O QUE É O EVANGEHO? Igreja e do mundo. Jesus está no meio de sua Igreja e a tem na sua mão...

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ASSOCIAÇÃO MISSIONÁRIA EVANGÉLICA - AME INTENSIVO DE EVANGELISMO – 19.09.15 O QUE É O EVANGEHO? INTRODUÇÃO O termo “evangelho” foi tomado emprestado da literatura grega clássica. Todavia, como conceito, no modo como é empregado na Bíblica, tem sua origem na mensagem do profeta Isaías. O profeta retratou a libertação de Israel, anunciando um redentor que viria anunciando boas notícias aos humildes e liberdade aos cativos (Is 40.9; 52.7s; 58.6; 60.1-2). Jesus viu nestas palavras a descrição de sua missão (Lc 4.18-21; 7.22). Quando o Antigo Tes- tamento foi traduzido para o grego, foi utilizado o termo “evangelho” ou “evangelizar” para comunicar o que Deus faria para libertar o seu povo. No NT o conceito foi ampliado e atuali- zado, anunciando como Deus realizou a libertação, não apenas de Israel, mas de todos os povos, por meio de Jesus, instaurando o Reino de Deus. A tarefa do anúncio desta mensa- gem – a evangelização – cabe ao novo povo de Deus, a Igreja, que nasce em virtude da fé nesta mensagem proclamada. O Evangelho é, em essência, o anúncio da chegada do Reino de Deus à terra por meio de Jesus e o convite para ingressar nesse Reino. I – O EVANGELHO E A IGREJA 1 A revelação do Evangelho Quando queremos saber qual é exatamente o conteúdo do Evangelho, o Livro de Apocalipse nos fornece a melhor e mais detalhada resposta. O Apocalipse faz uma recapitu- lação de toda história bíblica, conduzindo-a ao seu final glorioso: a plenitude do reinado de Deus, o novo céu e a nova terra 1 . Deus quis mostrar a João e, através dele, a realidade da 1 O Apocalipse foi dirigido às sete igrejas da Ásia (e, através delas para toda a Igreja) com o propósito de consolá-las num tempo de muita perseguição; ensina que Jesus é o Senhor da Igreja e da História e que o destino desta História já está definido, assegurando a vitória dos crentes em Cristo. O Livro mostra a promessa do novo céu e da nova terra, aquilo que está reservado para aqueles que se mantiverem fiéis a Cristo. O tema é formulado em quatro blocos de as- sunto, cada bloco contendo sete elementos (setenários); todos estes emoldurados por uma introdução e uma conclu- são. Na Bíblia, o número quatro simboliza a criação ou o mundo e o número sete simboliza a perfeição. Desta forma, temos na estrutura do livro a mensagem de que o Apocalipse é a revelação da realidade na sua plenitude e como Deus intervém nesta realidade para a salvação, fazendo novas todas as coisas. Cada setenário apresenta esta “revelação de Jesus Cristo”, enfocando sempre um aspecto diferente da mesma obra salvífica de Deus. A visão do Filho do Homem, vitorioso sobre a morte e o inferno, no início do livro, mostra-nos a realidade do Cristo morto e ressurreto (Ap 1.9-20). O primeiro capítulo de Apocalipse mostra como o Livro deve ser compreendido. Ele é “Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu...”. Apocalipse é revelação! Deus revela (desvela) a realidade que não vemos! O conteúdo do Apocalipse é, portanto, “o mostrar” desta realidade por parte Jesus. O fundamental é que Jesus mostra a realidade como ela é e não como nós a vemos. É por isso que os cristãos (seus servos) figuram como destinatários desta revelação. Apocalip- se é mensagem de Deus para os cristãos! É Deus quem dá a Cristo a revelação, com a finalidade de fazê-la conhecida. O Apocalipse foi dirigido às sete igrejas da Ásia (e, através delas para toda a Igreja) com o propósito de consolá-las num tempo de muita perseguição; Apocalipse nos ensina que Jesus é o Senhor da Igreja e da História e que o destino desta História já está definido, assegurando a vitória dos crentes em Cristo. O Livro mostra a promessa do novo céu e da nova terra, aquilo que está reservado para aqueles que se mantiverem fiéis a Cristo. As palavras: "o que em breve há de acontecer" já deram muito que falar. São elas que têm direcionado a compreensão popular do Apocalipse, como sendo um livro que fala do fim do mundo. Isto é verdade apenas quando entendemos fim como o destino final do mun-

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ASSOCIAÇÃO MISSIONÁRIA EVANGÉLICA - AME

INTENSIVO DE EVANGELISMO – 19.09.15

O QUE É O EVANGEHO?

INTRODUÇÃO

O termo “evangelho” foi tomado emprestado da literatura grega clássica. Todavia,

como conceito, no modo como é empregado na Bíblica, tem sua origem na mensagem do

profeta Isaías. O profeta retratou a libertação de Israel, anunciando um redentor que viria

anunciando boas notícias aos humildes e liberdade aos cativos (Is 40.9; 52.7s; 58.6; 60.1-2).

Jesus viu nestas palavras a descrição de sua missão (Lc 4.18-21; 7.22). Quando o Antigo Tes-

tamento foi traduzido para o grego, foi utilizado o termo “evangelho” ou “evangelizar” para

comunicar o que Deus faria para libertar o seu povo. No NT o conceito foi ampliado e atuali-

zado, anunciando como Deus realizou a libertação, não apenas de Israel, mas de todos os

povos, por meio de Jesus, instaurando o Reino de Deus. A tarefa do anúncio desta mensa-

gem – a evangelização – cabe ao novo povo de Deus, a Igreja, que nasce em virtude da fé

nesta mensagem proclamada.

O Evangelho é, em essência, o anúncio da chegada do Reino de Deus à terra por meio

de Jesus e o convite para ingressar nesse Reino.

I – O EVANGELHO E A IGREJA

1 – A revelação do Evangelho

Quando queremos saber qual é exatamente o conteúdo do Evangelho, o Livro de

Apocalipse nos fornece a melhor e mais detalhada resposta. O Apocalipse faz uma recapitu-

lação de toda história bíblica, conduzindo-a ao seu final glorioso: a plenitude do reinado de

Deus, o novo céu e a nova terra1. Deus quis mostrar a João e, através dele, a realidade da

1 O Apocalipse foi dirigido às sete igrejas da Ásia (e, através delas para toda a Igreja) com o propósito de consolá-las

num tempo de muita perseguição; ensina que Jesus é o Senhor da Igreja e da História e que o destino desta História já

está definido, assegurando a vitória dos crentes em Cristo. O Livro mostra a promessa do novo céu e da nova terra,

aquilo que está reservado para aqueles que se mantiverem fiéis a Cristo. O tema é formulado em quatro blocos de as-

sunto, cada bloco contendo sete elementos (setenários); todos estes emoldurados por uma introdução e uma conclu-

são. Na Bíblia, o número quatro simboliza a criação ou o mundo e o número sete simboliza a perfeição. Desta forma,

temos na estrutura do livro a mensagem de que o Apocalipse é a revelação da realidade na sua plenitude e como Deus

intervém nesta realidade para a salvação, fazendo novas todas as coisas. Cada setenário apresenta esta “revelação de

Jesus Cristo”, enfocando sempre um aspecto diferente da mesma obra salvífica de Deus. A visão do Filho do Homem,

vitorioso sobre a morte e o inferno, no início do livro, mostra-nos a realidade do Cristo morto e ressurreto (Ap 1.9-20). O

primeiro capítulo de Apocalipse mostra como o Livro deve ser compreendido. Ele é “Revelação de Jesus Cristo, que

Deus lhe deu...”. Apocalipse é revelação! Deus revela (desvela) a realidade que não vemos! O conteúdo do Apocalipse

é, portanto, “o mostrar” desta realidade por parte Jesus. O fundamental é que Jesus mostra a realidade como ela é e

não como nós a vemos. É por isso que os cristãos (seus servos) figuram como destinatários desta revelação. Apocalip-

se é mensagem de Deus para os cristãos! É Deus quem dá a Cristo a revelação, com a finalidade de fazê-la conhecida.

O Apocalipse foi dirigido às sete igrejas da Ásia (e, através delas para toda a Igreja) com o propósito de consolá-las

num tempo de muita perseguição; Apocalipse nos ensina que Jesus é o Senhor da Igreja e da História e que o destino

desta História já está definido, assegurando a vitória dos crentes em Cristo. O Livro mostra a promessa do novo céu e

da nova terra, aquilo que está reservado para aqueles que se mantiverem fiéis a Cristo. As palavras: "o que em breve

há de acontecer" já deram muito que falar. São elas que têm direcionado a compreensão popular do Apocalipse, como

sendo um livro que fala do fim do mundo. Isto é verdade apenas quando entendemos fim como o destino final do mun-

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Igreja e do mundo. Jesus está no meio de sua Igreja e a tem na sua mão direita. Nada lhe

passa despercebido. A palavra que sai de sua boca é a própria voz de Deus, poderosa para

fazer o que determinou. Os seus mensageiros estão sob o seu poder. Jesus, como o Senhor

da Igreja, se mostra a João e lhe revela a realidade como ela é, a fim de que transmita con-

forto, ânimo e esperança aos cristãos perseguidos. Também nós precisamos ser lembrados

de que a realidade não é o que vemos. Apesar de acharmos, às vezes, que as coisas estão

fora de controle, somos lembrados de que tudo está nas mãos do Senhor Jesus. A Ele seja a

nossa adoração e louvor sempre!!

2 – A Igreja

2.1 – A identidade da Igreja

A maioria das dificuldades acerca da compreensão de quem é a Igreja e qual sua tare-

fa decorrem da falta de visão bíblica. A Bíblia ensina que a Igreja é a comunidade do povo de

Deus. Um povo chamado para servi-lo e para ser testemunha do caráter e das virtudes do

Reino de Deus. Ela é o agente da missão de Deus na terra, cuja tarefa é colocar todas as coi-

sas e todos os povos sob o domínio e a liderança de Jesus Cristo. Ela é a expressão visível do

Reinado de Deus na terra e o modo pelo qual Deus se manifesta no mundo. Deus não tem

nenhum outro agente redentor na terra exceto a Igreja; ela é o único meio indicado por

Deus para disseminar o Evangelho. É por isso que Deus chama todas as pessoas para se inte-

grarem no Corpo de Cristo, a comunidade do povo de Deus. Portanto, a Igreja é inseparável

do propósito cósmico de Deus de fazer convergir todas as coisas em Cristo Jesus (Ef 1.10).

Por meio da Igreja, Deus concretiza o seu plano de formar uma nova humanidade,

removendo todos os tipos de barreiras que existem entre pessoas e povos (Ef 3.4-11; 2.14-

16). É na igreja que Deus torna concreta esta reconciliação que Ele realiza através de Cristo

(Cl 3.10-11; Gl 3.28). A Igreja, portanto, não é mero instrumento de Deus, mas fruto do amor

reconciliador de Deus em Cristo. É assim que a Igreja, como corpo de Cristo, participa da

obra reconciliadora de Deus, sendo o agente do plano de Deus. É por isso que precisamos

ver a Igreja sempre em relação com os propósitos do Reino de Deus. É por causa disso que

devemos nos reconciliar uns com outros, andar em amor e comunhão com os irmãos, pois é

expressão da reconciliação operada por Deus através de Cristo.

Se a igreja é o corpo de Cristo — o meio para a ação da cabeça no mundo — então a

Igreja é parte indispensável do Evangelho. Isto significa que o ensino bíblico sobre a Igreja é

inseparável do ensino acerca da salvação. A Igreja existe por causa de Jesus; é consequência

da fé em Jesus. Onde Jesus é professado, ali está a Igreja.

do. Este fim, no entanto, não é uma descrição em termos de acontecimentos históricos. Devemos entender esta expres-

são a partir daquilo que o próprio Livro nos fala. A saudação é uma exaltação a Jesus e uma referência clara à sua obra

redentora e ao nosso status como cristãos. Pela sua obra Jesus nos introduziu no Reino de Deus e nos tornou sacerdo-

tes. Isto tem consequências bem práticas: certeza da salvação eterna; livre acesso a Deus; participação na obra de

Cristo, de modo que não há nada no corpo de Cristo que um cristão não possa fazer. Finalizando, na exaltação é enfati-

zada a certeza de que Cristo virá novamente para juízo e que todos irão vê-lo.

