O serviço da portaria
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O serviço da portaria : um ministério da acolhida.
" Aonde mandar eu irei, seu amor, eu não posso ocultar.
Quero anunciar, para o mundo ouvir, que Jesus é nosso Salvador."1
Refletindo sobre a experiência de serviço na portaria do Colégio, e interpretando- a
em chave evangélico testemunhal, o vivido o conteúdo experiencial no sentido de dado
vivêncial, evocando o tema da experiência individual, mas também comunitária seja
ela de trabalho, da simplicidade e sobretudo, da interioridade do sujeito que na dinâmica
humano-espiritual procura perceber a mão de Deus, nos momentos mais ordinários e
comuns do cotidiano, e busca colher na simplicidade dos fatos corriqueirosa e na
gratuidade das relações cotidianas os elementos para alimentar sua vida interior e
percebendo um sentido mais profundo dessa experiência e os frutos de bençãos de
Deus que irrigam o chão da vida cada momento por pura graça que Deus nós dá
continuamente Ele que é o Sumo Bem e dele vêm todo o Bem. As flores que colhemos
desse jardim são plena gratuidade do Criador. E o trabalho é uma graça que a sua bondade
nos permite no exercício do serviço esses anos como porteiro no Colegio Internacional
São Lourenço de Brindis, Roma, percebo o proveito particular, mas também
comunitário.
Na realidade latino-americana com toda necessidade que temos de pessoas para a
pastoral e contribuir ativamente missão da Igreja, pode não fazer sentido se dedicar a um
trabalho em ambito doméstico como o serviço da portaria. Para um religioso pode ser
um reducionismo, visto que é um a menos para a pastoral em favor de exercer um serviço
que poderia ser feito por qualquer outra pessoa sem a necessidade que ela fosse
consagrada para exercer esse serviço. Ali está o desafio fazer o que todos podem fazer, o
trabalho simples e comum que não necessita de muita instrução. Mas o cristão deve
entender que o melhor lugar do mundo é onde Deus quer e não onde gostaríamos de estar.
A escolha de como usar a liberdade deve ser motivada com valores que respondam
ao ideal de seguir adiante fiel ao compromisso assumido. Pessoalmente busco sempre as
motivações para seguir adiante no meu trabalho, é fácil fazer um trabalho que te faz sentir
bem, no qual recebe beneficios e vê os resultados, ou que os outros te fazem ver. Fazer
um trabalho onde humanamente não se percebe nenhuma realização e que mesmo que
tenhas trabalhado todo o dia e estejas muito cansado parece que não fizestes nada todo o
dia. Nesse ponto que chega um momento que as motivações simplesmente humanas no
nível da realização não correspondem.
Estudando a história da nossa Ordem é interessante encontrar na maioria das
províncias a figura do capuchinho popular que está no meio do povo, se deve em parte aos
capuchinhos que faziam a pregacão popular e serviços pastorais, mas a santidade e a
1 MÚSICA DE ADRIANA: ESSA É A NOSSA MISSÃO.
compartilhada com as pessoas no cotidiano, mas tambem os sofrimentos dos simples e
dos pobres.
Se olhamos para os nossos santos capuchinhos entre eles temos uma diversidade
seja o mártir São Fidélis, que os que se dedicaram, sobretudo, ao sacramento da
penitência como São Lepoldo e São Pio da Pietralcina, entre outros. Mas a grande
maioria dos santos canonizados de nossa Ordem, como a maioria dos frades com fama
de santidade na sua maioria são esmoleiros ou porteiros. Olhando para os canonizados
temos a simpática figura de São Félix de Cantalício, irmão leigo simples e esmoler, e
outros que seguiram na mesma estrada como São Crispim de Viterbo, São Félix da
Nicosia, São Francisco de Camporosso ou o Beato Leopoldo de Alpandeire que fizeram
serviço como esmoleiros, e São Conrado de Pazham que é o santo patrono dos porteiros
da Ordem Capuchinha. Ele enfrentou com fidelidade ao dever e paciencia o serviço da
portaria por quarenta anos, servindo seja os frades do convento como os pobres que
batiam a porta do santúario de Altötting.
