O Risco de Incêndio Florestal no Ensino da Geografia...

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Actas do XII Colóquio Ibérico de Geografia 6 a 9 de Outubro 2010, Porto: Faculdade de Letras (Universidade do Porto) ISBN 978-972-99436-5-2 (APG); 978-972-8932-92-3 (UP-FL) Fantina Tedim, Faculdade de Letras da Universidade do Porto [email protected] Manuela Malheiro Ferreira, Universidade Aberta [email protected] Maria Amélia Pacheco da Cunha, Escola Básica Lousada Este de Caíde de Rei [email protected] Carla Gabriela Matos de Sousa, Escola Básica 2,3 Virgínia Moura [email protected] O Risco de Incêndio Florestal no Ensino da Geografia no 3º Ciclo do Ensino Básico Ensino da Geografia e Processo de Bolonha 1- Introdução Face às alterações socioeconómicas, às transformações das paisagens e à variabilidade climática, as sociedades terão de se adaptar a um ambiente em constante mudança e de desenvolver respostas que minimizem os impactes sobre a qualidade da vida humana e o desenvolvimento sustentável. O desafio é conhecido mas a “batalha” está longe de estar ganha, pois assume constantemente novos contornos. Todo o processo de reforçar a capacidade de adaptação e de resiliência exige a identificação de escolhas, que se traduzam em crenças e atitudes, que com o tempo se estabelecerão no processo de construção da sociedade (Douglas e Johnston, 2006). A educação tem sem dúvida, um papel fundamental a desempenhar neste processo e a escola é um veículo que deve ser aproveitado em toda a sua potencialidade. Os riscos naturais e as catástrofes estão presentes no quotidiano da vida na Terra. Desenvolver conhecimento sobre os processos naturais e os factores que os transformam em riscos e em catástrofes é fundamental para reduzir a sua probabilidade de ocorrência e minimizar o seu poder destrutivo. Desde finais dos anos setenta do séc. XX, os proponentes de uma abordagem radical (O’Keefe et al., 1976; Waddell, 1977; Hewitt, 1983; Watts e Bohle, 1993; Wisner et al, 2004), defendem que as catástrofes são mais provocadas pelas condições sociais e políticas que pelos agentes geofísicos que as precipitam (Quarantelli, 1995). O actual paradigma assume as catástrofes naturais não como acontecimentos extremos criados por processos naturais, mas como manifestações de problemas não resolvidos de desenvolvimento. As catástrofes são sempre consequência de acções humanas e decisões sociais e políticas. Assim, são fundamentalmente as atitudes e os comportamentos que deverão mudar (Quarantelli, 1992). A redução das catástrofes naturais é, por isso, um dos grandes desafios que se coloca hoje no

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Actas do XII Colóquio Ibérico de Geografia

6 a 9 de Outubro 2010, Porto: Faculdade de Letras (Universidade do Porto) ISBN 978-972-99436-5-2 (APG); 978-972-8932-92-3 (UP-FL)

Fantina Tedim, Faculdade de Letras da Universidade do Porto

[email protected]

Manuela Malheiro Ferreira, Universidade Aberta [email protected]

Maria Amélia Pacheco da Cunha, Escola Básica Lousada Este de Caíde de Rei [email protected]

Carla Gabriela Matos de Sousa, Escola Básica 2,3 Virgínia Moura [email protected]

O Risco de Incêndio Florestal no Ensino da Geografia no 3º

Ciclo do Ensino Básico

Ensino da Geografia e Processo de Bolonha

1- Introdução

Face às alterações socioeconómicas, às transformações das paisagens e à variabilidade

climática, as sociedades terão de se adaptar a um ambiente em constante mudança e de

desenvolver respostas que minimizem os impactes sobre a qualidade da vida humana e o

desenvolvimento sustentável. O desafio é conhecido mas a “batalha” está longe de estar ganha,

pois assume constantemente novos contornos. Todo o processo de reforçar a capacidade de

adaptação e de resiliência exige a identificação de escolhas, que se traduzam em crenças e

atitudes, que com o tempo se estabelecerão no processo de construção da sociedade (Douglas e

Johnston, 2006). A educação tem sem dúvida, um papel fundamental a desempenhar neste

processo e a escola é um veículo que deve ser aproveitado em toda a sua potencialidade.

Os riscos naturais e as catástrofes estão presentes no quotidiano da vida na Terra.

Desenvolver conhecimento sobre os processos naturais e os factores que os transformam em

riscos e em catástrofes é fundamental para reduzir a sua probabilidade de ocorrência e minimizar

o seu poder destrutivo. Desde finais dos anos setenta do séc. XX, os proponentes de uma

abordagem radical (O’Keefe et al., 1976; Waddell, 1977; Hewitt, 1983; Watts e Bohle, 1993;

Wisner et al, 2004), defendem que as catástrofes são mais provocadas pelas condições sociais e

políticas que pelos agentes geofísicos que as precipitam (Quarantelli, 1995). O actual paradigma

assume as catástrofes naturais não como acontecimentos extremos criados por processos

naturais, mas como manifestações de problemas não resolvidos de desenvolvimento. As

catástrofes são sempre consequência de acções humanas e decisões sociais e políticas. Assim,

são fundamentalmente as atitudes e os comportamentos que deverão mudar (Quarantelli, 1992).

A redução das catástrofes naturais é, por isso, um dos grandes desafios que se coloca hoje no

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2 O Risco de Incêndio Florestal no Ensino da Geografia no 3º Ciclo do Ensino Básico

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Mundo. Esta não é apenas tarefa dos investigadores ou dos técnicos e agentes de protecção

civil, mas de todos os cidadãos1.

Os incêndios florestais são hoje um problema global que afecta, anualmente, uma área

entre 3,5 a 4,5 milhões de km2 (Tansey et al. 2008), o que o torna um dos riscos espacialmente

mais prevalecente logo após as secas (UNEP, 2010). Também em Portugal representam um dos

principais riscos. Todos os anos ocorrem, em média, 18 000 incêndios florestais e, desde 1980,

já arderam mais de 3,2 milhões de hectares (Fig.1). Estes valores são sem dúvida um bom

indicador da sua importância ambiental e económica (Martinez et al., 2009), mas também não se

pode descurar os impactes sociais, nomeadamente, em termos de perda de vidas humanas.

Um dos eixos estratégicos do Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios

(PNDFCI)2 visa a “Redução da incidência dos incêndios”. Aí se reconhece a sensibilização e a

educação escolar como um dos objectivos operacionais, preconizando a incorporação da

temática florestal e de defesa de floresta contra incêndios nos curricula escolares nomeadamente

do ensino básico3, assim como a formação dos professores

4. Complementarmente, sugere o

envolvimento dos estudantes na temática florestal em actividades extra-curriculares (PNDFCI,

2006). Também a Lei de Bases da Protecção Civil (Lei n.º 27/2006, art.º 7, ponto 3) refere que

nos seus diversos graus de ensino os programas devem incluir, na área de formação cívica,

Fonte: Dados da Autoridade Florestal Nacional

Fig.1 – Número de incêndios e área ardida em Portugal, desde 1980

1 Artigo 1º da Lei de Bases da Protecção Civil, Lei nº 27/2006 de 3 de Julho.

2 Resolução do Conselho de Ministros n.º 65/2006.

3 Não refere em que áreas disciplinares deverão ser abordadas, nem a complementaridade entre educação

formal e informal.

