O REALISMO MACHADIANO - policiamilitar.mg.gov.br · A produção romanesca de Machado de Assis, de...

50

Transcript of O REALISMO MACHADIANO - policiamilitar.mg.gov.br · A produção romanesca de Machado de Assis, de...

O REALISMO MACHADIANO Embora seja realista, Machado extrapolou os

pressupostos mais caros à estética.

Seu realismo se configura na abordagem de situações que guardam estreita relação com a realidade.

A maneira, entretanto, como aborda aponta para uma estrutura que foge às características realistas-naturalistas.

Machado enceta várias inovações estruturais que, em alguns casos, chegam antecipar características modernistas.

Em Memórias póstumas de Brás Cubas, o narrador é um defunto-autor, o que quebra a verossimilhança.

Em Dom Casmurro, o narrador quer provar a culpabilidade da esposa, através de argumentos de natureza subjetiva.

Em contos, como Uns braços e Missa do galo, a temática é intensamente psicológica, porque toda a trama está centrada nas sensações interiores das personagens.

Os pressupostos cientificistas, tão em moda na época, são ironizados em várias de suas narrativas, mas aparecem com mais contundência em O Alienista.

AS DUAS FASES MACHADIANAS A produção romanesca de Machado de Assis, de acordo

com a crítica, é dividida em duas fases: uma romântica e outra realista.

NA FASE ROMÂNTICA, destacam-se romances como A Mão e a Luva, Helena, Ressurreição, e Iaiá Garcia, e alguns contos, como Miss Dólar.

A CHAMADA FASE REALISTA, a mais substancial de sua produção, engloba romances e contos, em que se destacam:

Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e Jacó e Memorial de Aires, romances, e os contos O Alienista, A Cartomante, Uns braços, O Enfermeiro e Missa do galo.

A FASE ROMÂNTICA Os romances da fase romântica apresentam ainda um enredo

com estrutura de folhetim, em que a trama parece ser o elemento fundamental, a exemplo do que acontecia com o romance romântico.

Entretanto, já é possível perceber a propensão machadiana para esboçar o caráter das personagens, através de um enredo em que se evidencia ações embasadas no interesse e em conflitos psicológicos.

A temática do amor platônico, calcada em torno de dois personagens, desaparece nos romances da primeira fase de Machado, ocorrendo um insinuado triângulo amoroso, que será elemento fundamental na fase realista do autor.

Também o chamado final feliz, tão caro aos românticos, em suas obras desaparece, dando lugar a um desfecho em que as personagens não conseguem resolver satisfatoriamente os seus conflitos de ordem sentimental.

Os romances dessa fase ainda não possuem densidade psicológica.

Os personagens ainda não são complexos, apresentando-se lineares.

Os enredos ainda são eivados de peripécias, constituindo-se em romances de ação.

Os romances ainda possuem estrutura de folhetim. O enredo é estruturado em torno de uma história

de amor, se bem que não seja platônico.

SINTETIZANDO AS CARACTERÍSTICAS DA

PRIMEIRA FASE

Percebe-se já a tendência do narrador aos comentários, às digressões de ordem psicológica.

Os personagens já agem por interesse amoroso, inclusive o amor já é materialista.

Nos desfechos das narrativas, observa-se já uma ponta de pessimismo.

ROMANCES DA PRIMEIRA FASE

EM RESSURREIÇÃO, Machado já adverte: Não quis fazer romance de costumes; tentei o esboço de uma situação e o contraste de dois caracteres; com esses simples elementos busquei o interesse do livro.

A trama é centrada em torno do Dr. Félix, que, apesar de não acreditar no amor, se apaixona por uma viúva, a bela Lívia, sendo emocionalmente instável e sacudido a todo momento por impulsões devido ao temperamento desconfiado e inseguro, o que leva Lívia a romper com a situação.

Em a Mão e a luva, narra-se a história de Guiomar, moça altiva e segura de si, que procura, com frieza e cálculo, realizar o ambicioso plano de ascender socialmente, compensando a sua modesta origem. A obra relata com ironia o casamento, visto como troca de favores e movido pelo dinheiro e pela ambição.

