O resgate da interação face-a-face intermediada pela rede social Couchsurfing
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Transcript of O resgate da interação face-a-face intermediada pela rede social Couchsurfing
UNIVERSIDADE TIRADENTES
ANA CAROLINA VIEIRA OLIVEIRA
O RESGATE DA INTERAÇÃO FACE-A-FACE
INTERMEDIADA PELA REDE SOCIAL COUCHSURFING
Aracaju
2012
ANA CAROLINA VIEIRA OLIVEIRA
O RESGATE DA INTERAÇÃO FACE-A-FACE
INTERMEDIADA PELA REDE SOCIAL COUCHSURFING
Monografia apresentada à Universidade Tiradentes como
um dos pré-requisitos para a obtenção do grau de
Bacharel em Comunicação Social – Hab. Publicidade e
Propaganda. ao Professor Esp. Arthur Leonardo Roeder
Neto para a disciplina Projetos Experimentais em
Publicidade e Propaganda.
Prof. Esp. Arthur Leonardo Roeder Neto
Aracaju 2012
ANA CAROLINA VIEIRA OLIVEIRA
O RESGATE DA INTERAÇÃO FACE-A-FACE
INTERMEDIADA PELA REDE SOCIAL COUCHSURFING
Monografia apresentada à Universidade Tiradentes como
um dos pré-requisitos para a obtenção do grau de
Bacharel em Comunicação Social – Hab. Publicidade e
Propaganda. ao Professor Esp. Arthur Leonardo Roeder
Neto para a disciplina Projetos Experimentais em
Publicidade e Propaganda.
Aprovada em: _____/_____/_____.
Banca Examinadora
________________________________________________________ Prof. Esp. Arthur Leonardo Roeder Neto
Universidade Tiradentes – SE
________________________________________________________
Prof. Esp. Cristiano Leal de Barros Lima
Universidade Tiradentes – SE
________________________________________________________
Prof. Me. Polyana Bittencourt Andrade
Universidade Tiradentes – SE
DEDICATÓRIA
À Dona Lourdinha, por acreditar sempre.
AGRADECIMENTOS
A todos os que contribuíram, direta ou indiretamente, para que este trabalho fosse
concluído. Em especial:
À família, pelo apoio nas madrugadas e aos amigos pela torcida constante. Ao meu
orientador Leo Roeder, pelos incentivos, por apostar no projeto e descobrir este universo junto
comigo. À minha co-orientadora “buena onda” Mônica T. Deda, pelo apoio e
acompanhamento constante, mesmo a 4.323 km de distância.
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo analisar o uso da rede social virtual Couchsurfing no
incentivo ao resgate da interação face a face. O site, popularmente conhecido e difundido por
promover o intercâmbio da hospitalidade, propõe a conexão entre viajantes e moradores
locais. A pesquisa foi realizada por meio de um levantamento bibliográfico para a construção
do referencial teórico capaz de auxiliar na compreensão do objeto seguida de uma pesquisa
quali-quantitativa com aplicação de questionário online no grupo Aracaju-SE, foco específico
deste projeto. Espera-se que esta análise incentive o diálogo sobre comunicação digital e
contribua para estudos futuros.
PALAVRAS-CHAVE: Interação mediada; Interação face a face; Redes Sociais;
Couchsurfing.
ABSTRACT
This academic research aims at analyzing the use of the virtual social network Couchsurfing
for the purpose of bringing back the face to face interactions. The website, popularly known
and spread for promoting the exchange of hospitality, makes it possible that travelers and
locals connect to each other. The study was conducted based on a bibliographic research in
order to build a theoretical reference capable of helping us understand our object followed by
a quali-quantitative research with the application of an online survey published on the
community Aracaju-SE, this study’s specific object. Hopefully, this project will be able to
stimulate the debate about digital communication and to contribute to future studies.
KEYWORDS: Mediated interaction; Face to face interaction; Social Networks;
Couchsurfing.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1: Tela inicial do Couchsurfing.............................................................. 38
FIGURA 2: Ícones de identificação e qualificação dos usuários............................40
FIGURA 3: Disponibilidade do couch....................................................................40
FIGURA 4: Referências trocadas entre usuários.....................................................42
FIGURA 5: Ranking contendo número do de usuários do CS por país..................43
FIGURA 6: Línguas faladas no CS.........................................................................44
LISTA DE TABELAS
TABELA 1: Características das interações – Thompson, 2011, p. 123.................................19
TABELA 2: Idiomas mais frequentes falados pelos couchsurfers brasileiros.......................46
TABELA 3: Disponibilidade dos usuários no CS Brasil.......................................................46
TABELA 4: Perfil do gênero dos couchsurfers brasileiros...................................................47
TABELA 5: Média de idade entre os couchsurfers brasileiros.............................................47
TABELA 6: Cidades brasileiras presentes no Couchsurfing...............................................48
TABELA 7: Gênero dos usuários encontrados no Couchsurfing em Sergipe.....................49
TABELA8: Média da idade dos couchsurfers em Sergipe..................................................49
TABELA 9: Sexo dos couchsurfers que responderam ao questionário...........................................53
TABELA 10: Faixa etária dos usurários que responderam ao questionário....................................53
TABELA 11: Tempo de participação no CS pelos respondentes ao questionário...........................54
TABELA 12: Forma como os usuários declaram na pesquisa sua participação no CS...................54
TABELA 13: Como os entrevistados qualificam a experiência no Couchsurfing...........................55
TABELA 14: Referente aos contatos do CS....................................................................................55
TABELA 15: Análise dos laços dos entrevistados criados dentro do CS........................................56
TABELA 16: Referente ao número de pessoas hospedadas pela amostragem................................56
TABELA 17: Referente ao número de vezes que os usuários entrevistados usaram
‘couchs’............................................................................................................................. ....57
TABELA 18: A experiência proporcionada pelo CS é mais percebida pelos usuários no
ambiente off-line que no ambiente digital............................................................................58
SUMÁRIO
1- INTRODUÇÃO ................................................................................... ...............................11
2- INTERAÇÃO......................................................................................................................16
2.1- Interação face a face................................................................................ ..........................16
2.2- Interação mediada..............................................................................................................18
2.3- Interação mediada por computador...................................................................................20
3- A SOCIEDADE EM REDE
3.1- O que é rede?.....................................................................................................................26
3.2- Rede Social (face a face)...................................................................................................26
3.3- Rede Social mediada..........................................................................................................26
3.3.1- Web 2.0...........................................................................................................................28
3.3.2- Rede Social na Internet...................................................................................................28
3.3.3- Sites de Redes Sociais.....................................................................................................34
4- COUCHSURFING..............................................................................................................36
4.1. Couchsurfing, um breve histórico e panorama..................................................................36
4.2- Couchsurfing no mundo....................................................................................................42
4.3- Couchsurfing no Brasil......................................................................................................45
4.4- Couchsurfing em Aracaju..................................................................................................48
5- O RESGATE DA INTERAÇÃO FACE A FACE INTERMEDIADO PELA REDE
SOCIAL COUCHSURFING..................................................................................................51
5.1- Procedimentos metodológicos............................................................................. ..............51
5.2- Caracterização geral dos dados..........................................................................................52
6- CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................60
7- REFERÊNCIAS..................................................................................................................63
APÊNDICE A (questionário em anexo)................................................................................65
APÊNDICE B (pré-projeto)...................................................................................................68
11
I. INTRODUÇÃO
Toda sociedade, independente do seu tempo histórico particular e da sua localização
geográfica específica é necessariamente dinâmica, cada uma com suas características
específicas. Porém, a sociedade (global) contemporânea, com todas as suas interconexões que
extrapolam os mais variados limites espaço-temporais de uma forma talvez nunca imaginada
antes, passa pelas transformações mais diversas de uma maneira e numa velocidade
estonteantes em todos os campos das relações e do conhecimento humanos.
Neste processo de transformação, a tecnologia, em todas as suas facetas e
possibilidades de aplicação possuem um papel fundamental como força motriz destas
mudanças. É assim que a incorporação cada vez mais constante de equipamentos como TVs,
computadores, celulares, além do próprio ambiente virtual proporcionado pela Internet, no
cotidiano da população acaba provocando mudanças consideráveis em seus hábitos sociais,
culturais e econômicos.
A revolução tecnológica deu origem ao informacionalismo, tornando-se assim a base material desta nova sociedade, em que os valores da liberdade individual e da comunicação aberta tornaram-se supremos. No informacionalismo, as tecnologias assumem um papel de destaque em todos os segmentos sociais, permitindo o
entendimento da nova estrutura social – sociedade em rede – e consequentemente, de uma nova economia, na qual a tecnologia da informação é considerada uma ferramenta indispensável na manipulação da informação e construção do conhecimento pelos indivíduos, pois ‘a geração, processamento e transmissão de informação torna-se a principal fonte de produtividade e poder’ (CASTELLS, 1999, p. 21).
Desta maneira, o avanço da tecnologia e o desenvolvimento de novas ferramentas
possibilitaram uma reflexão do contexto social e das suas limitações. Dentro desta realidade, o
conhecimento individual e centralizado já não é suficiente, e se caracteriza como defasado.
Assim, é possível observar o quanto o compartilhamento do conhecimento desterritorializa a
sociedade por meio dos aparatos tecnológicos que transpõem as barreiras geográficas e
temporais. Ou seja, não é mais preciso estar presente fisicamente para construir um diálogo,
12
participar de um evento ou debate e assistir a um seminário, de modo que a sociedade
contemporânea de compartilhamento da informação acaba redefinindo os métodos e espaços
anteriormente destinados ao aprendizado, como escolas e instituições, deixando, por exemplo,
de ser os únicos espaços de formação intelectual dos cidadãos.
A finalidade dos sistemas educacionais em pleno século XXI será pois tentar garantir a primazia da construção do conhecimento, numa sociedade onde o fluxo de informação é vasto e abundante, e em que o papel do professor não deve ser mais o de um mero transmissor de conhecimento, mas o de um mediador da aprendizagem. Uma aprendizagem que não acontece necessariamente nas instituições escolares, mas, pelo
contrário, ultrapassa os muros da escola, podendo efectuar-se nos mais diversos contextos informais por meio de conexões na rede global. Não queremos apregoar a extinção da escola, pois ela será sempre uma instituição de ponta na produção e institucionalização do conhecimento, mas, alertar para que precisa estar aberta por forma a entender os novos contextos em que pode ser estimulada a construção colaborativa do saber (ILLICH, 1985; SIEMENS, 2003) (COUTINHO e LISBÔA, 2011, p.6).
Desta forma, o aprendizado ganha um caráter horizontal, criativo, que não obedece a
um prazo estipulado, por exemplo, e que segue constante por toda a vida. Segundo Crawford
(1983, apud Coutinho e Lisbôa, 2011, p.6), um dos primeiros autores a referir o conceito de
Sociedade da Informação (SI) foi o economista Fritz Machlup, na obra publicada em 1962,
The Production and Distribution of Knowledge in the United States1. No entanto, o
desenvolvimento do conceito deve-se a Peter Drucker, que, em 1966, no bestseller The Age of
Discontinuity2, fala pela primeira vez numa sociedade pós-industrial em que o poder da
economia – que, segundo o autor, teria evoluído da agricultura para a indústria e desta para os
serviços – estava agora assente num novo bem precioso: a informação.
A Sociedade de Informação, portanto, se caracteriza pelo uso da tecnologia como fator
que impulsiona o compartilhamento da informação e assegura a comunicação entre
indivíduos. Neste contexto, os meios de comunicação eletrônicos, como televisão, rádio,
telefone, computador, além das inúmeras possibilidades trazidas pela Internet, são
1 ‘A produção e distribuição do conhecimento nos Estados Unidos’.
2 ‘Uma Era de Descontinuidade’.
13
instrumentos utilizados para acelerar e difundir o conteúdo. A intenção é de que um grande
número de pessoas seja alcançado, e, uma vez recebida a informação, que ela tenha o poder de
capacitar a população a construir uma opinião crítica acerca dos temas sugeridos e possa, a
partir daí, transformar a sociedade em que vive.
A democratização da informação na sociedade contemporânea foi sensivelmente
percebida com a acessibilidade da Web 2.0, quando a difusão do conteúdo passou a dar-se
através de grupos hospedados em Redes Sociais e comunidades digitais, oferecendo, assim,
uma espécie de ‘segunda opinião’, uma alternativa à versão das mídias de massa tradicionais,
como rádio, jornais e TV. Segundo Primo (2007), a Web 2.0 é a segunda geração de serviços
online, e caracteriza-se por potencializar as formas de publicação, compartilhamento e
organização de informações, além de ampliar os espaços para a interação entre os
participantes do processo.
É neste cenário favorável ao questionamento e à formação da opinião crítica que as
Redes Sociais se tornaram canais de debate e planejamento de verdadeiros levantes políticos
contemporâneos, mobilizados por grupos da sociedade civil e organizados a partir de
ferramentas hospedadas na Internet. Exemplos desses movimentos são a Primavera Árabe,
iniciada na Tunísia, o Occupy Wall Street, nos Estados Unidos, e os Indignados da Espanha.