4 Não identifica nem a área disciplinar, nem o ciclo do ensino básico a que pertencerão esses professores.

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3 Tedim, Ferreira, Pacheco, Sousa

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matérias de protecção civil e autoprotecção, com a finalidade de difundir conhecimentos práticos

e regras de comportamento a adoptar em caso de acidente grave ou catástrofe5.

Neste contexto, o presente trabalho analisa a integração da problemática dos incêndios

florestais no currículo de Geografia no 3º ciclo do ensino básico. Identificaram-se três questões

fundamentais nesta investigação. i) Será que a Geografia responde ao desafio lançado pelo

PNDFCI? ii) Serão os incêndios florestais um tema que interessa à Geografia? iii) Poderá a

Educação Geográfica ser útil na abordagem dos incêndios florestais?

O presente trabalho está organizado em três partes. Na primeira aborda o contributo da

educação formal em Geografia no conhecimento da problemática dos incêndios florestais. Na

disciplina de Geografia do 3º ciclo do ensino básico, os incêndios florestais podem ser abordados

ou no 7º ano de escolaridade, no subtema dos Riscos e Catástrofes, ou então no 9º ano no

subtema Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Através da análise das duas últimas

reformas das orientações curriculares e dos manuais escolares identificam-se algumas

fragilidades quer nos conteúdos abordados quer na sua organização. Na segunda, descrevem-se

actividades extra-curriculares direccionadas para a criação de uma cultura de segurança e para a

defesa do ambiente, onde a sensibilização para a prevenção dos incêndios florestais pode

ocorrer. Por último, apresentam-se algumas notas reflexivas sobre a importância dos incêndios

florestais na educação geográfica no 3º ciclo do Ensino Básico e apresentam-se sugestões de

conteúdos para desenvolvimento da temática dos incêndios quer para o 7º quer para o 9º ano.

2. Os incêndios florestais no ensino da Geografia 2.1. As orientações curriculares

A leitura interpretativa do conteúdo da reforma curricular de 19896 permitiu concluir que a

temática dos incêndios florestais surgia integrada numa perspectiva de defesa do ambiente quer

no 7º ano, no tema Uma Europa de Equilíbrio Ambiental Frágil7, quer no 9º ano no tema A Terra

um Planeta Frágil8. Para o 7º ano sugeriam apresentar as principais formas de agressão

ambiental, salientar os aspectos positivos e negativos da actividade humana na gestão e

preservação do ambiente e demonstrar a necessidade de encontrar formas comuns de actuação

tendo em vista a preservação do ambiente. A única referência encontrada aos incêndios

florestais foi na sugestão de uma visita de estudo a uma área ardida. Para o 9º ano não havia

qualquer menção aos incêndios florestais, embora estes pudessem ser abordados como factor

de deterioração do manto florestal e de aceleração dos mecanismos de erosão.

A reorganização curricular de 20019 introduziu algumas alterações. Sem dúvida, uma das

mais importantes foi a flexibilização do currículo. O professor deixou de ter um programa que

deveria acompanhar escrupulosamente e passou a gerir de forma flexível e participada, as

orientações programáticas. Em termos de conteúdos a problemática dos riscos e catástrofes

naturais foi, sem dúvida, uma inovação introduzida. Anteriormente, estava consagrada a

5 Mas esta perspectiva é limitada pois apenas se focaliza na fase da emergência e esquece-se da importância de

reforçar o conhecimento sobre as diferentes formas de prevenção enquadrada na educação formal, nomeadamente no

âmbito da Geografia.

6 Decreto - lei nº 286/89 de 29 de Agosto de 1989.

7 Subtemas 4.1- O Impacto Ambiental da Actividade Humana e 4.3 - A Necessidade de Preservar e Recuperar o

Ambiente: a Gestão de um Património Comum.

8 Subtemas 4.2- Biosfera, Fonte de Bem-estar e de Riqueza e 4.4- A Complexa Gestão de um Património

Comum.

9 O Decreto - lei nº6/2001 de 18 de Janeiro, aprovou a reorganização curricular do ensino básico e produziu

efeitos a partir do ano lectivo de 2002/2003 no 7º ano; 2003/2004 no 8º ano e 2004/2005 no 9º ano de escolaridade.

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4 O Risco de Incêndio Florestal no Ensino da Geografia no 3º Ciclo do Ensino Básico

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explicação de fenómenos geomorfológicos e climáticos que estão na origem dos riscos, mas o

acento era posto na dinâmica dos processos naturais e não na perspectiva da relação com a

sociedade. Parecem manifestamente insuficientes as indicações emanadas pelas orientações

curriculares, pois apenas vão no sentido de abordar as causas e os efeitos das catástrofes, sem

qualquer referência à explicitação dos conceitos básicos. Risco e catástrofe são conceitos

diferentes que deveriam ser convenientemente explicados e interligados. O primeiro traduz a

probabilidade de ocorrência de um processo natural que poderá provocar danos. Mas estes

estão muitas vezes mais dependentes da vulnerabilidade dos elementos expostos (população,

estruturas, infra-estruturas, actividades económicas) do que da própria frequência e, sobretudo,

magnitude do processo físico. O risco é por isso um fenómeno potencial, persistente e que pode

afectar áreas muito extensas. Já a catástrofe é a concretização do risco e, por isso, é real,

reflecte uma situação esporádica, limitada no tempo e que afecta um determinado local. A

recuperação após uma catástrofe depende dos danos e da capacidade financeira para repor o

normal funcionamento das comunidades afectadas. Se nalguns casos acaba por ser rápida,

noutros pode ser muito lenta e prolongar-se por décadas.

As orientações curriculares de Geografia sugerem a abordagem dos riscos de furacões,

secas, ondas de calor, vagas de frio, avalanches, inundações, e de movimentos de vertente. Não

é compreensível a lógica de selecção, bem como os objectivos dessa abordagem, pois não

foram considerados dois dos riscos mais importantes em Portugal e nas Regiões Autónomas:

incêndios florestais e sismos. Também não deveria ter sido esquecido o vulcanismo. Todavia,

poderá argumentar-se que a complementaridade de saberes entre áreas disciplinares explicaria

que os sismos e o vulcanismo fossem leccionados nas Ciências Naturais. Efectivamente,

enquanto fenómenos naturais assim poderia acontecer, mas a abordagem que é proposta aqui é

da relação entre os processos físicos e a sociedade e, neste caso, é também nitidamente objecto

da Geografia, que não os deveria ignorar. Quanto aos incêndios florestais, a importância das

causas antrópicas na sua ocorrência atribui-lhes um cariz social com impactes diversos,

nomeadamente, ambientais.

