O Tal Jornal

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7 Jan Edição CCJAM Quarta-feira, 7 de Janeiro de 2009 Ano I, nº 1 Portugal: 0,00 euros (iva incluído) Director: Daniela Espírito Santo Directores adjuntos: Daniela Espírito Santo e Daniela Espírito Santo Hoje Grátis! Álbum “A Beautiful Lie” dos 30 Seconds to Mars Entrevista a Manel Cruz: “A partir do momento em que nos apercebemos que vamos sair daqui e não sabe- mos para onde, tudo muda na vida.” Doentes Oncológicos esperam quatro meses por uma cirurgia Os voluntários da Habitat for Hu- manity vêm de vários países para ajudar a construir um novo futuro para uma familia de Braga. Ministra da Saúde admite que os doentes com cancro esperam demasiado tempo por uma intervenção cirúrgica. Reportagem: Habitat for Humanity - Construtores de Esperança Nacional Atentado suicida mata 53 pessoas no Paquistão Internacional Mostra de Ciência no Porto e em Matosinhos Cultura Depeche Mode de regresso a Portugal e aos discos Crónica “Sim, podemos!... mas podemos o quê? por Daniela E. Santo www.pobrezazero.org Publicidade

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7 Jan Edição CCJAMQuarta-feira, 7 de Janeiro de 2009Ano I, nº 1Portugal: 0,00 euros (iva incluído)Director: Daniela Espírito SantoDirectores adjuntos: Daniela Espírito Santo e Daniela Espírito Santo

Hoje Grátis! Álbum “A Beautiful Lie” dos 30 Seconds to Mars

Entrevista a Manel Cruz: “A partir do momento em que nos apercebemos que vamos sair daqui e não sabe-mos para onde, tudo muda na vida.”

Doentes Oncológicos esperam quatro meses por uma cirurgia

Os voluntários da Habitat for Hu-manity vêm de vários países para ajudar a construir um novo futuro para uma familia de Braga.

Ministra da Saúde admite que os doentes com cancro esperam demasiado tempo por uma intervenção cirúrgica.

Reportagem: Habitat for Humanity - Construtores de Esperança Nacional

Atentado suicida mata 53 pessoas no Paquistão

Internacional

Mostra de Ciência no Porto e em Matosinhos

Cultura

Depeche Mode de regresso a Portugal e aos discos

Crónica

“Sim, podemos!... mas podemos o quê? por Daniela E. Santo

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Comentário por Daniela E. Santo

Procura-se um país low cost

Os voos low cost vieram para ficar e já começam, fi-nalmente, a deixar de ser uma grande incógnita para os portu-gueses. Da apreensão inicial e incredulidade quanto aos preços dos voos, passamos agora à fase da aceitação e adesão.

Portugal é já o terceiro país euro-peu que mais viaja em low cost, revelam os dados do Barómetro Europeu do Sector do Turismo on-line, desenvolvido pela agência de viagens online europeia Terminal A. O nosso país ficou apenas atrás da França e da Polónia, país que mais utiliza este tipo de viagens. A EasyJet, uma companhia aérea de preço reduzido, inaugurou recentemente a rota Lisboa – Ma-deira, sendo a primeira companhia do género a oferecer preços redu-zidos para as ilhas. Termina, as-sim, o isolamento do arquipélago

em relação ao continente, muito por culpa dos preços exorbitantes praticados pela TAP? É esta mais uma prova de que os voos low cost estão finalmente a conquistar os portugueses? Será esta a alter-nativa económica para aqueles que moram nas ilhas e para aqueles que, no continente, gostavam de conhecer este cantinho de Portu-gal, tão longe de nós, por força das circunstância? Serão os voos low cost a alternativa que vai colmatar a distância entre Portugal Continental e os seus arquipéla-gos? É curioso comparar os custos de uma viagem iniciada no Porto com destino a Dublin, por exemplo, e outra com destino aos Açores. Enquanto que uma viagem para a capital irlandesa pode custar hoje em dia, na melhor das hipóteses, 25 euros, uma viagem aos Açores com partida na cidade Invicta

ronda sempre os 300 euros. Sim, há que ter em conta que a viagem é muito mais longa para a Ponta Delgada do que para Dublin e que, infelizmente, ainda não há low cost para os Açores, mas também deveria ser tido em conta o facto de que as ilhas, afinal de contas, são parte integrante do nosso país… O governo deveria criar formas de colmatar as despesas e incentivar, cada vez mais, a liga-ção entre os Açores, a Madeira e o Continente, pois somos todos por-tugueses, apesar da distância (que nem é assim tão astronómica…). Precisa-se de um país que seja barato de conhecer e incentive não só os estrangeiros a visitar, mas também os seus próprios habitan-tes. Viveremos nós de tal forma a globalização que fica mais barato ir passear “lá fora” do que propria-mente “cá dentro”? Não “culpem” a globalização e as viagens low cost pelos preços praticados para outros países. A desculpa não serve, a culpa não é aí que reside, mas sim na negligência a que nós mesmos votamos este país, à beira-mar plantado, mas tão iso-lado de si próprio.

Editorial “Brick by Brick”

No mundo capitalista em que vivemos, em que toda a gente parece ter um objectivo egoísta que comanda tudo o que faz, todos desconfiamos, instintiva-mente, de toda e qualquer asso-ciação humanitária que encon-tramos pelo caminho.

A primeira questão que vem à cabeça de todos é: o que é que esta ou aquela associação ganha com o seu trabalho? Pelo menos no caso da Habitat for Humanity, alvo da nossa primeira reportagem, as dúvidas dissipam-se rapida-mente. A organização não gov-ernamental é muito clara no seu modus operandi e não lucra com o trabalho que desenvolve. Mas importa, também, saber que este projecto não é um acto de cari-dade, movido pela pena ou pela simples compaixão. Este projecto vai muito para além disso. Como diz José Cruz Pinto, fundador da Associação Humanitária Habitat, em Braga, a organização não dá casas. O objectivo não é esse: o

