O TERROR QUE ABALOU A HUMANIDADE Bombas sobre...

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Nos dias 6 e 9 de Agosto de 1945, o mundo testemu- nhou um dos momentos mais sombrios e decisivos do século XX: a explosão das bombas nucleares so- bre Hiroshima e Nagasaki, no Japão. Causas Um conflito desta magni- tude não começa sem impor- tantes causas ou motivos. Podemos dizer que vários factores influenciaram o início deste conflito que ini- ciou na Europa e, rapida- mente, espalhou-se por África e pela Ásia. Um dos mais importantes motivos foi o surgimento, na década de 30, na Europa, de governos totalitários com fortes objectivos militaristas e expansionistas. Na Alema- nha, surgiu o nazismo, lide- rado por Hitler, que pretendia expandir o território alemão, desrespeitando o Tratado de Versalhes, inclusive recon- quistando territórios perdidos na I Guerra Mundial. Na Ásia, o Japão também possuía fortes desejos de expandir os seus domínios para territórios vizinhos e ilhas da região. Estes três países, com objectivos ex- pansionistas uniram-se e formaram o Eixo, um acordo com fortes características militares e com planos de conquistas elaborados em comum acordo. Em 1939, Einstein con- vence o Presidente dos Esta- dos Unidos, Franklin Roo- sevelt, a construir a bomba atómica antes que os ale- mães o façam. Em 14 de Julho de 1945, após 3 anos de pes- quisa, foi iniciada a monta- gem da bomba no Novo México. Dois dias depois, a mesma era testada no deserto do Novo México. Sem pos- suírem noção completa da temperatura da bomba, colo- caram-na numa estrutura não resistente ao calor, que, derretendo, chegou muito próximo da areia. E esta, exposta a uma temperatura tão alta, vitrificou o fundo do buraco formado pela explosão. Antecedentes A Alemanha e a Itália já se haviam rendido. O Japão estava para se render. Mas como mostra do poder dos Estados Unidos e na tenta- tiva de descobrir o poder da bomba usando pessoas como cobaias, escolheram uma região populosa e sete cida- des possíveis para o ataque. Entre elas, havia Kyoto, Nya- gada, Yokohama, Kokura, Nagasaki e Hiroshima. Kyoto foi dispensada da lista, por possuir belos templos. As principais eram primeiro Hi- roshima, seguida por Kokura e Nagasaki. Bomba de Hiroshima A primeira bomba, lançada em Hiroshima foi chamada “Little Boy”, com 60 tone- ladas de urânio, a mesma detonou a 576 m acima da cidade. Ao cair aos 43 segun- dos, o gatilho barométrico e o de tempo accionaram o mecanismo detonador e um projéctil de urânio foi dispa- rado contra um alvo de urânio, iniciando uma reacção em cadeia. A matéria sólida co- meçou a desintegrar-se, libertando uma grande quan- tidade de energia. Após um silencioso clarão, ergueu-se um cogumelo de devastação de 9 mil metros de altura, provocando ventos de 640 a 970 km/h, espa- lhando material radioactivo numa espessa nuvem de poeira. A explosão provocou um calor de cerca de 5,5 mi- lhões de graus Celsius, simi- lar à temperatura do Sol. Prédios desabaram com a vegetação, transformando a cidade num deserto. Quase tudo fora desintegrado. Num raio de 2 quilómetros, a partir do centro da explosão, a des- truição foi total. Hiroshima tinha na época cerca de 330 mil habitantes e era uma das maiores cida- des do Japão. O bombardeio matou imediatamente 50 mil pessoas e feriu outras 80 mil. Cerca de 130 mil pes- soas morreram depois. A bomba lançada é até hoje a arma que mais mortes pro- vocou em pouco tempo, 221.893 mortos é o total de vítimas da bomba, reconhe- cidas oficialmente até hoje. A bomba também afectou seriamente a saúde de mi- lhares de sobreviventes. A grande maioria das vítimas era formada pela população civil, a maioria das pessoas era mulheres e crianças, já que grande parte dos homens se encontrava a lutar na guerra. Milhares de pessoas foram desintegradas e, em função da falta de cadáveres, as mor- tes jamais foram confirmadas. Sabe-se que muitas pessoas sobreviveram por estarem em prédios à prova de terra- motos. Noventa por cento da cidade foram arrasados pela bomba. A 8 quilómetros do epicentro, pessoas morreram, a 10 quilómetros, sofreram cegueira temporária e a 12 quilómetros, sofreram um grande impacto ao serem arre- messadas