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O SISTEMA DE ESCRITA JAPONÊS: ALÉM DA FALA Leonardo Boiko 1 1 INTRODUÇÃO Na linguística teórica, a área dos sistemas de escrita estuda formalmente o funcionamento das várias escritas do mundo. 2 Neste campo, a escrita japone- sa tem gerado opiniões contraditórias e debates acirrados (LURIE, 2006). Por um lado, vários linguistas se posicionaram criticamente: o sistema japo- nês já foi descrito como “o mais complexo do mundo” (COULMAS, 1989, p. 122; SPROAT, 2000, p. 132); o “mais oneroso” (UNGER, 2004, p. 11); “um dos piores jamais criados” (DEFRANCIS, 1989, p. 138); “certamente sem inferiores” (SANSOM, 1928, p. 44), e assim por diante. 3 As críticas mais comuns são as de que o sistema exige a memorização de milhares de caracteres; que esse esforço seria inútil, já que algumas dezenas são suficientes para representar qualquer palavra pelo som, como se faz na maioria das escritas; e que os ca- racteres japoneses podem ter leitura ambígua, sendo difícil prever qual a corre- ta (SMITH, 1996, p. 214). Por isso, vários autores acreditam que a escrita japo- nesa teria consequências sociais negativas, e deveria ser simplificada. Por exemplo, Unger defendeu que a escrita japonesa causaria dificuldades de aprendizado, aumentando o suicídio infantil (UNGER, 1987, p. 94–95); Unger e DeFrancis argumentaram que ela é difícil de processar digitalmente, o que di- minuiria a competitividade do Japão na informática (DEFRANCIS, 1989, p. 266–268; UNGER, 1987); e Hannas afirmou que seu aprendizado por memori- zação reforçaria o conformismo, prejudicando a inovação científica (HANNAS, 1997). Por outro lado, o Japão é uma sociedade de alto índice de letramento, que tem feito uso criativo e lúdico de sua escrita desde a antiguidade até hoje 1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Língua Japonesa da Faculdade de Filoso- fia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, orientado pela Prof.ª Dr.ª Leiko Matsubara Morales. Endereço eletrônico do autor: [email protected] . 2 Neste artigo, definições serão destacadas em negrito. Para uma introdução ao estudo dos sistemas de escrita, ver e.g. Sampson (1985), Bright & Daniels (1996), ou Rogers (2004). 3 Esta amostra de comentários negativos foi extraída de uma lista maior compilada por Terry Joyce (JOYCE, 2012).

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O SISTEMA DE ESCRITA JAPONÊS: ALÉM DA FALA

Leonardo Boiko1

1 INTRODUÇÃO

Na linguística teórica, a área dos sistemas de escrita estuda formalmente

o funcionamento das várias escritas do mundo.2 Neste campo, a escrita japone-

sa tem gerado opiniões contraditórias e debates acirrados (LURIE, 2006).

Por um lado, vários linguistas se posicionaram criticamente: o sistema japo-

nês já foi descrito como “o mais complexo do mundo” (COULMAS, 1989, p.

122; SPROAT, 2000, p. 132); o “mais oneroso” (UNGER, 2004, p. 11); “um dos

piores jamais criados” (DEFRANCIS, 1989, p. 138); “certamente sem inferiores”

(SANSOM, 1928, p. 44), e assim por diante.3 As críticas mais comuns são as

de que o sistema exige a memorização de milhares de caracteres; que esse

esforço seria inútil, já que algumas dezenas são suficientes para representar

qualquer palavra pelo som, como se faz na maioria das escritas; e que os ca-

racteres japoneses podem ter leitura ambígua, sendo difícil prever qual a corre-

ta (SMITH, 1996, p. 214). Por isso, vários autores acreditam que a escrita japo-

nesa teria consequências sociais negativas, e deveria ser simplificada. Por

exemplo, Unger defendeu que a escrita japonesa causaria dificuldades de

aprendizado, aumentando o suicídio infantil (UNGER, 1987, p. 94–95); Unger e

DeFrancis argumentaram que ela é difícil de processar digitalmente, o que di-

minuiria a competitividade do Japão na informática (DEFRANCIS, 1989, p.

266–268; UNGER, 1987); e Hannas afirmou que seu aprendizado por memori-

zação reforçaria o conformismo, prejudicando a inovação científica (HANNAS,

1997).

