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PROFESSORA PDE: LILIAN HIGINIO PESSUTI ORIENTADORA/ORGANIZADORA: JOSETH JARDIM MARTINS O TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE NA ESCOLA PÚBLICA: DESAFIOS E IMPLICAÇÕES Curitiba - PR 2008

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PROFESSORA PDE: LILIAN HIGINIO PESSUTI

ORIENTADORA/ORGANIZADORA: JOSETH JARDIM MARTINS

O TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE NA

ESCOLA PÚBLICA: DESAFIOS E IMPLICAÇÕES

Curitiba - PR

2008

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Eu vivo sempre no mundo da lua. Porque sou um cientista, o meu papo é futurista, é lunático. Tenho alma de artista, sou um gênio sonhador e romântico. Porque sou aventureiro desde o meu primeiro passo pro infinito. Porque sou inteligente se você quer vir com a gente, venha que será um barato. Pegar carona nessa cauda de cometa, ver a Via Láctea, estrada tão bonita, brincar de esconde-esconde numa nebulosa. Voltar pra casa no nosso lindo balão azul.

“Lindo balão azul” ( Guilherme Arantes,1990)

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ................................................................................................... 05

1. O QUE É O TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE

(TDAH)? ................................................................................................................... 07

2. QUAIS AS POSSÍVEIS CAUSAS DO TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO

E HIPERATIVIDADE (TDAH)? . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 07

3. QUAIS SÃO OS SINTOMAS DO TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E

HIPERATIVIDADE (TDAH) ? ................................................................................... 08

4. E QUANTO AO DIAGNÓSTICO, COMO SE REALIZA? .................................... 12

5 . COMO TRATAR O TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E

HIPERATIVIDADE (TDAH)? .................................................................................... 18

6. COMO É O DESEMPENHO ESCOLAR DA CRIANÇA COM TRANSTORNO DE

DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH)? ........................................ 20

7. COMO É A CONVIVÊNCIA COM A CRIANÇA COM TRANSTORNO DE DÉFICIT

DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH) NA ESCOLA E NA FAMÍLIA? ........ 21

8. O QUE FAÇO COM MEU ALUNO TDAH? ......................................................... 24

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 31

REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 33

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APRESENTAÇÃO

É comum, no contexto escolar, os pedagogos conviverem com reclamações

ou angústias expressas pelos professores acerca de alunos do ensino fundamental,

mais especificamente da 5ª a 8ª séries, que apresentam comportamento agitado,

agressividade, que estão sempre “no mundo da lua” e que demonstram dificuldades

de aprendizagem. Tais condições revestem-se de uma trama delicada, posto que

esses alunos, freqüentemente, trazem consigo um estigma negativo, geralmente,

demarcado por sucessivos fracassos no âmbito acadêmico que podem se repetir

ano a ano, série a série, sem que algo seja feito, no sentido de mudar esse

panorama. Através de uma observação sistemática, alguns professores e pais

reconhecem características comportamentais de TDAH nesses alunos, mas não

sabem como agir.

Segundo Rohde e Benczik (1999), o Transtorno do Déficit de Atenção e

Hiperatividade (TDAH) é um problema de saúde mental que se caracteriza pela

presença de desatenção, hiperatividade e impulsividade, de alta prevalência em

escolares, ficando entre 3 a 6% em todo mundo.

O presente trabalho tem como objetivo contribuir com pedagogos e

professores fornecendo conceitos básicos e sugestões de trabalho para sua prática

pedagógica de modo que possam perceber e auxiliar os alunos que apresentam

características do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade desenvolvendo

o potencial específico de cada um com a finalidade de auxiliá-los a superar as

dificuldades acadêmicas que possam vir a ter.

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1. O QUE É O TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE

(TDAH) ?

O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade é um problema de saúde

mental que se caracteriza por sintomas de desatenção, hiperatividade e

impulsividade no campo familiar, escolar e social.

Na literatura, o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade é também

denominado TDAH. Desde a segunda metade do século XIX, sua causa vem sendo

estudada e progressivamente foram abandonadas as noções de falha disciplinar

como principal motivo do Transtorno. Passou por diferentes denominações,

conforme destaca Poeta e Rosa Neto (2004, p. 150):

Este transtorno tem aparecido com variações na sua nomenclatura no decorrer da história, incluindo algumas denominações como “Lesão Cerebral Mínima”; “Reação Hipercinética da Infância”, no DSM-II; “Distúrbio do Déficit de Atenção”, no DSM-III; “Distúrbio de Hiperatividade com Déficit de Atenção”, no DSM-III-R; “Transtornos Hipercinéticos”, na CID-10; e “Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade”, no DSM-IV. O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é considerado o distúrbio

infantil mais comum e é tido como a principal causa do fracasso escolar. Entretanto,

pesquisas mais recentes que tratam desta questão provaram que o distúrbio tende a

permanecer na adolescência e continuar na idade adulta. A questão é que as

características do distúrbio vão revelando aparências diferentes de acordo com as

diversas faixas de idade. É fácil entender, por exemplo, que uma criança hiperativa

corra de um lado para outro, esteja constantemente pulando mais do que outras

crianças da mesma idade, mas o adolescente e o adulto hiperativos exteriorizarão a

mesma hiperatividade de forma diferente, de acordo com as suas respectivas

idades.

A existência da forma adulta de Transtorno de Déficit de Atenção e

Hiperatividade foi oficialmente reconhecida em 1980 pela Associação de Psiquiatria

Americana. Desde então, inúmeros estudos têm demonstrado sua presença em

adultos. Muitos médicos desconhecem a existência do TDAH em adultos e quando

são procurados por estes pacientes, tendem a tratá-los como se tivessem outros

problemas como depressão, ansiedade ou drogas.

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2. QUAIS AS POSSÍVEIS CAUSAS DO TRANSTORNO DE DÉFICIT DE

ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH)?

Pesquisas publicadas pela Associação Brasileira do Déficit de Atenção –

ABDA (2007) relatam que crianças com Transtorno de Déficit de Atenção e

Hiperatividade apresentam alterações na região frontal orbital e suas conexões com

o resto do cérebro. A região frontal orbital é uma das mais desenvolvidas no ser

humano em comparação com outras espécies animais e é responsável pela inibição

do comportamento, isto é, controlar ou inibir comportamentos inadequados, pela

capacidade de prestar atenção, memorização, autocontrole, organização e

planejamento. O que parece estar alterado nesta região cerebral é o funcionamento

de um sistema de substâncias químicas chamadas neurotransmissoras,

principalmente dopamina e noradrenalina, que passam informação entre células

nervosas (neurônios).