princípio da associação é o de ajudar as famílias mais carencia-das, que vivam em habitações sem condições, a construir a sua própria casa, oferecendo uma alternativa mais barata às ofer-ecidas pelo mercado e a que as famílias não têm acesso por mo-tivos financeiros. Desta forma, os futuros donos sentem que a casa é realmente sua, que a construíram e não que a habitação lhes foi oferecida de mão beijada. A hab-itação é construída com a ajuda de voluntários, que vêm um pouco de todo o mundo (a maiorparte das vezes sem qualquer tipo de ex-periência de construção, mas com um enorme desejo de aprender e ajudar), e que, com o seu trabalho e com os seus donativos, ajudam a família a edificar uma casa muito mais barata. Com o dinheiro que as famílias pagam para cobrir as despesas da casa construída, con-stroem-se mais casas para outras famílias e o ciclo parece não se extinguir. O projecto Habitat for Humanity,

apesar de todo o trabalho desen-volvido em Braga e um pouco por todo o planeta, é ainda uma incógnita para os portugueses. É por isso que é o tema da primeira reportagem d’ “O Tal Jornal”, servindo, também, de metáfora para a presente publicação. Pedra a pedra, pretendemos que “O Tal Jornal” se imponha no mercado português como uma alternativa séria à imprensa comum, mas ao mesmo tempo jovem e com iniciativa e pretendemos dar voz a projectos semelhantes ao da HFH, voz essa que normalmente não encontra eco nos media conven-cionais. Iniciativas como esta precisam de destaque no meio jor-nalístico, para poderem continuar a fazer a diferença. Precisam de divulgação para que o país tenha conhecimento, não da situação das casas degradadas e das famílias que lá vivem (porque isso já não é novidade nenhuma...), mas da alternativa que está ao alcance das mãos e todos parecem não con-hecer.

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Reportagem: Construtores de Esperança Organização Habitat for Humanity dá a várias famílias de Braga uma oportunidade de reconstruir a sua vida. Voluntari-ado e donativos vêm maioritariamente de fora do país. “O Tal Jornal” passou um dia com um grupo de voluntários e con-heceu a casa de Monsul e os seus futuros habitantes. Por: Daniela Espírito Santo

São oito e meia da manhã. No centro de Braga, uma carrinha pára à porta de um hotel. Ana, a condu-tora, explica a um grupo de jovens voluntárias portuguesas que estão prestes a conhecer os voluntários internacionais que trabalharão com elas. Um grupo de dez, doze pes-soas divide-se entre a carrinha de Ana e de outro membro da Habitat for Humanity que está encarregue de os ir buscar e de os levar até à casa. Os grupos de voluntários internacionais são maioritariamente constituídos por mulheres e este não é excepção. Os membros deste grupo são um pouco mais velhos do que habitual mas, segundo afirma Ana, normalmente os voluntários estrangeiros nunca têm menos de 40 anos. Sorrisos e “good morning” são trocados e pouco mais é dito a partir daí. Pelo menos em inglês ou português… Aqui, a linguagem mais usada é a corporal e toda a gente parece entender tudo muito bem.

O grupo que se encontra presen-temente em Portugal para acabar esta construção é constituído por dez pessoas e veio do Montana, nos Estados Unidos da América. A líder

donativo de cerca de 350 dólares, que será usado na construção de casas no país para onde irão como voluntários.Ao todo, uma viagem até Portugal pode custar, a um voluntário ameri-cano, cerca de três mil euros, refere um dos membros do grupo. No en-tanto, o grupo não pensa que é caro participar na iniciativa pois, como refere Steven, um dos voluntários, “uma viagem à Europa é sempre cara e aproveitamos para conhecer vários lugares. Se estivesse só aqui as duas semanas do programa não valeria a pena, mas nós viajámos por vários locais antes de voltarmos para casa, por isso fica acessível”.

A casa situa-se na freguesia de Monsul, na Póvoa de Lanhoso. O caminho é longo, as ruas são es-treitas e as curvas são muitas. Perto da casa, a senhora que leva o pão à freguesia, de cesto na cabeça, saúda os voluntários e posa para as suas fotografias. “Já estou habituada”, confessa a senhora, que é várias vezes interpelada pelos voluntários estrangeiros. Quando a carrinha chega ao destino, o grupo recebe de imediato indicações do Sr. Luís, empreiteiro responsável pelas obras da Habitat for Humanity Braga, ou do Sr. Araújo, um dos seus traba-lhadores, que são traduzidas pela responsável da HFH que estiver a acompanhar os voluntários nesse dia. Nenhum dos voluntários temmuita experiência em construção, mas isso não parece ser problema.

A Habitat for Humanity é uma organização não-governamental, cristã ecuménica fundada em 1976 por Millard e Linda Fuller nos Esta-dos Unidos da América. O objectivo que preside à Habitat for Humanity International é o de acabar com as casas sem condições, oferecendo às famílias a oportunidade de comprarem habita-ções mais adequadas por um preço reduzido em relação aos valores de mercado. As casas são construídas através de trabalho voluntário e vendidas às famílias sem qualquer tipo de lucropara a organização.

A HFH está presente, actualmente, em 93 países e já construiu mais de 200 mil casas, ajudando cerca de um milhão de pessoas. Portugal aliou-se a esta iniciativa em 1996, quando José Cruz Pinto, empresário bracarense, leu um artigo sobre a organização e reuniu um grupo de amigos para o ajudar a fundar a Associação Humanitária Habitat pois, como refere o website da as-sociação, “também havia muito a fazer no país ao nível da habitação degradada”. A AHH foi legalizada em Maio de 1996 e tornou-se uma filial oficial da HFH International em Outubro do mesmo ano. Na As-sociação Humanitária Habitat tra-balham quatro pessoas, sendo que os restantes membros da associação o fazem em regime de voluntari-ado, incluindo os sete membros da direcção.

do grupo, Amanda, pertence a uma organização denominada “Women at Work” juntamente com mais três das voluntárias presentes. Através dessa organização, teve conheci-mento das iniciativas da Habitat e incentivou o resto do grupo que a acompanha a participar numa con-strução na Nova Zelândia, há dois anos atrás. Portugal é a segunda casa que constroem juntos. Fazem parte do programa “Global Vil-lage”, um programa da Habitat for Humanity International que permite que forma grupos de voluntari-ado internacionais que viajam até outros países para ajudar a construir habitações. Mais de 40 países estão abrangidos por este programa, incluindo Portugal. Os membros dos grupos de trabalho formados no programa pagam os custos da via-gem, seguro, comida, hotel e um

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Se voluntário da Habitat for Hu-manity deixa marcas para a vida

O grupo de voluntários posa para a fotografia

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O grupo português, actualmente, constrói na zona de Braga, Barcelos e Póvoa de Lanhoso mas pretende alargar o seu âmbito a outros locais do país, nomeadamente a Amaran-te e Lisboa, segundo refere Filipa Braga Hilário, Assessora da Direc-ção da AHH. O grande objectivo da associação é o de ter capacidade para construir e reparar 50 casas por ano, mas as ajudas a nível nacional não são significativas. O governo não oferece nenhum tipo de ajuda à associação e o apoio das autarquias restringe-se, na maior parte das vezes, à atribuição delicenças e à isenção de taxas. Os donativos e até os grupos de volun-tariado provêm maioritariamente do estrangeiro. Filipa Braga Hilário pensa que a falta de apoio a nível nacional se deve à pouca divulga-ção da organização em Portugal.