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É por demais significativo que o Livro de Apocalipse, ao revelar a obra redentora de

Deus por meio de Jesus Cristo, comece falando para a Igreja. A Igreja é fruto do Evangelho e,

ao mesmo tempo, ela é mensageira do Evangelho. Ela é responsável por tornar a “boa notí-

cia” da chegada do Reino de Deus, conhecida a todos os povos. A Igreja é o agente do Reino

de Deus! É esse agente, antes de tudo, por aquilo que ela é. Ela tem uma importância vital

para o estabelecimento do reinado de Deus no mundo. A Igreja é comunidade redimida que

pratica as boas obras, preparadas por Deus para que seu povo as realize (Ef 2.10).

Em essência, o plano de Deus é reconciliar todas as coisas em Cristo, a fim de que o

ser humano volte a servir ao seu criador (Ef 1.10; Cl 1.20; 2 Co 5.15-20; Rm 8.19-21). A re-

conciliação das pessoas é o centro, mas não é a circunferência toda. A mensagem básica do

Livro de Apocalipse é a reunião harmoniosa de todas as coisas sob a soberania de Cristo (Ap

1.5-7; 5.5-10; 11.15; 21.1-22.5). O Livro de Hebreus apresenta a mesma ideia (Hb 1-2). As

Parábolas do Reino, contadas por Jesus (Mt 13), apontam para esta mesma direção. A Escri-

tura fala de Deus criando um novo céu e uma nova terra de ponta a ponta (Is 65.17; 66.22; 2

Pe 3.13; Ap 21.1). O testemunho da Escritura é consistente na sua afirmação de que o mes-

mo Deus, que criou o universo perfeito e o sustenta em sua condição decaída (Hb 1.3), res-

taurará todas as coisas por meio da obra de Cristo. A Igreja é o agente de Deus nessa reden-

ção cósmica. A Escritura mostra que esse plano de Deus se concentra na grande obra de re-

conciliação e conquista de Jesus, realizada por meio de sua vida, morte e ressurreição. Essa é

a sua mensagem: o Evangelho.

2.2 – A evangelização: a tarefa da Igreja

A Bíblia nos ensina que a evangelização é a prioridade da Igreja no mundo. A Igreja

que falha na evangelização é biblicamente infiel e estrategicamente míope. A evangelização

verdadeira leva a um culto verdadeiro a Deus e a uma vida de seguimento a Jesus, à seme-

lhança de Cristo. A evangelização é essencialmente testemunho. Testemunho e comunidade

precisam andar juntos. A evangelização ocorre pela vida de uma comunidade que testemu-

nha e vive a sua fé (Jo 13.35).

A evangelização produz o crescimento na Igreja. A evangelização, centrada na Igreja,

é a evangelização que edifica a comunidade do povo de Deus num processo contínuo e re-

sulta no crescimento e reprodução da comunidade. A evangelização não se preocupa apenas

com a semeadura, mas também com os frutos e com a colheita. O alvo da evangelização é

fazer discípulos fiéis a Jesus, que edifiquem uma comunidade saudável, que se reproduza em

uma nova congregação evangelizadora. Tudo isso para isso para tornar real o plano cósmico

de Deus de gerar um novo mundo, uma nova humanidade, tornar visível o Reino de Deus.

Isso acontece quando a comunidade é lugar da habitação do Espírito Santo. Ali os discípulos

de Jesus são capacitados para os vários serviços da Igreja, os dons do Espírito Santo estão

sendo distribuídos abundantemente e o poder de Deus está se manifestando visivelmente,

gerando uma vitalidade exuberante. Esta realidade é a força evangelística da comunidade. O

Livro de Atos nos mostra como isso funciona.

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A comunidade é muito importante na vida de cada discípulo de Jesus. O crescimento

espiritual do discípulo de Jesus é maior numa comunidade que cuida das pessoas. Quando o

NT fala de edificação ele fala de edificação de comunidade. A edificação individual é conse-

quência da edificação da comunidade. Essa compreensão traz implicações imediatas para a

tarefa evangelística da igreja. A responsabilidade de cada discípulo de Jesus é, em primeiro

lugar, com a comunidade cristã e sua cabeça, Jesus Cristo. As duas primeiras tarefas de cada

discípulo de Jesus são a adoração e a edificação da comunidade do povo de Deus.

2.3 – O Senhor da Igreja

Antes, porém, que se fale da Igreja propriamente dita, o Livro de Apocalipse começa

com a adoração ao Deus triúno (Ap 1.5b-6). No Apocalipse estamos diante da obra de Jesus

Cristo, declarada e realizada. Esta obra significa, essencialmente, que o discípulo de Jesus é

amado e liberto da morte e que, juntos, os discípulos são transformados num reino e consti-

tuídos sacerdotes. Há, portanto, um reino que é dos céus no meio deste mundo. No meio

desta geração caída há um ponto de regeneração, de reconciliação e de adoração a Deus.

Este reino é de sacerdotes. A este Deus, que realizou esta obra majestosa, são tributados

glória e poder. É a Jesus Cristo que, desde o início, são atribuídos, simultaneamente, esse

triunfo e esse reino. Assim, desse jeito, somos introduzidos para dentro da realidade que vai

sendo revelada. Esta é a moldura introdutória, fundamental.

Na visão, João é arrebatado em espírito e tem uma visão do céu. É Jesus quem o con-

vida para adentrar o céu. O que ele vê é um trono e alguém assentado sobre ele. Não há

nenhuma tentativa de descrever aquele que está assentado sobre o trono. Evidencia-se a

total incapacidade de se descrever a Deus. Não se pode dizer nada além da fulgurante luz,

com os seus tons coloridos; da presença do arco-íris, que é o sinal da aliança e da misericór-

dia de Deus com este mundo (Gn 9.11-13). Acrescentado à glorificação, os anciãos trazem a

ação de graças, porque são testemunhas do amor de Deus e sabem que Deus salva. Os seres

viventes trazem a exaltação e os anciãos, a ação de graças; atuam como testemunhas do que

deveria ter sido a história humana; tributam a Deus o que é Seu de direito: toda a adoração!

Nos capítulos 2 e 3 de Apocalipse vimos o que Cristo vê na sua Igreja, inserida na rea-

lidade histórica. No capítulo 4 e 5 nos é dada a perspectiva da Igreja e do mundo a partir da

realidade do céu. Estes dois olhares perfazem uma unidade e não podem ser separados!

Passamos da Igreja sobre a terra para a Igreja no céu, do Cristo entre os candelabros ao Cris-

to no seu trono; da Igreja sob o poder do Império Romano, para a Igreja sob o poder de

Deus. As igrejas da Ásia eram pequenas e lutadoras; o poder de Roma parecia inesgotável. O

que poderiam fazer uns poucos cristãos indefesos, se um simples edito imperial podia bani-

los da face da terra? Os poderes das trevas pareciam já estar fechando o cerco em torno

delas. Os corações começavam a tremer como as árvores açoitadas pelo vento. Apesar disso,

não precisam temer, pois no centro do universo está um trono. Daquele que está assentado

sobre o trono os planetas recebem suas ordens. Diante dele as galáxias prestam obediência.

Nele os minúsculos organismos vivos encontram vida. Diante dele os anjos, seres humanos e

todas as coisas criadas nos céus e embaixo na terra inclinam-se e adoram humildemente. As

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diversas doxologias do Livro de Apocalipse nos ensinam – sempre de novo – que a perspecti-

va da qual devemos olhar para a História é do trono de Deus.

2.4 – A fidelidade da Igreja ao seu Senhor

Vimos que Jesus trouxe o Reino de Deus e que a Igreja é fruto da obra de Jesus. Por

isso, a Igreja é o corpo de Jesus na terra, por meio do qual Cristo age no mundo, tornando

visível e experimentável o Reino de Deus. É por isso que a congregação dos discípulos de

Jesus deve ter apenas uma coisa em mente: ser fiel e obediente ao seu Senhor. No Livro de

Apocalipse, as cartas às igrejas, têm em vista esta fidelidade. Embora as cartas sejam desti-

nadas para comunidades especificadas, sua mensagem é válida para toda a Igreja.

O Apocalipse ensina que Jesus é o Senhor da Igreja e que Ele a conhece profunda-

mente. O que importa não é a aparência ou a quantidade de atividades que são desenvolvi-

das, mas a maneira como são realizadas. O Apocalipse ensina que Igreja sempre tem um

caminho de dificuldades pela frente. Ela precisa enfrentar provas, perseguição, ensinamen-

tos errados, o pecado e as tentações; mas ela é convidada a ser fiel, a ser perseverante, a

não desistir, a ficar dentro daquilo que aprendeu do seu Senhor. As congregações são sim-

bolizadas como "candeeiros" a iluminar no mundo. O Apocalipse ensina que a Igreja sempre

está “em” algum lugar; nunca “é” de algum lugar. Isto porque o Corpo de Cristo sempre está

ativo no mundo, mas não pertence ao mundo. Vamos buscar nas Cartas a exortação de Jesus

para cada uma das comunidades:

1) Na Carta à igreja em Éfeso (Ap 2.1-7) o tema é o primeiro amor. À primeira vista Éfeso

parece uma igreja irrepreensível, ativa, perseverante, suporta as provações e persegui-

ções, não tolera pessoas más, zela pela doutrina correta. Cristo, porém, que olha profun-

damente para dentro da vida daquela igreja, vê que lhe falta o primeiro amor. A espon-

taneidade no relacionamento com Jesus, aquela preocupação de agradar em tudo ao Se-

nhor. Jesus está dizendo que este primeiro encanto e disposição de coração desaparece-

ram. Tudo está sendo feito de modo correto, mas sem aquele mesmo entusiasmo e ale-

gria radiante e empolgante do início da caminhada da fé. A igreja em Éfeso está esfrian-

do. Ela relaxou. Tornou-se uma igreja institucional, teológica, exata, rigorosa! Falta, po-

rém, o calor da espontaneidade, a alegria, o prazer da comunhão, a alegria da salvação.

Ora, isto é decadência. É caminho para a morte. No início, Jesus ocupava o centro; agora,

Jesus está na periferia! Todos nós corremos o mesmo perigo da igreja de Éfeso! Essa va-

garosa morte espiritual vai se instalando quando você não tem mais tempo para conver-

sar com Jesus, não encontra tempo de ler fielmente a Bíblia e dar atenção àquilo que Je-

sus está dizendo. Podemos trabalhar bastante para Jesus, assumindo muitas tarefas e

compromissos, mas o ponto central não é mais o Senhor Jesus. Tudo está se converten-

do num mero formalismo religioso, donde a presença de Jesus há muito não está. A co-

munhão com Jesus não pode ser substituída por nada; nem mesmo pelo trabalho para

Jesus. Tudo o que separa dessa comunhão é perigo mortal para a fé viva em Jesus. Onde

Jesus não está no centro outro poder irá ocupá-lo e com isso a luz do Evangelho se apa-

ga. É por causa deste perigo que Jesus adverte. É preciso lembrar onde foi que este amor

começou a esfriar. O Senhor Jesus está dizendo que este esfriamento é pecado que pre-

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cisa de arrependimento e mudança de atitude. O abandono do primeiro amor é tão gra-

ve que Jesus ameaça retirar o candelabro daquele lugar, caso não houver arrependimen-

to. Isto é, Jesus vai retirar a sua Igreja (veja Ap 1.20). A vida, movida pelo amor a Jesus,

portanto, é a primeira exigência de Jesus para a sua Igreja. Se a Igreja ouvir este apelo de

voltar ao primeiro amor, viverá; caso contrário será extinguida por Jesus.