Muitas são as queixas de pais e professores que a criança e o adolescente

com esse Transtorno não se concentram em atividades escolares mas conseguem

ficar quietos e concentrados naquilo que lhe interessam. Isso se dá pois a atenção e

o controle motor são muito dependentes da motivação e dos estímulos

individualizados. Já a capacidade de focar a atenção e controlar a motricidade em

ambientes com muitos estímulos, como uma sala de aula com muitos alunos, ou

atividades pouco interessantes provocam a inquietação e desatenção em uma

criança ou adolescente com TDAH. (ROHDE; BENCZIK, 1999, p. 42)

As pesquisas têm apresentado algumas causas possíveis para o Transtorno

do Déficit de Atenção e Hiperatividade, conforme Rohde e Benczik (1999, p. 58) :

A hereditariedade:

estudos com famílias têm demonstrado que 25% dos familiares em primeiro grau de crianças com TDAH também têm o transtorno. Isto significa uma chance cinco vezes maior do que a encontrada na população em geral que, como vimos, é de cerca de 5%. Estudos com gêmeos idênticos (univitelinos) mostram que, na presença do diagnóstico em um dos gêmeos, a chance de o outro também ter o transtorno é de 80% a 90%. Entretanto é importante destacar que os genes parecem ser responsáveis não

pelo transtorno em si, mas por uma predisposição ao Transtorno de Déficit de

Atenção e Hiperatividade.

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Problemas durante a gravidez ou no parto:

• De acordo com Rohde e Benczik (1999) estudos sugerem que mulheres que

tiveram problemas durante a gravidez ou no parto têm mais chance de terem

filhos com o Transtorno. A relação de causa não é clara, talvez mães que

apresentem esse Transtorno sejam mais descuidadas e assim possam estar

mais predispostas a problemas na gravidez e no parto.

• A carga genética que a própria mãe tem e que passa para o filho é que

estaria influenciando a maior presença de problemas na gravidez e no parto.

Exposição a determinadas substâncias:

• Existem evidências de que crianças pequenas que sofreram intoxicação por

chumbo podem apresentar sintomas semelhantes aos do Transtorno de

Déficit de Atenção e Hiperatividade , entretanto, não há nenhuma

necessidade de se realizar qualquer exame de sangue para medir o chumbo

numa criança com TDAH, já que isto é raro e pode ser facilmente identificado

pela história clínica.

• A nicotina e o álcool, quando ingeridos durante a gravidez, podem causar

alterações em algumas partes do cérebro do bebê, incluindo a região frontal

orbital. Pesquisas indicam que mães alcoolistas têm mais chance de terem

filhos com problemas de hiperatividade e desatenção. É importante lembrar

que muitos destes estudos somente mostram uma associação entre estes

fatores, mas não mostram uma relação de causa e efeito.

Problemas familiares:

• Famílias caracterizadas por alto grau de agressividade nas interações (alto

grau de discórdia conjugal, baixa instrução, famílias com baixo nível

socioeconômico, ou famílias com apenas um dos pais) podem contribuir para

o aparecimento de comportamento agressivo ou de oposição desafiante nas

crianças.

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• As dificuldades familiares podem ser mais conseqüência do que causa do

Transtorno na criança e mesmo nos pais. Problemas familiares podem

agravar um caso de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade , mas

não causá-lo.

3. QUAIS SÃO OS SINTOMAS DO TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E

HIPERATIVIDADE (TDAH)?

Segundo os critérios do DSM-IV da Associação Americana de Psiquiatria, o

TDAH caracteriza-se por dois grupos de sintomas: (1) Déficit de Atenção e (2)

Hiperatividade e Impulsividade (RODHE; HALPERN, 2004, p. 65).

(1) Sintomas que fazem parte do grupo de desatenção:

• Dificuldades em manter a atenção fixa a detalhes, ou ocorrência de erros por

descuido nas tarefas escolares, no trabalho ou em outras atividades;

• Dificuldades em manter a atenção nas tarefas cotidianas ou nas brincadeiras.

• Dificuldades de audição quando não falam diretamente com eles;

• Dificuldades para seguir instruções, deixando de terminar as tarefas

escolares, domésticas ou deveres no trabalho (não por um comportamento de

oposição ou por não conseguir entender as instruções);

• Dificuldades na organização de tarefas e atividades;

• Hábito de evitar, de não apreciar ou ficar relutante em se envolver em tarefas

que exijam esforço mental mantido (como as lições em classe e em casa);

• Hábito de perder objetos necessários às tarefas ou atividades (brinquedos,

solicitações da escola, lápis, livros ou ferramentas);

• Hábito de se distrair facilmente com estímulos exteriores;

• Hábito de ser muito "desligado" nas atividades cotidianas.

(2) Sintomas que fazem parte do grupo da hiperatividade-impulsividade :

a) Hiperatividade

• Hábito de ter as mãos ou os pés inquietos, ou de se contorcer nos assentos;

• Hábito de sair da carteira na sala de aula, ou em outras situações, em que se

espera que permaneça sentado;

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• Hábito de correr ou subir e descer escadas de maneira persistente, em

situações impróprias (em adolescentes ou adultos, isso pode ser limitado a

sensações subjetivas de inquietação);

• Dificuldades em brincar, ou de se envolver em atividades de lazer mais

tranqüilas;

• Hábito de estar sempre muito ativo ou de agir como se "movido por um

motor";

• Fala excessiva.

b) Impulsividade

• Hábito de falar abruptamente ou de responder antes que as perguntas sejam

terminadas;

• Dificuldades em esperar a vez;

• Hábito de interromper, ou de se intrometer em experiências alheias

(conversas ou jogos);

Esses sintomas geralmente se iniciam antes dos sete anos, mas na maioria

das vezes são diagnosticados após a criança ingressar na escola, pois é quando os

sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade são percebidos pelo

professor quando comparada com outras crianças da mesma idade.

Segundo Rohde e Halpern (2004, p. 66) o DSM-V subdivide o TDAH em três

tipos:

1) TDAH com predomínio de sintomas de desatenção, com uma taxa mais

elevada de prejuízo acadêmico e com maior freqüência no sexo feminino;

2) TDAH com predomínio de sintomas de hiperatividade/impulsividade: são

crianças mais agressivas e impulsivas e tendem a apresentar altas taxas de

impopularidade e de rejeição pelos colegas;

3) TDAH combinado: apresenta um maior prejuízo no funcionamento global

quando comparado aos outros dois tipos.

Os meninos apresentam maior freqüência de TDAH do que as meninas em

uma proporção de no máximo dois meninos para cada menina. As meninas têm

menos sintomas de hiperatividade-impulsividade que os meninos, embora sejam

igualmente desatentas, o que fez com que se acreditasse que o Transtorno só

ocorresse em sexo masculino. (RODHE, HALPERN, 2004, p. 65)

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A adolescência é um período de fortes transformações internas e externas.

Segundo Mattos (2001), os adolescentes com TDAH são muito desatentos,

demonstram dificuldades em completar tarefas, iniciam várias atividades, mas

persistem em poucas, habitualmente são desorganizados, esquecem compromissos,

perdem objetos, fazem várias coisas ao mesmo tempo.

A independência surge com força, muitas vezes apresentando-se como

rebeldia em relação às autoridades em geral, com um risco aumentado de baixo

desempenho escolar, repetência, expulsões e suspensões escolares, relações

difíceis com familiares e colegas, desenvolvimento de ansiedade, depressão, baixa

auto-estima, problemas de conduta e delinqüência na busca constante de novidades

e fortes emoções, como esportes radicais e outros desafios expondo-se

freqüentemente a acidentes, experimentação e abuso de drogas precoces,

ocorrência de uma gravidez na adolescência.

