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88 Revista Vento e Movimento FACOS/CNEC Osório Nº 1, Vol. 1, ABR/2012 O TRANSTORNO DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH) E O ESQUEMA CORPORAL Lisiane Barcarolo Martinoto 1 Sergio Alves 2 Resumo: Este trabalho teve como propósito, estudar como as aulas de Educação Física podem ajudar crianças com TDAH (Transtorno Déficit de Atenção e Hiperatividade) no desenvolvimento do seu esquema corporal. Foi verificada através de observações participativas, como a criança reage em algumas atividades propostas na área da educação física. Foram utilizados como procedimentos metodológicos os seguintes passos; por meio da observação participativa, descrições através de desenhos e questionários, caracterizando em uma pesquisa qualitativa. Após as análises pelos procedimentos propostos chegou-se a seguintes considerações; que a criança observada demonstrou progressos em seu esquema corporal como um todo, tendo suas noções de direita e esquerda estruturados, o equilíbrio estático e dinâmico também foram aprimorados. O estudo teve muitas formas de aprendizagem, pode-se saber o que é o TDAH, como trabalhar com esta população, desenvolver o esquema corporal, do qual se obteve mais sucesso. Pode-se comprovar de várias formas que a criança desenvolveu de forma compensadora e motivacional o seu esquema corporal. Palavras chaves: TDAH; esquema corporal; desenvolvimento. Abstract: This work aimed to study how physical education can help children with ADHD (Attention Deficit Hyperactivity Disorder) in the development of their body structure. has been verified through participatory observations. how the child reacts in some proposed activities in the area of physical education. Was used as instruments the following steps, through participant observation, through drawings and descriptions questionnaires, featuring in a qualitative study. After analysis by the proposed procedures was reached following considerations; observed that the child has shown progress in their body structure as a whole, with their notions of right and left structured, static and dynamic balance were also improved. The study had many ways of learning, one can know what is ADHD, how to work with this population, develop the body schema, which is more successful. It can be proved in various ways that the child developed so rewarding and motivating their body schema. Key-Words: DHD; body structure; development. Introdução Nos últimos anos o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) tem sido pesquisado por diversos autores (NETO e POETA, 2005; PELISOLI et. AL, 2007; ANTONY e RIBEIRO, 2005; ARAUJO e SILVA, 2003;). Alguns deles comentam que o TDAH afeta de 3 a 5% da população infantil. O TDAH tem características que afetam o comportamento, atenção, aprendizagem e desenvolvimento motor da criança. Geralmente essa população apresenta 1 Especialista em Educação Especial, [email protected]. 2 Mestre em Medidas e Avaliação em Educação Física, [email protected].

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O TRANSTORNO DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH) E O ESQUEMA CORPORAL

Lisiane Barcarolo Martinoto1 Sergio Alves2

Resumo: Este trabalho teve como propósito, estudar como as aulas de Educação Física podem ajudar crianças com TDAH (Transtorno Déficit de Atenção e Hiperatividade) no desenvolvimento do seu esquema corporal. Foi verificada através de observações participativas, como a criança reage em algumas atividades propostas na área da educação física. Foram utilizados como procedimentos metodológicos os seguintes passos; por meio da observação participativa, descrições através de desenhos e questionários, caracterizando em uma pesquisa qualitativa. Após as análises pelos procedimentos propostos chegou-se a seguintes considerações; que a criança observada demonstrou progressos em seu esquema corporal como um todo, tendo suas noções de direita e esquerda estruturados, o equilíbrio estático e dinâmico também foram aprimorados. O estudo teve muitas formas de aprendizagem, pode-se saber o que é o TDAH, como trabalhar com esta população, desenvolver o esquema corporal, do qual se obteve mais sucesso. Pode-se comprovar de várias formas que a criança desenvolveu de forma compensadora e motivacional o seu esquema corporal. Palavras – chaves: TDAH; esquema corporal; desenvolvimento. Abstract: This work aimed to study how physical education can help children with ADHD (Attention Deficit Hyperactivity Disorder) in the development of their body structure. has been verified through participatory observations. how the child reacts in some proposed activities in the area of physical education. Was used as instruments the following steps, through participant observation, through drawings and descriptions questionnaires, featuring in a qualitative study. After analysis by the proposed procedures was reached following considerations; observed that the child has shown progress in their body structure as a whole, with their notions of right and left structured, static and dynamic balance were also improved. The study had many ways of learning, one can know what is ADHD, how to work with this population, develop the body schema, which is more successful. It can be proved in various ways that the child developed so rewarding and motivating their body schema.

Key-Words: DHD; body structure; development.

Introdução

Nos últimos anos o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) tem

sido pesquisado por diversos autores (NETO e POETA, 2005; PELISOLI et. AL,

2007; ANTONY e RIBEIRO, 2005; ARAUJO e SILVA, 2003;). Alguns deles

comentam que o TDAH afeta de 3 a 5% da população infantil.

