O Sopro contra a Tempestade

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Livro de poesias de Bruno Santos

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Copyright 2011 by Bruno Santos

Todos os direitos reservados ao autor

Projeto gráfico e capa: Manufatura das LetrasRevisão: Fabiana de Oliveira Ribeiro

1ª edição - 2011

_Santos, Bruno O Sopro Contra a Tempestade / BrunoSantos_ 1ª ed. Carmo do Rio Claro, 2011

1. Literatura Brasileira - poesia I. Título

Contato: Praça Cervânio de Carvalho, 87 - RosárioCarmo do Rio Claro - MG - CEP37150-000E-mail: [email protected]

www.manufaturadasletras.com.br

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Este livro é dedicado à minha família .

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Agradeço a Deus por me dar condições de realizar meus sonhos e por colocar as pessoas certas na minha vida.

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O Poeta não inventa nada,só recria o mundo que lhe interessa.

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Apresentação

Este livro, o primeiro reunindo alguns de meus poemas, é o sopro ou, até mesmo, o grito de alguém que quer firmar sua existência. Comecei a escrever ainda muito jovem, influen-ciado primeiro pelos letristas do Rock Nacional, muitas vezes considerados poetas. Raul Seixas, Renato Russo, Cazuza e Humberto Gessinger são algumas das referên-cias iniciais. Apesar de desde muito jovem ter me dado bem com as artes visuais, a escrita e a leitura sempre es-tiveram presentes na minha formação. Acredito que a pa-lavra, escrita e falada, é o maior instrumento da revolução e evolução. O Sopro contra a Tempestade reúne poesias de várias épocas e idades diferentes. Há textos com igenui-dade e outros com indícios de uma procura maior pela poesia e não somente pela mensagem. Têm versos que denotam uma ligação com a temática das referencias citadas e outros que são só palavras que por si em seu contexto agregam melodia e significados. Alguns dos po-emas deste livro foram publicados em antologias, jornais literários e em muitos fanzines, inclusive no Portas Para Poesia & Prosa, alternativo cultural que produzi por al-gum tempo. Sempre me envolvi com as questões artísticas das mais diversas. Creio que a arte seja o caminho que a alma encontra para transformar as pessoas e essas por sua vez transformam o mundo. Sem mais delongas, já que a intenção desse livro é recortar a poesia do momento, vamos a leitura! Abraço... Bruno Santos

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Sumário

O Sopro contra a Tempestade - 15Eu não me levanto por pouco - 17Divagando - 18A Espera - 19Amor leão - 21A lua e a flor - 22Sem pagar por esse crime - 23Minhas asas tortas - 25Inverno - 26O Carteiro - 27Vinte e três e quarenta e oito - 28Filha - 29Amigos - 30Noite que cura - 31Palavras rarefeitas - 33Dia chuvoso - 34Noite feminina - 35Abismo - 36Quanto vale à poesia - 37Falta poesia - 38Palavras carnívoras - 39Segredo - 40Ode ao solitário - 41O início - 43Cata-vento - 44O que quero - 45Título de Estatística - 46Doze Vozes - 49Brinquedos Quebrados - 51

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Para alguém além das oitos horas de trabalho - 52Casa caiada - 54A casca de ovo - 56Boa noite amor, boa noite lua - 57Moça mexerica - 58Ledo leitor - 59

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O sopro contra a tempestade

Os donos do mundomaquinam o futurodos incapazese as Marias que conheçochoram as dores de todos.

Aos poucos as pessoasrecuperam a esperança,aos poucos as criançasvoltam a brincar.Brincam de salvar o mundoos adultos brincam de fazer guerra.

A cultura de massaesmaga meus anseios,rompe com o individual,captura os fracos de opinião.

Aos poucos as pessoasrecuperam a inocência,aos poucos as crianças,recuperam a infância.

Bem aos poucos deixamos de engolir o que a tempestadenos empurra.

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Nascemos para pagar alguns pecadose fazer mais um tanto.

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Eu não me levanto por pouco

Sem sapatos caminho por esta terra que sangra,procurando a frase feita, esquecida no passado.Eu não me levanto por pouco,escrevo nas pedras meu último ato.

Você acredita no que existe de erradoe não se preocupa em começar do jeito certo.Quero estar com você, mas não encontro meu relógioe não posso sair de casa, pois chove... balas perdidas!

Três semanas, estou vencendo meu vício,na rua aprendi a olhar sempre para o lado certo.Um caminho termina quando se descobre outro,eu nunca, jamais me levanto por pouco.

