O terramoto de 1909

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EX P OS I Ç Ã O 2 3 ABRIL 3 OUTU B RO A 2009

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Brochura da exposição evocativa do centenário d' "O Terramoto de 1909" Museu Municipal de Benavente 2010

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EXPOSIÇÃO23 ABRIL 3 OUTUBROA

2009

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23 de Abril, 17.05 horasForte abalo sísmico arrasa parte do Ribatejo, fazendo sentir-se em todo o país. Benavente, Samora Correia, Santo Estevão e Salvaterra de Magos ficam destruídas. Em Benavente não fica uma casa de pé.Interrompidas as comunicações telegráficas, as primeiras notícias do ocorrido em Benavente chegam a Santarém através de um lavrador que aí se dirige de automóvel.A população em pânico começa a juntar-se no largo do Chaveiro.23.00 horasComeçam a chegar automóveis de Santarém com o Governador Civil , o chefe da polícia, guardas cívicos e bombeiros.De Lisboa seguem médicos e "artigos de penso".O balanço é de 24 mortos em Benavente e 15 em Samora Correia.Ao longo da noite ouvem-se fortes e prolongados ruídos subterrâneos.

Os lamentos e queixumes dos feridos e os gritos desesperados e lancinantes das pessoas que procuravam o pae, a mãe, um filho ou irmão, conservo tudo isto na minha memória e encheu-se-me o coração de uma angústia profundíssima."

Segue força militar e tendas de campanha "vinte parelhas de muares com barracas disponíveis no arsenal do exercito, 200 mantas, camas e outro material de depósito de roupas; médicos e enfermeiras do Hospital Militar da Estrela."Reunião do conselho de ministros para tomar providências, à excepção do Ministro das Obras públicas que já seguira para Benavente.A população reúne-se em acampamentos.A fome começa a sentir-se.Arrombamento da cadeia e fuga dos presos para apoiar as vítimas.Os feridos começam a ser transportados num vapor para Lisboa.Visita do Rei D. Manuel aos locais sinistrados.

Cruz Vermelha instala um posto de socorros.

Os mantimentos são insuficientes. Embora existam cerca de 1000 sacos de farinha não foram providenciados fornos para cozer o pão.São poucas as tendas de campanha com o mínimo de condições.

Reunião da Câmara Municipal de Benavente, das Associações e colectividades e dos 40 maiores contribuintes do Conselho, ao ar livre, no pátio do Dr. Sousa Dias, É eleita uma comissão Municipal de socorros.No largo do Chaveiro venera-se a imagem de N. Sra. da Paz, salva dos escombros da capela.Chega uma força do exército para fazer o policiamento da vila, a povoação é cercada por um cordão militar.Brito Camacho, em visita à área sinistrada, fala sobre a causa republicana. Bernardino Machado percorre também a região.Verificam-se manifestações de solidariedade por todo o país: subscrições públicas, donativos particulares, bandos precatórios, espectáculos públicos...Conselho de Estado reúne para decretar a abertura de um crédito especial de 100 contos de réis.Ministro das obras públicas nomeia comissão de geólogos para estudar região ribatejana.Suspendem-se as comemorações do primeiro de Maio em sinal de luto.