A sistematização do conhecimento é fundamental no processo de desenvolvimento

cognitivo e de aquisição de competências. Por conseguinte, é recomendável que em vez de uma

enumeração de riscos naturais, os mesmos surjam integrados numa tipologia. Uma classificação

em função do fenómeno físico que está na sua origem, parece adequada ao ensino básico e

individualizaria os riscos geológicos e geomorfológicos, hidrológicos e meteorológicos. Os

incêndios florestais poderiam ser considerados dentro desta última categoria, não só porque as

trovoadas secas são uma das suas causas naturais (a outra é a actividade vulcânica) mas,

sobretudo, por que os incêndios só se desenvolvem se houver condições meteorológicas

favoráveis (temperaturas elevadas, humidade relativa baixa e ventos fortes). Estas são

fundamentais para explicar os mega-incêndios que se caracterizam pela dimensão,

complexidade e resistência ao controlo convencional. Estes incêndios só perdem intensidade e

se controlam quando as condições meteorológicas se alteram ou, então, o combustível

disponível se reduz significativamente. Como a maior parte dos incêndios florestais têm causas

antrópicas, alguns autores consideram os riscos dendrocaustológicos como misto (Lourenço,

2006), mas talvez seja demasiado complexo os alunos compreenderem esta perspectiva, pelo

que se recomenda a classificação inicialmente proposta.

As sugestões curriculares propostas pela reforma de 2001 para o subtema Ambiente e

Desenvolvimento Sustentável: Grandes desafios ambientais e Estratégias de preservação do

património, do 9º ano de escolaridade, assim como as experiências educativas sugeridas, não

parecem capazes de promover uma abordagem dos incêndios florestais que também não

surgem, claramente, mencionados.

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3 Tedim, Ferreira, Pacheco, Sousa

XII Colóquio Ibérico de Geografia

Nas orientações curriculares das Ciências Naturais e Ciências Físico-Químicas também

não é feita qualquer referência aos incêndios florestais. Alguns manuais mencionam-nos com

reduzido desenvolvimento. Sugerem no conteúdo Gestão sustentável dos recursos, uma

abordagem que pode ter como linhas norteadoras as seguintes questões: Quais são as

consequências para a Terra da utilização desregrada dos recursos naturais? Quais são as

consequências das aplicações científicas e tecnológicas para a Terra? Como se poderá

contribuir para a sustentabilidade da Terra? É proposto que esta abordagem seja interdisciplinar

e realizada em coordenação com a Geografia. É possível a realização de articulações horizontais

a nível de escola, mas estas estão dependentes da interpretação dos programas feitas pelos

docentes e da sua capacidade de colaboração. Tal articulação horizontal não é fácil e exige uma

planificação cuidadosa por parte dos professores das áreas curriculares disciplinares do 7º, 8º e

9º ano.

O tema das catástrofes surge também nas orientações curriculares das Ciências Naturais,

onde é sugerido que sejam realçadas as respectivas medidas de protecção das populações. È

também mencionado que esta temática pode ser discutida com base em notícias divulgadas

pelos meios de comunicação social. Esta tem um papel informativo mas o conhecimento

científico que transmite é, sem dúvida, reduzido. Não será fundamental criar bases de

conhecimento científico na escola de modo que os jovens possam interpretar, convenientemente,

as informações disponíveis na televisão, na internet e em jornais ou revistas? Fornecer

informação é diferente de construir conhecimento científico. Onde é referido, por exemplo, que

para abordar a incidência, distribuição geográfica e impactos das catástrofes deveriam ser

consultadas bases de dados como o Em-dat, de fácil acesso na internet, ou o Flood Darmouth

Flood Observatory (para o caso das cheias) ou, ainda, a base de dados da Autoridade Florestal

Nacional e o European Forest Fire Information System (EFFIS) para o caso dos incêndios

florestais? Onde se recomenda que sejam utilizadas as imagens de satélites modis10

para

visualizar regiões do Globo afectadas por incêndios? Actualmente, a internet torna possível

aceder a estas bases de dados de forma simples e mesmo interactiva, o que constituirá uma

experiência educativa interessante para os jovens. Uma outra vantagem é a actualidade dos

registos. Por exemplo, no Em-dat é possível encontrar a listagem dos eventos que vão ocorrendo

em cada semana. Porque não recorrer, também, a relatórios e outra informação disponibilizada

pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente e pelo Programa das Nações Unidas para o

Desenvolvimento? Mas outras fontes de conhecimento científico de incontestável reputação

estão facilmente acessíveis na internet. As notícias de jornais focalizam-se em factos ocorridos e

a sua função como instrumento didáctico para aumentar os níveis de preparação das populações

face aos riscos naturais é uma prática rara. Já algumas revistas de informação e divulgação

podem conter artigos de relevante profundidade científica aos quais se poderá recorrer. Mas,

porque não aproveitar instrumentos que os jovens utilizam com frequência e onde também se

pode encontrar ciência divulgada de uma forma rigorosa mas igualmente simples e atractiva? Por

exemplo, no youtube é possível encontrar vídeos úteis para serem visualizados numa aula de

Geografia ou de Ciências Naturais. Recomenda-se como forma de motivação para a importância

de se conhecer os fenómenos que estão na origem dos riscos naturais o vídeo produzido pela

Estratégia Internacional para a Redução das Catástrofes11

intitulado “Lições salvam vidas: a

história de Tilly Smith”. Porque não recorrer também a um outro vídeo desta mesma organização

para explicar as causas, os efeitos das catástrofes, a sua distribuição e a vulnerabilidade das

10 Disponíveis em http://earthobservatory.nasa.gov/GlobalMaps/view.php?d1=MOD14A1_M_FIRE#

11 http://www.youtube.com/watch?v=E0yrONL1Q3g

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6 O Risco de Incêndio Florestal no Ensino da Geografia no 3º Ciclo do Ensino Básico

XII Colóquio Ibérico de Geografia

populações?12

Aí está evidenciada a importância da mitigação dos riscos e da adaptação à

variabilidade climática de modo a minimizar o impacto das catástrofes.

O fogo é uma reacção química que está na origem dos incêndios e, por isso, faz sentido

que seja explicado nas Ciências Físico-Químicas, assim como os processos de propagação.

É, ainda, de salientar que a temática dos incêndios florestais também pode ser abordada

de forma interdisciplinar nas Áreas Disciplinares Não Curriculares: Área de Projecto13

e

Formação Cívica, mas esta última apenas ao nível do 5º ano de escolaridade14

.