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Divagando

Hoje imagineique daqui a alguns anos vou lembrar-medesse dia como o dia em que comprei meu rádiopara ouviraquela canção que me faz lembrar você.Ouvi incansáveis vezesprocurando o exato acorde, a sílaba tônicaque antecedeu o beijo.O beijo...o único antes da partida,o beijo de despedida.O adeus.

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A espera

A luz da lua escorre pelas frestase ilumina meu olharlímpido e vazio...a espera.

A dose de silêncio que me tonteiarevirado na penumbra num discurso interno sobre o nada.

A dissonância do ventoem desarmonia com a melodiaque se passa entremeus pensamentos...que vontade de me libertar!

A cidade grita lá fora.Grita tanto! Isso me irrita.

O que posso fazer sem estar no poder?O que me sobrase já doei tanto?O que esperam de mimse já não me importo?

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Sentado, cego,com o silêncio ligado no último,não sinto mais nada,sinceramente.

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Amor leão Hoje,estou sem voz.Parece que ser qualquer bichoé mais fácil queser eu mesmo.Não ouço nadadigo muito menos.Vejo pássaros, borboletas...queria ser simples como os bichosque vivem por instintoe não por amor.

Hoje,não queria me levantar,embora o sol me ordenassee os pássaros me chamassem.faltava saber por que me levantar.Então me lembreique é minha vida ,se eu não vivê-laninguém vai,se não beber dessa água morro de sede.E com um instinto animaldesperto para esse dia,que ainda me rasga por dentro,mas me ensina a encararesse leão que é o amor.

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A lua e a flor

A flor é vermelha porque ninguém consegueroubar-lhe a cor.A lua é clara porque ninguém consegue ofuscar sua luz.

A água me limpa e me faz sentir frio. O vento que sopra traz-me lembranças.A mão que me ajudame da um tapae eu realmente vejocomo o mundo gira.

O rio vai até o mar,vou até Deus.O mar perdoa o rio e o acolhe.Deus conversa comigoe me manda de volta.

Na verdade a flor está vermelha de vergonha de umbeija-flor que a olha.A lua está claraporque no palco da noite as estrelassão vaga-lumes.

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Sem pagar por esse crime

Tudo na minha vida passa,tudo vai e se esvai.Só fica você na minha lembrança,só você me interessa.Em um dia inteiropenso em vocêpor todos os momentos.Não dou o passo seguinte sem antes buscá-la.Se ganho uma moeda compro uma rosa pra dar a você.Eu e meus sonhos.Você e eu.Depois que a vejoesqueço de viver.Tudo é o momento, tudo é espontâneo.Buscá-la nas estrelas,escondê-la numa ilha,cobri-la com a seda,que veio da China.Levá-la a Gréciaentregá-la aos deusesroubá-la pra mim sem pagar por esse crime.Sem pagar por esse crime.Meu bem,em todos os meus sonhos está você.De tudo que desejo, desejo-a mais,por isso lhe digo sempre,tudo na minha vida passa e só fica você.

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Jogo poeira nos olhos do ventoe ele chora achuva que fazbrotar a semente do futuro.

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Minhas asas tortas

Quando te encontreitentava sair do meu mundo e cai no seu.Cai machucado,mas você, tão bem, me acolheu.

Tenho sempre o violão por perto, pois, é com ele que às vezes conversopor horas e horas.

A noite instiga novos versos,um acorde perfeito, um beijo, quem sabe o começo.

Minhas asas tortasnão me deixam partir.

E você, meu bem, me acolheu.

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Inverno

Dias frios.Pessoas de olhares frios.Sorrisos e bocejos,bons-dias e silêncio.

Homens de corações frios.Atitudes precisas,índole duvidosa.

O gosto pela vidanão esfria.Não esfria o gosto por você.

De manhã até a luz é fria.

Por ora espero dias quentes.

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O Carteiro

O carteiro passoue não me deixou nada:nem carta,nem cobrança.(Ainda bem!).

Gosto de receber cartas contando-me como estáo outro lado do mundo,ou uma propaganda com desconto.

Mas, hoje nada recebi.Será que alguém está pensando em mim?

Talvez amanhã eu receba uma carta.Quem sabe apaixonada?

Enquanto espero, escrevo esse poema.

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Vinte e três e quarenta e oito

Deixa,Eu sinto muito!Muito pesoPra pouca força.A noite é meu alívio.Meu suspiro. Meu egoísmo.Minhas mãos, Meus sentidos. Minha boca,Meus delírios.Meu medo, Cheio de segredos.Meu sorriso,Com desejo.Todos os ladosMisturados. Todos os rostosConhecidos.Todo lugar,Tão perto.Toda saudade, Tão longe.