Excepção à regra é o grupo de jovens voluntárias portuguesas que ajudaram na construção da casa em Monsul. Membros de um grupo de apoio a uma banda de rock, tive-ram conhecimento da Habitat for Humanity International através do grupo musical e decidiram ajudar a nível local.

Ana Margarida, 19 anos, refere que participou por curiosidade e porque considerou a iniciativa aliciante e não se arrepende da decisão. Faz um balanço positivo da sua experiência com a Habitat portu-guesa até agora e diz que “é uma experiência enriquecedora a todos os níveis, também pelo facto de estares rodeada de pessoas que não te são familiares à partida, mas com quem consegues estabelecer con-tacto” e que “ver/fazer os retoques finais é fantástico, é um orgulho pequenino que se sente e que ainda

é mais preenchido quando verifi-camos a situação actual da família que vai receber a casa”. De facto, a selecção é feita por uma Comissão de Famílias, formada por volun-tários. De acordo com o website da associação e com Filipa Braga Hilário, existem três critérios para a escolha das famílias: “nível de necessidade, vontade de partici-pação no programa e capacidade de pagamento de uma pequena mensalidade”. O nível de neces-sidade prende-se com as condições de habitabilidade das casas onde as famílias moram, sendo que esse cri-tério pode variar de acordo com “as necessidades das diferentes comu-nidades onde a Habitat actua”. Quanto ao segundo critério, este verifica-se na obrigatoriedade da família ajudar a construir a sua própria casa e/ou outras casas, com o intuito de consciencializar e responsabilizar a família acerca do projecto e torná-la num “parceiro da Habitat”.O último critério de selecção de futuros proprietários é

período extensivo de tempo, fix-ando-se um pagamento mensal não inferior a 25 euros e que não ultra-passe os 150, diz a assessora. No entanto, a família candidata “não se poderá candidatar ao um projecto da Habitat se os rendimentos apre-sentados lhe permitirem usufruir

A habitação, tal como todas as ca-sas da Habitat for Humanity Braga e das restantes filiais a nível mun-dial, foi construída com a ajuda de donativos, material de construção que sobrou de obras de empreit-eiros locais e de grupos de volun-tariado dos diversos cantos do

o mais polémico. A capacidade de pagamento do dinheiro dispendido na construção da casa exclui, desde logo, pessoas sem rendimentos. Se-gundo a HFH, no entanto, é funda-mental para garantir que as famílias proprietárias terão condições de manter a casa, sendo que o din-heiro dos pagamentos vai para um “fundo rotativo para a Humani-dade”, que possibilitará a ajuda a outras famílias. O contrato é, segundo a assessora da Direcção da associação portuguesa, negociado com a família inicialmente, sendo que uma casa custa, normalmente, cerca de 24 mil euros.

Esta quantia é paga pela família em prestações sem juros, durante um

de outros projectos habitacionais (crédito à Habitação ou programas governamentais)”. No caso da habitação de Monsul, que será inaugurada no dia 29 de Outubro, a família foi seleccionada devido às fracas condições de hab-itabilidade da casa alugada onde vivem.Um dos factores que também pesou na escolha foi a saúde de um dos três filhos, de onze anos, que sofre de bronquite aguda e, por causa da humidade da casa, passa vários meses internadono hospital. O marido de Dona Fátima, futura dona da casa de Monsul, comprou o terreno onde a habita ção foi construída.

No local encontrava-se uma antiga habitação de pedra que a família pretendia restaurar mas que desmo-ronou. Dos escombros dessa casa surgiu a futura habitação da sua família, que lhe será entregue na próxima quarta-feira e onde poderá viver dentro de um mês.

planeta. O grupo de voluntários do Montana tem como tarefa pintar as paredes da casa e ajudar a pavi-mentar o interior da habitação, com tijoleira e parquet. Escolheram Portugal, segundo refere Steven, porque a opinião de outras equipas de voluntários que já cá estiveram os convenceram de que teriam todas as condições de trabalho ad-equadas e porque a idade os impede de fazer trabalhos muito pesados e esta casa está quase pronta. Prom-etem repetir a experiência tão cedo quanto possível, estabelecendo novamente uma parceria com o programa Global Village e partindo à descoberta de outro país para con-struir. Pagam para trabalhar e edi-ficar casas de completos estranhos e sorriem quando lhes perguntam porquê. Afinal de contas, a lin-guagem mais usada é a linguagem corporal e toda a gente envolvida parece entender muito bem a razão porque sorriem.

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Duas voluntárias portuguesas con-stroem uma parede

As más condições da casa de Fátima permitiram-se candidatar-se à ajuda da Associação

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Ministra da Saúde admite que os doentes com cancro esperam demasiado tempo por uma in-tervenção cirúrgica.

O tempo de espera recomendado para a realização de uma cirurgia neste tipo de casos é de quatro semanas, mas os doentes oncológicos portugueses esperam, em média, quatro meses pela necessária intervenção. A ministra da Saúde, Ana Jorge, diz, contudo, que o Governo tem vindo a diminuir esse tempo de espera, que “ai-nda há pouco tempo era de seis meses”.

Saúde: Doentes oncológicos esperam quatro meses por uma cirurgia

À saída da apresentação do Programa do Interno Doutorando na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, Ana Jorge desvalorizou o aumento do número de portugueses com cancro em lista de espera. O mais importante, defendeu a min-istra, não é o número de doentes, mas “saber quanto tempo é essa espera”.

