O Sumiço de Carolina

11
O Sumiço de Carolina CASTANHEIRA Instituto

description

Cartilha sobre exploração sexual e tráfico de pessoas no Amazonas.

Transcript of O Sumiço de Carolina

  • O Sumio de Carolina

    CASTANHEIRAInstituto

  • ste material uma realizao da Rede Um Grito pela

    Vida - Regional AM/RR, em parceria com a Critas EArquidiocesana de Manaus, concebido a partir das discusses do Ncleo de Estudos em Gnero, Famlias, Conflitos e

    Sexualidades Azulils, da Universidade Federal do Amazonas.

    A concepo conceitual e grfica foi realizada pelo

    O objetivo principal dessa cartilha a divulgao de

    informaes sobre o trfico de pessoas e a explorao sexual, para

    crianas, adolescentes e jovens. Buscamos construir uma linguagem

    adaptada realidade da regio Norte do Brasil, onde o grande

    parte dos casos de trfico de pessoas, relacionados explorao

    sexual de crianas e adolescentes.

    Nesse enredo, Carolina, uma aluna da rede pblica de ensino

    bsico, some durante o recreio, e todos na escola se mobilizam para

    encontr-la. Durante as buscas, a professora de Carolina e seus

    colegas discutem o que pode ter ocorrido, e so informados sobre o

    trfico de pessoas e a explorao sexual de crianas e adolescentes.

    Ao longo do sumio de Carolina, relatos sobre a vida de cada criana

    so trazidos tona.

    Desejamos boa leitura e

    aprendizado.

    Instituto

    Castanheira, organizao de ex-alunos do Azulils/UFAM que atua

    na construo de metodologias, realizao de pesquisas e

    consultorias sobre direitos humanos.

    corre

    Copyright 2015

    Rede Um Grito pela Vida - Regional AM/RR

    Critas Arquidiocesana de Manaus

    Instituto Castanheira

    Azulis

    Edio: Azulils - Ncleo de Estudos em Gneros, Famlias,

    Conflitos e Sexualidades - DAN/ICHL/UFAM.

    Superviso: Dra. Raquel Wiggers

    Autor: Nat Souza Lima

    Reviso: Raabe Emy Souza Lima

    Ilustraes: Samantha Karlia

    3

    Blog: http://gritopelavida.blogspot.com

    E-mail: [email protected]

    Para mais histrias e trabalhos como este:

    [email protected]

    [email protected]

    O Sumio de Carolina - cartilha sobre trfico de pessoas e explorao sexual

    Lima, Nat Souza et al.

    Rede Um Grito pela Vida; Critas Arquidiocesana de Manaus; Instituto Castanheira;

    Azulis.

    Manaus: EDUA, 2015.

    Srie Azulils, 3

    22 p.

    ISBN: 978-85-7401-487-6

    1. Trfico de Pessoas 2. Explorao Sexual 3. Abuso Sexual

  • a escola municipal Santa Etelvina, localizada

    prximo ao porto aonde chegam barcos e Nmercadorias s margens do rio, as crianas brincavam de esconde-esconde no recreio.

    54

    Deram voltas na escola inteira! At o diretor ajudou a

    procurar Carolina.

    E NADA!

    Aos poucos vinham carros, com sirenes barulhentas,

    com luzes vermelhas e azuis que piscavam sem parar.

    Dessa vez o manja era Joo, hbil em achar os colegas

    escondidos.

    Carolina, que era menina esperta, se escondeu num

    lugar to difcil, mas to difcil, que acabou o recreio e

    ningum a encontrou!

  • 76

    Era um entra e sai de gente, uma confuso to grande que os

    amigos de Carolina, comearam a gritar:

    AHHHHHHHHHH!.

    Por que tanta confuso? Cad a Carolina?, indagou

    Joo.

    A me e a av de Carolina j chegaram chorando. Junto veio o

    Conselho Tutelar.

    Naquele desespero e barulho, o grito das crianas, tudo

    silenciou.

    Foi quando os adultos se deram conta de que as perguntas de

    Joo faziam mais sentido que toda aquela ao que parecia

    filme! Entra e sai; buzina; luzes piscando!

  • 9Fizeram um crculo e prece. Foi quando tudo se acalmou um

    pouco e a professora comeou a explicar aos alunos, pouco a

    pouco, o que se passava.