O TDAH tem características que afetam o comportamento, atenção, aprendizagem e

desenvolvimento motor da criança. Geralmente essa população apresenta

1 Especialista em Educação Especial, [email protected].

2 Mestre em Medidas e Avaliação em Educação Física, [email protected].

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inquietação, impulsividade, falta de atenção, comportamento opositor, dificuldade em

discriminar direita e esquerda, em orientar-se no espaço e tempo, a característica

mais importante que envolve o trabalho é a má estruturação do esquema corporal.

O esquema corporal é a noção que a criança tem do seu próprio corpo e o mundo

que o rodeia. Quando a estruturação do esquema corporal é organizada a criança

pode utilizá-lo para agir de forma confiante.

Busca-se, com este trabalho, identificar quais as atividades que podem ser

trabalhadas nas aulas de Educação Física e que consigam ajudar a desenvolver o

esquema corporal em crianças com síndrome de TDAH.

Atualmente, no cotidiano da educação física, são poucos segmentos acadêmicos

que proporcionam estudos e pesquisas que envolvem as pessoas com

necessidades especiais. O que evidencia a importância deste estudo como mais

uma fonte de informação para acadêmicos e profissionais da área de educação

física e afins.

Portanto, o presente trabalho pretende responder à seguinte questão: Como as

aulas de Educação Física podem ajudar crianças com TDAH (Transtorno Déficit de

Atenção e Hiperatividade) no desenvolvimento do seu esquema corporal?

TDAH

Segundo Rohde, (2000 apud PELISOLI et. AL, 2007), as crianças com TDAH

apresentam sintomas como agitar as mãos ou os pés, não conseguir parar

sentados, correr, escalar, falar em demasia, dificuldades em participar de atividades

que exijam silêncio, freqüentemente não conseguem se concentrar. As crianças

devem apresentar estes sintomas em todos os momentos, em casa, viagens,

escolas.

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Araújo e Silva (2003) falam sobre a inquietação, comportamento opositor,

impulsividade, movimentação constante e distúrbios viso-perceptivo, falta de limites,

atenção e concentração, tendo também o seu esquema corporal desorganizado.

Conforme Paim, (1979 apud ANTONY e RIBEIRO, 2005) a atenção é um processo

psicológico do qual podemos concentrar nossa atividade psíquica em algum ponto,

fixando, definindo e selecionando percepções, bem como as representações,

conceitos e a elaboração do pensamento. O interesse da criança em determinado

objeto faz com que ela use as atividades da psíquica, mostrando assim, que a

atenção também precisa de motivação e afeto na escolha de tal objeto.

A criança hiperativa, por sua vez, apresenta problemas na manutenção da atenção

que é responsável pela elaboração do pensamento. Antony e Ribeiro (2005)

ressaltam que a criança age de forma imediata como “sinto, logo ajo”, sem medir ou

planejar as conseqüências ou ações, mostrando que seus sentimento e

pensamentos reflexivos não são interiorizados. A impulsividade faz com que a

criança não obedeça a ordens, não cumpra regras, não tenha limites, tenha

reatividade emocional, enfim uma criança imatura e instável emocionalmente.

Tipos de TDAH

Araújo e Silva (2003) dizem que existem três tipos de TDAH, do qual apresentam os

sintomas que caracterizam os tipos de TDAH, falam também sobre a freqüência de

no mínimo de seis meses dos sintomas nas crianças que deve apresentar mais de

seis sintomas de cada tipo.

a) TDAH tipo desatento

Não enxerga detalhes ou comete erros por falta de cuidado;

Dificuldade em manter a atenção;

Parece não ouvir quando se fala com ela;

Dificuldade em organizar-se;

Evita/não gosta de tarefas que exigem um esforço mental prolongado;

Freqüentemente perde os objetos necessários de uma atividade;

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Distrai-se com facilidade;

Esquecimento nas atividades diárias.

b) TDAH tipo hiperativo/impulsidade

Inquietação, mexendo as mãos e os pés ou se remexendo na cadeira;

Dificuldade em permanecer sentada;

Corre sem destino ou sobe nas coisas excessivamente (em adultos, há um

sentimento subjetivo de inquietação);

Dificuldades de engajar-se numa atividade silenciosamente;

Fala excessivamente;

Responde perguntas antes de serem formuladas;

Age como se fosse movida a motor; (sic);

Dificuldades em esperar sua vez;

Interrompe conversas e se intromete.

c) Misto

É quando a criança apresenta características de ambos os tipos, tanto desatento

quanto hiperativo/ impulsivo. (ARAÚJO e SILVA, 2003)

d) Outras características - podem aparecer junto com as descritas ou no lugar delas:

Dificuldade em terminar uma atividade ou um trabalho;

Ficar aborrecida com tarefas não estimulantes ou rotineiras;

Falta de flexibilidade (não saber fazer transição de uma atividade para outra);

Imprevisibilidade de comportamento;

Não aprender com os erros passados;

Percepção sensorial diminuída;

Problemas de sono;

Difícil de ser agradada;

Agressividade;

Não ter noção do perigo;

Frustrar-se com facilidade;

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Não reconhecer os limites dos outros;

Dificuldade no relacionamento com colegas.