Da reforma curricular de 1989 à reorganização curricular de 2001, os incêndios florestais

deixaram de estar referidos claramente nas orientações curriculares de Geografia do 3º ciclo do

ensino básico. Esta opção vem em contra ciclo pois o número de incêndios tem aumentado em

Portugal (Fig.2), o que pode indiciar alguma dificuldade, nomeadamente, da Geografia, em

perceber e responder a este desafio que o mundo actual coloca. Não se pode deixar de salientar

como positiva a integração da problemática dos riscos e catástrofes no plano curricular do ensino

básico. Não se esqueça que a década de 90, do século passado, foi dedicada pelas Nações

Unidas à redução das catástrofes naturais que enfatiza a importância de reforçar a prevenção,

mitigação e preparação no sentido de minimizar as consequências da manifestação dos riscos

naturais. O primeiro princípio definido no Plano de Acção da Estratégia de Yokohama (1994)

referia que a avaliação do risco era fundamental para a adopção de políticas adequadas de

redução das catástrofes em termos de frequência e de intensidade.

Fonte: Dados provenientes da Autoridade Florestal Nacional

Fig.2- Evolução do número de incêndios e área ardida em Portugal

12 http://www.youtube.com/watch?v=yR90Z1WPAMU

13 Por resolução do Conselho de Ministros de 14 de Outubro foi eliminada a área de projecto do elenco das áreas

curriculares não disciplinares.

14 No âmbito do Plano de Acção Nacional para combater situações de Insegurança nas Escolas, a Equipa de

Missão para a Segurança Escolar solicitou à Direcção Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular a elaboração

do módulo “Cidadania e Segurança”. Este módulo está integrado na área curricular não disciplinar de Formação Cívica do

5º ano de escolaridade.

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3 Tedim, Ferreira, Pacheco, Sousa

XII Colóquio Ibérico de Geografia

Mesmo sabendo que as experiências educativas sugeridas para cada tema programático

não têm um carácter de obrigatoriedade, que se apresentam, como exemplos de possibilidades

de desenvolvimento de competências essenciais, e que permitem ao docente seleccionar outras,

de acordo com os meios e os recursos da escola, julga-se vantajoso uma maior especificação,

quer das estratégias, quer das orientações curriculares, no sentido de aperfeiçoar as

aprendizagens conceptuais, instrumentais e atitudinais veiculadas por este tema tão importante

para a Educação Geográfica.

A extensão do programa e o reduzido tempo lectivo poderão ser facilmente utilizados

como argumento para justificar que determinados temas, e neste caso específico os incêndios

florestais, não possam ser abordados. Este é um falso argumento pois uma melhor

sistematização dos conteúdos e uma clara identificação da estrutura conceptual permitirá

distinguir o essencial do que é meramente complementar. Mas se mesmo assim, o argumento

exposto prevalecer poderá perguntar-se mas porque sugerem as orientações curriculares a

abordagem das avalanches se elas, ao contrário dos incêndios florestais, não são um risco em

Portugal? Além disso, devido à dimensão social destes últimos é importante proceder à

sensibilização da população escolar não apenas porque serão os adultos de amanhã mas,

também, porque poderão ter algum impacto na alteração de comportamentos da própria família.

Na última reorganização curricular, a nível da apresentação das noções, não se verificou

uma evolução, pois continua a não existir a preocupação de identificar os conceitos básicos para

a compreensão do tema quer dos Riscos e Catástrofes quer do Ambiente e Desenvolvimento

Sustentável. Além das definições de risco e catástrofe não serem apresentadas, deixa de

constar, nas orientações curriculares, a necessidade de se efectuar uma definição dos diferentes

riscos naturais. Continuam apenas a indicar-se alguns riscos, sem se fundamentar essa escolha

e sem os integrar em qualquer tipologia. A reorganização curricular de 2001 inova ao abordar a

intervenção antrópica no surgimento ou potenciação de riscos. Embora, as questões ligadas à

previsão e prevenção continuem omissas. Deste modo, terá de ser concretizado o que não está

claro nas orientações curriculares, assim como ajustar e ampliar alguns dos conteúdos

programáticos e experiências educativas.

Quanto à flexibilidade curricular, esta pode ser encarada como atractiva por alguns

docentes, pois permite outras aproximações temáticas, procedimentais e atitudinais. Porém,

existem conteúdos fundamentais que todos necessitam aprender, não inviabilizando, ao mesmo

tempo, um enfoque pessoal direccionado à plateia a quem se dirige. Pacheco (2008) evidencia

que o tempo lectivo dedicado pelos professores à temática dos riscos é muito variável. Enquanto

alguns dos docentes inquiridos dedicaram-lhe somente dois tempos (1h30m) e recorreram

apenas a trabalhos de grupo, outros dedicaram-lhe doze tempos (9h).

O Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios (2006) salienta que os

programas escolares apresentaram uma evolução positiva no tratamento das questões

ambientais. De facto, também na Geografia a reforma de 2001 valoriza-as muito mais que a de

1989. No entanto, em relação concretamente aos incêndios florestais, não parece ter havido

progressos. Pelo contrário, pois mesmo na lógica de uma maior liberdade de escolha dos actores

educativos, poderia ser simplesmente referido que deveria ser dado especial realce aos

problemas ambientais e aos riscos naturais mais importantes, por exemplo, em Portugal ou na

Europa. Nesta perspectiva, os incêndios seriam necessariamente considerados, assim como as

inundações e os sismos. Todavia e atendendo à crescente mobilidade da população,

nomeadamente no âmbito dos fluxos turísticos, para locais com riscos muito diferenciados, talvez

importe apresentar uma abordagem mais global. Se a Tilly Smith nas aulas de Geografia apenas

tivesse abordado os riscos mais importantes que afectam o Reino Unido, certamente que não

teria havido história para contar e a adolescente britânica não seria reconhecida em tantas partes

do mundo.

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8 O Risco de Incêndio Florestal no Ensino da Geografia no 3º Ciclo do Ensino Básico

XII Colóquio Ibérico de Geografia

A integração dos Riscos e Catástrofes nos conteúdos da disciplina de Geografia no 7.º ano

de escolaridade é, sem dúvida, muito positiva, mas as orientações curriculares são

manifestamente insuficientes para promover um coerente desenvolvimento da temática e

especificamente dos incêndios florestais, quer no contexto da sala de aula, quer na elaboração

dos próprios manuais escolares. Sabendo que estes são uma ferramenta fundamental de

orientação do processo de ensino, não só para alunos como para professores, será que abordam

os incêndios florestais de uma forma sistematizada e clara?

2.2. Os incêndios florestais nos manuais escolares

Os incêndios florestais são muito diferentemente abordados pelos manuais escolares de

Geografia do 7º e 9º ano de escolaridade. Os mais recentes que abordam a temática dos riscos e

catástrofes naturais foram publicados em 2006. Dos onze manuais que a desenvolvem, apenas

em seis deles (Quadro I) se fala dos incêndios florestais. Nos restantes, ou o tema está

completamente omisso, o que sucede em quatro dos casos, ou então é apenas referido a

propósito das ondas de calor. Mesmo os autores que abordam os incêndios florestais enquanto

risco natural, nunca dizem o que significa e nem sequer fazem a distinção entre risco e

catástrofe.

