em
parte, o título aparece maior na internet, pelo menos em nossa amostra,
por causa do espaço ilimitado da rede. Na ótica pessimista, que nos
parece mais fiel com o estudo feito, o título maior vai contra a ideia
história do “dizer muito em poucas palavras” e contra o processo
cognitivo pelo qual o homem tende a simplificar o máximo a
informação para assimilá-la melhor. Também contraria a tradição oral,
de onde vem o formato do texto jornalístico e dos próprios títulos das
notícias, que pede que o mais importante seja dito primeiro e que os
detalhes sejam explicados a seguir. A análise mostra que, em relação ao
título impresso, o título na internet parece mais “cômodo”. Entende-se
por “cômodo” o título que limita-se a resumir a informação do lead da
notícia, sem a habitual tradução da informação vista nos melhores
exemplos de meios impressos. Em relação ao impresso, o título da web
nos pareceu ter menos interpretação da informação e ser menos conciso.
Análise por editorias
Ilustrada: O título do caderno de cultura é o que mais cresce na
internet, dentro da nossa análise. Isso não nos pareceu surpresa porque, tradicionalmente, os títulos dos cadernos de cultura são os mais breves
do jornalismo impresso. Pelos temas abordados, até o desenho das
páginas e os textos costumam ser tratados de uma maneira mais leve. Os
títulos entram nesse conjunto, muitas vezes sendo definidos com base na
154 imagem que o editor usará na página. Na internet, para não ficarem sem
sentido, os títulos desta editoria analisados por nós transformam-se em
títulos estilo hard news. Saiu o título curto, entrou a receita de sujeito,
verbo ativo e complemento. Exemplo disso extraímos da Ilustrada em
21 de agosto de 2013. A notícia sobre o novo CD do rapper Emicida foi
apresentada na edição impressa como “Volta sem revolta” em fonte de
destaque. Na internet foi adaptada para “Lançando novo disco, Emicida
fala sobre mudança de abordagens em suas letras”. Outro exemplo
marcante encontramos na edição de 23 de agosto do mesmo caderno em
notícia sobre o festival de cinema de Veneza. No impresso, o título foi
“Da selva para Veneza”, destacando que muitos filmes indicados
abordavam assuntos ligados às florestas. Na internet foi adaptado para
“Temas ecológicos são ponto comum entre filmes brasileiros do Festival
de Veneza”.
Esportes: O título da editoria de Esportes na internet foi o maior
entre todas as editorias analisadas. Teve uma média de 11,56 palavras,
três a mais que a média do impresso. Em parte, acreditamos que isso se
deve ao excesso de chamadas com mais de uma ideia ou informação.
Trata-se de algo comum nesse tipo de noticiário, que costuma destacar o
feito e o que ele representa ao atleta, à modalidade ou ao país. Costuma
ser assim inclusive no impresso. Mas na internet, diante do espaço sem
fim, parece tornar-se muito mais abundante. Para ilustrar, destacamos
um exemplo de 18 de agosto sobre vitória do tenista espanhol Rafael
Nadal em um torneio internacional. No impresso a notícia foi “Nadal
ganha Cincinnati e sobe no ranking”. Na internet, além desse núcleo
central, foi destacado o nome do derrotado e detalhes do nome do
torneio e da posição no ranking: “Nadal vence Isner, fatura o título do
Masters de Cincinnati e vira nº 2 do mundo”. Dentro da nossa amostra, a
editoria também lidera o uso de “apostos” para contextualizar algum
feito, algo comum no mundo esportivo, como mostra título da edição de
22 de agosto sobre a saltadora Fabiana Murer. No impresso, o título foi
“Fabiana Murer é bronze em etapa da Liga de Diamante”. Na internet,
destacou-se o contexto da vitória dela: “Após ficar fora de pódio no
Mundial, Fabiana Murer é bronze em etapa da Liga Diamante”.
Cotidiano: O tamanho do título de Cotidiano na internet é o que
menos cresce ante o título equivalente na edição impressa, sugere nosso
comparativo. Uma explicação para isso é que a editoria é a que tem os
maiores títulos na edição impressa, com média de 8,74 palavras. Outra é
155 o fato de a editoria ser a mais equilibrada entre as duas plataformas
pesquisadas: não pula do poético para o hard, como verificado em
Ilustrada; não acrescenta consequências, como visto em Esportes; e não
traduz tanto a informação como é comum no noticiário econômico. Em
percentual, a editoria de Cotidiano foi a terceira que mais fez ajustes em
títulos para publicá-los na internet --- 80,76% dos títulos analisados; o
maior percentual foi de Internacional, com 93,10%. O principal motivo
de ajuste de títulos dentro da nossa amostragem foi acrescentar detalhe
de como, quando e onde. Importante registrar que, de todas as editorias
pesquisadas, Cotidiano é a que lida com temas mais imprevisíveis, como
desastres pelo país, o que requer atualização contínua no site e no
impresso.
Internacional: O noticiário internacional é o que mais mudou
títulos na versão impressa frente à digital. Os títulos online pesquisados
focam mais o evento em si. Os impressos costumam trazer mais
análise/interpretação sobre o episódio, como sugere notícia de 22 de
agosto sobre o brasileiro detido em Londres pela lei antiterror. O título
na internet foi “Reino Unido restringe inspeção de documentos
apreendidos com brasileiro”. No impresso foi “Brasileiro tem vitória
contra Reino Unido”, seguido de linha de apoio “Corte britânica
restringe uso e análise de material apreendido com David Miranda que
se destinava o namorado jornalista”. Em parte, essa cultura de mudanças
pode estar relacionada a dois aspectos: ao fuso horário, que permite à
editoria trabalhar melhor os temas registrados fora das Américas, e à
aproximação com o Brasil, que ajusta o foco da notícia em si para o
impacto ou relação dela com os interesses brasileiros. Um indicativo
disso é que, dentro da nossa amostra, a editoria foi a que mais mudou
títulos radicalmente para acrescentar contexto.
Mercado: O título econômico foi o que mais apresentou
“tradução de informação” entre as versões online e impressa. Nota-se
uma espécie de conflito entre o que acontece (site) e o que isso
representa (impresso). O hábito de explicar a informação é uma tradição
do noticiário econômico, praticado por poucos jornalistas e muitas vezes
considerado complicado para o leitor. Das editorias analisadas, Mercado foi a que mostrou ter os menores títulos na edição impressa, com média
de 7,72 ante 8,74 de Cotidiano, a líder. Também tem os menores títulos
na edição online, como média de 10,16 palavras, contra 11,56 de
Esportes, a líder. Apesar de depender de muitas siglas e índices, os
156 títulos de Mercado foram os que menos apresentaram problemas na
transposição entre impresso e site: dos 11 títulos da editoria encontrados
100% iguais nas duas plataformas, nenhum apresentou problema para
compreensão da notícia, segundo nossa classificação.
Poder: títulos do noticiário de Poder foram os que apresentaram
maior equilíbrio entre os aspectos avaliados nesta etapa do estudo. Poder
é a terceira editoria que mais muda títulos radicalmente, com 77,77% da
amostra (Internacional lidera com 81,48%, seguido de Mercado com
80%) e a terceira que menos faz ajustes entre os títulos publicados na
edição impressa e na internet, com 20,58% de incidência (líder é
Mercado, com 30,55%, seguida de Ilustrada, com 27,27%). Esse último
dado pode se justificar porque, pela proposta do jornal, até onde
pudemos observar, a editoria de Poder opta mais por conteúdos
exclusivos que as outras editorias.
5.3 - Nove características gerais do título na internet
Apresentamos agora avaliações feitas pelo autor deste trabalho
sobre o título jornalístico na internet. Baseado no estudo bibliográfico,
na observação de 5 mil títulos de notícias publicados na internet por oito
sites e portais referências no país e na comparação direta entre títulos
publicados em jornal impresso (Folha) e repetidos na internet, ou vice-
versa, nossa pesquisa, dentro de suas limitações, sugere que os títulos na
internet:
a) São maiores: o crescimento, até onde foi possível observar
dentro de nossa análise, se deve principalmente ao espaço quase
ilimitado da rede, que permite acrescentar informações. Visto pelo
ângulo positivo, significa que o título maior é mais completo, como
indica exemplo singelo extraído da Folha em 21 de agosto de 2013
sobre a Rede, partido que Marina Silva quis criar em 2013. Na internet,
o título foi “Justiça pede investigação sobre fichas da Rede, novo
partido de Marina”33
. No impresso foi “Justiça pede investigação sobre
fichas da Rede”, sem acrescentar que se trata do partido idealizado pela ex-senadora. No mesmo dia, a Folha destacou no site que “Serra cobra
33
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/08/1329484-promotoria-investiga-fraude-na-coleta-de-apoios-da-rede-em-sp.shtml>
157 igualdade de condições para disputar prévias com Aécio”
34, e no
impresso “Serra quer igualdade de condições em prévias”. O primeiro é
ligeiramente mais completo que o segundo porque acrescenta o partido
de Serra e com quem ele disputa para concorrer à Presidência. A ótica
negativa sugere que o título maior, especialmente o que perde o foco por
excesso de palavras, se distancia de três aspectos que julgamos
relevantes: 1) o dever ser resumido, para rapidamente situar o leitor; 2) a
tradição oral, de onde vem o formato do texto jornalístico e dos títulos,
que pede que o mais importante seja dito primeiro e que os detalhes
sejam explicados a seguir; 3) o processo cognitivo pelo qual
simplificamos a informação para assimilá-la melhor. Vejamos títulos do
Diário Catarinense em 23 de outubro de 2013 que podem servir de
exemplos. O primeiro refere-se à estrutura do prédio que abriga acervo
de um artista plástico de Joinville: “Chuvas e cupins travam batalha com
a entidade que procura conservar o legado de Schwanke na úmida
Joinville”35
. Acreditamos que poderia ser adaptado para “Infiltração e
cupins abalam prédio com acervo de Schwanke”. O segundo é sobre um
incêndio em área florestal da Grande Florianópolis. “Incêndio em
vegetação mobiliza bombeiros e é apagado com auxílio do helicóptero
Arcanjo, em Palhoça”36
. Pensamos que poderia ser melhor “Bombeiros
usam helicóptero para conter incêndio florestal em Palhoça”. No
comparativo com 210 títulos da Folha, que apresentamos anteriormente,
os títulos da mesma notícia na internet apresentaram média de 10,83
palavras, contra 8,09 do impresso. Dito de outra forma, 33,86% maiores.