Manifestações de insatisfação social que marcaram o ano de 2011 como Occupy Wall
Street, nos Estados Unidos, Indignados, na Espanha, os protestos de estudantes no Chile, o motim de jovens na Inglaterra e o Movimento 15 de Outubro – organizado pelas redes sociais e que suscitou mobilizações em mais de mil cidades de 85 países na referida data – apresentam características típicas dos movimentos sociais contemporâneos. A utilização de redes de diálogos e troca de informações contínuas cria sinergia para que essas manifestações não sejam atos isolados, mas trabalhos conjuntos que encontram apoio mútuo pela utilização da Internet. (DI FÁTIMA, 2012,
p.1).
Assim como os movimentos citados, o objeto de estudo específico deste projeto (a
rede social Couchsurfing) também pode de alguma forma ser inserido no contexto de
14
agrupamentos de pessoas dispostas a propor uma quebra dos padrões sociais, culturais ou
econômicos impostos, ao estabelecer uma forma bastante distinta de relações sociais. Este
trabalho pretende, portanto, fazer uma análise de como o Couchsurfing, apesar de estar
hospedada no ambiente digital, proporcionando em grande medida um resgate da
comunicação face a face.
Durante a maior parte da história humana, a grande maioria das interações sociais foram face-a-face. Os indivíduos se relacionavam entre si principalmente na aproximação e no intercâmbio de formas simbólicas, ou se ocupavam de outros tipos de ação dentro de um ambiente físico compartilhado. As tradições orais dependiam para sobreviver de um contínuo processo de renovação, através de histórias contadas e atividades relatadas, em contextos de interação face-a-face. (THOMPSON, 2011, p.119).
Já no universo digital, ou seja, mediado por computador, há a quebra de barreiras
geográficas e temporais; porém, esta sofre rupturas possibilitadas por questões próprias do
ambiente digital, como a dispersão provocada pelo bombardeio de informações e referências e
a limitação da comunicação, por conta da ausência de possibilidades de linguagens
complexas, como a gestual e a sonora, em prol de uma grande predominância da expressão
escrita.
Interações mediadas também implicam um certo estreitamento na possibilidade de deixas simbólicas disponíveis aos participantes. A comunicação por meio de carta, por exemplo, priva os participantes de deixas associadas à presença física (gestos, expressões faciais, entonação, etc.), enquanto outras dicas simbólicas (associadas à
escrita) são acentuadas [...] Ao estreitar o leque de deixas simbólicas, as interações mediadas fornecem aos participantes poucos dispositivos simbólicos para a redução da ambiguidade na comunicação. Por isso as interações mediadas têm um caráter mais aberto do que as interações face a face. Estreitando as possibilidades de deixas simbólicas, os indivíduos têm que se valer de seus próprios recursos para interpretar as mensagens transmitidas. (THOMPSON, 2011, p. 121).
No que se refere ao Couchsurfing, apesar de se tratar de uma rede social digital
intermediada por computador, a sua grande proposta é a de conectar, no mundo off-line,
viajantes de todo o mundo a moradores locais e à cultura que visitam. O processo de ser
acolhido por um anfitrião local de forma gratuita, por exemplo, qualifica uma experiência cuja
15
moeda de troca é o intercâmbio cultural, o compartilhamento de vivências e o aprendizado de
algo novo. No estado de Sergipe, o grupo mais expressivo é o Aracaju-SE – o foco específico
aqui –, que foi criado em 2008 e possui atualmente 685 membros3.
Além de várias características de usabilidade semelhantes a outras redes populares,
como Orkut e Facebook, o Couchsurfing desenvolveu também mecanismos de validação para
garantir que o encontro entre desconhecidos de todo o mundo pudesse dar-se de maneira
segura para todos. Recomendações, avaliações positivas, negativas e neutras, e um sistema de
verificação que confirma identidade e endereço do usuário, são algumas dessas medidas que
colaboram na escolha do hóspede/anfitrião e reforçam o capital social dos participantes.
Segundo Putnam (2000, p.19, apud Recuero, 2009, p.45), o conceito de capital social “refere-
se à conexão entre indivíduos – redes sociais e normas de reciprocidade e confiança que
emergem dela”, e está intimamente ligado à ideia de virtude cívica, de moralidade e de seu
fortalecimento através de relações recíprocas. Mas antes de chegar no caso específico do
Couchsurfing é preciso discutir alguns conceitos que ajudarão na compreensão desse
fenômeno.
3 Dados de novembro de 2012.
16
II. INTERAÇÃO
2.1. Interação face a face
O homem é naturalmente um ser comunicativo. Para que o padrão de interação face-a-
face se aplique, é preciso que existam dois interlocutores dispostos a uma interação e focados
na conversação. De acordo com Orecchioni (2006, p. 7 apud Lins, p.26) a comunicação verbal
segue algumas características: a) alocução: um destinatário fisicamente distinto do falante; b)
interlocução: troca de palavras com intencionalidade, em que se alternam os papeis do
emissor e do receptor; c) interação: troca comunicativa entre os interactantes, criando redes
de influências mútuas.
Para que a atividade verbal seja considerada conversação, é preciso que existam dois interlocutores e que os participantes estejam voltados cognitiva e visualmente para esta atividade. Dentro do exercício de linguagem, o comum é que a fala circule e que os papeis de emissor e receptor se alternem, permitindo que os falantes se intercambiem constantemente, cada qual em seu turno. A interação participa do exercício de conversação à medida que os diálogos dos participantes exercem
influência uns sobre os outros, mutuamente. O discurso é construído a partir do estímulo que a fala do interlocutor A provoca no interlocutor B, e vice-versa. “É importante observar que a Conversação é considerada, a partir da ótica da Análise da Conversação, como uma atividade linguística estruturalmente organizada e sempre ocorre em um contexto ou circunstância em que os interactantes estejam engajados” (cf. MARCUSCHI, 2001, p.17, apud ARTAXERXES, 2011, p.60).
A conversação face-a-face se caracteriza por ocorrer em um eixo temporal simultâneo,
de modo que necessariamente acaba compartilhando códigos sociais comuns, como olhares,
movimentos, sorrisos e conjuntos gestuais. Para que haja um intercâmbio comunicativo, não
basta somente que os interlocutores discursem alternadamente. É importante que exista
engajamento entre eles. Há gestos e sinais que auxiliam na identificação deste engajamento: é
o que se pode chamar de “validação interlocutória”. “Os cumprimentos, apresentações e
outros rituais “confirmativos” desempenham, nesse sentido, um papel evidente. Mas a
validação interlocutória se efetua, sobretudo, por outros meios mais discretos e, no entanto,
fundamentais” ( ORECCHIONI, 2006, p. 8).
17
Segundo Orecchioni (2006), o emissor pode indicar que está falando com alguém de
forma direcionada normalmente por meio da orientação do corpo ou pela direção do olhar,
além de determinadas formas de tratamento e da presença de “captadores”, tais como o
“hein”, “né”, “sabe”, “você vê”, “digamos”, “vou te dizer”, “nem te conto” etc. O falante
pode ainda recorrer a procedimentos fáticos para se assegurar de que o seu destinatário
recebeu a mensagem corretamente, como o aumento da intensidade vocal, ou então das
retomadas ou reformulações. O receptor também se utiliza de sinais que servem para
confirmar ao falante que acompanha o seu discurso comunicativo. Um franzir de
sobrancelhas, sorriso, ligeira mudança de postura, recursos vocais (“humm”, “anram”), ou
verbais (“sim”, “certo”), são denominados reguladores, e servem para nortear o falante de que
a mensagem está sendo captada e compreendida.
A conversação é uma atividade prioritariamente humana, pois envolve o intercâmbio
de signos específicos que, acima de tudo, estão repletos de subjetividade. Os animais também
se comunicam, mas, neste caso, de maneira estritamente objetiva, a partir de uma interação de
estímulo-resposta que já está pré-determinada. Já no que se refere ao ser humano, se toda
comunicação envolve signos com significados específicos previamente acordados, o sentido
depende, em última instância, da interpretação que o receptor fará destes signos (BAHKTIN,
2003).
Um discurso ou conversação é carregado de influências culturais e carrega nos
símbolos e signos desde características gestuais e de entonação até aspectos linguísticos que
caracterizam esta influência. De acordo com Marcuschi (2005, apud ARTAXERXES, 2011),
para que a interação possa ser caracterizada como face-a-face, basicamente é preciso que
contenha as seguintes características: a) que ocorra entre pelo menos dois falantes; b) que haja
pelo menos uma troca de interlocutores; c) que exista uma sequência de ações coordenadas; d)
18
que uma identidade temporal seja executada; e) que o envolvimento se dê numa “interação
centrada”.
Estas características nos permitem compreender que a interação face-a-face acontece
quando os participantes estão presentes e compartilham da mesma referência espacial e
temporal, o que geralmente implica um fluxo de informações em que receptor e produtor
intercambiam papeis e que os símbolos e gestos são essenciais para orientar a compreensão da
mensagem.
2.2. Interação mediada
Segundo Thompson (2011, p.121), para ser considerada mediada, toda e qualquer
interação necessariamente implica o uso de um meio técnico (papel, fios elétricos, ondas
eletromagnéticas etc.) que transmitam a informação e o conteúdo simbólico específico para
indivíduos situados remotamente no espaço, no tempo, ou em ambos. Neste caso, este tipo de
interação acaba estendendo-se de maneira muito flexível no espaço e no tempo, o que a faz
diferir bastante do caráter presencial e momentâneo da interação face-a-face e extrapolá-la.
Características Interativas Interação Face a face Interação mediada
Espaço-tempo
Contexto de co-presença; sistema
referencial espaço-temporal
comum
Separação dos contextos,
disponibilidade estendida no
tempo e espaço
Possibilidade de deixas simbólicas Muliplicidade de deixas simbólicas Limitação das possibilidades de
deixas simbólicas
Orientação da atividade Orientada para outros específicos Orientada para outros específicos
19
Dialógica/ Monológica Dialógica Dialógica
(Tabela 1: características das interações – THOMPSON, 2011, p. 123).
Ou seja, na interação mediada é preciso, além da participação dos interlocutores, a
presença de uma mídia que transportará a mensagem para os personagens que compartilham
do diálogo. Uma das características inerentes à interação mediada é a possibilidade de
difundir a informação para indivíduos que não compartilham do mesmo referencial geográfico
ou temporal do emissor. Para que a mensagem seja claramente entendida, é imprescindível
que esta contenha informações, como localização e data, por exemplo. A interação face-a-face
permite uma interpretação subjetiva do discurso, já que existe todo um contexto cultural,
simbólico e gestual dos participantes; já na comunicação mediada, a subjetividade pode
implicar uma lacuna ou má interpretação da informação.
Interações mediadas também implicam um certo estreitamento na possibilidade de deixas simbólicas disponíveis aos participantes. A comunicação por meio de carta, por exemplo, priva os participantes de deixas associadas à presença física (gestos, expressões faciais, entonação, etc.), enquanto outras dicas simbólicas (associadas à escrita) são acentuadas. Similarmente, a comunicação por meio do telefone priva os participantes das deixas visuais associadas à interação face a face, preservando e acentuando as deixas orais. Ao estreitar o leque de deixas simbólicas, as interações
mediadas fornecem aos participantes poucos dispositivos simbólicos para a redução da ambiguidade na comunicação. Por isso as interações mediadas têm um caráter mais aberto do que as interações face a face. Estreitando as possibilidades de deixas simbólicas, os indivíduos têm que se valer de seus próprios recursos para interpretas as
mensagens transmitidas (THOMPSON, 2011, p. 121).
A interação mediada através de mídias populares, como rádio, televisão e cinema4, são
identificadas como unidimensionais, pois a informação segue somente uma direção, não há
interação entre quem emite e quem recebe o discurso. É nas décadas de 20 e 30, com o
telefone, portanto, que se inicia uma nova discussão acerca de interatividade. Interatividade
4 Estes aparatos tecnológicos são considerados ferramentas cuja capacidade midiática é de quase-interação, por
terem perfil monológico e pelo fato de sua produção ser direcionada para um número indefinido de receptores
potenciais. Elas não possuem o grau de reciprocidade interpessoal de outras formas de interação, mas ligam os
indivíduos num processo de comunicação e intercâmbio simbólicos (Thompson, 2011).
20
esta que, enquanto desde os primórdios era responsável pela perpetuação de rituais culturais,
passa, a partir da chegada das novas mídias, mais simultâneas e dinâmicas, a contribuir com
as transformações sociais e a influir diretamente na forma com que o homem se coloca e se
percebe nesse contexto.
2.3. Interação mediada por computador
A Internet representa, nos dias de hoje, o maior sistema de comunicação desenvolvido
pelo homem. Ela integra o mundo em uma rede global de ferramentas de produção e difusão
de informação. Para Thompson (2011), o desenvolvimento de vários tipos de meios
eletrônicos nos séculos XIX e XX substituiu as interações face a face por formas de interação
e quase-interação mediadas. Na verdade, mesmo diante de um ambiente comum, o
compartilhamento de informações acontece em proporção crescente em contextos de
interação mediada mais do que em face a face.