De acordo com o “Diário de Notícias” desta quarta-feira, existem 22 mil doen-tes oncológicos à espera de cirurgia em Portugal, o que representa um aumento de 15% em relação ao número de paci-entes no ano de 2007. D.E.S.

Mostra de Ciência no Porto e em Matosinhos

O centro de Astrofísica da Uni-versidade do Porto e a Marginal de Matosinhos receberam no dia 26 de Setembro a Noite dos Investigadores 2008.

A iniciativa decorreu simultanea-mente em diversas cidades europe-ias e visa promover a aproximação entre os cidadãos e os cientistas através da interacção. Das 14 horas à uma da manhã, dezenas de cientistas abandonaram o laboratório para conviver com a população. Segundo Sónia Pereira, da Universidade do Porto Inova-ção, a iniciativa visa uma maior convergência entre o público e a comunidade científica e a desmis-tificação da imagem do cientista “rato de laboratório”.

A Faculdade de Medicina Den-tária da Universidade recebeu, entre 21 e 24 de Outubro, a 2ª Edição da Semana das Artes.

A iniciativa promovida em parceria com a Faculdade de Belas Artes permitiu aos alunos assistirem a diversos espectáculos e “intera-gir” com a arte. Concertos de jazz, dança do ventre, danças de salão, exposição de esculturas e fotogra-fias foram algumas das actividades que estiveram ao alcance de todos os alunos da FMDUP. Mafalda Queirós, vice-presidente da AEFMDUP, explica que o propósito desta iniciativa é “(…) que os alunhos de Belas Artes tra-gam até nós peças, obras, pinturas, esculturas para encher as nossas paredes de mais alegria, mais cor (…) Há uma interacção [com as obras] que é positiva para o nosso crescimento cultural”. As tunas da casa também marcar-am presença na semana das artes. Francisco Teixeira representante da “Dentuna”, explica que “as tunas também são arte e acho que é fun-damental as tunas da casa também

Cultura na Faculdade de Me-dicina Dentária do Porto

A interactividade foi a palavra-chave nesta Noite dos Investiga-dores 2008. Nas onze horas que durou o evento, os participantes tiveram à sua disposição diversas actividades, como por exemplo uma sessão de speed dating com investigadores, onde puderam tirar dúvidas sobre ciência, de uma forma diferente. As iniciativas da edição portuense da Noite dos Investigadores focaram as mais diversas áreas de investigação. A participação foi livre em todos os eventos, que se dividiram entre o Centro de Astrofísica da Univer-sidade do Porto e a Marginal de Matosinhos.

Daniela Espírito Santo

estarem na Semana das Artes”. Opinião partilhada pela magis-ter das “Levadas da Broca”, tuna feminina da FMDUP, que acredita que a presença das tunas na Se-mana das Artes serve “para chamar mais pessoas e para integrar, e para transmitir o espírito académico acho que não há melhor”. Para além das actuações musicais, a 2º edição da Semana das Artes serviu não só para dar a conhecer o trabalho dos alunos da Faculdade de Belas Artes, mas também para premiar os melhores. Os vence-dores receberam prémios monetári-os e viram as suas obras expostas na Reitoria da Universidade do Porto.

Daniela Espírito Santo

Nacional

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Atentado suicida mata 53 pessoas no Paquistão Embaixador da República Checa é uma das vítimas.

Um carro carregado com 600 quilos de explosivos embateu contra o portão do Hotel Marriot, em Islamabad, provocando a morte de 53 pessoas e ferindo 266. Jaroslav Kalfirt, embaixador da República Checa no Paquistão, foi uma das vítimas mortais. Entre os feridos registados, encontram-se 7 alemães e 2 norte-americanos.A violenta explosão provocou uma grande cratera em frente ao edifício, destruiu várias janelas e portas do hotel e dezenas de carros que se encontravam estacionados no parque de estacionamento. Vários focos de incêndio deflagraram no interior do hotel como consequência do rebentamento. A explosão fez, também, desabar o tecto de uma sala de banquetes, onde se reuniam na altura entre 200 e 300 pessoas a comemo-rar o fim do jejum diário respeitado pelos muçulmanos durante o mês sagrado do Ramadão. O atentado foi reivindicado pelos “Combatentes do Islão”, um grupo de fun-damentalistas islâmicos pouco conhecido.George W. Bush, Presidente dos Estados Unidos da América, condenou o ataque, alertando para a contínua ameaça terrorista e suspendendo o serviço consular no país. Também Javier Solana, alto representante para a Política Externa e Segurança Co-mum da União Europeia, condena “nos

atermos mais enérgicos o vil ataque terror-ista em Islamabad”. Recorde-se que, em 2001, o então presiden-te do Paquistão, Pervez Musharraf, anun-ciou o seu apoio à luta contra o terrorismo levada a cabo pelo Presidente dos Estados Unidos da América, após os atentados de 11 de Setembro. Horas antes da explosão, Asif Ali Zardari, novo presidente do país e viúvo da antiga primeira-ministra Benazir Bhutto, comprometeu-se a continuar a luta contra os fundamentalistas islâmicos. Zard-ari e o primeiro-ministro tinham agendado

um jantar no hotel à hora do atentado, mas mudaram de planos à última da hora.Este é já o terceiro atentado contra o hotel em 7 anos. O edifício situa-se no centro da capital paquistanesa e é muito frequentado por estrangeiros. Esta explosão foi considerada a mais potente registada na cidade desde 2001 e surge numa altura em que o Paquistão é as-solado por uma vaga de atentados.

Daniela Espírito Santo

Dirigente do Hamas, Nizan Rayan, morto ontem pela Força Aérea Israelita. Israel admite a possibili-dade de diálogo.