    Quando uma criana desaparece precisamos procurar, prestar

    ateno. Pode ser apenas alguma brincadeira, mas pode ser que

    no.

    Ento, se algum some de repente a gente deve logo contar

    para uma pessoa de confiana que deve chamar a polcia.

    Tem gente que some porque foi traficada, e h alguns

    casos em que a criana pode at estar sendo traficada.

    As crianas fizeram cara de dvida, franzindo a testa,

    coando a cabea. Foi quando Joana perguntou Como assim

    professora? O que trfico? E essa explorao?.

    Esperem, respondeu a professora, vou lhes explicar.

    8

  • Trfico de pessoas como chamamos quando algum

    induzido, enganado ou aliciado, para sair de seu lugar habitual, e

    levado pra outro lugar conhecido ou desconhecido, inclusive

    para fins de explorao sexual.

    O protocolo de Palermo, da Organizao das Naes

    Unidas, define trfico de pessoas como

    A expresso "trfico de pessoas" significa o recrutamento,

    o transporte, a transferncia, o alojamento ou o acolhimento de

    pessoas, recorrendo ameaa ou uso da fora ou a outras

    formas de coao,

    :

    ao rapto, fraude, ao engano, ao abuso de

    autoridade ou situao de

    vulnerabilidade ou entrega

    ou aceitao de pagamentos

    ou benefcios para obter o

    consentimento de uma

    pessoa que tenha

    autoridade sobre

    outra

    para fins de

    explorao. (ONU, 2000)

    Nossa professora!, exclamou Carlos. Um dia desses, eu

    estava brincando na rua, ento um carro preto parou bem do

    meu lado. Eu achei estranho, mas fiquei por ali mesmo.

    De repente, um homem abriu a janela e me chamou para entrar...

    at me ofereceu um chocolate! Eu fiquei com medo e sa

    correndo pra casa!.

    Voc fez muito bem Carlos! No podemos aceitar convites de

    estranhos, nem entrar em lugares com pessoas desconhecidas.

    assim que comea o trfico de pessoas! - exclamou professora

    Raquel.

    1110

  • Enquanto todos na sala falavam, alguns bem aliviados com a

    sorte de Carlos, Joana ficava cada vez mais calada. Quieta,

    Joana j estava h algum tempo.

    Era amiga bem prxima de Carolina, desde que entraram juntas

    na escola, no primeiro ano fundamental. Mas fazia cerca de trs

    meses que no brincava muito. Gostava de ficar sozinha num

    canto e j no participava mais, tanto, durante as aulas.

    A professora Raquel percebeu isso. Pediu algumas vezes para

    conversar com Joana, mas a menina dizia no ter nada para

    contar. Est tudo bem, falava.

    Existem vrias finalidades para o

    trfico de pessoas:

    1 - Trabalho escravo;

    2 Explorao do trabalho infantil;

    3 Adoo irregular;

    4 Servido domstica;

    5- Trfico de rgos;

    6 Trfico de drogas, pequenos furtos e mendicncia;

    7 Explorao Sexual de crianas e adolescentes.

    Nossa professora, quantas maldades

    numa coisa s!, exclamou Joo.

    1312

  • 1514

    Professora, o que mesmo esse negcio

    sexual que a senhora falou?.

    Explorao sexual de crianas e adolescentes. um

    tema bastante delicado Joana. Primeiro preciso explicar

    o que abuso sexual, onde comea o problema. O

    abuso sexual ocorre quando alguma criana ou

    adolescente forado(a) a tocar no corpo de algum

    contra sua vontade, ou quando a criana recebe toques

    e carcias sob ameaa ou violncia. Geralmente, so

    adultos que fazem isso.

    Entre a agitao dos alunos, Joana, meio sem graa,

    perguntou:

    muito importante sabermos disso: cada pessoa dona de seu

    prprio corpo. No podemos deixar algum nos tocar contra

    nossa vontade.

    Para isso, existe o Estatuto da Criana e do Adolescente, que

    garante os direitos das crianas e assegura sua proteo diante

    de alguma violao.

    Mesmo com toda a explicao, Joana permanecia inquieta.

    Professora, mas qual a diferena entre esse abuso sexual e a

    explorao?.