As causas

As causas do TDAH podem ser segundo Araújo e Silva (2003) por toxinas no

organismo como: componentes químicos, proteínas, lipídeo. Também podem ser por

bactérias, problemas no desenvolvimento, alimentação, hereditariedade, ferimento e

malformação. Como também por um transtorno neurobiológico (algumas alterações

nos hemisférios direito, córtex pré-frontal e gânglios da base, corpo caloso e

cerebelo no cérebro da criança). Segundo Magalhães et. al. (2004) crianças

prematuras têm probabilidades de apresentar o TDAH.

A hiperatividade pode ser genética, causada pela pouca produção de adrenalina e

noradrenalina (catecolaminas), que são neurotransmissores responsáveis pela

atenção, comportamento motor e motivação. Estes baixos níveis destas

catecolaminas causam a hipoativação desse sistema. É por isso que a criança

hiperativa não consegue controlar seus impulsos emocionais, moderar sua atenção

e seus níveis de atividade.

Outra causa pode ser pela pouca produção e/ou liberação de catecolaminas, gerada

por traumatismo de parto, doenças ou acidentes acontecidos no inicio do

desenvolvimento do sistema nervoso central, também pela privação sensorial e

estimulação no início do desenvolvimento da criança.

Segundo Smith e Stick (2001) algumas drogas como metilfenidato e pemolina que

são estimulantes, aumentam o nível das catecolaminas. Estes estimulantes agem

como inibidores assim normalizando o comportamento da criança hiperativa.

A privação sensorial e de estimulação no início do desenvolvimento da criança,

também pode contribuir para a síndrome.

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O Esquema Corporal na Criança com TDAH

Desenvolver o esquema corporal em crianças com TDAH não é uma tarefa fácil, já

que elas têm dificuldades em controlar, interagir com o seu corpo e com o das

pessoas ao seu redor. É justamente este corpo que deve ser usado e desenvolvido

para a organização do esquema corporal. (MESQUITA. Et. al. 2004).

Conforme Antony e Ribeiro (2005) a criança hiperativa pode não ter domínio do seu

próprio corpo, o seu corpo parece a dominar, suas ações são involuntárias, onde o

sentir e o pensar estão desligados. Para a criança conseguir dominar seu corpo

deverá ter o seu esquema corporal organizado.

O esquema corporal segundo Wallon (1968, apud Meur, 1989) é indispensável para

a formação da personalidade do indivíduo. É a representação global científica e

diferenciada que o mesmo tem do seu corpo.

Meur (1989) complementa que a própria criança se percebe e percebe as coisas a

sua volta. O seu desenvolvimento se dará pela tomada de consciência do seu corpo,

do seu agir, ser e transformação do mundo ao seu redor. Assim se sentirá bem,

vendo que seu corpo lhe obedece e o conhecendo, pode utilizá-lo também para agir.

A criança não se reconhecendo a si própria, dificilmente poderá aprender o espaço

que a rodeia, ou seja, a estruturação do espaço-temporal.

Segundo Oliveira (1997) o esquema corporal é a consciência das partes do corpo e

suas funções, que são os resultados das experiências vividas pelo indivíduo, através

das sensações, percepções, movimentos corporais, com a interação do meio e com

o outro, entre tantos outros aspectos em que a criança percebe o seu corpo e o

mundo ao seu redor, trazendo resultados internos ou externos. Tendo o seu

esquema corporal bem organizado, terá domínio de seu corpo; desenvolvendo o

equilíbrio, a postura, orientação espacial, sentimentos de autoconfiança, de

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competência, enfim um corpo que coordena a sua motricidade e formará o “eu” de

um individuo.

O potencial de aprendizagem, não envolve só um processo perceptivo polissensorial

complexo, mas também interage e retêm a síntese das atitudes afetivas vividas e

experimentadas.

O corpo originado pela necessidade biológica tende a camuflar as frustrações que a criança experimenta na interação com o meio, mas, ao mesmo tempo, é através da ação que a criança vai descobrindo suas preferências e adquirindo a consciência do esquema corporal. Esta somente pode ser entendida como uma dialética entre o mundo interior e exterior. Nessa perspectiva entendemos que o esquema corporal não se adquire pela consciência, e sim por suas vivências. (Airton Negrini. P.30, 1994)

O ser humano tem seu mundo construído a partir de suas próprias experiências

corporais, para agir psicologicamente, motoramente, emocionalmente e socialmente,

deve ter um corpo “organizado”. Essa organização é quando a criança começa a

descobrir as possibilidades de ação, sempre levando em conta fatores

neurofisiológicos, mecânicos, anatômicos e locomotores. Esta organização envolve

a percepção e o controle, através da interiorização das sensações, precisando ter

um equilíbrio postural, lateralidade, independência do corpo e domínio das ações e

das inibições, do qual poderá organizar seus gestos, ações, tendo coordenação para

todos os movimentos. (OLIVEIRA, 1997)

Oliveira (1997) divide em três etapas o desenvolvimento do esquema corporal, são

elas:

1ª Etapa: corpo vivido (até 3 anos de idade)

É a fase sensório-motora, onde a criança se confunde no espaço em que vive, tem

necessidade de grande movimentação, onde enriquece as experiências do seu

corpo motoramente, suas atividades são espontâneas, ou seja, não pensadas.