Desde o último dia do ano até ontem Israel atacou 45 alvos em Gaza. Ontem, o diri-gente de topo da organização palestiniana foi abatido pela Força Aérea Israelita.O dia também ficou marcado pela con-clusão dos preparativos para uma interven-ção terrestre na Faixa de Gaza, que segundo recomendam as Forças de Defesa de Israel (IDF) deverá ser uma operação de grande intensidade mas de curta duração.O movimento islamista já causou, desde sábado, 414 mortos palestinianos, um

Exército pronto a atacar depois da morte do líder do Hamasquarto dos quais civis, de acordo com as Nações Unidas.A família de Nizan Rayan foi avisada do ataque, tendo permanecido em casa. No bombardeamento também morreram duas das suas mulheres e quatro dos seus filhos.Os rockets do Hamas atingiram ontem um edifício de oito andares em Ashod e volta-ram a alcançar alvos a 40 km da fronteira causando quatro mortos israelitas.Segundo o diário israelita Jerusalém Post citado pelo jornal Público, o xeque Rayan era considerado a figura religiosa mais importante desde a morte do xeque Ahmed Yassin, há quatro anos.Desde sábado, as forças israelitas já re-alizaram 45 operações, entre as quais o bombardeamento ao gabinete do primeiro-

ministro Ismail Haniyeh, armazéns de armamento e uma mesquita, onde estariam armazenados mísseis Gadr e Qassan.A operação terrestre está agora mais próx-ima de ser levada a cabo. De acordo com Avital Leibovitch, porta-voz do Exército de Israel, citado pelo jornal Público, “a infantaria, a artilharia e outras forças estão próximas. Encontram-se em redor da Faixa de Gaza, à espera de ordens para entrar”.De acordo com uma sondagem divulgada pelo jornal Ha`aretz, 52% dos israelitas apoiam os ataques aéreos e apenas 19% são a favor da incursão terrestre.

Artigo elaborado por Verónica Pereira

Internacional

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Num café perto do estúdio onde passa o dia, na rua 31 de Janeiro, Manel Cruz, vocalista, letrista, guitarrista, ilustrador e pintor, tido por muitos como o “futebolista das palavras”, fala de morte, fama, Ornatos, poesia e trivi-alidades.

O Tal Jornal - Recentemente regressaste ao panorama mu-sical português, desta feita a solo. Como surgiu este projecto (“Foge, Foge, Bandido”)?

A cena foi acontecendo, ou seja, não foi um daqueles projectos de banda; não partiu de uma ideia de fazer um disco. Surgiu de comprar o meu primeiro computador, da primeira placa de som, começar a usar o computador como gravador de pistas…Ou seja, poder impor-tar para lá as minhas ideias e não estar dependente de outras pes-soas. Então foi um bocado começar com essas experiências, começar a gravar coisas e depois de ter um volume de coisas já a crescer um bocado, comecei a aperceber-me que tinha ali uma espécie de um universo, que era o universo ca-seiro de estar a gravar coisas. E aí comecei a pensar nisso, de compi-lar isto tudo. Depois também havia muitas ideias antigas, que eu tinha algum receio… não é receio, mas há sempre aquele paternalismo de estares a fazer coisas novas e há coisas antigas que tens pena de nunca teres registado. Então decidi, como também tinha acumulado muitas dessas coisas numa altura em que não podia gravar, ou não tinha tantos meios para gravar, foi um bocado tipo “despachar” estas coisas todas para depois ficar a zero outra vez.

Neste projecto contas com várias colaborações, incluindo Adão Cruz. Como é que é trabalhar com o teu pai?

Com o meu pai? Foi fixe. Eu tinha a ideia de pôr um texto dele em cima de uma música só que não sabia onde é que era e o Bandido também não tinha muitas preo-cupações de coerência, ou seja, dentro de uma música às vezes há textos que dizem respeito a ideias diferentes, e não há essa preocu-pação de sair uma narrativa até ao fim da música, então foi um bocado proporcionar o acaso. Ele disse quinze poemas, eu estava a gravar enquanto ele estava a dizer, (…) escolhi um deles, um que até achava que tinha alguma coisa, ou seja, “entrava” bem na música (…) e como aquilo é um discurso livre, o ritmo acaba por encaixar muito facilmente. Depois ele tem aquela já voz meio “abagaçada”… é fixe.

Como foi trabalhar com músicos com sonoridades completamente diferentes?

Acho que isso é uma das coisas mais ricas disto. Para mim tam-bém, lidar com o processo mental das pessoas a gravar, pois as pes-soas são muito diferentes. Não é um trabalho que se vem a elabo-rar, não. São coisas muito espon-tâneas, é uma linguagem muito mais imediata e muito mais pes-soal. E é muito engraçado ver esse processo mental das pessoas, de desinibição… Depois, as pessoas não desenvolviam uma ideia, gra-vavam dez, vinte coisas diferentes, para eu tirar um bocadinho desta e um bocadinho daquela…Ou seja, no fundo era um processo muito livre e acho que essa diversidade musical das pessoas todas tornou isto muito rico porque são mistu-ras de estados de espírito muito diferentes, gravados em momentos diferentes, mas que depois ficam num momento só.

.Também tem que haver uma certa adaptação, não é?

Exactamente. E, às vezes, não há essa adaptação do ponto de vista

Entrevista a Manel Cruz: “A partir do momento em que nos apercebemos que vamos sair daqui e não sabemos para onde, tudo muda na vida.”

da amizade, ou seja, ainda não tens à vontade com a pessoa e de repente estás ali a fazer música, que é uma merda muito pessoal. E é engraçado, porque acaba por ser íntimo e as vezes até é estranho. (…) Sei lá, fazes uma coisa de que gostas muito e, no processo, emo-cionas-te e até é estranho porque estás ali com uma pessoa que não conheces muito bem e não sabes se está a sentir o mesmo que tu. Mas é muito fixe. Sobre o teu projecto, alguém dizia “Os temas das músicas e das imagens são os do cos-tume: o amor e o sexo, a vida e a morte, a família e os amigos, e o tema transversal é o «erro»”. Concordas? Porquê estes temas e não outros?

O tema transversal é o “erro”? Isso é engraçado, eu identifico-me.

E porque é que são estes temas e não outros temas quaisquer?

Pois… Eu acho que esses temas estão sempre na origem de tudo para mim, quer a morte, o sexo, o amor. Claro que na vida e a morte já encerra montes de coisas. Mas acho que a ideia da morte está antes de tudo. Ou seja, a partir do momento em que nos apercebe-mos que vamos sair daqui e não sabemos para onde, tudo muda na vida. É nesse sentido que eu acho que, seja qual for o pensamento que eu tenha, vai estar condicio-nado por isso. (…) Já que não há nada a fazer, ao menos brinca-se

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um bocado com isso. Se calhar é um instinto de adaptação, sei lá. Ou aquela expectativa de que chegues a velho e estejas mais em paz contigo, de modo a aceitares melhor isso.

São temas muito fortes. Achas que só faz sentido falar sobre isto?

