O Sistema de Comunicação Educativa Organizacional · Santa Catarina (UFSC), Brasil. A reflexão...
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Confederación Iberoamericana de Asociaciones Científicas y Académicas de la
Comunicación
O Sistema de Comunicação Educativa Organizacional
Ana Carine García Montero1
Resúmen: Neste artigo apresentamos o Sistema de Comunicação Educativa Organizacional (SCEO), um
modelo de comunicação organizacional, que está em desenvolvimento na Seção de Apoio ao Sistema de
Comunicação Educativa [Comunica] da Agencia de Comunicação [Agecom] da Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC), Brasil. A reflexão está estruturada em quatro partes. Fundamentamos o estudo
no paradigma da complexidade de Edgar Morin e abordamos a temática de comunicação organizacional
desde o pensamento complexo. Desenvolvemos uma reflexão sobre a comunicação organizacional que é
realizada em universidades federais. Após a delimitação de tema e contexto, apresentamos o Sistema de
Comunicação Educativa Organizacional, seus princípios e dimensões. Com o SCEO busca-se intervir
nos processos de produção e disputa de sentidos no ambiente organizacional das universidades federais
no intuito de propiciar que o sujeito organizacional coabite com o outro na construção da democracia.
Palabras-clave: Comunicação Organizacional; Comunicação Educativa Organizacional.
Abstract: This paper presents the Organizational Communication System Education (SCEO), a model
of organizational communication, which is under development in the Support Section of the Educational
Communication System [Communist]Agency of Communication [Agecom] Federal University
of SantaCatarina (UFSC), Brazil. The discussion is structured in four parts.Inform the study the
paradigm of complexity of Edgar Morin and approach the topic of organizational communication from
thecomplex thought. We develop a reflection on organizational communication that takes place in federal
universities. After the delimitation of theme and context, we present the OrganizationalCommunication
System Education, its principles and dimensions.With SCEO seek to intervene in
the dispute and production of meaning in the organizational environment of public universities in order
to encourage the subject to organizational cohabits with the other in building democracy.
Keywords: Organizational Communication, Organizational CommunicationEducation.
Introducción
Este artigo apresenta o Sistema de Comunicação Educativa Organizacional
(SCEO), um modelo de comunicação organizacional que está em desenvolvimento na
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Brasil. O SCEO resulta da produção
de conhecimento organizacional desta universidade brasileira.
Este texto se estrutura em quatro partes. Inicialmente discorremos sobre os
paradigmas da complexidade e simplificação de Edgar Morin (2011, 2001, 2000) no
1 Mestre em Educação e Servidora Pública Federal atua na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) como
Assessora em Comunicação Educativa da Secretaria de Planejamento e Finanças e responsável pela Seção de Apoio ao Sistema de
Comunicação Educativa (Comunica) da Agência de Comunicação da UFSC. [www.comunica.ufsc.br], Pesquisadora do Grupo de
Pesquisa Sigmo. [[email protected]]
propósito de fundamentar uma abordagem aos estudos de comunicação organizacional
realizados no Brasil [KUNSCH (2003), BALDISSERA (2008), SCROFERNEKER
(2008)]. A partir do delineamento de um conceito de comunicação organizacional,
realiza-se uma reflexão sobre a comunicação que é realizada em um tipo específico de
organização: a universidade federal. Após a delimitação de tema e contexto, apresenta-
se o Sistema de Comunicação Educativa Organizacional. O SCEO resulta da produção
de conhecimento organizacional de uma universidade federal, sustenta-se em três
princípios - A comunicação se dá entre sujeitos; A comunicação é intencional; e A
comunicação é educativa - e compõe-se de cinso dimensões: Problema da comunicação;
Objetivo da comunicação; Comunicador intencional versus Comunicador
correspondente; Análise das variáveis [Ambiente, Momento, Temporalidade e Canais];
Estratégias, ações e produtos comunicativos. Finaliza-se o texto indicando o SCEO
como um método de intervenção nos processos organizacionais de universidades
federais. O SCEO está sendo desenvolvido na Seção de Apoio ao Sistema de
Comunicação Educativa [Comunica] da Agencia de Comunicação (Agecom) da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com o propósito de „desenvolver
competências em comunicação educativa organizacional‟ na instituição.
