O PROJETO MUTIRÃO DE REFLORESTAMENTO E SEUS … · Já o resultado de acertos da área de floresta...
Transcript of O PROJETO MUTIRÃO DE REFLORESTAMENTO E SEUS … · Já o resultado de acertos da área de floresta...
O PROJETO MUTIRÃO DE REFLORESTAMENTO E SEUS
EFEITOS AMBIENTAIS NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO.
Aluna: Renata Fernandes Teixeira
Orientador: Bernardo Baeta Neves Strassburg
Introdução
Com o aumento populacional ligado a falta de planejamento no município do Rio
de Janeiro, a ocupação irregular nas encostas começou suceder, e ainda coberta por
densas florestas, pois a população carente pressionada pela necessidade de moradia de
baixo custo ocupa os morros irregularmente e desmata as áreas de floretas
indiscriminadamente.
Guerra em 2003, discute em seu livro sobre os processos de movimentos de massa nas
encostas, onde ele diz que:
“Dentre as várias formas e processos de movimentos de massa, destacam-se os deslizamentos
nas encostas em função da sua interferência grande e persistente com as atividades do homem,
da extrema variância de sua escala, da complexidade de causas e mecanismos, além da
variabilidade de materias envolvidos” (GUERRA, 2003:123)
A partir de então, a cidade começou a sentir as consequências desses
desmatamentos. Surgem graves problemas urbanos e ambientais, tais como:
deslizamentos, enchentes, assoreamento de rios e lagoas, danos à fauna e flora, entre
outros. [4]
Assim, o reflorestamento nessas áreas é uma medida potencial à redução da
situação de risco que estas áreas se encontravam, uma vez que a cobertura florestal
ameniza o processo erosivo da chuva. [2]
Para realizar esse trabalho de reflorestamento foi criado o Projeto Mutirão de
Reflorestamento(Projeto Mutirão), implementado no município do Rio de janeiro. O objetivo do Projeto é reflorestar áreas prioritariamente de encostas próximas a favelas
ou comunidades carentes que tenham sido ocupadas irregularmente, visando não
apenas a melhoria do quadro ambiental, mas também social destas comunidades.
O presente trabalho pretende analisar o incremento florestal de 75 obras
(áreas) de intervenção do Projeto Mutirão. Para tal, utilizou- se de ferramentas de
sensoriamento remoto para identificar a cobertura florestal em três anos diferentes:
1999, 2008 e 2013. Após a classificação calculou-se a área florestal e não florestal
para cada ano, o que levou a identificar se houve sucesso do projeto no aumento da
cobertura florestal ou não.
Metodologia
A pesquisa foi baseada na aplicação do sensoriamento remoto, sendo esta uma
tecnologia que usa imagens da superfície terrestre a partir da captação de luz e energia
refletida pela superfície, a luz captada é enviada ao sensor transformando-a em imagem,
sem que haja contato direto com o objeto. Pode-se analisar lugares sem ao menos ir a
campo para a análise de imagens.
A medição do sensoriamento remoto pode ser desde um satélite (plataforma orbital),
uma foto aérea tirada de um avião (plataforma suborbital) ou até mesmo um
instrumento de sensoriamento remoto podendo estar a poucos metros do solo. As
ferramentas utilizadas no sensoriamento remoto podem ter diferentes sensores capazes
de captar dados de diferentes faixas do espectro eletromagnético, como por exemplo o
infra vermelho. Dessa forma, pode-se captar informações não percebidas pelo olho
humano. [3]
Para esta pesquisa, foi utilizado o sensoriamento remoto, com a finalidade de
diferenciar o que é floresta e o que é campo nas áreas de intervenção de Projeto
Mutirão. Para isso, foram utilizadas 13 cenas de Ortofotos com uma resolução espacial
de 1 metro, (cenas 284B, 285A, 261E, 261F, 286A, 286B, 287A, 286C, 286D, 287C,
286E, 286F, 287E) para contemplar as 75 Obras a serem analisadas. Sendo estas
Ortofotos retiradas da Prefeitura do Município do Rio de Janeiro (ilustrado na figura 1).
Figura 1: Área das cenas utilizadas para a realização do mapeamento de cobertura a partir da classificação
supervisionada MAXVER.