Por outro lado, o Japão é uma sociedade de alto índice de letramento, que

tem feito uso criativo e lúdico de sua escrita desde a antiguidade até hoje

1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Língua Japonesa da Faculdade de Filoso-fia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, orientado pela Prof.ª Dr.ª Leiko Matsubara Morales. Endereço eletrônico do autor: [email protected] .

2 Neste artigo, definições serão destacadas em negrito. Para uma introdução ao estudo dos sistemas de escrita, ver e.g. Sampson (1985), Bright & Daniels (1996), ou Rogers (2004).

3 Esta amostra de comentários negativos foi extraída de uma lista maior compilada por Terry Joyce (JOYCE, 2012).

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(SEELEY, 1991, p. 51–53; LAMARRE, 2000, p. 15–; ARIGA, 1989; LEWIS,

2010). Veremos alguns exemplos desta criatividade na seção final deste artigo.

Em uma pesquisa de opinião do governo japonês, 72.4% dos entrevistados jul-

garam os caracteres japoneses “indispensáveis”; e uma média de 91.3% afir-

mou não ter dificuldade para lê-los em jornais, revistas e Internet (AGÊNCIA

PARA ASSUNTOS CULTURAIS, 2010). Historicamente, existiram grupos japo-

neses que defenderam a simplificação da escrita; mas eles sempre foram mi-

noritários, e a sociedade contemporânea não parece estar incomodada com o

sistema de escrita nem preocupada em reformá-lo (UNGER, 1996, p. 127).

Nossa pesquisa partiu da observação da discrepância entre esses dois pon-

tos de vista. Por que tantos especialistas julgam negativamente a escrita japo-

nesa, e ao mesmo tempo seus usuários não se incomodam com ela? Nosso

principal objetivo é investigar os argumentos contra e a favor desse sistema de

escrita, e examinar suas consequências para a teoria. Outro objetivo é enten-

der se há vantagens no sistema de escrita japonês, e quais seriam.

Lurie (2006) observou que crítica da escrita japonesa está associada a um

discurso que contrapõe a linguística enquanto disciplina a outras áreas, ou

seja, a um debate disciplinar. Segundo o autor, muitos dos debates sobre o

tema foram travados por linguistas contra estudiosos percebidos como “de

fora”. Por esse motivo, nossa metodologia principal é o levantamento bibliográ-

fico. Embora nosso foco seja a teoria linguística, é produtivo considerar traba-

lhos da crítica literária, dos estudos culturais, da neurolinguística, da filosofia da

linguagem etc., pois cada uma dessas perspectivas esclarece aspectos diferen-

tes da escrita japonesa. Esperamos com isso oferecer uma modesta contribui-

ção ao diálogo interdisciplinar.

2 RELAÇÃO ENTRE FALA E ESCRITA: DUAS ABORDAGENS

Nossa hipótese de trabalho é que linguistas como os citados criticam a escri-

ta japonesa para defender o paradigma sob o qual trabalham, isto é, o progra-

ma de ciência no qual estão investidos4. Em particular, a crítica pode ser uma

forma de defender o princípio teórico chamado primazia da fala. No paradigma

atualmente dominante na linguística, associado a Chomsky e à escola gerati-

4 O conceito de paradigma científico foi proposto por Kuhn (1996).

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vista, a linguagem é considerada uma capacidade inata da espécie humana, bi-

ologicamente pré-configurada na estrutura do cérebro (CHOMSKY, 2004;

PINKER, 2010). Uma evidência importante para essa teoria é a aquisição lin-

guística: todos os bebês adquirem espontaneamente qualquer língua a que se-

jam expostos, independente da inteligência individual, e mesmo sem instruções

gramaticais (GLEITMAN; NEWPORT, 1995). Este processo “natural” de aquisi-

ção, porém, só se dá através da fala ou (no caso das línguas de sinais) de ges-

tos; nunca pela escrita. A escrita precisa ser aprendida depois, com instrução

explícita e esforço consciente. Por isso, linguistas dessa orientação rejeitam a

expressão “língua escrita”; a escrita não faria parte desta capacidade biológica

chamada “linguagem”; ela seria “meramente” um artefato cultural, com a função

de “gravar a linguagem através de marcas visíveis” (BLOOMFIELD, 1933, p.