A interação mediada por computador através da internet se estende no espaço e tempo.
Ela possibilita a desterritorialização da conversação, reforça o potencial intercultural da
comunicação e permite a formação e manutenção de comunidades globais. É preciso observar
que, por receber o intermédio de uma máquina que depende de fatores tecnológicos e de
infraestrutura, este padrão de interação também está sujeito ao tempo de processamento e
velocidade de resposta da máquina. No entanto, como a proposta deste trabalho é ir além das
especificidades técnicas da máquina, ao focar especificamente no comportamento dos
interlocutores dentro deste cenário, desconsideraremos esses aspectos aqui.
Quando se fala em “interatividade”, a referência imediata é sobre o potencial multimídia do computador e de suas capacidades de programação e automatização de processos. Mas ao estudar-se a interação mediada por computador em contextos que
vão além da mera transmissão de informações (como educação a distância), tais discussões tecnicistas são insuficientes. Reduzir a interação a aspectos meramente tecnológicos, em qualquer situação interativa, é desprezar a complexidade do processo de interação mediada. É fechar os olhos para o que há além do computador. Seria
21
como tentar jogar futebol olhando apenas para a bola, ou seja, é preciso que se estude não apenas a interação com o computador, mas também a interação através da
máquina. (PRIMO, 2007, p.30).
Ainda sobre o mesmo tema, Lévy (1999) afirma que, enquanto anteriormente a
informática voltava suas atenções mais que nada para as máquinas – programas e hardwares –
, atualmente os esforços contemporâneos giram em torno de desconstruir o computador em
benefício de um espaço de comunicação navegável e transparente, centrado na informação.
A evolução das máquinas para uma programação independente descomplicou o uso do
computador e possibilitou o foco no espaço virtual de trabalho e de comunicação,
funcionando de forma independente de seus suportes. Isto possibilitou ao homem uma maior
liberdade para reproduzir ou recriar padrões de interação neste novo universo digital.
O computador não é mais um centro, e sim um nó, um terminal, um componente da rede universal calculante. Suas funções pulverizadas infiltram cada elemento do tecno-cosmos. No limite, há apenas um único computador, mas é impossível traçar seus limites, definir seu contorno. É um computador cujo centro está em toda a parte e a circunferência em lugar algum, um computador hipertextual, disperso, vivo, fervilhante, inacabado: o ciberespaço em si (LÉVY, 1999, p.44).
Depois de compreendidos os padrões básicos de funcionamento da máquina, o
indivíduo está apto a operar o computador, e através dele buscar as informações que lhe
interessam, partilhar conteúdos, e conectar-se a outras pessoas. Passa a ser, assim, participante
de um processo de interação mediada por computador. Para Lippman (apud PRIMO, 2011,
p.46), um sistema pode ser considerado interativo quando as seguintes propriedades estão
presentes: interruptabilidade, granulidade, degradação graciosa, previsão limitada e não
default.
Interruptabilidade: é a capacidade de cada um dos participantes interromper o
processo. “Cada participante deve ter a possibilidade de atuar quando bem entender [...]
Porém, a interruptabilidade deve ser mais inteligente do que simplesmente trancar o fluxo de
22
uma troca de informações” (LIPPMAN, apud PRIMO, 2011, p.31). Granulidade: refere-se ao
menor elemento após o qual se pode interromper. Em uma conversa, poderia ser uma frase,
uma palavra (“um-hum”, “já respondo sua pergunta”); no cinema, poderia ser uma cena, um
plano. É preciso levar em conta estas circunstâncias para que o “usuário” não creia que o
sistema interativo usado tenha “travado”. Degradação graciosa: ocorre quando o sistema não
tem a resposta para uma indagação. Nesta circunstância deve ser dada aos participantes a
possibilidade de saber quando e como podem obter a resposta que não está disponível naquele
momento. Previsão limitada: não é preciso prever todas as instâncias possíveis de ocorrência,
de modo que, se algum imprevisto ocorrer na interação, o sistema ainda tem condições de
responder. Não default: o sistema não deve forçar uma direção a ser seguida pelos seus
participantes, e é a inexistência de um padrão pré-determinado que dá liberdade aos
participantes.
De acordo com Primo (2011), a proposição de Lippman pode ser considerada como
uma busca pela sofisticação dos sistemas informáticos. Mas o que sugere é uma simulação de
certas características da interação humana enquanto dissimula as deficiências da máquina.
Para Thompson (2011), o desenvolvimento dos meios de comunicação não somente criou
novas formas de interação, mas também fez surgir novos tipos de ação que têm qualidades e
consequências bem distintas. A característica mais geral destes novos tipos de ação é que eles
são responsivos e orientados a ações ou pessoas que se situam em contextos espaciais (e
talvez temporais) remotos. Em outras palavras, o desenvolvimento dos meios de comunicação
fez surgir novos tipos de “ação à distância” que se tornaram cada vez mais comuns no mundo
moderno.
Ou seja, a comunicação mediada por computador ofereceu novas possibilidades de
interação. Se, por um lado, perde-se um pouco da espontaneidade da resposta e dos gestos que
23
complementam o diálogo, por outro, o diálogo mediado pelo computador reinventou alguns
destes gestos através de caracteres e símbolos, como emoticons5, gifs6
etc. O diálogo mediado
por computador também permitiu que os participantes ponderassem antes de se expressar, de
construir os argumentos ou de mostrarem seus perfis verdadeiros. Muitos interlocutores,
diante da flexibilidade e ludicidade do universo digital, recriaram seus perfis para
impressionar os demais integrantes da rede, sempre numa tentativa de atender às próprias
expectativas.
Segundo Graeml (2004), Castells (1999) também analisa o impacto que estas
mudanças de comportamento trazem para a nossa cultura, como o fato de uma pessoa se sentir
mais a vontade mandando um e-mail anônimo do que conversando sobre o mesmo assunto
pessoalmente. Para aqueles que possuem baixa autoestima ou têm dificuldade em se
expressar, por exemplo, há um estímulo adicional para se desenvolver uma identidade online
distinta da que se possui no mundo real. Para Lévy (1999), os chats dão margem a uma
relação de desvinculação com a verdade, ou mesmo de alienação social e cultural. A própria
Psicologia Corporal mostra que os indivíduos estão deixando de lado seus traços de caráter
oral, que lhes permitiam manter o contato com colegas, familiares e se relacionar socialmente
(LOWEN, 1987), para estarem cada vez mais esquizóides7 ou núcleo psicóticas (NAVARRO,
1995), buscando o afastamento social, dando margem à fantasia e preconizando a razão no
lugar do afeto, o virtual no lugar do real, o computador no lugar da presença física.
Embora a tecnologia também tenha permitido o agrupamento de diversos recursos
comunicacionais como sons, imagens, textos, numa tentativa de reproduzir características
presenciais e favorecer a interação e o retorno imediato de interlocutores que se encontram em
5 Emoticon – emotion (“emoção”) + icon (“ícone”) – são caracteres tipográficos que traduzem o estado emotivo
de quem os aplica. Ex: =) ;) :( 6 Gif:: formato de imagem que tanto pode ser usado de forma estática, ou de forma animada.
7 Trata-se de um transtorno de personalidade em que o indivíduo apresenta pouco interesse nas relações sociais e
normalmente tende à introspecção e ao isolamento.
24
territórios distintos, muitos creditam à tecnologia o enfraquecimento das relações
interpessoais, o distanciamento e o isolamento dos indivíduos que a utilizam.
Em uma palestra realizada no TED Talks 20128 “Connected, but alone?”
(“Conectados, porém solitários?”), Sherry Turkle apresenta dados de sua pesquisa com
centenas de indivíduos que passam uma parte significativa de seus dias digitalmente
conectados, o que a leva a afirmar que esse tipo de conexão não só transforma o que o que é
feito, mas também transforma aquilo que se é, o indivíduo em sua essência. Momentos
compartilhados, seja em uma reunião de trabalho, em um jantar com amigos ou café da manhã
com a família podem ter que dividir atenções com ferramentas tecnológicas e com o acesso à
internet 24 horas por dia, esta sempre disponível seja através de aparelhos celulares,
computadores portáteis e tablets. A pesquisadora conclui, portanto, em sua tese, que apesar de
a interação mediada e os avanços tecnológicos poderem oferecer possibilidades de evolução
na ciência e medicina, muitas vezes eles acabam sendo empregados na sociedade cotidiana de
forma leviana, o que só agrava a superficialidade das relações e priva os indivíduos de
compartilhar momentos relevantes para a sua formação como cidadãos.
Deste modo, é perceptível o caráter restritivo da interação mediada por computador.
Ou seja, se por um lado ela possibilita a formação de aldeias globais que se concatenam não
mais por padrões regionais ou culturais, mas por ideias e motivações afins, por outro, cria
verdadeiras vilas virtuais, onde os indivíduos passam mais tempo construindo seus
personagens, socializando virtualmente e vivenciando etapas essenciais da vida apenas através
do que é reproduzido na tela do computador. Este padrão condiciona e limita a capacidade dos
8 TED – “Tecnologia, Entretenimento e Design” – é uma fundação privada sem fins lucrativos dos Estados
Unidos que tem como objetivo a disseminação de ideias relevantes à sociedade, abordando temas como ciência,
cultura, sustentabilidade etc. Os TED Talks tratam-se de ciclos de palestras que ocorrem anualmente em várias
partes do mundo, por onde já passaram milhares de palestrantes e líderes em diversas áreas. Os registros dessas
palestras em vídeos são amplamente divulgados na internet e podem ser encontradas no site da fundação:
http://www.ted.com/.
25
indivíduos, que, quando expostos a uma situação presencial inesperada que exija maior
sensibilidade ou inteligência emocional, acabam sendo submetidos a um grande stress
provocado pela dificuldade de tomar decisões, justamente pelo fato de não terem tido
anteriormente uma experiência semelhante em seu histórico.
26
III. A SOCIEDADE EM REDE
3.1. O que é uma Rede?
De acordo com Tanenbaum (apud SCARANO, p. 25, 2011), um conjunto de
computadores interconectados por uma tecnologia única pode ser considerado uma rede.
Anteriormente, todas as necessidades eram sanadas por um único computador, porém, hoje as
atividades são realizadas por um grande número de computadores separados, embora ligados
entre si. Uma rede de computadores pode ser de diversos tamanhos e ter capacidades de
processamento distintas, tudo vai depender das demandas que precisa atender.
A rede existe prioritariamente para atender à necessidade da troca de informações
entre os computadores, que, por sua vez, são motivados pelos usuários. Ou seja, não há na
rede a expressão de uma vontade própria: ela necessariamente atende à vontade de quem a
utiliza. De acordo com Afonso (2009, apud SCARANO, 2011, p.27),
As redes são responsáveis pelo compartilhamento de ideias entre pessoas que possuem interesses e objetivos em comum e também valores a serem compartilhados. Assim, um grupo de discussão é composto por indivíduos que possuem identidades
semelhantes.
Neste caso, a tecnologia vem transformar a forma com que os indivíduos se
relacionam, criam seus vínculos. Porém, antes de compreender como se deu a conexão e a
organização dos indivíduos através dos computadores, é preciso compreender como eles se
organizam em ruas relações face-a-face, pois é esta disposição que será reproduzida e
adaptada para a rede de computadores.
3.2. Rede Social (face a face)
Antes de qualquer coisa, é preciso dizer que o homem é necessariamente um ser
gregário, social. Deste modo, ainda nos primeiros passos do seu desenvolvimento, ele
percebeu que a vida em grupo era não apenas mais prazerosa, mas também lhe ajudava a
27
reforçar sua segurança e a prolongar a sua sobrevivência, por conta das facilidades
proporcionadas por um grupo organizado a partir da lógica da divisão de tarefas. É a partir da
formação desses grupos, portanto, que surgem os mais variados códigos para facilitar a
comunicação entre os indivíduos, desde gestos e desenhos, até a própria língua e, em seguida,
a sua representação escrita.
Por conta dos naturais limites geográficos, cada grupo acabou construindo
intuitivamente seus códigos comunicacionais, uma linguagem que se atinha necessariamente à
experiência compartilhada por aquele grupo específico, e, assim, era passada para seus
descendentes através de desenhos, sons, gestos e toda a infinidade de detalhes que a interação
face-a-face permite. É a expansão dos grupos e conquista de novos territórios, por fim, que
possibilita a interação entre estas comunidades e a percepção das diferenças e das
semelhanças da comunicação desenvolvida.
Nos dias atuais, os indivíduos continuam se agrupando, porém, cada vez mais
motivados por afinidades e interesses em comum, ao invés de simplesmente por questões de
necessidade. E como é possível identificar-se com os mais diversos assuntos e temas, neste
caso, uma pessoa pode fazer parte de diversas comunidades que, por sua vez, formam diversas
redes sociais distintas.