(OLIVEIRA, 1997)

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Inicialmente é a fase de vivência corporal, onde a criança corre, brinca, trabalha o

seu corpo.

Esta etapa é marcada pela experiência vivida pela criança, exploração, investigação,

descoberta e compreensão, a função de ajustamento é quando a criança faz essa

exploração. É quando ela adquiriu memória do corpo o que auxilia para

ajustamentos posteriores. (OLIVEIRA, 1997)

No final desta fase pode-se falar em imagem do corpo, pois o “eu” se torna unificado

e individualizado.

2ª Etapa: corpo percebido ou “descoberto” (3 a 7 anos)

É a fase da organização do esquema corporal, onde há a internalização das ações e

atenções.

Agora é a fase do ajustamento controlado, que proporciona maior domínio do corpo,

a criança, então, para aperfeiçoar e refinar seus movimentos adquirindo maior

coordenação dentro de um espaço e tempo determinado. (OLIVEIRA, 1997)

A representação mental dos elementos do espaço só foi possível por ter a fase de

descoberta. Para que a aja a estruturação do espaço-temporal a criança precisa

antes ver seu corpo como ponto de referência para se situar e situar os objetos em

seu espaço e tempo. (OLIVEIRA, 1997)

Após ter seu corpo orientado no espaço e tempo, descobrirá formas e dimensões,

tendo conceitos como embaixo, acima, esquerda e direita, noções de tempo,

intervalos, antes e depois. (OLIVEIRA, 1997)

3ª Etapa: corpo representado (7 a 12 anos)

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É a fase da estruturação do esquema corporal. A criança conhece todo o seu corpo,

consegue se movimentar corretamente no meio ambiente com controle do corpo

maior, então consegue ampliar e organizar seu esquema corporal. (OLIVEIRA,

1997)

No inicio da etapa a representação mental da imagem do corpo é uma simples

imagem reprodutora. A imagem do corpo é estática e feita de associações com

dados visuais e cinestésicos. (OLIVEIRA, 1997)

A criança, segundo Le Boulch (1984 apud OLIVEIRA, 1997) só dispõe de uma

imagem mental do corpo em movimento a partir de 10/12 anos, então atinge “uma

representação mental de uma sucessão motora”, com a introdução do fator

temporal. A imagem do corpo passa a ser antes das ações. O que se torna capaz de

organizar, de combinar as diversas orientações. Este mesmo autor fala sobre outro

fato que é a passagem da percepção de um espaço orientado no seu próprio corpo

e a representação mental de um espaço orientado, ou seja, o corpo situado como

objeto.

O próprio sujeito cria pontos de referências para se situar no espaço.

Segundo Fonseca (1976) referenciado na escala de Wintsch apresenta um exemplo

em ordem cronológica os diferentes estágios do desenho do corpo:

3 anos: primeiros desenhos do corpo: um oval e dois apêndices;

4 anos: dois pontos no oval do corpo a simbolizar dois olhos;

5 anos: aparecimento do tronco, isto é, um novo oval entre a cabeça e os

membros inferiores;

6 anos: membros mal articulados;

7 anos: membros de duplo contorno com diferenciação sexual pelo vestuário;

8 anos: aparecimento do pescoço;

9 anos: pormenores cada vez mais numerosos e perfeitos e com melhor

proporção;

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10 anos: introdução de fatores sociais com pormenores de vestuário e de

desenvolvimento e esboço de movimento.

O corpo, segundo Fonseca (1976), é o personagem central sobre o qual todo o

estudo sobre a criança terá que recair implicando em todas as atividades, escolares

ou não.

O desenvolvimento do esquema corporal

Para a criança desenvolver seu esquema corporal terá que ter a estruturação de

lateralidade, equilíbrio, espaço, tempo, independência do corpo e domínio das ações

e das inibições. (MEUR, 1989)

Segundo Meur (1989) lateralidade é a dominância lateral de um lado dos segmentos

do corpo que é mais forte e ágil, seja do lado direito ou esquerdo.

O conhecimento de direita e esquerda decorre da noção de dominância lateral. É

generalização, da percepção do eixo-corporal a tudo que cerca a criança.

Segundo Rezende et.al. (2003) a lateralidade traduz-se pelo estabelecimento da

dominância lateral da mão, olho e pé, do mesmo lado do corpo.

A lateralidade corporal se refere ao espaço interno do indivíduo, capacitando-o a

utilizar um lado do corpo com maior desembaraço.

Conforme o mesmo autor, o que geralmente acontece é a confusão da lateralidade

com a noção de direita e esquerda, que esta envolvida com o esquema corporal. A

criança pode ter a lateralidade adquirida, mas não saber qual é o seu lado direito e

esquerdo, ou vice-versa. No entanto, todos os fatores estão intimamente ligados, e

quando a lateralidade não está bem definida, é comum ocorrerem problemas na

orientação espacial, dificuldade na discriminação e na diferenciação entre os lados

do corpo e incapacidade de seguir a direção gráfica.

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A lateralidade manual surge no fim do primeiro ano de vida, mas só se estabelece

fisicamente por volta dos 4-5 anos.