21). Ou seja, a escrita seria, nas palavras do título de DeFrancis sobre o tema,

a fala tornada visível (DEFRANCIS, 1989). Chamaremos este modelo da escri-

ta como transcrição da fala de modelo transcricional.5

A postura teórica oposta é a autonomia da escrita, associada sobretudo à

escola funcionalista de Praga. Para Vachek, a função da escrita é fundamental-

mente distinta. A fala tipicamente serve para interação conversacional e tem-

porária. Já a escrita foi feita para comunicação durável de audiência ampla;

para clareza de sentido; e para facilitar a visão panorâmica (surveyability). Essa

distinção funcional faria com que, em sociedades letradas, a escrita evoluísse

para além da simples representação da fala, tornando-se um sistema autôno-

mo com características formais próprias (VACHEK; LUELSDORFF, 1989, p. 1–

8; 56–60). Tratando do mesmo tema, Nunberg observa que, mesmo que a es-

crita não seja parte da “capacidade natural” da linguagem, suas estruturas pró-

prias podem ser analisadas com as ferramentas teóricas da linguística; ou seja,

embora seja um sistema próprio, a escrita faz uso dos princípios da língua; é

uma “aplicação” da capacidade de linguagem (NUNBERG, 1990, p. 1–7).

Os defensores da primazia da fala estão, é claro, cientes que existem ele-

mentos na escrita que não correspondem a nada na fala (como a pontuação, a

tipografia, ou a organização bidimensional em tabelas). A diferença está na

5 A proposta de que a escrita seria “meramente” uma representação da fala não se originou com a ênfase biológica atual, mas é um tema antigo no ocidente, remontando a Aristóteles; na linguística moderna a ideia foi defendida por estruturalistas como Saussure e Bloomfield, terminando por chegar no gerativismo. (INGOLD, 2000, p. 247)

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centralidade: no modelo transcricional, os elementos autônomos são considera-

dos periféricos ou excepcionais, e não mudariam o fato que a escrita seria fun-

damentalmente um registro da fala. Já para o modelo da escrita como autôno-

ma, o papel desses elementos é crucial e não pode ser subestimado. Acredita-

mos que a escrita japonesa é particularmente rica em elementos que vão além

da fala, de forma que o modelo da autonomia é mais adequado para ela. Nossa

abordagem para demonstrar isso é a coleta de exemplos: se for possível mos-

trar que os elementos autônomos são sistemáticos, o modelo transcricional se

revelará limitado demais para abranger os fatos. Isso significa que a escrita ja-

ponesa é de grande interesse teórico para a área de sistemas de escrita.

O restante deste artigo se dedica a ilustrar concretamente os conceitos dis-

cutidos até agora. Vamos primeiro comparar o funcionamento da escrita japo-

nesa com outras, para entender por que ela é considerada tão complexa. A

principal distinção está na relação dos símbolos gráficos com os planos da lin-

guagem: o som e o sentido. Isso é analisado na seção 3 a seguir. A seção 4

apresenta exemplos do potencial expressivo peculiar ao sistema japonês.

3 SISTEMAS DE ESCRITA E OS ELEMENTOS DA LINGUAGEM

3.1 A dupla articulação da linguagem: Fonemas e morfemas

Uma escrita representa enunciados de alguma língua usando marcas gráfi-

cas. Existem várias técnicas para isso, mas uma diferença importante está em

quais elementos básicos da linguagem correspondem a cada marca. Para en-

tender isso, será útil rever quais são esses elementos básicos da linguagem.

A linguagem humana associa dois planos: sons (ou gestos, nas línguas de

sinais) e sentidos. Porém, não é o caso que qualquer som ou gesto possa ser

associado de qualquer maneira a qualquer sentido; há uma estrutura em níveis.

Cada língua estabelece um conjunto de símbolos elementares, os fonemas,

que não têm sentido próprio. Esses fonemas são combinados para construir

unidades mínimas de sentido, os morfemas. Os morfemas, por sua vez, são

recombinados em palavras, que compõe frases. A linguagem funciona como

um brinquedo de montar, no qual blocos básicos indivisíveis e sem significado

(os fonemas) são combinados em unidades maiores significativas, como “mu-

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lher”, “cão” etc. (os morfemas), os quais por sua vez permitem representar sig-

nificados compostos mais complexos. Esta estrutura em dois níveis foi chama-

da por Martinet de dupla articulação da linguagem (MARTINET, 1984).