b) Demonstram mais homogeneidade: para fazer sentido na
internet, onde o leitor perde o contato com outros elementos de
referência da página, como as cartolas e as fotos, os títulos ganham
palavras e são empacotados dentro de uma estrutura ou receita editorial
34 Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/08/1329984-serra-cobra-igualdade-de-condicoes-para-disputar-previas-contra-aecio.shtml> 35 Disponível em: <http://anoticia.clicrbs.com.br/sc/cultura-e-variedades/anexo/noticia/2013/10/chuvas-e-cupins-travam-batalha-com-a-entidade-que-procura-conservar-o-legado-de-schwanke-na-umida-joinville-4308209.html> 36 Disponível em: <http://diariocatarinense.clicrbs.com.br/sc/geral/noticia/2013/10/incendio-em-vegetacao-mobiliza-bombeiros-e-e-apagado-com-auxilio-do-helicoptero-arcanjo-em-palhoca-4299364.html>
158 comum entre os veículos digitais (títulos de O Globo e Folha, por
exemplo, têm mais semelhança ou homogeneidade na web que na
versão impressa). Isso parece verdadeiro especialmente nos cadernos de
cultura, que tradicionalmente optam pelo estilo poético nas versões
impressas e precisam reconstruir a chamada na web, como mostra
exemplo da Folha em 20 de agosto de 2013: no papel, o título foi “As
fantasias de Robert Crumb”; na rede, “À beira dos 70, Robert Crumb
fala à Folha da antologia com suas histórias mais pervertidas”37
. Um
processo parecido ocorre com os textos das notícias. Na internet, eles se
parecem mais. Tem estrutura e ritmos muito parecidos. Na versão
impressa as nuances de estilo entre os veículos são mais visíveis.
c) São mais completos: sem os limites físicos do papel, que
eleva a necessidade de concisão, os títulos na internet podem destacar
mais de uma informação acerca do fato noticiado. Na maioria dos casos,
dentro do nosso recorte, o texto extra completa o núcleo central do
título, dando contexto a ele, o que ajuda o leitor no entendimento da
notícia. O noticiário esportivo talvez seja o maior beneficiado com tal
possibilidade, pois no ambiente digital pode, na mesma sentença,
facilmente dizer quem ganhou e o que representa o título (se o faz subir
no ranking ou se o classifica a um nível mais elevado de disputa, por
exemplo) ou em que circunstâncias determinada equipe venceu ou
perdeu (depois de um jejum historio? Sem os titulares?). O acréscimo
pode ser sutil, mas geralmente agrega valor à chamada. No nosso
comparativo, associado à ideia geral a que chegamos depois da
observação dos títulos, as informações extras ofereceram detalhes
circunstanciais de como, quando ou onde, e fatos que relacionam o fato
noticiado a eventos passados ou introduzem o leitor no assunto.
d) São mais prolixos: títulos pequenos, aqueles com alto poder
de resumo de um fato, parecem ter virado, dentro de nossa amostragem,
uma espécie de pecado editorial no universo noticioso de chamadas
maiores. Talvez por isso muitos redatores se sintam no dever de esticar
títulos, agregando a eles termos e informações irrelevantes. Ou seja, um
título de cinco ou seis palavras destoa da maioria dos publicados na
internet, a ponto de seu tamanho chamar a atenção na lista de “últimas”. O excesso de palavras dificulta o entendimento da notícia, cansa o leitor
37 Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2013/08/1328878-robert-crumb-se-diz-constrangido-com-historias-reunidas-em-antologia.shtml>
159 e pode até afastá-lo da notícia se o conteúdo extra, além de
desnecessário, for escrito fora da ordem canônica, a mais usual, que
coloca em sequência sujeito, verbo e complemento.
e) Parecem mais acomodados: as receitas mais clássicas dizem
que o título deve resumir a notícia, explicando-a em uma frase curta,
objetiva e sedutora. Na nossa amostra, até onde pudemos perceber,
muitos títulos aparentam destacar uma frase do lead, em vez da ideia
central do texto, em um processo intelectual aparentemente afetado pela
comodidade. A agilidade predomina. Faltam sacada e criatividade,
essenciais para tornar o título atraente e sedutor. O problema talvez seja
mais explícito no jornalismo econômico, que nos meios impressos
costuma traduzir a notícia, e na internet parece homogeneizar a
chamada. Nas redações, a habilidade para titular com resumo e
criatividade juntos cria abismos entre os “bons de título” e os “ruins de
título”. Ou, como pontuam alguns especialistas, entre os que dominam a
língua e os que não a dominam. Em parte, esse suposto comodismo
pode ser fruto de três traços marcantes do noticiário na internet: 1) a
agilidade, que às vezes confronta a qualidade com o chegar antes; 2) a
abundância de conteúdo, que indiretamente pode levar o jornalista a
acreditar que se dará melhor da próxima vez; 3) ao caráter mais efêmero
do noticiário, que envelhece rapidamente enunciados.
f) Têm mais funções: a exemplo do jornalista, que no ambiente
da convergência produz para mais de uma mídia, desdobrando-se em
tarefas (foto, texto, vídeo) que até algum tempo atrás eram feitas por
mais de um profissional, o título na internet também tem mais de uma
função: além das habituais, como oferecer uma síntese da notícia e
equilibrar o layout da página, agora 1) dão link e abrem as páginas de
notícia; 2) servem de base para motores de busca; 3) levam a audiência
da notícia A à notícia B em caso de link interno; 4) conduzem a leitura
pelos labirintos do hipertexto; 5) preenchem interfaces automáticas em
sites, aplicativos e timelines de redes sociais, tornando-se “imagem”
predominante; 6) determinam a venda da notícia nos modelos de
paywall.
g) Têm efeito surpresa: o título publicado na capa do site revela
outro, às vezes muito diferente, ao ser clicado. Há um efeito surpresa. E
isso pode ser bom para a audiência: o título enxuto e bem apresentado
160 da capa poderá atrair quem navega pelo site, e o título interno (revelado
após o clique) poderá fisgar aqueles que leem via buscador.
h) Têm maleabilidade: o título na internet muda de acordo com
a vitrine em que será exposto e ao sabor dos acontecimentos. No
primeiro caso, podemos citar de exemplo sua publicação na homepage
(o título da página da notícia é ajustado de acordo com o espaço
disponível na tela) e nas redes sociais (no Twitter segue levada
jornalística e obedece limite de 140 caracteres, e no Facebook procura
estimular a interatividade por meio de perguntas). No segundo caso,
podem mudar após uma atualização da notícia, ou serem totalmente
reformulados em casos de evento ao vivo (nessa situação chegam a
narrar a notícia em tempo real, tornando-se também o corpo dela).
i) Tem menos cuidado estético: pela agilidade da rede e pelos
limites gráficos das engrenagens mecânicas, costuma ser apresentado
sem os cuidados estéticos vistos na mídia impressa. Isso espanta a
leitura, porque as interfaces, para serem atraentes, devem ser fáceis de
navegar e bonitas. O título sem cuidado estético é aquele que termina
em reticências, impedindo o fim da leitura, e aquele publicado nas capas
com palavras, linhas de apoio e legendas desalinhadas. Ele contraria os
preceitos de simetria e regularidade do design gráfico. Em parte, o
problema pode se dever 1) às ferramentas de edição online, que
engessam formatos visuais e navegacionais; 2) aos dispositivos
mecânicos de publicação e edição, que distribuem automaticamente
conteúdos entre sites, capas de editorias e aplicativos; e 3) à
instantaneidade do noticiário, que gera um volume grande de notícias a
ser exposto nas capas.
161
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Elemento capaz de atrair ou afastar o leitor, o título jornalístico
passa por uma transformação expressiva por conta do avanço das
plataformas digitais, para onde cada vez mais migra a leitura do
noticiário e para onde a maioria das empresas jornalísticas do país
aponta suas expectativas de futuro.
Esta transformação é, no nosso entendimento, a maior vivida
pelos títulos desde o século 19, quando parte da imprensa norte-
americana, como pontua Melo (1985), inaugurou o estilo de chamadas
destacadas que vemos até hoje nos jornais impressos --- nessa fase, o
título passou a conciliar o que Douglas (1966) chama de funções
técnicas (atrair o leitor) e estéticas (apresentar bem a notícia); ou seja,
além de isca à leitura, o título foi alçado à condição de elemento
determinante ao layout de página.
Na internet, nos parece que o título jornalístico deve ser ainda
mais atraente, uma vez que a atualização de conteúdos é contínua, o que
gera um amontoado de informações impossível de ser lido por inteiro ---
talvez nunca antes na história do jornalismo a leitura tenha sido tão
baseada nos títulos.
Na internet, também, o título amplia sua função “visual”, já que
torna-se elemento mais visível que a própria fotografia em muitas telas
digitais, especialmente as de telefone celular. É, ao mesmo tempo, frase
e imagem.
Para o leitor, o título jornalístico na internet é guia e banca: guia
porque conduz a leitura pelos caminhos labirínticos da rede; banca
porque vende a notícia, literalmente, pois o clique sobre ele contabiliza
os acessos via sistemas de cobrança digital.
Para o jornalista, o título na web parece mais “livre”. Na maioria
dos casos não é mais necessário contar toques e linhas para fazê-lo,
como é praxe nos jornais impressos. E ninguém precisa ser tão conciso,
dado o espaço quase sem fim da rede --- contudo, é preciso lembrar que
palavras a mais podem complicar o entendimento da frase, segundo
observam Van Dijk (1989) e Kleiman (1989).
O que procuramos nesta pesquisa foi uma abordagem a esse novo
título, que concilia funções históricas e novas. Também procuramos mostrar que o título jornalístico é fruto do desenvolvimento da própria
imprensa (surgiu como mero separador de texto ou palavra-chave do
texto) e de algo muito mais antigo que isso: a organização do texto.