2) Na Carta à Igreja em Esmirna (Ap 2.8-11) o tema é sofrimento. Esmirna é uma comuni-

dade composta de pobres. Não tem proteção nem apoio. Além disso, ela é perseguida

pelos judeus e pelo Estado. A situação é muito difícil e sofrida, alguns serão lançados na

prisão pelo Diabo para coloca-los à prova. Contudo, apesar de toda esta situação, Jesus

diz que Esmirna é uma igreja rica. Dentre as sete igrejas, junto com Filadélfia, são as úni-

cas não ameaçadas de extinção ou que não é advertida. Esmirna recebe apenas o conse-

lho de se manter fiel até a morte. Deve manter sua fidelidade à custa da própria vida.

Mesmo que haja morte, aquele que se mantém fiel a Jesus foi vencedor. Este, de ne-

nhum modo será condenado no dia do juízo.

3) Na Carta à Igreja em Pérgamo (Ap 2.12-17) o tema é a doutrina correta. A comunidade é

fiel e perseverante, mas aceita algumas ensinos que não correspondem àquilo que Jesus

ensinou. O ponto positivo da igreja é que ela se mantém ligada ao nome de Jesus e não

negou a fé. Contudo, é duramente julgada por tolerar doutrinas falsas no meio dela. Es-

tamos diante da tarefa de viver conforme a Escritura ensina. Portanto, constatado o pe-

cado, novamente a igreja está diante da necessidade do arrependimento. É preciso que

se arrependa, pois caso contrário o próprio Cristo virá contra a comunidade.

4) Na Carta à Igreja em Tiatira (Ap 2.18-29) o tema é o falso ensino, que é atestado como

inspirado pelo Espírito Santo. Tiatira é uma Igreja que tem muitas qualidades: tem obras

em abundante crescimento, amor, fé, perseverança. O problema é que havia na comuni-

dade uma mulher que se autodesignava profetiza, mas que trazia ensinamentos e práti-

cas contrários àqueles trazidos por Cristo. A advertência à comunidade é que ela tolera

tal pessoa e que não a tenha expulsado e rejeitado o seu ensino falso. À comunidade Je-

sus pede que conserve o que tem, o que lhe foi dado, a salvação. Falso ensino e falso

pregador não são admitidos por Cristo em sua igreja. Cabe aos discípulos de Jesus extir-

par este câncer de seu meio.

5) Na Carta à Igreja em Sardes (Ap 3.1-6) o tema é a apatia espiritual. A Igreja era conhecida

como ativa, viva, de boa reputação. Em Sardes temos uma igreja de boa aparência, con-

tudo, está por morrer diante de Deus. O problema de Sardes era a iminência da morte

espiritual. Quem não vive em Cristo está morto perante Deus. Novamente a aparência

não engana a Jesus. Este é o quadro do cristianismo nominal, é próspero externamente,

ocupado com as coisas externas da atividade religiosa, mas sem vida e poder espiritual.

Jesus está dizendo: “Conheço as tuas obras... estás morto”. Palavra radical! Palavra sem

rodeios! Contudo, apesar desta realidade, Sardes ainda é uma Igreja, pois há nela ainda

um resto. Ainda não estava tudo perdido. Havia possibilidade de reconstrução.

6) Na Carta à Igreja em Filadélfia (Ap 3.7-13) o tema é a fidelidade. Filadélfia é a segunda

Igreja que não recebe nenhuma condenação. Assim como Esmirna, a igreja também es-

capa devido à sua fidelidade a Jesus. As duas comunidades fracas são também as únicas

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não condenadas. Deus está com aqueles que têm pouco poder, quer tenham escolhido

esse caminho, quer se encontrem involuntariamente nesta situação. Inversamente,

aqueles que têm poder, qualquer que seja, correm o risco de se afastarem de Deus. As-

sim é também conosco: é a nossa fidelidade para com a Palavra de Deus que faz com que

sejamos guardados por Deus ou não. Jesus exorta aquela comunidade (e a nós) a conti-

nuar sendo fiel. Sempre ainda é possível perder a coroa da salvação.

7) Na Carta à Igreja em Laodicéia (Ap 3.14-22) o tema é a autossuficiência. Esta é a maior

miséria de uma comunidade! A autossuficiência exclui Jesus da comunidade. Jesus está

dizendo que aquela igreja era morna, indiferente e isso lhe causava náuseas. Ele diz que

eles são pobres, apesar de terem muito dinheiro; cegos, apesar do colírio especial para

os olhos que produziam; nus, apesar das muitas fábricas de roupa de lã. O que estava

acontecendo com aquela igreja? Porque Jesus profere palavras tão duras? É que em La-

odicéia, Jesus está do lado de fora da Igreja. Todavia, ainda há esperança, se alguém ou-

vir Jesus batendo à porta e lhe abri-la. É preciso diligência e arrependimento, mudança

de atitude e acolhimento da repreensão recebida.

As sete cartas indicam as marcas que devem caracterizar a Igreja de Jesus Cristo: o

amor por Cristo e a disposição de sofrer por Ele; a verdade doutrinária e a santidade de vida;

a realidade interior e o empenho evangelístico, com um ardente fervor em tudo. Observa-se

a Igreja oprimida pelo pecado, pela falsidade e pela letargia, e externamente por tribulação

e perseguição. Fomos apresentados às más intenções, às obras dos nicolaítas, dos baalami-

tas, da falsa profetisa, todos tendo por trás de si o próprio Satanás. Tivemos uma ideia do

dilema que era seguir a Cristo ou se submeter a César e escapar de muito sofrimento. Cer-

tamente foi-lhes difícil permanecer firmes no meio de tanta oposição, perseguição e tortu-

ras. Em cada uma das cartas Jesus coloca um enfoque sobre um aspecto particular da Igreja,

quer repreendendo ou elogiando. Juntas estas características constituem marcas de uma

Igreja verdadeira e ativa. Elas nos dizem o que Cristo pensa e quer de sua Igreja hoje.

II – A REALIDADE DO MUNDO E O REINO DE DEUS

A obra de salvação aconteceu dentro da história humana. O Apocalipse mostra o que

é este mundo dentro do qual a salvação se realizou e o que mudou nele por causa desta in-

tervenção de Deus. Jesus revela o sentido profundo da História: o amor de Deus para com a

humanidade e o sentido daquilo que se passa conosco e, às vezes, não percebemos. Jesus

revela que a História é o resultado da combinação da vontade de Deus e da vontade das

pessoas; ensina que a História é feita pela mistura da palavra de Deus, do poder político, do

poder econômico e do poder da destruição e morte. São sempre as mesmas quatro forças

que agem em todos os tempos. A História não caminha nem para melhor nem para pior. A

História não se desenvolve apenas no plano humano. A História é muito mais do que pode-

mos ver. Há simplesmente mais em ação do que forças humanas. Mas há ainda outros ele-

mentos componentes da História: a oração dos mártires, com seu testemunho e o povo de

Deus. Jesus mostra que o mundo não é uma realidade fechada em si, mas que existe a pos-

sibilidade de uma intervenção que vem de fora dele – a oração. Jesus revela o processo e o

progresso da escolha do povo de Deus na História; revela também a catástrofe que é a reti-

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rada do povo de Deus do mundo, pois o mundo permanece apenas porque o povo de Deus

está nele! Todavia, o impacto sem precedentes na história da humanidade aconteceu com a

invasão da eternidade na temporalidade humana. Em Jesus, Deus ingressou na sua criação

para fazer um novo começo, para instaurar o seu governo soberano e eterno.

1 – O mundo: a História

Nos capítulos 4 a 7, o Livro de Apocalipse fala sobre a essência da história do ser hu-

mano: pecado e redenção. Trata-se de uma visão que tem a perspectiva do céu. João pode

olhar a história do ser humano a partir do céu. Não devemos perder de vista que a Igreja de

Jesus Cristo está colocada dentro desta História, cuja essência nos é desvendada por Jesus.

Ao penetrarmos no céu, na companhia de João, temos o privilégio de olhar a História e o

mundo dentro do qual a Igreja está inserida a partir do céu. Vamos fazer um passeio?

Os capítulos 4 e 5 de Apocalipse fazem a ligação destas duas primeiras partes do Li-

vro: a Igreja e a História. O capítulo 4 mostra que Deus está no controle desta História e o

capítulo 5 mostra como Deus interveio nesta História através de Jesus. O capítulo 5 informa

que aquele que está assentado no trono é Deus-Pai, o criador. O fato de estar assentado no

trono mostra que é Ele quem reina. Na sua mão direita Ele tem um livro lacrado com sete

selos. O fato de estar selado com sete selos significa que o mesmo está completamente la-

crado, impossível de ler. Como ele está escrito por fora e por dentro significa que está aca-

bado, concluído. Mas só é possível saber-lhe todo o conteúdo se ele for aberto, caso contrá-

rio saber-se-á apenas o que está escrito por fora. Este livro representa toda a história da

humanidade desde a sua criação. O fato de estar na mão direita de Deus indica que Ele sem-

pre teve o controle de toda a História em suas mãos, mas que seu sentido era inacessível.

Procura-se, portanto, alguém que seja digno e capaz de abrir os selos do livro. João é infor-

mado de que é Jesus quem poderá abrir os selos. Ao tomar o livro da mão de Deus, todo o

céu irrompe em adoração e louvor ao cordeiro. Você pode imaginar a cena? Os quatro seres

viventes e os vinte e quatro anciãos prostram-se diante do Cordeiro. Os quatro seres viven-

tes e os vinte e quatro anciãos estão entoando novo cântico, pois o Reino de Deus foi inau-

gurado e está prestes a ser consumado em plenitude. O novo cântico é um contraste ao lou-

vor que era trazido diante de Deus até ali. Este cântico é trazido diante do Cordeiro, o reden-

tor, por ser digno de recebê-lo. Sua dignidade consiste em que morreu sacrificialmente e

assim comprou de volta – para Deus – as pessoas.

Com sua morte Cristo nos comprou, nos resgatou do inferno. O verbo empregado é

um termo técnico para a compra da liberdade de um escravo (1 Co 6.20; 7.23; Gl 3.13; 1 Pe

1.18). Por trás do termo há uma prática bem conhecida da época: um escravo podia comprar

sua própria liberdade. Para isto havia um ritual realizado no templo: o escravo depositava o

dinheiro aos pés da divindade, simbolizando que este deus estava comprando o escravo do

seu dono. O proprietário do escravo recebia o dinheiro no templo e o escravo passava a ser

livre, embora formalmente propriedade daquele deus. Fazendo referência a esta prática, Ap

5.8 diz que Cristo nos comprou por seu sangue para Deus, de modo que nos tornamos pro-

priedade de Deus. Estamos livres da escravidão do pecado, da morte e do inferno. O preço

pago por este resgate foi o sangue de Cristo. Em Ap 1.5 diz, literalmente: às custas do teu

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sangue. A menção de que as pessoas compradas procedem de toda tribo, língua, povo e na-

ção, mostra a plenitude total deste resgate operado por Cristo na Cruz. Ninguém fica de fo-

ra! Pela morte de Cristo Deus comprou – de volta do Diabo – todas as pessoas da humanida-

de. A morte de Cristo foi o preço estabelecido do resgate! Agora a humanidade novamente

pertence a Deus!! Aleluia! Deus se dispôs a pagar o preço do resgate. Agora você não é mais

propriedade do Diabo, mas de Deus, o Pai que ama você!

O resultado deste resgate é o surgimento de povo que é feito reino e sacerdotes, os

quais reinarão sobre a terra. A ideia do sacerdócio implica no total e imediato acesso à pre-

sença de Deus. A combinação dos termos reino e sacerdotes significa que os remidos não

serão apenas o povo sobre o qual Deus reina, mas que terão o privilégio de reinar com Ele.