3.2 Escrita baseada em fonemas: a fonografia

Consideremos alguns sons linguísticos, e como eles seriam interpretados

em português e em japonês. Na tabela abaixo, os sons estão representados

pelo Alfabeto Fonético Universal (IPA) (IPA, 1999):

Tabela 1: Fonografia

Alfabeto fonético (IPA)

PortuguêsJaponês

Romanização Kana Sentido

[ka a]ɾ cara kara から “a partir de”

[kala] cala kara から “a partir de”

[to u]ɾ touro toru とる “pegar”

[to u]ːɾ touro tōru とおる “atravessar”

O alfabeto que usamos no português (e na maioria das línguas europeias)

veio da escrita do latim, sendo chamado por isso de “latino” ou “romano”. No

caso do japonês, existe mais de uma forma de grafar as palavras; acima temos

exemplos da escrita “romanizada”, que usa o alfabeto latino, e também da es-

crita nativa chamada kana.

Note que há correlação entre os sons e as várias grafias. Por exemplo, nas

palavras portuguesas “cara” e “cala”, cada letra corresponde a exatamente um

som: “c” a [k], “r” a [ ], etc. Porém, a distinção entre os sons das linhas 3 e 4ɾ

não aparece na escrita portuguesa. A diferença está na vogal [o], curta, e [o ],ː

longa; mas no caso do português essa diferença não muda o sentido da pala-

vra, que nos dois casos é entendida como “touro”. Ou seja, a escrita não está

marcando qualquer som, mas apenas os sons que são relevantes para o senti-

do. Esses sons são chamados fonemas, e uma escrita que grafa os fonemas

chama-se fonográfica.

Cada língua usa um conjunto específico de sons como fonemas. Observe o

caso do japonês na tabela acima. Nas duas primeiras linhas, cada som corres-

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ponde a uma letra distinta do japonês romanizado—mas com uma exceção:

não aparece a distinção entre os sons [ ] e [l], são ambos grafados com a letraɾ

“r”. Isso é porque, no japonês, essas duas consoantes não mudam o sentido, e

portanto a escrita romanizada, que é fonográfica, não registra a diferença. Por

outro lado, a diferença entre o [o] curto e o [o ] longo altera o sentido (é “fonolóː -

gica”), e por isso aparece na escrita; no caso, como um sinal (mácron) acima

da letra “o”.

O japonês romanizado só é empregado em situações restritas. Normalmente

a língua japonesa é escrita em uma mistura de caracteres chineses, chamados

kanji, com caracteres nativos, os kana. Descreveremos os kanji na seção 3.4,

que também traz exemplos da escrita mista; considere agora os exemplos de

kana na tabela acima. Assim como o alfabeto romano, o kana é fonográfico, ou

seja, representa os sons que são importantes para sua língua. A diferença está

no tamanho típico da sequência representada; enquanto o alfabeto geralmente

usa uma letra por fonema, cada kana normalmente representa um par conso-

ante+vogal (ou uma vogal isolada):

Tabela 2: Tamanho em fonemas da escrita japonesa kana

か[ka]

ら[ a]ɾ

と[to]

る[ u]ɾ

と[to]

お[o]

る[ u]ɾ

A maioria dos caracteres corresponde a dois fonemas, e não há caracteres

para consoantes isoladas6. Não há, por exemplo, um símbolo para o som [ ];ɾ

apenas sequências como [ a] ɾ ら ou [ u] ɾ る, grafadas em símbolos indivisíveis.

Comparando as tabelas 1 e 2, vemos que, assim como no caso do japonês

romanizado, a escrita kana não distingue [ a] de [la]; como essas duas consoɾ -

antes são consideradas o mesmo fonema, as duas sequências são fonologica-

mente equivalentes, e portanto são representadas pelo mesmo caractere ら .

6 Com uma exceção: A nasal /N/, quando ocupa sozinha uma unidade de tempo ou “mora”. A escrita kana é dita “moraica”, porque tipicamente emprega um kana por mora. Para mais detalhes sobre moras ver descrições da fonologia do japonês; e.g. Tsujimura (2006), p. 58.