Parte 1. O complexus comunicação-organização - fundamentos
Segundo Edgar Morim (2011), a complexidade surge “lá onde o pensamento
simplificador falha” (p. 6). Neste sentido, na construção do complexus comunicação-
organização pretende-se chegar aonde soluções simplificadoras não chegam.
Complexus quer dizer „o que é tecido junto‟, “de constituintes heterogêneas
inseparavelmente associadas: ela coloca o paradoxo do uno e do múltiplo” (MORIN,
2011, p. 13), é termo cunhado por Morin para significar o que é complexo “o que não
pode se resumir numa palavra-chave, o que não pode ser reduzido a uma lei nem a uma
idéia simples” (Idem, p. 5)
O pensamento da simplificação, para o autor, busca pôr ordem no universo e
expulsar dele a desordem (MORIN, 2001. p. 86). Está fundamentado na idéia de
redução e disjunção, “separa o que está ligado (disjunção), ou unifica o que é diverso
(redução) (MORIN, 2011, p. 59). Segue a lógica ocidental de “manter o equilíbrio do
discurso pela expulsão da contradição e do erro” (Idem, p. 55) e é “incapaz de conceber
a conjunção do uno e do múltiplo” (Ibidem, p. 12).
O pensamento da complexidade, por sua vez, “longe de substituir a idéia de
desordem por aquela de ordem, visa colocar em dialógica a ordem, a desordem e a
organização” (MORIN, LE MOIGNE, 2000, p. 199). É “o pensamento capaz de reunir
(complexus: aquilo que é tecido conjuntamente), de contextualizar, de globalizar, mas,
ao mesmo tempo, capaz de reconhecer o singular, o individual, o concreto” (Idem, p.
206). Para Morin (2011), “só o pensamento complexo nos permitirá civilizar nosso
conhecimento” (p.16).
Perseguindo o pensamento da complexidade, construímos o complexus
comunicação-organização no propósito de estabelecer uma relação dialógica
permanente entre a comunicação e a organização produzida pelos sujeitos
intencionalmente associados para trabalhar.
Ao partirmos do pressuposto que as organizações são “agrupamentos de pessoas
que se associam intencionalmente para trabalhar, desempenhar funções e atingir
objetivos comuns, com vistas em satisfazer alguma necessidade da sociedade”
(KUNSCH, 2003, p.25) estamos iniciando um caminho sem volta que nos leva ao
reconhecimento de que essas „pessoas associadas para trabalhar‟ estão obrigatoriamente
„em relação‟ umas com as outras.
Para Juremir Machado da Silva relação é diálogo: “a organização só atinge o
ponto máximo quando comunica, ou seja, quando atinge o outro envolvendo-o numa
relação dialógica. O diálogo está muito longe de ser apenas uma troca de informações.
Ele é uma atividade intensa que envolve razão, emoção, arte e vivências.”
(SCROFERNEKER, 2008, p. 9).
Neste sentido é que vemos o estabelecimento de uma relação/dialógica
comunicação-organização, unindo-as na complexidade, “comunicação é relação, assim
como organização é relação” (BALDISSERA, 2008, p. 42), formando-se, assim, o
complexus comunicação-organização tecido pelos diálogos dos sujeitos nas relações de
construção e disputa de sentidos (BALDISSERA, 2008, p. 33) de propósitos
organizacionais.
O complexus comunicação-organização envolve sujeitos que retiram da tessitura
de sentidos coletivamente construída “aquilo que lhes serve, que entendem, com o que
simpatizam, para usar na sua própria concepção do mundo” (MONTERO, 2010), e
devolvem ao complexus comunicação-organização a sua visão, valores, práticas
provocando, assim, um processo de (de) formação - educação - individual e coletivo.