Neste romance, já aparecem personagens com um certo grau de complexidade psicológica, como Guiomar, a heroína, que tem a sua volta três pretendentes: Estevão, sentimental; Jorge, calculista; Luís Alves, ambicioso. A estes três junta-se a baronesa, sob cuja proteção encontra-se a órfã Guiomar e a inglesa Mrs. Oswald, dama de companhia.

Em Helena, observa-se a temática da ambição social como elemento condutor da narrativa, mas a trama ainda guarda resquícios da estrutura folhetinesca do Romantismo.

A história gira em torno do Conselheiro Vale, um homem importante e rico, que mantém caso amoroso com uma mulher que tinha separado do marido devido a dificuldades financeiras. A mulher já possuía uma filha, que, mais tarde, foi perfilhada pelo amante rico.

Helena sabe que não é filha do Conselheiro, mas aceita a situação por interesse na herança, porém acaba se apaixonando por Estácio que, por sua vez, está comprometido com Eugênia, cuja família está interessada na riqueza do rapaz.

No desfecho, Helena adoece e morre, antes revelando que amava Estácio e que, na verdade, não era irmão dela, mas a felicidade da possível união amorosa não se concretiza.

Em Iaiá Garcia, o enredo se constitui de uma série de incidentes que giram sempre em torno do mesmo ponto, a realização ou a não-realização de um casamento. Todos os atos das personagens são conduzidos, de modo direto ou indireto, para a consecução ou para o impedimento desse objetivo.

O romance trata do conflito social entre as classes, aproveitando como eixo o romance entre Jorge, um cavalheiro de alta sociedade e Estela, uma jovem pobre. A adolescente Iaiá funciona como observadora dos fatos que se desenrolam à sua frente.

A mãe de Jorge, Valéria Gomes, viúva rica, não quer para seu filho uma esposa pobre e sem lustro social, a moça era filha de Luís Garcia, um ex-empregado de seu falecido pai.

Com o retorno de Jorge da guerra do Paraguai, sua mãe já morta, encontros e desencontros, risos e lágrimas, Jorge por fim acaba por se casar com Iaiá.

A LINGUAGEM MACHADIANA E A ESTRUTURA DOS ROMANCES

REALISTAS.

AS OBRAS DA SEGUNDA FASE MACHADIANA

Memórias Póstumas de Brás Cubas

Quincas Borba

Dom Casmurro

Esaú e Jacó

Memorial de Aires

A Maioria dos Contos

Nestas obras, Machado inova na linguagem e na estrutura, tornando-se, desta maneira, um precursor do Modernismo.

DIÁLOGO COM O LEITOR/ O LEITOR INCLUSO

Machado insere o leitor na narrativa com o objetivo de torná-lo cúmplice e ao mesmo tempo ironizá-lo.

No diálogo com o leitor o narrador metalinguisticamente estabelece uma teoria da narrativa, constituindo-se, pois, numa inovação para a época.

“Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse: eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns magros capítulos para esse mundo sempre é tarefa que distrai um pouco da eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica: vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direita e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem...”

O NARRADOR INTRUSO, AMBIGUIDADE DO

FOCO NARRATIVO E A POLIFONIA O narrador onisciente do romance

realista com Machado penetra na narrativa, dando opiniões, comentando e participando dos fatos narrados.

Essa atitude provoca ambiguidade, com o narrador oscilando entre primeira e terceira pessoa.

Embora suas narrativas possuam um narrador, percebe-se a presença de várias vozes narrativas, o que provoca uma polifonia.

“Este Quincas Borba, se acaso me fizeste o favor de ler as Memórias póstumas de Brás Cubas, é aquele mesmo náufrago da existência, que ali aparece, mendigo, herdeiro inopinado, e inventor de uma filosofia. Aqui o tens agora em Barbacena.”

( ... )

“Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.”