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Filha

Era como um beija-flor!Aquele aniversário, a lembrança que ficou.Você chora, eu não entendo,mas logo passa.Aquelas manhãs sincerascom seu “olá” carinhoso.

Um sorriso tão próprio,o olhar no meua vontade de abraçar.Num mundo tão grande, um pequeno universoque vive em mim.

Tão crescida já não é só minha...18 anos, olhar indefinido,chora semprequando implico com seu namorado.Não a reconheço...

O sorriso tão próprio,o olhar no meu,a vontade de matar.O plano perfeitode uma alma imperfeita.Meu coração sangra lágrimasque escorre pelos seus pés.

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Amigos?

Amigo! O que está fazendo?Ah! Que dor na nuca...Não me corte.Por que esta fazendo isso?Oh! Meus olhos, você os furou.O que esta acontecendo?Estou sendo arrastado,meus pulsos ardemalgo quente escorre,sinto as formigas me devorando.Meu amigo, não me deixe,não quero morrer aos seus olhos.Estou sendo envolvidoEm uma coroa de espinhosfrio como arame farpado.Não me corte.Uma última gota de vida.Não me corteCom sua arma branca.Não me corte,Amigo, volte!Pai, mãe, socorro!Sinto, estou abandonado,com medo,está frio, mas o sol ainda está alto.Minha morte pela sua vingança. Meu perdão pela sua tortura.

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Noite que cura

Serenas noites delgadasÉ a ouvinte paciente Em minhas horas conscientesDas conquistas agregadas.

Sirva-me tua suavidade, Sua escuridão vasta,De angústia, basta,Tira-me a cumplicidade.

Quero com o milagre da vidaExercer a poesiaCom tamanha maestria, Como que carícias são conseguidas.

Mas meus olhos se fecham,O descanso é sublime.Minha feição exprime,Meus sentidos se mesclam.

Guarda-me, guardiã,Com seus milhares de olhosEscondidos entre galhos.Noite, minha irmã.

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Se sentir que está andando para atráslembre-se que para dar um grande saltoé preciso impulso.

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Palavras rarefeitas

As sombras se mexem...meros fantasmas artificiais.Mergulhado no silêncio,em pensamento,roubo um beijo seue ganho outro.

O mundo volta a ser monocromático,manhãs em tons de cinza.Ao meio dia, rasga com tudo,derramando, no peito, a preguiça e o suor.

No deleite do esquecimentofugindo do eupara minha incógnita,um “x” na questão.

Anjos de asas partidasesperam no ponto o ônibus espacial,que leve para as estrelas,que encontre uma saída.

Num movimento de rotaçãoregresso a mão que teima em escrever palavras rarefeitas.Minha mente, minhas mãos, a canetae algo suspenso.

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Dia chuvoso

A chuva me isolaem minha ilha, conectada ao mundo.Mudo.Ouvindo o único sopro,o único ruído:meu pensamento.

Lá fora o mundo desaba:raios, trovõesum friozinho...É confortantee seguroembaixo do meu cobertor.

Dia chuvoso!Inundou meus ouvidos,molhou meus segredos, trouxe-me paz e tédio.Deixou-me uma pergunta:Haverá sol amanhã?

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Noite feminina

Noite feminina,diverte-se com minha timidez:língua ásperaroçando o corpo nu.Quais verdades estão em jogo?Na aurora perco-lhe sempre.Reencontro-a diferente.Quantos segredos guarda o tempo da sua existência?Ainda não tenho sua confiança,daí, seu silêncio.

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Abismos

Onde está você?Pulei no abismofundo, profundo,reduto de fobias.Dê-me a mão, estou me afogandona sua boca seca.Seus dentes me apertam como doce de amendoime você sabe que sou mais que isso.

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Quanto vale à poesia?

Pena que a poesia não serve como moeda para comprar o leite.Nem tampouco é aceitacomo penhora ou permuta.O que valem essas palavras juntas?Quem compra o livro paga a poesia?Por acaso alguém sabequanto vale esses versos?

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Falta poesia

Falta poesia!Que vontade de arrancara palavra engasgada na garganta.Esses versos que me enjoam o estômago.A métrica do meu caminhar rimando com a sede de beber a rima amarga.

Falta poesia no meu café!Amargo como o vento do ventilador,artificial como gosto de batom.Falta poesia no rádio!Irritante como uma mosca cega,tonta como um cão famintona rua que atravesso para o trabalho.