A construção do complexus comunicação-organização quer resgatar a idéia de
“unidade complexa, que liga o pensamento analítico-reducionista e o pensamento da
globalidade” (MORIN, 2011, p. 54) no propósito de chegar a um entendimento sobre o
que é a comunicação organizacional – subsistema da Comunicação Social -, arena de
atuação do micro-Sistema de Comunicação Educativa Organizacional (SCEO) que será
apresentado neste texto.
Parte 2. Comunicação Organizacional: tema
Inicialmente, entendemos com a professora Margarida Kunsch que a
comunicação organizacional como objeto de pesquisa, “é a disciplina que estuda como
se processa o fenômeno comunicacional dentro das organizações no âmbito da
sociedade global” (in SCROFERNEKER, 2008, p. 22). No entanto, vale atentar que ao
localizar a comunicação dentro da organização não estamos limitando-a ao espaço
físico, mas observando o fenômeno no lugar não/lugar onde acontecem as relações de
trocas simbólicas. Relações “que sofrem interferências e condicionamentos variados,
dentro de uma complexidade difícil até de ser diagnosticada, dado o volume e os
diferentes tipos de comunicações existentes, que atuam em distintos contextos sociais”
(KUNSCH, 2003, p. 71).
É nesse sentido que Baldissera (2008) alerta para as confusões que podem ser
geradas com a simplificação do conceito de comunicação organizacional:
Considera-se necessário rever as concepções que, mediante simplificações
(algumas grosseiras), reduzem comunicação organizacional à idéia de
comunicação interna ou externa (planejada), relações públicas, marketing
corporativo, propaganda, assessoria de imprensa e/ou comunicação
administrativa etc. Não significa dizer que estas não sejam práticas de
comunicação organizacional, mas que, de modo geral, tende-se a reduzir a
noção de comunicação organizacional aos fluxos de sentidos possíveis de
planejar e gerir, ou seja, àquilo que é visível, controlável, tangenciável,
possível de captar. (P. 43)
A preocupação do autor está na possibilidade que se abre, com o pensamento
simplificador da comunicação organizacional, de estreitamento dos domínios da
comunicação organizacional eliminando, desse modo, “a fertilidade criativa
gerada/regenerada pelas tensões entre o organizado e o desorganizado, o formal e o
informal, o planejado e o espontâneo/intuitivo” (Idem).
Para a professora Cleusa Scroferneker (2008), as imprecisões conceituais sobre
Comunicação Organizacional têm gerado a necessidade de discussões (cada vez) mais
exaustivas em busca de algumas certezas que possibilitem compreendê-las em toda a
sua complexidade (p.11).
Para adentrar o complexus comunicação-organização precisou-se de um
conceito de comunicação organizacional não simplificador, que percebesse a relação
complexa realizada pelos sujeitos em ambiente laboral.
Assim, neste estudo, optou-se por aderir ao conceito de Baldissera, (2008b) para
comunicação organizacional como “processo de construção e disputa de sentidos no
âmbito das relações organizacionais” (p. 169), entendendo que “na perspectiva de sua
complexidade, a comunicação organizacional não se qualifica como simples estratégia
de controle e/ou sistema de transferência de informações. Ela abarca todo fluxo de
sentidos em circulação que, de alguma forma, disser respeito à organização” (p. 170).
Ainda, é importante salientar que para o autor, a comunicação organizacional deve ser
visto como um subsistema comunicacional que tenciona outros sistemas [cultural,
econômico etc], outros subsistemas [cultura organizacional, gestão etc], microsistemas
oficiais [assessoria de imprensa, relações públicas], e micro-sistemas não oficiais
[comunidades virtuais, encontros, fofocas etc.] que circulam sentidos da organização
com gramáticas específicas (p. 171).
A partir do arcabouço teórico construído com o paradigma da complexidade de
Morin [fundamento] e o conceito de comunicação organizacional [tema] de Baldissera
vamos dar continuidade à reflexão deste texto abordando na Parte 3 o complexus
comunicação-organização das universidades federais, contexto de atuação do SCEO.