162
Como pudemos observar com autores como Laignier (2009) e
Walker (1996), houve um tempo em que o texto não seguia a
organização de ideias e a apresentação como conhecemos hoje. Assim, a
adoção de elementos como capítulos, parágrafos e títulos ajudou na
organização textual. Esta, por sua vez, contribuiu indiretamente com a
organização do pensamento, observa Havelok (1973), impulsionando o
desenvolvimento humano e social.
Esta pesquisa está baseada em três etapas: 1) levantamento
bibliográfico sobre títulos jornalísticos, focando suas interseções com o
jornalismo, com a tecnologia e com a beleza; 2) observação e
categorização de títulos jornalísticos na internet; e 3) comparação de
títulos da mesma notícia publicados simultaneamente na internet e em
jornal impresso para tentar identificar no que a primeira plataforma
diferencia da segunda.
Estas três etapas referem-se, nessa ordem, aos três objetivos
específicos que traçamos no início do trabalho, com o intuito de atingir
o objetivo geral: abordar os títulos jornalísticos na internet, a fim de
registrar suas principais características nessa plataforma tecnológica,
alvo de inúmeras pesquisas no âmbito acadêmico.
Na primeira etapa procuramos reunir os principais estudos sobre
o título jornalístico, e isso mostrou-se uma tarefa difícil porque os
títulos, apesar de fundamentais para o entendimento e para a
apresentação da notícia, são pouco estudados. Seja em obras específicas
do jornalismo ou da linguística, campo que também percorremos
minimamente, os títulos geralmente aparecem como conteúdo
secundário, que ocupam sequer um capítulo. A maior fatia do conteúdo
encontramos em Sousa (2005), Melo (1985), Amaral (1978) e
Comassetto (2003). Os outros dois temas do nosso recorte bibliográfico,
a tecnologia e a beleza, têm um conteúdo mais abundante. Assim,
procuramos filtrar autores com os quais compactuamos ou que, pelos
critérios acadêmicos, não poderiam ficar de fora. Como exemplo,
citamos Mcluhan (1964), Santaella (2004), Lévy (2003), Salaverría
(2005) e Scolari (2008). No fim, acreditamos ter construído três linhas
do tempo, com conceitos fundamentais, do título jornalístico em sua
interseção com o jornalismo, a tecnologia e a beleza.
Na segunda etapa, procuramos categorizar os tipos de títulos na internet, observando os principais portais de notícias e jornais do país.
Foram 5 mil títulos observados ao longo de quatro meses. O maior
desafio dessa fase foi a volatilidade da internet: a maior parte dos títulos
passa pouco tempo na tela de observação, a homepage, e a abundância
163 deles dificulta a categorização. Como observa Adghirni (2007, p. 237),
“observar na internet é um desafio ao pesquisador por causa do fluxo
contínuo da informação e de sua temporalidade” O trabalho foi feito
entre maio e outubro de 2013, e ao concluí-lo pensamos ter listado os
principais tipos de título/categorias na internet, sejam eles exclusivos do
ambiente digital ou reconfigurados por causa da internet.
Na terceira etapa, comparamos títulos da Folha de S.Paulo
publicados na internet e na edição impressa. Foi um trabalho difícil,
porque envolveu a criação de muitas categorias para dar conta de
apontar as mudanças que os títulos tiveram entre uma plataforma e
outra. Os resultados a que chegamos mostram, entre outros, que o título
na internet está maior que no impresso. E isso, na nossa avaliação, pode
ser bom (quando as informações extras ampliam a informação) ou ruim
(se as palavras a mais tornarem-se gorduras editorias, alongando a frase
de maneira desnecessária e dificultando a vida do leitor).
Ao fim dessas três etapas, acreditamos ter minimamente
conseguido fazer uma abordagem aos títulos jornalísticos na internet,
como nos propusemos em nosso objetivo geral. O conteúdo reunido
aqui, dentro de suas limitações, nos parece um primeiro passo para
tentar entender a reconfiguração dos títulos jornalísticos na internet, e
talvez ajude futuras pesquisas sobre o tema. Uma opção nesse sentido
seria um levantamento histórico, que investigasse os primeiros usos e a
evolução dos títulos até a chegada às plataformas digitais.
Por fim, devemos reconhecer que esta pesquisa baseou-se
principalmente em abordagens qualitativas, e nesse tipo de abordagem,
como aponta Richardson (1989), os resultados do estudo passam por
interpretações do pesquisador. Ou seja, outra pessoa, se tivesse
percorrido o mesmo caminho, provavelmente teria tido conclusões
diferentes.
164
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173
ANEXOS
174
ANEXOS A
Lista de títulos publicados pela Folha de S.Paulo na internet e
reproduzidos na internet, ou vice-versa, usados em nosso estudo
comparativo (capítulo 5).
Poder
18/08/2013 - 15h55
Professores fazem enterro simbólico de Cabral em protesto na orla de
Copacabana
Em protesto, professores 'enterram' Cabral; Docentes, defensores de direitos de animais e ocupantes da Câmara fazem atos no Rio
19/08/2013 - 20h31
Renan recua e admite não votar 'vetos bomba' para o governo
Após reunião com Dilma, Renan admite retirar vetos
Senador recua e sugere adiamento de votações que preocupam governo
Presidente da Casa prega 'equilíbrio das contas públicas'; tema mais
polêmico é multa do FGTS em demissões
19/08/2013 - 21h16
Impedir que um ministro expresse seus pensamentos é inconstitucional,
diz OAB
Presidente da OAB sai em defesa de Lewandowski
Para Fux, episódio foi superado e penas dos réus serão conhecidas até
dia 7 de setembro
20/08/2013 - 23h16 PT desiste de recurso e TSE confirma aprovação de contas em ano do
mensalão
TSE aprova contas do PT da época do mensalão
175 Partido retira pedido e tem confirmada aprovação para finanças da
sigla em 2003; Supremo retoma hoje análise de embargos declaratórios
do julgamento realizado no ano passado
20/08/2013 - 21h55
Documento entregue ao STF por José Dirceu ajuda defesa de Bispo
Rodrigues
Defesa de Dirceu apoia recurso de outro réu
Argumento também pode beneficiar ex-ministro
20/08/2013 - 19h32
Líder quilombola envolvido em conflito com fazendeiros é morto no
Pará
Quilombola envolvido em disputa de terras é assassinado em Belém
20/08/2013 - 23h20
STF abre investigação contra deputado que movimentou R$ 21 milhões
STF abre investigação sobre deputado federal paulista
Segundo relatório, tucano Carlos Roberto de Campos movimentou R$
21 mi em sua conta
20/08/2013 - 13h43
Indicado à Procuradoria-Geral se reúne com Renan para viabilizar
aprovação no Senado
Indicado por Dilma para Procuradoria vai ao Senado
Senadores precisam aprovar nome de Janot
20/08/2013 - 13h14
Na terra de Aécio, Dilma reverencia Tancredo e anuncia recursos para
região
Dilma relança PAC em reduto de Aécio
176 Em São João del-Rei, terra da família do senador tucano, a presidente
reverencia Tancredo e corteja prefeitos; Cotado para disputar
Presidência em 2014, senador acusa petista de 'desrespeitar' população
mineira
20/08/2013 - 16h39
Manifestantes ocupam a Câmara para sessão destinada aos vetos
presidenciais
Manifestantes invadem plenário da Câmara e interrompem sessão
Ativistas favoráveis e contrários ao veto de Dilma à lei do Ato Médico quase entram em confronto; Além de médicos e enfermeiros, policiais,
papiloscopistas e bombeiros também participaram do ato
20/08/2013 - 18h04
Em recado a Serra, Aécio diz que votará por prévias se elas forem
solicitadas
Aécio defende prévias para ampliar pressão sobre Serra
Rivais dizem aceitar eleição interna para definir candidato do PSDB em
2014; Senador mineiro tem controle do partido, mas ex-governador quer
concorrer mais uma vez à Presidência
21/08/2013 - 03h41
Justiça pede investigação sobre fichas da Rede, novo partido de Marina
Justiça pede investigação sobre fichas da Rede
Cartórios identificam indícios de fraude em assinaturas coletadas em
cidades paulistas
20/08/2013 - 13h08
Nova licitação do metrô baiano atrai apenas um consórcio
Só um consórcio se inscreve na licitação para metrô de Salvador
Sem concorrentes, CCR deve ser declarado vencedor no pregão
177 21/08/2013 - 15h41
José Sarney recebe alta de hospital em São Paulo
CONGRESSO
Sarney recebe alta do Sírio-Libanês após exame no coração
22/08/2013 - 03h15
Supremo reduz chance de José Dirceu ter pena menor
MENSALÃO - O JULGAMENTO
STF reduz chance de Dirceu ter pena menor
Supremo rejeita recurso de ex-deputado que pedia punição mais branda por corrupção; tese beneficiaria ex-ministro; Ministros da corte
mantêm condenações de Carlos Rodrigues e de três integrantes do
'núcleo financeiro'
22/08/2013 - 03h35
Barbosa defende pressa para encerrar julgamento
MENSALÃO - O JULGAMENTO
Barbosa defende pressa para encerrar julgamento
Presidente do STF reage a críticas e diz que seu objetivo é evitar
'delongas'; Uma semana após bate-boca no plenário, ministro evita pedir
desculpas por ataque ao revisor Lewandowski
22/08/2013 - 03h14
Justiça vê indícios de fraude em listas da Rede em cinco Estados