Não, acho que é muito salutar a trivialidade até porque está tudo ligado. Por exemplo, os receios mais pequeninos, os prazeres mais pequeninos também são espelho de coisas muito maiores. E até por uma questão de saúde mental também convém a gente suavizar as coisas, não é? (…) Às vezes ao fazer isso, enfrentámos os medos e as coisas e não quer dizer que nos rendamos a eles.

Com os Ornatos Violeta, há uns anos atrás, acusavam-te de “ajudar a reavivar o espírito da música portuguesa, especial-mente a cantada em português”. Concordas? E achas que a musica por-tuguesa ainda precisa de ser reavivada?

É um bocado redutora a ideia da música portuguesa. No sentido de cantar em português, se calhar sou mais um, digamos, a semear essa experimentação com o português. Mais um, porque eu também sem-pre cresci com o Reininho, com o Jorge Palma, Sétima Legião, etc, portanto para mim sempre houve música portuguesa.

Fazia mais sentido cantar em português…

Sim. Exactamente, porque eu tinha essas referências. Foi mesmo natural. Eu tentei cantar em inglês, fazer umas coisas em inglês…mas pronto, não me soava bem, não acreditava naquilo. Se calhar tam-bém porque não dominava assim muito bem [o inglês].

Incomoda-te quando te chamam o “poeta vivo da música”? Os rótulos incomodam-te?

Não, não. Acho que são maneiras de as pessoas se situarem, embora seja tudo muito vago. Mas tam-bém encaro, se calhar, o “poeta”

no sentido de alguma introspecção e filosofia, contemplação. Em termos de estrutura, não encaro as músicas muito como poemas. Encaro como parte de canções, funcionam como o som. (…) Embora eu não me avalie por eles, é fixe quando ouves uma coisa que percebes que é elogio. (…) Por mais profundo que tentes ser, também vives na trivialidade e precisas dessa trivialidade e precisas de te alimentar dessas coisas. (…) É humano. E acho que também tenho os meus momentos de comprar o Blitz e ver cromos, como eu (risos).

O que é que achas que é mais importante no mundo da musica hoje em dia? Um som único, boas letras, conseguir reunir um grande grupo de seguidores à volta do projecto, ou simples-mente chamar a atenção dos mais jovens?

Um som único é uma ideia que me agrada. Um som único, não , se calhar, no sentido de um grupo de músicas, mas a ideia do som. Um registo que é único e que sentes que acrescenta alguma coisa ao mundo, no sentido de que é teu.

Como é que achas que os jovens te vêem? Como é que os jovens de 15, 16 anos, vêem o Manel Cruz?

Como é que me vêem? De muitas maneiras diferentes, de certeza. Acredito que haja muitos que me vêem com admiração, como eu sinto admiração por pessoas que fazem coisas que eu gosto.

Achas que os jovens de hoje em dia te conhecem?

Alguns. Tenho tido agora uma melhor percepção… Nunca pen-sei dizer “o meu público”, mas começou-se a formar um grupo de pessoas, que eu quando vou à Internet acabo por me aperce-ber que gostam do meu trabalho, e isso é fixe no sentido que eu penso “opa, são pessoas mesmo interessadas”, não são pessoas que “levam” comigo num cartaz não sei quantas vezes. (…) Mas é um bocado estranho porque falam de mim como eu falava das pessoas que admirava. Estas coisas quando

se é mais novo também têm outro significado.

Achas que muitos jovens te con-hecem por causa da tua colabo-ração com os Da Weasel?

Acho que sim, nesse contexto de mercado mais mainstream (…), há uma exposição maior.

Agrada-te esse tipo de exposição ou é algo de que foges?

Eu gosto de ver as minhas coisas a serem divulgadas, como é evi-dente. Mas em termos de imagem, tenho sempre aquela coisa… Mas a questão é que evito ao máximo ter fotografias, não que eu agora sofra já com isso, mas o pouquinho que eu experimentei com os Ornatos, de ser conhecido na minha rua, na minha cidade, é suficiente para tu perceberes o que será isso. E eu gosto que ninguém me conheça na rua, estás a entender? Ou que me conheça só quem foi a concertos e vai ter comigo numa perspectiva mais pessoal do que propriamente “Vi aquele gajo na televisão”. (…) Não dá com os meus rituais de vida, que mudaram alguma coisa, mas mantêm-se sempre. Não sou pessoa que saia muito, que vá para o social ou que vá para as festas da Caras. Não me alimento dessas

Jan 2009 *pág.9*

Um livro.

Eu nunca acabei nenhum livro, mas este estou a gostar muito e vou conseguir acabar (risos).É o “1884”, do George Orwell. Fala dos regimes totalitários e da falta de conforto e do embrutecimento das classes, através de um ro-mance, de ficção.

Uma ideologia.

Todas e nenhuma em particular

Uma religião.

Todas e nenhuma em particular

Com tantos projectos e ide-ias, o que te falta fazer na vida e na música?

O Caetano Veloso dizia uma coisa engraçada para responder a essa pergunta. Ele disse “tudo” e acho que está bem respondido, pois é mesmo essa a sensação, de que falta mesmo fazer tudo.

E o que já não te falta fazer?

O que é que já não me falta fazer? Os Ornatos, por exemplo (risos).

Page 10: O Tal Jornal

Em que projectos estás envolvi-do neste momento?

Estou nos Supernada, estou a começar a ensaiar o Bandido ao vivo e estou a fazer já trabalhos novos, música nova.

A solo?

Sim, a solo também.

Vais manter os dois projectos em paralelo ou os Supernada vão ficar um pouco de lado?

A minha ideia quer com os Su-pernada, quer com o Bandido é dar concertos limitados… dar dez concertos de cada um e acabou. Dez, quinze concertos, em salas médias, de modo a que quem esti-ver interessado tenha hipótese de ir ver. Tenho vontade de tocar ao vivo, mas não acredito que vá ter vontade de tocar mais de quinze concertos.

Quando serão esses concertos?

Daqui a uns três, quatro me-ses. (…) Depois a minha ideia é começar a fazer coisas novas.

Com outro nome?

Sim.

Desenhar ou escrever?

Desenhar ou escrever? Desenhar para relaxar e escrever para procu-rar.

Que outras paixões tens para além da música e das artes plásticas?

Para além da música e das artes plásticas? Pá, eu gosto muito de jogar futebol. (…) Adoro futebol mesmo, adoro jogar.