24 de Abril

25 de Abril

26 de Abril

27 de Abril

Testemunho de um funcionário público sobre o ocorrido:“ Tinha acabado de jantar e, conforme os meus hábitos deitara-me um pouco a lêr os jornaes. Pouco depois das cinco horas senti uma violenta sacudidela, tão grande que me pareceu que a minha casa se partia. Vim a rolar no meio do quarto. Levantei-me de um salto. Em seguida senti outro estremeção mais forte e foi então que tive a noção exacta de que era um abalo de terra. Vejo as paredes fenderem-se de alto a baixo. Os vidros das janelas fazem-se em estilhas. Ouço um ruído enorme, seco, profundo, um estrondo subterrâneo que se não descreve. Lanço mão ao casaco e ao chapéu, de um pulo galgo as escadas e chego à rua. Precisamente neste momento a minha casa alui como se fosse cartas de jogar. Na minha frente outras casas se desmoronam. Nuvens colossais de poeira elevam-se nos ares. Sinto-me asfixiado. Quero fugir e não posso. As pernas recusam-se ao mais leve movimento. Os gritos de toda a visinhança são aterradores. Não sinto o coração, gela-se-me o sangue nas veias e o cérebro paralisa-se-me. Vejo-me perdido.Mas tudo isto durou um momento. Num grande esforço sobre min mesmo, consigo reunir todas as minhas energias, como quem quer salvar-se de uma morte certíssima. E corro à toa por aquellas ruas fora, cheio de um pavor de que nem sei dar uma ideia aproximada. Estava positivamente doido. Queria prestar auxílios e ainda complicava mais a situação angustiosa dos que estavam perdidos nos escombros. As derrocadas eram constantes. O barulho infernal dos prédios a cahir, os gritos de dôr de uma população inteira, as nuvens de pó e caliça, densíssimas que escureceram o ceo como se fosse noite, o aspecto desolador da vila em ruínas são coisas que nunca mais poderei esquecer. (...). Em seguida ao terramoto toda a população fugiu para o campo sem destino (...). Muitos sobreviventes, como loucos, queriam arrancar a todo o custo, pessoas queridas que tinham ficado sob as ruínas.

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É autorizado o abate de 400 pinheiros na região da Azambuja para a utilização da madeira para a construção de abarracamentos.Ascende a 35 o número de mortos.

"(...) não há casas, não temos pão apesar de tanto se ter pedido! E a este respeito diga V. na Câmara que nos mandem pão da Manutenção Militar, pois parece impossível que se deixe estar assim um sem número de pessoas, de crianças, sem lhes dar ao menos pão!! É horrivel! Nós fomos pelos destroços das lojas, buscar caixas que escapassem com bolos, para ao menos as crianças se manterem! Pois, então com uma padaria militar até hoje não nos mandam pão com fartura! Reclame V. isso em nome deste desgraçado povo na Câmara. Há felizmente pouca gente morta, por ora uns 30, mas há muitos feridos de gravidade e outros sem estarem neste estado! (...)

Continua a grande afluência de gente à região sinistrada.Não há pão e falta madeira para a construção de abrigos.Um jornalista do "Times" visita Benavente.

O Dr. Sousa Dias põe a funcionar um forno que existia na sua propriedade;A estação telegráfica é instalada numa barraca na praça;Cruz Vermelha ergue três barracas, uma para enfermeiras, outra para Hospital Civil e Militar e outra para arrecadação de víveres.

Chega a primeira remessa de madeira do estadoNova visita do rei D. Manuel II

Já não falta pão, mas faltam abrigosA Câmara Municipal de Benavente vai a Lisboa para negociar um empréstimo

As classes pobres asseguram o trabalho no campoExiste uma guerra declarada entre republicanos e monárquicos

Ergue-se uma barraca na praça para albergar a imagem de N. Sra.

Excerto de uma carta enviada por um residente em Benavente e lida na Câmara dos Deputados.

28 de Abril

29 de Abril

30 de Abril

1 de Maio

2 de Maio

4 de Maio

Da Paz, ironizando um jornalista diz o seguinte: “...só depois de albergados os santos, os militares farão alguma coisa pela população”.Continuam a faltar abrigos

Proibição de venda de vinhoOs fornos militares para cozedura de pão já funcionam

Reunião da Comissão de Socorros para fazer o inventário das roupas e de outros donativos, para depois proceder à distribuição.Levantam-se barracas de madeira com cobertura de zinco no bairro novoO “Oservatorio romano”, jornal oficial do Vaticano anuncia que o Papa convidou o Patriarca de Lisboa de dispôr em favor da vítimas dos tremores de terra do Ribatejo das ofertas de Portugal em benefício das vítimas dos sismos de Messina e Reggio.

Faltam operários carpinteirosSuspeita-se do desvio de dinheiro, resultado das subscrições

Chuvas torrenciais600 famílias continuam ainda sem abrigo

Continuam os trabalhos de construção de barracas, de demolição, de desentulho e de desobstrução das ruas.