Justiça questiona listas de novo partido de Marina em 5 Estados
'Grafia semelhante' em assinaturas diferentes da Rede é investigada
21/08/2013 - 14h51
178 Após 12 dias, manifestantes saem da Câmara Municipal do Rio
Sob aplausos, grupo de manifestantes deixa Câmara do Rio
Protesto na sede do Legislativo carioca estendeu-se por 12 dias e terminou de forma pacífica, sem uso de força ; Justiça determinou
desocupação; ato criticava CPI dos Ônibus por ser dominada por aliados
do prefeito
22/08/2013 - 03h20
Barroso diz que não acha correto mudar resultado do julgamento do
mensalão
Barroso diz que não acha correto mudar resultado
21/08/2013 - 19h49
Serra cobra 'igualdade de condições' para disputar prévias contra Aécio
Serra quer 'igualdade de condições' em prévias
Pela 1ª vez, tucano admite que pode concorrer à Presidência pelo
partido
Após Aécio defender consulta interna, ex-governador diz que é preciso
saber 'regras e prazos' da disputa
22/08/2013 - 03h19
Movimentos sociais pedem regulação das TVs e rádios
Movimentos sociais pedem regulação das TVs e rádios
Proposta da Confecom defende limitações à publicidade e cotas
nacionais e regionais
21/08/2013 - 17h00
Governo inicia preparação para exumação do corpo de João Goulart
COMISSÃO DA VERDADE
Exumação do corpo de Jango começa a ser preparada
179 22/08/2013 - 03h30
Dilma decidiu trazer 4.000 médicos cubanos ao país para colocar o Mais
Médicos 'de pé'
Cubanos na veia
21/08/2013 - 03h35
Congresso mantém vetos de Dilma a Ato Médico e fundo dos Estados
Congresso mantém vetos de Dilma, apesar de divisão no PMDB
Presidente da Câmara agiu como 'líder da oposição' em votação de
interesse do Planalto, afirma Renan a aliados; Para Henrique Alves,
lealdade ao partido será 'sempre maior' que a qualquer governo; ministra
fala em 'vitória'
23/08/2013 - 03h30
Supremo rejeita tese petista e mantém pena de Delúbio
MENSALÃO - O JULGAMENTO
Supremo rejeita tese petista e mantém pena de Delúbio
Ex-tesoureiro tem pedido de redução de punição rejeitado por unanimidade
Ministro admite erro de data apontado por condenados, mas STF conclui
que equívoco não muda julgamento
23/08/2013 - 03h13
FHC tenta reduzir tensão entre Serra e Aécio
FHC tenta reduzir tensão entre Serra e Aécio
Ex-presidente admite que prévias são 'naturais', mas busca pacto de
convivência entre pré-candidatos no PSDB
Antes de cumprir agenda em São Paulo, senador mineiro recomenda
'sangue frio' a seus aliados
180 23/08/2013 - 03h27
Programa de TV do PMDB evita exibir políticos e destaca o papa
FOCO
Programa de TV do PMDB evita exibir políticos e destaca o papa
23/08/2013 - 03h50
Índios questionam demarcações de Dilma
Índios questionam demarcações de Dilma
Em mesa de negociações no Planalto, líderes indígenas responsabilizam
governo por conflitos com fazendeiros
Ministros refutam críticas e atribuem dificuldades na delimitação de
terras à lentidão da Justiça
20h24 Rede registra primeiro diretório estadual, no Rio Grande do Sul
REDE SUSTENTABILIDADE
Partido de Marina Silva consegue registrar seu 1º diretório estadual
06h00 Sem Serra, PPS deve apoiar Eduardo Campos para presidente,
diz Roberto Freire
Sem Serra, PPS deve se aliar ao PSB, afirma Freire
Para o partido, porém, prioridade é atrair tucano
03h13 Dilma driblou seguranças e saiu de moto pelas ruas de Brasília,
diz ministro
Motoqueira fantasma
Dilma driblou seguranças e saiu de moto pelas ruas de Brasília, conta
ministro
181 03h33 Planalto decide criar página em rede social
Planalto decide criar página em rede social
'Gabinete Digital' quer aproximar o governo dos eleitores que navegam pela internet
23h25 CPI dos Ônibus do Rio tem 'guerra de claques', pancadaria e 9
prisões
CPI dos Ônibus do Rio tem 'guerra de claques', pancadaria e 9 prisões
Grupo contesta domínio do PMDB em comissão; Justiça suspende trabalhos por 48 horas
Polícia detém ativistas por lesão corporal e ameaça; jornalistas que
cobriam protesto são hostilizados
19h15 Supremo encerra sessão após indecisão sobre recurso de Valério
MENSALÃO - O JULGAMENTO
Multa adia análise de recurso de Valério
Após erro na publicação de acórdão, ministros do STF divergem sobre cifra a ser paga pelo operador do esquema
Valor publicado supera quantia proclamada no término do julgamento;
Lewandowski sugere redução de R$ 62 mil
Internacional
18/08/2013 - 16h18
Namorado brasileiro de jornalista que denunciou ciberespionagem é
detido em Londres
Londres detém brasileiro por terrorismo
182 David Miranda é namorado do jornalista Glenn Greenwald, pivô das
denúncias de espionagem do governo dos EUA
Repórter diz que polícia só questionou namorado sobre suas
reportagens; Itamaraty condena medida 'injustificável'
18/08/2013 - 15h24
Guerrilha ataca fazenda de brasiguaio e mata cinco no Paraguai
Ataque de milícia a fazenda de brasileiro no Paraguai mata cinco
Ação, no sábado, teria sido primeiro ato do grupo guerrilheiro EPP no governo de Horacio Cartes
18/08/2013 - 10h40
Missão da ONU para investigar armas químicas entra na Síria
SÍRIA
ONU chega ao país para investigar uso de armas químicas
18/08/2013 - 11h41
Pescadores espanhóis protestam contra arrecife feito por Gibraltar
ESPANHA
Pescadores fazem ato contra arrecife na baía de Gibraltar
MUNDO MAIS EXPLICATIVO
18/08/2013 - 08h13
Coreia do Norte aceita diálogo para visitas de famílias separadas
PENÍNSULA COREANA
Pyongyang aceita negociar com Seul reunião de famílias
183 'Só pode ter sido um ato terrorista', afirma dono das terras; novo
presidente do país diz que será 'implacável'
19/08/2013 - 17h55
Repórter da 'Time' defende morte de Assange no Twitter e causa
polêmica
Repórter diz desejar morte de Assange
19/08/2013 - 10h07
Embarcação britânica chega a Gibraltar em meio a disputa com Espanha
GIBRALTAR
Navio de guerra inglês atraca em meio à tensão
19/08/2013 - 23h04
Líder supremo da Irmandade Muçulmana é preso no Egito
Governo prende líder supremo da Irmandade Muçulmana no Egito
Detenção de Mohammed Badie é mais um sinal do crescente cerco
militar imposto a islamitas
Presidente deposto Mohammed Mursi tem prisão estendida por mais 15
dias; ex-ditador Mubarak pode ser solto
19/08/2013 - 06h30
Ataque no Sinai mata ao menos 24 policiais egípcios
Ataque no deserto do Sinai mata ao menos 24 policiais egípcios
19/08/2013 - 14h02
Brasileiro aperta botão errado e aciona alarme de emergência na
embaixada dos EUA
Brasileiro aciona por engano alarme da embaixada
184 19/08/2013 - 17h14
Cristina Kirchner fez viagem não-oficial a paraíso fiscal, diz TV
ARGENTINA
Cristina fez viagem não oficial a paraíso fiscal, acusa jornalista
19/08/2013 - 16h17
Promotoria pede 60 anos de prisão para soldado que ajudou WikiLeaks
Promotor pede 60 anos de prisão para fonte do WikiLeaks
21/08/2013 - 03h45
Especialistas em mídia divergem sobre prisão de brasileiro em Londres
Especialistas em mídia divergem sobre o episódio
21/08/2013 - 03h15
Pirâmides ficam às moscas após golpe militar no Egito
Pirâmides ficam às moscas após golpe militar
Violência e instabilidade política afetam setor crucial para o Egito
Ex-vice interino, o Nobel da Paz ElBaradei deve ser convocado à Corte
após acusação de traição, diz jornal
21/08/2013 - 03h30
Oposição questiona Kirchner sobre viagem a paraíso fiscal
Oposição questiona Cristina sobre viagem
Presidente argentina fez visita não oficial em janeiro às ilhas
Seychelles, um paraíso fiscal, e levantou suspeitas
Segundo programa de TV, empresa de ex-sócio de Kirchner acusado de
lavagem de dinheiro possui contas no local
20/08/2013 - 12h36
Farc admite responsabilidade por mortes durante conflito na Colômbia
185 Farc se responsabilizam por parte de vítimas de guerra
Durante diálogo, guerrilha colombiana pede cálculo para total de afetados e indenização
22/08/2013 - 03h30
Prova para Itamaraty faz crítica à França
Prova para Itamaraty faz crítica à França
Teste de candidatos a diplomata diz que intervenção no Mali visa
proteger jazida de urânio
22/08/2013 - 07h46
Nixon e Pelé discutem futebol em áudios divulgados pelos EUA
Nixon e Pelé discutem futebol em áudios divulgados pelos EUA
21/08/2013 - 16h31
Itamaraty pede devolução de pertences de brasileiro detido em Londres
Itamaraty pede bens de brasileiro de volta
21/08/2013 - 11h24
Militar fonte do WikiLeaks é condenado a 35 anos de prisão
Militar pega 35 anos de prisão nos EUA por ter vazado dados
Menor que a esperada, sentença aplicada a soldado Bradley Manning
foi 'vitória estratégica', diz WikiLeaks
Após cumprir 1/3 da pena, ele poderá pedir liberdade condicional;
advogado tentará obter perdão presidencial
21/08/2013 - 08h30
Oposição acusa regime sírio de matar centenas em ataque químico
Oposição acusa Síria de ataque químico
Regime de Bashar al-Assad nega; Conselho de Segurança da ONU convoca reunião de emergência em Nova York
186 Vídeos mostram corpos, entre eles de crianças, sem ferimento visível;
não há confirmação por fontes independentes
21/08/2013 - 00h08
