O que é esse amor fraterno, o que é essa caridade, essa...

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R$ 13,90 Revista ANO 40 – Nº 471 | www.comunidadeemanuel.org.br A Revista da Renovação Carismática Católica O que é esse amor fraterno, o que é essa caridade, essa virtude que nós recebemos de Deus? 300 anos de Aparecida Ó incomparável Senhora da Conceição Aparecida cheia de poder e bondade, lançai sobre nós um olhar favorável Contra o poder das trevas O que é intercessão contra os poderes das trevas?

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R$ 13,90

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sta

ANO 40 – Nº 471 | www.comunidadeemanuel.org.brA Revista da Renovação Carismática Católica

O que é esse amor fraterno, o que é essa caridade, essa virtude que nós recebemos de Deus?

300 anos de AparecidaÓ incomparável Senhora da Conceição Aparecida cheia de poder e bondade, lançai sobre nós um olhar favorável

Contra o poder das trevas O que é intercessão contra os poderes das trevas?

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2017 • edição 471 • Jesus Vive e é o Senhor 1

DOM CIPRIANO CHAGAS, OSB

Oração Inicial

Com minha bênção sacerdotal

Dom Cipriano Chagas, OSB

Para viver o amor fraterno

S enhor, nós Vos louvamos e bendizemos porque vós nos chamais a uma vida de amor. Derramastes nos nossos corações o vosso próprio amor, pelo Espírito Santo que nos destes. E, tendo esse amor nos co-

rações, quereis que nós vivamos dele, por ele, amando-vos e amando os irmãos. Amando-vos através dos irmãos, a fim de que possamos crescer neste amor que é todo dação de si mesmo, esse amor que é todo iniciativa de entrega, como o de Jesus, vosso filho, Nosso Senhor. Ele nos amou totalmente, desinteressadamente. E assim, vós quereis que nos amemos uns aos outros. Pedimos que toqueis de uma maneira especial nossos corações, para que se abram finalmente a esse amor que nos dais e que derramais em nós e sobre nós, e, através de nós, e, em volta de nós, abundantemente, como costumais fazer todas as vossas coisas..

Nós vos louvamos e bendizemos porque ensinais a ser e agir como Vossos filhos, guiados pelo vosso Espírito Santo, deixando para trás tudo aquilo que pertence a este mundo, a esta humanidade decaída, para assumir as realidades do mundo vindouro, as realidades de vosso reino, onde já nos colocastes, fazendo-nos partícipes de vossa santa natureza, capazes de vos conhecer, de vos amar e de amar-nos uns aos

outros, como vós quereis. Vós quereis que deixemos para trás todas as coisas de crianças para assumir a plena estatura em Cristo Jesus, de filhos vossos bem-amados, que vivem em nível de vida eterna e não mais segundo as veleidades, as superficialidades do mundo que não é vosso.

Nós vos louvamos e bendizemos porque nos educais para sermos vossos filhos. Vós nos ensinais a todo o momento e a cada passo. Sabemos que, sem estarmos reconciliados convosco, não podemos estar reconciliados com nada, nem com ninguém e que, quando fazemos uma ruptura com algum irmão, nós fazemos ruptura também convosco e com o criado e cada um consigo mesmo. E nós vos pedimos que essa rela-ção com os irmãos e, cada um consigo mesmo, seja efetuada pela ação de vosso Espírito Santo, pela ação de vosso amor. E, assim, Vós nos colocastes numa interdependência plena para que nenhum de nós pudesse realmente se orgulhar de nada. Muito obrigado porque recompensais com generosidade qual-quer esforço que façamos para corresponder à vossa graça, para receber o vosso amor e corresponder a ele, conforme vós quereis. Vós sois maravilhoso e bom. Muito obrigado, Senhor! Glória a Vós, Senhor! Amém!

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2 Jesus Vive e é o Senhor • edição 471 • 2017

A revista “JESUS VIVE E É SENHOR” é uma publicação mensal da Comunidade Emanuel, entidade sem fins lucrativos, declarada de Utilidade Pública pelo Decreto 8.969 de 13/05/86. A COMUNIDADE EMANUEL tem entre seus Ministérios a Evangelização através da Palavra escrita, servindo à Renova-ção Carismática da Igreja. Sua espiritualidade é centrada em Jesus Cristo, guiada pelo Espírito Santo de Deus, incentivan-do os seus leitores à vida sacramental, à oração pessoal e ao uso comunitário dos Dons e Carismas.Orientação da COMUNIDADE EMANUEL. Uma Associação Particular de Fiéis Leigos, assim reconhe-cida por Decreto, pela Arquidiocese do Rio de Janeiro. Revista com Aprovação Eclesiástica.® Copyright 1996 – Direitos ReservadosCOMUNIDADE EMANUEL CNPJ 29.983.269/0001-17 - ISSN:0103-8133- Rua Cortines Laxe, nº 2 Centro - CEP 20090-020 - Caixa Postal 941 CEP 20001-970 - Rio de Janeiro - RJ Brasil - Tel.: 0+XX+21 2263-3725 Fax: 0+XX+21+2233-7596.

Órgão Fundador da Associação Latino-americana de Revistas de Renovação no Espírito Santo.

• Fundador: DOM CIPRIANO CHAGAS, OSB.

• Diretor-Presidente: Dom Cipriano Chagas, OSB• Diretor Responsável: Mauro Moitinho Malta• Conselho de Redação: Dom Cipriano Chagas, Maria Teresa Malta, Anna Gabriela Malta, Alexandre Honorato D. Ferreira

• Redator Responsável: Jeannine Leal• Revisor: Dom Antonio Augusto Dias Duarte, Bispo Auxiliar• Coordenador de Edição: Comunidade Emanuel• Projeto Gráfico e Diagramação: Comunidade Emanuel• Revisão e Tradução: Comunidade EmanuelOs artigos publicados nesta revista são de responsabilidade dos autores. Todo material para a revista, sendo publicado ou não, não será devolvido.“A este Jesus, Deus o ressuscitou, e disto nós todos somos testemunhas. Portanto, exaltado pela direita de Deus, ele recebeu do Pai o Espírito Santo prometido e o derramou, e é isto o que vedes e ouvis” (At 2,32-33).

“Saiba, portanto, com certeza, toda a casa de Israel: Deus o constituiu Senhor e Cristo, a este Jesus a quem vós crucificastes” (At 2,36).

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MAURO MOITINHO MALTA

Mauro Moitinho Malta Membro do conselho da Comu-nidade Emanuel, autor do livro “Perdão, o caminho da felicidade”.

Carta ao Leitor

Nosso Papa Francisco faz uma exegese sobre a passagem bíblica de Lucas 7,49 sobre a refeição que Simão, o fa-riseu, ofereceu a Jesus. Oportunidade

em que uma pecadora ungiu os pés do Senhor com óleo perfumado. Segundo a mentalidade da época, entre o santo e o pecador, entre o puro e o impuro, a separação devia ser clara.Jesus não deveria manter contato com esse tipo de gente.Mas a atitude de Jesus é diferente. Ele aproxima-se dos leprosos, dos endemoninhados, de todos os doentes e dos marginalizados, os “invisíveis”, aqueles que ninguém queria enxergar. Esta será uma das atitudes que mais desconcertarão os seus contemporâneos. “Ele perdoa os pecados de um homem que sofria duplamente (cf. Mc 2,1-12: porque não podia caminhar e porque se sentia “errado”. E Jesus entende que a segunda dor é maior do que a primeira, a ponto que o recebe imediatamente com um anúncio de libertação: “Filho, os teus pecados te são perdoados!” (v. 5).