O Ministro da Guerra manda suspender todos os trabalhos, retirando as forças de artilharia e engenharia. São ainda despedidos operários por falta de verbas.

Em poucos meses cessou o apoio do Estado na reconstrução da vila. O processo de reconstrução de Benavente foi demorado e pleno de contrariedades em resultado de questões políticas.

5 de Maio

7 de Maio

8 de Maio

9 de Maio

Maio e Junho

27 de Junho

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OS ANOS QUE ANTECEDERAM O TERRAMOTO

Nos primeiros anos do século XX, a agricultura continuava a ser a principal actividade económica do País, o concelho de Benavente não era excepção e, mais de metade da sua população, estimada à época em 6.500 habitantes, dedicava-se directa ou indirectamente a este sector de actividade.Os campos agrícolas eram explorados por abastados agricultores da reg ião que empregavam homens e mulheres, maioritariamente, em sistema de jorna. Os “ jornaleiros “, como eram chamados, trabalhavam arduamente de sol a sol, principalmente no cultivo do trigo, cevada ou arroz. Trabalhava-se para a sobrevivência das famílias, para “matar a fome”, restando pouco tempo e recursos para outras ocupações. A educação não era prioridade, sobretudo para a maioria da população e o analfabetismo ultrapassava, folgadamente, a taxa dos 70%. Nestes duros anos, à semelhança do restante, também as habitações eram frágeis e humildes. Construídas, na grande maioria, em taipa ou adobe, substitutos da pedra pouco abundante na região, revelando-se de fraca consistência e bastante fragmentáveis perante o risco.

Libertos dos afazeres domésticos estavam os homens a quem restava algum tempo para nos largos ou tabernas tecerem comentários políticos sobre uma monarquia que agonizava e uma república que, paulatinamente, se afirmava.Em profunda agitação política, Portugal debate-se com o Regicídio que em 1 de Fevereiro de 1908 vitimara o Rei D. Carlos e o herdeiro do trono, seu filho, D. Luís Filipe. As lutas travadas pelas diversas facções monárquicas também contribuem para a fragilidade do regime, a que os republicanos, desde a fundação do seu partido, anseiam pôr termo.

Desde cedo, a vila de Benavente é conotada com os ideais republicanos, granjeando cada vez mais simpatizantes junto dos populares. O poder político local representado pela Câmara Municipal era, desde 1908, constituído na íntegra por republicanos, destacando-se o Presidente Dr. Anselmo Augusto da

Costa Xavier como grande activista. O mesmo sucede com Neves de Carvalho, director do jornal local de inspiração republicana, “O Benaventense“ e com o médico da terra Dr. Francisco de Sousa Dias.Mas, antes da Proclamação da República, em 1910, Benavente iria passar pelo pior momento da sua história... O Terramoto de 23 de Abril de 1909!

- Construídos em zonas de cerrados e respeitando os planos de expansão da vila para sul, estes bairros foram resultado da onda de solidariedade que varreu o país após a tragédia de 23 de Abril de 1909. Através de subscrições abertas pelo periódico Diário de Notícias e pelo Club Fenianos Portuenses, foi permitido edificar dois bairros para famílias pobres. Com o mesmo espírito é construído um terceiro de maior dimensão, resultado da recolha de fundos tutelada pela Comissão Municipal de Socorros de Benavente.

- Concluído e ocupado em 1912, é composto por doze habitações. Construído com fundos da subscrição aberta pelo periódico com o mesmo nome, a que se juntaram verbas de outras iniciativas, é a primeira grande obra do género.

Edificado e ocupado em meados de 1913, depois de serem ultrapassados inúmeros problemas com a sua construção, e fruto de uma subscrição aberta pelo Club Fenianos Portuenses, contempla dezoito habitações, dispostas em posição de vizinhança com o Bairro Diário de Notícias, num natural seguimento da política de expansão da vila.

