O Que é Um Conto Ou Um Bom Texto_ _ Jornal Rascunho

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29/11/2014 O que é um conto ou um bom texto? | Jornal Rascunho http://rascunho.gazetadopovo.com.br/oqueeumcontoouumbomtexto/ 3/4 2. Revistas literárias da década de 1970 (8) 3. Poemas inéditos de Frank O’Hara 4. A festa do intelecto 5. Um erro emocional RAIMUNDO CARRERO O QUE É UM CONTO OU UM BOM TEXTO? Tamanho da fonte Imprimir Enviar por email Recomendar Twittar A ideia é possibilitar maior intercâmbio literário entre Brasil e Argentina, reunindo um conjunto de autores que abarca diferentes gerações, que resulta num livro nem sempre homogêneo, é claro, ainda que forte e belo. Um liv ro de contos, mesmo de um único autor, é quase sempre heterogêneo e irregular porque os textos se diferenciam entre si pela tensão, pela intuição, pela técnica e, não raro, pela temática, embora o tema não seja, a rigor, um problema do ficcionista, mesmo quando serv e de apoio e, como se diz por aí, de inspiração. Ocorre que, querendo ou não, um autor se identifica melhor com um tema do que com outro. E daí pode surgir uma melhor — ou não — realização. O que sempre importa numa obra de ficção é a forma. O que nem sempre significa frases bemfeitas, objetiv as, belas. É muito mais, muito mais mesmo. Uma boa obra de ficção exige não só as frases, mas, acima de tudo, a perfeita construção do personagem, a rigorosa seleção de cenas e a forma como estas cenas são distribuídas num texto. Não basta apenas um bom texto, um bom texto qualquer um pode fazer. Mas a isto dev e estar aliada digamos a distribuição das cenas, de forma que o abismo de um instante possa revelar a tragédia de um personagem para, em seguida, possibilitar a sua redenção, até mesmo numa metáfora, num corte, num diálogo, numa frase. Talvez teatrólogos, dramaturgos, diretores, atores e atrizes possam entender melhor isso. Talv ez. O profundo conhecimento do teatro de Machado de Assis deu a ele as condições para se transformar no grande romancista que ele é e continuará sendo para sempre. Vejam o exemplo de Dom Casmurro. Começa com uma cena de ironia quando o personagem conhece o poeta do trem e faz o leitor acreditar em algo suave, numa narrativa quieta e, quem sabe, inconsequente. Talvez uma digressão. No capítulo seguinte vem o corte dramático, quando o narrador expõe as verdadeiras razões do drama e introduz o leitor na temática. No terceiro capítulo surge, com traços de inquietação e força, a denúncia que tencionará o leitor, um acorde de metais que anuncia os motivos narrativos. Neste capítulo 3, mostra seus conhecimentos de teatro quando o narrador cede espaço para que os personagens chamem os personagens para dentro do drama. A princípio José Dias anuncia dona Glória e Bentinho, em seguida dona Glória convoca o mano Cosme. Uns vão chamando os outros e, no final do capítulo, Dona Glória chama Tia Justina. No capítulo 12 — uma das chaves do romance — a mãe chama Capitu e Capitu chama a mãe. O Narrador tradicional é dispensado e é assim a estratégia de Machado, v indas do teatro. Tudo isso para ilustrar o que chamei de técnicas do autor, através do narrador, para seduzir o leitor, sobretudo o leitor de contos. No liv ro Contos em trânsito, reunindo escritores argentinos de várias gerações — Abelardo Castillo, Marcalo Cohen, Inés Fernández Moreno, Fogwill, Inés Garland Sylvia, Iparraguirre, Alejandra Laurencich, Cláudia Piñero, Pablo Ramos, Eduardo Sacheri, Manuel Soriano, Héctor Taizón, e Hebe Uhart —, encontramos contos bem escritos, muito bem escritos, mas, na maioria das vezes, sem o toque da montagem da narrativ a. Não que seja medíocre, não é disto que falo. Refiro me àquela qualidade interna que transforma o bom em ótimo, que dá a verdadeira dimensão do humano. Neste livro não faltam textos bons, muito bons. Mas são textos e não contos. O excelente crítico João Cézar de Castro Rocha criou a expressão “produtores de Contos em trânsito – Antologia da narrativa argentina Vários Alfaguara 272 págs. setembro 2014 / Palavra por palavra / O que é um conto ou um bom texto? Ficção Casmurros Cronópios Isto não é um cachimbo Livros Etc Page Turner Posfácio Prosa Rádio Batuta Revista Trasgo Serrote Sobrecapas Suplemento Pernambuco The Paris Review Todoprosa Vida Breve

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    http://rascunho.gazetadopovo.com.br/oqueeumcontoouumbomtexto/ 3/4

    2.Revistasliterriasdadcadade1970(8)

    3.PoemasinditosdeFrankOHara4.Afestadointelecto5.Umerroemocional

    RAIMUNDOCARRERO

    OQUEUMCONTOOUUMBOMTEXTO?Tamanhodafonte Imprimir Enviarporemail Recomendar Twittar