Cristo, ao derramar seu sangue na cruz, fez surgir um novo povo, redimido. Por esta razão

sua obra de redenção deve incluir a abertura dos selos e a revelação do conteúdo do livro (=

rolo). Com a abertura do Livro sabemos acerca do estabelecimento do Reino de Deus. A vin-

da do Reino de Deus, em definitivo, é parte essencial da redenção que Cristo operou. A sal-

vação que Cristo operou na cruz já pertence a todos os que nele creem, mas será plena na

sua volta, quando o Reino de Deus for estabelecido em plenitude. O Cordeiro recebe das

mãos de Deus o livro lacrado e fica encarregado de executar os planos de Deus na História,

inclusive contra os adversários de Deus. Ele é instituído o soberano, que conduzirá a História

a seu destino.

2 – A obra de Jesus na História: a irrupção do Reino de Deus

Cristo tem o poder de abrir os selos do livro lacrado que está na mão de Deus. À me-

dida que Jesus vai removendo os selos, a profundidade da História vai sendo revelada2. No

Apocalipse os quatro cavalos estão relacionados à História de modo genérico à luz da histó-

ria da salvação. Inserir esta concepção no contexto do Cordeiro, que tem o poder de abrir os

selos, um por um, significa colocar toda a história humana à luz do sacrifício de Cristo. Desta

forma, o Apocalipse revela que a história humana, depois da queda, foi essencialmente uma

história de guerras e impérios se sucedendo um ao outro; porém, não será através desta

sucessão que se dará a libertação da humanidade. Este resgate não é possível a nenhum dos

integrantes dessa História.

O primeiro grupo de quatro selos é composto por quatro cavaleiros e está ligado à

realidade cósmica e histórica, esboçado pelo número quatro (= mundo). No símbolo do cava-

lo podemos ver uma representação da natureza humana e nas suas modificações as várias

fases e momentos da história. O primeiro cavalo é branco. Ele tem um arco, recebeu uma

coroa, "saiu vencendo e para vencer". O branco é sempre símbolo celeste (santidade, pure-

za, salvação). A coroa, símbolo da realeza, ele recebeu, não foi conquistada. O arco é bibli-

camente o sinal da aliança de Deus com os homens (Gn 9.13). Ele já parte vitorioso, a vitória

já está conquistada desde o começo; mas ao mesmo tempo parte para vencer, isto é, para

2 Como pano de fundo dos primeiros quatro selos está o conceito dos quatro impérios, bastante difundido na antiguidade,

quer no campo bíblico ou fora dele. A ideia era de que a população humana e o poder político estavam distribuídos pe-las quatro zonas da terra. Essa distribuição era entendida como contemporânea ou sucessiva, sempre havendo um im-pério sucedendo o outro, procurando a plenitude do poder e domínio.

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concluir esta vitória. O cavaleiro branco é o primeiro a ser lançado no mundo, ele é portador

de vida e de aliança. O cavaleiro branco é a Palavra de Deus. Jesus é o Verbo, a palavra de

Deus, que agiu e continua a agir no mundo. O segundo cavalo é vermelho. Foi-lhe dado o

poder de tirar a paz da terra. Ele é a fonte das guerras. Existe um poder, uma força, persona-

lizada aqui no cavalo vermelho, secreta e imaterial, que age na História. Este cavaleiro rece-

beu uma espada. A espada é tradicionalmente símbolo de poder e da autoridade (Rm 13).

Isto quer dizer que é o poder político que faz a guerra, o Estado. Deus dá o poder e a espada.

A espada dada para a justiça serve para a guerra. Mas o cavaleiro serve-se dela conforme

sua vontade. O terceiro cavalo é preto. Ele mede, vende, compra, pesa, distribui. Ele tem

como símbolo a balança: comércio, economia, dinheiro. Ele tem um poder limitado. Estamos

diante de um mínimo necessário para a sobrevivência: um denário é o salário de um operá-

rio para um dia de serviço e uma medida de trigo é o necessário para a alimentação de uma

pessoa para um dia. Este cavaleiro simboliza, ao mesmo tempo, o poder da economia e o

seu flagelo. O quarto cavalo é amarelo. O cavaleiro amarelo-esverdeado é chamado morte e

atrás dele vem o Hades (o mundo dos mortos). Ele tem o poder de matar a quarta parte da

humanidade. Este cavaleiro representa a força ativa da morte e dos poderes materiais para

causá-la. O Hades vem atrás para recolher a "obra da morte”. Mas há alguém que lhe impõe

limite: Deus! Somente o primeiro cavaleiro não tem limites. A sua vitória já está assegurada

desde o começo. Todos estes flagelos não atingem somente os maus, mas todos são atingi-

dos. É o pecado de todos que manifesta os seus efeitos. E é sobre este pecado e em função

dele que age a força destruidora.

O que querem significar estes quatro cavalos e seus cavaleiros? Primeiro, eles são os

primeiros quatro componentes da História. Eles são as forças que agem na História. Revelam

que a história humana é feita pela mistura dos poderes político, econômico, das forças da

morte e da Palavra de Deus. São sempre as mesmas forças que agem em todos os tempos e

em todos os regimes. A figura do cavalo e de seu cavaleiro é significativa neste símbolo: ca-

valo e cavaleiro saem para percorrer a terra. Desta forma, a sua ação aparece aqui e lá, sem

que exista uma lógica pré-estabelecida para a sua ação. Poder-se-ia ter a impressão do "aca-

so", mas não existem acasos na História. Esta é uma das lições que recebemos aqui, pois há

forças que agem por trás dos acontecimentos. O acaso só existe para os olhos que não con-

seguem captar o que está acontecendo. A História é formada e se desenvolve não apenas no

plano humano. Há simplesmente mais em ação do que meramente o ser humano. A segunda

coisa que aprendemos é não há progresso nem retrocesso na História. A História será sem-

pre a mesma. A História não caminha nem para melhor nem para pior! O terceiro e mais

importante ensino é que Jesus mostra o que é a História na sua essência.

O segundo grupo, que vai do quinto ao sétimo selo, é mais complexo e menos homo-

gêneo. Este grupo apresenta a convergência das forças estranhas em direção ao ser humano

e à terra. A ação parte do céu e tem como fonte o próprio Deus. Quando Jesus abre o Quinto

Selo é revelado que a oração dos mártires desempenha uma função na História. A oração

dos mártires tem por finalidade acelerar o curso da História para levá-la à conclusão final. Na

Oração do Pai Nosso o próprio Jesus ensinou a pedir: “Venha o teu Reino”. Temos, portanto,

uma oposição entre os quatro primeiros selos e o quinto selo. O quinto selo abre espaço,

abre uma brecha na História, mostrando que ela não é uma realidade fechada em si, que há

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a possibilidade de uma intervenção de fora, capaz mudar o seu curso. Como por exemplo, no

caso de um testemunho num julgamento no tribunal. Quando o Sexto Selo é aberto é reve-

lada a composição do povo eleito. O Sexto Selo (Ap 6.12-7.19) apresenta uma visão com du-

as imagens que se opõem. Primeiro, temos a imagem de catástrofes, onde céu e terra são

abalados; onde reina o terror e a destruição, reina o desejo de fugir da presença do "Cordei-

ro". Em seguida a imagem é exatamente oposta: reina total calma e tranquilidade, há louvor

na presença do Cordeiro. Esta oposição das imagens é mais uma vez expressão daquilo que

acontece na História. A visão descreve o processo e o progresso da escolha do povo de Deus

em meio às catástrofes e às desgraças do mundo. Estas catástrofes e desgraças simbolizam o

que acontece com o mundo quando o povo de Deus é retirado (Êx 1-16; Gn 18-19). Este po-

vo de Deus são os 144.000, composto pelos selados das doze tribos de Israel e pela multidão

que ninguém pode contar de todos os povos. Mais uma vez, as duas visões se complemen-

tam. É o povo de Deus, constituído através da primeira e segunda eleição. A Igreja em si não

é quem salva o mundo, mas deve anunciar o propósito salvador de Deus para o mundo e,

igualmente, o destino do mundo sem Deus. Quando o último selo do livro é aberto há silên-

cio no céu (Ap 8.1). O silêncio interrompeu o culto que é celebrado continuamente no céu!

Este silêncio foi causado pela morte de Cristo. Nesta morte se realiza o julgamento de Deus e

um novo relacionamento com Deus e um novo culto se inicia. Nos evangelhos nos é dito que

no momento da morte de Cristo o véu do santuário se rompeu, possibilitando o acesso dire-

to a Deus (Mt 27.51; Mc 15.38; Lc 23.45). É por causa desse acontecimento sem precedentes

no cosmo que o sétimo selo nos leva para dentro de um anúncio grandioso. O sétimo selo

nos prepara para ouvirmos a grande mensagem que será proclamada. Ouçam, as trombetas

estão soando! Preparem-se para ouvir a mensagem que vem do céu! Ouçam a boa notícia!

Cristo veio trazer a salvação!

III – A OBRA DE CRISTO: O EVANGELHO

A abertura do Sétimo Selo, na sala do trono de Deus3, abre um novo horizonte para

ser visto. Apenas quando o último selo é retirado o “livro” pode ser aberto, a História pode

ser lida. A abertura dos selos anteriores não serve para nada se o último não for removido.

Quando o Cordeiro abriu o sétimo selo, houve silêncio no céu cerca de meia hora (Ap 8.1).

Logo a seguir vem o duplo ato do anjo. Ele oferece as orações dos santos, com incenso, co-

mo sacrifício no altar de ouro diante do trono de Deus e em seguida o anjo toma este mes-

mo incensário, enchendo-o do fogo do altar e o joga sobre a terra. O anjo desempenha uma

função sacerdotal (Hb 9.4). O sacrifício do altar significa, ao mesmo tempo, a purificação e a

mediação. O que é oferecido como sacrifício são as orações dos santos. Esta dupla ação do

anjo ensina de forma simples que o julgamento de Deus cairá sobre o mundo, em resposta

às orações dos santos. As orações dos santos são pela vinda do Reino de Deus e pela mani-

festação do julgamento de Deus, contra os poderes demoníacos que oprimem os que con-

fessam com fidelidade o nome de Jesus (Ap 6.10). Os trovões, vozes, relâmpagos e terremoto

são expressões para expressar as manifestações da presença de Deus (Êx 20.18-21).

3 Lembra-se, João está na sala do trono (Ap 5), quando Jesus recebe o livro da mão de Deus-Pai e começa a abrir os selos. Ap 8. 2-6

apresenta o prólogo das próximas cenas.

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Primeiro vamos dar uma olhada no conjunto da mensagem das Trombetas (Ap 8.2-

11.19). Em Israel e no mundo antigo, o som de trombetas significava o prenúncio de algo

muito importante por acontecer. No Apocalipse, as trombetas, anunciam o nascimento,

morte, ressurreição e ascensão de Jesus; prenunciam o que mudou na terra e no céu com a

vinda do Filho de Deus ao mundo. Tudo o que é visto e ouvido tem um significado duplo,

pois, por meio da obra de Jesus aconteceu, ao mesmo tempo, salvação e julgamento. A de-

sordem geral que vista é expressão da desordem do mundo. Toda a criação fica perturbada,

porque o próprio Deus vem ao mundo, se tornando pessoa humana. Com a mensagem das

trombetas é revelado que o Diabo foi vencido! No entanto, ele ainda não está destruído. Ele

ainda tem poder na terra. Este é o tempo da provação e da liberdade do ser humano; é o

tempo para optar, de decidir e aceitar o convite de Deus4. Há uma continuidade perfeita

entre o Sétimo Selo e as Trombetas. O Sétimo Selo permite, finalmente, ler a História e, ao

mesmo tempo, desencadeia as Trombetas, as quais anunciam a presença de Deus no meio

dos homens. As seis primeiras Trombetas descrevem o desmoronamento da criação, quando

o criador decide unir-se a ela através da Encarnação. O pequeno livrinho aberto, o Evange-

lho (cap. 10-11), informa esta decisão de Deus. Após esta mensagem ter sido comunicada, a

Sétima Trombeta faz aparecer a Nova Aliança. Nas partes anteriores se falava de Jesus de

uma maneira clara, explícita. Aqui se fala de Jesus de uma maneira diferente. Aqui Jesus não

aparece como o Senhor dos Senhores, como o Senhor da Igreja, como o Senhor da História.