“Nós que estamos habituados a experimen-tar o perdão dos pecados, talvez “a um preço muito baixo”, deveríamos recordar-nos de vez em quando de quanto custamos ao amor de Deus. Cada um de nós custou bastante: a vida de Jesus” enfatiza o Papa. Dom Cipriano, por sua vez, em um de seus artigos, nos mostra o significado de liberdade dizendo: “A liberdade em Cristo não é liberdade para fazermos o que quisermos. É ser livre para amá-lo e, portanto, para amar os outros. É liberdade de se afastar das coisas ne-gativas e viver no positivo poder de Deus. Pecar deliberadamente é um ato de rebelião contra Deus, e ele não reina na rebelião. Negamos nossa posição como filhos do Reino com essas ações. Isto diminui a influência do poder de Deus em nossas vidas, e impede que ele opere através de nós da maneira que ele quer.” Em outro artigo, sobre Amor fraternos, o autor explica: “Amor fraterno, é apenas um aspecto do amor para com Deus, da caridade para com Deus. É a caridade que nos faz amar a Deus através dos outros e os outros, através de Deus. É uma virtude, uma força sobrenatural, graças à qual nós podemos amar os outros com o mesmo amor com que Deus nos amou.”Em seguida, em outro artigo explica como praticar o Amor fraterno informando: “Os atos humanos são difíceis de julgar. A sua verda-deira apreciação depende, em grande parte, dos motivos que os ocasionam e esses motivos são invisíveis aos nossos olhos.Quantas vezes des-cobrimos, depois, que tais e tais atos com toda a suas aparências de maus, eram na realidade atos bons e virtuosos e nós não víamos isso.” E con-tinua: “Em nossa ignorância e autossuficiência, queremos que o outro seja sempre conforme queremos e não como ele é. Queremos que o

outro seja perfeito embora a gente não precise ser.” E conclui: “Temos o dever de odiar o pecado, mas não temos o direito de desprezar o pecador.” Muitas vezes oramos permanentemente e não somos atendidos. Parece que Deus não nos ouve. Dom Cipriano explica, em seu artigo sobre “Por que pedimos e não recebemos?” que a culpa pode ser da maneira como nos dirigimos a Deus: “Podemos pedir o que quiser. Deus não vai se incomodar se aquilo que a gente pede não é da vontade Dele. Ele vai nos mostrar delicadamente, como é o jeito Dele, aquilo não pode ser pedido. Outras vezes, pedimos de acordo com vontade de Deus, entretanto, ele nos mostra que não é o momento oportuno.Muita gente se pergunta porque muitas vezes: “pedi e não recebi”. São várias razões.”Entre elas cobicar as coisas dos outros; pedimos mal, com o fim de satisfazerdes nossas paixões; não podemos exercer o direito de outras pessoas.”E termina informando: “Cul-pamos Deus esquecendo que de um lado,existe a ação do inimigo sobre a nossa vida, e de outro, a nossa própria ignorância às Leis do Reino e às coisas espirituais.”

José Prado Flores, em seu artigo, nos apre-senta as 5 desculpas para não cumprirmos o que Deus nos recomenda: alegamos nossa própria incapacidade; jogamos a responsabilidade para o Senhor que nos criou; alegamos que a culpa é de outros, alegamos incapacidade física que nos impede de concluir a missão e declaramos claramente que não desejamos fazer o que Deus nos recomenda. Michele Franco, finalmente, analisando o livro de Dom Cipriano “Só no amor há poder” nos explica como Jesus usou o senti-mento de amor pelo próximo como instrumento de transformação da sociedade. Se duvidarmos do poder desse sentimento lembremo-nos de personagens de nossa época que, pelo amor, transformaram a sociedade em que viviam: Ma-dre Teresa de Calcutá; Irmã Dulce; Martin Luther King, que permitiu aos Estados Unidos ter um presidente negro; Nelson Mandela, que libertou a África do Sul da Inglaterra, mesmo depois de passar quase uma geração preso. Aprendamos com esses exemplos e procuremos exercer o amor ao próximo como instrumento de modificação comportamental da sociedade em que vivemos.

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2017 • edição 471 • Jesus Vive e é o Senhor 5

Frases

“Nossa vida em Deus é um processo gradual para a vida plena.”Dom Cipriano Chagas, OSB – livro Você mais Jesus igual à Vitória Total – pág. 8

“A cruz é o maior bem que podemos ter nesta vida, que é a conformidade com Jesus Cristo sofredor”Santa Margarida Maria Alacoque

“Deixa-te modelar pelo Senhor. Põe sempre a tua confiança em Deus e se-rás envolvido por sua misericórdia”Santa Madalena de Canossa

“Não nos deixemos distrair pelas falsas sabedorias deste mundo, mas sigamos Jesus como único guia seguro que dá sentido à nossa vida.”Papa Francisco - @pontifex_pt – 22 de junho 2017

“Além da Cruz não existe outra escada para subir ao céu”Santa Teresa dos Andes

“Quem ama as coisas temporais perde o fruto amor”Santa Clara de Assis

“Não procuramos a alegria se não em Jesus e fugimos de toda a glória que não seja aquela da cruz”Santa Catarina de Sena

“O mal não é fonte do bem, mesmo que seja com a melhor das intenções”Ministro do STF, Luís Roberto Barroso – a respeito da proposição “os fins justificam os meios” – Programa Conversa com Bial – 21/08/2017

Do livro – Orações Bíblicas de Frederico Daibert MoncorvoAdquira o seu www.domcipriano.org.br ou (21) 2263-3725

OraçãoORAÇÃO DE BÊNÇÃO ESPIRITUAL

Efésios 1,3-14

Bendito seja vós, Senhor, nosso Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que do alto do céu nos abençoou com toda a bênção espiritual em Cristo, e nos escolheu, antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, diante de vossos olhos.

No vosso amor nos predestinou para sermos adotados como vossos filhos.

Pelo Sangue de Jesus temos a redenção, a remissão dos pecados, e fomos selados com o Espírito Santo prometido.

Amém.

“O que posso fazer?”5 maneiras de participar do evangelho

OrarDedique uma parte de seu regular tempo de oração para interceder por uma ou duas pessoas que você

acha que Deus quer tocar. Seja per-sistente, e confie que o Senhor ouve você. Desenvolva, também, o hábito de ouvir o Espírito e pôr em prática seus estímulos.

PerdoarNada nos rouba da nossa alegria e ofusca a luz de Cristo em nós tanto quan-to ressentimentos e falta

de perdão. Isto pode levar tempo, e nós podemos precisar ir a Jesus para fortalecimento e orientação, porém vale a pena. Talvez você possa co-meçar exatamente dizendo a ele que você está pronto, propenso a perdoar e congratular-se.Ajudar

Sempre que possível, esteja disposto a afastar-se do seu caminho para ajudar as pessoas em ne-

cessidade. Há tantas oportunidades de compartilhar a luz e o amor de Cristo sem dizer uma palavra. Por todo o tempo, seu testemunho de devotado serviço abrirá portas.

SorrisoVerifique, avalie você mesmo no decorrer do dia: “Estou em conhe-cimento que o Pai tem

minha vida em suas mãos? Posso eu parar de entregar ao Senhor qualquer ansiedade ou frustração?” Quanto mais você demonstrar a liberdade e a paz de Cristo, mais o seu testemunho tocará os outros.

CompartilharNão tenha medo de falar a respeito de sua fé quando a oportu-nidade surgir. Converse sobre sua experiência pessoal de como Deus tocou você, protegeu você ou sua família, ou concedeu-lhe a graça num tempo de dificuldade. Conte de que modo

sua experiência de salvação em Cristo libertou-o do pecado e lhe deu confiança no amor que Deus tem por você.

Reflexão

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8 Jesus Vive e é o Senhor • edição 471 • 2017

Em pauta

Mentira piedosa: pode?POR PE. RICARDO SADA FERNÁNDEZ

Mentiras piedosas é válidas dizê-las? É o mesmo que mentir que ocultar a verdade? Conheça os princípios fundamentais do oitavo mandamento

M uitas pessoas não têm o inconveniente de pensar que, em certas circunstân-cias, o melhor que pode

fazer é mentir. Enganar sobre uma en-fermidade grave, inventar o motivo de ter chegado atrasado, atribuir-se méritos inexistentes, modificar os valores do que gastamos e mil outras situações. Porém, os moralistas dizem de modo categórico que “nunca é lícito mentir”. Nunca? Nem para evitar danos maiores? Nem para salvar a humanidade com uma pequena mentira? Assim parece, pois o advérbio “nunca” não admite exceções. Mas os moralistas voltarão para nos ajudar e tranquilizar “que nunca é legal mentir, não se segue que sempre há uma obrigação de falar a verdade”. Ocultar a verdade é às vezes não só conveniente, mas inclusive obrigatório, por exemplo, quando se deve guardar segredo.