O medo de falhar na escola e nos relacionamentos, a pressão do grupo, o

desejo de ser independente, de experimentar coisas novas e proibidas (álcool, sexo,

drogas) são alguns dos ingredientes dessa fase sempre conflitiva principalmente

para o adolescente com Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade.

Atualmente acredita-se que 50% das crianças e adolescentes com Transtorno

do Déficit de Atenção e Hiperatividade ingressarão na vida adulta apresentando

sintomas significativos de desatenção e impulsividade, diminuindo a hiperatividade.

(RODHE, HALPERN, 2004, p. 67)

Segundo os critérios do DSM-V, para se fazer o diagnóstico em adultos é

obrigatório demonstrar que o transtorno esteve presente desde criança. Isto pode

ser difícil em algumas situações, porque o indivíduo pode não se lembrar de sua

infância e também os pais podem ser falecidos ou estar bastante idosos para relatar

ao médico.

Os adultos com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade costumam

ter dificuldade de organizar e planejar atividades diárias, por exemplo, determinar o

que é mais importante dentre muitas tarefas que tem para fazer. Ficam estressados

com facilidade quando se vêem sobrecarregados. Constantemente têm dificuldades

para realizarem sozinhos suas tarefas, principalmente quando são muitas. Isso pode

causar problemas na faculdade, emprego e no relacionamento com outras pessoas.

São inquietos, impulsivos, têm dificuldade em avaliar seu próprio comportamento e o

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quanto isso afeta os demais à sua volta. Freqüentemente considerados egoístas e

têm, em sua grande maioria, problemas com álcool, depressão, drogas e ansiedade.

Uma característica marcante do Transtorno de Déficit de Atenção e

Hiperatividade em crianças é a apresentação de outros problemas de saúde mental,

como problemas de comportamento, ansiedade e depressão, chamados de

comorbidades. Rodhe e Benczik (1999, p. 46) citam como “comorbidade a

ocorrência em conjunto de dois ou mais problemas de saúde” e destacam que o

TDAH é acompanhado com uma freqüência alta de outros problemas de saúde

mental e em adultos, estima-se que essa freqüência seja ainda maior. Para Rohde e

Halpern (2004, p. 66) :

As pesquisas mostram uma alta prevalência de comorbidade entre o TDAH e os transtornos disruptivos do comportamento (transtorno de conduta e transtorno opositor desafiante), situada em torno de 30 a 50%. A taxa de comorbidade também é significativa com as seguintes doenças: a) depressão (15 a 20%); b) transtornos de ansiedade (em torno de 25%); c) transtornos da aprendizagem (10 a 25%).

4. E QUANTO AO DIAGNÓSTICO, COMO SE REALIZA?

O diagnóstico desse transtorno é eminentemente clínico feito pelo profissional

da Saúde Mental (Psicólogo, Psiquiatra, Neurologista) e faz-se necessário uma

investigação da história detalhada da criança com uma ou mais pessoas

significativas. No caso de crianças e adolescentes, as informações de professores e

pais são extremamente importantes e em adultos parentes próximos e cônjuges

ajudam. Escalas de avaliação, com pontuação para os sintomas, são úteis para

dirigir a investigação diagnóstica.

Serão apresentadas duas Escalas de Avaliação utilizadas pelo profissional da

saúde mental para o diagnóstico do TDAH, exclusivamente para os professores:

Questionário de Conners, de Barbosa e Gouveia in: ANDRADE (2002, p. 77)

Apresenta duas versões equivalentes; uma respondida pelos pais da criança

e outra por um dos seus professores. Tal procedimento visa avaliar diferentemente o

hiperativo massivo (aquele que tem comportamento identificado por pais e

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professores) dos situacionais (só prevalece em um dos contextos: familiar ou

escolar).

Na versão para professores dez (10) itens compõem o índice de

hiperatividade que são: 1, 5, 6, 8, 12, 14, 15, 18, 20 e 21. Nas duas versões a

pontuação obedece ao mesmo padrão para as respostas que varia de 0 = Nunca, 1=

às vezes, 2 = freqüentemente e 3 = sempre, indicando o quanto a conduta da

criança pode ser considerada hiperativa. A soma total das respostas para os dez

itens pode variar de 0 a 30, sendo que, quando a criança alcança uma pontuação

bruta de 22 ou mais, provavelmente trata-se de uma criança hiperativa.

QUESTIONÁRIO DE CONNERS PARA PROFESSORES (versão abreviada) Barbosa e Gouveia (1993)

Marque com uma cruz a coluna que melhor descreve o comportamento do aluno (a) seguindo a

pontuação abaixo

Nunca = 0, Às vezes = 1, Freqüentemente = 2 Sempre = 3

Comportamento Habitual na Sala 0 1 2 3

1. Mostra-se constantemente inquieto (sempre manipulando objetos)

2. Tagarela ou faz ruídos raros com a boca

3. Fica desanimado ante o estresse de uma prova

4. Apresenta dificuldade na coordenação motora

5. É muito ativo

6. É excitável e impulsivo

7. Distrai-se com facilidade e tem dificuldade para se concentrar

8. As tarefas que começa deixa sem terminá-las

9. É essencialmente sensível

10. É excessivamente sério ou triste

11. Parece estar “sonhando acordado”, durante o dia

12. Apresenta-se mal humorado e insuportável

13. Grita facilmente

14. Perturba outras crianças

15. Geralmente procura brigas

16. Muda de humor rapidamente

17. Apresenta vivacidade (agudeza) em suas condutas

18. É destruidor

19. É capaz de realizar pequenos roubos

20. É mentiroso

21. Possui temperamento explosivo (conduta imprevisível)

22. Isola-se das demais crianças

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23. Parece ser rejeitado pelo grupo

24. Dispõe-se, facilmente, a ser dirigido (dominado pelos seus

companheiros)

25. É capaz de respeitar as regras do jogo

26. Carece de mando e liderança

27. Pode estar com crianças do sexo oposto

28. Pode estar com crianças do mesmo sexo

29. Interfere nas atividades de outras crianças

Ante a autoridade mostra-se

30. Submisso

31. Desafiante

32. Descarado (sem vergonha)

33. Tímido

34. Medroso

35. Demandando demasiada atenção do(a) professor(a)

36. Obstinado

37. Sempre disposto a agradar

38. Cooperativo

39. Apresentando problema de assistência na classe

40. Outras observações, se não couber aqui, podem ser feitas no verso

Questionário SNAP-IV para professores

Construído a partir dos sintomas do Manual de Diagnóstico e Estatística - IV Edição

(DSM-IV) da Associação Americana de Psiquiátrica. (ROHDE; MATTOS & cols,

2003, p.152)

Para cada item, escolha a coluna que melhor descreve o(a) aluno(a) (MARQUE UM X):

Nem um

pouco

Só um pouco Bastante Demais

1. Não consegue prestar muita atenção a detalhes ou comete erros por descuido nos trabalhos da escola ou tarefas.

2. Tem dificuldade de manter a atenção em tarefas ou atividades de lazer

3. Parece não estar ouvindo quando se fala diretamente com ele

4. Não segue instruções até o fim e não termina deveres de escola, tarefas ou obrigações.

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5. Tem dificuldade para organizar tarefas e atividades