INTERTEXTUALIDADE/CITAÇÕES BIBLÍCAS,

FILOSÓFICAS, CLÁSSICAS, PROVÉRBIOS POPULARES E PARÓDIAS.

Constantemente Machado usa do recurso da intertextualidade para explicar, justificar, ironizar, satirizar e parodiar. As ideias originais citadas são desmistificadas.

“Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a Segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo, Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no introito, mas no cabo.”

DIGRESSÕES/ COMENTÁRIOS/EXPLICAÇÕES

As narrativas machadianas são por natureza digressivas, ou seja, comentadas e explicadas, recurso que favorece ao seu realismo atípico, bastante preocupado com o entendimento dos comportamentos.

“Essa ideia era nada menos que a invenção de um medicamento sublime, um emplasto anti-hipocondríaco, destinado a aliviar a nossa melancólica humanidade. Na petição de privilégio que então redigi, chamei a atenção do governo para esse resultado, verdadeiramente cristão. Todavia, não neguei aos amigos as vantagens pecuniárias que deviam resultar da distribuição de um produto de tamanhos e tão profundos efeitos. Agora, porém, que sou cá do outro lado da vida, posso confessar tudo: o que me influiu principalmente foi o gosto de ver impressas nos jornais, mostradores, folhetos, esquinas e enfim nas caixinhas do remédio, estas três palavras: Emplasto Brás Cubas.”

INTROSPECÇÃO/ O PSICOLOGISMO/ ANÁLISE PSICOLÓGICA E PSICANALÍTICA DAS PERSONAGENS

A Machado interessa muito mais sondar a alma humana, entender seus comportamentos interiores do que suas ações. São as chamadas narrativas interiorizadas, introspectivas. Esse recurso machadiano antecipa as narrativas psicanalíticas do século XX. LINGUAGEM LACUNAR/ LINGUAGEM ELÍPTICA/ O NÃO

DITO Considerado um recurso inovador, Machado contraria o conceito de racionalismo dos realistas ao criar um discurso ambíguo e cheio de não ditos. Abre, portanto, para inexatidão dos fatos, deixando o leitor em dúvida no desfecho das narrativas.

LINGUAGEM CORROSIVA – IRONIA FINA, HUMOR SUTIL E PERMANENTE, SÁTIRA E PARÓDIA.

Machado antecipa a linguagem corrosiva dos modernistas ao criar um discurso que desconstrói as ideologias vigentes, através de um senso de humor sem precedentes. Assim Machado cria uma caricatura da sociedade que retrata, parodiando os costumes e as ideias.

METALINGUAGEM

O narrador machadiano sente uma necessidade de explicar o narrado, principalmente suas inovações estruturais. Os recursos intertextuais servem à metalinguagem.

QUEBRA DA ESTRUTURA LINEAR/ ENREDO

NÃO LINEAR/ FLASH-BACK O flashback por si só não provoca quebra, mas Machado abusa desse recurso, narrando não só no recuo, mas também em ziguezague. Por isso quebra constantemente a sequência lógica e temporal. CAPÍTULOS CURTOS/ MICROCAPÍTULOS

DIGRESSIVOS Os capítulos curtos, por um lado, são em decorrência da intenção de Machado em não querer enfadar o leitor com longos comentários, mas, por outro, é um recurso que favorece aos comentários.

QUEBRA DA VEROSSIMILHANÇA Contrariando as regras do Realismo, Machado

quebra a verossimilhança na criação de elementos irreais, sem lógica, como acontece com Brás Cubas que é um defunto autor.

A FUSÃO OBJETIVIDADE/SUBJETIVIDADE As narrativas machadianas contrariam o Realismo

de escola ao fundir objetividade e subjetividade. Em outras palavras, os fatos são objetivos, mas a interpretação dada pelo narrador ou personagens é subjetiva.

O ADULTÉRIO A temática da infidelidade amorosa, em Machado, ocorre com os seguintes objetivos: Desmistificar o chamado amor romântico. Satirizar as relações sociais burguesas. Desnudar as aparências sociais da sociedade

burguesa. Satirizar as relações sociais e culturais da

sociedade burguesa.