Aqui Ele é o Deus que se despoja de Deus; logo, não é possível falar diretamente de Deus;

não se fala de Jesus como o "leão da tribo de Judá". Deus está como que ausente. Deus se

faz homem. É por isso que ele não aparece como Deus. Ele é apresentado de "outra forma”.

A desordem geral e cósmica é expressão da desordem do mundo. Tudo fica bagunçado, o

caos se instala. Porque é intolerável, é impossível que Deus se abandone, que Deus deixe de

ser Deus, para tornar-se pessoa; porque é intolerável, é impossível que Deus morra em Je-

sus. Deus não pode morrer! O caos se instala, porque é intolerável, é impossível que um

homem realmente morto ressuscite e que a morte seja vencida. Deus já não está mais aqui

para manter a ordem. Há o risco da destruição do que foi criado. Que desgraça maior pode-

ria haver que a morte de Deus? Deus decidiu submeter-se à prova da morte e começar tudo

novamente. Uma mulher dá à luz um menino que vai reger todas as nações e vencerá. As

trombetas são sinal do julgamento de Deus, ao mesmo tempo em que chamam para a reu-

nião triunfal dos eleitos e sua libertação final. As trombetas querem falar que a Encarnação

de Deus, em Jesus Cristo, é a destruição da ordem do mundo, o questionamento absoluto da

criação. Deus se mistura à sua criação! Este é o mistério inimaginável para o ser humano.

As quatro primeiras trombetas mostram o julgamento de Deus que atinge o cosmo e

as três últimas trombetas falam do julgamento de Deus que atinge o ser humano. Nas pri-

meiras quatro trombetas está esboçada a queda dos seres angélicos, como raiz de toda cor-

rupção que se espalhou por toda a criação. As três últimas trombetas mostram a propagação

desta corrupção no âmbito humano. A realidade do povo de Israel sob a escravidão egípcia é

a representação simbólica da realidade do ser humano sob o domínio das forças do mal.

4 Esta é outra maneira de falar da prisão de Satanás por mil anos, cap. 20, durante este tempo estarão agindo as duas

bestas, o poder político e a ideologia deste poder (Ap 13).

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Devemos compreender que toda libertação é efetivamente destruidora do ambiente mau. O

mal é produto do jogo das potências espirituais que agem no mundo e na sociedade. Neste

sentido, a destruição destas potências, por parte de Deus, afeta também o ser humano e o

faz sofrer. Este sofrimento pode ser comparado a uma cirurgia, necessária para que seja ex-

tirpado um câncer que destrói, mas que já se tornou parte de seu próprio corpo. Na medida

em que Cristo encarna toda a realidade, tudo o que lhe acontece é uma catástrofe para toda

a humanidade. Os desastres são como que uma réplica dos sofrimentos de Cristo; mas o

inverso também é verdade: tudo o que recai sobre a humanidade recai sobre Cristo. Sobre

Jesus é que recai todo o juízo de Deus. A encarnação de Deus em Cristo Jesus é a destruição

da ordem do mundo. É o questionamento absoluto da criação, pois se produz algo impensá-

vel: Deus se misturou à sua própria criação. Sim, mas apesar de tudo Ele é Deus! Para as po-

tências celestes e para toda a criação, o desmoronamento acontece quando o Deus Todo-

poderoso, que fala e as coisas vêm a existir (Gn 1) renuncia ao seu poder e adota a humilda-

de. Então as colunas do mundo são muito mais sacudidas do que se Deus viesse no seu furor

e na sua glória (Sl 97). Este julgamento, todavia, ainda não é o juízo final, mas o julgamento

de Deus que aconteceu através da vinda de Cristo ao mundo. Cada ato de Deus, em Jesus

Cristo, implica, para os homens inseridos no mundo e separados de Deus, um ato catastrófi-

co. O ser humano afastado de Deus é prisioneiro das potências deste mundo, de tal forma

que qualquer obra positiva de Deus lhe parece como uma perturbação inaceitável, enfim,

um ataque a ele mesmo. Quando Deus vem liberta-lo, o ser humano não percebe sua liber-

tação e protesta contra o rompimento das correntes que o aprisionavam. É na criação que

vão desaguar os efeitos do pecado em todas as suas manifestações desastrosas. As trombe-

tas, neste sentido, são a representação de um novo êxodo para o povo de Deus e uma nova

aliança realizada pela morte de Cristo, em benefício de toda a humanidade.

A quinta e a sexta trombeta falam do juízo de Deus sobre os que não creem em Deus

(Ap 9.4, 20s). A Quinta Trombeta (o primeiro ai) proclama a morte espiritual (Ap 9.1-12). O

abismo é aberto. Uma verdadeira “contra-criação” se realiza. É o regresso ao caos, o mergu-

lho no nada. É o estado da terra descrito em Gn 1.2, quando havia apenas trevas sobre o

abismo e a terra era sem forma e vazia. Temos aqui, em tudo, a inversão do que foi o ato

criador de Deus. Quando Deus, pela sua encarnação, decide salvar a humanidade, tornando-

se Emanuel, isso equivale de fato ao recomeço de tudo, à Nova Criação. É preciso partir de

uma situação de caos, um caos espiritual que se limita a revelar a realidade do desastre que

se tornou para Deus a sua própria criação. Produz-se o equivalente ao dilúvio, das dez pragas

do Egito. Por duas vezes Deus quer recomeçar tudo. E, finalmente, a salvação é decidida na

sua própria encarnação. É um recomeço total. De forma alguma, trata-se de destruir toda a

humanidade para fazer materialmente outro mundo. Trata-se de uma espécie de aniquila-

mento espiritual, visando uma nova criação espiritual. Por isso, João fala do novo nascimen-

to, o nascimento espiritual. O que o ser humano julgava ter como luz, como domínio sobre a

criação é destruído. É esse o sentido do Absinto e dos gafanhotos. O que caracteriza estes

gafanhotos é a mistura (9.7-11). No Antigo Testamento a mistura é o próprio sinal da “con-

tra-criação”. A criação é caracterizada pela separação. A obra dos gafanhotos é a morte espi-

ritual dos homens: o que é a verdadeira e profunda tortura, a angústia, o desespero. As pes-

soas querem morrer e não conseguem, pois a morte espiritual está além da morte. Estes

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gafanhotos, porém, têm um prazo de cinco meses para agir. Isto significa um limite. É certo

que o poder do abismo é limitado. Nem tudo poderá ser destruído.

A Sexta Trombeta (o segundo ai), proclama a morte física (Ap 9.13-11.14). Os cavalei-

ros representam quase um paralelo com os gafanhotos. Contudo, há duas diferenças: os

cavaleiros podem matar totalmente um terço das pessoas, enquanto que os gafanhotos

apenas atormentam; na sexta trombeta as pessoas são colocadas diante de uma escolha, ao

passo que na visão dos gafanhotos as pessoas não têm mais saída, elas procuram a morte. O

quadro dos cavaleiros quer nos trazer a mensagem de que é chegado o momento de se de-

cidir, de se arrepender. Trata-se da pregação do arrependimento, do apelo à conversão para

reconhecer Jesus como Salvador. Os cavaleiros representam a outra face do quadro dos ga-

fanhotos: de um lado a morte espiritual e do outro o apelo à conversão. A referência aos

quatro anjos estarem amarrados mostra que Deus faz uso das forças espirituais do mal para

executar o seu juízo. A ideia subentendida é que estes anjos maus são controlados por Deus;

enquanto Deus não permitir, eles não poderão agir. Eles são nada mais que instrumentos do

julgamento divino, executando-o como parte do plano divino para com o mundo rebelde5.

Este espetáculo de desolação da Sexta Trombeta, na visão João, é bruscamente interrompi-

do pela cena de outro anjo poderoso descendo do céu com um livrinho aberto (Ap 10). Esta

interrupção é intencional, a fim de mostrar que uma força positiva e benigna se opõe vitori-

osamente aos sinais de morte que se espalharam por toda a terra. O anjo que desce do céu

não é apenas forte, mas sua figura tem as feições majestosas de Deus, são elementos descri-

tivos das manifestações de Deus. Assim, fica evidente que o anjo é uma expressão da mani-

festação de Deus, que intervém na História. Esse anjo, como manifestação de Deus, vem

trazendo um livrinho aberto. Já não se trata de nenhum livro selado, mas de um livro aberto,

portanto, inteligível a todos. Este livrinho simboliza a revelação plena de Deus em Jesus Cris-

to, o verbo de Deus, o Evangelho. Contudo, ainda há aspectos que Deus não quer revelar por

completo. Deus vai fazê-lo em momento oportuno, sem demora, ao soar a sétima trombeta.

É neste momento que vai cumprir-se o mistério de Deus, que é Cristo (Cl 2.2). Após João ter

visto o anjo com o livrinho na mão, ele recebe a ordem de se aproximar dele para receber o

livrinho e comê-lo. Isto quer dizer que a mensagem do Evangelho deve ser incorporada à

vida do cristão. O cristão deve identificar-se com a mensagem do Evangelho, deve alimentar-

se dele. Ao receber o livrinho e devorá-lo João precisa profetizar a seu respeito; deve pro-

clamar o conteúdo do livrinho; deve proclamar quem é o Cristo e seu ministério. Esta pro-

clamação é apresentada no capítulo 11. A mensagem deve ser anunciada a muitos povos,

nações, línguas e reis. A mensagem agora adquire a perspectiva universal. Após João ter re-

cebido a ordem de comer o livrinho, que estava na mão do anjo e de proclamar seu conteú-

do (Ap 10) ele recebe a ordem de medir o santuário de Deus (Ap 11.1-2). Medir, na Bíblia,

sempre impõe um limite, revela um domínio, conhecimento ou conscientização sobre algu-

ma coisa. O ato de medir é um símbolo para a proteção e a preservação. A ordem de medir o

5 Em Ap 9.20 aparece um reflexo do ensino bíblico acerca da idolatria. Por um lado, os ídolos são nada (Is 44.1-20; 1 Co

8.4); mas, por outro lado, por detrás dos ídolos atuam os demônios (Lv 17.7; Dt 32.17; Sl 106.37; 1 Co 10.20). Por esta

razão: sacrificar a ídolos é associar-se a demônios.

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santuário de Deus quer mostrar a limitação que Deus impõe ao mundo que é hostil a seu

povo. Apesar das aparências, é Deus quem continua tendo o domínio sobre todas as coisas

que acontecem ao seu povo; dentro do mundo, existe um lugar – a Igreja – que é especial-

mente guardada por Deus. A Igreja tem especial predileção da parte de Deus. Assim como a

cena do anjo com um livrinho aberto, a ordem de medir o santuário é uma intervenção posi-

tiva de Deus para dentro da História.

É dentro deste quadro maior do Sexto Selo – que mostra a desolação que vem sobre

o ser humano; da revelação de quem é Deus em Cristo; da ordem para que esta mensagem

seja pregada e incorporada na vida de João; da ordem de que sejam estabelecidos os limites

entre a Igreja e o mundo que se opõe a Deus – que está inserida a cena das duas testemu-

nhas mártires. O quadro das duas testemunhas mártires (Ap 11.3-13) é o coração da revela-

ção trazida pelo Apocalipse. Trata-se da revelação de quem é Jesus, o Cristo. Jesus é o Filho

do Homem e é, ao mesmo tempo, o Filho de Deus ou, para usar as palavras do Credo Apos-

tólico: Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Portando, estas duas personagens são

uma única: Jesus. Tudo é absolutamente idêntico para ambas as testemunhas, não há dife-

rença nenhuma na sua morte e no seu destino. Em Jesus encontram-se as duas testemunhas

de Deus: Israel e a Igreja. Jesus é a dupla testemunha de Deus, é o duplo mártir de Deus. O

tempo de atuação destas duas testemunhas é uma referência ao ministério terreno de Jesus.