6. Evita, não gosta ou se envolve contra a vontade em tarefas que exigem esforço mental prolongado.

7. Perde coisas necessárias para atividades (p. ex: brinquedos, deveres da escola, lápis ou livros).

8. Distrai-se com estímulos externos

9. É esquecido em atividades do dia-a-dia

10. Mexe com as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira

11. Sai do lugar na sala de aula ou em outras situações em que se espera que fique sentado

12. Corre de um lado para outro ou sobe demais nas coisas em situações em que isto é inapropriado

13. Tem dificuldade em brincar ou envolver-se em atividades de lazer de forma calma

14. Não pára ou freqüentemente está a “mil por hora”.

15. Fala em excesso.

16. Responde as perguntas de forma precipitada antes delas terem sido terminadas

17. Tem dificuldade de esperar sua vez

18. Interrompe os outros ou se intromete (p.ex. mete-se nas conversas / jogos).

19. Descontrola-se

20. Discute com adultos

21. Ativamente desafia ou se recusa a seguir os pedidos do adulto ou as regras

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22. Faz coisas que incomodam os outros de propósito

23. Culpa os outros pelos seus erros ou má conduta

24. É sensível ou facilmente incomodado pelos outros

25. É raivoso ou ressentido

26. É malvado ou vingativo

Como o Profissional da saúde mental avalia a criança com suspeita de TDAH: (1) se existem pelo menos 6 itens marcados como “BASTANTE” ou “DEMAIS” de 1 a 9 = existem mais sintomas de desatenção que o esperado numa criança ou adolescente; 2) se existem pelo menos 6 itens marcados como “BASTANTE” ou “DEMAIS” de 10 a 18 = existem mais sintomas de hiperatividade e impulsividade que o esperado numa criança ou adolescente.

O questionário SNAP-IV é útil para avaliar apenas o primeiro dos critérios (critério A)

para se fazer o diagnóstico. Existem outros critérios que também são necessários.

Veja abaixo os demais critérios

CRITÉRIO A: Sintomas vistos acima;

CRITÉRIO B: Alguns desses sintomas devem estar presentes antes dos 7 anos de

Idade;

CRITÉRIO C: Existem problemas causados pelos sintomas acima em pelo menos 2

contextos diferentes (por ex., na escola, no trabalho, na vida social e em casa);

CRITÉRIO D: Há problemas evidentes na vida escolar, social ou familiar por conta

dos sintomas.

CRITÉRIO E: Se existe um outro problema (tal como depressão, deficiência mental,

psicose, etc.), os sintomas não podem ser atribuídos exclusivamente a ele.

IMPORTANTE: Não se pode fazer o diagnóstico de TDAH apenas utilizando o

critério A!

Como alerta Rohde; Mattos & cols (2003, p. 204): “os professores devem ter o

cuidado de não diagnosticar, mas apenas descrever o comportamento e o

rendimento do aluno propondo um possível curso de ação”, auxiliando o profissional

da saúde mental para um diagnóstico correto e um tratamento eficaz.

Não existe até então testes físicos, psicológicos ou neurológicos capazes de

provar a presença do TDAH em um indivíduo (Phelan, 2005). Rodhe e Halpern

(2004, p. 64) destacam que para o diagnóstico do TDAH, é sempre necessário

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contextualizar os sintomas na história de vida da criança, seguindo algumas pistas

que indiquem a presença do transtorno, tais como:

a) Duração dos sintomas de desatenção e/ou hiperatividade/impulsividade.

Normalmente, crianças com TDAH apresentam uma história de vida desde a

idade pré-escolar com a presença de sintomas, ou pelo menos um período

de vários meses de sintomatologia intensa;

b) Freqüência e intensidade dos sintomas. Para o diagnóstico de TDAH, é

fundamental que pelo menos seis dos sintomas de desatenção e/ou seis dos

sintomas de hiperatividade/impulsividade descritos acima estejam presentes

freqüentemente (cada um dos sintomas) na vida da criança;

c) Persistência dos sintomas em vários locais e ao longo do tempo. Os sintomas

de desatenção e/ou hiperatividade/impulsividade precisam ocorrer em vários

ambientes da vida da criança (por exemplo, escola e casa) e permanecerem

constantes ao longo do período avaliado. Sintomas que ocorrem apenas em

casa ou somente na escola devem alertar o clínico para a possibilidade de

que a desatenção, hiperatividade ou impulsividade possam ser apenas

sintomas de uma situação familiar caótica ou de um sistema de ensino

inadequado. Da mesma forma, flutuações de sintomatologia com períodos

assintomáticos não são características do TDAH;

d) Prejuízo clinicamente significativo na vida da criança. Sintomas de

hiperatividade ou impulsividade sem prejuízo na vida da criança podem

traduzir muito mais estilos de funcionamento ou temperamento do que um

transtorno psiquiátrico;

e) Entendimento do significado do sintoma. Para o diagnóstico de TDAH, é

necessária uma avaliação cuidadosa de cada sintoma e não somente a

listagem de sintomas. Por exemplo, uma criança pode ter dificuldade de

seguir instruções por um comportamento de oposição e desafio aos pais e

professores, caracterizando muito mais um sintoma de transtorno opositor

desafiante do que de TDAH.

Em pesquisa realizada, Freire e Ponde (2005, p. 477) alertam que o

diagnóstico do TDAH em crianças se baseia em uma história obtida com pais,

professores ou outros cuidadores e relatos da escola, não requerendo que o médico

testemunhe os sintomas ou os obtenha diretamente das crianças. A avaliação

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diagnóstica mais utilizada pelo médico é o uso de escalas de classificação com pais

e professores, além de uma avaliação do estado mental, geral e neurológica da

criança.

Rohde, Mattos & cols. (2003, p.119) afirmam que ao avaliar crianças

desatento-hiperativas as seguintes possibilidades diagnósticas devem ser

consideradas:

• transtornos da aprendizagem;

• transtornos do desenvolvimento da coordenação motora;

• transtorno da comunicação;

• transtornos invasivos do desenvolvimento;

• transtorno de conduta;

• transtorno de oposição desafiadora;

• transtorno de tique;

• alterações da personalidade devido a condição médica geral ( neurológica ou

outra);

• transtornos por uso de substâncias;

• esquizofrenia e outros transtornos psicóticos;

• transtornos do humor;

• transtornos de ansiedade (inclusive os secundários ou reativos, experiências

traumáticas no início da vida, desordens afetivas, abuso, negligência e

depressão materna podem produzir sintomas de hiperatividade);

• transtornos dissociativos;

• transtornos de personalidade.

5. COMO TRATAR O TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E

HIPERATIVIDADE (TDAH)?

Facion (2005) destaca que a Farmacoterapia, a Psicoterapia, a Medicina

Comportamental, a Dieta Livre de Fosfato, os Treinos de Auto-Instrução e a

Orientação para Pais e Professores são as terapias que apresentam melhores

resultados.