ao ar. Horas depois da explosão, uma chuva negra caiu sobre o céu de Hiroshima. A chuva estava coberta de radioacti- vidade das cinzas da fumaça. Por de falta de informação, por desespero e por desidra- tação, os sobreviventes ten- tavam beber a água que caía. Quatro dias depois da des- graça em Hiroshima, começou a aparecer uma epidemia na cidade, o sangue das pessoas não coagulava mais e, sem glóbulos brancos, ficavam propensas a várias infecções, manchas roxas apareciam nos corpos, tufos de cabelos caíam até a perda total, o último sinal que antecedia a morte era o vómito de um líquido que parecia tinta vermelha. Era um mal novo e incurável que surgia, a necrose. Consequências Às 11h20, a “Fat Man” explo- diu a 600 metros de altura elevando os danos causados. Edifícios foram destruídos, uma onda de calor incen- diário, detritos e radiação varreram o solo a partir do ponto de detonação, cau- sando a maior parte dos óbi- tos e destruição de 40 por cento da cidade. Depois de anos, com a conscientização de que a bomba havia sido em grande parte por um motivo de “tes- tes”, muitas pessoas come- çaram a revoltar-se contra os Estados Unidos, os quais, então, resolveram ajudar o Japão a reerguer-se. Hoje, o Japão é uma das maiores potências do mundo e coloca-se a pergunta que sempre se fez e continuará a ser feita: foi realmente ne- cessário enviar uma bomba atómica nas cidades de Hi- roshima e Nagasaki no ano de 1945, matando até hoje, aproximadamente, 220 mil pessoas? A desgraça nas cidades e no mundo todo, que acom- panharão para sempre esse facto histórico que matou milhares de inocentes, poderia ter sido evitada? E, a pior das realidades, por que continuam a construir-se cada vez mais bombas mesmo sabendo que todas as existentes hoje seriam capazes de destruir, pelo menos, três vezes o mundo em que vivemos? Bombas e terror O bombardeamento das cidades japonesas de Hiros- hima e Nagasaki pode ser considerado o maior aten- tado “terrorista” da história da Humanidade, já que o objectivo do Governo e do Exército dos Estados Unidos era aterrorizar a população japonesa e, assim, evitar uma invasão ao país para por fim à guerra. No mesmo mês, o impe- rador japonês Hirohito recu- sou a rendição proposta pelos EUA. No dia 2 de Setembro de 1945, o imperador japonês assinou a rendição do país. No saldo de mortos realizado pelo Presidente dos EUA, a utilização das bombas ató- micas pode ter sido lucrativa. Mas o que ficava para a popu- lação japonesa, em particu- lar, e a mundial, em geral, era o terror frente a esse novo instrumento militar. Foi o primeiro e único mo- mento na história em que armas nucleares foram usadas em guerra e contra alvos civis. A bomba atómica de urânio foi lançada sobre Hiroshima em 6 de Agosto de 1945 e a se- gunda nuclear de plutónio (Fat Man) sobre a cidade de Naga- saki a 9 de Agosto. Só em Hiroshima, morreram, em 1945, 140 mil pessoas devi- do à bomba. Até 2005, foram somadas outras 5.375, reco- nhecidas como vítimas da des- truição nuclear na cidade. O TERROR QUE ABALOU A HUMANIDADE Bombas sobre Hiroshima e Nagasaki foram lançadas há 74 anos Nagasaki Pela insistência dos japo- neses de permanecerem na guerra, a segunda bomba foi lançada no dia 9 de Agosto de 1945, era chamada “Fat Man” e constituída de plutó- nio. Era destinada à cidade de Kokura, mas, com a pés- sima visualização e o excesso de nuvens, houve uma mu- dança na trajectória do avião e, a bomba iria para Nagasa- ki, a cidade que possuía me- lhores condições. Ao chegar à cidade, o clima era péssimo, dirigiram-se ao local onde a bomba seria lan- çada, mas, por falta de com- bustível, tiveram de lançá-la imediatamente, errando o alvo e acertando um vale. Não houve tempestade de fogo, mas causou uma terrível des- truição. Foi lançada pelo bom- bardeiro B-29, chamado “Bockscar”. A primeira bomba, lançada em Hiroshima foi chamada “Little Boy”, com 60 toneladas de urânio, a mesma detonou a 576 m acima da cidade. Ao cair aos 43 segundos, o gatilho barométrico e o de tempo accionaram o mecanismo detonador e um projéctil de urânio foi disparado contra um alvo de urânio, iniciando uma reacção em cadeia. 4 ESPECIAL Sexta-feira 9 de Agosto de 2019