Este tempo expressa, ao mesmo tempo, o período de crise e sofrimento e o tempo cronoló-

gico de sua atuação (1260 dias = 42 meses = 3 anos e meio). O pano-de-saco sempre é ex-

pressão de arrependimento. Significa a pregação do arrependimento. As duas testemunhas

têm autoridade e poder, contudo não fazem uso deste poder. Apesar de todo o seu poder

são mortas. Jesus não usou o seu poder para poder escapar da morte. Ele veio para uma

missão (Mt 26.53s). O nome simbólico atribuído a Jerusalém é Sodoma e Egito (v.8). Por ex-

celência, são lugares da rebeldia, ódio e oposição contra Deus, lugares da recusa total da

vontade de Deus. Assim é Jerusalém. Por isso, quando Jesus morre o mundo sem Deus faz

festa, se alegra, canta vitória, porquanto não consegue ouvir a Palavra que sai da boca de

Jesus, pois é como fogo que queima. Isto é algo insuportável para um mundo sem Deus, re-

voltado contra Deus (v.10). Contudo, depois de três dias e meio acontece a ressurreição e

sobrevém grande medo (v.11). Por fim, as duas testemunhas são convidadas para subir ao

céu. É o registro da ascensão de Jesus ao céu. Ouve-se, então a Sétima Trombeta, o terceiro

ai (Ap 11.15-19).

A Sétima Trombeta apresenta o que acontece quando Cristo sobe ao céu. Enquanto a

Sexta Trombeta fala da encarnação e ministério de Cristo no mundo, a Sétima fala da encar-

nação vivida no céu. Este ministério é essencialmente apresentado como Nova Aliança. É a

aliança feita pela união, na pessoa de Jesus, da totalidade do ser humano com a totalidade

de Deus. Já não se trata daquele que vem ou que será, visto que a plenitude é completa-

mente realizada no céu e na terra. Não há mais nada para vir, porque não há nada para

acontecer depois desta aliança. Trata-se do julgamento do mundo e da soberania de Jesus.

Foi porque o Cristo se tornou carne em Jesus e porque morreu e ressuscitou pelos pecados

de todas as pessoas que este mundo é agora de nosso Senhor e do seu Cristo. É a partir do

momento em que Deus escolheu a via da não onipotência e da morte, via ressurreição, que

o reino do mundo passa a pertencer verdadeiramente a Jesus. O mundo também pertence a

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seu Pai, que já não reina por causa de suas qualidades de criador (que continuam), mas em

virtude do seu amor e do seu sacrifício. O Pai deu a Soberania ao Filho, mas o Filho, pela sua

obediência, restitui a realeza ao Pai.

A seguir é anunciado o tempo do julgamento, porque esta decisão de Deus obriga as

pessoas e as nações a tomar posição diante daquilo que Deus revela. Já não é possível consi-

derar que Deus está no céu e que deve ficar lá, não obrigando a nada. Deus tornou-se pre-

sente em nosso meio, irrecusável. Já não é possível revoltar-se contra um Deus que é só po-

der e anonimato. Precisamente este Deus tornou-se o mais fraco dos homens, recusou agir

pela coação, deu testemunho do seu amor absoluto. A sétima trombeta adverte do momen-

to final e efetivo do julgamento do mundo e da soberania de Jesus. O tempo do julgamento

é chegado. O cenário está preparado para o juízo final. Vejamos o que isso significa.

IV – A NOVA CRIAÇÃO: O JULGAMENTO DE DEUS

A Sétima Trombeta termina com mais uma manifestação da presença de Deus e, com

isso, faz a transição para introduzir os Sete Flagelos: o julgamento de Deus e a nova criação.

(Ap 12-21.5). O tema é introduzido pelos capítulos 12-14 e está centralizado nas sete taças

ou flagelos (Ap 15-16). Este tema tem uma longa preparação, posterior explicação e apro-

fundamento, onde os setenários anteriores são retomados. Novamente muito importante é

relembrar que o Apocalipse é revelação! Não se trata de uma descrição de como vai termi-

nar o mundo, mas de um olhar para “dentro da História”, para que nos apercebamos de que

a realidade é muito mais do que nós vemos com os nossos olhos físicos. Os Flagelos querem

ensinar basicamente duas coisas: o significado do julgamento do mundo em Cristo e as con-

sequências desse julgamento. Na introdução deste tema, João relata que Apareceu no céu

um sinal extraordinário (Ap 12.1). A terminologia empregada indica uma intervenção extra-

ordinária e concreta de Deus na História, para defender e libertar o seu povo (Mt 16.3,

26.48; 24.3; Jo 2.11; At 2.19). João está diante de uma ação extraordinária de Deus. Estamos

diante de um evento majestoso. Algo muito grande da parte de Deus vai acontecer! É anun-

ciada a intervenção definitiva de Deus na História. Não podemos esquecer que estamos no

nível cósmico. Estamos diante do céu com Miguel e seus anjos e diante do inferno, com o

Diabo e seus anjos. Em primeiro plano aparece a mulher. Ela é apresentada com toda a ma-

jestade que é possível imaginar. A mulher é um símbolo! O símbolo sempre tem uma varie-

dade de significados. Está justamente nisso a riqueza em se utilizar símbolos para descrever

uma realidade complexa. Há várias faces para a figura desta mulher que dá à luz um menino.

É no seu conjunto que revelam o significado do quadro simbólico. Um aspecto não elimina o

outro, mas deve ser agregado aos demais. O sinal da mulher é a Eva, a “mãe de toda a hu-

manidade” (Gn 3.20). Somos lembrados ainda da inimizade entre a serpente e a mulher e da

vitória de sua posteridade sobre a serpente (Gn 3.15). O sinal da mulher é Sião, que gera o

Messias e os crentes (Is 37.22; Os 2.2ss). O sinal da mulher é Maria, a mãe de Jesus. Numa

perspectiva maior, o sinal da mulher é a imagem de toda a criação, que se uniu com Deus

para "gerar" um novo mundo. A forma como a mulher é apresentada expressa essa totalida-

de da criação e do povo de Deus. O menino que nasce é, sem dúvida, uma referência a Jesus.

O Messias nasce dessa “mulher”, que é o conjunto de toda a criação. O Messias é gerado

17

dentro dessa História, dentro dessa criação. Conforme a compreensão do símbolo da mu-

lher, o nascimento do menino é o resultado da união entre a criação e o Criador. Isto signifi-

ca o aparecimento de uma nova criação. Agora existe uma nova origem, um ponto de parti-

da radicalmente diferente de tudo o que existia antes, uma nova identidade. A História já

não caminha para a morte, mas para a vida. A morte já foi vencida! A morte não tem mais

poder. Dentro da perspectiva desta realidade cósmica e eterna, o nascimento de Jesus deve

ser lido a partir da sua vitória sobre a morte, na ressurreição de Cristo. Isto para que com-

preendamos que no momento do nascimento de Jesus já estava determinada a sua vitória

sobre a morte. E é justamente por isso que o Dragão quer devorar o filho que nasce da mu-

lher, pois ele sabe que será derrotado por esse “menino”. O Dragão precisa impedir a encar-

nação de Cristo. Se esta encarnação se realizar, tudo estará perdido para Satanás. Ele já não

poderá aniquilar a criação e destruir o ser humano. É justamente esta encarnação que justi-

fica e provoca o aparecimento do Dragão. Até aqui havia tido lugar para a força da morte e

do caos no mundo, pois o ser humano estava separado de Deus, havia uma brecha, uma

distância entre a criação e o Criador; todavia, com a vinda de Jesus esta brecha foi fechada e

as potências do mal foram expulsas. O que vence estas potências malignas não é uma bata-

lha, como se poderia imaginar; mas é a realização, em Cristo, da perfeita vitória do amor de

Deus na humildade e na entrega. A vitória de Deus sobre as potências malignas é a vitória do

amor. Se Deus tivesse condenado a humanidade teria feito o que o Diabo lhe sugeria. Se

Deus entregasse o ser humano à morte estaria fazendo exatamente o que o Dragão lhe pe-

dia. Se Deus abandonasse a criação à destruição estaria concedendo a vitória ao Diabo, pois

ele desejava quebrar a relação entre o Criador e sua criação. É justamente quando Deus se

fez carne, para habitar entre nós, que ele demonstrou o seu amor. Ele não entrou no "jogo"

das potências, mas tomou sobre si o juízo destinado à humanidade.

Agora, um aspecto muito importante precisa estar claro para as razões pelas quais o

Evangelho é anunciado e o modo como ele é anunciado. Estas potências malignas foram

vencidas, mas não estão destruídas (Ap 12.9, 13)! As potências apenas perderam o seu po-

der decisivo, elas não podem mais vencer! A Encarnação de Jesus é o começo, a continuação

deve realizar-se na terra. É necessário que haja também a vitória do ser humano sobre as

potências. É por isso que elas estão na terra. Na terra estas potências podem fazer com que

as pessoas pereçam, podem acusar e destruir. Mas... por que as potências ainda têm poder

aqui na terra? Por que, ao invés de serem lançadas para a terra, não foram destruídas com-

pletamente? Por que não houve vitória total também para a terra? Por que este prazo de

tempo? Por dois motivos. Primeiro, se fosse vitória total teria sido apenas uma competição

de forças entre Deus e o Diabo. É isso que o tentador propõe. Segundo, estaria excluído o

amor. Seria a vitória do poder. A maneira decidida por Deus é a vitória do amor. As potên-

cias são excluídas apenas aí onde o amor triunfou. O período de tempo, ao qual se referem

os v. 6 e 14, é o tempo simbólico da provação para o ser humano6. É o tempo do deserto. É

o tempo em que o Dragão inicia o combate contra os descendentes da mulher, que é a Igreja

(v.17). Trata-se de saber se o ser humano vai seguir a Jesus ou não; se vai aceitar o plano de

6 Esse tempo passou a ser entendido como símbolo de sofrimento e provação porque nos anos de 168-165 a.C. houve

um período de 1260 dias (= 42 meses) de perseguição aos judeus por um governante grego, chamado Antíoco IV (Dn 7.25; 12.7).

18

Deus ou não; se vai aceitar esta unidade com Deus ou não. Este prazo representa o "reco-

meço da história de Adão”; representa o respeito pela liberdade do ser humano. Deus torna

a fazer o ser humano livre. Por esse fato, o ser humano ainda pode recusar todo o amor de

Deus. Este é o tempo do ser humano optar, pois Deus o libertou do Diabo. Agora ele está

livre, totalmente livre, livre para escolher. Nisto, mais uma vez, consiste o amor de Deus: ele

não força, ele convida, ele mostra o seu amor, a sua oferta. É justamente esta liberdade que

é a provação do ser humano! Fica evidente, portanto, que o ser humano é responsável pelo

seu destino eterno, é sua livre escolha. Compreender isso é fundamental para a nossa visão

de Deus e do modo como anunciamos o Evangelho (Jo 3.16-18, 36).

É com base no quadro do capítulo 12 que aparece a visão das duas bestas (Ap 13). As

duas visões estão interligadas. Já fomos informados de que o Dragão foi jogado para a terra.