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Por outro lado, note que a vogal longa em [to ru], por ser fonologicamente disː -

tintiva, está marcada na escrita (ao contrário do português). A convenção neste

caso é seguir o caractere [to] と com o caractere que normalmente representa-

ria um [o], お ; essa sequência とお denota os fonemas [to ]ː (também pode-se

usar a letra [u] う para este fim, o que é mais comum que usar o [o] お).

A técnica da fonografia é a mais difundida nas escritas mundiais; porém,

quase nenhuma escrita é 100% regular. Por exemplo, a ortografia portuguesa

geralmente emprega uma letra por fonema; mas também há sequências de

duas letras para um só som (“malha”), letras que representam mais de som

(“fixo”), que não representam som algum (“hoje”), etc. Essas irregularidades

geralmente se devem: 1) a adaptações das escritas para línguas diferentes; 2)

às mudanças linguísticas; e 3) a uma certa inércia inerente à escrita (DEFRAN-

CIS, 1989, p. 262). Algo semelhante aconteceu com a escrita kana, que embo-

ra seja bastante fonográfica, possui certas adaptações e irregularidades. Uma

análise detalhada foge ao nosso escopo; ver e.g. Hansell (2002), p. 131–133.

3.3 Morfemas

As escritas que vimos até agora, incluindo o japonês kana, baseiam-se nos

sons da linguagem, isto é, nos fonemas. O que torna a escrita japonesa mais

complexa é que ela também pode se basear no sentido. Para entender como

isso funciona, será útil revermos os blocos linguísticos do sentido: os morfe-

mas. Considere as seguintes palavras do português:

Tabela 3: Exemplo de morfema no português

simpatia

simpatizar

simpatizaríamos

simpatizante

antipatia

telepatia

apaticamente

patéticoTodas essas palavras possuem um sentido relacionado: elas têm a ver com

“os sentimentos dos outros”. Ao mesmo tempo, todas têm uma sequência de

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sons (fonemas) em comum, [pat] (destacada em negrito). Este “-pat-” é um pe-

daço de palavra que por si só carrega aquele sentido. Chamamos de morfema

uma sequência mínima de fonemas que tem um sentido.7 “Mínima” aqui signifi-

ca que não é possível dividir um morfema em partes menores; os morfemas

são átomos de sentido. Por exemplo, a palavra “antipatia” não é um morfema,

pois é possível dividi-la em unidades de sentido menores, “anti-” e “-pat-” (o

“anti-” significa “contra”, e está presente e.g. em “antiaéreo”, “antisséptico” etc.)

Porém, se tentarmos dividir “anti-” ou “-pat-”, veremos que pedaços menores

como “an-” ou “-p-” já não têm sentido próprio. “Anti-” e “-pat-” são átomos de

sentido, ou seja, morfemas.

Alguns morfemas podem ser palavras, como “cão” ou “chapéu”; são os ditos

morfemas livres. Outros, como “-pat-” ou “anti-”, só aparecem dentro de pala-

vras maiores; esses são os morfemas presos (HASPELMATH; SIMS, 2002, p.

196).

3.4 Escrita baseada em morfemas: a morfografia

A escrita japonesa é uma adaptação local da escrita chinesa.8 O que a torna

complexa é o uso dos caracteres chineses, que foram mantidos quase sem al-

terações no Japão, onde são chamados de kanji (literalmente “caracteres chi-

neses”). Mas por que esses caracteres seriam mais complexos do que, diga-

mos, o alfabeto romano, ou as escritas árabe, indiana etc.?

Para ilustrar, considere as seguintes palavras japonesas:

7 Esta definição é baseada em Haspelmath e Sims (2002), p. 14, mas qualquer outro manual de morfologia também pode ser consultado.

8 Para uma história completa, ver Seeley (1991).

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Tabela 4: Exemplo de morfema no japonês

不要fu-yō

desnecessário

不仲fu-naka

discórdia

不幸fu-kō

infelicidade

父母fu-bo

os pais; pai e mãe

父子fu-shi

pai e filho

節fushi

seção

Cada linha inclui caracteres chineses (kanji) e o equivalente romanizado.

Não é necessário entender em detalhes os kanji. Observe apenas que:

1) Todas as palavras começam com o mesmo som, fu;

2) Apesar disso, as grafias em kanji não começam com o mesmo símbolo;

3) Nas três primeiras, que começam com o caractere 不 , o som fu repre-

senta um morfema de negação, como o português “des-” ou “in-”;

4) Nas demais, não há sentido de negação, e o caractere 不 não é usado;

5) Na quarta e quinta linhas, o som fu representa o morfema “pai”, que está

representado pelo caractere 父;

6) Na última linha, o som fu não é um morfema; a palavra fushi inteira é um

morfema indivisível. Por isso, ela é representada com um só caractere.