Rezende et.al. (2003) define o equilíbrio como a reunião de um conjunto de aptidões

estáticas (sem movimento) e dinâmicas (com movimento), abrangendo o controle

postural e o desenvolvimento das aquisições de locomoção. O equilíbrio estático

caracteriza-se pelo tipo de equilíbrio conseguido em determinada posição, ou de

apresentar a capacidade de manter certa postura sobre uma base. O equilíbrio

dinâmico é aquele conseguido com o corpo em movimento, determinando

sucessivas alterações da base de sustentação.

Já estruturação espacial, segundo Meur (1989) é a tomada de consciência do seu

próprio corpo com o meio ambiente e das situações das coisas entre si. Também

são possibilidades para o individuo organizar-se perante os objetos que o cerca e de

movimentá-los, já estrutura temporal é a função de internalizar noções de tempo

como: antes, depois, durante intervalos (curtos e longos), ritmos, aceleração e

freada, diferenciação entre corrida e caminhada, dias da semana, passado, presente

e futuro.

Quando a criança tiver noções de tempo, poderá organizar-se na escola, no lazer e

em suas obrigações.

Segundo Rezende et.al. (2003) a estruturação espacial leva a tomada de

consciência pela criança, da situação de seu próprio corpo em um determinado meio

ambiente, permitindo-lhe conscientizar-se do lugar e da orientação no espaço que

pode ter em relação às pessoas e coisas.

Nos artigos lidos (Hiperatividade: doença ou essência um enfoque da gestalt-terapia,

Comportamentos indicativos do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade em

crianças: alerta para pais e professores, Intervenção motora em uma criança com

transtorno do déficit de atenção/hiperatividade (TDAH), Terapia cognitivo-

comportamental no TDAH) foram encontradas várias formas de ajudar a criança a

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desenvolver o seu esquema corporal, tais como: a psicomtricidade, terapias (terapia

cognitivo- comportamental, Gestalt-Terapia, entre outras), intervenções

psicomotoras, massagem, e adaptações didáticas na escola e com os pais da

criança.

Segundo Pelisoli et, al. (2007) a psicomotricidade deve ajudar a criança a se

concentrar em determinadas atividades, a diminuir as tensões externas e a controlar

a excitabilidade. Nas crianças hiperativas o controle do freio inibitório é um dos

recursos usados.

Conforme Pelisoli et, al. (2007) em sua pesquisa sobre o TDAH e a

psicomotricidade, através da terapia cognitivo comportamental e da psicomotricidade

pode-se desenvolver também o esquema corporal, pois, os resultado foram positivos

e significativos, pode-se perceber que as crianças conseguiam dar melhores

respostas adaptativas. Em relatos de professores, soube-se que o desempenho

escolar progrediu de forma significativa.

Nesta terapia foram trabalhadas as cognições de treinamentos e contingências

como: auto-instrução e de resoluções de problemas sociais, auto-monitoramento,

auto-avaliação e auto-reforço. Na psicomotricidade o freio inibitório, a concentração,

a lateralidade, a coordenação, o relaxamento e a relação com o seu próprio corpo e

o dos outros, desenvolvidos em atividades.

Para Antony e Ribeiro (2005) deve-se desenvolver com a criança hiperativa um

trabalho feito com ela mesmo, com seus pais e professores, oferecendo um suporte

educacional apropriado, uma melhor integração social permitindo que a criança use

sua criatividade, já que são bastante sensoriais intuitivas e afetuosas. Enfatizando

as qualidades e não seus defeitos.

A criança deve ser trabalhada a fim de promover o resgate da consciência do seu

próprio corpo, pensamentos e sentimentos, assumindo responsabilidades e

ajustando a criatividade.

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Neto e Poeta (2005) mostraram através de 25 sessões de intervenção psicomotora,

em uma criança com TDAH, que é possível desenvolver positivamente a motricidade

fina, equilíbrio, esquema corporal e organização temporal, e também se pode

diminuir sintomas característicos do TDAH.

Outra alternativa foi proposta por Araújo e Silva (2003) que é por meio de um

trabalho interdisciplinar entre pais, professores e terapeutas. Do qual devem aplicar

estratégias e intervenções apropriadas tais como: modificação do ambiente,

adaptação do currículo, flexibilidade na realização e apresentação de tarefas,

adequação do tempo de atividade, administração e acompanhamento de medicação,

etc.

Visto todas as abordagens de tratamento conforme (NETO e POETA, 2005,

ANTONY e RIBEIRO, 2005, PELISOLI et, al. 2007...) para a criança com TDAH, as

aulas de educação física poderão auxiliar de todas as formas para o

desenvolvimento do esquema corporal, através de atividades que possam propiciar

de forma divertida e interessante, a estruturação da lateralidade, do equilíbrio, do

espaço-temporal, conhecimento do próprio corpo, assim estruturando também o

esquema corporal.

Esquema corporal segundo Gallaheu e Ozmun

Gallaheu e ozmun (2005) definem esquema corporal e imagem corporal como o

desenvolvimento da criança em diferenciar e localizar as partes do corpo em si

mesmo e em outras pessoas.

Também ressaltam o entendimento da criança em três áreas do esquema corporal.