    AideiapossibilitarmaiorintercmbioliterrioentreBrasileArgentina,reunindoumconjuntodeautoresqueabarcadiferentesgeraes,queresultanumliv ronemsemprehomogneo,claro,aindaqueforteebelo.Umliv rodecontos,mesmodeumnicoautor,quasesempreheterogneoeirregularporqueostextossediferenciamentresipelatenso,pelaintuio,pelatcnicae,noraro,pelatemtica,emboraotemanoseja,arigor,umproblemadoficcionista,mesmoquandoserv edeapoioe,comosedizpora,deinspirao.Ocorreque,querendoouno,umautorseidentificamelhorcomumtemadoquecomoutro.Edapodesurgirumamelhorounorealizao.Oquesempreimportanumaobradeficoaforma.Oquenemsempresignificafrasesbemfeitas,objetiv as,belas.muitomais,muitomaismesmo.Umaboaobradeficoexigenosasfrases,mas,acimadetudo,aperfeitaconstruodopersonagem,arigorosaseleodecenaseaformacomoestascenassodistribudasnumtexto.Nobastaapenasumbomtexto,umbomtextoqualquerumpodefazer.Masaistodev eestaraliadadigamosadistribuiodascenas,deformaqueoabismodeuminstantepossarev elaratragdiadeumpersonagempara,emseguida,possibilitarasuaredeno,atmesmonumametfora,numcorte,numdilogo,numafrase.Talv ezteatrlogos,dramaturgos,diretores,atoreseatrizespossamentendermelhorisso.Talv ez.OprofundoconhecimentodoteatrodeMachadodeAssisdeuaeleascondiesparasetransformarnogranderomancistaqueeleecontinuarsendoparasempre.VejamoexemplodeDomCasmurro.Comeacomumacenadeironiaquandoopersonagemconheceopoetadotremefazoleitoracreditaremalgosuav e,numanarrativ aquietae,quemsabe,inconsequente.Talv ezumadigresso.Nocaptuloseguintev emocortedramtico,quandoonarradorexpeasv erdadeirasrazesdodramaeintroduzoleitornatemtica.Noterceirocaptulosurge,comtraosdeinquietaoefora,adennciaquetencionaroleitor,umacordedemetaisqueanunciaosmotiv osnarrativ os.

    Nestecaptulo3 ,mostraseusconhecimentosdeteatroquandoonarradorcedeespaoparaqueospersonagenschamemospersonagensparadentrododrama.AprincpioJosDiasanunciadonaGlriaeBentinho,emseguidadonaGlriaconv ocaomanoCosme.Unsv ochamandoosoutrose,nofinaldocaptulo,DonaGlriachamaTiaJustina.Nocaptulo1 2umadaschav esdoromanceamechamaCapitueCapituchamaame.ONarradortradicionaldispensadoeassimaestratgiadeMachado,v indasdoteatro.

    Tudoissoparailustraroquechameidetcnicasdoautor,atrav sdonarrador,paraseduziroleitor,sobretudooleitordecontos.Noliv roContosemtrnsito,reunindoescritoresargentinosdev riasgeraesAbelardoCastillo,MarcaloCohen,InsFernndezMoreno,Fogwill,InsGarlandSy lv ia,Iparraguirre,AlejandraLaurencich,CludiaPiero,PabloRamos,EduardoSacheri,ManuelSoriano,HctorTaizn,eHebeUhart,encontramoscontosbemescritos,muitobemescritos,mas,namaioriadasv ezes,semotoquedamontagemdanarrativ a.Noquesejamedocre,nodistoquefalo.Refiromequelaqualidadeinternaquetransformaobomemtimo,quedav erdadeiradimensodohumano.Nesteliv ronofaltamtextosbons,muitobons.Massotextosenocontos.OexcelentecrticoJooCzardeCastroRochacriouaexpressoprodutoresde

    ContosemtrnsitoAntologiadanarrativaargentinaVriosAlfaguara27 2pgs.

    setembro2014/Palavraporpalavra/Oqueumcontoouumbomtexto?

    FicoCasmurrosCronpiosIstonoumcachimboLivrosEtcPageTurnerPosfcioProsaRdioBatutaRevistaTrasgoSerroteSobrecapasSuplementoPernambucoTheParisReviewTodoprosaVidaBreve

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    escr itor .A utor ,entreoutros,deSer iaumanoitesombriaeMinhaalmairmdeDeus.VivenoRecife(PE).

    RAIMUNDOCARRERO

    textoparaclassificarosescritorescontemporneosqueescrev embem,masapenasescrev embem,escrev emmuitobem,masesquecemdeserescritores.Comoqueconcordoplenamente.

    Contosemtrnsitolev oumeaestareflexoeaestequestionamentoquefaoreiteradasv ezesenquantoleioequemelev amadistinguirosescritoresdosbonsprodutoresdetexto.

    NOTAOtextoOqueumcontoouumbomtexto?foipublicadooriginalmentenosuplementoPernambuco.

    Voltaraotopo

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