Jovens são acusados de matar jogador de beisebol nos EUA por estarem
'entediados'
EUA Jovens dizem ter matado por estarem 'entediados'
22/08/2013 - 09h09
Militar informante do WikiLeaks diz que quer viver como mulher
Soldado condenado nos EUA pretende se tornar mulher
22/08/2013 - 16h24
Questão da prova para Itamaraty que atribuía à França segundas
intenções no Mali é anulada
ITAMARATY - Questão de prova que acusava a França por ação no
Mali é anulada
22/08/2013 - 13h13
Obama anuncia plano para reduzir endividamento de universitários
ESTADOS UNIDOS
Obama faz pacote para tentar conter dívidas estudantis
22/08/2013 - 11h35
Ex-ditador Hosni Mubarak é solto e encaminhado a hospital no Egito
Ex-ditador egípcio sai de prisão para hospital militar
Com saúde frágil, Hosni Mubarak passa a ficar detido em regime domiciliar
Governo interino sabe que transferência pode causar indignação, mas
clima nas ruas do Cairo era de indiferença
187 22/08/2013 - 10h42
Reino Unido restringe inspeção de documentos apreendidos com
brasileiro
Brasileiro tem vitória contra Reino Unido
Corte britânica restringe uso e análise de material apreendido com David Miranda que se destinava a namorado jornalista
Equipamentos, que incluem celular e pen drives, só podem ser usados
em casos de segurança nacional
Cotidiano
20/08/2013 - 03h30
Motorista presencia tentativa de assalto e 'prensa' ladra entre dois
veículos
Encurralada
No trânsito parado da ligação Leste-Oeste, motorista presencia
tentativa de assalto em carro a sua frente e 'prensa' a ladra entre os dois veículos
20/03/2013 - 04h00
Haddad quer dar isenção fiscal a empresário que investir na zona leste
de SP
Prefeitura propõe zerar impostos para atrair empresas à zona leste
Gestão Haddad anuncia isenção de IPTU e redução de ISS para
aproximar empregos de moradias
Em menos de uma década, é a quarta tentativa para a região; centro terá
incentivos para mais habitações
19/08/2013 - 19h45
Promotoria denuncia oito bombeiros à Justiça Militar no caso Kiss
Promotoria denuncia 8 bombeiros por fogo na Kiss
188 Agentes são suspeitos de negligência e fraude
20/08/2013 - 03h20
Em carta, sindicato pede dinheiro para ações contra Mais Médicos
Sindicato pede dinheiro para ações contra Mais Médicos
Em carta, SindMédico do DF pede R$ 100 mensais
Doação voluntária visa promover 'ações de esclarecimento à sociedade',
afirma trecho do documento
19/08/2013 - 12h37
Policial de UPP morre após troca de tiros na zona oeste do Rio
RIO - Policial de UPP morre em troca de tiros no Realengo
19/08/2013 - 08h01
Tiros em casa de PMs mortos poderiam ter sido ouvidos a 50 metros,
dizem peritos
PERÍCIA - Vizinhos de família assassinada podem ter escutado tiros
19/08/2013 - 03h20
Aposentada é feita refém durante assalto no Morumbi, em São Paulo
Aposentada é feita refém em assalto a casa no Morumbi
Idosa de 72 anos foi surpreendida por ladrões ao chegar de carro
19/08/2013 - 03h00
Em metade das escolas, policial é formado em seis meses
Metade das escolas forma policial em até seis meses
É o que mostra pesquisa de ONG com 44 instituições de ensino do país
Para autores, formação de policiais militares e civis é curta demais e
focada em áreas de pouco uso no cotidiano
189 19/08/2013 - 03h16
Novo plano diretor vai limitar vagas de garagem em prédios
Novo plano diretor vai limitar vagas de garagem em prédios
Hoje, legislação funciona ao contrário: exige mínimo de espaços para
carros por apartamento Edifícios comerciais com espaços públicos ou
comércio no térreo receberão incentivos legais da prefeitura
19/08/2013 - 03h45
Um terço dos acidentes aéreos envolve irregularidades
1/3 dos acidentes aéreos envolve irregularidades
Operação em pista não registrada é a violação mais frequente, segundo Cenipa
19/08/2013 - 03h15
Estrada velha de Santos será privatizada, mas não terá pedágio
Estrada velha de Santos será privatizada, mas sem pedágio
19/08/2013 - 03h16
Transporte público de qualidade reduz doenças e mortes, diz membro da
OMS
ENTREVISTA DA 2ª - CARLOS DORA
Transporte público de qualidade reduz doenças e mortes
DE ACORDO COM ESPECIALISTA DA OMS, USO DE CARRO
AUMENTA INCIDÊNCIA DE DOENÇAS COMO OBESIDADE, CÂNCER E DIABETES
19/08/2013 - 03h15
Corredor de ônibus na Brigadeiro começa a funcionar nesta segunda
190 Faixa de ônibus na Brigadeiro começa hoje
Novos trechos exclusivos para o transporte coletivo incluem quatro avenidas de São Paulo em um total de 10,5 km
Na avenida Brigadeiro Luís Antônio, na região central, faixas nos
sentidos centro e bairro chegam a 4,8 km
19/08/2013 - 08h49
Casa desaba e deixa ao menos quatro feridos na zona norte de SP
Explosão de botijão em casa na zona norte soterra família
Quatro pessoas ficaram feridas, entre elas uma criança de 1 ano e 3
meses
Mãe do bebê ficou mais de 5 horas sob os escombros; quatro imóveis da
vizinhança foram interditados
21/08/2013 - 03h30
Campinas, no interior de SP, é a metrópole campeã de bem-estar no
Brasil
Campinas é metrópole campeã de bem-estar
Índice avaliou a situação de 15 conglomerados urbanos; SP é a 8ª no
ranking geral e, em mobilidade, a penúltima
Estudo baseado no Censo considerou também itens como energia,
iluminação pública e coleta de lixo
20/08/2013 - 18h37
Em dez horas, Rio multa 110 pedestres por lixo jogado na rua
Em 10 horas, 110 pedestres levam multa por jogar lixo na rua no Rio
21/08/2013 - 03h00
Marcelo contou que tinha matado família, dizem colegas de escola
191 CRIME NA BRASILÂNDIA
Menino contou que tinha matado família, dizem colegas de escola
20/08/2013 - 11h11
Coreógrafa e neto com doença rara são barrados em voo
Com doença rara, neto de coreógrafa é vetado em voo
Mal não contagioso causa erupções na pele
21/08/2013 - 03h50
Dono e diretor da CSN vão responder por crime ambiental no Rio
Dono da CSN vai responder por poluição de rio
20/08/2013 - 18h40
De volta a São Carlos (SP), macaca polêmica vai continuar a ser
chamada de Chico
Após ser tirado da dona e de 'virar' macaca, Chico volta para casa
21/08/2013 - 03h40
Agente da Polícia Federal é preso acusado de extorquir R$ 2 milhões
Agente da PF é preso acusado de extorquir R$ 2 milhões
Comerciante denunciou ameaças à Polícia Civil
21/08/2013 - 03h10
Plano Diretor quer limitar nº de estacionamentos no centro de SP
Plano Diretor quer limitar número de estacionamentos
20/08/2013 - 17h44
PMs de fora da cidade de São Paulo poderão fazer 'bico oficial' à noite
Prefeitura vai manter bico noturno de policiais
Gestão Haddad havia anunciado desistir do uso de PMs em folga
192 Parceria com o governo estadual prevê que PMs recebam dinheiro extra
do município para patrulhar periferias
20/08/2013 - 16h54
Justiça condena professor a 6 anos de prisão por vazar questões do
Enem
Professor é condenado por vazar itens do Enem
Pena é de seis anos de reclusão; cabe recurso
20/08/2013 - 11h13
Governo suspende venda de 246 planos de saúde de 26 operadoras
Governo suspende venda de planos de saúde; Justiça libera no mesmo
dia
ANS barra comercialização de 246 produtos, mas liminar diz que ela tem que rever parte das queixas
Punição anunciada é por negar coberturas e descumprir prazos; revés
judicial beneficia principais empresas
21/08/2013 - 03h20
Condenado, israelense tem autorização para viajar, mas não volta ao Rio
Condenado ganha autorização para viajar, mas não volta
Justiça brasileira liberou israelense para ir à Inglaterra ver o
nascimento do neto; Interpol pode ser acionada
Justificativa para fazer a visita comoveu um juiz federal, que chamou de
'sublime' o sentimento de ter neto
22/08/2013 - 03h10 Novo Plano Diretor prevê 'confisco' de imóvel abandonado em SP
Novo Plano Diretor prevê 'confisco' de imóvel abandonado
193 Inédita na cidade, medida prevê que a prefeitura se aproprie do lugar
quando dono não tiver mais interesse
Imóvel vazio e com débito de imposto são outros requisitos; lei tem item
polêmico: não há pagamento pela área
21/08/2013 - 17h41
Brasil vai receber 4.000 médicos cubanos ainda em 2013
Governo Dilma vai importar 4.000 médicos de Cuba
Acordo prevê que cubanos terão condições diferentes e não receberão pagamentos diretamente do Brasil
Sob críticas, acerto foi feito após programa para levar profissionais ao
interior preencher apenas 10,5% das vagas
22/08/2013 - 03h53
Contrato com médicos cubanos é como 'trabalho escravo', diz federação
Contrato é como 'trabalho escravo', afirma federação
21/08/2013 - 21h10
Aborto no início da gravidez é descartado da reforma do Código Penal
Aborto no começo da gravidez é vetado por relator do Código Penal
Interrupção da gestação nas primeiras 12 semanas era prevista na primeira versão da reforma
Relatório precisa da aprovação em comissão e depois no plenário do
Senado antes de seguir para análise da Câmara
22/08/2013 - 03h50
Operadoras de saúde induziram Judiciário ao erro, afirma ANS
Operadoras de saúde induziram Judiciário ao erro, afirma ANS
Agência diz que recorrerá da liminar que suspendeu punição