Parte 3. Universidades Federais: contexto
As universidades federais enquanto instituições sociais paradigmáticas
(THOMPSON, 1998, p. 22) cumprem um papel fundamental na educação no país,
sendo referência de qualidade para todas as outras IES. Tem mais de 600 mil estudantes
de graduação matriculados (INEP, 2009, p.14). Produzem 90 % da pesquisa nacional
(SINAES, 2009) e é nelas que se encontram os melhores índices de avaliação da
educação superior (Idem). Alicerce para a democracia do país, as universidades federais
são responsáveis por pensar e propor inovações e mudanças necessárias à sociedade
(MONTERO, 2010).
As universidades federais são referência pela excelência do conhecimento
acadêmico produzido, e também, recebem duras críticas pela qualidade do serviço
público prestado à sociedade. A disparidade parece fundamentar-se no modelo de gestão
da universidade pública (ROSA, 2004).
Do ponto de vista da gestão, são herdeiras de uma cultura burocrática e lenta,
mantém uma estrutura hierarquizada e departamentalizada, impedindo que flua no
ambiente de trabalho o conhecimento de excelência - acadêmico - produzido na
organização. A rigidez do seu modelo de gestão retém em laboratórios e departamentos
o conhecimento acadêmico que deveria transitar entre colaboradores – docentes e
técnico-administrativos – de toda a organização, responsáveis por diariamente atender
ao usuário do serviço público que é prestado pela universidade. Segundo Sordi et all
(2005), muitos dos problemas que dificultam o acesso ao conhecimento dos „cilos
funcionais‟ residem “na comunicação e na interação de trabalho entre as diversas áreas
funcionais”, apontados como “lacunas organizacionais” ou “áreas nebulosas”, pouco
compreendidas e mal gerenciadas pelas organizações.
A comunicação organizacional realizada neste tipo de universidade é riquíssima
em capital simbólico. No entanto, em seus processos de gestão percebem-se
acentuadamente a presença do pensamento simplificador da comunicação
organizacional.
Se resgatarmos a idéia de “unidade complexa” de Morin, (2011, p. 54) e
considerarmos a universidade federal como um complexus comunicação-organização
talvez cheguemos aonde soluções simplificadoras não chegam para entender como se
realiza a comunicação organizacional nesta organização.
A primeira questão que parece suscitar uma reflexão é sobre o lugar/não lugar da
comunicação organizacional nas universidades federais. Nota-se que existem setores
responsáveis pela comunicação institucional que criam produtos comunicativos e
distribuem notícias, sem propiciar com isso que os colaboradores da instituição
transformem “áreas nebulosas” em conhecimentos compartilhados. Não se percebe a
comunicação organizacional como fluxo de sentidos que não se detém aos limites
físicos, hierárquicos ou de controle. Ao contrario, está alijada e restrita aos produtos ou
tarefas realizados pelos setores “competentes” de assessoria de imprensa, design ou
marketing. Segundo Marchiori (2008), “olha-se para a comunicação como processo de
transmissão, diferentemente de olhar para a comunicação como um processo de criação
de conhecimento, como estimuladora de diálogo, como uma comunicação que ajuda a
construir a realidade organizacional” (p.7).
A outra questão que parece importante refletir é sobre a gestão da comunicação
organizacional. Deveria ser a instância formal responsável por cuidar que os
colaboradores – gestores, professores, estudantes, técnico-administrativos, terceirizados
– desenvolvam competências para realizar uma comunicação pública no (MONTERO,
2010) âmbito universitário. Os gestores imbuídos de um pensamento simplificador não
vêem a necessidade de envolver todos os sujeitos da organização em um processo de
construção de sentidos coletivos organizacionais. Nesse sentido, é necessário, para
desenvolver competência comunicativa na organização, que os sujeitos/colaboradores e
os gestores adquiram competências comunicativas, isto é, conhecimentos e habilidades
para atuar no complexus comunicação-organização transformando-o em um ambiente
coletivo de aprendizagem, diálago e democracia.