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Nos dias 6 e 9 de Agosto de1945, o mundo testemu-nhou um dos momentosmais sombrios e decisivosdo século XX: a explosãodas bombas nucleares so-bre Hiroshima e Nagasaki,no Japão.

CausasUm conflito desta magni-tude não começa sem impor-tantes causas ou motivos.Podemos dizer que váriosfactores influenciaram oinício deste conflito que ini-ciou na Europa e, rapida-mente, espalhou-se por Áfricae pela Ásia.Um dos mais importantes

motivos foi o surgimento, nadécada de 30, na Europa, degovernos totalitários comfortes objectivos militaristase expansionistas. Na Alema-nha, surgiu o nazismo, lide-rado por Hitler, que pretendiaexpandir o território alemão,desrespeitando o Tratado deVersalhes, inclusive recon-quistando territórios perdidosna I Guerra Mundial. Na Ásia, o Japão também

possuía fortes desejos deexpandir os seus domíniospara territórios vizinhos eilhas da região. Estes trêspaíses, com objectivos ex-pansionistas uniram-se eformaram o Eixo, um acordocom fortes característicasmilitares e com planos deconquistas elaborados emcomum acordo.Em 1939, Einstein con-

vence o Presidente dos Esta-dos Unidos, Franklin Roo-sevelt, a construir a bombaatómica antes que os ale-mães o façam. Em 14 de Julhode 1945, após 3 anos de pes-quisa, foi iniciada a monta-gem da bomba no NovoMéxico. Dois dias depois, amesma era testada no deserto

do Novo México. Sem pos-suírem noção completa datemperatura da bomba, colo-caram-na numa estruturanão resistente ao calor, que,derretendo, chegou muitopróximo da areia. E esta,exposta a uma temperaturatão alta, vitrificou o fundodo buraco formado pelaexplosão.

AntecedentesA Alemanha e a Itália já sehaviam rendido. O Japãoestava para se render. Mascomo mostra do poder dosEstados Unidos e na tenta-tiva de descobrir o poder dabomba usando pessoas comocobaias, escolheram umaregião populosa e sete cida-des possíveis para o ataque.Entre elas, havia Kyoto, Nya-gada, Yokohama, Kokura,Nagasaki e Hiroshima. Kyotofoi dispensada da lista, porpossuir belos templos. Asprincipais eram primeiro Hi-roshima, seguida por Kokurae Nagasaki.

Bomba de HiroshimaA primeira bomba, lançadaem Hiroshima foi chamada“Little Boy”, com 60 tone-ladas de urânio, a mesmadetonou a 576 m acima dacidade. Ao cair aos 43 segun-dos, o gatilho barométricoe o de tempo accionaram omecanismo detonador e umprojéctil de urânio foi dispa-rado contra um alvo de urânio,iniciando uma reacção emcadeia. A matéria sólida co-meçou a desintegrar-se,libertando uma grande quan-tidade de energia.Após um silencioso clarão,

ergueu-se um cogumelo dedevastação de 9 mil metrosde altura, provocando ventosde 640 a 970 km/h, espa-lhando material radioactivo

numa espessa nuvem depoeira. A explosão provocouum calor de cerca de 5,5 mi-lhões de graus Celsius, simi-lar à temperatura do Sol.Prédios desabaram com avegetação, transformandoa cidade num deserto. Quasetudo fora desintegrado. Numraio de 2 quilómetros, a partirdo centro da explosão, a des-truição foi total.Hiroshima tinha na época

cerca de 330 mil habitantese era uma das maiores cida-des do Japão. O bombardeiomatou imediatamente 50mil pessoas e feriu outras80 mil. Cerca de 130 mil pes-

soas morreram depois. Abomba lançada é até hoje aarma que mais mortes pro-vocou em pouco tempo,221.893 mortos é o total devítimas da bomba, reconhe-cidas oficialmente até hoje. A bomba também afectou

seriamente a saúde de mi-lhares de sobreviventes. Agrande maioria das vítimasera formada pela populaçãocivil, a maioria das pessoasera mulheres e crianças, jáque grande parte dos homensse encontrava a lutar na guerra.Milhares de pessoas foramdesintegradas e, em funçãoda falta de cadáveres, as mor-tes jamais foram confirmadas.Sabe-se que muitas pessoassobreviveram por estaremem prédios à prova de terra-motos. Noventa por cento dacidade foram arrasados pelabomba. A 8 quilómetros doepicentro, pessoas morreram,a 10 quilómetros, sofreramcegueira temporária e a 12quilómetros, sofreram umgrande impacto ao serem arre-messadas ao ar.Horas depois da explosão,

uma chuva negra caiu sobreo céu de Hiroshima. A chuvaestava coberta de radioacti-vidade das cinzas da fumaça.