194 22/08/2013 - 03h40
Embargado, aeroporto de São Roque (SP) ganha aval ambiental
Embargado, aeroporto de São Roque ganha aval ambiental
Após multa de R$ 5 mi da Cetesb, construtores ganham autorização de
conselho
Projeto no interior de SP está previsto para 2014; empresa nega ter
cometido irregularidades
21/08/2013 - 22h21
Atropelador de ciclista não responderá por tentativa de homicídio
Atropelador de ciclista responderá por lesão corporal
21/08/2013 - 18h05
Cunhado de ministro é morto durante assalto em Ribeirão Preto (SP)
Cunhado de ministro reage a assalto e é morto em Ribeirão
21/08/2013 - 21h23
Justiça diz que israelense condenado voltou ao Rio, mas errou lugar
Israelense apareceu no lugar errado, diz Justiça
22/08/2013 - 03h30
Rodoanel norte terá verba extra de R$ 332,8 milhões da União
Rodoanel norte terá verba extra de R$ 332,8 milhões da União
Recurso será usado para adaptar obras a projeto de ferrovia
21/08/2013 - 17h11
Jovens são presos no DF sob suspeita de atear fogo em morador de rua
Jovens são detidos no DF sob suspeita de queimar mendigo
Segundo a polícia, dois rapazes e uma adolescente de Guará confessaram ter ateado fogo em morador de rua
195 Homem, que teve 63% do corpo queimado, morreu no hospital;
suspeitos afirmaram ter consumido drogas
21/08/2013 - 16h12
Governo assina contrato de R$ 2,2 bi para captar mais água para SP
SP assina contrato de R$ 2,2 bi para captar mais água
21/08/2013 - 15h02
Salvador cria faixa exclusiva para quem dá carona
Salvador cria faixa exclusiva para caronas
21/08/2013 - 15h51
Policiais e menino de 12 anos são feridos em tiroteio no Alemão
Policiais e menino são feridos em tiroteio no Alemão
21/08/2013 - 15h13
Anvisa condena conduta da Gol no caso do neto de Deborah Colker
Anvisa critica conduta da Gol com neto de coreógrafa
Agência diz que não foi acionada pela empresa
23/08/2013 - 03h13
Ministério Público vai questionar importação de médicos cubanos
Ministério Público vai questionar importação de médicos cubanos
Para procurador do Trabalho, contrato proposto pelo governo fere lei
trabalhista e Constituição
Coordenador de órgão diz que terá que 'interferir'; acordo do Brasil com
Cuba teve aval de braço da OMS
23/08/2013 - 03h13
Quase 40% dos médicos cubanos em atividade estão nas capitais
40% dos cubanos em atividade estão nas capitais
23/08/2013 - 03h14
196 Acordo com médicos cubanos não é de escravidão, diz governo
Acordo com Cuba não é de escravidão, diz governo
Médicos receberão pagamento, cita secretário de Vigilância Sanitária
Antonio Patriota (Relações Exteriores) diz que medida tem 'viés
humanitário' de ter bom serviço de saúde
23/08/2013 - 03h19
'Achei que lei ficaria do meu lado', diz ciclista atropelado em SP
'Achei que lei ficaria do meu lado', diz ciclista atropelado
23/08/2013 - 03h00
Vereadores de São Paulo aprovam 'anistia' de Habite-se
Vereadores aprovam 'anistia' de Habite-se
Medida é voltada para pequenos comércios
23/08/2013 - 03h19
Justiça aceita denúncia contra donos de empresa de radar
Justiça aceita denúncia contra donos de empresa de radar
Órgão ligado à Fazenda apontou indício de prática de lavagem de dinheiro
Alvo da investigação, Consladel é acusada de pagar propina a servidores
de SP; advogado não responde
23/08/2013 - 03h20
Linha 2-verde terá sistema mais rápido a partir de domingo
Linha 2-verde terá espera menor a partir de domingo
Em teste, modelo será implantado aos poucos
23/08/2013 - 03h10
197 Manifestante preso diz que foi vítima de armação de guardas em MS
Manifestante preso diz que foi vítima de armação de guardas
Eduardo Martins, produtor cultural, foi detido em junho durante uma manifestação e acusado de tráfico e danos
Advogados afirmam que as drogas foram colocadas na mochila por
guardas; corporação nega
22/08/2013 - 18h10
Dia fecha 12 lojas após polícia encontrar produtos estragados em
fornecedor
Rede Dia fecha 12 lojas após polícia achar comida estragada em padaria
Panificadora fornecia produtos para as unidades franqueadas no ABC e na capital paulista
No local, policiais encontraram insetos e veneno para ratos perto de
alimentos; três pessoas foram presas
22/08/2013 - 18h16
Polícia encontra bebê levado em shopping de SP; mulheres são detidas
Polícia encontra bebê roubado em shopping
22/08/2013 - 14h50
Tripulação da Gol agiu certo ao barrar neto de Deborah Colker, diz
sindicato
COREÓGRAFA
Segundo sindicato, Gol seguiu lei ao barrar neto de Colker
22/08/2013 - 10h10
Quatro são denunciados por morte de idosa que teve café com leite
injetado na veia
4 são denunciadas no caso de idosa que recebeu café na veia
198 22/08/2013 - 07h47
Motoristas de vans escolares fazem protesto em vias de São Paulo
Em protesto, vans escolares travam vias de São Paulo
Motoristas que atendem alunos da rede municipal querem reajuste de
50%; prefeitura diz já ter dado aumento de 15%
Entrada da prefeitura chegou a ser bloqueada pelos manifestantes;
governo diz que mudará serviço no próximo ano
Esportes
19/08/2013 - 10h53
Fifa anuncia que vai entregar ingressos da Copa em domicílio
Fifa vai entregar ingresso da Copa em casa
20/08/2013 - 03h30
Thiago Ribeiro diz que falta ritmo de jogo para se firmar no Santos, mas
vê evolução
SANTOS - Thiago Ribeiro diz que falta ritmo de jogo, mas vê evolução
19/08/2013 - 18h17
Vilson é dúvida para jogo contra o Atlético-PR; Valdivia continua fora
PALMEIRAS
Valdivia fica fora de duelo da Copa do Brasil, e zagueiro vira dúvida
20/08/2013 - 03h26
Velocista que criticou confederação será punida, diz dirigente
Velocista será punida, afirma dirigente
19/08/2013 - 05h54
Julgamento de Pistorius será em março de 2014
199 Julgamento de Pistorius será no ano que vem
18/08/2013 - 20h27
Santos empata com Bahia e chega à 6ª partida consecutiva sem vitória
no Brasileiro
SÉRIE A
Técnico muda time, mas Santos não vence
18/08/2013 - 16h03
Em sua estreia oficial, Neymar joga 30 minutos e Barcelona faz 7 a 0 no
Levante
Do banco, Neymar assiste a show de Messi em primeiro jogo oficial
ESPANHOL Brasileiro entra apenas no segundo tempo e diz não ter pressa para virar titular
18/08/2013 - 11h43
Jamaica leva ouro no revezamento, e Bolt se torna o maior vencedor em
Mundiais
Com 8 ouros em Mundiais, Bolt se consagra na Rússia
ATLETISMO Jamaicano é responsável pela vitória do país no 4 x 100 m e supera marca de lenda do esporte
18/08/2013 - 17h28
Nadal vence Isner, fatura o título do Masters de Cincinnati e vira nº 2 do
mundo
TÊNIS - Nadal ganha Cincinnati e sobe no ranking
18/08/2013 - 12h28
Equipe brasileira feminina deixa bastão cair no revezamento 4 x 100
200 Brasil erra troca de bastão e termina sem pódio em Moscou
18/08/2013 - 01h30
Sonnen surpreende, finaliza Shogun e provoca Wanderlei no UFC em
Boston
Sonnen derrota Shogun nos EUA e volta a provocar os brasileiros
MMA Após vitória, americano reforça pedido por luta com Wanderlei
18/08/2013 - 10h58
Seleção vence fácil e vai à fase final do Grand Prix de vôlei com a 2ª
melhor campanha
VÔLEI
Já classificadas, brasileiras batem anfitriãs
21/08/2013 - 03h22
Maior esperança de título no ano motiva Santos em crise
Maior esperança de título no ano motiva Santos em crise
COPA DO BRASIL
Time inicia confronto com o Grêmio, pelas oitavas
21/08/2013 - 03h17
Aliado de Juvenal deixa cargo e se lança candidato a presidente do São
Paulo
Aliado de Juvenal deixa cargo e se lança candidato
21/08/2013 - 03h54
Velocista reconhece erro, mas diz ter sido 'pega para Cristo'
Velocista reconhece erro, mas diz ter sido 'pega para Cristo'
ATLETISMO
Vanda será punida por críticas à confederação brasileira
201 21/08/2013 - 03h05
Leão elogia profissionalismo de Emerson; Plassman e Afonsinho
comentam foto do beijo
Leão elogia Emerson, mas diz que torcida 'pode pegar no pé'
21/08/2013 - 03h04
Demanda para abertura e final da Copa já supera a capacidade dos
estádios
Demanda para abertura e final já supera a capacidade dos estádios
COPA-2014
Estreia da seleção brasileira teve 168 mil pedidos para os 68 mil lugares do Itaquerão
21/08/2013 - 03h36
Para defender título, Palmeiras encara rival da elite nas oitavas
Para defender título, Palmeiras encara rival da elite nas oitavas
COPA DO BRASIL
Equipe de Kleina recebe Atlético-PR, 5º na Série A
21/08/2013 - 23h56
Luverdense surpreende Corinthians e vence com gol no final
Aos 44 min, Corinthians perde de time da Série C
COPA DO BRASIL Luverdense faz 1 a 0 no fim em noite de confusões no MT
22/08/2013 - 03h36
Corinthians prevê arrecadação de R$ 291 mi anuais com Itaquerão
Corinthians prevê arrecadação de R$ 291 mi anuais com Itaquerão
NOVO ESTÁDIO
Tema de polêmica entre colunista e leitores, valor supera estimativa para Maracanã
202 22/08/2013 - 03h36
Corinthians é dono do Itaquerão, mas precisa pagá-lo
Clube é dono do estádio, mas precisa pagá-lo
22/08/2013 - 03h43
Seedorf é dúvida para duelo com Atlético-MG pela Copa do Brasil
COPA DO BRASIL