Quadro I- Conteúdos abordados pelos manuais no subtema Riscos e Catástrofes

Conteúdos no 7º ano de escolaridade Número de manuais

Distribuição geográfica dos incêndios 4

Identificação de causas naturais 4

Identificação de causas antrópicas 2

Enumeração das consequências dos incêndios 4

Medidas de prevenção 2

Medidas de resposta aos incêndios 1

Fonte: Manuais escolares de Geografia, publicados em 2006.

Clarificar o que significa risco de incêndio florestal será importante para os alunos

compreenderem que o risco é a probabilidade de um incêndio ocorrer e provocar danos. Estes

não estão na razão directa da intensidade do incêndio sendo, igualmente, influenciados pela

vulnerabilidade dos elementos expostos. Ao nível terminológico, a maior parte dos manuais

adopta o termo incêndio florestal, embora também surja, por vezes, fogo. Será conveniente

adoptar-se uma clara definição de ambos os conceitos, pois são distintos. Com efeito, o fogo é

uma reacção química. Fala-se de incêndio para designar um fogo que arde sem controlo.

Integrar o conceito de fogo controlado e distingui-lo do de incêndio poderá ser fundamental para

a compreensão da diferença entre os dois conceitos.

A análise dos incêndios florestais pode ser feita em termos do número de ignições e em

função da área ardida, sendo estes os indicadores básicos que os alunos deverão conhecer.

Recorrer a bases de dados como a da Autoridade Florestal Nacional (AFN), do EFFIS ou do Em-

dat, é um bom exercício que também possibilita a abordagem da dimensão temporal e espacial

dos incêndios florestais, assim como dos seus impactos.

A escala geográfica de análise adoptada pelos manuais é muito variável e nem sempre é

explícita. No caso específico dos incêndios florestais talvez fosse adequado focalizar-se em

Portugal o que não inviabiliza alguma exemplificação noutros contextos territoriais. Como o risco

de incêndio é muito variado, a abordagem à escala local poderá ser considerada nas actividades

de educação não formal.

A distinção entre a causa da ignição do fogo e as condições favoráveis à sua propagação

é muito pouco clara nos manuais analisados. Com efeito, a cobertura vegetal, o tipo de clima ou

mesmo uma onda de calor ou uma seca, podem criar condições favoráveis à propagação de

incêndios mas não são a fonte de ignição. De facto, para ocorrer fogo é necessário que haja

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3 Tedim, Ferreira, Pacheco, Sousa

XII Colóquio Ibérico de Geografia

combustível (vegetação), comburente (oxigénio) e uma fonte de calor. Esta poderá ter origem

numa trovoada seca ou numa erupção vulcânica. Todavia, a maior parte das ignições têm

causas humanas. São mencionadas em três manuais, mas somente exemplificadas em dois

deles. Num dos manuais recorre-se à classificação adoptada pela AFN, que constitui uma boa

opção, pois para além de utilizar a terminologia oficial permite interpretar a informação estatística

publicada.

Ao elencar factores que aumentam o perigo de incêndio e contribuem para a sua

propagação, é mais didáctico e mais eficiente em termos de sistematização do conhecimento,

fazê-lo se os agrupar em categorias. Por exemplo: i) condições meteorológicas - temperaturas

elevadas, ausência de precipitação, baixa humidade, vento forte; ii) características da vegetação

- secura da vegetação, características dos povoamentos (densidade, espécie vegetal, extensão),

acumulação vertical e horizontal de combustíveis; iii) planeamento e gestão das florestas -

opções por espécies mais combustíveis, inexistência de faixas de contenção, falta de limpeza

das florestas, fraca acessibilidade para combater os incêndios; iv) condições topográficas -

declives fortes. Todas estas condições facilitam a propagação de um incêndio e,

consequentemente, a dimensão da área ardida, embora não sejam a causa da ignição.

As consequências dos incêndios florestais são enumeradas em quatro manuais mas

apenas num surgem classificadas em categorias, Aí se distingue as consequências económicas

(dando como exemplo a destruição de casas, fábricas, postos de electricidade e a inviabilidade

de usar recursos florestais) e as ambientais (referindo somente a destruição de ecossistemas).

Este esforço de agrupamento é muito útil, embora outras classificações possam ser utilizadas.

Propõe-se agrupar as consequências em sociais, económicas e ambientais. As primeiras são as

menos abordadas e prendem-se com o número de pessoas mortas15

e feridas na sequência de

incêndios e com os impactos do fumo na saúde das pessoas. Apenas num manual é feita

menção à perda de vidas humanas. Por exemplo, nos incêndios ocorridos em 2005 em Portugal,

foram registadas 15 vítimas mortais entre bombeiros e habitantes de zonas afectadas. Em

relação às consequências sobre o ambiente, algumas são visíveis à escala local e podem ser

percepcionadas pelos alunos, nomeadamente através de uma visita de estudo, como sejam a

destruição da floresta, deslizamentos de terras e destruição de fauna e flora. Todavia, há outros

impactos locais como a redução da qualidade e quantidade dos recursos hídricos e a poluição do

ar que são mais difíceis de comprovar pois, em geral, não há informação disponível. Outros

impactos ambientais como a emissão de poluentes para a atmosfera, assim como gases com

efeito de estufa podem afectar uma área bem mais vasta. O IPCC atribui 17,3% das emissões

antropogénicas aos incêndios o que faz deles a segunda maior fonte de gases com efeito de

estufa logo após a queima de combustíveis fósseis (UNEP, 2010). Em relação aos custos

económicos, são mencionados nos manuais a destruição de bens, habitações, indústrias, infra-

estruturas eléctricas, perda de produções florestais, mas não se encontram referências à

destruição de explorações agro-pecuárias e aos custos indirectos relacionados com perda de

postos de trabalho. Ao nível das consequências dos incêndios importa não só considerar a

questão da escala, mas também, do tempo, pois são dois vectores fundamentais da análise

geográfica. É fundamental distinguir os impactos de curto dos de médio e longo prazo.

São dois os manuais que apresentam medidas de prevenção16

, mas a falta de

estruturação também é nítida na enumeração que é feita. Talvez fosse importante referir a

15 Convém ter em consideração o impacto destas mortes sobre os membros sobreviventes das famílias

afectadas. Por exemplo, nos incêndios que afectaram o Estado Australiano de Vitória em Fevereiro de 2009 em que

morreram 173 pessoas, várias dezenas de crianças e jovens ficaram órfãos.

16 Referem as seguintes medidas: não fazer queimadas, não lançar foguetes, não queimar lixos, não fazer lume,

limpar o mato, utilizar dispositivos contra a libertação de faíscas.