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No campo da farmacoterapia, Silva (2003, p.199) relata que o Metilfenidato

(Ritalina), a Dextroanfetamina (Dexedrina) e a Pemolina (Cylert) são os estimulantes

mais pesquisados e receitados para o TDAH. Há também o uso de antidepressivos

que produzem efeitos semelhantes aos obtidos pelos estimulantes sobre os

sintomas de desatenção, impulsividade e hiperatividade. Entre eles destacam-se a

Desipramina (Norpramin), a Imipramina (Trofanil), a Venlafaxina (Efexor), a

Bupropiona (Zyban), a Fluoxetina (Prozac), a Sertralina (Zoloft) e a Paroxetina

(Aropax). A medicação é a mesma para crianças e adultos, o que difere é a dose

utilizada e costumam produzir resultados eficazes na maioria dos casos. Goldstein e

Goldstein (1998, p. 40) relatam que o médico precisa avaliar os riscos e os

benefícios potenciais do medicamento desde o início, embora a decisão do seu uso

faça parte do processo de tratamento e não do processo de diagnóstico.

A Psicoterapia e a Medicina Comportamental encontram seu fundamento nos

princípios da Teoria Behaviorista de reforço, os indivíduos são recompensados

regularmente quando permanecem realizando uma atividade por um determinado

período de tempo. A recompensa realiza-se através de atitudes carinhosas,

afetuosas, acompanhadas de elogios. De maneira semelhante, outras formas de

comportamento, como controle motor, podem ser reforçadas sistematicamente,

integrando, deste modo, o repertório de comportamento dos pacientes. O objetivo

central desta modalidade é treinar a criança com esse Transtorno para exercer um

controle sobre seus próprios comportamentos. A psicoterapia pode ajudar o paciente

a identificar como sua incapacidade de controlar-se pode estar associada com uma

história de baixo desempenho e dificuldades nas relações interpessoais, além de

ajudar a modular alterações de humor, estabilizar relações e aliviar culpas e

desânimo. Em todas as faixas etárias a terapia familiar e psicoterapia individual

podem compor o tratamento. Abordagens cognitivas e modificações ambientais

podem ser necessárias.

Conforme relata Facion (2005), os Treinos de Auto Instrução executa-se em

três etapas: primeiramente a criança observa o pedagogo ou o professor realizando

determinado trabalho, com calma e concentração, comentando em voz alta suas

atividades. Na segunda etapa, a criança é solicitada a efetuar a tarefa observada e

verbalizada em voz alta da mesma maneira que o professor. Na terceira etapa, as

auto-instruções faladas em voz alta são substituídas pela tonalidade de voz cada

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vez mais reduzida, até que a criança seja capaz de estruturar sua atividade verbal

em nível de pensamento.

A orientação familiar, assim como as técnicas de modificação de

comportamento, são sempre necessárias. A estruturação do ambiente, a

organização das 24 horas do dia e a educação com limites podem ajudar a diminuir

o nível de ansiedade e desorganização da criança com Transtorno de Déficit de

Atenção e Hiperatividade.

A definição do diagnóstico é importante, pois favorece a busca de uma

organização do contexto e a partir dele a família poderá compreender o

comportamento apresentado pelo filho. Quando as estratégias forem estabelecidas

por meio das prioridades levantadas, os pais devem ser persistentes, mantê-las

independentemente do ambiente. Se desistirem em tempo curto, confundirão a

criança. Às vezes, os pais conseguem manejar bem a impulsividade da criança em

casa, mas se atrapalham quando o sintoma aparece em ambiente estranho. É

preciso certificar-se de que pai e mãe estejam procedendo de forma similar. Este é

um problema freqüente e crucial.

A organização da rotina familiar é muito importante, pois essas crianças

tendem a funcionar melhor em um ambiente estruturado, constante e previsível. No

entanto, o preparo da criança para qualquer mudança que quebre essa rotina é

necessário. Considerando a necessidade de adaptação e modificações que a família

precisa fazer quando tem um filho com o transtorno, à busca de orientação

profissional especializada é recomendada. Se ficarem baseados somente na

intuição, os pais podem ficar perdidos, o que faz com os conflitos familiares

aumentem, assim como os sintomas em todos os seus componentes.

A técnica mais importante de manejo comportamental é a de reforço positivo,

na qual a criança é premiada para comportamentos desejados.

O sucesso de sala de aula pode requerer uma série de intervenções, para

crianças com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, com pequenos

ajustes e adição de suporte pessoal, e/ou programas que ofereçam serviços

especiais, como psicólogos, médicos, fonoaudiólogos, neurologistas, entre outros.

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6. COMO É O DESEMPENHO ESCOLAR DA CRIANÇA COM TRANSTORNO DE

DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH)?

Sabe-se que o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade tem um

grande impacto no desenvolvimento educacional da criança. Estudos realizados por

Goldstein e Goldstein (1998) indicam que crianças com o Transtorno em ensino

regular correm risco de fracasso duas a três vezes mais do que crianças sem

dificuldades escolares e com inteligência equivalente.

Segundo Goldstein e Goldstein (1998, p. 245), (...)cerca de 20 a 30% das crianças com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade apresentam dificuldades específicas, que interferem na sua capacidade de aprender. Do total de crianças indicadas para o serviço de educação especial e de centros de saúde mental, 40% são portadoras de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade .”

A desatenção e a falta de autocontrole, características do Transtorno,

intensificam-se em situações de grupo, dificultando, ainda mais, a percepção seletiva

dos estímulos relevantes, a estruturação e a execução das tarefas, colocando a

criança em grande risco para as dificuldades escolares, em termos de desempenho

acadêmico e interações com adultos e outras pessoas. Benczik (2002, p. 110)

também expõe:

Os sintomas do TDAH, no ambiente escolar, revelam uma dificuldade em terminar o trabalho de aula na classe ou de participar tranqüilamente de uma equipe de esportes. Geralmente, essa criança se envolve em atividades mais improdutivas durante a aula e o recreio, se comparada com seus pares. O desempenho acadêmico insatisfatório com freqüência acompanha o TDAH e pode ser uma característica estável do transtorno, mas em geral o professor observa uma discrepância entre o potencial intelectual da criança e o desempenho acadêmico da mesma, o que pode ocorrer mesmo entre as crianças com inteligência superior a média. Essa situação de fracasso contínuo reverte em uma desvinculação cada vez

maior no processo de aprendizagem do aluno, a não ser que ele encontre no

sistema educacional, resposta adequada às suas necessidades acadêmicas.

Bromberg (2005) destaca que os pais, muitas vezes, imaginam existir uma

escola especializada, com atendimento próprio para alunos hiperativos e desatentos.

Numa época em que se luta pela inclusão de todos os alunos, não é razoável

conceber uma escola exclusiva para os portadores de Transtorno do Déficit de

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Atenção e Hiperatividade. Eles precisam ter o benefício do convívio social com

colegas da mesma idade e aprender a lidar com regras, com a estrutura e os limites

de uma educação organizada, pois a escola representa em pequena escala, a

sociedade em que irão viver quando chegarem à idade adulta. O sucesso na sala de

aula pode exigir uma série de intervenções. A maioria das crianças com Transtorno

de Déficit de Atenção e Hiperatividade pode permanecer na classe regular, com

pequenas intervenções no ambiente estrutural, modificação de currículo e

estratégias adequadas à situação.