Seedorf é dúvida para duelo com Atlético
22/08/2013 - 03h18
Ganso pede mais treinos de finalização
SÃO PAULO
Ganso diz que time precisa afinar pontaria
21/08/2013 - 20h29
Fifa estuda parada técnica na Copa por causa do calor
FIFA ESTUDA CRIAÇÃO DE TEMPO TÉCNICO NA COPA
22/08/2013 - 03h21
Com medo de protestos, CBF reforça segurança para partida em Brasília
CBF reforça segurança para partida em Brasília
SELEÇÃO
Entidade teme protestos e tenta blindar time no hotel e no CT
21/08/2013 - 16h13
Fifa registra mais de dois milhões de pedidos de ingressos para a Copa
de 2014
COPA-2014
Pedidos de ingressos ultrapassam 2,3 milhões em apenas dois dias
203 21/08/2013 - 13h36
Felipão ignora Marin ao convocar Ramires
Felipão volta a convocar Ramires, antes vetado
SELEÇÃO
Volante do Chelsea havia desagrado ao presidente da CBF
23/08/2013 - 03h03
Fifa encolhe os estádios da Copa em 10%
Fifa encolhe os estádios da Copa em 10%
2014 Entidade vai deixar de usar 69.717 assentos, que, entre outros motivos,
dificultam a visão do jogo pelo torcedor
23/08/2013 - 03h30
Sob as bênçãos de Zito, Gabriel, 16, trocou o São Paulo pelo Santos
Sob as bênçãos de Zito, Gabriel, 16, trocou o São Paulo pelo Santos
23/08/2013 - 03h45
Comissão técnica espera ter Valdivia para Copa do Brasil
Palmeiras espera Valdivia na Copa do Brasil
SÉRIE B
Meia volta a correr após lesão na coxa, mas será poupado amanhã,
contra o Boa Esporte
23/08/2013 - 03h24
Em crise, São Paulo vira feudo de empresário carioca
Em crise, São Paulo se torna feudo de empresário
SÃO PAULO
Eduardo Uram tem agora dez jogadores no time do Morumbi
23/08/2013 - 03h52
204 Tyson vira empresário e encara passado ao voltar ao cenário de suas
primeiras lutas
Tyson vira empresário e encara passado
BOXE
Ex-campeão volta ao cenário de suas primeiras lutas amadoras, mas agora como promotor de eventos
22/08/2013 - 22h05
Juvenal é internado para fazer exames
JUVENAL É INTERNADO PARA FAZER EXAMES
23/08/2013 - 03h10
Assédio a Raikkonen movimenta mercado para 2014 na F-1
Assédio a Raikkonen movimenta mercado para 2014
F-1 Vice-líder do Mundial de pilotos é alvo de investidas da Ferrari, mas
cogita ficar na Lotus; Red Bull descarta contratação
22/08/2013 - 19h06
Após ficar fora de pódio no Mundial, Fabiana Murer é bronze em etapa
da Liga Diamante
Fabiana Murer é bronze em etapa da Liga Diamante
22/08/2013 - 16h52
Após atraso em obra, governador da BA diz que turista da Copa não
anda de metrô
Turista do Mundial não vai andar de metrô, diz governador da Bahia
Jaques Wagner (PT) afirma que visitante 'tem grana' e que 'vai pegar sua van'
22/08/2013 - 11h48
Isinbaieva provoca mal-estar com russos após polêmica sobre lei antigay
205 Isinbaieva causa nova saia-justa ao criticar cidade natal
Ilustrada
19/08/2013 - 01h00
"Orestes" une ficção e realidade para mostrar consequências da ditadura
nos dias de hoje
São tantas as verdades
Em 'Orestes', cineasta Rodrigo Siqueira une ficção e realidade para
tentar exibir consequências da ditadura nos dias de hoje
9/08/2013 - 01h13
Com olhar de adolescentes, filme 'Doméstica' chega à TV
Com olhar de adolescentes, filme 'Doméstica' chega à TV
Documentário é atração do 'É Tudo Verdade' no Canal Brasil
19/08/2013 - 01h22
'Achei que o mundo já estivesse cansado de guitarras', diz produtor
Gordon Raphael
'Achei que o mundo já estivesse cansado de guitarras'
19/08/2013 - 01h05
Restauração revela registros íntimos de Frida Kahlo
Restauração revela registros íntimos de Frida
Seleção de 369 fotografias entre as 6.500 que pertenciam à artista será
exposta no México em 2014 e estará em livro
Cartier-Bresson e Man Ray estão entre os autores das imagens, além de
Frida e de seu marido, Diego Rivera
20/08/2013 - 03h01
À beira dos 70, Robert Crumb fala à Folha da antologia com suas
histórias mais pervertidas
206 As fantasias de Robert Crumb
Quadrinista se diz constrangido com histórias que chama de 'doentias', reunidas em antologia que sai no Brasil
20/08/2013 - 11h59
Ícone do romance popular americano, escritor Elmore Leonard morre
aos 87 nos EUA
Morre aos 87 o romancista policial Elmore Leonard
21/08/2013 - 03h46
Apanhador Só retorna com disco feito para incomodar
Apanhador Só retorna com disco feito para incomodar
Banda gaúcha troca melodias assobiáveis da estreia por postura agressiva
Grupo lança o álbum 'Antes que Tu Conte Outra' tocando em São Paulo
no domingo, com ingressos esgotados
21/08/2013 - 03h14
Mangue renasce em nostalgia da modernidade de Mundo Livre S/A e
Nação Zumbi
Mangue renasce em nostalgia da modernidade
Mundo Livre S/A e Nação Zumbi mostram vigor no disco em que uma banda relê músicas da outra
Fred ZeroQuatro, líder do Mundo Livre, diz que disco sai em um bom
momento e questiona o mercado fonográfico
21/08/2013 - 03h26
Lançando novo disco, Emicida fala sobre mudança de abordagem em
suas letras
Volta sem revolta
207 Lançando novo disco, Emicida fala de como mudou a abordagem de
suas letras depois da prisão em BH e faz críticas ao público de hip-hop
20/08/2013 - 20h45
Protesto contra leis antigay pede cancelamento de mostra na Rússia
Ator pede boicote à Rússia por lei antigay
22/08/2013 - 03h07
Ministra libera Lei Rouanet para desfile de roupas na França
Está certo usar a Lei Rouanet para bancar desfiles de moda?
Pedro Lourenço poderá captar R$ 2,8 milhões com o objetivo de mostrar roupas na Semana de Moda de Paris
Estilista diz que o público terá acesso à cultura brasileira por meio de
uma "criação surpreendente"
22/08/2013 - 03h07
'Estilista que se diz artista deve exibir sua roupa no museu', critica dona
de grife
'Estilista que se diz artista deve exibir sua roupa no museu'
22/08/2013 - 03h25
Atriz baiana será intérprete de Elis Regina em musical
Atriz baiana será intérprete de Elis Regina em musical
Roteiro do espetáculo que tem estreia marcada para novembro suaviza
relação da cantora com as drogas
22/08/2013 - 03h28
Denise Stoklos transforma 'Carta ao Pai' em crítica aos políticos
Stoklos transforma 'Carta ao Pai' em crítica aos políticos
Artista leva texto clássico de Kafka aos palcos para mostrar relação entre governantes e povo brasileiro
208 Obra do autor tcheco também inspira a peça 'Expresso K', da Cia Pau
D'arco, sobre os últimos dias de vida do escritor
22/08/2013 - 03h31
Ator transexual narra em peça sua busca por identidade
Ator transexual narra em peça sua busca por identidade
Leo Moreira Sá, ex-baterista das Mercenárias, sobe ao palco em 'Lou&Leo', dirigido por Nelson Baskerville
Em cartaz no Espaço dos Satyros, espetáculo questiona padrões sociais
ao descrever experiência pessoal
22/08/2013 - 03h41
Peça inglesa critica lei antigay da Rússia
Peça inglesa critica lei antigay da Rússia
23/08/2013 - 03h34
Músico Raul de Souza volta ao país com seu jazz no festival Mimo
Raul de Souza volta ao país com seu jazz
Músico que morou nos EUA e uniu choro e bossa nova ao gênero americano toca em Paraty, Ouro Preto e Olinda
Artista critica Sergio Mendes, com quem gravou disco: 'Espero uns
tostões do que ele ganhou [até hoje]'
23/08/2013 - 03h40
Artistas americanos ocupam motel de SP com 'design de experiência'
Artistas americanos ocupam motel de SP com 'design de experiência'
Invasão criativa é marca dos designers ND Austin e Ida Benedetto, do
projeto Wanderlust
Dupla, que já montou bar em torre de caixa d'água em Nova York, fala
hoje e na segunda sobre seu trabalho
209 23/08/2013 - 03h05
Temas ecológicos são ponto comum entre filmes brasileiros do Festival
de Veneza
Da selva para Veneza
Temas ecológicos são um ponto comum aos dois únicos representantes brasileiros no festival de cinema italiano, que começa na quarta
23/08/2013 - 03h05
Brasileiro presente ao festival lança aqui sua 1ª produção feita nos EUA
Brasileiro presente ao festival lança aqui sua 1ª produção feita nos EUA
23/08/2013 - 03h27
Bienal de São Paulo terá quinteto de curadores na edição 2014
Bienal terá quinteto de curadores na edição 2014
Britânico já anunciado dividirá função com espanhóis e israelenses
Pela primeira vez a mostra paulistana será dirigida por um grupo de
estrangeiros, sem uma figura central
23/08/2013 - 03h16
Empresário compra biblioteca de Ciccillo Matarazzo
Empresário compra biblioteca de Matarazzo
Cearense Airton Queiroz leva para fundação da família acervo de 2.949
volumes de arte
Mercado
20/08/2013 - 03h00
Anatel quer liberar frequência para o 4G
Anatel quer liberar frequência para o 4G
210 Agência pretende relotear faixa da tecnologia 2G, lenta e defasada,
para permitir que teles acelerem uso de rede rápida
Ideia também é antecipar em um ou dois anos cronograma de instalação
do 3G e do 4G em todo o país
20/08/2013 - 03h00
TV, geladeira, fogão, computador e celular terão troca imediata
TV, geladeira, fogão, computador e celular terão troca imediata
Máquina de lavar completa lista de 'produtos essenciais', que terão
regras mais rígidas para a solução de defeitos
Proposta ainda depende do aval de Dilma; limite de tempo para empresa