Em outras palavras, o caractere kanji 不 não representa qualquer som fu,

mas especificamente o morfema fu “não”. Quando o som fu tem outro sentido,

ele é escrito com outros símbolos. Chamamos de morfográficas as escritas

que representam desta forma os morfemas, isto é, cuja grafia depende do sen-

tido (ROGERS, 2004, p. 13–15). Os grandes exemplos de escritas morfográfi-

cas são os caracteres chineses, os hieróglifos egípcios, o cuneiforme sumério,

e a escrita maia. Dessas, apenas os kanji continuam em uso, no Japão e na

China.

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Na escrita chinesa original, cada caractere representava sempre o mesmo

morfema. A escrita japonesa, porém, expandiu os caracteres chineses para re-

presentar tanto morfemas adquiridos da língua chinesa, quanto morfemas nati-

vos de significado semelhante. Isso fez com que os caracteres possam ter múl-

tiplas interpretações e leituras. Seria como se, em português, usássemos a

mesma letra para representar o “sol-” latino de “solar”, e o “helio-” grego de “he-

liocêntrico”. Vejamos um exemplo com o caractere chinês 父 “pai”:

Tabela 5: Múltiplos morfemas escritos com o mesmo kanji

父chichi“pai”

父子fu-shi“pai e filho”

お父さんo-tō-sa-n“pai” [polido]

Note que o mesmo caractere (em negrito) é usado para representar três

morfemas distintos, que embora tenham o mesmo sentido, “pai”, possuem pro-

núncias bem diferentes: chichi, fu-, e -tō-. Seria como se, em português, usás-

semos um mesmo símbolo para escrever “pai”, o “pat-” de “paterno”, e o “-ge-

nit-” de “progenitor”. Essa multiplicidade é característica da escrita japonesa.

Assim como a fonográfica, a escrita morfográfica nem sempre é regular. Nos

exemplos acima, cada morfema (indicado pelos hifens na romanização) é gra-

fado com exatamente um kanji. Tal correspondência regular era a norma no

chinês antigo, e ainda é o mais comum na escrita japonesa (JOYCE, 2011, p.

70–72). Porém, na adaptação ao japonês, nem sempre foi possível encontrar

equivalentes nativos para os morfemas chineses, de forma que em alguns ca-

sos foram feitas adaptações: mais de um morfema por caractere, ou vários ca-

racteres para um só morfema. Não vamos analisar tais casos complexos neste

artigo; para isso ver e.g. Rogers (2004) ou Hansell (2002). O que é importante

ter em mente para esta discussão é que, em escritas morfográficas como o

kanji, o sentido das palavras altera a grafia visual; e que isso acontece porque

o princípio básico é representar cada morfema com um caractere.

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3.5 Toda escrita usa som e sentido

Estabelecemos uma oposição entre, por um lado, as escritas fonográficas

(como o alfabeto e o kana), baseadas no som; e, por outro, as escritas morfo-

gráficas (como o kanji), baseadas no plano do sentido. Mas é importante res-

saltar que essa diferença não é categórica, e sim uma questão de grau. Todas

as escritas conhecidas usam ambos os planos. Por exemplo, no português, al-

gumas palavras de mesmo som são diferenciadas na escrita pelo sentido: “por

que / porque”, “cessão / sessão / seção”, “a / à”, “nós / noz” etc. Da mesma for-

ma, embora o princípio dos kanji seja representar morfemas, por vezes eles

têm relação com fonemas:

• No japonês, os morfemas ben “distinção”, ben “pétala” e ben “dialeto”

antigamente eram escritos com os caracteres 辨, 瓣 e 辯. Porém, hoje to-

dos são grafados com o mesmo caractere 弁 . Não há nenhuma relação

de sentido entre esses morfemas; eles foram unificados com a mesma

escrita apenas porque os sons são idênticos.9

• Muitos kanji são compostos graficamente por um elemento que sugere o

sentido, e outro que indica a leitura. Por exemplo, os morfemas ken

“econômico”, ken “investigar”, ken “inacessível”, ken “teste”, e ken “espa-

da” são grafados com os kanji 倹, 検, 険, 験 e 剣 respectivamente. Note

que há um elemento visual em comum (à direita na maioria, à esquerda

no último). A função deste elemento é indicar a pronúncia comum, ken.