A AMBIGUIDADE FEMININA A exemplo de Alencar, Machado cria os chamados perfis de

mulheres. São mulheres dissimuladas, ambíguas, interesseiras e ardilosas.

Capitu – Dom Casmurro. Vigília, Marcela, Dona Plácida – Memórias Póstumas de Brás

Cubas. Sofia – Quincas Borba. Conceição – Missa do Galo. Dona Severina – Uns braços. Rita – A cartomante. Ao contrário do que se pensa Machado não dá a essas

mulheres um conceito negativo, mas principalmente, uma

atitude de defesa diante de uma sociedade machista e patriarcal.

A FALTA DE GRANDEZA NO HOMEM: HIPOCRISIA, PERFIDIA, DISSIMULAÇÃO, INTERESSE.

Machado possui uma visão radicalmente pessimista do ser humano. O homem é por natureza mau caráter. A DUALIDADE DO SER HUMANO / A CONTRADIÇÃO/ SER E

PARECER A visão machadiana sobre o homem é desidealizada. Segundo ele, o homem já traz em seu interior um comportamento contraditório. Por isso, suas atitudes são de aparência, escondendo evidentemente a sua essência. Para Machado, o homem tem inclinação a ser mau-caráter. A DÚVIDA, O TALVEZ Machado é cético em relação à previsibilidade dos comportamentos humanos e das relações sociais. Ao contrariar o que preceituava a ciência da época, Machado abre espaço para a dúvida quando aos valores humanos e sociais autênticos.

VISÃO METAFÍSICA RELATIVISTA DE TODOS OS VALORES HUMANOS. A dúvida em relação aos comportamentos humanos e sociais proporciona a Machado a relativizar as atitudes do homem e aos valores sociais. A autenticidade é uma questão de conveniência. O PESSIMISMO/ A VISÃO NIILISTA Decorre de sua visão cética do homem e da sociedade. Para Machado, o homem e a sociedade burguesa não abrem possibilidade de melhorar. CONFUSÃO ENTRE RAZÃO E LOUCURA Machado ironiza os conceitos de loucura do século XIX com duas narrativas impecáveis: Quincas Borba e o Alienista. Em ambas percebe-se a inversão dos conceitos de loucura. Os que pensam são loucos, e os que são loucos raciocinam.

SÁTIRA AOS CONCEITOS CIENTÍFICOS E FILOSÓFICOS Machado relativiza os conceitos das ciências e das filosofias do século XIX, principalmente, no tocante à pretensão de verdade absoluta. Cético quanto a esta questão, Machado ironiza os conceitos criando personagens e situações pelo avesso. TEORIAS FREUDIANAS: PROIBIDO X PERMITIDO/ EXPLÍCITO X IMPLÍCITO/ DESEJOS REPRIMIDOS Machado antecipa a psicanálise de Freud do século XX ao trabalhar com temas desconhecidos e pouco esclarecidos em sua época. O desejo reprimido é o tema mais explorado em seus romances.

O romance é narrado em primeira pessoa, narrador personagem Brás Cubas, portanto, um defunto autor.

Brás Cubas é uma espécie de anti herói, que narra sarcástica e ironicamente sua trajetória existencial desde sua sepultura.

A narração de Brás Cubas é eivada de ironia, mas uma ironia fina em que se percebe a intenção de desnudar a aparência da sociedade em que viveu.

Brás Cubas faz um inventário das relações sociais, afetivas e políticas da sociedade burguesa da segunda metade do século XIX.

A filosofia de Quincas Borba, Humanitas, cujo desenvolvimento vai acontecer no romance Quincas Borba, é baseada no aforismo: “Ao vencedor as batatas”.

Ganham destaque, por conseguinte, as relações com a família, principalmente, com o pai que queria vê-lo casado e a brilhar como deputado ou ministro.

As relações afetivas também são destacadas, principalmente, com Virgília, Marcela, Eugênia e Eulália; com as quais Brás Cubas namorou.