Para realizar a classificação do uso do solo para as classes de floresta e campo
(área desmatada) utilizou-se o algoritmo de classificação supervisionada Maximum
Likelihood Classification. A classificação supervisionada consiste em definir amostras
de cada classe de forma a treinar o algoritmo que extrapolará tais classes para toda a
imagem. [5]
Ribeiro diz que “É o método de classificação supervisionado mais comum.
Considera a ponderação das distâncias entre médias dos níveis digitais das classes e o
pixel, utilizando parâmetros estatísticos, isto é, considerando a distribuição de
probabilidade normal para cada classe.” [5]
O método de classificação supervisionada acaba sendo útil por acelerar o
processo de classificação de toda imagem de forma mais ágil, pois é possível a partir
das cores espectrais do pixel escolher polígonos delimitados por classes e gerar a
classificação em toda a imagem automaticamente.
O mapeamento de classificação se dará em 3 momentos da área de estudo
(figura 2), primeiro a classificação a partir das Ortofotos no ano de 1999,
posteriormente no ano de 2008 e por fim no ano de 2013, já que é a imagem mais
recente que temos da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro. Logo, será gerada uma
comparação entre os anos e a análise sobre o aumento e a diminuição da área de floresta
e campo existente nos polígonos do Projeto Mutirão de Reflorestamento.
Figura 2: Limite da área de estudo com 75 Obras no Município do Rio de Janeiro.
Resultados e Discussões:
Como resultado da classificação gerou-se o mapa de cobertura da terra das áreas de
reflorestamento para os anos de 1999, 2008 e 2013. Para validar esta classificação, foi
realizada a verificação de acurácia a partir da amostragem de 120 pontos aleatórios na
imagem, sendo 60 pontos de campo e 60 de floresta (figura 3), estabelecido pela
interpretação visual do observador, para que seja comparada com a classificação.
Segundo Congalton (1991); “o esquema de amostragem pode seguir a combinação das
amostragens aleatória e sistemática a fim de proporcionar o melhor equilíbrio entre a
validade estatística e a aplicação prática.” (CONGALTON, 1991, apud SUAREZ et. al.,
2012, p. 7). Após a construção dos pontos, foi preciso produzir uma matriz de confusão
para se chegar ao resultado final da acurácia e o índice kappa. [7]
Figura 3: Mapa de pontos referenciais para a geração da acurácia e posteriormente o índice kappa.
Dessa forma, o resultado final foi de sucesso, com boa verificação de acurácia
baseado no índice Kappa, pois de acordo com Prina et. al., (2015) [4]
O coeficiente Kappa e uma das variáveis que podem ser quantificadas após
construir a matriz de confusão, sendo um índice que retrata o grau de
concordância dos dados, gerando, assim, um aspecto de confiabilidade e
precisão dos dados classificados (PERROCA e GAIDZINSKI, 2003, apud
PRINA et. al., 2015, p. 1032).
Assim, o coeficiente de concordância, baseado no índice Kappa foi de 0,86, isto é, de
excelente desempenho, como mostra a tabela (1) abaixo.
Tabela 1: Qualidade da classificação segundo intervalos do coeficiente kappa.
Fonte: Fonseca 2000, apud PRINA et. al., 2015. XVII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto.
Porém, quando se analisa a acurácia do produto a partir dos erros de emissão
(gráfico 1), pode-se perceber que na área classificada como campo, os acertos foram
de 96,6%, quer dizer, a classificação automática é excelente para classificar áreas de
campo. Já o resultado de acertos da área de floresta foi de 90%, isto é, a classificação
automática também foi boa para classificar vegetação. Por esta razão, o classificador
escolhido MAXVER teve alta precisão.
Gráfico 1- Gráfico da análise dos acertos gerados pela acurácia do produto.
86
88
90
92
94
96
98
campo floresta
Acu
ráci
a (%
)
Fundamentado na classificação supervisionada de MAXVER é verificado que
em 1999 há maior área de campo em detrimento das áreas de floresta. (figura 4).
Podendo ser observado que a área de campo foi de 61,74% e com 38,26% da área de
floresta, isto é, mais da metade da área não tem nenhum tipo de vegetação.
Figura 4: Mapa de Cobertura da Classificação Supervisionada MAXVER no ano de 1999.
Já no ano de 2008, após 9 anos de transformação da paisagem o resultado obteve
mudanças como mostra a (figura 5) abaixo. Segundo o mapeamento de classificação
supervisionada realizada, os dados obtidos mostram que a área de campo agora passou a
ser de 39,29% com 60,71% de floresta.