Deixemos por um momento esta questão e tentemos aprofundar sobre a importância da verdade. Esta virtude leva a manifestar, com palavras ou atos, aquilo que o indivíduo pensa em seu interior. Sabemos que “a palavra é a expressão oral da ideia”. Por isso, pela lei natural, o que eu expresso é algo que deve coincidir com o que penso. Se a minha palavra não reflete a ideia, estou violando a ordem natural das coisas, vou contra a lei de Deus. Por isso, diz-se que a mentira é intrinsecamente má, quer dizer, não é má porque alguém a proíba, mas que é má em si mesma. E, algo que seja mau, não pode produzir nada de bom, mesmo que as intenções de quem age sejam muito boas.

Mas ainda podemos aprofundar o nosso raciocínio sobre a veracidade, até que alcancemos sua razão mais alta: a verdade é algo divino, um atributo de Deus. “Eu sou a verdade”, disse Jesus Cristo (Jo 14,6). Não só “anuncia” a ver-dade, não só explica o que é verdadeiro – que também o faz – mas que por Si e em Si “é” a verdade mesma: possui a verdade na totalidade de sua plenitude. A partir daí, o contraponto: Jesus diz que Satanás é “o pai da mentira” (Jo 8,44), pois em si mesmo nega a Deus -Verdade e tudo em sua atuação tende a obscurecer ou afastar da verdade.

Talvez o que precede esclarece porque não há “mentiras piedosas”, nem mentiras inofensivas. Um mal moral, mesmo o mal moral de um pecado venial, é maior que qualquer mal físico. Não é lícito cometer um pecado venial, nem

sequer para salvar de sua destruição um país inteiro. Mentir é ir contra Deus.

No entanto, dissemos isso com moderação mental, posso não dizer a verdade quando injustamente tentem descobrir algo de mim. O que digo nesse caso poderá ser uma resposta não exata, evasiva ou confusa, com um sentido verdadeiro e outro falso, mas não uma mentira. Poderíamos dizer que a moderação mental é um meio lícito de autodefesa quando não caiba outra saí-da. O político que sabe como se esquivar dos jornalistas que buscam encurralá-lo é o protótipo daquele que praticam esta difícil arte.

Todos sabemos que neste mun-do existem muitos intrometidos que perguntam o que não têm direito de saber. É inteiramente válido dar a esses

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10 Jesus Vive e é o Senhor • edição 471 • 2017

Comunhão eclesial

Quem é este que perdoa os pecados?

PAPA FRANCISCO

O CORAÇÃO DE CRISTO ENCARNA E REVELA O CORAÇÃO DE DEUS, E ONDE HÁ UM HOMEM OU

UMA MULHER QUE SOFRE

O uvimos a reação dos co-mensais de Simão, o fariseu: “Quem é este homem que até perdoa os pecados?”

(Lc 7,49). Jesus acabou de fazer um gesto escandaloso. Uma mulher da cidade, que todos conheciam como uma pecadora, entrou na casa de Simão, inclinou-se aos pés de Jesus e derramou sobre os seus pés o óleo perfumado. Todos aqueles que estavam ali à mesa murmuravam: se Jesus é um profeta, não deveria aceitar gestos de um tipo de uma mulher como aquela. Estas mulheres, desventuradas, que só serviam para ser encontradas às escondidas, inclusive pelos chefes, ou para ser lapidadas. Segundo a men-talidade dessa época, entre o santo e o pecador, entre o puro e o impuro, a separação devia ser clara.

Mas a atitude de Jesus é diferente. Desde o início do seu ministério na Ga-lileia, Ele aproxima-se dos leprosos, dos endemoninhados, de todos os doentes e dos marginalizados. Um comportamen-to deste tipo não era nada habitual, a ponto que esta simpatia de Jesus pelos excluídos, pelos “intocáveis”, será uma das atitudes que mais desconcertarão os seus contemporâneos. Onde há uma pessoa que sofre, Jesus cuida dela e aquele sofrimento torna-se seu. Jesus não apregoa que a condição de pena deve ser suportada com heroísmo, à maneira dos filósofos estóicos. Jesus compartilha a dor humana, e quando se depara com ela, do seu íntimo irrompe aquela atitude que caracteriza o cris-tianismo: a misericórdia. Diante da dor humana, Jesus sente misericórdia; o coração de Jesus é misericordioso. Jesus

experimenta compaixão. Literalmente: Jesus sente tremer as suas entranhas. Quantas vezes nos Evangelhos encon-tramos reações deste gênero. O coração de Cristo encarna e revela o coração de Deus, e onde há um homem ou uma mulher que sofre, Ele quer a sua cura, a sua libertação, a sua vida plena.

É por isso que Jesus abre de par em par os braços aos pecadores. Quanta gente perdura ainda hoje numa vida errada, porque não encontra ninguém disposto a olhar para ele ou para ela de modo diverso, com os olhos, melhor, com o coração de Deus, ou seja, olhar

para eles com esperança. Jesus, ao contrário, vê uma possibilidade de res-surreição até em quantos acumularam muitas escolhas equivocadas. Jesus está sempre ali, com o coração aberto; es-cancara aquela misericórdia que tem no coração; perdoa, abraça, compreende, aproxima-se: Jesus é assim!

Às vezes esquecemos que para Jesus não se tratou de um amor fácil, barato. Os Evangelhos frisam as primei-ras reações negativas em relação a Jesus, precisamente quando Ele perdoa os pecados de um homem (cf. Mc 2,1-12). Era um homem que sofria duplamente:

PAPA FRANCISCO

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12 Jesus Vive e é o Senhor • edição 471 • 2017

NÓS PODEMOS SER FORMADOS NA ESCOLA DE PAULO, SE NOS DEIXAMOS GUIAR PELO ESPÍRITO QUE GUIOU SÃO PAULO

São Paulo, líder no Espírito e formador de líderes

POR PE. SALVADOR CARRILO ALDAY

PARTE 1

Seleção

P ela expressão, “Paulo, líder no Espírito”, entendemos: que Paulo foi líder de comunidades cristãs, graças à ação do Espí-

rito que o tomou, fê-lo sua propriedade e fez dele o que quis, sem despersona-lizá-lo, porque o Espírito não desfaz o que cria.

Isso é importante porque existe uma secreta desconfiança em nós, nunca o proclamamos porque queremos poder dizer: “Como vou ter medo do Espírito Santo?”, mas queiramos ou não, temos medo do Espírito e isso é porque cremos erradamente que o Espírito Santo vai nos despersonalizar, sendo que o Espírito que nos criou é o único que nos pode levar à perfeição na linha para a qual nos criou. Esse conceito é fundamental. São coisas tão evidentes que o oposto parece inimaginável e, no entanto, quantas vezes dizemos “não” ao Espírito Santo porque nos leva aonde ele quer, mas aonde nós não queremos ir.

No caso de Paulo, este, por pura graça de Deus e também por sua corres-pondência à graça foi um homem que se deixou possuir pelo Espírito. Paulo foi “apóstolo do Espírito” em três níveis:

1. Foi pertença e propriedade do Espírito;

2. Foi enviado, movido e ilumi-nado pelo Espírito;

3. Foi teólogo que revelou nos o que o Espírito é em Deus.

Quando falamos de Paulo, líder no Espírito, devemos ter em conta todo esse panorama e quando dizemos que Paulo é “formador de líderes”, a explicação dessa frase é realmente grandiosa. Se quiséssemos fazer a conta dos líderes

formados por Paulo e os quiséssemos designar por seus nomes próprios, não chegaríamos a dez.

A escritura não menciona mais que: Timóteo, Tito, Sóstenes, que ajudou-o a escrever a carta aos Coríntios, Silas, Silvano, que andava com ele por todas as partes, Lucas e talvez outros cinco de quem não temos notícias concretas.

Isso não importa. Paulo é formador de líderes ainda hoje, ou nos tempos atuais. Nós podemos ser formados na escola de Paulo, se nos deixamos guiar pelo Espírito que guiou São Paulo. Vendo por esse prisma, não foram dez ou quinze os líderes que ele formou, mas milhares e centenas de milhares os que se formaram na escola de Paulo, ou, para falar com

maior precisão, é o Espírito quem, através dos escritos de São Paulo, tem formado líderes ao longo de vinte séculos. Não dizemos que foram “discípulos de Paulo nem de Cefas, ou de Apolo (cf. 1Cor 3,45), mas discípulos do Espírito graças à doutrina de Paulo.