Durante toda a sua trajetória existencial, Brás Cubas perseguiu a fama, o reconhecimento e a celebridade, fracassando em todas as suas tentativas.

No desfecho tenta comercializar sua descoberta; o emplasto

Brás Cubas, mas contrai uma pneumonia e morre.

Mesmo diante do fracasso social e existencial, Brás Cubas se considera um vencedor: “Não teve filhos, portanto não transmitiu a nenhuma criatura o legado de nossa miséria” e também” não precisou do suor do rosto para ter o pão de cada dia”.

No final de sua vida, Brás Cubas conhece Quincas Borba,

mendigo inicialmente, e depois, rico e filósofo. Tenta fazer Brás Cubas entender sua filosofia, que, ironicamente, explica o fracasso do protagonista.

Espécie de antimodelo, anti-herói, personagem símbolo da ironia machadiana quanto ao ideal burguês de "vencer na vida".

A figura de Brás Cubas constitui uma inversão da

travessia dos heróis burgueses, tematizados pela literatura racionalista.

Brás Cubas em toda a sua trajetória fracassa em sua

tentativa de glória e de riqueza.

O romance é narrado em terceira pessoa, narrador onisciente, mas com passagens em que ele se torna intruso. O romance acompanha a trajetória do

modesto professor Rubião, que de pobre se torna rico e depois volta a ser pobre. Rubião mora em Barbacena, Minas

Gerais, e além de professor cuida como enfermeiro de Quincas Borba, um filósofo semilouco que já apareceu no romance Memórias Póstumas de Brás Cubas.

Ao morrer, na casa de seu amigo Brás Cubas, no Rio de Janeiro, Quincas deixa toda a sua herança para Rubião que decide também morar no Rio de Janeiro.

Para ter toda a herança. Rubião terá também de tomar conta do cachorro Quincas Borba, condição para manter sua riqueza em mãos.

Durante sua doença, o velho filósofo tenta ensinar a Rubião uma filosofia, chamada de Humanitas que é uma sátira aos conceitos científicos do Positivismo e do Darwinismo.

Humanitas conceitua o homem como sendo “o lobo do próprio homem” e tem como máxima a frase “ao vencedor as batatas”.

Rubião, muito ingênuo, não compreende a essência da filosofia, o que só vai ser possível mais tarde quando fica louco.

De posse da riqueza, Rubião vai morar no Rio de Janeiro, onde é explorado por um casal: Cristiano Palha e Sofia.

Enquanto Sofia engana Rubião fingindo namorá-lo, Palha subtrai todo o dinheiro do ex-professor que fica totalmente pobre.

Sem Sofia, que prefere trair o marido com Carlos Maria, Rubião enlouquece paulatinamente, e volta para Barbacena.

Já em Minas, Rubião contrai uma pneumonia, e morre em companhia do cachorro Quincas Borba a quem abandonou quando estava no Rio de Janeiro.

Neste romance, Machado de Assis ironicamente critica o cientificismo darwiniano e o positivismo de Augusto Conte, através da pseudofilosofia, Humanitas.

Romance narrado em primeira pessoa, narrador personagem Dom Casmurro.

Dom Casmurro é advogado sexagenário que leva uma vida solitária, no Rio de Janeiro, e com uma intensa crise existencial.

Na tentativa de fugir ao tédio resolve escrever um livro, História dos subúrbios, mas desiste, escrevendo a sua própria história.

Para escrever sua autobiografia, o velho escritor toma todas as providências, inclusive fazendo uma casa igual a que morava na Rua Matacavalos, na infância.

Seu grande objetivo é “restaurar na velhice a adolescência”.

Mas Dom Casmurro acaba se concentrando mesmo na história dele com Capitu, com quem namorou e depois casou.

O leitor percebe que a intenção do narrador é alinhavar provas contra sua ex-esposa, que segundo ele o traiu com seu melhor amigo: Escobar.

Assim é que Dom Casmurro vai levantando algumas provas, num tom irônico e satírico, da época em que se chamava Bentinho, desde seu tempo de menino, de seminarista, de casado, até a separação.