Assim como os agrupamentos primitivos, as redes sociais contemporâneas carregam
em si a identidade geral e as características específicas desenvolvidas por aquele grupo, sejam
essas redes comunidades que se reúnem para torcer pelo time favorito, para a prática de
alguma atividade esportiva, ou mesmo para compartilhar dicas e receitas culinárias: cada uma
carrega em si, necessariamente, as particularidades compartilhadas por aquele grupo de
pessoas.
28
E foi, enfim, com a internet, que cada indivíduo pôde dar vazão a seus interesses
independentemente da sua localização geográfica, por exemplo, o que tornou possível
encontrar mais facilmente informações diversas, das mais variadas origens, assim como
pessoas das mais diferentes procedências geográficas e culturais. É também na internet,
portanto, que a sociedade, através dos indivíduos que a compõem, reproduz seus hábitos e
replica agrupamentos para a discussão de temas e troca de experiências específicas, o que dá
origem às mais distintas redes sociais virtuais.
3.3. Rede Social mediada
As novas mídias transformaram a forma como a sociedade se comunica e se organiza.
A internet, através dos computadores, concentrou o fluxo de informações que veio a provocar,
por exemplo, a migração e a organização de grupos e comunidades que necessariamente
dependiam do contato face a face para o ciberespaço, desde os encontros semanais nos clubes
ou às rodas de conversa em casas de amigos. Entretanto, antes de compreender o
funcionamento das redes sociais virtuais, é importante traçar um panorama da evolução da
internet, e suas respectivas consequências, a partir da superação do seu modelo inicial – a Web
1.0 – para o seu formato atual, mais sofisticado, a chamada Web 2.0.
3.3.1. Web 2.0
A Internet abandona o seu modelo primário 1.0 e migra para o formato 2.0 a partir do
momento em que deixa de ser percebida como uma mera rede que conecta computadores e
passa a representar uma possibilidade significativamente maior de interação, além da maior
facilidade de uso por parte dos internautas, que neste momento já não precisava mais de
tantos conhecimentos técnicos requeridos anteriormente. Para estar no topo da pirâmide
29
comunicacional e ser considerado um produtor de conteúdo, portanto, não era mais necessário
ser um conhecedor da linguagem HTML e dos demais padrões técnicos de programação.
Ou seja, na Web 2.0, as plataformas são muito mais simplificadas, de modo que o foco
se desloca para a produção, a interação e o compartilhamento acessível por parte de qualquer
indivíduo com o mínimo de conhecimento de usabilidade, por exemplo. Deste modo, as
ferramentas passam a ter uma arquitetura mais intuitiva e de acesso muito mais simplificado.
Dentro deste novo formato, portanto, a cultura e a informação que antes se restringiam aos
espaços geograficamente compartilhados passaram também a ser disponibilizadas
digitalmente. Museus e bibliotecas, por exemplo, demonstraram interesse em colocar suas
obras na rede para que estudantes e curiosos pudessem também vivenciar esta experiência.
Apesar dos avanços tecnológicos, é importante mencionar que uma das maiores
diferenças entre as fases 1.0 e 2.0 é precisamente a forma com que os usuários passaram a
utilizar as ferramentas disponíveis. Para Blattmann e Silva (2007, apud SILVA, 2011), este
fenômeno coloca a Internet como um novo ambiente capaz de entender, compartilhar,
produzir e disseminar conhecimentos através do acesso e da organização de dados. Segundo
os autores, a rede trata-se de um canal onde flui grande quantidade de práticas sociais,
culturais, políticas e econômicas. Neste caso, além do armazenamento de informações, ela
possibilita uma grande interação, assim como uma enorme geração e troca de conhecimento.
Se anteriormente a rede era gerida predominantemente por sites e grandes portais que,
de modo semelhante à mídia tradicional, expunham o conteúdo de forma estática num cenário
em que poucos produziam e os demais apenas recebiam e absorviam aquele conteúdo, a Web
2.0 permite que o fluxo de produção seja extremamente amplo e descentralizado. Neste novo
formato, a informação pode vir de qualquer parte, ser construída de forma colaborativa e,
ainda assim, manter a sua consistência.
30
A Web 2.0 passa a ser considerada uma nova concepção, pois passa agora a ser descentralizada e na qual o sujeito torna-se um ser ativo e participante sobre a criação,
seleção e troca de conteúdo postando em um determinado site por meio de plataformas abertas. Nesses ambientes, os arquivos ficam disponíveis on-line e podem ser acessados em qualquer lugar e momento, ou seja, não existe a necessidade de gravar em um determinado computador os registros de uma produção ou alteração na estrutura de um texto. As alterações são realizadas automaticamente na própria web (BLATTMANN e SILVA, 2007, p. 198, apud SILVA, 2011, p.16).
Bressan (2008, apud SILVA, 2011) defende que a Web 2.0 representa uma segunda
geração de serviços que buscam, através de aplicativos e de novas tecnologias, reformular os
conceitos, permitindo uma maior interatividade e uma grande colaboração na utilização da
internet. Foi neste cenário de livre manifestação proporcionado pela Web 2.0, portanto, que as
Redes Sociais virtuais se popularizaram cada vez mais, tornando-se, assim, verdadeiros
espaços de expressão e de organização dos usuários.
3.3.2. Rede Social virtual
Recuero (2009), afirma que uma rede social é definida basicamente por atores e
conexões, sendo esses atores indivíduos, instituições, grupos ou nós, ou seja, pessoas
envolvidas na rede que se analisa. As conexões, por outro lado, seriam os laços sociais
formados a partir da interação dos atores, que podem ser percebidas através dos rastros
deixados pelos interlocutores na web. “De certo modo, são as conexões o principal foco do
estudo das redes sociais, pois, é sua variação que altera as estruturas destes grupos”
(RECUERO, 2009, p. 30).
Para compreender como se dão estas conexões, é preciso antes entender como
funciona a interação social no ciberespaço e quais os efeitos da mediação do computador
neste tipo de interação. Recuero (2009) avalia que, como não há pistas imediatas da
linguagem não verbal, por exemplo, a interpretação do contexto da interação é negociada
durante o próprio processo de comunicação.
31
É tudo construído pela mediação do computador. O segundo fator relevante é a influência das possibilidades de comunicação das ferramentas utilizadas pelos atores.
Há multiplicidade de ferramentas que suportam essa interação e o fato de permitirem que a interação permaneça mesmo depois do ator estar desconectado do ciberespaço. Esse fato permite, por exemplo, o aparecimento de interações assíncronas
(RECUERO, 2009, p. 32).
Ou seja, a interação mediada se submete a diversos processos que variam de acordo
com a ferramenta utilizada, de modo que ela pode ser ‘síncrona’ ou ‘assíncrona’. Segundo
Recuero (2009, p.32), a interação síncrona é aquela que simula uma interação em tempo real.
Isto é, trata-se das situações em que os agentes envolvidos têm uma expectativa de resposta
imediata ou quase imediata, pelo fato de ambos interlocutores estarem presentes (online,
através da mediação do computador) no mesmo momento temporal. Um exemplo deste caso
são os mais diversos tipos de chat, como o Messenger, que naturalmente priorizam a
comunicação síncrona.
Já a interação assíncrona, não carrega uma expectativa de resposta imediata, já que
espera-se que o agente leve algum tempo para responder ao que lhe foi escrito, pelo fato
mesmo de ele não necessariamente se encontrar presente no momento temporal da interação,
como como acontece com a comunicação via e-mail ou fóruns de discussão. Porém, apesar
dessas características gerais, cada ator é extremamente independente, e, assim, pode muito
bem determinar e modificar as características das ferramentas, tornando-a síncrona ou
assíncrona, a depender do seu uso.
Algo semelhante acontece com a intensidade das relações estabelecidas nas redes, algo
que pode ser identificado, por exemplo, através dos rastros deixados na web pelos próprios
usuários, o que acaba por revelar a força dos laços construídos durante suas interações online.
É preciso também mencionar que normalmente o que provoca uma interação virtual são
fatores bem semelhantes aos que motivam uma interação face a face, como o caráter
responsivo que estimula, define e conduz um diálogo. É assim que Fischer (1987, apud
32
PRIMO, 2007) afirma que uma pessoa não comunica, mas, sim, se engaja em um processo de
comunicação.
As ações de ambos os membros de um relacionamento, a comunicação interpessoal ou as interações, criam o que viemos chamar de relacionamento. No mesmo sentido que o cliché ‘É preciso duas pessoas para dançar tango’, um relacionamento não é algo que você ‘faz’, mas algo em que você entra, torna-se uma parte. Você, como um participante individual, não define mais o relacionamento que um pingo individual define toda uma tempestade. Você é apenas uma parte do sistema de comunicação interpessoal. Suas ações, juntamente com as ações coordenadas do outro, se combinam
para definir o relacionamento (FISCHER, 1987, p. 8, apud PRIMO, 2007, p. 83).
É este caráter responsivo que gere as relações e a intensidade dos laços que são
criados, isto é, se serão fortes ou fracos, se vão durar muito tempo ou, inversamente, ter um
caráter passageiro. Segundo Nicolis & Prigogine (1989, apud RECUERO, 2009, p.80), os
processos dinâmicos das redes são consequência direta dos processos de interação entre os
atores. É assim que elas se estabelecem como são sistemas dinâmicos que, como tais, estão
sujeitos a processos de ordem, caos, agregação, desagregação e ruptura, processos estes – de
construção, ruptura, conflito e cooperação – que nortearão o surgimento de novos projetos,
processos, grupos e redes.
Seguindo o pensamento de Recuero (2009, p.82), pode-se afirmar que as relações
sociais são constituídas de interações de natureza diversa. Porém, ainda com ela, a
diferenciação torna-se importante na medida em que auxilia a compreender os efeitos dessas
interações sobre a estrutura de determinadas redes sociais. Não se pode, por exemplo, deduzir
que não exista conflito em uma comunidade virtual. Mas, por outro lado, é preciso que se
compreenda que, para que a própria estrutura da comunidade exista de modo satisfatório, a
maioria das interações precisa ser cooperativa. É claro que de alguma forma o conflito e a
competição podem gerar as mais variadas mudanças, estimular a busca do equilíbrio e obrigar
que a comunidade se adapte à nova realidade. Entretanto, se o conflito suplantar a cooperação,
pode acarretar um desgaste tão forte a ponto de provocar uma ruptura na estrutura social.
33
A Internet pode ser um terreno fértil para a conexão de atores com ideias afins e
construção de projetos ricos em diversidade cultural e propostas inovadoras. Porém, é esse
mesmo campo livre de uma autoridade central que possibilita, por exemplo, a manifestação
anônima por parte dos usuários, o que permite muitas vezes a expressão de diversas formas de
hostilidade, de egoísmo, ou até de comentários que não façam o menor sentido. Afinal, como
afirma Kollock (1999, apud PRIMO, 2007, p. 198), o conflito é próprio do humano, de modo
que faz-se necessário frisar que comunicação não é sinônimo de transmissão inquestionável
nem de intercâmbio consensual.
Antes de adentrar nos pormenores sobre o caráter positivo ou destrutivo das
manifestações através das Redes Sociais virtuais, é importante retomar Recuero (2009) para
ressaltar que, embora hospede atores com códigos e motivações semelhantes às que
naturalmente expressariam em qualquer ambiente, as Redes Sociais virtuais não são,
necessariamente, Redes Sociais reais, apesar de poderem auxiliar na sua construção.
Embora os sites de redes sociais atuem como suporte para as interações que constituirão as redes sociais, eles não são, por si, redes sociais. Eles podem apresentá-las, auxiliar a percebê-las, mas é importante salientar que são, em si, apenas sistemas. São os atores sociais, que utilizam essas redes, que constituem essas redes (RECUERO, 2009, p. 103).
Ou seja, ao dizer que “são os atores sociais, que utilizam essas redes, que constituem
essas redes”, a autora claramente reforça a ideia de que, apesar dos sites de redes sociais
serem lembrados ou referidos a partir das características de seus grupos, são os próprios atores
que as definem como tais, de modo que essas redes acabam sendo apenas sistemas que
publicam, tal qual uma vitrine ou um canal, as conexões construídas pelos usuários. Para
entender este panorama, por fim, é importante compreender o que caracterizam esses Sites de
Redes Sociais e qual o seu papel.
34
3.3.3. Sites de Redes Sociais
Segundo Recuero (2009), Sites de Redes Sociais são os espaços utilizados para a
expressão das redes sociais na Internet. Compreendendo suas características a partir da
definição de Boyd & Ellison (2007, apud RECUERO, 2009, p.102), pode-se dizer que esses
sites, em termos gerais, são sistemas que permitem a construção de uma persona através de
um perfil ou página pessoal, da mesma forma que possibilitam a interação através de
comentários e a exposição pública da rede social de cada ator.