7. COMO É A CONVIVÊNCIA COM A CRIANÇA COM TRANSTORNO DE DÉFICIT

DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH) NA ESCOLA E NA FAMÍLIA?

A criança com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade,

principalmente a impulsiva, com freqüência é punida com castigos físicos e é comum

que seja julgada pejorativamente como mal-educada, insuportável e até mesmo má.

Não são poucos os comentários que se fazem do caráter de uma criança com TDAH

ou até mesmo previsões pessimistas sobre seu futuro. Como realmente tem

dificuldades de controlar seus impulsos e se mete em confusões e

desentendimentos em família e com outras crianças, acaba acreditando no que lhe

dizem. Por essas situações, Silva (2003, p.60) alerta que “com freqüência maior que

a média, crianças com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade,

expressam seu sofrimento e sentimentos de rejeição, ora dizendo que irão fugir de

casa, ora que são infelizes e querem se matar”.

Muitas vezes a criança com TDAH se torna culpada por tudo que acontece

em casa, principalmente pelos irmãos, sendo alvo constante de críticas. Um exemplo

claro é o fato dos irmãos se acostumarem na cômoda posição de filhos “normais” e,

engenhosamente, colocarem a criança com Transtorno do Déficit de Atenção e

Hiperatividade na posição de culpada e causadora de todas as brigas. Mesmo não

sendo culpada, como freqüentemente ela costuma causar confusões, os pais

tenderão a apontá-la como responsável, sem se preocupar com uma investigação

mais detalhada dos conflitos.

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Por outro lado, esclarece Silva (2003, p.61):

(...) também não parece justo acusar impiedosamente os pais e a família por tudo. Imagine o transtorno causado por uma criança que parece ser incansável e não tem hora nem lugar para brincar ou que vive literalmente no mundo da lua. Freqüentemente, as situações provocadas pela impulsividade ou distração de uma criança com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade detonam brigas entre a família, pois, alguns membros são acusados de serem severos demais e outros, complacentes.

O mais importante é buscar informações sobre o comportamento inadequado

da criança antes de concluir que ela apresenta caráter duvidoso ou que é

simplesmente grosseira. Quanto mais informações acerca do transtorno, melhor

para a criança e para a família. Deve-se ter claro que a criança necessita saber o

que se passa com ela e cabe aos pais explicar-lhe o que está acontecendo antes de

levá-la a um atendimento especializado. Como afirma Cypel (2000, p. 71)

É de suma importância à criança saber exatamente os motivos pelos quais está indo a consulta. Ser informada que está apresentando comportamentos que dificultam seus relacionamentos na escola, em casa, no clube, que está se mostrando impaciente, agitada, desorganizada com os brinquedos, roupas e pouco responsável com as tarefas escolares. Enfim, deixá-la saber que está acontecendo algo que motivou a preocupação dos pais, e que a busca de um profissional tem a finalidade de encontrar os recursos para ajudá-la a corrigir e adequar os comportamentos inconvenientes e, por conseqüência, trazer-lhe bem-estar no convívio com a família e com os amigos.

A criança deve sempre ser acolhida, reforçando as qualidades e acertos

esclarecendo-lhe que o adulto sempre está ao seu lado para ajudar.

O tratamento da criança com Transtorno de Déficit de Atenção e

Hiperatividade é em longo prazo e todos os envolvidos com a criança, precisam

aprender a lidar com a situação, trocar informações com rede de apoio colaborando

para que a própria criança venha a ter progressos. Os pais devem ser informados

sobre o Transtorno e de como ajudar a minimizar os problemas. Não é fácil ser pai e

mãe de uma criança com Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, porém

não é impossível, desde que haja envolvimento e comprometimento com o bem-

estar da criança. É um desafio que oportuniza aperfeiçoamento pessoal e realização

para o pai ou a mãe. Alguns princípios sólidos trabalhados com a criança permitem

melhorar o comportamento e o desenvolvimento pleno do indivíduo. Uma vez

identificado o problema, é necessário um trabalho multidisciplinar, pais, escola e

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especialista, onde se devem planejar as estratégias e intervenções para o melhor

atendimento dessa criança.

A criança ou adolescente com Transtorno deve ser estimulado em todos os

aspectos, de acordo com Rohde e Benczik (1999, p 73)

(...) a experiência clínica com crianças e adolescentes com TDAH tem indicado claramente que elas precisam mais do que outras de constante reforço para que os comportamentos esperados predominem. Mais do que isso, elas respondem melhor ao reforço positivo do que as estratégias primitivas.

Desta forma, as crianças de maneira geral e as com Transtorno de Déficit de

Atenção e Hiperatividade, necessitam de um ambiente constante e previsível. Um

ambiente com rotina diária, organizado e estruturado oportunizará a criança

melhores condições de avanço. A escola tem a necessidade de estabelecer práticas

pedagógicas que venham contemplar todos os educandos, organizando adaptações

curriculares e efetivando na prática uma inclusão eficiente e que respeite a todos em

suas potencialidades e dificuldades, pois como afirma Topczewski (1999, p. 43) “a

maioria dos pacientes com esse Transtorno apresenta o nível de inteligência normal,

sendo que alguns podem até apresentar o nível de inteligência acima do normal.”

O respeito à autonomia e a dignidade da criança, seja ela especial ou não,

deve ser garantida em cada instituição de ensino. O professor deve respeitar o

educando, a sua linguagem, a sua individualidade. Destaca Freire (2000, p.115):

A professora democrática, coerente, competente, que testemunha seu gosto pela vida, sua esperança no mundo melhor, que atesta sua capacidade de luta, seu respeito à diferença, sabe cada vez mais o valor que tem para a modificação da realidade, a maneira consistente com que vive sua presença no mundo, de que sua existência na escola é apenas um momento, mas um momento importante que precisa ser autenticamente vivido.

Torna-se importante destacar que a educação inclusiva é construída por

todos, na confluência de várias lógicas e interesses, sendo preciso articulá-los com a

comunidade, com os serviços de apoio da educação especial, com o transporte,

saúde e outros. Um projeto pedagógico inclusivo se faz necessário na rede regular

de ensino com estratégias, capacitação continuada de professores do ensino regular

em parceria com professores especializados, objetivando a construção de uma

prática pedagógica que lide com processos de aprendizagem diferenciados.

A inclusão de alunos com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade

sugere uma escola em movimento, em constante transformação e enriquecimento

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pelas diferenças conforme a Declaração de Salamanca e linha de ação sobre

necessidades educativas especiais (1994, p 17):

O termo necessidades educacionais especiais refere-se a todas aquelas crianças ou jovens cujas necessidades se originam em função das deficiências ou dificuldades de aprendizagem. As escolas têm de encontrar maneira de educar com êxito todas as crianças, inclusive as que têm deficiências graves. No momento em que a criança é diagnosticada com o Transtorno de Déficit

de Atenção e Hiperatividade, os pais, os professores e demais funcionários da

escola devem se reunir para a troca de informação e planejamento de ações.