resolver problema será de 10 a 15 dias úteis
MAIS CUIDADO DE EDIÇÃO
18/08/2013 - 20h47
Hacker invade página de Zuckerberg para provar falha no Facebook
Hacker invade página de criador do Facebook para provar falha
Ele conseguiu escrever mensagem no mural de Mark Zuckerberg
19/08/2013 - 18h58
Tesouro atua no mercado de títulos para reduzir instabilidade no sistema
financeiro
BC e Tesouro atuam juntos para conter dólar
Em nota, Tombini diz que fará o necessário para dar proteção cambial
aos agentes econômicos e evitar escassez da moeda
Em ação discutida com Dilma, Tesouro atua para minimizar perdas de
investidores com a alta dos juros futuros
19/08/2013 - 03h00
Com preços mais altos, cresce crédito para imóveis acima de R$ 1
milhão
Cresce crédito para imóveis de R$ 1 milhão
211 Financiamento sobe com disparada dos preços nos últimos anos,
principalmente em grandes cidades como São Paulo
Muitos que podem pagar o bem à vista preferem financiar para
continuar a ter dinheiro aplicado
19/08/2013 - 03h00
Financiamento para imóvel milionário exige cuidados especiais
Financiamento milionário exige cuidados
É comum que imóveis mais caros estejam em nome de empresas, aumentando risco jurídico, afirmam analistas
Dar um imóvel de menor valor como entrada ajuda a conseguir um
preço melhor na negociação
19/08/2013 - 03h00
Eike depende de BNDES para vender empresa de logística
Eike depende de BNDES para vender LLX
20/08/2013 - 03h00
Problemas na Ásia derrubam moedas de países emergentes
Problemas na Ásia derrubam moedas de países emergentes
Crescem dúvidas sobre a saúde de Índia e Indonésia; apesar de ações do BC, real é 3ª divisa que mais perde
Preocupados com fim do estímulo do BC dos EUA, investidores estão
reduzindo aplicações em mercados emergente
21/08/2013 - 03h00
Para manter preço em real, cai valor de passagem em dólar
Para manter preço em real, cai valor de passagem em dólar
212 Agências congelam cotação da moeda americana e trocam hotéis dos
pacotes para não afugentar clientes
Expectativa é que turismo internacional fique estável e cresça o
movimento nas viagens dentro do país
21/08/2013 - 03h00
Grife faz acordo para combate a trabalho degradante
Grife faz acordo para combate a trabalho degradante
Dona da Le Lis Blanc fiscalizará fornecedores
20/08/2013 - 18h37
Senado aprova novo limite de idade, de 28 anos, para dependentes no IR
Dependente do IR poderá ter até 32 anos
Idade máxima, aprovada em comissão do Senado, valerá para quem cursar faculdade ou escola técnica
Projeto, que deve ir diretamente para a Câmara, eleva idade limite de
dependente de 21 para 28 anos
20/08/2013 - 17h45
Dólar interrompe sequência de seis altas e fecha abaixo de R$ 2,40;
Bolsa cai
Após 6 quedas seguidas, real se valoriza ante o dólar
Moeda americana perde valor em relação a divisas de 17 emergentes
Atuação do BC no Brasil também favoreceu real; tendência, porém,
ainda é de alta do dólar, afirmam economistas
20/08/2013 - 16h45
Dilma manda cancelar autorizações para portos secos sem licitação
Dilma cancela autorizações sem licitação para porto seco
213 Licenças haviam sido dadas dias antes de medida provisória perder
validade
20/08/2013 - 15h00
Economia do México recua pela primeira vez em quatro anos, no 2º tri
PIB mexicano tem 1ª queda em 4 anos
20/08/2013 - 14h45
Grécia precisará de outro pacote de ajuda, diz ministro alemão
Grécia vai precisar de novo pacote, diz alemão
20/08/2013 - 12h00
Mulher rica é quem mais compra pirataria
73% das mulheres de alta renda já compraram produto pirata
Pesquisa aponta que 56% dos brasileiros adquiriram mercadorias falsificadas no último ano
Apreensão de itens aumenta 59% de 2010 para 2012, de acordo com
dados da Receita Federal
22/08/2013 - 03h00
BNDES injeta R$ 82 milhões em empresa de energia de Eike
Governo sobe aluguel de terminais em Santos
Valor será até 11 vezes maior; estudo está em consulta pública e preços
podem mudar
21/08/2013 - 16h36
Regiões metropolitanas fecharam 11 mil vagas formais em julho
Vagas encolhem nas regiões metropolitanas
Pela primeira vez desde 2003, cai o número de postos com carteira assinada num mês de julho nas áreas das capitais
214 Em todo o país, setor que mais contribuiu para o emprego foi a
agricultura, com 18,1 mil novos postos
22/08/2013 - 03h00
Receita vai fechar cerco a sites estrangeiros
Brasil dá a largada na corrida por metais de tablets e de mísseis
Governo encomenda estudos para a exploração de terras-raras, utilizadas na alta tecnologia
Meta é fazer leilões específicos de áreas para exploração, como os de
petróleo, a partir do próximo ano
21/08/2013 - 08h24
Latam Airlines tem prejuízo de US$ 330 mi no 2ºtrimestre e culpa dólar
Desvalorização do real dá prejuízo à dona da TAM
Latam perde US$ 330 mi no 2º trimestre; Argentina manda LAN sair do
Aeroparque
22/08/2013 - 03h00
Brasil dá a largada na corrida por metais de tablets e de mísseis
Brasil dá a largada na corrida por metais de tablets e de mísseis
Governo encomenda estudos para a exploração de terras-raras, utilizadas na alta tecnologia
Meta é fazer leilões específicos de áreas para exploração, como os de
petróleo, a partir do próximo ano
22/08/2013 - 03h00
Jornal português adota fundo para empresas financiarem reportagens
Jornal português adota fundo para empresas financiarem reportagens
Dinheiro é utilizado para bancar viagens e material investigativo
215
21/08/2013 - 17h36
Dólar fecha no maior nível desde a crise de 2008 após ata do BC
americano
Retomada dos EUA leva dólar a R$ 2,45, maior valor desde 2008
BC americano estuda reduzir empréstimo bancário, o que diminuiria aplicações fora do país
Das 24 moedas emergentes mais negociadas, apenas a da China não caiu
em relação a dólar ontem
21/08/2013 - 12h36
Setor de serviços desacelera em 2013, diz IBGE
Setor de serviços desacelera 1º no semestre
22/08/2013 - 03h00
Governo sobe aluguel de terminais em Santos
Receita avança 8,4%, ante 10,8% no mesmo período do ano passado,
segundo o IBGE
Governo sobe aluguel de terminais em Santos
Valor será até 11 vezes maior; estudo está em consulta pública e preços
podem mudar
21/08/2013 - 09h53
Alimentos voltam a pressionar e prévia da inflação fica em 0,16% em
agosto
216 Alimento cai menos, e IPCA-15 tem alta maior
Prévia da inflação sobe 0,16% em agosto
2/08/2013 - 19h16
Diante de alta recente do dólar, BC anuncia programa prolongado de
leilões
BC leiloará US$ 54,5 bi até o fim do ano para tentar frear alta do dólar
Objetivo é deixar claro para o mercado financeiro que não haverá falta
da moeda americana
Operação semanal terá dinheiro das reservas, mas recursos serão
devolvidos; cotação vai cair, dizem analistas
23/08/2013 - 03h00
Alta do dólar já faz subir preços no Brasil
Alta do dólar já faz subir preços no Brasil
Produtos comercializados internacionalmente --portanto sujeitos ao
câmbio-- ficaram 6,8% mais caros em 12 meses
Bens duráveis, como bicicleta e micro-ondas, que acumulavam queda de
5% em julho de 2012, agora sobem 2,45%
23/08/2013 - 03h00
Tarifa média de avião foi de R$ 352 em 2012, 5,4% a mais do que em
2011
Tarifa aérea média encerra 2012 em R$ 352
Valor no 4º trimestre, que só inclui um trecho, representa aumento de
5,4% em relação ao mesmo período de 2011
217 Para Anac, preços estariam ainda mais altos se não fosse a baixa
demanda; tarifa subiu 4% em 40 dias
23/08/2013 - 03h00
Extração de gás de xisto vira pivô de batalha em vilarejo da Inglaterra
Extração de gás de xisto vira pivô de batalha em vilarejo da Inglaterra
Ativistas protestam contra exploração do produto, que, segundo eles, polui o ar e a água
Ministro das Finanças, no entanto, quer incentivar a produção do
combustível para baratear a energia
23/08/2013 - 03h00
Banca eletrônica na Suécia imprime jornal e revista sob demanda
Banca eletrônica imprime jornais e revistas sob demanda na Suécia
22/08/2013 - 17h55
FMU e dona da Anhembi Morumbi anunciam associação na sexta-feira
Dona da Anhembi Morumbi deve anunciar hoje a compra da FMU
Expectativa é que a Laureate pague cerca de R$ 1 bi pela faculdade
22/08/2013 - 09h10
Taxa de desemprego desacelera e vai a 5,6% em julho, diz IBGE
Desemprego recua para 5,6% em julho
22/08/2013 - 12h41
Com inflação elevada, renda média dos trabalhadores tem quinta queda
consecutiva
Renda média do trabalhador recua pelo 5º mês seguido
Reajustes salariais também foram menores no primeiro semestre na comparação com 2012, segundo o Dieese
218 Inflação mais alta foi um dos motivos que dificultaram as negociações
de aumentos
22/08/2013 - 17h41
Petrobras sobe 5,3% com possível alta da gasolina e puxa Bolsa; dólar
comercial cai
Petrobras sobe 5,3% com chance de reajuste
Analistas falam em 6% de aumento da gasolina
23/08/2013 - 03h00
BNDES pode financiar final de obras de Eike
BNDES pode financiar final de obras de Eike
Empréstimos para concluir projetos seriam feitos só depois que
empresas fossem vendidas