Isso quer dizer que estamos diante de poderes diabólicos, que agem sobre a terra. Portanto,

mais um aspecto da História que é revelado aqui: o Diabo age na História usando estruturas,

instituições e pessoas para realizar a sua obra de oposição a Deus e aos que nele creem7. A

primeira besta representa um poder absoluto, permanente e que se refere à segunda besta

no plano religioso-ideológico. Neste poder de comando tão absolutizado reside uma preten-

são de blasfemar contra Deus. Isto significa que este poder quer se igualar ou roubar o co-

mando de Deus. Os imperadores romanos entediam a si como divindades ou filhos de deu-

ses; muitos deles mandaram construir templos e instituíram sacerdotes para dirigir o culto à

sua pessoa. O fato de haver pluralidade na apresentação desta besta indica que não se trata

de um poder particular, mas de um poder que tem muitas faces. João está dizendo que o

poder do Império Romano lhe foi conferido pelo Diabo e é com base neste poder que exerce

a sua autoridade. Somos apresentados ao poder político como um poder autônomo em si; é

o poder absoluto da “máquina” política do Estado, que busca o seu fundamento, os seus

princípios, não em Deus, mas no Diabo. Num primeiro momento, é um poder abstrato, mas

que logo adquire vida em si mesmo, autonomia para comandar. Isso é plenamente compre-

ensível para nós que todos os dias vemos a miséria gerada pela máquina do Estado, seja ela

local ou mundial. A glória de Deus no serviço ao próximo não tem lugar neste contexto. A

besta é ferida mortalmente numa das cabeças, mas é curada. O que quer mostrar que o po-

der político é constantemente questionado, ferido, mas sempre se recupera novamente e se

fortalece, conquistando novos adeptos. Esta besta exerce a totalidade e a plenitude do po-

der sobre todo o mundo (aqui o símbolo extrapola o Império Romano). Estamos falando da

face do poder político do Estado, que pode fazer perecer, mas também seduz e tem a capa-

cidade de conquistar adoradores. É justamente desta forma que o poder político se ergue

7 Tradicionalmente as duas bestas têm sido interpretadas como sendo o Império Romano (que emerge do mar) e o falso

profeta, a estrutura do culto ao imperador (que emerge da terra). Contudo, a sua simbologia não se esgota aqui. Esta é

a concretização da mensagem para aquela época. A visão, justamente por isso, tem muito mais a dizer. A visão é uma

reinterpretação de Dn 7. A besta emerge do mar. O mar representa o abismo, o lugar de onde vem o Diabo. Chifre, na

Bíblia, é tradicionalmente entendido como sinal de poder. Dez chifres significa elevar o poder ao máximo, ao absoluto. A

cabeça é símbolo de chefia, elevada à plenitude por meio do número sete (perfeição). A besta tem ainda, sobre os chi-

fres, dez diademas/coroas, sinal da realeza (rei).

19

como um concorrente de Deus. Este poder é dado à besta pelo Diabo, contudo é limitado

por Deus (v.5-7).

A segunda besta é descrita como parecendo um cordeiro, mas que fala como Dragão.

Esta besta apresenta-se num disfarce: à primeira vista, sua oferta é boa; contudo, o efeito da

sua atuação é destruição e blasfêmia. Esta besta age através da palavra. É ela que anima a

primeira besta e lhe dá a palavra. Ela age com o controle e o poder da primeira besta. A sua

finalidade é levar as pessoas a adorar a primeira besta. A segunda besta simboliza toda a

infraestrutura do Império Romano, que estimula, propaga e executa o culto ao Imperador;

ela seduz as pessoas por meio daquilo que o Estado é capaz de fazer (v.13-14). Esta besta faz

com que seja erguida uma imagem à primeira. Para a época, isso quer dizer: levar a adorar a

imagem do imperador como Senhor e Deus. Mais uma vez, a arma da segunda besta é a pa-

lavra. É através da segunda besta que a primeira pode falar. Estamos diante da obra de ani-

mação de uma estrutura, de uma organização, de um mecanismo de poder que se torna

presença viva e vital para a sociedade. O que desempenha exatamente este papel hoje é a

propaganda, a mídia; a propaganda da ideologia política do Estado. É muito importante ob-

servar a distinção entre as duas visões: uma é a organização do poder, que é a estrutura do

Estado; a outra é a animação desta estrutura por meio da propaganda. De um lado está o

rigor, o controle, a opressão; do outro lado, a convicção. A obra da segunda besta, porém,

não termina aí. Ela faz com que seja posta uma marca na mão direita ou fronte. A marca é o

símbolo da dependência ou propriedade. A propaganda faz com que as pessoas pertençam a

este poder político. A mão direita é o símbolo da ação: as pessoas devem agir de acordo com

a ordem e a organização do Estado. A fronte é o símbolo da inteligência: as pessoas devem

pensar conforme o pensamento do Estado. Trata-se, portanto, da ideologia política, da ado-

ração não apenas do Estado, mas da política do Estado, do seu modo de pensar. As duas

bestas descrevem os dois aspectos do Estado, que existe sob o primado do político, cuja ori-

gem é diabólica. Este poder é exercido sobre todas as pessoas, não interessando sua classe

social. Todos estão submetidos ao poder do Estado. É necessário submeter-se às suas regras.

Caso contrário não será possível nem ao menos fazer o indispensável: comprar e vender

(v.16s). Não é exatamente um problema de dinheiro, mas é uma questão de dependência do

indivíduo da sociedade. Todos vivemos dependentes desta sociedade, não se consegue ser

autônomo. Somos dependentes! Não é possível recusar-se a entrar na corrente coletiva.

Aquele que tenta fazê-lo será colocado à margem. A origem das duas bestas ilustra bem o

domínio das mesmas: uma atua sobre a terra e a outra sobre o mar. Todo o globo terrestre

está implicado na atuação destas duas bestas.

A visão do Cordeiro sobre o monte Sião, junto com os redimidos (Ap 14), é posta em

contraposição à visão das duas bestas. Ela é antecipadora da realidade da salvação. Retrata

o destino do povo de Deus que se manteve fiel a Cristo, mesmo frente à morte. A visão reve-

la a realidade mais profunda e tem o propósito de confortar os crentes da época, constan-

temente submetidos à morte por não se submeterem ao culto ao imperador. A visão revela

que a vitória final não é da besta, do Império Romano, mas do Cordeiro. Na Bíblia, monte

Sião é o lugar de libertação e vitória (Sl 2.6s; Ap 21.2). João vê o que nos é dado como pro-

messa na Escritura. Os três anjos proclamam três elementos de um mesmo anúncio: o Evan-

gelho, a condenação e a opção de escolha (14.6-12). A base deste anúncio é o Evangelho

20

eterno, proclamado pelo primeiro anjo. É a possibilidade de o homem voltar para Deus. Em

seguida temos o reverso deste anúncio, proclamado pelo segundo anjo: é a condenação da

potência oposta a Deus. Esta dupla proclamação apresenta a opção de escolha, proclamada

pelo terceiro anjo. É a partir desta “escolha-decisão” que se define o julgamento: a salvação

ou tormento sem fim (inferno). A quarta voz que João ouviu não é identificada (v.13). Diz-se

apenas que João ouviu “uma voz dos céus”. Ela anuncia a bem-aventurança àqueles que fize-

ram a escolha certa: "que morrem no Senhor". Logo a seguir o Filho do Homem (Jesus) se

prepara para a colheita, junto com ele aparecem outros três anjos (Ap 14.14-20). O primeiro

anjo transmite a ordem de Deus para que se comece a ceifa. O segundo anjo tem a foice e o

terceiro anjo dá a ordem para que este segundo anjo, com a sua foice, corte os cachos da

videira. O que então se colhe é destinado para o furor, isto é, para a condenação. Este ainda

não é o julgamento em si; é apenas o anúncio e a proclamação de quem exerce este julga-

mento. O texto coloca uma diferença clara entre a ceifa (v.14-16) e a vindima (v.17-20). A

ceifa, o julgamento para a salvação, é feita por Jesus, por ordem do Pai; com a vindima, o

julgamento para a cólera, não acontece a mesma coisa, é um anjo quem desempenha a tare-

fa, por ordem de Deus. Apenas com os capítulos 15-16 chegamos ao julgamento ou juízo

final.

Todavia, três questões preliminares devem ser vistas antes de iniciarmos o estudo

dos próximos capítulos acerca do julgamento: a importância do julgamento; a diferença en-

tre julgamento e condenação; e, o tipo de julgamento e a quem ele visa. Há uma tendência

teológica e espiritual atual que minimiza ou até descarta essa possibilidade do julgamento

de Deus. Porém, se realmente cremos que Jesus Cristo é o Messias, o enviado de Deus, en-

tão não podemos descartar este julgamento da criação de Deus. Todavia, devemos fazer

uma distinção entre julgamento e condenação. Aqueles que são julgados não são forçosa-

mente condenados. Todos precisarão comparecer diante do tribunal de Cristo (Mt 25.31s). O

julgamento está vinculado à posição que assumimos diante de Cristo. Estamos diante do

julgamento que é sempre e ao mesmo tempo atual e final. O julgamento é atual na medida

em que as pessoas que ouvem a pregação do Evangelho se posicionam diante do mesmo. É

final no sentido de que haverá um julgamento no final da História do mundo. Quem crê já

está salvo! Quem não crê já está condenado! Isto quer dizer que, enquanto vivemos nossa

salvação ou condenação sempre está decretada, porém, não executada (Jo 3.16-21). No en-

tanto, apesar disso, resta uma salvação e uma condenação que será expressa no dia em que

Cristo voltar.

Em Ap 15.1 é anunciado que João viu no céu “outro sinal, grande e maravilhoso”. As

Sete Taças representam o conteúdo da cólera de Deus. Novamente é preciso lembrar que os

Sete Flagelos não tratam de nenhuma predição de como o mundo vai acabar. Assim como

nas pragas do Egito, o sentido dos flagelos é colocar as pessoas diante da necessidade de se

posicionar, para que escolham, se convertam, voltem para Deus, antes do juízo, para que

não sejam condenadas. Assim como no Egito, é a recusa à conversão que provoca os flage-

los, porém agora se trata da humanidade inteira. A blasfêmia, em virtude dos flagelos, mos-

tra exatamente quão longe o ser humano está de Deus. Ele blasfema porque não entendeu

nada daquilo que Deus quer para ele. Portanto, os Sete Flagelos (Ap 16) não são ainda o juí-

zo final, mas o último apelo de Deus para a conversão.

21

Os capítulos 17-20 detalham os Sete Flagelos, em duas partes: a condenação e a des-

truição dos poderes que atuam na História (Ap 17.1-19.10) e a condenação da Besta e a des-

truição do Diabo (Ap 19.11-20.15). Na condenação e a destruição dos poderes que atuam na

História trata-se da descrição simbólica da realidade da qual Roma é o símbolo, descrita nos

capítulos 17 e 18. Todo este quadro é mostrado como já realizado. Esta forma de mostrar a

realidade como já existente é constante no Apocalipse, pois a revelação mostra a realidade

inteira como ela é, sob a perspectiva da eternidade. O futuro sempre é mostrado como uma

realidade já existente. Para nós é importante sabermos que nada desta realidade vai mudar

essencialmente. O que Deus tem reservado aos que o amam já está aí; de igual forma, tam-

bém o juízo e destruição de tudo o que se opõe a Deus. O propósito da mensagem do Livro

de Apocalipse é mostrar aos cristãos o que está à espera daqueles que são fiéis a Jesus (Ap

17.14). No capítulo 17 Roma é mostrada sob o ponto-de-vista do poder político, como Esta-

do. No capítulo 18 é revelada a outra face de Roma: a cidade como o lugar da obra e da rea-

lização humana sob todas as suas formas. As duas visões enfocam o contraste vívido entre a

glória passada de Roma com sua miséria e devastação futura. Aqueda de Roma é anunciada

como fato acontecido. O julgamento e a destruição da cidade não inclui a destruição das

pessoas. Elas lamentam pela destruição da cidade, no entanto, não são destruídas junta-

mente com ela. As pessoas se lamentam, vendo desaparecer a obra de suas mãos, o seu

trabalho, a sua grandeza. Ap 19.1-10 encerra o tema do julgamento da grande meretriz e

descreve o júbilo no céu, devido a esta vitória do cordeiro sobre estes poderes. Até aqui o

Apocalipse descreveu a destruição dos poderes históricos, as estruturas de poder: a Política

e o Dinheiro. Contudo, a condenação dos poderes que atuam através destas estruturas de

poder ainda não aconteceu. A sua condenação, no entanto, já está decretada. Isto nos ensi-

na que não são as estruturas de poder as verdadeiras criadoras da História, mas as forças

que atuam por trás delas. Para maior clareza é necessário fazer uma diferenciação entre

condenação e destruição. As estruturas de poder foram destruídas, não houve condenação

sobre elas, pois são apenas obras, construção. O que é condenado é o espírito de poder que

age dentro ou através das estruturas. Esta condenação é descrita em duas etapas: a conde-

nação da Besta (Ap 19.11-20) e a destruição do Diabo (Ap 20).