A primeira refere-se ao conhecimento das partes do corpo, onde é necessário

localizar todas as partes do corpo. A segunda é onde a criança precisa conhecer o

que as partes do corpo podem fazer, ou seja, como realizar um gesto motor. A

terceira a criança deve entender de como usar e reorganizar as partes do corpo para

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a realização para um ato motor específico e poder desempenhar um gesto motor.

(GALLAHEU e OZMUN, 2005).

Os mesmos autores falam que a imagem corporal é como a criança se enxerga

internamente, essa imagem deve ser real. As características do corpo externamente,

como: altura, peso e forma, fazem com que nos comparamos uns com os outros, é

importante ter uma imagem realista, para que no futuro a criança não sofra com

preocupações e distúrbios como anorexia e bulimia. (GALLAHEU e OZMUN, 2005)

O esquema corporal, a imagem corporal, a estruturação espacial e a orientação

direcional estão totalmente ligados e combinados para que a criança possa entender

e localizar suas dimensões espaciais.

Portando é importante também desenvolver as habilidades de estruturação espacial

e orientação direcional.

Para os autores Gallaheu e Ozmun (2005) é importante que as crianças tenha um

período por dia de educação física na escola, pois as crianças com dificuldades

perceptivos motoras poderão se igualar a seus companheiros.

A estruturação espacial, segundo Gallaheu e Ozmun (2005) pode ser dividida em

duas categorias (o conhecimento de quanto espaço o corpo ocupa e a habilidade de

se movimentar em um espaço externo).

A primeira é o conhecimento de quanto espaço o corpo ocupa, relacionando os

objetos ao seu redor. A criança com a experiência progride, a partir do seu mundo

interno, assim localizando externamente a si mesma para que após possa

estabelecer uma estrutura de referência. A partir desse conceito a criança pode lidar

com outros dois conceitos de auto-espaço e espaço geral. O auto-espaço é a área

que está ao redor da criança, limitando-se até onde se corpo pode-se estender. O

espaço geral é a localização de objetos partindo de onde o seu corpo está em pé ou

onde os outros estão. (GALLAHEU e OZMUN, 2005)

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Orientação direcional, segundo Gallaheu e Ozmun (2005) é a capacidade da criança

em dimensionar objetos que estão no espaço externo, como por exemplo, conceitos

de esquerdo-direita, fora/dentro, para cima/para baixo, topo/fundo e frente/trás.

A orientação direcional está dividida em duas categorias como lateralidade e

direcionalidade. A lateralidade é a consciência interna das dimensões do corpo, da

localização e direção.

Direcionalidade segundo os autores Gallaheu e Ozmun (2005) é a lateralidade

projetada externamente, a criança agora consegue dimensionar objetos no espaço,

essa direcionalidade depende da lateralidade bem desenvolvida.

Caracterização da Pesquisa

O trabalho desenvolvido trata-se de um estudo teórico-empírico, onde foram

realizados dados secundários e coleta de dados primários em pesquisa de campo.

É uma pesquisa qualitativa tipo exploratório, do qual Gil (1991) explica que este tipo

de pesquisa visa proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a

torná-lo explícito ou a construir hipóteses. Envolve levantamento bibliográfico;

entrevistas com pessoas. Assume, em geral, as formas de Pesquisas Bibliográficas

e Estudos de Caso que é o tipo de pesquisa que será utilizado neste estudo, onde

será observada apenas uma criança.

Os dados coletados serão descritivos, através de desenhos, fotografias, questionário

e outros elementos descritivos, sempre capturando o ponto de vista dos

participantes. O pesquisador não se preocupa em evidenciar idéias definidas antes

do início dos estudos.

Instrumentos de Coleta

Os instrumentos de coleta foram por meio da observação participativa, descrições

através de desenhos e questionários, tendo como base os conceitos que orientam

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essa pesquisa, sendo que o grau de estruturação pode variar de acordo com o

contexto e os sujeitos envolvidos, tendo sempre em vista os objetivos da

investigação.

Também será utilizada a fotografia que para Guran (2000), é um elemento que

registra o trabalho desenvolvido no campo de pesquisa e nos remete a um caminho

de entender o campo a partir da fotografia que contribuiu para registrar as ações no

andamento de estudos, entendendo essas manifestações das imagens registradas

como fenômenos constitutivos da pesquisa. Desta forma, a fotografia se transforma

numa metodologia de trabalho que pode documentar a realidade.

Apresentação e análise dos dados

Para melhor apresentação dos relatos das observações, adotaram-se codinomes

para os participantes de estudo, com a seguinte denominação, a primeira

observadora teve como codinome Maria, a segunda como Eva, e no final o relato da

pesquisadora ainda inferimos um apelido para o sujeito do objeto do estudo como

Pablo.

No primeiro relato obteve-se a seguinte argumentação:

Na observação de disfunções motoras, listagem de Gallahue e ozum (2005)

respondida por Maria e Eva, no dia 11 de setembro de 2009, sobre o sujeito Pablo,

observa-se que o mesmo tem as seguintes características da síndrome do TDAH:

não conduz bem o corpo em deslocamento, não distingue a esquerda de direita, em

atividades locomotoras; apresenta mais eficiência em um lado do que outro, troca de

letras e números regularmente, a letra tem inconsistência de tamanho.