O Sistema de Comunicação Educativa Organizacional (SCEO) se propõe a ser
um modelo de comunicação organizacional que possibilite aos gestores e sujeitos
organizacionais a intervenção nas „áreas nebulosas‟ das universidades federais no
propósito de propiciar o diálogo entre as duas dimensões – acadêmica e administrativa –
que co-habitam o complexus comunicação-organização e melhorar o desempenho
destas instituições no serviço público que prestam à sociedade.
Na Parte 4 vamos apresentar o modelo de comunicação organizacional Sistema
de Comunicação Educativa Organizacional que está sendo desenvolvido na Seção
Comunica da UFSC.
Parte 4. O Sistema de Comunicação Educativa Organizacional (SCEO)
O SCEO é um modelo de comunicação organizacional que está em
desenvolvimento na Universidade Federal de Santa Catarina com o propósito de
aprimorar, em sua complexidade, processos de comunicação organizacional. Busca
potencializar as trocas simbólicas entre os sujeitos da organização com o objetivo de
criar um ambiente de aprendizagem coletiva para afirmação da democracia. O estudo
não é conclusivo e está em andamento.
Em uma rápida retrospectiva, lembramos que o SCEO decorre do
desenvolvimento do Modelo de Comunicação Educativa (MCE), ferramenta que propõe
a criação de estratégias de comunicação organizacional. O MCE foi o primeiro
instrumento usado na instituição. À medida que os colaboradores se apropriavam dos
conceitos do Modelo, a ferramenta sofria mudanças. Desse modo, a partir de um pensar-
fazer contínuo individual e coletivo, foi criado o Sistema de Comunicação Educativa
Organizacional, que incorpora o MCE e traduz as necessidades comunicativas de
colaboradores da instituição. Portanto, o SCEO está ligado, na sua origem, diretamente
à cultura organizacional da Universidade Federal de Santa Catarina.
Acredita-se que o SCEO é um sistema – um micro-sistema do subsistema
comunicação organizacional do sistema comunicação social – que se relaciona com
sistemas diversos que coabitam dentro de outros sistemas. Para Morin (2011) “num
certo sentido toda realidade conhecida, desde o átomo até a galáxia, passando pela
molécula, a célula, o organismo e a sociedade, pode ser concebida como sistema” (p.
19). A (in) certeza do termo está delimitada por concepções de comunicação, educação
e organização que apresentaremos na frente. A inclusão do micro-sistema SCEO nos
processos de produção e disputa de sentidos do complexus comunicação-organização
de universidades federais deverá potencializar as relações tecidas no macro-sistema
organização, evitando, assim, a evasão de capital simbólico coletivo. Neste sentido,
cabe ressaltar a inseparabilidade entre comunicação e organização que a professora
Margarida Kunsch (2003) profere: “O sistema organizacional se viabiliza graças ao
sistema de comunicação nele existente, que permitirá sua contínua realimentação e sua
sobrevivência. Caso contrário entrará num processo de entropia e morte. Daí a
imprescindibilidade da comunicação para uma organização social” (p.69).
Entende-se que o SCEO é um modelo comunicação organizacional porque se
propõe a ser uma “representação estrutural de um conjunto diferente de elementos que
apontam para guiar a análise de assuntos complexos” (O‟SULLIVAN, 2001, p. 158)
que transitam na tessitura de sentidos coletivos do complexus comunicação-
organização.
A professora Maria Schuler (2004, p.16) apresenta didaticamente os diversos
modelos de comunicação desenvolvidos a partir da década de 40, que fundamentaram e
ainda fundamentam algumas ações comunicativas que realizamos: Modelo Mecanicista;
Modelo Psicológico; Modelo Sociológico; Modelo Antropológico; Modelo
Semiológico; Modelo Sistêmico; Modelo Dialético-estruturais dos „fatores dinâmicos e
interatuantes‟; e finalmente, o Modelo de Administração Estratégica da Comunicação
desenvolvido pela autora e seus colaboradores que propõe: “para que haja comunicação,
é necessária a presença, num sistema, de elementos, tais como o emissor, o receptor, o
canal e a mensagem, e de processos como a composição, a interpretação e a resposta”.