Examinamos agora os três níveis atra-vés dos quais Paulo é um líder no Espírito:

Paulo, pertença do EspíritoEm primeiro lugar temos que Paulo

aparece como Apóstolo de Cristo, graças à força do Espírito.

Este conceito é muito importante, porque assim como o Filho de Deus foi encarnado no seio da Virgem Maria

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2017 • edição 471 • Jesus Vive e é o Senhor 13

UM SANTUÁRIO NÃO PERTENCE A SI MESMO. UM SANTUÁRIO É PARA O ESPÍRITO E O ESPÍRITO É PARA O SANTUÁRIO

É UMA OBRA ADMIRÁVEL QUE O ESPÍRITO FAZ EM CADA UM DE NÓS: OS CARISMAS QUE O ESPÍRITO DÁ, SÃO AQUELES MESMOS PARA OS QUAIS

ELE MESMO PREPAROU NATURALMENTE O CRISTÃO PARA RECEBÊ-LOS

pelo Pai – pois Jesus é filho do Pai, e não do Espírito Santo, mas o Pai cria a humanidade de Jesus mediante a força do Espírito – assim também nós somos feitos apóstolos pelo Pai, com a força do Espírito Santo. É o Pai, mediante o Espí-rito, quem faz a maravilha de fazer-nos apóstolos de Cristo.

Há um texto no qual aparece com clareza a obra do Pai em Jesus: Pedro diz: “Vós sabeis como o pai ungiu a Jesus com o Espírito Santo?” (At 10,38); segundo esse texto, Cristo é o ungido, não tanto pelo Espírito, mas pelo Pai com o Espírito.

Também Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, foi feito tal, graças ao Espírito que recebeu no primeiro momento do encon-tro com Jesus. A primeira menção do Espí-rito Santo na vida de Paulo é no momento em que Ananias diz a Saulo: “Cristo Jesus que te apareceu no caminho enviou-me para que seja cheio do Espírito e recobres a vista.” Ananias impõe as mãos e Paulo é curado. Nesse momento, Paulo torna-se um homem cheio do Espírito, possuído por ele. Então, Ananias diz: “Nada mais temos a fazer que batizá-lo.”

Nós nos fazemos muitas perguntas: “como recebeu primeiro o Espírito e de-pois do batismo?”.

O Novo Testamento fala de uma unidade na iniciação cristã, sem ordem estabelecida. Somos nós que temos que estabelecê-la pastoralmente, pois na ini-ciação existem três realidades: a fé, com a conversão, o batismo e o recebimento do Espírito.

Isso sucede com Paulo, com Corné-lio, com os de Éfeso. A ordem é como que indiferente. O que quero chamar atenção é que desde o momento do seu encontro com Jesus, o Espírito tomou posse de Paulo.

Que fazia o Espírito Santo naquela alma, nos dias em que Paulo sequer pudera comer? Por essa razão nenhum escrito do Novo Testamento é tão forte como os de Paulo quando nos fala dessa tomada de posse que o Espírito exerce no batismo.

Existe um texto admirável para ilustrar esse pensamento. É de 1 Corín-tios 6,11. Devo dizer que se São Paulo escreveu-o foi porque tinha experiência. Depois de ter enumerado aqueles que

não entrarão no Reino dos Céus exclama: “Tais foram vocês...” e logo completa, mas fostes lavados, mas fostes santificados, mas fostes justificados”. Três vezes foi repetida a palavra “mas” como para dar e destacar a tomada de posse do Espírito. Os três verbos descrevem a iniciação cristã: a purificação, a santificação e a justiça salvífica. Foi isso que veio sobre ele: foi purificado. Foi santificado, quer dizer, destinado para Deus e foi feito o justo. Essa obra de santificação e de justificação é a obra que fazem o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Paulo, por isso é pertença de Cristo, do Pai e do Espírito. Nós podemos chamá-lo “apóstolo” do Pai, do Filho e do Espí-rito Santo, segundo nossas preferências. Assim acontece também com todos nós.

A exemplo de um líder, não é forma-do por homens, mas recebe um carisma do Espírito que lho dá porque ele mesmo preparou o fundamento ou a base para esse carisma. É uma obra admirável que o Espírito faz em cada um de nós: os ca-rismas que o Espírito dá, são aqueles mes-mos para os quais ele mesmo preparou naturalmente o cristão para recebê-los.

Paulo fala do batismo no texto citado anteriormente. Logo porém chegou a uma intuição mais profunda. Na carta aos Gálatas 1,15-16, vai ao fundo do que é um carisma. Então, diz: “Quando aquele que me separou desde o seio de minha mãe e chamou-me por sua graça, houve por bem revelar a mim o seu Filho, para que o anunciasse aos gentios. Ali, São Paulo intui que sua vocação, a formação que o Espírito de Deus realizou nele, não começaram no dia de sua conversão, mas desde o momento em que começou a existir no seio de sua mãe.

São considerações muito fortes.

Apliquemo-las a cada um de nós. Para nós, há uma novidade; para Deus, não há novidade em nossa vida. Ele sabe tudo o que nos deu e o que nos tem preparado.

Em outro texto, São Paulo diz que sente-se como que tatuado, que Deus nos tatuou e que nossa tatuagem é o Espírito Santo. São Paulo ficou marcado com o Espírito, que é como um selo divino: “Aquele que nos mantém firme convosco em Cristo e que nos ungiu é Deus. Ele nos marcou com seu selo e pôs o sinal do Espírito em nossos corações” (2Cor 1,21).

Quando alguém quer comprar algo, dá uma quantia como forma de antecipa-ção. São o penhor, o compromisso. Essa quantia é dada como depósito de que não se pode faltar à palavra ou perde-se o dinheiro. Isso é exatamente o que o Pai põe em nós no batismo: dá-nos um penhor, já não se pode desdizer. Ele tem dinheiro suficiente com que pagar.

Paulo, líder no espírito é propriedade de Deus, graças à tatuagem que o Pai fez nele com o Espírito, tanto quanto em cada um de nós.

Paulo diz: “Sabeis que vosso corpo é santuário do Espírito que está em vós, que haveis recebido de Deus e que não vos pertenceis?” (1Cor 6,18-19).

Por que não nos pertencemos? Porque “fostes comprados”. Deus nos comprou. Pagou um grande preço e de-pois fez-nos santuários do Espírito. Um santuário não pertence a si mesmo. Um santuário é para o Espírito e o Espírito é para o santuário. Geralmente se diz que a alma é o templo do Espírito. O santuário é a pessoa toda; o corpo, nosso corpo miserável, é santuário do Espírito e não nos pertencemos.

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2017 • edição 471 • Jesus Vive e é o Senhor 15

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16 Jesus Vive e é o Senhor • edição 471 • 2017

A oração é um momento precio-so em contato com a palavra de Deus ou o tempo desperdi-çado na prática e que poderia

ser empregado em algo “mais lucrativo”? O autor nos traz de volta ao coração do nosso relacionamento com Deus, a essa oração que é dialogar e ouvir e orientar nossas vidas.

“De manhã, tendo-se levan-tado muito antes do amanhecer, ele saiu e foi para um lugar deserto, e ali se pôs em oração” (Mc 1,35).

Jesus havia chegado ao final de um dia cheio de eventos. Havia ensinado na sinagoga de Cafarnaum, lutado contra espíritos impuros, curou os doentes, libertou os oprimidos do diabo. Liberta-ções e curas extraordinárias ocorreram. Sua fama espalhou-se e todos estavam procurando por ele, cercando-o, neces-sitavam de tudo. Enquanto isso, caiu a noite. Enquanto todos descansavam, Jesus saiu para orar. Orar ao Pai. O Pai que o atraiu para a oração.

Um diálogo amorosoÀs vezes, acho que teria sido uma

boa oportunidade para os discípulos, se pudessem acompanhá-lo, sem serem notados, e, respeitosamente, a poucos passos dele, observá-lo em oração. Naquela ocasião, quando eles viram Jesus enquanto oravam, “disse-lhe um de seus discípulos: Senhor, ensina-nos a rezar” (Lc 11,1). E Jesus ensinou-lhes a oração do Pai Nosso. E, porque Jesus orou e ensinou aos discípulos, é que, hoje, podemos nos aventurar nesta jor-nada misteriosa, que nos faz entrar em um colóquio filial com o Pai. A oração, portanto, antes de ser feita de nossas

perguntas a Deus, é uma resposta do próprio Deus que nos convida a ouvi-lo.