Segundo Phelan ( 2005, p.193), (...) refletir sobre o TDA/H também permite alcançar varias outras coisas. Em primeiro lugar, dá ao professor uma idéia realista de qual é, de fato, o repertório comportamental da criança com TDA/H. Em segundo lugar, deixa claro para ele que o problema é o TDA/H, não pais ruins ou uma criança que quer tirá-lo do sério, ou um problema de falta de competência de sua parte como instrutor. Terceiro, pensar o TDA/H é uma forma de reduzir (não eliminar) a raiva, uma vez que as expectativas tornam-se mais realistas. A raiva é sempre agravada quanto maior for à discrepância entre o que se espera e o que se obtém. É necessário ter claro que o aluno com Transtorno de Déficit de Atenção e

Hiperatividade tem muito a ensinar, é caracteristicamente mais entusiasmado,

criativo e perceptivo.

8. O QUE FAÇO COM MEU ALUNO TDAH?

Ao deparar-se, em sala, com alunos que apresentam sintomas de

hiperatividade, desatenção e impulsividade, conforme os critérios do DSM-V, o

professor deve relatar ao pedagogo da escola para que o mesmo possa colher

informações com a família se a criança ou o adolescente já tem o Transtorno e

iniciar uma investigação mais criteriosa buscando auxílio da Rede de Apoio

(pediatra, neurologista, psiquiatra, psicólogo, etc.).

“O TDAH representa, junto com a dislexia, a principal causa de fracasso

escolar, sendo que a dificuldade de aprendizagem está presente em 20% das

crianças com este transtorno” (POETA; ROSA NETO, 2004, p. 151). Sendo assim, a

escola deve dar um suporte para essa criança ou adolescente que apresenta

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dificuldades comportamentais e/ou de aprendizagem, conforme destaca a

Deliberação 02/03 do Conselho Estadual de Educação (2003, p. 02):

“Art. 5° As necessidades educacionais especiais são definidas pelos problemas de aprendizagem apresentados pelo aluno, em caráter temporário ou permanente, bem como pelos recursos e apoios que a escola deverá proporcionar objetivando a remoção das barreiras para a aprendizagem. Art. 6° Será ofertado atendimento educacional especializado aos alunos com necessidades educacionais especiais decorrentes de: I.dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares, não vinculadas a uma causa orgânica específica ou relacionadas a distúrbios, limitações ou deficiências;” Alguns autores como Goldstein e Goldstein (1998), Topczewski (1999),

Rohde; Benczik (1999), Benczik (2000), Cypel (2000), Rohde, Mattos & cols (2003),

Silva (2003), Facion (2005), Phelan (2005), apresentam sugestões que podem

auxiliar o pedagogo e o professor no manejo dos sintomas destas crianças e

adolescentes com TDAH :

Pedagogo:

• Organizar um grupo de estudo com os professores, principalmente com

aqueles que atendem a criança ou adolescente com TDAH ou com

características do Transtorno;

• Manter contatos freqüentes com os pais, cobrando os encaminhamentos

solicitados;

• É importante destacar que o não encaminhamento da criança ou adolescente

por parte do pai/responsável aos atendimentos solicitados, poderá acarretar

denúncia ao Conselho Tutelar por negligência;

• Reforçar junto aos pais/responsáveis o conteúdo do Capítulo I do Direito à

Vida e à Saúde, descrito no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei Nº

8.069/90) que destaca um dos Direitos Fundamentais da Criança e do

Adolescente:

Art. 7º A criança e o adolescente têm direito à proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. (…) Art. 11. É assegurado atendimento integral à saúde da criança e do adolescente, por intermédio do Sistema Único de Saúde, garantido o acesso universal e igualitário às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde.

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Se ainda assim não for assegurado o Direito ao atendimento por intermédio

do Sistema Único de Saúde, o Estatuto da Criança e do Adolescente, no artigo 208,

responsabilizará o Ministério Público quanto à garantia do atendimento necessário:

Art. 208. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações de responsabilidade por ofensa aos direitos assegurados à criança e ao adolescente, referentes ao não oferecimento ou oferta irregular: I - do ensino obrigatório; II - de atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência; III - de atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade; IV - de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; V - de programas suplementares de oferta de material didático-escolar, transporte e assistência à saúde do educando do ensino fundamental; VI - de serviço de assistência social visando à proteção à família, à maternidade, à infância e à adolescência, bem como ao amparo às crianças e adolescentes que dele necessitem; VII - de acesso às ações e serviços de saúde; VIII - de escolarização e profissionalização dos adolescentes privados de liberdade. (…) Art. 210. Para as ações cíveis fundadas em interesses coletivos ou difusos, consideram-se legitimados concorrentemente: I - o Ministério Público; II - a União, os estados, os municípios, o Distrito Federal e os territórios;

• Evitar contatar os pais somente para falar do que a criança não fez ou de

como se comportou mal em sala ou em atividades da escola. Lembrar que o

pai deve ser o aliado e que uma boa relação entre família e escola é essencial

para que as estratégias de manejo com o aluno possam surtir efeitos

positivos;

• Verificar a possibilidade de redução de vagas na sala onde esse aluno estiver

inserido se houver a necessidade, conforme estabelece a Deliberação 02/03

do Conselho Estadual de Educação que trata das Normas para a Educação

Especial, modalidade da Educação Básica para alunos com necessidades

educacionais especiais, no Sistema de Ensino do Estado do Paraná. (2003, p.

1), no Capítulo III dos estabelecimentos de Ensino Regular, seção I:

Art. 11 Para assegurar o atendimento educacional especializado os estabelecimentos de ensino deverão prever e prover: (...) II. professores e equipe técnico-pedagógica habilitados ou especializados; III. apoio docente especializado, conforme a oferta regimentada; IV. redução de número de alunos por turma, com critérios definidos pela mantenedora, quando estiverem nela incluídos alunos com necessidades educacionais especiais significativas os quais necessitam de apoios e serviços intensos e contínuos; V. atendimento educacional especializado complementar e suplementar;

VI. flexibilização e adaptação curricular, em consonância com a proposta pedagógica.

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• Acompanhar o trabalho dos professores que atendem alunos com TDAH ou

que tenham característica do Transtorno, sugerindo atividades e propostas de

Avaliação;

• Registrar os avanços alcançados pelo aluno e pelo professor, fazendo um

planejamento a curto prazo e estabelecendo metas para que o aluno perceba

seu desenvolvimento, elogiando-o quando conseguir superar suas

dificuldades.