Figura 5: Mapa de Cobertura da Classificação Supervisionada MAXVER no ano de 2008.
Quer dizer, em 9 anos de andamento do Projeto, ocorreu uma diminuição de
22,45pp (pontos percentuais) da área de campo de 1999 para 2008, e consequentemente
um aumento de 22,45pp da área de floresta. É notável que a diferença foi quase que a
inversão dos dados de campo e floresta, já que a área de floresta quase que dobrou na
transformação dos anos. Calculado a média das 75 Obras, o resultado foi que de 1999
para 2008 a área de floresta passou de 42% para 67%, melhor dizer, a reflorestamento
estava de fato ocorrendo (gráfico 2)
Gráfico 2: Média das 75 Obras transformadas de 1999 para 2008.
Em seguida, foi realizado uma comparação do ano de 1999 e 2008 dos maiores
aumentos da área de floresta em pontos percentuais, e os que tiveram menor diminuição
da área de campo e consequentemente menor aumento de cobertura florestal. Com isso,
pode ser observado que quase todos tiveram aumento de cobertura florestal, mas
havendo apenas duas Obras com aumento da área de campo em 2008. (gráfico 3)
Já que a Obra Nossa Senhora da Penha e Guararapes foram as únicas áreas com
perda de cobertura florestal (-13,64pp e -3,86pp), podendo ser levado em conta
queimadas ou outros fatores que justifiquem tal perda. Mas, foram Cabritos, Chapecó e
Saudade os que tiveram maior aumento de vegetação, com cerca de 80pp a 67pp além
de muitas outras Obras com percentuais bem significativos.
Gráfico 3: Maiores e menores avanços de cobertura florestal.
58
42 33
67
campo floresta
Percentual 1999
Percentual 2008
+81,89 p.p. +75,11 p.p.
+67,47 p.p.
+0,09 p.p.
-3,86 p.p -13,64 p.p
CABRITOS CHAPECÓ SAUDADE MORRO DACHACRINHA
NOSSA SENHORADA PENA
GUARARAPES
Maiores e menores avanços florestais 1999 x 2008
Efetuado também o mapeamento de classificação supervisionada no ano de
2013, para que pudesse ser comparado com o resultado de 2008, passando por mais 5
anos de transformação do Projeto Mutirão. Dessa forma, em 2013 a área de campo
passou a ser de 35,81% com 64,19% de floresta (figura 6).
Figura 6: Mapa de Cobertura da Classificação Supervisionada MAXVER no ano de 2013.
Isto é, na transformação destes 5 anos de andamento do Projeto, a área de campo
de 2008 para 2013 caiu 3,48pp e posteriormente a de floresta aumentou 3,48pp. Quer
dizer, não ocorreu uma mudança maior, como nos 9 anos de 1999 para 2008. Mesmo
com uma pequena transformação e um baixo percentual de acréscimo de floresta, a área
de campo continuou diminuindo, dando lugar à vegetação. Calculado a média das 75
Obras, o percentual de floresta passou de 67% para 70% de 2008 para 2013, ou seja, um
pequeno aumento de cobertura vegetal. (gráfico 4)
Gráfico 4: Média das 75 Obras transformadas de 2008 para 2013.
Entretanto, quando analisado a diferença de 2008 para 2013 do aumento de
cobertura florestal e a sua diminuição por Obra, (gráfico 5), Chapecó, Focinho do
Cavalo e Sítio Pai João foram os que tiveram maiores perdes de floresta, decrescendo -
28,10pp, -23,30pp e -17,95pp. Além de mais algumas Obras que também tiveram
diminuição de vegetação, podendo ser decorrente de um dos motivos as queimadas, ou
outros fatores que poderão ser analisados em trabalhos futuros. Já as Obras de
Guararapes e Morro do Encontro foram os que mais aumentaram, com cerca de 40pp a
38pp, isto é, outras Obras também tiveram sua parcela no aumento de vegetação.
Gráfico 5: Maiores e menores avanços de cobertura florestal.
33
67
30
70
0
10
20
30
40
50
60
70
80
campo floresta
Percentual 2008
Percentual 2013
+43,21 p.p +38,76 p.p
+33,43 p.p
-17,95 p.p. -23,30 p.p.
-28,10 p.p.