Alguma vez usaste o futebol como inspiração?

(risos) Por acaso… acho que, as-sim directamente, não.

Que locais gostarias de visitar e porquê?

Gostava de visitar o Brasil (…), porque tem muito calor, porque nunca fui àquela parte menos ur-bana do Seará e gostava muito. A questão da língua também… e das morenas… Quer dizer, todo esse ar que se respira lá no Brasil.

Ainda vale a pena ser músico hoje em dia?

Sim. Se fores musico numa per-spectiva de ganhar dinheiro, tens de estar predisposto a fazer coisas

Jan 2009 *pág.10*

da Caras. Não me alimento dessas coisas, portanto entraria em con-flito se começasse a acontecer.

Bons músicos, com aptidão e conhecimentos técnicos ou músi-cos criativos, mas que ainda es-tão a aprender? Qual é a melhor fórmula? O entusiasmo de um novato ou a experiência de um veterano?

Adoro o novato que ainda está a aprender, embora tenha conhecido excelentes músicos que nunca ten-ham deixado de estar nesse estado [de entusiasmo], ou seja, que já têm a experiência mas que con-tinuam a gostar de não dominar. Acho que é mesmo uma questão de atitude. E também já vi novatos que estão hiper obcecados com conseguir determinado objectivo técnico. Mas à partida (…) o en-tusiasmo é meio caminho andado, como a sopa.

Alguma vez questionaste a tua música?

(risos) Tantas vezes! Acontece que agora não me acontece com a mesma intensidade, o que não quer dizer que não me aconteça de haver alturas… só que agora eu faço uma coisa: quando não estou a gostar, passo uns dias a fazer outras coisas mais práticas.

que não tenham tanto a ver com a parte artística mais directa, mais emotiva. Mas vale a pena no sentido que é possível seres um bom músico profissional. Mas aconselho sempre as pessoas a terem outro trabalho (…). Às pes-soas que fazem música por gosto, aconselho sempre a não invali-dar outras hipóteses para ganhar dinheiro. Até acho que é mau ter um projecto e querer que tudo se faça ali. Aliás, acho que um dos grandes problemas dos Ornatos foi esse: os nossos horizontes estavam muito confinados àquilo [Ornatos Violeta] e tentávamos que aquilo satisfizesse as necessidades de todos nós e essa expectativa matou muito aquilo.

Toda a gente quer saber quando os Ornatos Violeta voltam...

Pois, não se pode dizer que uma coisa é impossível. Mas eu sou outro e eles são outros já. Os Or-natos são o passado.

Já não faz sentido?

Neste momento acho que não. Mesmo que um dia voltem…Podemos voltar com o mesmo nome, mas pessoas vão ter mais anos em cima, outras experiencias, etc. Já não vão ser as mesmas pes soas, são outras.

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Page 11: O Tal Jornal

Os Depeche Mode irão actuar na ed-ição portuense do festival Super Bock Super Rock de 2009. A banda britânica vai subir ao palco no Estádio do Bessa, num concerto inserido na “Touro f the Universe 2009”.

Na bagagem trarão o álbum que suced-erá a “Playing the Angel”, lançado em 2005.

Em entrevista ao blog de musica do “Los Angeles Times”, o vocalista dos Depeche Mode revela que o trabalho está concluído e é composto por 12 faixas, entre os quais as faixas “Peace Will Come to Me”, “Wrong”, “Come-back”, “In Chains” e “Hole to Feed”.

Questionado sobre o tema geral do album (que ainda não tem nome), Dave Gahan confessa “I feel like [the record] is [about] looking outside and a yearn-ing for somehow coming together. The world is changing. Watching Obama

Os Kaiser Chiefs, que recentemente actuaram no Rock in Rio, regressam a Portugal em 2009 para promover o seu novo álbum, “Off With Their Heads”.A banda de Leeds vai actuar no Coliseu dos Recreios no dia 1 de Fevereiro e um dia antes, no Coliseu do Porto.

Os bilhetes já estão à venda e têm preços diferentes nas duas cidades: no Porto, os bilhetes custam entre 28 e 35 euros, e em Lisboa, entre 30 e 35.

“Amália” estreia-se na Hol-anda e na Bélgica em 2009

O filme “Amália”, de Carlos Coelho da Silva, vai estrear na Holanda e na Bélgica em Abril de 2009, confirmou à agência Lusa a Valentim de Carvalho Filmes.

A película, que já está nos cinemas portugueses e retrata, de forma ficcionada, a vida da fadista Amália Rodrigues, estreia-se, assim, nas salas de cinema interna-cionais, durante uma semana dedicada à cultura portugue-sa nos dois países.

A produtora Valentim de Carvalho anunciou, também, a introdução do filme no mercado brasileiro, mas

Depeche Mode de regresso a Portugal e aos discos

Cinema: Filme “Amália” estreia em Abril na Holanda e Bélgica

ainda sem data de estreia marcada.

Estes não são os únicos países, no entanto, a demon-strar interesse pela longa metragem sobre a fadista. O filme também já tem estreia garantida, refere a Lusa, em 23 países, entre os quais Marrocos, China ou Egipto.

A Valentim de Carvalho Multimédia está já a tentar introduzir o filme no Fes-tival de Cinema de Berlim, em Fevereiro de 2009.

Em Portugal, segundo a produtora, 175 mil pessoas já viram o filme co-produz-ido pela Valentim de Carv-alho Filmes e pela RTP.

Daniela Espírito Santo

getting elected was great. We watched ion TV in Santa Barbara and I get goosebumps thinking about that still. It’s going to take a long time, but I think some of that same feeling, that senti-ment [of hope] is in the work.”

Esperança têm os fãs da banda de que este álbum represente um retorno às origens para o grupo originário de Es-sex. A ideia surge pelas palavras do próprio vocalista que, na mesma ent-revista, levanta um pouco o véu acerca dos instrumentos utilizados em estúdio: “We’ve got all these old drum machines from the 1970s, and even some of the stuff that we used in the ‘80s as well, like old Moogs and Arps.”

O tão desejado regresso dos Depeche Mode à cidade Invicta acontece a 11 de Julho de 2009. Os bilhetes estão à venda por 40 euros.