Para finalizar a pesquisadora fez sua observação acompanhando o aluno Pablo dois

períodos por semana, durante todo o ano até o dia 11 de setembro, pois é sua

professora de educação física. Descreveu as seguintes características, que podem

ser descritas na síndrome do TDAH:

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Observam-se empecilhos em manter o equilíbrio, não obtém boa condução do corpo

em movimento, em atividades locomotoras, não executa movimentos com mais

eficiência em um lado do que outro, ao executar combinações de coordenação

simples, apresenta desvios em seu movimento e possui postura corporal pobre.

Geralmente parece estar desajeitado em atividades que requerem coordenação, não

distingue a esquerda de direita, tem dificuldade em medir espaços em relação ao

corpo, colide com objetos e outras crianças, troca letras e números regularmente,

engolem palavras, o tamanho da letra é inconsistente e é incapaz de copiar objeto

(palavras, números, letras, etc...), tende ser propenso a acidentes.

Após dois meses de aulas de educação física, com o aluno Pablo notou-se que as

disfunções motoras segundo a listagem de Gallahue e Ozum (2005) respondida pela

pesquisadora, no dia 06 de novembro de 2009, como o principal objetivo o

desenvolvimento do esquema corporal. Demonstrou que o aluno agora apresenta

um bom equilíbrio estático e dinâmico, conduz o corpo em movimento.

Agora já distingue a esquerda de direita, em atividades locomotoras, executa

movimentos com mais eficiência em um lado do que outro, às vezes troca de pé ou

mão, porém com menos freqüência que fazia antes, melhorou a coordenação em

fazer alterações no movimento, executa combinações de coordenação singela.

Apresenta boa comunicação, não fala alto demais, esquece algumas palavras,

porém não deixa de falar o final delas, usa estrutura frasal madura, já possui postura

corporal um pouco melhor do que no início da pesquisa, não copia objeto.

Nas observações feitas o aluno Pablo mostrou-se com seu desenvolvimento do

esquema corporal desorganizado, pois seu equilíbrio, movimento, lateralidade e

noções de corpo foram desenvolvidas com dificuldades. Após a análise da

pesquisadora no dia seis de novembro, notou-se uma melhora nestes aspectos, ou

seja, seu esquema corporal está se estruturando.

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Também foram encontradas, nas observações características descritas por Araújo e

Silva (2003) que falam sobre a inquietação, comportamento opositor, impulsividade,

movimentação constante e distúrbios viso-perceptivos, faltas de limites, atenção e

concentração, tendo também o seu esquema corporal desorganizado.

Análise das fotos

As fotos foram tiradas no dia 11 de setembro de 2009, foram feitas atividades e

questionário, onde o aluno Pablo foi observado e fotografado. Em seguida foram

feitas as fotos novamente no dia 06 de novembro de 2009.

Quando solicitado que mostrasse o quadril direito, o ombro do colega, que girasse

sua cabeça para o lado direito. Pablo não soube atender corretamente as atividades

demonstrando que ainda não reconhece suas partes do corpo, podendo se

caracterizar na etapa definida por Meur (1989) como a segunda etapa do

desenvolvimento do esquema corporal chamado como: conhecimento das partes do

corpo.

Após o trabalho desenvolvido, quando solicitado que mostrasse o quadril direito, o

ombro do colega e girasse a cabeça para o lado direito o aluno fez corretamente as

solicitações, apenas girou a cabeça para o lado esquerdo, o define que sua

lateralidade ainda precisa ser desenvolvida.

Pablo agora já chegou ao fim da etapa que Meur (1989), define como o

conhecimento das partes do corpo, onde a criança deve reconhecer e demonstrar

onde ficam os segmentos do seu corpo e em outras pessoas.

Pablo está se desenvolvendo, porém precisa de mais tempo para desenvolver-se

melhor, teve apenas dois meses de aulas de educação física, tendo apenas dois

períodos por semana. Gallaheu e Ozmun (2005) dizem que para a criança

desenvolver-se em seu esquema corporal, tenha um período por dia de educação

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física na escola, pois as crianças com dificuldades perceptivas motoras poderão se

igualar a seus companheiros.

Foto do colchonete: tirada no dia 11 de novembro de 2009.

Foto: 1

Essa foto retrata uma atividade, sugerida por Gallahue (2005), com música no

colchonete, onde o aluno deita-se, escuta uma música e imagina seu corpo no

colchonete. Após, foi pedido para que o aluno Pablo desenhasse o seu corpo no

colchonete. Percebe-se, segundo Fonseca (1976) que utiliza em seu trabalho a

escala de Wintsch, que o aluno apresenta um desenho compatível com crianças

entre 5 e 6 anos. Pablo, por sua vez, tem 9 anos.

No dia 06 de novembro de 2009, foi feita esta mesma atividade, onde houve grandes

progressões, o seu desenho neste dia, demonstrou todas as formas, com orelha,

braços e mãos pernas e pés, demonstrando que pela escala de Wintsch Fonseca

(1976), este se encontra em um desenho de 6 e 7 anos, ou seja, o aluno cresceu um

ano no seu desenho em apenas dois meses de atividades físicas, desenvolvendo o

seu esquema corporal.