Muitas vezes, corremos o risco de nos acreditar como donos ou autores da oração, esquecendo que é um presente do Pai. Ele, de fato, procura adoradores em espírito e verdade. É o Pai quem pro-cura as crianças porque quer entretê-las em um diálogo de amor.

O Evangelho (cf. Mc 1,36-37) nos diz que Pedro e os discípulos, não ven-do Jesus, foram procurá-lo e, tendo-o encontrado em oração, quase o reprova-ram: “Mestre, todos estão à sua procura e você está aqui a rezar” (ver ibid.). As palavras não são exatamente essas, mas o significado era claro: para Pedro, o que Jesus fez foi como que um desperdício

de tempo precioso para a ação. Pedro cai na armadilha na qual sempre caímos. Há muito trabalho me aguardando, es-tou ocupado, o dia é curto, como posso encontrar tempo para rezar? E então, meu trabalho incessante não é uma oração? Não é tudo oferecido a Deus? É bom contar, rezar não é suficiente! São as esperanças repressivas de objeção à oração. Nós sempre tendemos a opor a oração à ação.

A oração pessoal está em crise?Por algum tempo, fiquei convenci-

do de que, em muitos de nós, a oração pessoal está em crise. Não digo que não existam orações em nossos dias, mas as orações feitas de ouvir, adorar e obe-

Senhor, ensina-me a orar?POR PE. GUIDO MARIA PIETROGRANDE, SDB

Vida e conhecimento

A ORAÇÃO ABRE O CORAÇÃO AO AMOR DE DEUS E TORNA-O CAPAZ DE CONSTRUIR A HISTÓRIA DE ACORDO COM SUA VONTADE

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18 Jesus Vive e é o Senhor • edição 471 • 2017

NÃO TENHAIS MEDO DAS TEMPESTADES E DAS ONDAS, PORQUE SOU EU, EU ESTOU AQUI PARA VOS PROTEGER E GUARDAR!

Homilia

A Palavra de Deus vem hoje ao nosso encontro como um convite à fé. Somos interpelados, hoje, pela Palavra do Senhor, a fim de crermos que o “Deus da Paz”

está conosco, sobretudo nos momentos de maior tribulação.

“É a paz que ele vai anunciar...”PE. FÁBIO SIQUEIRA

A Palavra de Deus vem hoje ao nosso encontro como um con-vite à fé. Somos interpelados, hoje, pela Palavra do Senhor, a

fim de crermos que o “Deus da Paz” está conosco, sobretudo nos momentos de maior tribulação.

Na primeira leitura temos a figura do profeta Elias. Este trecho do Primeiro Livro dos Reis apresenta a dor profunda do profeta que está sendo perseguido. Elias orou e o céu se fechou por três anos provocando uma grande seca em Israel. Antes de orar novamente para que o Senhor retirasse a sua mão e a chuva voltasse a cair sobre a terra, Elias travou um combate terrível contra os profetas de Baal, protegidos pela rainha pagã Je-zabel. Elias derrotou os falsos profetas, matou todos eles, e foi perseguido pela maldosa rainha que desejou impor a ele o mesmo destino dos profetas.

O profeta andou 40 dias e 40 noites deserto adentro, assim como outrora o povo caminhou durante 40 anos no deserto, alimentando-se unicamente do pão que o Anjo do Senhor lhe ofereceu, como o povo foi alimentado por Deus pelo Maná, e chegou, finalmente, ao Horeb, ao monte de Deus. Ali Deus falou com o profeta. Diante da dor do profeta que se consumia de zelo pelo Senhor, o Senhor se compadeceu e prometeu passar diante dele. Muitos fenômenos extraordinários aconteceram: vento impetuoso, terremoto e fogo. Mas o Senhor não está nestes fenômenos. O Senhor está numa brisa suave. Elias sentiu a presença do Senhor na suave

brisa, cobriu o seu rosto e se colocou à entrada da gruta, a fim de que o Senhor passasse diante dele. A presença do Senhor, no meio da perseguição, traz paz ao coração do profeta. A Palavra do Senhor dirigida ao coração do profeta lhe transmitiu segurança. Elias é como o salmista que diz: “Quero ouvir o que o Senhor irá falar: é a paz que Ele vai anunciar” (Cf. Sl 84,9). De fato, depois de dar muitas instruções ao profeta, o Senhor prometeu que sobrará em Israel um “resto”, homens que não se dobraram diante dos ídolos mudos (cf. 1Rs 19,18).

Uma cena semelhante nos é trazida pelo Evangelho. Estamos no Capítulo 14 de Mateus. Este capítulo se situa na quarta parte do Evangelho, na qual Jesus começou a falar da Igreja como primícias do Reino dos Céus. Neste longo trecho que vai do final do Capítulo 13 até o final do Capítulo 17, Jesus estava formando os seus discípulos, e vai terminar com um grande discurso comunitário no Capítulo 18.

Depois da multiplicação dos pães, Jesus insistiu com os seus discípulos, a fim de que entrassem no barco e

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20 Jesus Vive e é o Senhor • edição 471 • 2017

As cinco desculpas de Moisés Uma grande missão em mãos frágeis

POR JOSÉ H. PRADO FLORES

Entre o céu e a terra

A pós esta passagem, dá-se a experiência extraordinária de Moisés: a sarça ardente e a revelação de Deus para

ele. Então, o Senhor após falar sobre o sofrimento da escravidão do povo israe-lita, sofrimento que ele mesmo, Moisés, havia visto também, lhe diz: “Vai, eu te envio ao faraó para tirar do Egito os israelitas, meu povo” (Ex 3,10).

O “envio” comprometeu os planos de Moisés. Ele entra em séria dúvida, se dá o passo seguinte ou retroce-de. Sua renúncia à rotina de Madiã coloca-o ante outra alternativa, mais atrevida: voltar ao Egito significava expor-se a ser preso pelo seu assas-sinato. Aceitar o encargo divino é um risco demasiado: por isso, resiste e procura escapulir-se, interpondo uma ladainha de objeções e excusas.

No momento em que lhe foi pedi-daNo momento em que lhe foi pedida uma mudança de roteiro, a inércia do passado o condicionara. Levara quaren-ta anos refazendo a sua vida e tinha a estabilidade que se pode obter no de-serto: mulher, filhos e trabalho; religião, tranquilidade e um futuro assegurado, tosquiando ovelhas. Com a idade de oitenta anos, a única coisa que preten-dia era passar em paz os últimos dias

“Moisés apascentava o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Madiã. Um dia em que conduzira o rebanho para além do deserto, chegou até a montanha de Deus, Horeb” (Ex 3,1).

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24 Jesus Vive e é o Senhor • edição 471 • 2017

O “Pequeno rebanho” do Senhor: Consistência

O que é vai caracterizar o início do que chamarei de corpo eclesial, um pequeno rebanho? Creio, antes de

mais nada, que seja simplesmente a consistência, a duração. Esta foi também a experiência de nossa comunidade. Em determinado momento, nós dissemos: “Isto dura, isto permanece – oh, pelo amor de Deus – somos pobres, mas há algo no que Deus nos faz viver… Diziam-nos algumas vezes que não duraríamos dois ou três anos, depois cinco anos… e agora já faz sete anos… A duração é sinal da vontade de Deus. Se os nossos grupos vivem e duram, digamo-nos que talvez seja um apelo para irmos mais profundamente.”

Espírito de consagraçãoOutra característica da formação

do corpo eclesial: em espírito de consa-gração naqueles que deles fazem parte. Não se trata de palavras, mas engajamos toda nossa vida, dando-a ao Senhor e ao Senhor e aos irmãos, indo para adiante. Tomamos consciência da dignidade extraordinária do nosso chamado e dispomo-nos a respondê-lo com todo o nosso ser.

Testemunho interior do Espírito Santo

Um outro elemento muito importan-te é o “testemunho interior” do Espírito Santo; não é um sentimento vago, é uma realidade. Quando um grupo ad-quire solidez eclesial, ele recebe este testemunho interior do Espírito Santo. Cresce uma convicção interior; não na imaginação de um ou outro, mas no coração de todos: “Estamos aqui por algum motivo”. Para quê? Para que missão? Também aí há diversidade, não nos fixemos em modelos já feitos. Com o passar do tempo deixemos aparecer

aos poucos esta missão que o Senhor nos propõe, escutemos esta palavra que nos é dirigida; estejamos atentos a este testemunho interior do Espírito Santo. “Ele ensinará a vós todos” (Jo 14,26).