A condenação e a destruição do Diabo está registrada em Ap 19.11-20. Somente ago-

ra entramos no juízo final de Deus. A expressão com a qual inicia o texto “Vi os céus abertos”

é indicativo claro de que mais uma vez estamos diante de uma visão (Ez 1.1). João está des-

crevendo uma revelação e, neste sentido, descreve uma verdade que já é realidade no céu.

Cristo é apresentado como o vencedor dos poderes da História, como o Cristo glorificado. As

referências à majestade e glória de Cristo são inconfundíveis. Ele é o Senhor que luta pelo

seu povo (v.11-16)! A seguir é descrita a celebração da vitória de Cristo sobre os poderes da

História que se opunham a Cristo (v.17-21). É um convite para o “grande banquete de Deus”

(v.17) ou “banquete do casamento do Cordeiro”, como lemos no v.9. Estes poderes foram

amplamente descritos nos capítulos 13 e 17-18. João vê que agora foram definitivamente

destruídos. O lugar para onde são lançados é designado “lago de fogo” (v.20). É a indicação

de que este juízo final na História aconteceu. Mais uma vez é dito que a salvação ou conde-

nação acontece pela palavra de Deus que sai da boca de Cristo. As pessoas são mortas “com

a espada que saía da boca daquele que está montado no cavalo” (v.21). Já vimos que a es-

22

pada que sai da boca de Cristo é a palavra de Deus. Quem não creu na palavra de Cristo,

agora é condenado por esta palavra. Este ensino nós encontramos com clareza no Evangelho

de João (Jo 5.24; 6.68; 8.31s, 51; 12.47s).

A prisão de Satanás e a primeira ressurreição é registrada em Ap 20.1-10. O período

dos mil anos, durante os quais Satanás ficará preso, é o tempo compreendido desde a mor-

te, ressurreição e ascensão de Jesus até a sua volta. Em outras palavras, o milênio é o tempo

de duração da Igreja na terra. É ensino corrente no NT de que os que creem em Cristo tam-

bém reinam com Cristo e aqui o Apocalipse não está ensinando nada diferente. O que tem

confundido muitas pessoas é o emprego da expressão “mil anos”. Isto acontece pelo fato de

se fazer uma leitura literal da contagem do tempo. Todavia, temos aprendido que no Apoca-

lipse mil é uma grande quantidade que não se pode contar. Assim, mil anos é um tempo

longo, não exatamente determinado para nós. Jesus disse aos seus discípulos que o tempo

em que seria instaurado o Reino de Deus é conhecido somente pelo Pai. O NT ensina que o

Diabo já está vencido por Cristo; que isto aconteceu na cruz, mas que Satanás não foi ainda

destruído definitivamente, o que acontecerá quando Cristo voltar pela segunda vez para o

juízo. Isto é dito aqui no Apocalipse e nada diferente! Quando Jesus morreu pelos nossos

pecados o Diabo foi amarrado. Como? O Diabo acusava constantemente o ser humano dian-

te de Deus por causa de seus pecados, por causa de sua culpa diante Deus. Jesus, todavia,

veio e pagou a culpa de todas as pessoas diante de Deus. O Diabo, portanto, não têm mais

como acusar. Ele, no entanto, continua tentando o ser humano para que não aceite a oferta

de Deus e assim seja perdoado. A expressão: “amarrado” exemplifica bem uma ação limita-

da de alguém. Depois da morte e ressurreição de Jesus, o Diabo ficou com o poder e ação

limitada. Esta é a situação do Diabo dentro da nossa história humana até que Jesus volte

para o juízo final. Todos aqueles que creem em Cristo reinarão com ele durante este perío-

do. Quando este período acabar Satanás será solto. Este detalhe de Satanás ser solto faz

parte da compreensão corrente do judaísmo tardio: ao final da História Satanás seria solto

para então ser definitivamente destruído8.

Em Ap 20.11-15 chega-se à etapa final: o fim da própria morte. A morte, no entanto,

não pode ser eliminada sem que a criação seja eliminada. Nós já vimos este começo da “des-

criação” ou “contra-criação” no momento da encarnação do Filho de Deus (Ap 8-11). Che-

gamos agora ao ponto culminante, com a proclamação de que o céu e a terra desaparecem

sem deixar vestígio. Não se trata aqui de uma volta à criação originária, onde o mesmo ciclo

8 O mesmo ensino que temos aqui no capítulo 20 já foi apresentado no capítulo 5 e 12-14. Em Ap 5.10s lemos “com teu

sangue compraste para Deus gente de toda tribo, língua, povo e nação. Tu os constituíste reino e sacerdotes para o

nosso Deus, e eles reinarão sobre a terra”. Nos capítulos 12-14 o Apocalipse nos ensina que o Diabo já foi derrotado no

céu, mas que no contexto da nossa história humana lhe foi dado ainda um tempo limitado por Deus (Ap 13.5), que é o

tempo no qual os crentes vivem aqui na terra. Ao final desse tempo virá o juízo. De modo semelhante, em Ef 2.4-7 a

Escritura nos ensina que Deus nos ressuscitou com Cristo e “com ele nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo

Jesus” (v.6); em 2 Tm 2.11s lemos: “se morremos com ele [Cristo], com ele também viveremos; se perseveramos, com

ele também reinaremos”. Quem crê em Cristo já ressuscitou! Esta é a primeira ressurreição, da qual fala Ap 20.5-6. E

quem já ressuscitou com Cristo já venceu a morte de modo que sobre esse “A segunda morte não tem poder (...); serão

sacerdotes de Deus e de Cristo, reinarão com ele mil anos” (v.6). A segunda morte é a condenação ao inferno!

23

iniciado com Adão e Eva poderia continuar. Esta criação original é apagada de um modo ra-

dical. Não nos é anunciada uma restituição daquilo que existia no começo, o restabeleci-

mento do Éden. Mas, para atestar a destruição da morte, é preciso que os vencidos pela

morte sejam chamados à presença do trono de Deus; que tudo ressuscite conforme a ima-

gem de Jesus. E quando todas as pessoas tiverem ressuscitado (crentes e não crentes, bons e

maus), então a morte e a morada dos mortos será destruída. Somente restará a vida para

aqueles que creram em Jesus! Os demais serão condenados e atormentados de dia e de noi-

te pelos séculos dos séculos (20.10; 21.8). Como podemos ver, mais uma vez, o único critério

para a salvação é estar inscrito no Livro da Vida (20.15); é ter aceitado Jesus como único Se-

nhor e Salvador. Afora ele não há salvação!

Resumindo, podemos observar o desenvolvimento do julgamento. Em primeiro lugar,

é julgado o ser humano; em segundo lugar, são julgadas as estruturas de poder (Estado, po-

der econômico, cidade); em terceiro lugar, são julgados os poderes que atuam por trás e por

dentro das estruturas de poder, o espírito do poder (bestas); e em quarto lugar, é julgada a

morte, em nome de quem pode reinar o Dragão. Porém, cuidado! As coisas não acontecem

na ordem em que são descritas. Estes julgamentos não acontecem na ordem cronológica do

tempo, uma depois da outra. O Apocalipse apresenta um ensino e, para podermos compre-

ender melhor, é preciso estabelecer uma sequência pedagógica. Não existe sucessão tempo-

ral em tudo isso. Trata-se do desígnio de Deus, da ação de Deus calculada na eternidade.

Não devemos interpretar estes textos num esquema temporal. Especialmente pensando nos

mil anos em que Satanás será preso. Isso não pode ser interpretado como sendo um período

da história da humanidade.

Somente depois do juízo efetivado encontramos a visão da Nova Criação, a qual nos é

descrita como a Nova Jerusalém (Ap 21-22.5). É necessário lembrar que esta Nova Criação

chega apenas por causa do julgamento e da destruição da primeira criação. Ao lado disso,

devemos lembrar ainda que a Nova Jerusalém não é o resultado da obra dos homens, do

progresso humano (nesse caminho chegamos sempre na "Babilônia"), mas é o resultado da

ação de Deus. A Nova Criação desce do céu; ela vem de Deus. No Apocalipse não existe ne-

nhuma ideia de realização por meio de um progresso histórico, as coisas antigas se apagam.

É por isso que neste novo céu e nova terra não será encontrado nada do que era antigo (Ap

21.3-5). Neste novo mundo será estabelecida uma comunhão total entre Deus e o ser hu-

mano. Tudo isso só o próprio Deus pode realizar, ninguém mais. É a obra de Deus.

Como palavra final do anjo é reafirmada a fidelidade do que João viu e ouviu (Ap

22.6-11). O propósito das revelações não é satisfazer a nossa curiosidade em relação ao fu-

turo, mas mostrar aos crentes aquilo que os espera no futuro; o propósito é fortalecer a es-

perança e manter a fé no contexto da perseguição. É dito que tudo o que João viu, no céu já

está pronto e será concretizado na terra (Ap 22.6s). Isso é um chamado para que vivamos

sempre na expectativa da vinda iminente do Senhor Jesus. As advertências bíblicas contêm

uma tensão espiritual e moral de expectativa e perspectiva. O termo profecia deve ser en-

tendido como palavra inspirada por Deus. Todos aqueles que guardarem estas palavras ditas

por Deus serão bem-aventurados.

24

A recomendação é que João anuncie o que ele viu. Ele é advertido de que não deve

deixar as palavras seladas, escondidas. Isso porque o tempo da vinda do Senhor Jesus se

aproxima e é necessário que as pessoas saibam o que lhes espera na eternidade. Jesus virá

trazendo o galardão, isto é, a salvação, aos que permaneceram fiéis a ele (v.12). A salvação

está assegurada a todos quantos lavraram as suas vestiduras no sangue do cordeiro. Não há

outra forma de ser salvo senão pelo sangue derramado por Jesus na cruz pelos nossos peca-

dos. Necessitamos ser salvos e purificados por esse sangue para que nos assista o “direito à

árvore da vida”, o direito à vida eterna. Apenas dessa forma poderemos entrar na nova Jeru-

salém. Os que ficam do lado de fora são mais uma vez mencionados, à semelhança de Ap

21.8. No v.16 é explicitado, mais uma vez, o destino dessa mensagem revelada: a Igreja. Des-

ta forma, volta-se a fazer referência ao início do livro (Ap 1.4). O convite para a salvação é

mais uma vez renovado a todos os que desejam a salvação.

CONCLUSÃO

O Livro de Apocalipse nos capacita a visualizar a dimensão cósmica da obra redentora

de Jesus. O Apocalipse nos capacita a visualizar e ouvir em sons, cores e imagens o inexplicá-

vel, o inimaginável, o extraordinário ato do amor de Deus por cada um de nós, seres huma-

nos. O Apocalipse proclama, através de uma linguagem que ultrapassa o conteúdo das pala-

vras, como tudo é afetado pelo agir de Deus. O mundo temporal é invadido pela eternidade.

O corruptível e mortal é revestido de imortalidade. O céu conecta-se com a terra. Deus

aproxima-se do ser humano, tronando-se acessível por meio de Jesus. O céu é oferecido co-

mo morada eterna para todos que desejarem. O Apocalipse é o Evangelho comunicado na

sua forma mais exuberante e majestosa. O Apocalipse é o folder de marketing do Reino de

Deus composto no céu e divulgado na terra. Você poderia imaginar convite melhor? Notícia

melhor?