Hansell (2002) mostra que as técnicas fonográfica e morfográfica atendem a

funções distintas, e podemos esperá-las em toda escrita. Indo mais a fundo, o

neurologista Dehaene mostra que o processamento cerebral de toda escrita se

dá por dois circuitos simultâneos, um que acessa as palavras pelo som e outro

pelo sentido (DEHAENE, 2009, p. 38–41). A “rota fonológica” decodifica os sím-

bolos visuais em fonemas; daí, a partir do som, busca a palavra no léxico, in-

cluindo o sentido. Já a “rota direta” ou “semântica” busca de uma vez a palavra,

incluindo som e sentido. Mesmo na escrita alfabética, as palavras mais fre-

quentes são acessadas pela rota direta. Há várias evidências dessas duas ro-

tas; por exemplo, certas lesões cerebrais podem interromper apenas uma co-

9 Por outro lado, este foi o único caso em que os japoneses unificaram vários kanji pelo som.

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nexão, causando “agrafia rasa” ou “profunda”. Caso sofra dano na rota fonoló-

gica, o paciente permanece capaz de entender o sentido das palavras comuns,

mas não consegue ler palavras novas ou raras; e se perder a rota direta, ele

consegue lentamente decodificar qualquer palavra pelo som, mas não entende

ortografias irregulares ou distinções visuais de sentido. Todas as escritas fazem

uso das duas rotas, e escritas morfográficas como o kanji simplesmente privile-

giam mais a rota direta (DEHAENE, 2009, p. 118–119; 176).

3.6 A escrita japonesa mista

A crítica apresentada na seção 1 trata especificamente dos kanji: como exis-

tem muito mais morfemas que fonemas, o número de caracteres morfográficos

precisa ser muito grande. Mas a escrita japonesa também possui um compo-

nente fonográfico, os kana (que para esses autores seria suficiente). Vejamos

como a escrita japonesa faz uso simultâneo desses dois componentes.

A escrita chinesa emprega apenas os kanji, mas existem técnicas para usá-

los também fonograficamente; ver DeFrancis (1984) para detalhes. Já no japo-

nês houve especialização: quase sempre a morfografia é marcada em kanji, e

a fonografia é relegada aos kana. Os dois coexistem das seguintes maneiras:

1. Qualquer palavra que pode ser escrita morfograficamente em kanji tam-

bém pode ser escrita fonograficamente em kana. Por exemplo, a palavra

hayashi “bosque” pode ser escrita pelo morfema como 林 ou pelos fone-

mas como はやし ha・ya・shi. Em textos para adultos letrados normal-

mente prefere-se os kanji, exceto para morfemas gramaticais (palavras

funcionais como verbos de ligação, posposições etc).

2. Palavras que não têm kanji atribuído normalmente são grafadas em

kana (por exemplo, onomatopeias nativas, ou empréstimos do inglês).

3. Em palavras flexionadas, as raízes são escritas em kanji, e as flexões

em kana: em 寝ない ne・na・i “não dormir”, o morfema-raiz “dormir", ne-,

é indicada pelo kanji 寝, e os demais caracteres são kana fonográficos.

Esta técnica se chama okurigana “kana que acompanham”.10

10 Há uma complicação com os okurigana; eles podem absorver parte dos fonemas da raiz, caso esta termine em consoante ou caso isso ajude a distinguir leituras ambíguas.

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4. As leituras dos kanji podem ser indicadas por kana escritos em paralelo

ao caractere. Por exemplo, a leitura ne do exemplo anterior pode ser ex-

plicitada como ね

寝ない, adicionando o kana fonográfico ね ao kanji morfo-

gráfico 寝 . Essa técnica chama-se furigana ou rubi, e é normalmente

usada: 1) no processo de letramento, para crianças ou estrangeiros que

ainda não memorizaram as leituras dos kanji ; 2) para ajudar a ler carac-

teres ou leituras incomuns; 3) para atribuir novas leituras criativamente.