Recuero (2009, p.104) identifica que existem dois tipos de Sites de Redes Sociais: os
‘estruturados’ e os ‘apropriados’. Os estruturados são aqueles que têm, desde o seu
planejamento e processo de construção, a intenção de expor, publicizar as redes conectadas
aos atores. É o caso do Orkut, Facebook, Linkedin etc., sistemas que possuem perfis e espaços
específicos para a publicização da conexão dos indivíduos. Em geral, estes sites estão focados
em ampliar e complexificar as redes. Já os sites apropriados, por outro lado, tratam-se dos
sistemas que, originalmente, não eram voltados para mostrar redes sociais, mas acabaram por
ser utilizados pelos atores com esta finalidade. É o caso, por exemplo, de fotologs, weblogs,
Twitter etc. Nestes sistemas, portanto, não há espaço específico para perfil e para publicização
das conexões, já que os perfis são criados a partir dos espaços pessoais, das fotos e dos textos
publicados pelo ator.
Apesar das semelhanças fundamentais, o que os sites apropriados e os estruturados
têm em comum e permite qualificar a ambos como redes sociais na Internet é a possibilidade
de difusão e o alcance da informação através dos atores e de suas conexões. Segundo Recuero
(2009, p.116), foi esta difusão rápida e interativa, por exemplo, que incentivou a criação de
novos canais, de novas ferramentas de publicação pessoal de imagens, textos e até vídeos.
35
É fácil perceber o potencial das redes sociais na Internet quando se observa a difusão
de uma informação nas mídias off-line em contraponto às mídias digitais, na medida em que a
possibilidade de compartilhamento, de manifestações as mais diversas, sem falar do próprio
alcance ilimitado, é claramente maior do que o proporcionado pelas mídias off-line. Além
disso, é preciso compreender também que as informações expostas na Internet são oriundas
do cotidiano real dos indivíduos.
...é preciso compreender que estudar redes sociais na Internet é estudar uma possível rede social que exista na vida concreta de um indivíduo, que apenas utiliza a comunicação mediada por computador para manter ou criar novos laços. Não se pode
reduzir a interação unicamente ao ciberespaço, ou ao meio de interação. A comunicação mediada por computador corresponde a uma forma prática e muito utilizada para estabelecer laços sociais, mas isso não quer dizer necessariamente que
tais laços sejam unicamente mantidos no ciberespaço (RECUERO, 2009, p. 144).
A Internet, através da comunicação mediada e dos Sites de Redes Sociais, possibilitou
uma nova forma de organização social, de compartilhamento de informação e de produção de
conteúdo descentralizada. Por isso, é primordial conhecer um pouco mais sobre as
ferramentas que desencadearam este processo. O caso do objeto de estudo deste trabalho, por
exemplo, o site de rede social Couchsurfing, pode ser considerado como um de modelo
estruturado, pois ele já nasce com a intenção de conectar usuários com interesses em comum e
dispostos a publicizar suas conexões através das referências e dos diálogos construídos nos
fóruns. Só que, de modo um tanto distinto das outras redes sociais, esta plataforma específica
acaba tendo também um grande impacto da experiência off-line dos usuários, como será
detalhado logo em seguida.
36
IV. COUCHSURFING
4.1. Couchsurfing, um breve histórico e panorama
A rede Couchsurfing9 (CS) é uma organização sem fins lucrativos que se propõe a
conectar viajantes de todo o mundo a moradores locais e à cultura que visitam. O processo de
ser acolhido por um anfitrião local de forma gratuita qualifica uma experiência cuja moeda de
troca é o intercâmbio cultural, o compartilhamento de vivências e o aprendizado de algo novo.
O site que conta hoje com mais de um milhão de membros – número ultrapassado em 18 de março de 2009 – foi idealizado pelo americano Casey Fenton, a partir de uma viagem feita por este a Islândia, quando sem hospedagem e em busca de uma experiência distinta do perfil de turista padrão, mandou e-mails para mais de 1500
estudantes locais, atingindo a hospitalidade de diversos grupos dispostos a apresentar a Reykjavik deles. (STERN, 2009, p. 15).
Presente em mais de 230 países, o projeto teve sua versão beta lançada em 2003, e, um
ano depois, sua versão 1.0 foi divulgada. Hospedado no site www.couchsurfing.org, o projeto
foi fundado pelos americanos Casey Fenton e Daniel Hoffer, além do francês Sebastien Le
Tuan e o brasileiro Leonardo Bassani da Silveira. Hoje, a rede conta com mais de 1,7 milhão
de usuários, e embora possua um corpo de funcionários remunerados, é mantida
principalmente por meio da colaboração de voluntários.
De acordo com Stern (2009), outro momento relevante na história do Couchsurfing, e
que reforça a forma com que os usuários se envolvem com o projeto, deu-se no ano de 2006,
quando devido a falhas no seu sistema operacional o site saiu do ar e teve uma perda
definitiva de boa parte do seu banco de dados. Foi assim que Casey, um dos fundadores,
comunicou que o projeto, da forma como era conhecido, havia terminado, o que gerou uma
onda de apoio por parte de seus usuários, que enviaram mais de 2 mil e-mails em 24 horas
9 O termo Couchsurfing representa a junção das palavras em inglês couch e surf, que significam,
respectivamente, ‘sofá’ e ‘surfar’, o que remete à ideia geral ‘surfar no sofá’. Já a expressão específica
coucsurfing, por fim, refere-se ao ato de ‘surfar no sofá’ de alguém.
37
oferecendo-se para ajudar na reconstrução do projeto. Por conta deste apoio, portanto, o site
foi reformulado, e sua versão 2.0, que é usada até hoje, foi lançada.
Em 2011 o Couchsurfing viria se tornar uma corporação B10. Conforme informado no próprio site, ‘Nos tornamos uma Corporação B* porque isso nos fornece o apoio para nossa missão que esperávamos encontrar no terceiro setor, enquanto nos permite que tenhamos a liberdade para inovação que as empresas tradicionais que visam o lucro desfrutam' (trad. TURBIANI, 2011, p.41).
Atualmente, o alcance da rede Couchsurfing pode ser percebido através das estatísticas
acessíveis no próprio site. Até o dia 31 de novembro de 2012, foram contabilizados 4,8
milhões de couchsurfers (forma que os usuários desta rede se denominam), de modo a
conectar 93.355 cidades e 207 países. Até esse momento, cerca de 15,3 milhões de laços
foram criados, e milhares de experiências, divididas.
E, no geral, é essa própria troca de experiências que mais motiva veteranos e novos
participantes a ingressarem no site. A verdade é que há diversas formas de participar do
projeto, seja surfando o sofá de alguém, hospedando, ou mesmo criando um evento, porém, a
característica geral que as une é o fato de todas terem em comum o compartilhamento, desde
os espaços divididos, o tempo ou do conhecimento de cada um, o que, quando passado
adiante, conecta novas pessoas e alimenta os laços já criados.
A questão da construção ou reconstrução do laço social é especialmente sensível ao momento em que grupos humanos implodem, cancerizam-se, perdem seus pontos de referência e veem suas identidades se desagregar. [...] Basear o laço social na relação
com o saber consiste em encorajar a extensão de uma civilidade desterritorializada, que coincide com a fonte contemporânea da força, ao mesmo tempo em que passa pelo mais íntimo das subjetividades (LÉVY, 1994, p. 27).
Por ser um projeto multicultural que abrange diversas nacionalidades, o inglês é a
língua padrão usada para conectar os couchsurfers. Como nas demais redes sociais, os
usuários desta rede também possuem um vocabulário e códigos próprios. Por exemplo, o
10
“Corporação B é um novo tipo de empresa que usa a força dos negócios para resolver problemas sociais e ambientais.” Tradução de Turbiani (2011, p.41), retirado de www.bcorporation.net/about.
38
termo couch (‘sofá’) para um couchsurfer significa hospedagem, local oferecido pelo host
(‘anfitrião’) onde o guest (‘visitante’) possa se acomodar, que, neste caso, não precisa
necessariamente ser no próprio sofá.
Depois de ingressar no CS, o que é feito de forma gratuita, o usuário deve preencher o
perfil com suas informações pessoais, como localização, formação/educação, além de uma
imagem que o represente. Na sequência, seguem campos que requisitam uma descrição
pessoal, idade, sexo, nome, interesses pessoais – música, filmes e livros –, a forma como
participa ou colabora com o CS, com que tipo de pessoa costuma ter afinidade, locais que já
viajou e que lugares gostaria de conhecer. Essas informações permitem que os usuários
conheçam mais uns aos outros, o que de certa forma reduz a insegurança diante o
desconhecido e permite a identificação entre pessoas que nunca se viram, fortalecendo, assim,
o próprio conceito da rede, de que todos podem ter sempre algo em comum e coisas a
partilhar.
(Figura 1: Tela inicial do Couchsurfing11)
11
Acesso em 20 Nov. 2012. Disponível em www.couchsurfing.org.
39
Em termos gerais, recomenda-se que o viajante leia todo o perfil do usuário que
possivelmente poderá hospedá-lo de modo a tentar encontrar pessoas com interesses em
comum. Depois disto, deve enviar um request, ou seja, um pedido de hospedagem, onde deve
constar o motivo da sua viagem, o que o estimulou a escolher aquele host em particular, e
também quantos dias pretende permanecer hospedado.
De maneira semelhante a outras redes, como Orkut e Mercado Livre, o CS também
possui métodos próprios de avaliação ou de qualificação dos usuários. O voucher12
(representado pelas mãos dadas na figura 2), por exemplo, é uma dessas formas de
qualificação, uma maneira de atestar que aquela pessoa é de confiança e por isto, mereceu seu
voto. O CS Team Member13 (representado pelo ícone com o planeta ao centro) é alguém que
participa e contribui diretamente com o funcionamento do CS, de modo que geralmente está
apto a tirar dúvidas e a solucionar problemas técnicos referentes ao desempenho do site. O
Ambassor (‘embaixador’) é uma pessoa que se torna referência na comunidade e é convidado
pela organização do site para executar diversas atividades específicas, como dar boas vindas a
novos integrantes, organizar eventos, tirar dúvidas gerais etc. Pioneer14 (representado na
figura 2 por um sofá e uma estrela) é o título concedido aos membros que acreditaram no
projeto desde a sua fase inicial e que decidiram, voluntariamente, fazer doações financeiras
para ajudá-lo a funcionar.
12
O termo significa literalmente ‘atestado’, ‘certificado’ (de confiança). 13
Literalmente, ‘Membro da Equipe do Coucsurfing’. 14
Literalmente, ‘pioneiro’.
40
(Figura 2: ícones de identificação e qualificação dos usuários15
)
Em termos gerais, há diversas formas de participar da rede: hospedando, surfando, ou
criando ou comparecendo a meetings (eventos), por exemplo. A maioria destas características
está expressa no perfil do usuário, sempre representadas por ícones específicos que sinalizam
se uma determinada pessoa está disposta a hospedar, apenar surfar, ou se se disponibiliza para
mostrar a cidade, acompanhar a um café etc. Os símbolos representados por sofás, por
exemplo, informam a disponibilidade daquele usuário: ‘sim’, ‘talvez’, ‘estou viajando’, ‘no
momento não posso, mas aceito mostrar a cidade’. Outras características, como quantos e
quais idiomas fala e compreende, além da galeria de fotos, também colaboram no momento
de selecionar um possível couch ou host.
(Figura 3: disponibilidade do couch)
Ademais, o usuário é incentivado também a disponibilizar imagens acompanhadas de
um descritivo do local onde a pessoa será hospedada, como pontos de referência específicos
da casa do host, se trata-se de um ambiente compartilhado, se o guest terá que dividir o
15 Figura 2 e Figura 3 retiradas do site www.couchsurfing.org
41
alojamento com outras pessoas, tudo isso para evitar frustrações e fazer com que a experiência
seja o mais positiva possível.
Por se tratar de uma rede que motiva desconhecidos a se encontrarem e dividirem um
espaço íntimo em suas próprias casas, a questão da segurança é comumente levantada, de
modo que dentro do site há uma área dedicada somente a este tema. Desta forma, assim como
em outras comunidades que permitem que pessoas deixem depoimentos pessoais, a exemplo
do Orkut, ou aquelas onde é possível deixar recomendações e avaliar o serviço entre negativo,
positivo e neutro, como o Mercado Livre, o Couchsurfing também desenvolveu seu próprio
método de segurança. Além do já citado voucher, existe também a possibilidade de
verificação do endereço fornecido pelo usuário, assim como as próprias referências, que, uma
vez postadas, não podem ser deletadas. De modo semelhante ao Mercado Livre, esses
depoimentos servem justamente para qualificar a experiência entre os usuários em positiva,
negativa ou neutra, o que permite a divulgação de informações gerais sobre o que foi
compartilhado em cada vivência.
42
(Figura 4: referências trocadas entre usuários16)
4.2. CS no Mundo
De acordo com informações do próprio site, em um dos grandes momentos de pico do
projeto, chegou-se a alcançar, nesse período determinado, um mínimo de 15,5 mil inscrições
semanais e um máximo de 32.451. Assim, como já dito, o CS abrange atualmente
participantes de 207 países, engloba 366 línguas distintas, o que dá ao site a ‘honra’ de
16
As referências costumam, independente da nacionalidade dos envolvidos, ser postadas em inglês para ser
acessível a maior número de usuários possível. Figura retirada do site www.couchsurfing.org
43
‘abrigar’ mais países do que na própria ONU17
, que conta com 193 nações membros. Em
termos geográficos, os Estados Unidos concentram o maior número de couchsurfers (21,1 %),
e é seguido por Alemanha (9,5%), França (8,6%), Canadá (4,3%), Inglaterra (4,0%), Espanha
(3,1%), Itália (3,1%), Brasil (2,7%), Austrália (2,6%) e China (2,2%).