O modelo de comunicação organizacional SCEO apresentado na seqüência
explicita a tessitura de sentidos realizada em uma universidade federal do Brasil e
afirma a máxima que a Escola de Chicago publicava nos anos 20: “Se existe
comunicação é em virtude das diversidades individuais. E se o indivíduo está submetido
às forças da homogeneidade ele é capaz de se subtrair a ela” (MATTELART, 2002).
O SCEO foca o sujeito como protagonista do ato comunicativo e com autonomia
para fazer escolhas que lhe interessem para sua formação.
ALICERCES EPISTEMOLÓGICOS
O Sistema de Comunicação Educativa Organizacional insere-se
epistemologicamente na intercepção de três áreas de conhecimento: Comunicação,
Educação e Administração/Marketing.
Figura 1 - Alicerces epistemológicos do SCEO
Desde a Comunicação foca-se o sujeito envolvido na relação comunicativa e
considera que os objetos usados na comunicação são meras ferramentas
complementares ao ato comunicativo entre seres humanos.
Enxerga-se o sujeito realizando trocas simbólicas, envolvidos em processos de
construção e disputa de sentidos, partilhando conhecimentos e, principalmente,
coabitando com o outro na construção da democracia. Sob esse viés, se afirma com
Wolton (2006) que “de qualquer maneira, comunicar é assumir um risco, em que reside,
de fato, toda a grandeza da coisa. O risco do encontro do outro e do fracasso” (p. 224).
Envolve escolha e cultivo de valores. “Não há ética da comunicação sem respeito do
outro, isto é, sem uma reflexão política, pois coabitar com o outro leva, de imediato, à
questão política, à da democracia” (Idem).
Para Neumann (1990) a comunicação "é um processo que cria laços, envolve,
amarra, influencia, dirige, manipula, oprime, reprime, liberta", e também é “uma das
maiores prerrogativas do homem, porque implica pensar, ter idéias, emitir juízos de
valor. [...] É em tudo entendida como momento pedagógico a serviço ou contra a
construção de uma nova sociedade” (p. 13).
Finalmente, a comunicação é entendida como negociação e intercâmbio de
sentido, "no qual as mensagens, as pessoas-em-suas-culturas e a 'realidade' interagem
para possibilitar a produção de sentido, ou seja, sua compreensão" (O‟SULLIVAN,
2001, p.52) do mundo.
Desde a Educação retira-se o conceito de formação para a vida, que entende o
processo educativo como uma aprendizagem contínua que se situa além dos muros das
escolas e percebe o sujeito com autonomia de escolher o que lhe interessa para sua
formação pessoal. “A educação é maior que o controle formal da educação”
(BRANDÃO, 1995, p. 103). Ela não é sagrada, mas humana, realizada por pessoas em
uma prática diária de, “luta pela cidadania, pelo legítimo, pelos direitos, é o espaço
pedagógico onde se dá o verdadeiro processo de formação e constituição do cidadão. A
educação não é uma precondição da democracia e da participação, mas é parte, fruto e
expressão do processo de sua constituição” (ARROYO, 2001, p. 79).
Do Marketing se retiram princípios de endomarketing e marketing estratégico,
que vêem o público interno como a principal riqueza da organização, responsáveis pelo
conceito da empresa no mercado.
É no Marketing que se percebe a importância da gestão da comunicação, na
produção de sentidos entre os comunicadores internos e externos da instituição. Para
Carla Cirigliano (2007), “gestionar la comunicación implica definir un conjunto de
acciones y procedimientos mediante los cuales se despliegan una variedad de recursos
de comunicación para apoyar la labor de las organizaciones.”