Serviços variadosO aparecimento de ministérios e de

serviços, com toda a sua diversidade, é também evidência de que o grupo de ora-ção se torna um pequeno rebanho de Cris-to. Decorridos alguns anos de convivência com alguém, fica-se consciente dos dons que o Senhor lhe deu e tem-se, também, menos ilusões quanto às qualidades que

Formação de Líderes

O PastorFormação para liderança e para grupos de Oração

POR DANIEL VIGNE

PARTE 2

Ensino

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26 Jesus Vive e é o Senhor • edição 471 • 2017

QUANDO COMUNGAMOS, DEVEMOS ESTAR PRONTOS, PORTANTO, A ABRAÇAR COM O MESMO AMOR, O CRISTO JESUS E TUDO QUE A ELE ESTÁ UNIDO

POR DOM CIPRIANO CHAGAS, OSB

O amor fraterno

Ensino

M uitas vezes, as pessoas pensam em caridade como apenas dar alguma coi-sa, dar uma esmola aos

pobres, ajudar uma obra, uma coisa qualquer, não falar mal dos outros, umas coisas assim parecidas. Isso tudo está in-cluído no procedimento de quem exerce a caridade, porém, caridade em si é bem mais profundo, e bem mais extenso. Caridade é uma virtude teologal, uma virtude que tem Deus diretamente como seu objeto. E tem Deus também por seu objeto através do próximo.

O amor ao próximoAmor fraterno, é apenas um aspecto

do amor para com Deus, da caridade para com Deus. É a caridade que nos faz amar a Deus através dos outros e os outros, através de Deus. É uma virtude, uma força sobrenatural, graças à qual nós podemos amar os outros com o mesmo amor com que Deus nos amou.

A caridade para com Deus e a cari-dade para com o próximo não são coisas distintas, mas são dois aspectos de uma só virtude, que recebemos no batismo, o Espírito Santo que nos foi dado. Por-tanto, todos temos e Deus nos dá essa virtude esperando que a exerçamos. Podemos definir essa virtude como o amor de Deus envolvendo, no mesmo impulso, o próprio Deus e tudo que a Ele está unido. A humanidade de Jesus Cristo e, no Cristo, todos os membros do Seu corpo, Seu corpo místico. A caridade envolve a Deus e Cristo Jesus e todos os que estão unidos a Cristo Jesus em Seu corpo místico. É uma união de amor

fundamental que nos incorpora também na família de Deus.

O principal fundamento do preceito do amor cristão é a nossa incorporação no Cristo Jesus. Quando alguém falta com a caridade, já não pode dizer “meu Deus, eu Vos amo.” Quem falta com a caridade, quem falta com o amor ao próximo, não pode dizer que ama a Deus. Seria mentir porque não está abraçan-do com o mesmo amor, Cristo Jesus e os Seus membros. Está se detendo na humanidade individual do Cristo Jesus e esquece o prolongamento espiritual da encarnação, que é o corpo místico de Cristo.

Incorporados ao Cristo através nova aliança

Quando comungamos, aceitamos a nova aliança que Jesus nos propõe no Seu corpo e no Seu sangue. Quando co-mungamos, queremos dizer a Jesus que aceitamos essa aliança sobre nós, que fazemos aliança com Ele, conforme Ele a propõe a nós. Quando comungamos, devemos estar prontos, portanto, a abra-çar com o mesmo amor, o Cristo Jesus e tudo que a Ele está unido. A delicadeza do amor infinito de Deus, não foi apenas a encarnação, ou a redenção, nem mes-mo a eucaristia, mas a finalidade de tudo isso, que é a maravilhosa incorporação de cada um de nós em Cristo Jesus e que

O que é esse amor fraterno, o que é essa caridade, essa virtude que nós recebemos de Deus?

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2017 • edição 471 • Jesus Vive e é o Senhor 29

TEMOS O DEVER DE ODIAR O PECADO, MAS NÃO TEMOS O DIREITO DE DESPREZAR O PECADOR

O que não se devem fazerNÃO JULGAR

Na vida, praticamente, agimos sob a influência do julgamento que formamos em nosso espírito, de onde há necessi-dade de não permitir, não dar livre curso à mania instintiva de julgar, sem razão. Se é nosso dever emitir um julgamento sobre os que temos sob nosso encargo, sob nossa responsabilidade, devemos nos esforçar por emitir esse julgamento, com a máxima prudência e com a máxi-ma caridade. Deus jamais nos reprovará por termos sido bons.

Se é difícil permanecer na medida justa, é melhor pecar por excesso de indulgência do que por excesso de se-

veridade. Os atos humanos são difíceis de julgar. A sua verdadeira apreciação depende, em grande parte, dos motivos que os ocasionam e esses motivos são invisíveis aos nossos olhos. Nós não os percebemos. Quantas vezes descobri-mos, depois, que tais e tais atos com toda a sua aparência de maus eram, na realidade, atos bons e virtuosos e nós não víamos isso. Era aquilo que devia ser feito e nós, no momento, não víamos nada disso.

Não devemos nos esquecer de Primeiro Livro de Samuel 16,7, “o ho-mem vê na aparência; Deus, porém, no coração.” Uma falta que nós observamos poderá ter nascido antes da fraqueza, que da malícia e reflexão. E nós achamos

que tudo as pessoas fazem de propósito. E realmente não é. É preciso que pri-meiro melhoremos para que o mundo melhore em torno de nós.

Mas, em nossa ignorância e autos-suficiência, queremos que o outro seja sempre conforme queremos e não como ele é. E nós queremos que o outro seja perfeito embora a gente não precise ser. O defeito que nós constamos no outro pode ser fruto da fragilidade humana. É uma derrota agora, mas de todas as vitórias que ele, essa pessoa, teve an-tes? Isso nós não queremos saber. Nós esquecemos todo o passado porque aquele defeito ali é que nos incomoda naquele momento.

E ainda quando as intenções do outro são defeituosas, não conhecemos a responsabilidade de cada um. Não sa-bemos o grau de liberdade que aquela pessoa tem, o quanto ela está condicio-nada pelo seu ambiente, pelas feridas que recebeu na vida. Não sabemos nada e queremos julgar. É preciso que nunca nos esqueçamos de que somos sempre capazes do pecado que imputamos aos outros.

Temos o dever de odiar o pecado, mas não temos o direito de desprezar o pecador. Quem sabe se aquele que nós hoje tratamos assim, julgando tão mal, amanhã não estará aos olhos do senhor, colocado acima de nós? Maria Madalena era uma grande pecadora, mas foi ela que viu primeiro Jesus ressuscitado. Guardemo-nos de julgar os outros. Em todo o homem, por mais miserável que seja, podemos sempre ver Deus, senão em realidade, pelo menos em esperança. Não há criminoso no mundo que não

Praticando o amor fraternoVejamos algumas coisas práticas em relação ao amor fraterno aquilo que não devemos fazer e aquilo que devemos fazer para praticarmos o amor fraterno.

POR DOM CIPRIANO CHAGAS, OSB

Continuação

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32 Jesus Vive e é o Senhor • edição 471 • 2017

Nossa Senhora

Nossa Senhora AparecidaPOR ANSELMO CHAGAS DE PAIVA, OSB

E ste ano celebramos os 300 anos A devoção dos brasileiros a Maria, sob o título de Aparecida.

Chamada dessa forma por causa da descoberta, nas águas do Rio Paraíba, da pequena imagem de Nossa Senhora da Conceição, em meados de outubro de 1717. Conta-nos a história que, em uma curva do Rio Paraíba, três pobres pescadores: Filipe Pedroso, Domingos Garcia e João Alves, tendo em vista a passagem pela pequena vila do Gover-nador de Minas e de São Paulo, o Conde de Assumar, D. Pedro de Almeida, foram convocados estes três pescadores para que o apresentassem todo o peixe que pudessem pescar. Após longas tentati-vas, sem sucesso, o pescador João Alves,

lançando a sua rede, tirou o corpo da Senhora, sem a cabeça; lançando mais abaixo outra vez a rede, tirou a cabeça da mesma Senhora, não sabendo nunca quem ali a lançara, e continuando a pes-caria, não tendo até então tomado peixe algum, dali por diante, aconteceu a pesca milagrosa de peixes, logo em seguida do aparecimento da imagem.