Toda e qualquer intervenção na sala de aula deve ter como foco o

desempenho escolar. Sendo assim, os professores devem ser orientados sobre

diversos aspectos:

Em relação à desatenção:

• Salas de aula bem estruturadas, com poucos alunos, com rotinas diárias

consistentes e ambiente escolar previsível auxiliam o aluno a manter o

controle emocional;

• Uso de relógio e calendário em sala, agenda escolar e uma agenda diária

das atividades da turma, trabalhos e/ou relatórios, datas de avaliação com o

monitor da sala como responsável;

• O aluno TDAH deve ser colocado na primeira fila da sala de aula, próximo ao

professor e longe da janela ou porta, um local onde ele tenha menor

probabilidade de distrair-se;

• O professor deve estar atento em controlar a falta de atenção do aluno,

retirando objetos que possam distraí-lo;

• Buscar auxílio de alunos mais tranqüilos que tenham um bom relacionamento

com o aluno com TDAH e que venham a ajudá-lo na organização do seu

material;

• O professor deve sempre olhar nos olhos do aluno com TDAH, assim

consegue trazê-lo de volta, ajudando-o a evitar a distração;

• As tarefas propostas não devem ser longas e necessitam de explicação passo

a passo, de preferência verbais, concisas e globais. É importante também o

uso de palavras-chave, além de esquemas para as explicações com recursos

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visuais e auditivos. O aluno com TDAH necessita o máximo possível de

atendimento individualizado;

• Verificar a necessidade de reforço nas disciplinas, pois muitas vezes há falhas

no aprendizado devido às características de desatenção, hiperatividade e

impulsividade durante sua vida acadêmica;

• Manter contato freqüente com os especialistas que atendem a criança nos

aspectos ligados à organização e ao planejamento do tempo e de atividades.

Em relação à hiperatividade:

• Estratégias dinâmicas que envolvam atividade física com o processo de

aprendizagem são fundamentais;

• Dar preferência a tarefas que exijam a criatividade do aluno, onde possa se

expressar oralmente ou através de desenhos e não atividades passivas e

mecânicas;

• Dividir as tarefas grandes em várias tarefas pequenas para que o aluno TDAH

não se desmotive;

• Fazer uma adequação para que a tarefa de casa não seja maior que o limite

do aluno com TDAH. Lembrando que o objetivo da tarefa de casa é revisar e

praticar o que foi aprendido em sala;

• Criar, juntamente com os alunos, regras de conduta em sala, simples, com

poucas palavras, para facilitar a memorização. Afixar em um lugar visível,

repetindo várias vezes, ao dia e durante a semana, pois o aluno TDAH

aprende mais facilmente quando as coisas são apresentadas de forma visual;

• Elogiar o aluno com TDAH constantemente, não apenas quando termina a

tarefa, mas durante a realização da mesma, incentivando-o. O aluno com

TDAH convive, diariamente, com tantos fracassos que precisa de toda

estimulação possível;

• Estabelecer conseqüências razoáveis e realistas para o não-cumprimento de

tarefas e das regras combinadas, que devem ser compreendidas por todos.

Aplicá-las com consistência e bom senso;

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• Permitir que o aluno que está ficando agitado ou zangado tenha um tempo

para se acalmar, mesmo que não seja na sala de aula. Isso irá ajudá-lo a

reorganizar-se internamente;

• Escrever à mão é difícil para o aluno com TDAH devido a Hiperatividade.

Considere a possibilidade de uso de alternativas, como a digitação no

computador.

Em relação à impulsividade:

• Organizar as carteiras em forma de U ao invés de fileiras; isso facilita o

contato e evita que o aluno aja por impulso, motivado pelos colegas do

“fundão”. Separe-o dos pares que estimulam ou encorajam o comportamento

inadequado;

• Sentar com o aluno com TDAH a sós e perguntar como ele acha que aprende

melhor. Oferecer apoio e incentivo, tentar ser o mais compreensivo possível;

• Eliminar ou reduzir a freqüência de testes cronometrados. Estes testes

apenas reforçam a impulsividade destes alunos, prejudicando seu rendimento

escolar;

• Evitar, ao máximo, estratégias punitivas, como advertências e expulsões. Dar

preferência para estratégias reparadoras;

• Ao dar uma punição, fazê-lo brevemente, sem sermão, de maneira calma,

imediatamente após a manifestação do comportamento inadequado. Criticar o

comportamento, jamais o aluno, evitando enfatizar o fracasso. Evitar

demonstrações de raiva;

• Discutir as situações difíceis, individualmente, longe dos colegas, de maneira

calma e com voz tranqüila;

• Reunir a turma para praticar estratégias de resolução de conflitos, ajudando o

aluno com TDAH no desenvolvimento dessas habilidades;

• A conscientização é a chave para controlar a impulsividade, pois é preciso

parar e pensar antes de agir;

• Nas atividades em grupo, colocar o aluno com TDAH ao lado de alunos mais

tranqüilos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade é uma deficiência

neurobiológica que pode fazer com que a criança tenha um desenvolvimento

cognitivo insatisfatório e a escola precisa estar atenta, buscando um trabalho

sistemático com a família e com a Rede de Apoio. Sassaki (1997, p. 16) aponta que

as Necessidades Educacionais Especiais são amplas e entende que “podem resultar

de condições atípicas, tais como ...dificuldades de aprendizado...problemas de

conduta, distúrbio de déficit de atenção com hiperatividade... .” Para o autor,

condições atípicas são: “...situações sociais marginalizantes ou excludentes” .

O bom desempenho escolar dos alunos com TDAH exige uma combinação de

intervenções terapêuticas, cognitivas e de acompanhamento. Para que as sugestões

que se encontram neste Material Didático atinjam o sucesso esperado é preciso que

o conjunto de profissionais que representam a escola (Direção, Pedagogos,

Auxiliares Administrativos e de Serviços Gerais, Pais) apóie o trabalho do professor

em seu dia-a-dia com a criança ou o adolescente com TDAH. É necessário

instrumentalizar o professor para que seja capaz de diferenciar desobediência e

proposital falta interesse de inabilidade (incapacidade de controlar seus impulsos) e

desatenção.

O trabalho em equipe, na escola, auxilia na revisão de conceitos e

percepções, muitas vezes negativas, que o professor tem em relação aos alunos

que possuem o diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade.

Para tanto necessitam desenvolver a capacidade de observação, percebendo com

clareza os indicadores de comportamentos inadequados, com a finalidade de criar

estratégias para que o aluno com TDAH aprenda lidar com o Transtorno e com os

demais colegas.

A intervenção direta do pedagogo junto aos professores auxiliando-os na

inclusão de alunos com TDAH é bastante relevante, principalmente diante da

resistência de alguns em aceitar que o aluno com esse Transtorno necessita de um

acompanhamento individualizado, com propostas pedagógicas e de avaliações

diferenciadas. É fundamental que o pedagogo organize momentos para estudos,

debates, trocas de experiências, fazendo com que os diferentes profissionais

envolvidos com a escola possam atualizar-se, identificando os canais de

comunicação receptivos para a aprendizagem do aluno com TDAH, abrangendo a

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valorização de todas as áreas do desenvolvimento humano (afetiva, motora, social e

cognitiva) e não apenas a área cognitiva.

Dessa forma, a escola pode melhorar a motivação do aluno com TDAH

criando condições favoráveis, abrindo o caminho para que ele estabeleça uma boa

relação com o estudo, sem utilizar-se de mecanismos de resistência ou depreciação

da sua capacidade intelectual.

Ao atentar que o aluno com TDAH possui dificuldade para estudar, mas tem

potencial para aprender, a escola poderá desenvolver estratégias pedagógicas que

venham elevar a auto estima desse aluno, possibilitando maior confiança e

satisfação quanto às suas conquistas e contribuições para a sociedade.

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