Por de falta de informação,por desespero e por desidra-tação, os sobreviventes ten-tavam beber a água que caía.Quatro dias depois da des-

graça em Hiroshima, começoua aparecer uma epidemia nacidade, o sangue das pessoasnão coagulava mais e, semglóbulos brancos, ficavampropensas a várias infecções,manchas roxas apareciamnos corpos, tufos de cabeloscaíam até a perda total, o últimosinal que antecedia a morteera o vómito de um líquidoque parecia tinta vermelha.Era um mal novo e incurávelque surgia, a necrose.

ConsequênciasÀs 11h20, a “Fat Man” explo-diu a 600 metros de alturaelevando os danos causados.Edifícios foram destruídos,uma onda de calor incen-diário, detritos e radiaçãovarreram o solo a partir doponto de detonação, cau-sando a maior parte dos óbi-tos e destruição de 40 porcento da cidade.Depois de anos, com a

conscientização de que abomba havia sido em grandeparte por um motivo de “tes-tes”, muitas pessoas come-çaram a revoltar-se contraos Estados Unidos, os quais,então, resolveram ajudar oJapão a reerguer-se.Hoje, o Japão é uma das

maiores potências do mundoe coloca-se a pergunta quesempre se fez e continuaráa ser feita: foi realmente ne-cessário enviar uma bombaatómica nas cidades de Hi-roshima e Nagasaki no anode 1945, matando até hoje,aproximadamente, 220 milpessoas?A desgraça nas cidades e

no mundo todo, que acom-panharão para sempre esse

facto histórico que matoumilhares de inocentes, poderiater sido evitada? E, a pior dasrealidades, por que continuama construir-se cada vez maisbombas mesmo sabendo quetodas as existentes hoje seriamcapazes de destruir, pelomenos, três vezes o mundoem que vivemos?

Bombas e terrorO bombardeamento dascidades japonesas de Hiros-hima e Nagasaki pode serconsiderado o maior aten-tado “terrorista” da históriada Humanidade, já que oobjectivo do Governo e doExército dos Estados Unidosera aterrorizar a populaçãojaponesa e, assim, evitaruma invasão ao país parapor fim à guerra.No mesmo mês, o impe-

rador japonês Hirohito recu-sou a rendição proposta pelosEUA. No dia 2 de Setembrode 1945, o imperador japonêsassinou a rendição do país.No saldo de mortos realizadopelo Presidente dos EUA, autilização das bombas ató-micas pode ter sido lucrativa.Mas o que ficava para a popu-lação japonesa, em particu-lar, e a mundial, em geral,era o terror frente a esse novoinstrumento militar.Foi o primeiro e único mo-

mento na história em quearmas nucleares foram usadasem guerra e contra alvos civis.A bomba atómica de urâniofoi lançada sobre Hiroshimaem 6 de Agosto de 1945 e a se-gunda nuclear de plutónio (FatMan) sobre a cidade de Naga-saki a 9 de Agosto.Só em Hiroshima, morreram,

em 1945, 140 mil pessoas devi-do à bomba. Até 2005, foramsomadas outras 5.375, reco-nhecidas como vítimas da des-truição nuclear na cidade.

O TERROR QUE ABALOU A HUMANIDADE

Bombas sobreHiroshima e Nagasaki

foram lançadashá 74 anos

NagasakiPela insistência dos japo-neses de permanecerem naguerra, a segunda bomba foilançada no dia 9 de Agostode 1945, era chamada “FatMan” e constituída de plutó-nio. Era destinada à cidadede Kokura, mas, com a pés-sima visualização e o excessode nuvens, houve uma mu-dança na trajectória do aviãoe, a bomba iria para Nagasa-ki, a cidade que possuía me-

lhores condições.Ao chegar à cidade, o clima

era péssimo, dirigiram-se aolocal onde a bomba seria lan-çada, mas, por falta de com-bustível, tiveram de lançá-laimediatamente, errando oalvo e acertando um vale. Nãohouve tempestade de fogo,mas causou uma terrível des-truição. Foi lançada pelo bom-bardeiro B-29, chamado“Bockscar”.

A primeira bomba,lançada em Hiroshimafoi chamada “Little

Boy”, com 60 toneladasde urânio, a mesma

detonou a 576 m acimada cidade. Ao cair aos 43segundos, o gatilhobarométrico e o detempo accionaram o

mecanismo detonador eum projéctil de urâniofoi disparado contra umalvo de urânio, iniciandouma reacção em cadeia.

4 ESPECIAL Sexta-feira9 de Agosto de 2019