(Figura 5: Ranking contendo número do de usuários do CS por país18
)
Entre os 366 idiomas que circulam pelo site, o inglês, naturalmente, é a língua mais
falada, abrangendo quase 3 milhões de participantes, e seguida do francês (736.379) e o
espanhol (688.271) – como é comum que os usuários desta rede falem mais de um idioma, a
soma dos percentuais ultrapassa os 100%. Além disto, o site está disponível em 32 línguas
diferentes, possibilitando, assim, àqueles que não falam inglês, a participação na comunidade
através da sua língua materna ou qualquer outra de sua escolha.
17 Dados retirados do site da ONU, em 31/10/2012 http://www.onu.org.br/conheca-a-onu/paises-membros/. 18 Figura retirada do site: www.couchsurfing.org
44
(Figura 6: Línguas faladas no CS19)
No que se refere ao gênero dos participantes, 53% são homens e 47% são mulheres.
Destes, 46% disponibilizam seus couchs, 69% estão disponíveis para um café ou outra
atividade, 21% registram estar viajando no momento, 14,1% talvez possam hospedar, e 11,9%
não têm condições de fazê-lo. É interessante observar, como mostram bem esses dados, que
atualmente a maior forma de participação dos usuários se dá através de encontros mais breves,
como em um café, em algum evento específico, ou por meio da disponibilidade de sair para
mostrar a cidade. Porém, como esses dados são atualizados constantemente, o panorama muda
bastante o tempo inteiro, de modo que não é possível chegar a conclusões decisivas a este
respeito.
Quanto à faixa etária dos participantes, a média de idade declarada pelos cadastrados é
de 28 anos. E se antes a categoria que engloba os couchsurfers 18 a 24 anos liderava o
ranking de usuários, hoje a faixa de 25 a 29 anos já a superou – os números atuais são 32,9%
e 36,7%, respectivamente. Os participantes de 30 a 34 anos somam 15%, os de 35 a 39 anos
chegam a 6%, os de 40 a 49 anos correspondem a 5%, os de 50 a 59 anos somam 2%, e os
19 Figura 6 retirada do site: www.couchsurfing.org
45
que estão acima dos 60 anos não passam de 0,9%. Apesar de se tratar de um número pouco
expressivo, em junho 2010 foram contabilizados 342 usuários entre 80 e 89 anos ao redor do
mundo (Dutra, 2010, p. 37). Destes, 58,6% possuíam foto, 6,9% tinham vouching e 6,5%
eram verificados pelo site.
4.3. Couchsurfing Brasil
O brasileiro começou a se interessar pelo Couchsurfing no mesmo ano do seu
lançamento – 2003. Apesar de ter tido uma manifestação tímida no início, com o registro de
apenas algumas dezenas de usuários, hoje esta rede tem um crescimento expressivo entre os
brasileiros. De acordo com Turbiani (2011), o total de pessoas cadastradas que residiam no
Brasil chegava a 9 mil em 201120
, o que, na verdade, não garante que sejam todos brasileiros,
já que o registro é feito pelo país de residência, e não necessariamente por nacionalidade.
Ainda de acordo com Turbiani (2011), foram encontrados couchsurfers no Brasil em
28 Estados, 1.521 cidades e que falavam 239 idiomas diferentes. Depois do português, com
92%, as línguas mais faladas são, respectivamente, o inglês (51,8%), o espanhol (25,7%), o
francês (6,9%) e o italiano (3,7%).
20 Anteriormente, era possível identificar dados atualizados dos usuários por região, idade, sexo, disponibilidade
etc., porém, o site suspendeu a disponibilização dos dados detalhados. Deste modo, foi preciso recorrer a
pesquisas anteriores, que, apesar de não trazerem dados recentes, servem, em termos gerais, para traçar um
panorama de como se comporta o couchsurfer do Brasil em relação aos demais integrantes do mundo. Pra este
propósito, além de Turbiani (2011), utilizamos também Stern (2009).
46
(Tabela 2: Idiomas mais frequentes falados pelos CSers brasileiros21
)
Seguindo esses mesmos dados, à época, 32,9% se declararam disponíveis a receber
surfers, 32,4% acompanhariam em um café ou bebida e 8% não se disponibilizavam a
hospedar.
(Tabela 3: Disponibilidade dos usuários no CS Brasil)
21 Dados que compõem a Tabela 2 e 3 retirados de Turbiani (2011).
47
Dentre os residentes no Brasil ativos no projeto, 55,9% são homens e 40,1% são
mulheres; além disso, 3,9% dos perfis são formados por mais de uma pessoa (casais ou
grupos específicos) e 0,2% não declararam seu gênero.
(Tabela 4: Perfil do gênero dos Csers brasileiros)
A média de idade dos surfers brasileiros coincide com a média mundial, que é de 28
anos: 36% têm entre 18 a 24 anos, 34,7% têm entre 25 a 29 anos e 16% têm entre 30 a 34
anos. Os que se encontram entre os 35 e os 39 anos correspondem a 6%, os de 40 a 49
formam 4,7% do total e os que formam o grupo de 50 a 59 anos chegam a 1,7%. Por fim, os
usuários de 60 a 69 anos não passam dos 0,4%, e menos de 1% está acima dos 70 anos.
48
(Tabela 5: Média de idade entre os CSers brasileiros)
Naturalmente, a maior atividade dos couchsurfers está nas capitais, sendo São Paulo a
principal delas, com quase 20% do total dos participantes brasileiros. Na sequência está o Rio
de Janeiro, com 13,2%, Belo Horizonte, com 5,1%, Curitiba, com 4,1%, Brasília, com 4,1%,
Porto Alegre, com 4%, Salvador, com 3,6%, Florianópolis, com 3,2%, Recife, com 2,4% e
Campinas, com 2,2%.
(Tabela 6: Cidades brasileiras presentes no Couchsurfing)
49
4.4. Couchsurfing Sergipe e Aracaju
No sistema de busca disponibilizado atualmente22
pelo site foram encontrados 360
integrantes residentes em Sergipe, sendo 321 (89,17%) de Aracaju. Destes, 225 (62,5%) são
homens,132 (36,7%) são mulheres, e apenas 3 (0,8%) dividem o perfil com outras pessoas.
(Tabela 7: Gênero dos usuários encontrados no Couchsurfing em Sergipe)
Quanto à faixa etária, 73 (20,3%) couchsurfers sergipanos têm entre 18 A 24 anos,
167 (46,3%) têm de 25 a 30 anos, e 64 (17,8%) têm de 30 a 36 anos – outros 56 inscritos
(15,6%) não tiveram sua idade declarada.
22
Dados obtidos em novembro de 2012 através de uma busca por cidade feita no próprio site.
50
(Tabela 8: Média da idade dos Couchsurfers de Sergipe)
O Grupo Aracaju-SE foi criado em 07 de Agosto de 2008, e é o mais expressivo do
Estado, contando com 700 membros, que, na verdade, não são necessariamente couchsurfers
residentes de Aracaju, podem ser residentes de outros estados que participem do grupo
Aracaju-Se. Em 04 anos de existência, o grupo possui 13.559.983 posts, e seu caráter público
não demanda aprovação para que novas pessoas ingressem a comunidade. É aqui, portanto,
que chega-se ao foco específico deste estudo: a experiência de alguns usuários pertencentes ao
grupo Aracaju-SE.
51
5- O RESGATE DA INTERAÇÃO FACE A FACE INTERMEDIADO PELA REDE
SOCIAL COUCHSURFING
Serão apresentados neste capítulo os procedimentos metodológicos e os resultados
obtidos através da pesquisa realizada.
5.1- Procedimentos metodológicos
Para verificar como o site de rede social Couchsurfing influencia no resgate dos
padrões de interação face a face, objetivo deste trabalho, foi preciso se aprofundar em
diversos conceitos. Também foram utilizados procedimentos metodológicos que permitiram
obter as respostas para os questionamentos levantados pela discussão teórica. Inicialmente, foi
feita uma pesquisa de caráter exploratório, onde foi realizada a revisão de literatura, que
compreende o levantamento e análise de dados bibliográficos, tais como livros, artigos e
monografias disponíveis nas bibliotecas da Unit, além de artigos, sites, e-books, textos, vídeos
e documentários encontrados na Internet e também em livros de acervos particulares.
Para a abordagem empírica, aplicou-se um questionário cuja formulação visa traduzir
os objetivos de pesquisa em questionamentos específicos. O resultado obtido deve oferecer
dados suficientes para descrever as características do grupo pesquisado.
Pode-se definir o questionário como a técnica de investigação composta por um
conjunto de questões que são submetidas a pessoas com o propósito de obter informações sobre conhecimentos, crenças, sentimentos, valores, interesses, expectativas, aspirações, temores, comportamento presente ou passado, etc. (GIL, 2006).
O questionário aplicado neste trabalho foi composto por 14 questões, entre abertas e
fechadas. O questionário foi aplicado utilizando a ferramenta Google Docs (agora nomeado
Google Disco) na opção ‘formulário’ e disponibilizado online através de um link postado na
comunidade Aracaju-SE do Couchsurfing. Como já foi dito anteriormente, esse é o grupo
mais ativo do Estado, e conta com 700 membros e cerca de 8 mil postagens. O Ggupo possui
52
uma organização ativa que programa encontros semanais e eventos integrando outros Estados,
por exemplo. A escolha da aplicação online se deu pela possibilidade de utilizar um canal de
comunicação direto com a amostragem que se deseja coletar, que são os usuários que estão
presentes nos fóruns de discussão do próprio Couchsurfing. O questionário completo pode ser
conferido no apêndice A, ao final deste trabalho.
Os dados coletados foram extraídos e tabulados a partir do próprio Google Docs,
sendo os gráficos mais simples gerados pelo próprio Docs, e os mais complexos, feitos com
auxílio do Excel. Naturalmente, a aplicação através da Internet infere algumas dificuldades, a
exemplo da ausência do entrevistador, o que impossibilita o esclarecimento de dúvidas
eventuais que o entrevistado possa ter durante o processo. Porém, também levando isso em
consideração, evitou-se que o questionário fosse muito longo, para que, acima de tudo, o
entrevistado não se sentisse desencorajado e abandonasse o processo.
5.2- Caracterização geral dos dados
Por ter sido disponibilizado dentro do fórum de discussão da comunidade Aracaju-SE,
predispuseram-se a responder aqueles que têm postura mais ativa e participativa dentro da
comunidade. A pesquisa contou com a participação de 30 membros, e a escolha do grupo
Aracaju-SE se deu por uma busca da representação desta rede no Estado de Sergipe. Entre os
que responderam à pesquisa, 63% são do sexo masculino e 37% são do sexo feminino.
53
(Tabela 9: Sexo dos Couchsurfers que responderam ao questionário.)
Dos pesquisados, 43% têm de 25 a 30 anos, 37% têm de 18 a 25 anos, e 5% têm de 30
a 35 anos; apenas 3% possuem acima de 40 anos, como pode ser visto no gráfico a seguir:
(Tabela 10: Faixa etária dos usurários que responderam ao questionário)
Quando questionados sobre há quanto eles participam da rede social Couchsurfing, o
resultado adquirido foi bem equilibrado: 27% dos usuários é integrante há 1 ou 2 anos, 23%
ingressaram há 2 ou 3 anos, e, para os que ingressaram há 6 meses, de 6 meses a 1 ano e há 3
anos, a média foi de 17% cada.
54
(Tabela 11: tempo de participação no CS pelos respondentes ao questionário.)
A forma como os usuários participam do CS ficou distribuída da seguinte maneira: a
maioria, com 30%, acredita na reciprocidade de tanto surfar quanto hospedar; 23% dos
participantes são engajados apenas em receber surfers em suas residências; 17% participa
indo aos meetings semanais; 10% participou como guest, surfando alguns sofás; e 7%
normalmente se limitam a disponibilizar-se para um café ou drink.
(Tabela 12: a forma como os usuários declaram na pesquisa sua participação n CS)
55
Sobre o valor percebido, ou seja, a sensação provocada pela experiência do
Couchsurfing, 93% dos entrevistados consideram positiva a experiência vivenciada por eles
nesta rede social, e os 7% restantes julgam a experiência neutra. Nenhum dos entrevistados
qualificou a experiência como negativa.
(Tabela 13: Como os entrevistados qualificam a experiência no Couchsurfing)
Quando questionados se a maioria dos contatos que mantêm na rede Couchsurfing
foram feitos lá mesmo ou se são provenientes do universo off-line, 77% deles afirmam que a
maioria dos amigos presentes em seus perfis foram feitos no próprio site. Apenas 23%,
portanto, afirmam que os contatos que possuem no CS são de pessoas que já conheciam
anteriormente.