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10 O Risco de Incêndio Florestal no Ensino da Geografia no 3º Ciclo do Ensino Básico

XII Colóquio Ibérico de Geografia

obrigatoriedade de limpar uma faixa em redor das habitações para as proteger dos incêndios e

de como essa faixa tem demonstrado ser muito eficaz no abrandamento da progressão do fogo.

Um dos manuais refere igualmente um conjunto de medidas sobre a forma de reagir durante um

incêndio florestal.

Os manuais recorrem a elementos gráficos (mapas, gráficos, fotografias) por vezes

desenquadrados do texto. Será conveniente realçar a necessidade da datação, a identificação do

local e da fonte dessas ilustrações. Todos os elementos do mapa deveriam estar sempre

presentes, o que nem sempre acontece. Sobre as opções de pesquisa/de leitura sugere-se que

sejam mais numerosas e diversificadas e recorram mais a trabalhos científicos, assim como às

principais bases de dados já identificadas anteriormente. Alguns documentos técnicos, por

exemplo da AFN, poderiam ser utilizados. O recurso às notícias de jornais, embora seja

aconselhável não deverá ser exagerado, pois pode significar que o que os jornais fazem é

ciência. A sua função é informar e não produzir conhecimento científico, embora o possam

noticiar.

Em 2008 foram publicados seis manuais que abordam o subtema Ambiente e

Desenvolvimento Sustentável. Num deles os incêndios florestais são desenvolvidos de uma

forma semelhante à utilizada no subtema Riscos e Catástrofes, não se percebendo a distinção

entre os dois subtemas, o que não é a melhor opção. Apenas dois dos autores optaram por

referir os incêndios como um problema ambiental e não como um risco, embora adoptem uma

redacção de risco de incêndio na abordagem neste ponto. Dos conteúdos apresentados nesta

temática realçam-se três aspectos. Por um lado, os incêndios florestais causam poluição

atmosférica e emitem gases com efeito de estufa (referido em três dos seis manuais) mas, por

sua vez, o aumento do efeito de estufa aumenta a probabilidade de ocorrência de incêndios

florestais (referido em dois manuais). Por outro lado, os incêndios têm contribuído para a

desflorestação (referido por três manuais) e pode mesmo ser utilizado como instrumento para

transformar áreas florestais em agrícolas. A precisão e clarificação surgem como necessárias

pois afirmações como “Os incêndios destroem o ambiente” são simplistas e redutoras

necessitando de serem. Efectivamente há ecossistemas que precisam do fogo para sobreviver.

Em síntese verifica-se que como as orientações curriculares são muito gerais e omissas

relativamente a este risco, uns manuais abordam os incêndios florestais enquanto outros não o

fazem. A formação que os alunos acabam por ter a este nível é muito diversificada. Tudo vai

depender da actuação do professor e da sua sensibilização para os incêndios florestais, assim

como do desenvolvimento dado ao tema pelo manual adoptado na escola.

A Geografia poderá ter um papel muito importante na apresentação de conceitos

fundamentais relacionados com os incêndios florestais e na explicação de como a transformação

das paisagens e a gestão das mesmas tem influência da ocorrência de eventos deste tipo. Os

manuais poderão e deverão sistematizar de uma forma simples, mas cientificamente

aprofundada, esta realidade.

3. Os incêndios florestais na educação não formal

A educação não formal pretende sensibilizar os jovens para a aquisição de saberes e

competências em domínios complementares dos leccionados no plano curricular e fundamentais

para o desenvolvimento social e cívico. Desenrola-se quer ao nível da segurança quer da

educação ambiental. Em ambas podem ser abordados os incêndios florestais. No domínio da

segurança realizam-se simulacros e acções formativas. Para além de ser testado o plano de

emergência da escola são explicadas aos jovens as regras básicas de segurança e os

comportamentos de autoprotecção, em contextos adaptados aos riscos locais, que poderão

afectar essa população escolar. Seria certamente útil uma adequada articulação entre os

conteúdos leccionados pela Geografia e os veiculados na educação não formal (Sousa, 2008). A

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3 Tedim, Ferreira, Pacheco, Sousa

XII Colóquio Ibérico de Geografia

maioria dos estabelecimentos de ensino prepara muito superficialmente estas acções, pois

fazem uma breve menção do exercício a desenvolver, numa área curricular não disciplinar, como

por exemplo, Formação Cívica, ficando por concretizar a articulação horizontal com o contributo

das diferentes áreas curriculares disciplinares. Ainda, no âmbito da segurança pode-se salientar

o Clube de Protecção Civil17

. Este é um programa de enriquecimento curricular destinado aos

alunos do 2º e 3º ciclo do ensino básico, tutelado pela Autoridade Nacional de Protecção Civil.

Visa promover a colaboração entre diversos agentes de protecção civil com vista a desenvolver

nos jovens uma cultura de segurança18

. A escola ao assumir um papel de coordenação pode

optar pelos temas que mais lhe interessam, mais adequados à sua própria realidade, dentro da

diversidade apresentada pelo projecto. Este considera que as escolas são um importante

parceiro nesta acção pedagógica e que os alunos são agentes de mudança e de difusão de

determinadas mensagens, nomeadamente junto da sua família.

No âmbito da educação ambiental19

merece destaque o Clube da Floresta20

, que foi criado

no âmbito do Projecto de Sensibilização e Educação Florestal da População Escolar-PROSEPE

(1993/1994). Este incide na promoção dos comportamentos e das atitudes mais apropriadas para

a conservação da floresta, bem como para a sua defesa contra incêndios. O Programa Ciência-

Viva21

é referido no PNDFCI como uma das vias para promover a sensibilização dos jovens para

os incêndios florestais.

Em muitos municípios do país, o Serviço Municipal de Protecção Civil, no âmbito da

política de defesa da floresta contra incêndios, realiza acções de sensibilização dos alunos e, por

vezes dos professores, para a problemática da floresta e dos incêndios florestais.

O sucesso local destas iniciativas extracurriculares depende da adesão e do empenho dos

docentes pois, na maioria das vezes, fazem-no fora do seu horário de trabalho, pois não lhes é

atribuída carga horária lectiva (Sousa, 2008). Há, nas escolas, cada vez mais burocracia e

entraves na organização e implementação, destes projectos extra curriculares, colocados não só

pelo modelo de avaliação mas, também, pelo próprio horário dos professores.

Uma questão central que exige investigação é saber qual o verdadeiro impacto das

actividades desenvolvidas na educação não formal na efectiva criação de uma cultura de

segurança e, especialmente, na prevenção dos incêndios florestais, pois há poucos estudos

disponíveis (Dufty, 2009; Towers, 2009; Johnston et. al., 2001). Esta investigação será

17 É uma consequência da sensibilização pública da Autoridade Nacional de Protecção Civil, a partir de um

protocolo de colaboração assinado entre os Ministérios da Administração Interna e da Educação.