    A diferena entre as duas violncias est no objetivo da

    explorao sexual. O abuso e a explorao sexual so quase a

    mesma coisa. Mas a explorao sexual, geralmente ocorre em

    troca de algo, pode ser por comida, doces, por dinheiro ou por

    algum tipo de bem material, que muitas vezes no fica com a

    criana, mas com um adulto.

    O abuso e a explorao sexual so

    problemas que partem do mesmo

    princpio: a violncia, a negao de que

    as crianas tm direitos sobre seu corpo.

  • No meio daquela explicao surgiu Carolina, toda

    descabelada, saindo de um armrio colorido, onde se

    guardavam as tintas das aulas de artes.

    Foi um estrondo, pois tudo que estava guardado no

    armrio tambm saiu.

    Todos ficaram surpresos. A professora Raquel exclamou

    aliviada, Carolina, voc s estava escondida ali esse tempo

    todo?!.

    Sim professora!, respondeu a alegre Carolina, eu

    estava brincando de esconde-esconde, n!.

    Depois de contar para a professora de seu caso de abuso e

    explorao sexual, Joana foi levada ao conselho tutelar.

    O homem que explorava Joana era seu tio, e ningum na sua

    casa sabia da violncia ocorrida.

    Joana num cantinho, ainda muito quieta, estava longe de

    toda a celebrao por Carolina. A professora segue em sua

    direo.

    Ol, Joana. O que voc queria me dizer antes de Carolina

    aparecer?, indaga a professora.

    Ah, no era nada, professora., responde Joana.

    J faz um tempo que voc quer falar algo, Joana. Voc

    pode se abrir comigo, eu vou lhe ouvir.

    Chorando um pouco, Joana conta a professora: acho que

    eu sou explorada.

    1716

  • Algum tempo depois, quando as dores da memria j haviam

    sido curadas, Joana comeou a brincar com mais frequncia na

    escola, inclusive, de esconde-esconde com Carolina, que nunca

    mais sumiu.

    H buscas em que os achados so inesperados. No fim

    dessa histria, que acaba feliz e um pouco triste tambm,

    encontrou-se Carolina, que estava s escondida, e os eventos

    trgicos da vida de Joana, que estavam guardados apenas para

    si.

    Toda violao aos direitos humanos

    provoca impacto sobre a sociedade. Sofrem a

    pessoa violentada, sua famlia e todos que

    participam de sua vida. Nosso esforo de dar

    visibilidade e combater o trfico de pessoas como

    um problema social.

    Procure o conselho tutelar

    de sua cidade

    Busque apoio na sua escola,

    comunidade ou igreja

    Conte para algum em

    quem voce confie

    Disque 100 e denuncie!

    ^

    ,

    18 19

  • 20

    Para denunciar voc pode procurar qualquer

    rgo da rede de proteo a criana e ao

    adolescente de sua cidade:

    CRAS (centro de referencia em

    assistencia social);

    SAVVIS (servico de atendimento s

    vitimas de violencia sexual);

    Conselho Tutelar;

    Delegacia especializada, ou qualquer

    delegacia em seu municipio.

    ^

    ,,

    ,

    ^

    Das Pedras

    Ajuntei todas as pedras

    Que vieram sobre mim

    Levantei uma escada muito alta

    E no alto subi

    Teci um tapete floreado

    E no sonho me perdi

    Uma estrada,

    Um leito,

    Uma casa,

    Um companheiro,

    Tudo de pedra

    Entre pedras

    Cresceu a minha poesia

    Minha vida...

    Quebrando pedras

    E plantando flores

    Entre pedras que me esmagavam

    Levantei a pedra rude dos meus versos.

    (Cora Coralina)

    2121

    Apoio:

    Unio Sul Brasileira de Educao e Ensino - Irmos Maristas/ Centro

    Educacional La Salle. Manaus/ Catedral Metropolitana de Manaus/

    Parquia Nossa Senhora de Nazar - Manaus/

    Parquia Divino Esprito Santo - Manaus/ Colgio Santa Dorotia -

    Manaus/ Santurio Nossa Senhora Aparecida - Manaus/ Inspetoria Laura

    Vicua - Manaus/ Parquia militar Nossa Senhora do Sameiro - Manaus/

    Sociedade de So Francisco de Sales ( Salesianos de Dom Bosco) - SDB.

    Page 1Page 2Page 3Page 4Page 5Page 6Page 7Page 8Page 9Page 10Page 11