Eu nem queroir por essa rua disforme.Será que nos campos encontro as rimas de que preciso?Falta pouco para concluir o verso,mas falta a poesia do momento.

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Palavras carnívoras

O papel continua branco,tão vazio quanto o fundo dos seus olhos.A boca continua surda.A mente continua muda.

A ausência se transforma em poesia.Assim como o vento leva os sonhos,meu silêncio grita contra a noite.

A saliva amarga queima as palavrasque são jogadas contra a parede.O cheiro viciante do bluesescorre pelos ouvidose respinga no papel,ainda em branco.

Então escrevo o nome dela.Não passo da primeira letra:o “a” de amor,ou “a” de adeus,de “a” – manhã...

Prefiro o “a” de almaQue é o que tenho de intocável,é o que mantém o papel em branco,pois, se o sentimento não é bomas palavras serão carnívoras.

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Segredo

Eu tinha um segredo.Por descuido pensei alto.Havia alguém de orelha em pé,então todos ficaram sabendo.A lua não foi,pois o céu estava nublado,talvez a coruja ou o gato.Não confie na lagartixa que te espreita no banheiro,nem nas formigasque andam pelos cantos.Não deixe a janela abertaem noites mudas,nem ande por trilhas cegas,pois me disseram que às três da manhãos caminhos mudam de rumoe quem fala o que não deveacorda de pé torto.

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Ode ao solitário

Cabelos caindotransformando-se em pegadas.Noites latidas,horas avessas,bocas sem línguas,silêncio caladode quem está só.

Somente os respingosde um pensamento inacabado.Somente a crençano avanço do tempo.A condição de ficarno passado,a aceitação de ser tão humano.O vício de insistir no erro, por falta de enxergar os objetivos.

Oh, quanto ar seco!Noites mal dormidassão como portas entreabertas:entram insetos e vento frio,saem os restos, as sobrasde um pensante solitário.

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A verdade é casada com a amizadeque busca na saudadeuma vontade de mentirpara o coração.

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O início

No inícioexistia o murmúrio:cacos fonológicosde uma intenção rasade socialização.A pólvora estava no ar,faltava a fagulha.Sim, havia trevas,não a escuridão,mas o vácuo de argumentos.Ouvia-se um ruído roco,uma tosse seca que precipitava do céu.Ainda não existia as trilhas e passagens,era tudo virgem e nu.Foi muito tempo até o primeiro passo do bicho homem.Um passo torto!Continuou entortandopor todo sempre.

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Cata-vento

O cata-vento observaa pedra sonharser a pedra de Drummond.Consola a vontadeda pipa ser livre.Sente saudades do tempo que erabrinquedo disputado.É o primo pobre do ventilador desconfiado.Engole o vento com a sede de turbina,porém tem o silêncio dos sábios.O cata-vento cata suspiros em momentos soltos.Mas, um dia ele pende e cai ao lado,fica triste,como galho que perde-se de sua árvore.

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O que quero

Uma realidade menos tortaé o que quero.Uma noite menos mortaé o que quero.Saudar a vida ali na esquina,admirar a moça que passa,abrir a porta para um amigoé o que quero.Deixar dois dedos de prosae um verso de minha poesiaé o que quero.Deixe-me na rua por mais uma hora,pois caminhar agoraé o que quero.E a lua miae as estrelas uivam.Mudar o ritmo da cançãono meio do refrãoé o que quero.Assoviar junto com os pássarosem completa desafinaçãoé o que quero.Ser tão comum como um poeta sem rimasé o que tento ser.

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Título de Estatística

O menino tem fome,só lhe dão palavras sem mioloque não sustentam sequerseus ouvidos sujos.

É preciso protocolar o pedido de socorro do menino faminto.

Seu calcanhar é áspero,pois o arrasta pelocimento da solidão.Seu colo a noiteé banco duro e frio,seu carinho é vento gélido.

O menino tem florese um sorriso.

Junta os pedaços da cidade e remonta sua casa.Conhece os melhores lugaresonde os pássaros cantame a lua surge.

Unhas pretas,olhos opacos, dentes amarelos,voz firme de criança.

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Hoje é umdia importante:o menino ganhouTítulo de Estatística.

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Seu ódio destila pimentaque escorre de sua bocacai nos meus olhos eArde pra caramba!

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Doze Vozes

Doze vozesvorazespor vez vestiam em verdadeo cânticovitorial.

Avisavama todos osdesprovidos decompreensãoque podiam serdesprendidos de qualquerparadigma.