18 Entre as actividades salientam-se as palestras com responsáveis da Protecção Civil Municipal, visitas de

estudo à corporação de bombeiros do município, ou trabalhos que assinalem efemérides como o Dia Internacional da

Protecção Civil ou o Dia Internacional para a Redução das Catástrofes. O clube tanto promove o desenvolvimento de

actividades com carácter lúdico, como acções de sensibilização, aposta também na elaboração de um jornal de parede e

em jogos didácticos. O programa promove a ideia de que o clube pode funcionar como uma aula fora da sala de aula.

19 O programa Eco-escolas é um projecto educativo internacional promovido pela Foundation for Environmental

Education - FEE e apoiado pela Comissão Europeia, que pretende estimular as escolas a melhorar o seu desempenho

ambiental, a gestão do espaço escolar e a sensibilização da comunidade, mas não tem impacto ao nível da

sensibilização sobre os incêndios florestais.

20 O PROSEPE é o maior projecto de educação florestal existente em Portugal. O número de Clubes da Floresta

é, actualmente, de cerca de 170, mas atingiu 350 em 2001/2002 ( http://www.nicif.pt/Prosepe/prosepe.htm)

21 Por exemplo, no ano lectivo de 2003-2004 escolas do 3º ciclo do ensino básico participaram em actividades

sobre o ambiente e riscos intituladas “A Ciência e o Risco: como avançar entre o medo e a utopia”.

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12 O Risco de Incêndio Florestal no Ensino da Geografia no 3º Ciclo do Ensino Básico

XII Colóquio Ibérico de Geografia

fundamental, nomeadamente, para adequar conteúdos às idades dos grupos alvo e à

periodicidade de realização destas actividades.

4. Reflexões sobre Incêndios florestais e a Geografia

A Geografia no 3º ciclo do ensino básico responde ao desafio lançado pelo PNDFCI no

conhecimento dos incêndios florestais, mas com muitas fragilidades. Se não as ultrapassar

perderá importância social. Para a Geografia é central a relação entre a natureza e a sociedade.

Os incêndios florestais, assim como outros riscos naturais, emergem nesta interface. Reflectem,

inteiramente, esse sistema interactivo e apresentam ao geógrafo o desafio e a oportunidade de

fornecer contributos práticos para a qualidade de vida humana (Oliver, 1986). O impacte social

da Geografia dependerá da qualidade da resposta ao desafio, nomeadamente pela forma como

assume os incêndios florestais nas suas orientações curriculares e nos manuais escolares e,

sobretudo, pela sua capacidade de desenvolver competências nos alunos. Para isso é preciso

que não assente na enumeração de factos mas valorize, fundamentalmente, a vertente

interpretativa que implica a sistematização e integração conceptual. Só assim será possível

desenvolver uma Geografia crítica que sirva para entender o mundo em que se vive (Souto,

2000) e, sobretudo, que ajude a fazê-lo melhor, independentemente, da perspectiva ideológica.

Persistir no argumento de que o tempo lectivo da disciplina é muito curto e que o programa é

extenso, não é razão para a inacção.

O fogo é um elemento natural dos ecossistemas e tem duas faces. Por um lado, destrói

formações vegetais, pode provocar perda de vidas humanas, produz danos económicos e

consequências ambientais. Por outro, é essencial para a regeneração de algumas espécies

vegetais e pode trazer benefícios tangíveis às comunidades locais. O fogo torna-se um problema

e constitui um incêndio quando queima os locais errados, ou os lugares correctos mas no tempo

errado, ou então com uma frequência e intensidade excessiva. Os incêndios florestais são um

tema que interessa à Geografia pois são, parcial ou mesmo globalmente, resultado de uma longa

cadeia de acções ou inacções incluindo a política de supressão do fogo, práticas silvícolas,

despovoamento do mundo rural, o abandono da agricultura, a desvalorização das produções

florestais, desenvolvimento da interface urbano-florestal, políticas públicas (agrícola, florestal,

ordenamento do território), alterações das práticas culturais e comportamentos dos cidadãos.

Hoje, a maior parte dos incêndios florestais são directa ou indirectamente influenciados pelo

Homem. Os seus impactos são afectados pelas acções das pessoas, nomeadamente, reduzindo

a carga combustível em redor das casas, limpando as florestas, construindo edifícios com

materiais mais resistentes ao fogo, o que tem efeitos na redução do impacto do incêndio (Paton,

2006). É, fundamental perceber-se que se as causas dos incêndios não podem ser controladas,

os seus efeitos poderão ser minimizados (Kumagai et al., 2004; Paton et al., 2006).

A Geografia poderá ser útil na abordagem dos incêndios florestais que são um processo

espacial determinado por uma complexa ordem de factores. Manifestam-se a nível local mas,

dependendo da intensidade e dimensão os seus impactos, pode atingir áreas extensas. Têm

uma dimensão temporal que se manifesta não apenas no regime do fogo mas também através

dos impactos de curto e médio prazo.

A Geografia pode transmitir uma visão mais global da complexidade do problema e

contribuir para a mudança de mentalidades e comportamentos, bem como para criação de uma

cultura de segurança. Tem um papel importante na apresentação de conceitos fundamentais

relacionados com os incêndios florestais, na explicação dos factores que interferem na sua

propagação e de como a transformação das paisagens e a gestão das mesmas têm influenciado

a ocorrência de eventos deste tipo. Os impactos das políticas públicas (de defesa da floresta

contra incêndios, agrícola, florestal, ordenamento do território e de protecção civil) no regime do

fogo e na resolução do problema dos incêndios florestais também poderão ser considerados.

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3 Tedim, Ferreira, Pacheco, Sousa

XII Colóquio Ibérico de Geografia

Em relação aos manuais escolares, sugere-se uma maior precisão terminológica,

sistematização dos conteúdos, selecção cuidada dos materiais complementares, sugestões de

recursos on-line, rigor nos elementos cartográficos utilizados.

Os incêndios florestais podem ser abordados no 7º ano de escolaridade porque são um

risco natural (McCaffrey, 2004), não obstante, em todo o mundo as actividades humanas serem

responsáveis pela maior parte da sua ignição (Martinez, 2009). Como não é possível controlar

todos os incêndios, é adequado olhar para eles segundo a óptica dos riscos naturais, pois

permitirá compreender melhor como os indivíduos percebem e respondem aos incêndios

florestais, pois a mitigação dos riscos requer mudanças nas atitudes e comportamentos quer das

comunidades quer dos indivíduos (McCaffrey, 2004). Para isso é fulcral uma clara compreensão

dos conceitos e da complexidade do processo, pelo que se apresenta uma proposta de

sistematização dos conteúdos mais adequados (Quadro II). A preparação sobre a forma de

resposta durante um incêndio considera-se matéria a ser desenvolvida no âmbito da educação

não formal, pelo que não foi considerada na proposta.