GUARARAPES MORRO DOENCONTRO
JULIOOTONI_VILA
ALICE
SÍTIO PAI JOÃO FOCINHO DOCAVALO
CHAPECÓ
Maiores e menores avanços Florestais - 2008 x 2013
Conclusão
Após todas as transformações urbanas na paisagem do Município do Rio de
Janeiro e a criação do Projeto Mutirão de Reflorestamento com o objetivo de sanar os
problemas decorrentes dos deslizamentos de terra. Pode ser comprovado que o Projeto
Mutirão teve uma grande contribuição como política pública de reflorestamento, já que
a cobertura florestal aumentou significativamente.
Diante do exposto, a partir da metodologia proposta considerando algoritmos de
análises espaciais, o Projeto Mutirão de Reflorestamento teve eficácia para a restauração
ambiental a partir do aumento de cobertura vegetal em suas áreas delimitadas.
As transformações são percebidas dentre os 14 anos de implementação do
Projeto, segundo o mapeamento de classificação automática e seus resultados, tendo
como base os anos de 1999 e 2013 a média gerada das 75 Obras teve como
transformação florestal de 42% para 70% de seu aumento, visualizado no (gráfico 6).
Gráfico 6: Média das 75 Obras transformadas de 1999 para 2013.
Segundo o cálculo gerado em relação ao aumento e diminuição de cobertura
florestal nestes 14 anos de Projeto, as Obras de Cabritos, Morro do Encontro e Rocinha
foram os que tiveram maiores avanços de vegetação, com cerca de 75pp a 67pp, além
de muitas outras que também avançaram. Já as únicas que tiveram diminuição foram as
Obras Formiga 2 e Camarista Méier (-1,52 e -0,56). (gráfico 7)
58
42
30
70
0
10
20
30
40
50
60
70
80
campo floresta
Percentual 1999
Percentual 2013
Gráfico 7: Maiores e menores avanços de cobertura florestal.
Dentre os 3 anos mapeados, mostrou-se que o campo diminuiu em grande
proporção, a partir das áreas de cada ano é analisado que de 61,74% da área total de
campo em 1999, passou para 35,81% no ano de 2013. Ou seja, mais um gráfico para
constatar a efetividade do Projeto Mutirão de Reflorestamento e o aumento considerável
de floresta. (gráfico 8)
Gráfico 8: Evolução em percentual da área de Cobertura de Campo e Floresta nos 3 anos mapeados
(1999, 2008 e 2013)
+75,20 p.p.
+68,31 p.p. +67,84 p.p.
+0,27 p.p. -0,56 p.p. -1,52 p.p.
CABRITOS MORRO DOENCONTRO
ROCINHA ALTO CATRAMBI CAMARISTAMÉIER
FORMIGA 2
Maiores e menores avanços florestais - 1999 x 2013
61,74
39,29 35,81
38,26
60,71 64,19
1999 2008 2013
Evolução da Cobertura
campo floresta
Desta forma, a política pública de reflorestamento realizada pelo Projeto Mutirão
foi cumprida, cabendo à população conservar as áreas reflorestadas a fim de manter os
benefícios alcançados. Trazendo o transcendente da política pública apoiado na relação
dos atores envolvidos, levando conhecimento e educação ambiental pelas favelas e
comunidades.
Referências
1- GUERRA. A.J.T; CUNHA. S.B.C. Geomorfologia e meio ambiente. 4 ed. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. 372p.
2- GUERRA.A.J.T; CUNHA.S.B, Geomorfologia uma atualização de bases e conceitos.
10º ed. 474p.
3- JENSEN, John R.; EPIPHANIO, José Carlos Neves. Sensoriamento remoto do
ambiente: uma perspectiva em recursos terrestres. São José dos Campos: Parêntese
Editora, 2009. P. 585
4- PRINA, B. Z., & TRENTIN, R. GMC: Geração de Matriz de Confusão a partir de
uma classificação digital de imagem do ArcGIS®. Ano, 2015
5- RIBEIRO, S.R.A; CENTENO, J.S, Classificação do uso do solo utilizando redes
neurais e o algoritmo MAXVER. Curitiba- PR, Brasil.
6- SALGADO Silvia. Mutirão de Reflorestamento. 1 ed. São Paulo: FGV. 1998, p. 176.
7- SUAREZ, A. F., & CANDEIAS, A. L. B. Avaliação de Acurácia da Classificação de
Dados de Sensoriamento Remoto para o Município de Maragogipe. Ano, 2012