Atualmente algumas virtudes consideradas para o bom irmão religioso podem
parecer superadas, no passado a maioria dos irmãos fazia os trabalhos manuais era
também uma situação conjuntural, e como propunha a mentalidade da época o modelo de
santidade era a lealdade e o bom cumprimento dos deveres estabelecidos de modo mais
perfeito possível. Hoje estamos em outros tempos, mas honrar os compromissos e
cumprir os deveres é atual para cada frade independente do serviço que faça.
As virtudes do bom porteiro além de ser fiel aos seus deveres, está entre elas o deve
ter muita paciência, ser prontos a acolher a todos já na tradição beneditina, o Pai dos
monges do Ocidente na sua Regra coloca como essencial para um porteiro que seja um
religioso de uma certa experiência, e que saiba defender o ambiente claustral das pessoas
que queiram se intrometer na vida do convento, mas que seja discreto e sábio, e pronto a
acolher e responder a quem chegar.2 Seguindo as normas já estabelecidas pela regra
beneditina outras Ordens como a Dominicana, estabelecerá certas qualidades para o
serviço de porteiro. A tradição franciscana primitiva não estabelecerá já que os primeiros
frades não tinham nem convento, mas para mim um critério serve para também para os
porteiros, ser um bom exemplo, ser simples e discreto mesmo quando deve administrar
situações delicadas.
Ainda seguindo a escola franciscana se aplica ao porteiro o que vale para todos os
frades seguir o Cristo bom pastor e ter atitude de acolhida de todos e cuidado pelo
ambiente e pelos irmãos.3 O porteiro é o ministro das relações externas do convento é ele
quem apresenta a cara da fraternidade local e ao mesmo tempo é ele a sentinela que
defende o convento das pessoas externas que tentam tumultuar o convento.
Como para qualquer pastoral ou serviço que se exercer na provincia ou na Ordem é
necessário centrar-se no exemplo de Cristo que é o primeiro irmão menor, a acolhida é
2 REGRA SÃO BENTO CAP LXVI, OS PORTEIROS DO MOSTEIRO.
3 ADM VI
necessário e essencial e o respeito pelas pessoas.4
De outra parte hoje estar disponível a fazer um serviço como o de porteiro é
escolher um serviço humilde e escondido, onde nem sempre as pessoas sabem aquilo que
você faz. Cada momento é necessário ter presente o modelo de Cristo, humilde, pobre
casto e obediente ao Pai5.
Depois de alguns anos exercendo esse serviço constato algumas coisas que nem
sempre é fácil ter diante dos olhos o exemplo de Cristo, na minoridade e na paciência é
constante a tentação de irritar-se. A rotina cotidiana é que causa stress, porque nem
sempre é fácil adapatar-se para vencer a rotina. Nem sempre todas as motivações bastam
para perseverar no objetivo que deve seguir.
È necessario colocar sempre diante dos olhos o espelho de Cristo6 modelo ao qual
somos chamados a conformar-nos para viver a intimidade da vida intra-trinitária. A
oração constante rezando com a vida oferecendo os êxitos e felicidades, mas
principalmente as caidas e as dificuldades. O sustento da fraternidade contando com o
diálogo e da acolhida do dom que tens a consciencia de ser para a fraternidade e para a
Ordem e aprender a acolher o outro com as riquezas que ele te oferece.
Uma das coisas importantes é ter consciências que nos temos valor pelo que somos
e não somente por aquilo que fazemos, principalmente nos que somos chamados a ser
menores no nome Ordem dos Frades Menores7, mas principalmente de fato, devemos
estar no caminho certo colocando toda a nossa pessoa nas coisas que podem parecem sem
importância e sem valor, nas coisas mais simples. Porém, na maioria das vezes não é fácil
controlar o nosso desejo de ser e de fazer coisas importantes.
FREI EMERSON APARECIDO RODRIGUES, OFMCAP.
4 CFR. SL 22, JO 10, 1-18.
5 RB I, 1
6 3 CTIN 12-14
7 RNB VII, 2