Quadro II - Proposta de estruturação dos conteúdos fundamentais da temática dos incêndios florestais para o 7º ano de escolaridade

Incêndios florestais: conceitos básicos

▪ Conceito de fogo e de incêndio

▪ O incêndio florestal enquanto risco natural: o perigo e a vulnerabilidade

▪ Fases de incêndio florestal (ignição, propagação, extinção e rescaldo)

Distribuição temporal e espacial dos incêndios

▪ Evolução dos incêndios em Portugal e factores explicativos

▪ Distribuição espacial dos incêndios em Portugal e os factores explicativos

▪ Os incêndios como um problema global

Causas de ignição dos incêndios florestais

▪ Causas naturais - faíscas e erupções vulcânicas

▪ Causas humanas - uso do fogo, acidentais, estruturais, incendiarismo

Factores favoráveis à propagação de incêndios florestais

▪ Características da vegetação

▪ Condições meteorológicas

▪ Topografia

Consequências dos incêndios florestais

▪ Económicas

▪ Ambientais

▪ Sociais

Prevenção dos incêndios florestais

▪ Ordenamento e gestão da floresta

▪ Faixas de protecção em redor das habitações

▪ Sensibilização da população

▪ Vigilância

No âmbito do subtema Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, no 9º ano de

escolaridade os incêndios florestais podem voltar a ser referidos (Quadro III), embora com

conteúdos distintos dos apresentados para o 7º ano de escolaridade. Propõe-se uma maior

interligação entre os incêndios florestais e os outros problemas ambientais existentes e,

sobretudo, maior inter-relação entre o regime de fogo e a dinâmica dos territórios.

A reforma curricular de 2001 propõe a abordagem interdisciplinar de algumas temáticas.

Pode haver muitas vantagens nesta ao nível de articulação de conteúdos entre a Geografia, as

Ciências Naturais e as Ciências Físico-Química, pelo que se apresenta uma proposta de

conteúdos integrando teoria de todas as áreas científicas mencionadas (Quadro IV).

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14 O Risco de Incêndio Florestal no Ensino da Geografia no 3º Ciclo do Ensino Básico

XII Colóquio Ibérico de Geografia

Quadro III- Proposta de estruturação de conteúdos da temática dos incêndios, no âmbito do subtema Ambiente e Desenvolvimento Sustentável

O fogo: uma componente dos ecossistemas

▪ A dupla face do fogo

▪ Os tipos de incêndio e os seus impactos nos ecossistemas

▪ Os impactes ambientais dos incêndios

Desflorestação A vulnerabilidade e resiliência das diferentes formações vegetais Regeneração de ecossistemas

Biodiversidade Homogeneização da paisagem Poluição do ar

Emissão de gases com efeito de estufa Solo - estrutura, composição, erosão Recursos hídricos – qualidade e quantidade

Os incêndios florestais: Razões explicativas para a dificuldade de resolução do problema

▪ Alterações da paisagem - Despovoamento do mundo rural, diminuição do valor dos produtos florestais,

desenvolvimento da interface urbano-florestal,

▪ Mudanças de comportamentos sociais - utilização recreativa da floresta,

▪ Variabilidade climática - Condições meteorológicas extremas, as secas e as ondas de calor

▪ Políticas públicas - agrícola, florestal, ordenamento do território

▪ Política de defesa da floresta contra os incêndios - as vantagens e as deficiências dos programas de

prevenção

Quadro IV - Proposta de conteúdo para uma planificação horizontal da temática dos incêndios florestais com as

disciplinas de Ciências Naturais e Ciências Físico-Químicas

O fogo: uma reacção química

▪ Os reagentes e os produtos da reacção

▪ Os produtos da combustão (calor, chamas, gases de pirólise, óxidos, fumos, cinzas)

▪ O incêndio florestal: uma reacção em cadeia (do triângulo ao tetraedro do fogo)

Efeitos do fogo

▪ Térmico, óptico, sonoro, outros

Formas de propagação do fogo

▪ Condução, convecção, radiação

Regime do fogo

▪ Frequência, intensidade, dimensão, período de recorrência, sazonalidade

Fases de um Fogo

▪ Fase de latência, de arranque, de aceleração, de combustão, de declínio ou de extinção

▪ As fases do fogo e a evolução da temperatura

Tipos de incêndios

▪ Subterrâneo, superficial, copas

O fogo e as plantas

▪ Efeitos do fogo nas plantas - Mortalidade, danos nos tecidos, aumento da vulnerabilidade a insectos, fungos e

agentes patogénicos

▪ Resistência das espécies vegetais

▪ Regeneração das plantas

O fogo e os animais

▪ Efeitos do fogo nos animais - Mortalidade, destruição habitat, migrações

5 - Conclusão

É certo que as crianças e os jovens têm hoje muitos canais onde recolher informação

sobre os riscos naturais, em geral, e os incêndios florestais, em particular, (ex. internet, televisão,

jornais, revistas), mas é na Escola que poderão aprender a transformar informação em

conhecimento científico. Para isso é preciso optar por um ensino que privilegie os aspectos de

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3 Tedim, Ferreira, Pacheco, Sousa

XII Colóquio Ibérico de Geografia

organização dessa informação e não amplie o número de dados e factos que os alunos devem

reproduzir (Souto, 2000). Os jovens estão no processo de construção do seu conhecimento e de

valores e crenças fundamentais na estruturação das suas atitudes e comportamentos. A escola

surge aqui como um pilar fundamental, pois esse processo não é automático mas claramente

construído. Vários estudos demonstram a importância da escola na educação das crianças e

jovens sobre os riscos naturais (Berry e King, 1998; Finnis et. al. 2004). Esta é fundamental não

só porque a juventude de hoje são os adultos de amanhã, mas também, porque através dos

jovens pode-se chegar às suas famílias e contribuir para alterar comportamentos de risco e

aumentar a resiliência das comunidades (Ronan e Johnston, 2005), embora nem sempre esta

relação seja verdadeira (Dufty, 2009; Johnston et. al., 2001).

A temática dos incêndios florestais deverá ser integrada ao nível da educação formal e não

formal, mas numa lógica de complementaridade assumida e articulada e não de sobreposição. A

educação formal deverá fornecer a compreensão dos fenómenos e focalizar-se na escala

nacional e europeia ou mundial. A educação não formal poderá ser feita por vários actores

(Professores, Serviço Municipal de Protecção Civil, Bombeiros,) mas será mais relevante se

direccionada para os riscos locais (Schick, 2007), para a protecção pessoal e conseguir ensinar

as populações a viver com os riscos naturais.

As ciências deverão estar ao serviço da Humanidade e contribuir para fornecer a cada

pessoa um mais profundo conhecimento da natureza e sociedade, uma melhor qualidade de vida

e um ambiente mais saudável e sustentável para as gerações actuais e futuras (Declaration on

Science and the use of scientifique knowledge, World Conference on Science, Budapeste, 1999).

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