Portanto, o modelo de comunicação organizacional SCEO tem o terceiro
alicerce no Marketing, entendendo que “A organização cumprirá melhor sua razão-de-
ser à medida que tenha um marketing mais eficiente. Este, por sua vez, será tão mais
eficiente e eficaz quanto melhor usar o seu instrumento mais destacado, a comunicação”
(YANAZE, 2005, p. 14).
Sob os alicerces apresentados é que foram definidos os princípios do SCEO,
apresentados a seguir.
OS PRINCÍPIOS DO SCEO
O SCEO fundamenta-se em três princípios completamente contrários ao
pensamento simplificador:
Princípio 1 – A comunicação se dá entre sujeitos: para obter êxito na ação
comunicativa é necessário entender que o processo se dá entre pessoas (ou organizações
constituídas por pessoas) e por isso o foco deve estar no sujeito e não no objeto-
mensagem. Os produtos comunicativos são utensílios aplicáveis ao processo
comunicativo.
Princípio 2 – A comunicação é intencional: entende-se que a comunicação parte
de uma intenção comunicativa de alguém, de um grupo, de uma instância. Alguém
propõe a comunicação em função de um propósito particular. Para obter êxito, para que
se consume o laço comunicativo, é necessário que o outro corresponda à intenção
comunicativa.
Princípio 3 – A comunicação é educativa: a comunicação é vista dentro de um
processo educativo do sujeito e forma um “laço comum” que provoca a (de) formação
dos sujeitos envolvidos. As pessoas recolhem da mensagem do outro aquilo que lhes
serve, que entendem, com o que simpatizam, para usar na sua própria concepção do
mundo. Por sua vez, devolvem ao outro a mensagem modificada. Resulta desse
processo um ambiente social de aprendizagem.
AS DIMENSÕES DO SCEO
O SCEO requer uma seqüência de ações realizadas por um grupo interno da
organização que traz para o exercício coletivo reflexões e análises da cultura
organizacional.
Os colaboradores/sujeitos da organização imbuídos da cultura organizacional, a
partir da análise do problema da comunicação, definem os objetivos desta e as
estratégias que promoverão a comunicação educativa entre o comunicador intencional e
o comunicador correspondente.
O SCEO estrutura-se em cinco dimensões – problema, objetivo, comunicadores,
variáveis, estratégias e ações/produtos comunicativos - que tentam dar mais certeza às
ações comunicativas do grupo a partir do levantamento – e identificação – das
incertezas que estão construindo o instante observado da comunicação organizacional.
A seqüência de análises realizadas pelos grupos será descrita a seguir na
apresentação de cada uma das dimensões do SCEO.
Figura 2 - Dimensões do SCEO
O problema de comunicação:
O grupo reunido busca a causa do problema comunicativo no cultivo de práticas
e hábitos afirmados coletivamente. Um problema de comunicação individual, quando é
assimilado pelo grupo, acaba tornando-se um problema de comunicação coletivo,
impedindo que o conhecimento organizacional flua entre seus colaboradores.
O objetivo da comunicação:
Após encontrar o problema/questão comunicativo que está interferindo na
produção de sentidos ou no desenvolvimento de processos organizacionais, o grupo
encontra a solução na mudança de hábitos e cultura. O objetivo da comunicação é,
portanto, a solução do problema estabelecida coletivamente, envolvendo os
colaboradores em um processo educativo que reconhece e habilita a participação de
cada um na construção de novos sentidos e novas práticas comunicativas.
Os comunicadores:
A comunicação educativa organizacional estabelece duas categorias de
comunicadores: o comunicador intencional e o comunicador correspondente para ser
usada no lugar de emissor-receptor ou de público-alvo. Os comunicadores são todos os
sujeitos e, dependendo do instante comunicativo, assumem o papel de comunicadores
intencionais ou de comunicadores correspondentes. O comunicador intencional é quem
faz um apelo comunicativo com a intenção de ser correspondido. O comunicador
correspondente, por sua vez, escolhe a qual apelo comunicativo vai corresponder. Sendo
assim, o grupo define quais são as suas intenções comunicativas e quais são seus
comunicadores correspondentes, os sujeitos que deverão corresponder ao apelo
comunicativo do grupo. Os colaboradores podem assumir tanto a posição de
comunicadores intencionais como a de correspondentes, indistintamente, dentro da
convivência organizacional.