Abaixo encontra-se a fotografia da atividade 11 de setembro de 2009.

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Foto: 2

Pablo demonstrou que seu esquema corporal está se estruturando e se

desenvolvendo corretamente, porém ainda precisa continuar se desenvolvendo,

para avançar em seus progressos.

Ainda foi solicitado ao aluno Pablo que fizesse desenho para compararmos com a

Tabela proposta pelo INEF (1976) e pela escala de Wintsch.

Desenho 01

Este é um desenho feito pelo aluno Pablo, no dia 11 de setembro de 2009, onde ele

deveria desenhar a figura de homem, a figura de uma mulher e o seu próprio corpo.

Este desenho foi comparado com a escala de Wintsch, que mostra a evolução do

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esquema corporal. Os desenhos apresentados mostram que o aluno Pablo se

enquadra no desenvolvimento do seu esquema corporal entre 5 e 6 anos.

Segundo Fonseca (1976) referenciado na escala de Wintsch, apresenta um exemplo

em ordem cronológica os diferentes estágios do desenho do corpo:

3 anos: primeiros desenhos do corpo: um oval e dois apêndices;

4 anos: dois pontos no oval do corpo a simbolizar dois olhos;

5 anos: aparecimento do tronco, isto é, um novo oval entre a cabeça e os

membros inferiores;

6 anos: membros mal articulados;

7 anos: membros de duplo contorno com diferenciação sexual pelo vestuário;

8 anos: aparecimento do pescoço;

9 anos: pormenores cada vez mais numerosos e perfeitos e com melhor

proporção;

10 anos: introdução de fatores sociais com pormenores de vestuário e de

desenvolvimento e esboço de movimento.

Segundo o trabalho de investigação sobre o desenho do corpo, realizado por um

grupo de alunos do INEF (Lisboa) em 1975 e 1976, que se encontra abaixo a tabela

de evolução do esquema corporal, mostra que o aluno Pablo se enquadra em um

desenho de 4 anos.

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Já no dia 06 de novembro de 2009, foi feito outro desenho por Pablo, que se

encontra logo abaixo e mostra que o aluno progrediu um ano em seu esquema

corporal, tendo um desenho agora de uma criança de 5 anos.

Desenho 2

Pablo agora já demonstra uma diferenciação entre os sexos e apresentam todas as

formas do corpo, o que antes não acontecia, não havia braços, mãos e nem cabelos.

Depois de dois meses de trabalho em aulas de educação física, o desenho de Pablo

demonstra progresso, enquadrando-se em um desenho de 6 e 7 anos, pela escala

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de Wintsch, e 5 anos pela evolução do esquema corporal segundo INEF (1975-

1976).

Considerações Finais

Ao realizar este estudo, apresentou-se resultados positivos em relação a educação,

pois o trabalho teve menos de um ano de pesquisa, com duração de dez meses,

tendo a coleta de dados nos dois últimos meses. Uma coleta antes de iniciar o

trabalho para desenvolver o esquema corporal e outra após dois meses de aulas de

educação física, após obteve-se doze encontros com o aluno com TDAH, o que foi

muito pouco. Mesmo assim o aluno teve grandes progressos em seu

desenvolvimento, mostrando que a educação física é sim, um ótimo espaço para a

criança desenvolver-se.

Os resultados das coletas após todo o trabalho com a criança nas aulas de

educação física, enfatizando o esquema corporal, pode-se encontrar na estruturação

do desenho que demonstrou ter evoluído um ano no seu desenho, segundo a escala

de Wintch (FONSECA, 1976).

Pablo demonstrou, em seus desenhos, que seu esquema corporal está se

estruturando e se desenvolvendo corretamente, porém ainda precisa de

continuidade, para avançar em seus progressos. Já demonstra uma diferenciação

entre os sexos e apresenta todas as formas do corpo, o que antes não acontecia,

não havia braços, mãos e nem cabelos. Depois de dois meses de trabalho em aulas

de educação física, o desenho de Pablo, enquadra-se em um desenho de 6 e 7

anos, segundo a escala de Wintch e na evolução do desenho segundo a INEF,

apresentou um desenho de 5 anos.

Este trabalho teve como aproveitamento muitas formas de aprendizagens. Pode-se

conhecer o que é o TDAH, como trabalhar com esta população. Desenvolver o

esquema corporal foi um dos conhecimentos, do qual obteve-se mais sucesso.

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Pode-se comprovar de várias formas que a criança desenvolveu de forma

compensadora e motivacional o seu esquema corporal.

Pesquisar é socializar conhecimentos, tê-los e aprimorá-los após cada etapa da

vida.

Pablo está se desenvolvendo, porém precisa de mais tempo para aprimorar-se

melhor, pois teve apenas dois meses de aulas de educação física, com dois

períodos semanais. Para os autores Gallaheu e Ozmun (2005) é importante que as

crianças tenham um período por dia de educação física na escola, pois as crianças

com dificuldades perceptivo motoras poderão assim se igualar a seus companheiros.

A partir deste contexto apresento este estudo a toda a comunidade cientifica.

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