Daniela Espírito Santo

Kaiser Chiefs nos Coliseus

Ao palco, os Kaiser Chiefs levam três álbuns, de onde se destacam êxitos como “Ruby”, “I Predict a Riot”, “Ev-eryday I Love You Less and Less”, “Ev-erything is Average Nowadays”, “The Angry Mob” e o mais recente single “Never Miss a Beat”.

Passatempo: De 10 em 10 chamadas, oferecemos um convite duplo. Liga 910000000 (custo: 60 cent. + iva)

Jan 2009 *pág.11*

Cultura

Page 12: O Tal Jornal

Jan 2009 *pág.12*

Crónica por Daniela Espírito Santo

“Sim, podemos!” ... mas podemos o quê?

O mundo parece que recu-perou o fôlego e encontrou nova esperança, numa época conturbada da sua história. O futuro presiden-te dos Estados Unidos da Améri-ca, Barack Obama, é a causa de tal sentimento. Um sorriso colectivo atravessou o Mundo no dia 5 de Novembro, quando o planeta acordou e tomou conhecimento da decisão do povo americano tom-ada na noite anterior. A adoração por Barack toma contornos de ob-cessão e até tem nome: Obamania.Qual rockstar, o senador arrastou milhões para os seus comícios nos diferentes estados norte-america-nos e conquistou os corações dos eleitores e do mundo inteiro. Mas toda a excitação à volta do suces-sor de George Bush filho na Casa Branca tem explicação? O que tor-na este antigo senador do Illinois tão especial e por que razão re-caem sobre ele tantas esperanças e sonhos? Primeiro, o simples facto de que irá substituir Bush é mo-tivo mais do que suficiente para que o encarem como a solução para todos os males que afectam o país. Por outro lado, o candidato é símbolo do renascer da força do sonho americano e é por isso que comove milhões, tanto na Améri-ca, como além fronteiras. Com um domínio excelente da retórica, apela ao poder do sonho e da força de vontade e fala de mudança… Com um discurso forte e neutro ao mesmo tempo, se é que isso é real-mente possível, conseguiu agradar a WASP e redneck, convencer mulheres e homens, unir latino-

americanos e afro-americanos, chamar os velhos sem esperança no futuro para as mesas de voto e convencer os jovens a votar pela primeira vez. Mas será a autêntica devoção em Obama justificada? Não será demais encará-lo como se fosse um Messias que irá salvar a Humanidade, uma espécie de D. Sebastião à moda da América?A História está cheia de pessoas assim… amadas por todos inicial-mente, encaradas como a resposta que tanto se procurava… Pes-soas em quem se depositam as mais fortes (e, por isso mesmo, mais injustas) esperanças e que sucumbem, mais tarde, à pressão, tentando agradar a todos e acaban-do por não agradar a ninguém… só o tempo dirá que tipo de Presi-dente será Barack, mas a julgar pelo peso que já lhe colocam nos ombros, o futuro inquilino da Casa Branca não terá tarefa facilitada. Das duas uma: ou virará herói ou depressa o encantamento mundial dará lugar a um ódio talvez mais profundo que o ódio colectivo a George W. Bush. No entretanto, e enquanto a tomada de posse não acontece, o Mundo vai en-frentando a crise mundial com um leve sorriso e um “Yes, we can!”. Enquanto o encantamento não morre, o mundo é um bocadinho mais alegre e a situação menos dramática. Pergunto-me quanto tempo demorará para substitu-irmos o “Sim, nós podemos!” automático pelo “Espera aí… mas podemos exactamente o quê?”

LerLer o livro “Os cínicos não servem para este ofício – con-versas sobre o bom jornalismo” não foi uma obrigação, foi um prazer. Através da obra, conhece-se um pouco do percurso de vida de Ryszard Kapuscinski e o seu estilo de acompanhar os acontecimentos e se misturar com os diferentes backgrounds em que se inseria. O livro (que é uma compilação de um debate entre o autor e John Berger num congresso em Milão em 1994, um encontro com a organizadora deste livro, Maria Nadotti, num congresso em 1999 e uma ent-revista), envolve não pela fluidez ou pela graça estilística, mas sim pelo conteúdo, pelas palavras do jornalista aqui imortalizadas. Não é, na minha opinião, muito mais do que um mero “copy and paste” das intervenções de Kapuscinski nas suas visitas a Itália mas, sendo só isso, consegue ser muito mais. Nele, se reflecte o método de con-tacto directo com o acontecimento que marcou a carreira do jornalista que se refugiava no anonimato para ter acesso ao que se passava à sua volta, renunciando, como referia a autora na introdução, “aos dis-cutíveis e narcisistas benefícios da hipervisibilidade”. Desta forma, conseguia depoimentos puros das pessoas que abordava, que não se sentiam intimidadas pelo jornal-ista, mas antes à vontade com o ser humano.. Aliás, como refere Maria Nadotti acerca dos anos que Kapuscinski viveu em África, o jornalista “branco, num continente de negro, conseguiu misturar-se”.

Não era apenas um espectador, que observa à distância o que acontece. Para ser jornalista, para realmente entender o que acon-tecia e poder relatá-lo, tinha de viver também essa realidade, ser parte integrante da mesma. Cho-rar, passar fome, tremer de frio, estar sujeito às mesmas coisas que as pessoas que o rodeavam… Essa é uma lição cada vez mais esquecida hoje em dia, quando os jornalistas se refugiam nas secre-tárias e nos press releases e no falso sentido de imparcialidade, fugindo a sete pés de qualquer tipo de envolvimento ou emoção. Outro tema a salientar é a men-sagem de Kapuscinski para os jovens e, sobretudo, para os mais velhos. O jornalista pede paciên-cia para com os jovens e confiança nas potencialidades destes, que são, segundo o jornalista, mais inteligentes e têm mais acesso à informação. Já aos mais novos, adverte, no primeiro momento da obra, para as dificuldades da profissão e refere que esta precisa da força e da visão da juventude, capaz de enfrentar a revolução tecnológica que empurrou o jor-nalismo para uma nova dimensão. Relata a precariedade da vida dos que exerciam a sua profissão e até revela que, no seu país, os jornal-istas não se inseriam na segurança social porque não chegavam a velhos… Uma obra recomendada a todos os que iniciam agora a sua carreira no jornalismo e a todos aqueles que, por vezes, se esquecem do que ele realmente é e representa.

Crítica Literária por Daniela Espírito Santo