Figura 3 - Comunicadores - Intencional e Correspondente e as variáveis do MCE.
O Modelo de Comunicação Educativa:
Para habilitar a comunicação entre os comunicadores intencionais e
correspondentes, pode-se fazer uso do Modelo de Comunicação Educativa (MCE), que
é constituído por quatro variáveis: Ambiente, Momento, Temporalidade e Canais.
A variável AMBIENTE busca informações no meio ambiente onde
habitam os grupos, no contexto das práticas culturais da organização.
A variável, MOMENTO refere-se ao instante de vivência, ao momento
de formação dos sujeitos envolvidos no laço comunicativo. Procura
informações na análise das circunstâncias que situam os sujeitos em
determinada situação organizacional.
A variável TEMPORALIDADE procura analisar em que tempo e espaço
se situam os sujeitos envolvidos no laço comunicativo. Delimita a
transitoriedade do MOMENTO e do AMBIENTE.
E, finalmente, a variável CANAIS analisa quais são os meios de
comunicação usados pelos sujeitos para criar sentidos comunicativos.
As estratégias e ações comunicativas:
A análise de cada variável do MCE deve possibilitar a criação de estratégias que
reconheçam e habilitem a comunicação entre os comunicadores intencional e
correspondente. A partir da definição da estratégia comunicativa são criadas as ações e
produtos comunicativos dentro de um plano de ação que estabelece prazos, recursos e
responsáveis. Como o foco está no resultado da ação comunicativa, acompanha-se e
avalia-se o processo buscando aferir os resultados obtidos
O SCEO é um modelo de comunicação organizacional que pode ser usado pelos
gestores da comunicação organizacional interessados em potencializar a „construção e
disputa de sentidos em âmbito organizacional‟. O modelo pode ser utilizado também
pelo sujeito organizacional que quer melhorar a sua performance comunicativa e do seu
grupo.
Este estudo, que não é conclusivo, está sendo experimentado em diversas
situações organizacionais. Os resultados colhidos nas experiências realizadas são
animadores.
Conclusiones
Neste artigo se apresentou o Sistema de Comunicação Educativa Organizacional
(SCEO), um modelo de comunicação organizacional que está sendo desenvolvido na
Seção de Apoio ao Sistema de Comunicação Educativa da Agencia de Comunicação da
UFSC com o propósito de „desenvolver competências em comunicação educativa
organizacional‟ na instituição. O SCEO nasceu na cultura organizacional da
Universidade Federal de Santa Catarina.
O estudo está alicerçado no paradigma da complexidade de Edgar Morin e no
conceito de comunicação organizacional desenvolvido por Rudimar Baldissera.
Na reflexão deste texto se procurou aproximar comunicação e organização em
um complexus que sustentasse a análise da comunicação organizacional realizada pelas
universidades federais.
Após a delimitação do tema e contexto se apresentou o SCEO como micro-
sistema que se insere e interage com outros sistemas.
Espera-se que com o SCEO seja possível que gestores e sujeitos organizacionais
possam intervir nas „arenas nebulosas‟ das universidades federais no intuito de
fortalecê-las como instituições paradigmáticas da sociedade.
Acredita-se que ao inserir o SCEO nos processos de produção e disputa de
sentidos no ambiente organizacional das universidades federais se propiciará ao sujeito
organizacional que bem coabite com o outro na construção da democracia e de uma
sociedade melhor.
Referencias
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ARROYO, Miguel e NOSELLA, Paolo. Educação e Cidadania. São Paulo: Ed. Cortez,
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