Para viverem como quem ripor nada,para escolheremnão haverdisputas.

Doze vozes em metáforasvocalizavamvontades escondidasvindas vagamentede mentes em vidro.

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Vitrolas chiadasevocavamcanções que soavamcomo voo natural,talvez umapossibilidadepara aquelesque tem visãode águia.

Para viverem como quem ripor nada,para escolheremnão haverdisputas.

Doze vozesemanavam sussurrosvacilantesnas mentes delirantesdas pessoas presasnos escritóriosem altos prédios,trampolim para a verdadeira viagemdo homem sobreele mesmo.

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Brinquedos Quebrados

Eu tinha sonhos,lembro-me delescomo brinquedosquebrados. Brinquedos trocadospor programas de tv em preto e branco.Quando somos fracosos sonhos pulam fora,são simbióticos.Engolem o fôlegoem noites urinadas.A garganta dóicomo sonhos desfeitos,meus ouvidos doemcomo sonhos surdos,meu dente dói como sonhos estragados.No quarto escuroos sonhos são cegos,nem por isso menos perceptíveis.Eu não tinha noção dos desvios da vida:que a cada etapa mudam-se os sonhos.Meus brinquedosQuebrados,guardados...Eu tinha sonhos e brinquedos quebrados.

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Para alguém além das oito horas de trabalho

Guarda-teem suspirosdevaneios e fetiches.

Encha sua banheira e mergulhe noabsinto da castidadenuacrua ferida em prantos.

Corpo de pecado urbanoolhos cegantescomo faróis altos.Voz maculadade feições ternas. Lábios voluptuososadocicados pelo humor das plantas.

Engana a vontade de se afogar em desejos.Desejo de se entregar aos beijosrolar na cama de labirintoprocurando o prazerno escuro dos olhos fechados.

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Afogo-me na saliva,escorro entre os dedos caindo na real.Já não é medo te perdermas vontade de reconquistar-te.

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Casa Caiada

Casa caiadacal que corrói os ossosossos oxidadosjogando os dadosapostando os dentes.

Lá em casa tem dois pés de mangae uma camisa regata.naufrago em copo rasoafogo moscas desacordadas.

O céu retorcepra cair um pingo d’águalava minha sedeleva a sujeira dos meus pés acumulada.

Meu quintal tem buracose rugas por toda parte.Vez por outra formigassaltam de pára-quedas.Invadem meu canteiro desplantado.Em fila, formam desenhos abstratos.

Paredes zonzasespirrando a calque entope seus poros.A língua salivandocomo tapetes em dias de chuva.

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A casa se reconstróia cada novela,o dia-a-dia da gente.Personagens redondosrodopiando em final feliz.

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A casca de ovo

Desejo oco.Fome guardada em sacos plásticos,quilos de sobrevivência em cascas de ovos.Ovos trincados vazios de vida e alimento.

Desejo louco.Libido censurada em TVs de plasma.O que te afoga é o desânimo e a matemática:resolver as equações do tempo sem se levantar,quebrar as janelas de vidrosangrar até a vertigem,comer bananas para disfarçar.

Desejo oco.Fome descartada.Sobrevida compradaa prestação.Ovos de vida inerte,fritos e remexidos são.Dedos que seguram a vida em casca.A casta ainda define a cor da casca do ovo.

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Boa noite amor, boa noite lua

Eu, esperando um carinho;tu te entregaste ao sono.Eu, um ledo leitor dos poetas desatinos;tu em sonhos intangíveis, torrenciais.Eu, olhando-a em momentos trôpegos;tu em nacarados suspiros, nuances faciais.Eu, desatento quanto ao sopro do vento;tu em sono corrente, benevolente de sentimentos, talvez.Eu, um altivez, de beijo na fronte suaboa noite amor, boa noite lua.

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Moça Mexerica

Quero chupar mexericarasgando o gomocom meus dentes de pedra.No interior de Minas Geraisonde corre o rio,cai a cachoeira.Ah, maldita da mexerica azeda!

Quero beijar a moçarasgando sua roupacom meus dedos de canivete.No interior de um bordelonde corre o suore cai a vergonha.Ah, maldita dalibido medonha!

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Ledo leitor

Ledo leitorde livres livrosde revistas vistasde poemas retóricos,fatos históricos (empoeirados).

Leitor de romances,nuances de umolhar clínico, líricode descobertas alheias.

Ledo leitorprocura saídanas páginas inversas.

Vai de conversasem conversas

Encontrar os finais felizes.

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