- A ocupação do bairro seria contemporânea da do Bairro Cidade do Porto, meados de 1913, constituída por trinta e quatro habitações, seria a intervenção de maior envergadura nas obras do tipo, numa operação que suportaria, inclusive, as despesas de expropriação de casas e ruas, de modo a permitir melhores comunicações com a malha velha da vila.

Bairros Novos

Bairro Diário de Notícias

Bairro Cidade do Porto -

Bairro Municipal

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“... Alguns segundos após o violentíssimo choque apenas o tempo necessário para que se desfizesse a densa nuvem de pó que se levantou da derrocada e para que cada família munida de alguns agasalhos se aprestasse a abandonar o lar destruído começou a afluir ao largo do Chaveiro gente de todos os pontos da vila. E em breve, estando já de volta dos campos a classe rural, aglomerava-se ali quasi a totalidade dos seus habitantes, que pernoitou ao ar livre em condições do máximo desconforto. Alguns, mais arrojados, acamparam nos largos do interior da vila; outros, mais afortunados, lograram passar a noite debaixo de tecto, em pousadas de caniço dos cerrados e vinhas dos suburbios.Fortes e prolongados rugidos subterrâneos, seguidos de violentos estremeções do solo, foram sentidos, com curtos intervalos, durante o resto da tarde e toda a noite. Nesses instantes, em que o som rolado e cavernoso dos trovões subterrâneos deixava a impressão de que o sob-solo estava ôco, na eminência de se abrir e de a todos subverter, os gemidos, as preces, os soluços e até mesmo o hálito da multidão sussurrante ficavam em suspenso...”

Benavente, Estudo Historico-DescritivoÁlvaro Rodrigues d'Azevedo

A intensidade do Sismo de 23 de Abril de 1909 provocou enormes danos nas habitações, sobretudo em Benavente. Mais de 40% das casas ficaram completamente destruídas, outros tanto sem condições para habitar e as restantes desempenhariam a sua função após alguns arranjos. Não se excluíram da devastação os edifícios mais emblemáticos de médio e grande porte que, aparentemente, deveriam ser mais resistentes.

- Construído em alvenaria, no ano de 1875, ficou bastante danificado no frontão e numa das paredes laterais. A rápida intervenção evitou a possível derrocada do edifício.

- Templo de arquitectura simples mas imponente. Construído em 1680, resistiu ao terramoto de 1755. Em 23 de Abril de 1909 todo o edifício desabou, à excepção de uma parte da empena da capela mor e do arco do altar mor.

Resistiu ao terramoto de 1755 embora com bastantes danos na sua estrutura. Teve de ser demolida após o sismo de 1909 devido às enormes fendas nas paredes.

Paços do Concelho

Igreja Matriz

Igreja de Santiago -

O QUE O TERRAMOTO DESTRUÍU

Ermida de S. Bento

Igreja da Misericórdia

Hospital da Misericórdia (velho)

Hospital Novo

Escola Oficial Feminina

Escola Oficial Masculina

Cemitério

- Igreja antiga e de deficiente construção que já tinha resistido com dificuldade ao terramoto anterior. Desmorona-se em 1909.

- Construção atarracada e amparada lateralmente por grandes prédios sobrevive aos dois terramotos mais violentos que assolaram a vila, apenas com danos de pouca importância. A obra de pouco peso sobre as suas paredes - mestras também contribuiu para que se tenha mantido até à presente data.

- Edifício muito antigo, situado junto à Igreja com o mesmo nome, ficou com danos profundos. Foi escorado com colunas em ferro após o terramoto para evitar o seu desabamento sobre as camas dos enfermos, evitando assim um maior número de vítimas.

- Edificado cerca de três anos antes da tragédia sofreu muitos danos nas paredes e muros anexos. À data do sismo ainda não tinha sido inaugurado.

- Prédio antigo de dois pisos construído antes de 1755, localizado à esquina da antiga Rua das Negues (Rua Bombeiros Voluntários) para a Avenida das Acácias, não resiste ao violento embate.

- edifício escolar de raiz situado no Bairro Novo é recuperado após profundas obras de reparação.

- Derrocada de parte do muro circundante e danos pontuais em obeliscos e jazigos.

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