Certamente os três pescadores vive-ram a surpresa e a emoção da pescaria, pois a descoberta sugere um fato prodi-gioso, não explicável pela técnica de pes-car ou pela simples casualidade. Pesando dois quilos e meio, a imagem não poderia ter sido pescada estando enterrada no lodo do fundo do rio. Além disso, como poderia a cabeça, com peso absolutamen-

te inferior, ter-se mantido tão próxima da imagem, sem ter sido levada para longe pelo rio caudaloso? E, sobretudo, como poderia ter sido encontrada logo a seguir? Por isso, com propriedade e devoção, chamam-na de Nossa Senhora da Con-ceição Aparecida. É Filipe Pedroso, um dos pescadores, que fica com a imagem por cerca de 15 anos até entregá-la aos cuidados do filho Atanásio, o qual lhe fez um oratório onde colocou a imagem da Virgem que ali permaneceu até 1743. A vizinhança reunia-se no pequeno ora-tório para rezar o terço e, devido a ocor-rência de milagres, a devoção à Nossa Senhora começou a divulgar-se com o nome de Nossa Senhora Aparecida.

Em confronto com tantas outras narrativas de aparições marianas, ricas de pormenores, de aventuras, de diálogos de Nossa Senhora com os videntes, a de Aparecida faz o cunho inconfundível da humildade e do despojamento. Não há no caso da Virgem de Aparecida uma verdadeira Aparição, como no caso da Virgem de Guadalupe, de Lourdes ou de Fátima: a Aparecida é uma tosca imagem de barro barato, enegrecida pelo limo do Rio Paraíba. Não era tampouco, como em outros casos, uma mensagem a transmitir em nome de Maria: como, por exemplo, uma chamada a conversão e à penitência, o anúncio de acontecimentos extraor-dinários, um convite à oração. O culto à Virgem de Aparecida nasce e se desen-volve espontâneo, simplesmente como expressão da fé e devoção de um povo. E, no entanto, como em todas as outras aparições, também na da Aparecida, na fal-ta de mensagens orais, há acenos percep-tíveis na própria narrativa, carregados de significação. Quais seriam? Num primeiro momento, podemos lembrar que a Virgem de Aparecida se mostra, antes de tudo, como a amiga e parceira – como a mãe – da gente mais pobre e desprezada. Ela parece identificar-se com os humildes, com os que sabem fazer-se pequenos. Não é menos sugestivo, neste sentido, o segundo aceno que vem da cor escura que a imagem foi formando, não se sabe por quantos anos, no fundo lodoso do Rio Paraíba.

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34 Jesus Vive e é o Senhor • edição 471 • 2017

Santo

História

S egundo os fatos registrados pe-los padres José Alves Vilela, em 1743, e João de Morais e Aguiar, em 1757, nos livros da Paróquia

de Santo Antônio de Guaratinguetá, à qual pertencia a região onde a imagem foi encontrada, tudo aconteceu em ou-tubro de 1717.

Dom Pedro de Almeida, governante da capitania de São Paulo e Minas de Ouro, o Conde de Assumar, passava por Guaratinguetá, SP, a caminho de Vila Rica, MG. A população, então, organizou uma festa para recebê-lo. Pescadores foram para o rio Paraíba com a difícil missão de conseguirem muitos peixes, mesmo não sendo tempo de pesca. Domingos Garcia, Filipe Pedroso e João Alves, sentindo o peso de sua responsabilidade, fizeram uma oração pedindo a ajuda da Mãe de Deus. Depois de tentar várias vezes sem sucesso, na altura do Porto Itaguaçu, já desistindo da pescaria, João Alves lançou a rede novamente. Não pegou nenhum peixe, mas apanhou a imagem de Nossa Senhora da Conceição. Porém, faltando a cabeça. Emocionado, lançou de novo a rede e, desta vez, pegou a cabeça, que se encaixou perfeitamente na pequena imagem. Só este fato, já foi um grande milagre – o peso do corpo e da cabeça, diferentes, como poderiam estar tão perto um do outro, no chão lodoso do rio? Mas, após esse achado, eles apa-nharam tamanha quantidade de peixes que tiveram que retornar ao porto, com medo da canoa virar. Os pescadores chegaram a Guaratinguetá eufóricos e emocionados com o que presenciaram e

toda a população entendeu o fato como intervenção divina. Assim aconteceu o primeiro de muitos milagres pela ação de Nossa Senhora Aparecida.

Devoção A imagem ficou na casa de Filipe

Pedroso por 15 anos. Ali, os amigos e vizinhos se encontravam para rezar à Nossa Senhora da Conceição. Graças e mais graças começaram a acontecer e a história se espalhava Brasil afora. Por várias vezes, à noite, ao rezarem junto à imagem, as luzes se apagavam e depois acendiam misteriosamente. Então, todo o povo da vizinhança passou a rezar aos

pés da imagem. Construíram um peque-no oratório em Itaguaçu, que em pouco tempo já não comportava o grande nú-mero de fiéis que para lá acorria.

Atento à aclamação popular, o vigá-rio de Guaratinguetá resolveu construir uma capela no morro dos Coqueiros. As obras terminaram em julho de 1745. O filho de Filipe Pedroso, o pescador, ajudou a construir essa capela. No dia 20 de abril de 1822, o imperador Dom Pedro I, juntamente com uma grande comitiva, fizeram uma visita à capela para homenagear a imagem milagrosa da Senhora de Aparecida, como passou a ser conhecida.

Nossa Senhora da Conceição AparecidaPOR JEANNINE LEAL

Considerada um dos locais de peregrinação mais importantes do mundo, o Santuário Nacional de Aparecida do Norte é a quarta igreja mariana mais visitada no mundo.

Em 1980, o local foi consagrado por São João Paulo II, em sua primeira visita ao Brasil. Este ano, completam-se 300 anos de sua aparição.

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38 Jesus Vive e é o Senhor • edição 471 • 2017

Contra o poder das trevasPOR DOM CIPRIANO CHAGAS, OBS

Curso de intercessão

O que é intercessão contra os poderes das trevas?

Na passagem de Daniel 10 foi feita uma revelação. E, em virtude daquela revelação (Cf. Dn 10,4-6), ele entrou em ora-

ção: após a visão, o profeta ouviu a voz de homem que lhe dizia: “Não temas, Daniel, disse-me, porque desde o primeiro dia em que aplicaste teu espírito a compreender, e em que te humilhaste diante de teu Deus, tua oração foi ouvida, e é por isso que eu vim. O chefe do reino persa resistiu-me durante vinte e um dias; porém Miguel, um dos principais chefes, veio em meu socorro. Permaneci assim ao lado dos reis da Pérsia.”

Um anjo foi enviado (v. 12), desde o primeiro dia em que Daniel começou a orar e se afligir de luto, pela revelação que lhe havia sido dada. A oração dele foi ouvida desde o primeiro dia. Depois que este anjo veio trazer a resposta da oração de Daniel (v. 13), veio contra esse anjo, o príncipe do reino da Pérsia, e ele precisou de um reforço de São Miguel Arcanjo para vir ajudá-lo. Esse príncipe do Reino da Pérsia, citado na passagem, também é um ser espiritual. A palavra era verídica, e referia-se a uma grande luta.

Ele compreendeu a palavra, e teve dela o entendimento em visão. Aqui, o rei da Pérsia é um homem; o príncipe do reino da Pérsia é um ser espiritual. A Sagrada Escritura nos indica que há dois sistemas de reino. Aos reinos da terra, as nações da terra, a elas se sobrepõe um sistema de principados. Príncipe é o nome de principados. Principado é aquela ordem de anjos citados por São Paulo, são os que regem as nações, mas são os anjos caídos. O príncipe do reino da Pérsia, na passagem do livro de Da-niel, tem a função da parte de Satanás, de influência sobre reino da Pérsia.