(Tabela 14: referente aos contatos do CS)
56
Já as relações estabelecidas dentro do CS são avaliadas da seguinte forma: 53%
afirmam que fizeram bons amigos, considerados laços fortes conquistados nesta rede. Outros
43% afirmam que fizeram colegas, considerados laços fracos, cuja proximidade ou intimidade
não chegou a ser conquistada.
(Tabela 15: análise dos laços dos entrevistados criados dentro do CS)
No que se refere à quantidade de vezes que os couchsurfers chegaram a compartilhar
seu ambiente privado com outros membros, obtivemos como número mínimo 0, registrado
entre aqueles que ainda não tiveram a experiência de hospedar nenhum viajante, e, como
máximo de hospedagens, o total de 25 vezes. A média geral entre todos os participantes em
relação à quantidade de hospedagens foi 8.
(Tabela 16, referente ao número de pessoas hospedadas pela amostragem)
O número de vezes que estes mesmos usuários foram hospedados por outros
couchsurfers é consideravelmente menor, o que leva a crer que o perfil geral do couchsurfer
57
aracajuano (a partir da amostragem) refere-se muito mais ao hábito de receber viajantes do
que de viajar ou de utilizar os couchs em suas viagens a outras cidades.
(Tabela 17, referente ao número de vezes que os usuários entrevistados usaram ‘couchs’)
Em termos gerais, o que norteia a decisão dos couchsurfers da amostragem do grupo
Aracaju-SE sobre hospedar ou não alguém está intimamente relacionado às referências que o
guest possui: o objetivo é averiguar se elas são no geral positivas, ou se, por exemplo, esses
membros já chegaram a se envolver em alguma situação adversa para merecer referências
negativas ou neutras. O segundo fator mais relevante avaliado pelos membros entrevistados é
se o guest possui similaridades nos gostos, na filosofia de vida ou nas características
apresentadas no perfil. Em terceiro lugar, está a prioridade por hospedar pessoas do mesmo
sexo, de idade semelhante e que falem uma língua acessível.
No que se refere, inversamente, à busca de um couch, as referências positivas
continuam sendo imprescindíveis na hora de escolher um host. Outro fator muito relevante
mencionado diversas vezes pelos membros é a localização de quem hospeda, se é próximo a
terminais de ônibus e metrô, se é de fácil acesso e bem sinalizado. O terceiro ponto mais
relevante é o de identificação com o perfil do possível host. Ter hábitos e gostos em comum
facilita a convivência e torna a experiência mais leve, prazerosa, atestam os entrevistados.
Quando questionados sobre o impacto do Couchsurfing nas interações e atividades e
de que forma eles qualificariam suas experiências oriundas desta rede, se mais significativas
na atmosfera online ou na off-line, mais de 80% afirmaram que o impacto do Couchsurfing
58
consiste em, apesar de ser uma ferramenta digital, oferecer uma experiência off-line aos
indivíduos, seja no que diz respeito à promoção dos encontros, às possibilidades de
intercâmbios culturais, e à conexão e aproximação das pessoas. Tudo isso, portanto, culmina
em uma experiência muito mais simbólica e expressiva, na esfera off-line, do que poderia
ocorrer online.
Do total de entrevistados, pouco mais de 10% afirmaram participar mais ativamente
dos fóruns e comunidades online, por exemplo, mas justificaram essa ‘exceção à regra’ pelo
fato de não terem tempo suficiente para se dedicar mais aos encontros presenciais, devido à
correria do dia a dia. Os outros 10% restantes afirmaram que conseguem ter uma experiência
significativa tanto na esfera virtual como na presencial oferecidas por esta rede.
.
(Tabela 18: A experiência proporcionada pelo CS é mais percebida pelos usuários no
ambiente off-line que no ambiente digital)
Os Couchsurfers do grupo estudado costumam alimentar as suas relações construídas
por intermédio desta rede mantendo contato também através de outras redes sociais, como
Facebook, Twitter, ou mesmo através de e-mail ou telefone. Mais de 50% afirmaram se
59
utilizar de sites como Facebook para manter contato com outros couchsurfers que hospedaram
ou conheceram em encontros; 37% afirmaram que já voltaram a visitar alguém que já
hospedou previamente ou alguém de quem foi hóspede através do CS, o que reforça bastante
os laços construídos. Os outros poucos mais de 10% apontaram que têm planos de visitar
amigos que fizeram através desta rede, mas que ainda não o fizeram. Em outros casos, os
contatos acabaram se perdendo por conta da distância geográfica.
A última questão aplicada buscava saber se havia alguma distinção, de acordo com a
percepção destes usuários, entre os laços formados através do Couchsurfing e os laços
formados nas demais redes sociais, como Facebook, Orkut etc. Por se tratar de uma questão
aberta, ela deixou os usuários bem livres ao oferecer a possibilidade de abordagens subjetivas
sobre o assunto. Contudo, algumas características se faziam padrão neste contexto.
A maioria dos usuários ressaltou, por exemplo, o contato interpessoal como o maior
diferencial entre o Couchsurfing e as demais redes sociais, sob a justificativa de que,
motivados pela filosofia em comum, a de compartilhar os espaços, a da generosidade e
abertura para o novo, o contato se dá de forma mais simples, genuína, e sem barreiras. Outro
fator apontado com frequência é o diferencial de que, enquanto as outras redes servem,
prioritariamente, para conectar pessoas que já se conhecem, o CS propõe, em termos gerais,
mais ou menos o movimento contrário: conectar pessoas que nunca se viram e que
possivelmente tenham um histórico e cultura diferentes.
60
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Um dos motivos que levou a autora deste estudo a escolher este tema em particular
envolve uma grande afinidade em relação a este site de Rede Social, que consegue plantar a
sensação de pertencimento nos integrantes da comunidade, além da própria curiosidade pelos
processos que tiveram que ser desenvolvidos ao longo dos anos para que a ferramenta
funcionasse de modo a evitar que o tato fosse perdido.
Para que o objetivo deste projeto fosse alcançado, portanto, foi preciso primeiramente
expor o que motiva a comunicação interpessoal, de que forma ela ocorre, e quais as
características mais gerais da interação face a face. Assim, fez-se necessário acompanhar as
pegadas deixadas pelas civilizações primitivas para compreender quantos signos um gesto
pode carregar, por exemplo. Na medida em que cada grupo foi percebendo que compartilhar o
mesmo espaço prolongava a sobrevivência de todos, e, dentro desta convivência onde cada
um trazia suas reações e trejeitos às situações apresentadas, um quebra-cabeça de novos
códigos ia sendo montado à medida que interagiam.
São estes códigos específicos que chamamos de interações. Ao longo desta larga
caminhada da humanidade vários padrões foram desenvolvidos para diagnosticar, tabular e
justificar as interações, passando, assim, das mãos para as rochas, em seguida, para o fogo,
para a garrafa, para os papeis, para o aparelho falante de Graham Bell, para o televisor, até
finalmente chegar ao computador. E foi munido com um computador conectado às redes, que
o homem contrariou o padrão da comunicação previamente estabelecido e passou a definir
novos padrões em que a produção e a difusão da informação passou a ter um caráter
crescentemente descentralizado.
Desta forma, a Internet passou a mediar de maneira cada vez mais intensas as relações
modernas. Com o avanço da tecnologia, foi possível transpor as distâncias e as barreiras
61
temporais e culturais. Atualmente não é raro, por exemplo, esbarrar em aparatos que tentam
recriar as sensações humanas e que prometem um simultaneidade quiçá tão rápida quanto a
presencial. Com a popularização da internet, o homem passou a segmentar ainda mais suas
relações. Sites de Redes Sociais de temas tão específicos quanto degustadores de chá, chefs de
cozinha amadores, apreciadores de vinho, e redes para quem deseja relacionamentos
extraconjugais ganham centenas de novos adeptos diariamente.
Uma destas redes sociais de nicho é o próprio Couchsurfing, tema de estudo deste
projeto. Criada inicialmente com a finalidade de conectar viajantes a moradores locais que
pudessem apresentar suas impressões sobre a cidade, a sensação de comunidade e de
pertencimento despertada em seus integrantes, ela se torna bem mais que uma simples
ferramenta desenvolvida para incentivar conexões virtuais ou meramente turísticas.
A partir dos resultados da pesquisa aplicada à amostragem de participantes do grupo
Aracaju-Se dentro do Couchsurfing tratada no capítulo anterior fica clara a percepção que os
integrantes têm da ferramenta e qual o seu papel no cenário contemporâneo disputado entre
outras tantas redes sociais. A pesquisa tinha como objetivo geral verificar se a rede social
virtual Couchsurfing promovia um resgate da interação face a face. Nos dados coletados,
pôde-se observar, portanto, que a intensidade com o que os integrantes abraçam o projeto
transpassa as dificuldades convencionais geradas em ambientes digitais, a exemplo de
insegurança, possibilidade de encontrar perfis falsos e difamadores etc.. A maior evidência
disso é o próprio o retorno positivo de 93% dos participantes quando questionados sobre a
qualificação que dariam à sua experiência no Couchsurfing. Como também já discutido, a
esse respeito nenhum participante caracterizou sua vivência como negativa – os 7% restantes
a avaliaram como neutra.
62
Através dos dados obtidos, fica claro também que a rede se alimenta de si própria.
Mais da metade dos entrevistados afirmaram que a maior parte de seus contatos (conexões
exportas na rede) refere-se a pessoas que conheceram através do próprio Couchsurfing, dos
quais mais de 50% considera ter feito laços fortes a partir destas conexões. Porém, a
constatação maior da confirmação da hipótese analisada por este trabalho surge no momento
em que a amostragem qualifica o impacto da experiência, principalmente quando eles definem
sua participação na rede como majoritariamente off-line. Isso significa que, apesar de se tratar
uma rede social criada e hospedada na Internet, sua característica mais memorável é a de
incentivar o retorno às interações face a face: e não apenas entre os locais e eventuais
viajantes, mas também entre a própria comunidade que vê neste diálogo a possibilidade de
resgatar alguns valores razoavelmente perdidos no tempo, como o senso coletivo, a
hospitalidade e a confiança nas pessoas – sobretudo estranhos.
É assim, portanto, que este estudo tenta deixar sua contribuição para uma área que
ainda oferece muitas possibilidades de discussão e aprofundamento, a de comunicação digital,
de modo que este trabalho não é e nem pretende ser conclusivo. A sua grande tarefa, na
verdade, é a de abrir possibilidades para novos questionamentos e aprofundamentos acerca de
temas como Sociedade da Informação, interação mediada e as interações face a face
proporcionadas pelas próprias redes virtuais, assuntos brevemente abordados neste projeto.
63
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- SCARANO, Davidson. Uma análise das redes sociais digitais: a interação do mundo real e virtual. PUC-SP. São Paulo, 2011. Disponível em: http://www.sapientia.pucsp.br/tde_arquivos/33/TDE-2012-01-12T06:26:31Z-12004/Publico/Davidson%20Scarano.pdf. Acesso em: nov. 2012. - SILVA, Raquel M. As redes sociais e a revolução em tempo real: O caso do Egito. UFRGS, Porto Alegre, 2011. Disponível em: http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/37496/000820279.pdf?sequence=1. Acesso em:
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APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO “PESQUISA QUE AVALIA A INTERAÇÃO
ATRAVÉS DO COUCHSURFING”
66
67
68
APÊNDICE 2: PRÉ-PROJETO DE PESQUISA
UNIVERSIDADE TIRADENTES
ANA CAROLINA VIEIRA OLIVEIRA
COMUNICAÇÃO FACE-A-FACE INTERMEDIADA POR
COMPUTADOR: UM ESTUDO DAS INTERAÇÕES
SOCIAIS ATRAVÉS DA REDE SOCIAL COUCHSURFING
Aracaju 2012
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ANA CAROLINA VIEIRA OLIVEIRA
COMUNICAÇÃO FACE-A-FACE INTERMEDIADA POR
COMPUTADOR: UM ESTUDO DAS INTERAÇÕES
SOCIAIS ATRAVÉS DA REDE SOCIAL COUCHSURFING
Pré-projeto de Pesquisa apresentado ao
Professor Esp. Arthur Leonardo Roeder Neto
para a disciplina Projetos Experimentais em
Publicidade e Propaganda.
Aracaju
2012
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................03
2 OBJETIVOS..........................................................................................08
3 JUSTIFICATIVA..................................................................................09
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS........................................11
REFERÊNCIAS........................................................................................12
71
1. INTRODUÇÃO
A sociedade contemporânea não é estática, passa por constantes transformações nos
diversos campos do conhecimento humano. Neste processo de transformação, a tecnologia
tem papel fundamental como força motriz destas mudanças. A participação de TVs, celulares
e internet no cotidiano da população provocam mudanças em seus hábitos sociais, culturais e
econômicos.