4 A ESCRITA JAPONESA ALÉM DA FALA

Em nossa pesquisa analisaremos em detalhes certos usos da escrita japo-

nesa que não são abarcados pelo modelo transcricional, isto é, que não corres-

pondem a nada na fala. Neste artigo nos limitaremos a apresentar alguns

exemplos típicos, extraídos da cultura popular.

4.1 Paralelismo

Neste exemplo da história em quadrinhos Rurōni Kenshin, a fala da persona-

gem é: Otonashiku koko ni iro! “Comporte-se e fique aqui!” (WATSUKI, 1995).

Porém, a palavra koko “aqui” é escrita, atipicamente, como leitura em furigana

da palavra 東京 , “Tóquio”, escrita em morfografia. O autor explora a estrutura

mista da escrita japonesa para mostrar ao leitor a referência do dêitico “aqui”:

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no enredo, a personagem está ordenando que outra fique na cidade de Tóquio

e não vá para Kyoto. Este tipo de técnica era muito comum na literatura do pe-

ríodo Edo (ARIGA, 1989), e hoje aparece com freqüência em quadrinhos, vide-

ogames e similares (ver e.g. (LEWIS, 2010) ).

Acima, a personagem do quadrinho Sailor Moon usa um ataque com nome

em inglês, Deep Submerge (“submersão profunda”), escrito fonograficamente

com os caracteres kana ディープサブマージ (TAKEUCHI, 1994). Porém, esses

caracteres (pequenos, à direita) são dados como leitura furigana dos kanji 深水

没 , que escrevem morfograficamente shin-suibotsu, “submersão profunda” em

japonês. A leitura é em inglês, mas os kanji servem como uma espécie de ano-

tação semântica que explica o significado das palavras inglesas. Isso só é pos-

sível porque o leitor está acostumado com a divisão de papéis da escrita japo-

nesa mista: furigana para o som e kanji para o sentido.

4.2 Homofonia criativa

O título do romance Hotaru no Haka (“Cemitério dos Vaga-lumes”), de Isao

Takahata, é escrito como 火垂るの墓 (TAKAHATA, 2001). Normalmente a palavra

“vaga-lume” se escreveria com um kanji unitário que a representa: 蛍 hotaru.

Contudo, aqui o autor optou por usar dois caracteres morfográficos: 火 ho “fogo”

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e 垂 ta(ru) “pingar”. A sílaba final está escrita fonograficamente como okurigana,

o que faz com que taru seja interpretado como verbo, e força o sentido “gotejar

fogo” para a palavra hotaru—sem alterar sua pronúncia. Isso enriquece os sen-

tidos do título, pois na narrativa o “cemitério dos vaga-lumes” resulta dos bom-

bardeios incendiários americanos da Segunda Guerra.

Similarmente, no videogame de terror Shin Megami Tensei, os jogadores re-

crutam aliados sobrenaturais chamados nakama (ATLUS, 2013). Em japonês

essa palavra significa “companheiro”, e se escreve 仲間: morfograficamente 仲

naka- “relacionamento” e 間 -ma “intervalo, entre”. Porém, nesta obra em parti-

cular a palavra é escrita como 仲魔, trocando o morfema 間 -ma “intervalo” por

魔 -ma “demônio”. Dessa forma a pronúncia continua nakama, mas a ortografia

muda o sentido para “companheiro demoníaco”.

4.3 Conclusão

Precisamente por ser uma mistura complexa de morfografia e fonografia, a

escrita japonesa permite técnicas de expressão que não existem na fala. Tais

técnicas são comuns na literatura, mas também, como exemplificamos, na cul-

tura popular: quadrinhos, jogos, letras de música, publicidade etc. Este fato é

importante porque esse meio inclui leitura casual para um público-alvo adoles-

cente, ainda em processo de aprendizado dos kanji. E mesmo nesses contex-

tos de entretenimento, a morfografia é usada criativamente. Isto sugere que

tais técnicas não são excepcionais ou curiosidades isoladas, mas sim possibili-

dades naturais do próprio sistema. Deduzimos disto duas conclusões: a) o sis-

tema de escrita japonês não se limita a representar a fala, sendo melhor descri-

to pelo modelo autônomo que pelo transcricional; e b) há motivos racionais

para a escolha japonesa pela escrita mista, e uma abolição dos kanji pode ter

custos pouco óbvios, que exploraremos em nossa pesquisa.

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