Todas as nações têm um principado que as aflige da parte de Satanás. Em Lucas, capítulo 4, a passagem em que Jesus é tentado no deserto. No versícu-lo quinto, diz: “O demônio levou-o em seguida a um alto monte e mostrou-lhe, num só momento, todos os reinos da terra, e disse-lhe: Dar-te-ei todo este poder e a glória desses reinos, porque me foram dados, e dou-os a quem quero.” Quer dizer, ele tem o poder e a autoridade sobre as nações do mundo. Esse poder e autoridade lhe foi entregue. É verdade, porque se não fosse verda-de, não seria uma tentação; seria uma mentira, mas não foi mentira, foi uma tentação e Jesus não contestou a coisa; simplesmente respondeu que “ao Senhor teu Deus adorarás e só a Ele servirás!” É uma tentação real. O homem, na des-tinação de Deus, deverá ser o regente desse mundo; aquele que irá dominar: o regente deste mundo. Porém, vem o

diabo e leva o homem à desobediência, e o homem perde esse domínio em favor de Satanás.

Então, retomando a passagem de Daniel: logo que nós pedimos, Deus nos ouve e nos dá as respostas. Mas, há forças que procuram interceptar a resposta de Deus.

Combatendo o malEfésios 6,10, São Paulo diz “con-

fortai-vos no Senhor e na força do seu poder.” Confortar é se fortalecer. Forta-lecei-vos no Senhor e na força de seu poder. Convoca-nos a nos revestirmos da armadura de Deus, para que possais resistir às insídias do diabo.

A nossa luta é essa, e o nosso enga-no é que nós pensamos que temos que enfrentar situações que nós vemos e sentimos. Vamos enfrentar essas situa-

A NOSSA LUTA É ESSA, E O NOSSO ENGANO É QUE NÓS PENSAMOS QUE TEMOS QUE ENFRENTAR SITUAÇÕES QUE NÓS VEMOS E SENTIMOS

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2017 • edição 471 • Jesus Vive e é o Senhor 39

Dom Cipriano Chagas, OSB, monge beneditino, fundador da Comunida-de Emanuel, escritor, pregador e um dos precursores da Renovação Carismática Católica no Brasil.

ções, porém por trás delas está um poder que não vemos. Não é uma luta contra essas situações, mas contra o poder por detrás delas.

Quando compreendemos que o que dificulta não é a situação propria-mente dita, mas o que está por detrás, provocando a situação; então lutamos contra esse poder e a nossa luta começa a produzir frutos. Nós devemos estar prontos a enfrentar estes principados, essas potestades contra os dominadores desse mundo tenebroso.

São João nos revela dois pontos im-portantes desse combate: “Sabemos que somos de Deus, e que o mundo todo jaz sob o Maligno” (1Jo 5,19).

1. Somos filhos de Deus e

2. O mundo todo jaz sob o maligno.

Satanás está dirigindo este mundo; ele influencia todos os que não são de Deus. Todos aqueles que não estão no Senhor são influenciados por ele. Todos os que não são do Senhor. Nós somos fi-lhos da Luz e não somos filhos das trevas. Estamos no mundo, mas não somos do mundo. Aquele que dirige este mundo, nos odeia terrivelmente, porque somos cabeça de ponte do Reino de Deus aqui na terra. Ele vem com toda a fúria em cima de nós, para nos destruir. Nós so-mos filhos da luz, e não filhos das trevas.

O Senhor não nos tirou do mundo, mas nós não somos mais cidadãos do mundo, mas do céu. Ele nos retirou do controle dos príncipes das trevas. Es-tamos com Deus. E, por estar com ele, estamos em luta contra eles e eles contra nós. Por isso, em todas as situações, te-mos que ver o poder que está por detrás das situações. Nossa luta não é contra a carne e nem contra o sangue, mas contra esse poder, contra os espíritos malignos que estão nos ares.

O invisível e o visívelHá uma situação em que nós temos

que ter bem presente na nossa vida de

oração, na nossa intercessão: saber que há um reino espiritual maligno, contra o qual nós lutamos; e que este reino espiritual maligno está por detrás das coisas que nós vemos das situações. É preciso entender uma coisa aí: quan-do lutamos contra as causas invisíveis, os sintomas visíveis desaparecem. Da mesma maneira, as coisas acontecem primeiro no Reino Espiritual de Deus e depois se concretizam aqui na terra (Cf. Mc 11,24; Hb 11,1).

A armadura e o combate espiritual“Fortalecei-vos no Senhor e revesti-

mos da armadura.” Quando assumimos esta armadura e nos revestimos dela para entrarmos na vida de oração, ela nos capacita para lutarmos espiritual-mente na oração, com toda sorte de súplica e orando todo tempo no espírito.

O objetivo de revestir a armadura de Deus é capacitar-nos para essa vida de oração, para essa vida de oração e inter-cessão, essa luta espiritual. Esse é o ob-jetivo da armadura de Deus. Muita gente se veste da armadura e fica tranquilo: “Bem, eu revestido da armadura, estou defendido.” Se revestir da armadura de Deus e não entrar na oração, é inútil. A armadura é para essa luta de oração.

Ao entrar nessa luta, não podemos perder de vista o fato de que nós temos autoridade. No nome de Jesus, nós te-mos autoridade contra Satanás e todo o seu reino.

Como devemos interceder?Podemos e devemos interceder por

aqueles que desconhecem seus direitos de filhos de Deus. Devemos interceder por aqueles que desconhecem seus direitos de cidadãos do céu e se confor-mam com a ordem desse mundo, com a servidão que o inimigo impôs sobre eles. Nesse caso, assumimos a autoridade sobre o inimigo para libertar aqueles irmãos: “Em nome de Jesus, quebro o poder de Satanás sobre esse irmão, para libertá-lo e para que ele venha com o conhecimento de Deus. Conhecimento de Cristo Jesus é tudo que lhe é dado por Deus.”

Intercedemos assim: “Orando todo tempo no Espírito, com toda sorte de oração de súplicas, em favor de todos os santos” (Ef 6,18). Assumimos essa armadura de Deus para orarmos uns pelos outros, por todos os irmãos. Fa-zemos essa intercessão por todos os santos, em primeiro lugar, em línguas; porque o Espírito vem com o seu poder, levantar as nossas fraquezas conosco, e Ele, com gemidos inefáveis, intercede pelos santos, segundo Deus.

Podemos também interceder com o nosso entendimento, advogando uma causa diante de Deus, apresentando a causa, justificando e lembrando a Deus que Ele prometeu fazer essas coisas. Vamos ficar em silêncio, e deixem essas coisas caírem em seus corações.

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Bazar Joyeux Nöel 2017Hotel Copacabana Palace

Dias 6 e 7 de novembroDas 14h às 21h

Entrada Franca

AgendaSEMANAL

/comunidade_emanuel @comEMa_RJ

Dom Cipriano Chagas, OSBMonge beneditino do Mosteiro de São Bento do Rio de

Janeiro, um dos precursores da Renovação Carismática

no Brasil e Presidente-fundador da Comunidade Emanuel

e da revista Jesus Vive e é o Senhor

Casa de Maria e JoséSede da Comunidade Emanuel – Rio de Janeiro

rua cortines laxe, nº 2, centro - rio de janeiro – (21) 2263-3725

ATENDIMENTO E ACONSELHAMENTOcom hora marcada | 13h às 16h

ORAÇÃO PELO PAPA FRANCISCONa capela | 15h às 16h

GRUPO DE ORAÇÃO EMANUEL19h às 20h30O grupo emanuel é um dos primeiros grupos da de oracão do rio de janeiro

ADORAÇÃO AO SANTÍSSIMONa capela | 11h às 15h

GRUPO DE ORAÇÃO DE SÃO PADRE PIONa capela | 14h às 16h30Toda terceira quarta-feira do mês

TERÇO DOS HOMENS – ON LINE – FACEBOOKNa capela | 12h30 às 13h

TARDE DE CURANa capela | 14h às 15h30 Toda primeira quinta-feira do mês

ORELHÃO ESPIRITUALNa capela | 14h às 16hATENDIMENTO E ACONSELHAMENTO – por ordem de chegada

GRUPO DE ORAÇÃO ALMOÇO COM JESUSNa capela | 12h30 às 13h30TODAS ÀS QUINTAS, EXCETO FERIADOS

MISSA COM ORAÇÃO DE CURACelebrante Dom Cipriano Chagas, osbtransmissão ao vivo pela internet – www.comunidadeemanuel.org.br12h

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