Para Castells:
A revolução tecnológica deu origem ao informacionalismo, tornando-se assim a base material desta nova sociedade, em que os valores da liberdade individual e da comunicação aberta tornaram-se supremos. Segundo o autor, no informacionalismo, as tecnologias assumem um papel de destaque em todos os segmentos sociais, permitindo o entendimento da nova estrutura social – sociedade em rede – e consequentemente, de uma nova economia,
na qual a tecnologia da informação é considerada uma ferramenta indispensável na manipulação da informação e construção do conhecimento pelos indivíduos, pois “a geração, processamento e transmissão de informação torna-se a principal fonte de produtividade e poder” (Castells, 1999, p. 21)
Desta maneira revela-se que o avanço da tecnologia e desenvolvimento de novas
ferramentas possibilitaram uma reflexão do contexto social e suas limitações. Dentro deste
contexto, o conhecimento individual e centralizado já não é suficiente e se caracteriza como
defasado.
Assim sendo, é possível observar o quanto o compartilhamento do conhecimento
desterritorializa a sociedade por meio dos aparatos tecnológicos que transpõem as barreiras
geográficas e temporais. Ou seja, não é mais preciso estar presente fisicamente para construir
um diálogo, participar de um evento ou debate e assistir a um seminário. Uma vez que nesta
Sociedade de compartilhamento da Informação, os métodos e espaços anteriormente
72
destinados ao aprendizado, como escolas e instituições, são redefinidos deixando de ser os
únicos espaços de formação intelectual dos cidadãos.
A finalidade dos sistemas educacionais em pleno século XXI, será pois tentar garantir a primazia da construção do conhecimento, numa sociedade
onde o fluxo de informação é vasto e abundante, e em que o papel do professor não deve ser mais o de um mero transmissor de conhecimento, mas o de um mediador da aprendizagem. Uma aprendizagem que não acontece necessariamente nas instituições escolares, mas, pelo contrário, ultrapassa os muros da escola, podendo efectuar-se nos mais diversos contextos informais por meio de conexões na rede global. Não queremos apregoar a extinção da escola, pois ela será sempre uma instituição de ponta na produção e
institucionalização do conhecimento, mas, alertar para que precisa estar aberta por forma a entender os novos contextos em que pode ser estimulada a construção colaborativa do saber (Siemens, 2003; Illich, 1985) (Coutinho e Lisbôa, 2011, p.6).
Dessa forma, o aprendizado ganha um caráter horizontal, criativo, que não obedece a
um prazo estipulado e que segue constante por toda a vida. Segundo Crawford (1983, apud
COUTINHO, LISBÔA, 2011, p.6) , um dos primeiros autores a referir o conceito de
Sociedade da Informação (SI) foi o economista Fritz Machlup, na obra publicada em 1962 ,
The Production and Distribution of Knowledge in the United States23. No entanto, o
desenvolvimento do conceito deve-se a Peter Drucker que, em 1966, no bestseller The Age of
Discontinuity24, fala pela primeira vez numa sociedade pós-industrial em que o poder da
economia – que, segundo o autor, teria evoluído da agricultura para a indústria e desta para os
serviços - estava agora assente num novo bem precioso: a informação.
A Sociedade de Informação se caracteriza pelo uso da tecnologia como fator que
impulsiona o compartilhamento da informação e assegura a comunicação entre indivíduos.
Neste contexto, os meios de comunicação eletrônicos como televisão, rádio, telefone,
computador e internet são instrumentos utilizados para acelerar e difundir o conteúdo. A
23 ‘A produção e distribuição do conhecimento nos Estados Unidos’
24 ‘Uma Era de Descontinuidade’
73
intenção é a de que um grande número de pessoas seja alcançado e, uma vez recebida a
informação, que ela tenha o poder de capacitar a população a construir uma opinião crítica
acerca dos temas sugeridos e possa, a partir daí, transformar a sociedade em que vive.
A democratização da informação na sociedade contemporânea foi sensivelmente
percebida com a acessibilidade da Web 2.0. A difusão do conteúdo se deu através de grupos
hospedados em Redes Sociais e comunidades digitais, oferendo uma segunda opinião, uma
alternativa à versão das Mídias de Massa como rádio, jornais e TV.
Segundo Primo (2007, p.1), a Web 2.0 é a segunda geração de serviços online e
caracteriza-se por potencializar as formas de publicação, compartilhamento e organização de
informações, além de ampliar os espaços para a interação entre os participantes do processo.
É neste cenário favorável ao questionamento e a formação da opinião crítica, que as
Redes Sociais se tornaram canais de debate e planejamento de verdadeiros levantes políticos
contemporâneos, mobilizados por grupos da sociedade civil e organizados a partir de
ferramentas hospedadas na internet. A exemplo destes movimentos, estão a Primavera Árabe
iniciada na Tunísia, Occupy Wall Street nos Estados Unidos, Indignados na Espanha.
Manifestações de insatisfação social que marcaram o ano de 2011 como
Occupy Wall Street, nos Estados Unidos, Indignados, na Espanha, os
protestos de estudantes no Chile, o motim de jovens na Inglaterra e o
Movimento 15 de Outubro – organizado pelas redes sociais e que suscitou
mobilizações em mais de mil cidades de 85 países na referida data –
apresentam características típicas dos movimentos sociais contemporâneos.
A utilização de redes de diálogos e troca de informações contínuas cria
sinergia para que essas manifestações não sejam atos isolados, mas trabalhos
conjuntos que encontram apoio mútuo pela utilização da Internet. (Di
Fátima, 2012, p.1).
Assim como os movimentos citados anteriormente, o objeto de estudo deste projeto
também se insere no contexto de agrupamentos de pessoas dispostas a propor uma quebra dos
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padrões sociais, culturais e econômicos impostos. Este trabalho pretende fazer uma análise de
como a rede social Couchsurfing, apesar de estar hospedada no ambiente digital, propõe um
resgate da comunicação face-a-face. Segundo Thompson, acerca da comunicação face-a-face.
Durante a maior parte da história humana, a grande maioria das interações sociais foram face-a-face. Os indivíduos se relacionavam entre si principalmente na aproximação e no intercâmbio de formas simbólicas, ou se ocupavam de outros tipos de ação dentro de um ambiente físico
compartilhado. As tradições orais dependiam para sobreviver de um contínuo processo de renovação, através de histórias contadas e atividades relatadas, em contextos de interação face-a-face. (Thompson, 2011, p.119).
Já no universo digital, ou seja, mediado por computador, há a quebra de barreiras
geográficas e temporais, porém, esta sofre rupturas por questões próprias do ambiente digital.
Como dispersão provocada pelo bombardeio de informações e referências, limitação da
comunicação, por só poder contar com a escrita e ausência das demais possibilidades de
linguagens, como gestual e sonora.
Interações mediadas também implicam um certo estreitamento na possibilidade de
deixas simbólicas disponíveis aos participantes. A comunicação por meio de carta,
por exemplo, priva os participantes de deixas associadas à presença física (gestos,
expressões faciais, entonação, etc.), enquanto outras dicas simbólicas (associadas à
escrita) são acentuadas. (...) Ao estreitar o leque de deixas simbólicas, as interações
mediadas fornecem aos participantes poucos dispositivos simbólicos para a redução
da ambiguidade na comunicação. Por isso as interações mediadas têm um caráter
mais aberto do que as interações face a face. Estreitando as possibilidades de deixas
simbólicas, os indivíduos têm que se valer de seus próprios recursos para interpretar
as mensagens transmitidas. (THOMPSON, 2011, p. 121)
O Couchsurfing, foco de estudo deste projeto, é uma rede social digital, que por sua
vez, tem o intermédio do computador. Está organização sem fins lucrativos se propõe a
conectar viajantes de todo o mundo a moradores locais e à cultura que visitam. O processo de
ser acolhido por um anfitrião local de forma gratuita qualifica uma experiência cuja moeda de
75
troca é o intercâmbio cultural, o compartilhamento de vivências e o aprendizado de algo novo.
No estado de Sergipe, o grupo mais expressivo, e objeto deste estudo, é o Aracaju-SE. Criado
em 2008, possui atualmente 685 membros e 7.856 posts até o presente momento
(14/10/2012).
O site do CS (Couchsurfing), que possui características de usabilidade semelhantes às
demais redes populares como Orkut e Facebook, desenvolveu, no entanto, seus próprios
mecanismos de validação. Recomendações, avaliações positivas, negativas e neutras, e um
sistema de verificação que confirma identidade e endereço do usuário são medidas de
segurança que colaboram na escolha do hóspede/anfitrião e reforçam o capital social dos
participantes. Segundo Putnam (2000, p.19, apud Recuero, 2009, p.45), o conceito de capital
social “refere-se à conexão entre indivíduos – redes sociais e normas de reciprocidade e
confiança que emergem dela” e está intimamente ligado à ideia de virtude cívica, de
moralidade e de seu fortalecimento através de relações recíprocas.
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2- OBJETIVOS
Geral:
- Analisar a influência do Couchsurfing, como ferramenta digital, no resgate de
antigos padrões de interação social como a confiança em desconhecidos e o contato
face-a-face, a partir da interação de usuários do grupo Aracaju.
Específicos:
a) Caracterizar o cenário do Couchsurfing, especificando exemplos reais vividos por
usuários de Aracaju (que estão inseridos na comunidade de Couchsurfers de Aracaju).
b) Entender os motivos que levam os usuários a aderir o Couchsurfing e receber
desconhecidos em suas residências/hospedar-se na casa de desconhecidos.
c) Entender que novos padrões de interação são construídos a partir do uso da
ferramenta Couchsurfing.
d) Avaliar a eficiência dos mecanismos de interação oferecidos na interface do
Couchsurfing, e perceber se cumprem seu papel.
e) Identificar casos reais de utilização do Couchsurfing, a caráter de exemplo.
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3- JUSTIFICATIVA
Com o aumento do potencial de consumo das classes C e D nos últimos anos, o
brasileiro não tardou em aderir às novidades tecnológicas. Dispositivos portáteis e
computadores pessoais que, com o aumento do investimento em pesquisa, design e materiais
tiveram o seu custo acessível, hoje participam de forma massiva do cotidiano de diversos
brasileiros e nordestinos que, segundo dados da Anatel (Agência Nacional de
Telecomunicações) de Julho de 2012, já são cerca de 256,41 milhões de linhas telefônicas no
Brasil, aquecendo o mercado de internet móvel.
Este aparato tecnológico conduz a forma com que as relações são construídas,
intermediadas. Sobretudo para as gerações Y e Z, em que os símbolos e encurtamento das
palavras substituíram as construções dos diálogos, a tecnologia conduz a maneira com que se
relacionam, se expressam.
A cibercultura possibilitou a construção de uma sociedade sempre telepresente, que
independe da proximidade geográfica e que insere a todos em um mesmo contexto, agrupados
por interesse, similaridades, convergência de ideias. E dentro deste cenário, a comunicação
mediada por computador passa a ter seus próprios códigos, seus padrões. O contato, que antes
dependia da presença para que se estabelecesse o primeiro diálogo, hoje pode ser guiado por
opiniões emitidas por nicknames e avatars25
dentro de um grupo virtual, lista de discussão ou
rede social, que apesar de motivados por um desejo de comunicação recíproco e de
inteligência coletiva, acontecem de forma individual.
25
Nickname: Apelido. Nome escolhido para identificar um usuário na internet. Avatar: Representação pictórica
usada para representar o usuário em ambientes virtuais.
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Este estudo traz como objeto de pesquisa a ferramenta Couchsurfing, que, apesar de
ser uma rede social digital, tem como pré-requisito para seu funcionamento o resgate de
padrões de comunicação e interação primários como o contato face-a-face e o estudo de novos
padrões de comunicação criados a partir desta rede social. O seu intuito deste é de incentivar
no mercado acadêmico sergipano a discussão sobre as possibilidades de interação das
ferramentas de comunicação digital e avaliar de que maneira respondem os usuários no
ciberespaço. Além de apresentar um estudo na área de comunicação social, esta pesquisa
também dialoga com os campos sociológicos, econômicos, psicológicos e antropológicos.
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4- PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
- Pesquisa explanatória, realizada por meio de levantamento e análise de dados
bibliográficos (livros, revistas, e-books, sites, monografias, etc.) e informações
provenientes do ambiente digital, como publicações, vídeos, documentários e
seminários.
- Para avaliar como se dá a construção das relações a partir deste ambiente digital,
adota-se a pesquisa qualitativa, aplicada através de um questionário que permitirá,
através da coleta de seus dados, uma compreensão maior sobre como se dá o processo
de interação nesta rede social. Como objeto desta pesquisa, foi selecionado o grupo do
Couchsurfing Aracaju, criado em Agosto de 2008 e que possui 645 integrantes.
- Também serão feitos grupos focais e estudos de caso com usuários participantes
deste Grupo. Estudos estes que, de acordo com Duarte (2005, p. 234) contribuem para
o entendimento dos fenômenos sociais complexos, sejam individuais, organizacionais,
sociais, ou políticos. A partir do estudo de caso é possível identificar as
peculiaridades, as diferenças, aquilo que o torna único e que por isso o distingue e o
aproxima dos demais fenômenos.
80
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