As provas, segundo Dom Casmurro, são as semelhanças de seu único filho Ezequiel com Escobar, provável amante de sua mulher, Capitu.

Na narrativa, Capitu aparece ao leitor pela visão de Bentinho, cujo melhor retrato é dado pelo agregado José Dias: “Olhos de cigana, oblíqua e dissimulada.”

É também de José Dias outra frase insinuadora: “O filho do homem”, para se referir a Ezequiel.

A personalidade de Bentinho se revela em suas confissões como sendo de um homem ciumento e extremamente subjetivo o que lhe confere um status de “não confiável”.

No desfecho do romance, conclui suas confissões certo de que foi traído pela esposa a quem abandona, inclusive ao filho que morre em Jerusalém.

Para o leitor, entretanto, as provas de Bentinho sobre o suposto adultério de Capitu são, no mínimo, duvidosas e ambíguas.

Obra em que o leitor tenta desvendar o verdadeiro caráter do narrador de primeira pessoa, Bentinho, que se revela não confiável, pois umbilicalmente está envolvido com o que conta por sua personalidade ciumenta, invejosa, cruel e perversa.

Bentinho destrói todos ao seu redor, inclusive, as pessoas que o amam, por suspeitas que o leitor atento perceber serem no mínimo discutíveis.

A grande razão do romance é a sua construção formal ambígua, não dando margem ao leitor fazer conclusões exatas sobre o acontecido.

O grande destaque desse romance é a personagem Capitu, com seus olhos de cigana, oblíqua e dissimulada, e o próprio narrador que se revela ambíguo e construtor de um ponto de vista unilateral.

CONTOS, TEATRO, POESIA, CRÔNICA E CRÍTICA Os contos de Machado de Assis, em sua maioria, possui as

características e temáticas mais inovadoras do autor.

Cada conto é uma espécie de reafirmação da abordagem psicológica e das inovações de linguagem e de estrutura que procede em sua obra.

Destacam-se O Alienista pela ironia ao Positivismo e ao Darwinismo, através da história de Simão Bacamarte, um cientista que trata da loucura de seus pacientes.

Em O Enfermeiro, a questão da consciência humana volúvel e do remorso é colocado à prova, através do enfermeiro Procópio depois do crime que cometeu.

Em Missa do galo, ganha relevo a questão do não dito, ou seja, a insinuação de um possível adultério da personagem Rita com um rapaz que morava em sua casa.

A mesma temática reaparece no conto Uns braços, em que Dona Severina vê-se tentada por um rapaz que é obcecado pelos braços da senhora.

A poesia machadiana, por sua vez, apresenta estrutura formal impecável, o que revela fortes influências parnasianas, mas os temas abordados giram em torno da melancolia e tristeza romântica ou o seu conhecido pessimismo, através de um tom filosófico.

Em suas peças teatrais, como O caminho da porta, O protocolo e Lição de botânica revelam um Machado de Assis observador das relações sociais e culturais do contexto em que viveu.

As crônicas de Machado são verdadeiros exercícios crítico do cotidiano do Rio de Janeiro da segunda metade do século XIX, e, em alguns casos, se aproximam do mesmo nível dos contos.

Seus textos críticos são de uma importância extraordinária para o conhecimento de sua concepção de literatura brasileira, constituindo-se, “Instinto de nacionalidade” seu texto principal, principalmente, porque aponta como se construir uma literatura verdadeira nacionalista.

A CAROLINA Querida, ao pé do leito derradeiro Em que descansas dessa longa vida, Aqui venho e virei, pobre querida, Trazer-te o coração do companheiro. Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro Que, a despeito de toda a humana lida, Fez a nossa existência apetecida E num recanto pôs um mundo inteiro. Trago-te flores, - restos arrancados Da terra que nos viu passar unidos E ora mortos nos deixa e separados. Que eu, se tenho nos olhos malferidos Pensamentos de vida formulados, São pensamentos idos e vividos.