O rumor como rede de comunicação informal nas organizações - Paulo Sousa
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O rumor como rede de comunicação informal nas organizações
Uma frase que inicie por - Ouvi dizer que Eles - normalmente indicia uma forma
particular de comunicação – o rumor. Nas próximas linhas irei enquadrar e evidenciar o
rumor na comunicação organizacional, para facilitar a sua identificação futura e minimizar
os seus malefícios. Dando cumprimento ao objectivo, irei situar o rumor na comunicação
organizacional, seguindo-se uma exploração mais pormenorizada do fenómeno através da
sua definição, da apresentação das principais causas para o seu aparecimento e uma breve
discussão do impacto das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). Para concluir a
exposição irei apresentar as principais formas de minimizar os efeitos adversos do rumor.
Como enquadramento importa localizar o rumor no contexto da comunicação
organizacional. Esta pode ser retratada como “o aparelho circulatório da vida
organizacional” (CUNHA et al., 2007: 433), na qual flui a solução para muitos dos
problemas e da qual emergem oportunidades de sucesso organizacionais. Tal como a
figuração utilizada, a comunicação organizacional pode fluir em várias direcções. Esta pode
ser direccionada lateral ou horizontalmente, quando estabelecida entre pessoas ou órgãos ao
mesmo nível hierárquico, ou vertical, quando esta ocorre entre receptores e emissores de
diferentes posições hierárquicas. Outra distinção relevante decorre das redes
organizacionais disponíveis para veicular a comunicação: formais e informais. As primeiras
são dedicadas a assuntos de trabalho enquanto as segundas, embora possam servir para
tratar assuntos de trabalho, não estão formalmente instituídas. A comunicação lateral,
embora concorra para cumprir funções formais, flui maioritariamente através de canais
informais e estima-se que represente cerca de dois terços de toda a comunicação
organizacional (FERREIRA, NEVES e CAETANO, 2001: 375). É este o campo de
actuação do rumor, sendo-lhe atribuído o estatuto de principal rede de comunicação
informal.
Situado o rumor na comunicação informal, importa detalhar as características que o
individualizam. Este tipo de comunicação organizacional move-se por redes de
comunicação não oficiais, principalmente através de transmissão oral e a sua origem é
difusa. A mensagem é normalmente ambígua e surge, principalmente, para preencher uma
lacuna de informação. Parecendo semelhante, o boato pode ser destacado como uma
subsecção do rumor que deve a sua individualidade ao facto de incidir, de forma crítica e
pejorativa, sobre um indivíduo ou grupo.
O rumor surge no seio das organizações para cumprir três funções: informação,
influência e entretenimento (ROSNOW e FINE, 1976:4 in MATEUS, s.d.). A falta de
informação ou a desconfiança na informação disponibilizada destaca-se das demais. O
anseio por respostas institucionais leva a que, na falta destas, os indivíduos construam as
suas próprias respostas com base em informações soltas que foram coligindo. A função de
influência nasce do desejo de realização de um indivíduo ou grupo e visa condicionar
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O rumor como rede de comunicação informal nas organizações
decisões organizacionais. Por fim, a última função atribuída ao rumor organizacional é
entreter, desviando a atenção da organização para assuntos diversos, evitando que outros
sejam abordados.
Se para muitos autores o rumor se caracteriza pela transmissão oral, a
contemporaneidade das TIC evidenciou a existência de novas plataformas de divulgação e
que podem acarretar enormes riscos para as organizações. Com o advento das TIC e a
disponibilização de diversas plataformas de comunicação, como sejam o MSN, Facebook,
Hi5 e outras, o rumor flui agora de forma despercebida. Os indivíduos podem estar no seu
posto de trabalho, aparentemente a trabalhar, enquanto trocam mensagens instantâneas
entre eles. Um rumor tem assim a oportunidade de prosperar, inobservado pelas chefias,
tanto dentro como fora da organização. A falta de barreiras físicas à difusão de um rumor
institucional para o exterior é uma grande ameaça. Este fenómeno pode manchar a imagem
pública de uma organização porquanto uma informação interna, desprovida de qualquer
sentido e veracidade, não seja atempadamente contida e se difunda pelo ciberespaço.
Conscientes de que o rumor existe e sempre existirá, as organizações devem ser
capazes de minimizar os seus efeitos. Para tal, como o principal objectivo do rumor
organizacional é o preenchimento de lacunas de informação, deve-se manter as pessoas
informadas. Algumas medidas podem ser implementadas como o anúncio das datas das
decisões importantes, a marcação de reuniões gerais com os trabalhadores para explicar
decisões e a discussão aberta e franca com os colaboradores. Quanto aos rumores que visam
entreter e influenciar a organização deve estar atenta às reais intenções de quem despoletou
essa comunicação.
Definiu-se que o rumor é um tipo de comunicação organizacional que pode circular
aos vários níveis da organização e se assume como a principal rede de comunicação
informal. As características que o individualizam são a origem desconhecida e a mensagem
difusa. O boato é um tipo de rumor crítico que centra a atenção num indivíduo ou grupo. As
causas do aparecimento de rumores estão intimamente ligadas aos objectivos de busca de
informação, influencia nas decisões ou no desvio de atenção.
Os novos meios de comunicação disponibilizados pelas TIC são um novo desafio
para as organizações, na medida em que dificultam a identificação de rumores e facilitam a
disseminação dos mesmos para qualquer parte do mundo.
As organizações não podem menosprezar esta rede de comunicação. O rumor circula
e sempre circulará pelas organizações e, embora seja relevante para a dinâmica
organizacional, a sua importância deve-se essencialmente aos efeitos perversos que poderá
produzir. Como tal, as chefias devem estar atentas a este fenómeno para que o diagnóstico
seja atempado e, eventualmente, actuar nas causas para se minimizar os danos
organizacionais.
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O rumor como rede de comunicação informal nas organizações
Bibliografia
CUNHA, Miguel et al. (2007), Manual de Comportamento Organizacional e Gestão -
6ª Edição, Lisboa: RH. Editora. ▪
Ferreira, J.M., Neves, J. e Caetano, A. (coords.) (2001), Manual de Psicossociologia
das Organizações, Lisboa: MacGraw-Hill.
MATEUS, Américo, Os rumores/boatos no âmbito da estrutura organizacional da empresa tendo em conta os níveis de comportamento humano nas organizações [em linha], sl, sd [consulta em 26 de Outubro de 2010], disponível na internet em: <http://profamateus.no.sapo.pt/investigacao.html>
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