O Problema Religioso e Sua Relação Com a Estética

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 O Problema Religioso e sua Relação com a Estética B. Mondin defende que, de todos os problemas apresentados na obra Introdução à flosofa:  problemas, sistemas, autores, obras , o mais difícil de lidar é o problema religioso. Isto porque os outros possuem um objeto bem denido e ninguém duvi da da sua existência. a reli gi !o, cujo objeto é "eus, até sua existência é questionada. #ortanto, o autor tem di culdades em formular uma conclus!o sa ti sfat$ria sobre o te ma, rel egando o sustento do fen%meno religioso apenas ao campo da fé. &ambém as perguntas no nal do artigo O Problema Religi oso poucas respostas podem ser encontradas baseando'se somente no que foi exposto pelo autor( n!o se ac)am ali contidas as *inco +ias de anto &om-s, nem as provas da existência de "eus oferecidas por rist$teles, anto gostin)o, nselmo, "escartes, /eibnit0 ou a classi ca 1!o de 2ant sobre as mesmas, mas )- as perguntas referentes a elas no nal, como se as respost as pudessem ser encontradas no artigo. #assadas essas considera13es críticas, a pr ele1!o acerca do problema religioso destaca as principais interpreta13es los$cas da r eligi!o, seus contestadores e seus defensores. proposta de deni1!o de religião de . /ang, assumida por Mondin, é o conjunto de co nhecimentos, õe s e es tr ut ur as co m as qu ai s o ho mem expressa reconhecimento, dependência e veneração em relação ao sagrado, compreendendo dois elementos basilares( o sujeito, que é a atitude que o )omem adota quando se expressa religiosamente e objeto, aquilo que caracteri0a o ser agrado. "o lado dos críticos e opositores da religi!o o argumento é o mesmo, s$ muda a forma( a de que a religi!o é uma inven1!o do )omem. &endo a religi!o como inven1!o dos fracos a partir de um ressentimento, est- iet0s c)e4 *ar nap deve a inv en1 !o a abusos linguísticos4 *omte associa 5 ignor6ncia4 para 7reud, a sublima1!o dos instintos em rela1!o 5s experiências com os pais se projeta em "eus. inda os discípulos de 8egel 97euerbac) e Marx: tomaram uma

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Texto baseado nos capítulos "O Problema Religioso" e "O Problema Estético" do livro Introdução à Filosofia, de Battista Mondin. O objetivo é traçar um paralelo entre ambos os problemas abordados pelo autor.

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O Problema Religioso e sua Relao com a EstticaB. Mondin defende que, de todos os problemas apresentados na obra Introduo filosofia: problemas, sistemas, autores, obras, o mais difcil de lidar o problema religioso. Isto porque os outros possuem um objeto bem definido e ningum duvida da sua existncia. Na religio, cujo objeto Deus, at sua existncia questionada. Portanto, o autor tem dificuldades em formular uma concluso satisfatria sobre o tema, relegando o sustento do fenmeno religioso apenas ao campo da f. Tambm as perguntas no final do artigo O Problema Religioso poucas respostas podem ser encontradas baseando-se somente no que foi exposto pelo autor: no se acham ali contidas as Cinco Vias de Santo Toms, nem as provas da existncia de Deus oferecidas por Aristteles, Santo Agostinho, Anselmo, Descartes, Leibnitz ou a classificao de Kant sobre as mesmas, mas h as perguntas referentes a elas no final, como se as respostas pudessem ser encontradas no artigo.Passadas essas consideraes crticas, a preleo acerca do problema religioso destaca as principais interpretaes filosficas da religio, seus contestadores e seus defensores. A proposta de definio de religio de A. Lang, assumida por Mondin, o conjunto de conhecimentos, aes e estruturas com as quais o homem expressa reconhecimento, dependncia e venerao em relao ao sagrado, compreendendo dois elementos basilares: o sujeito, que a atitude que o homem adota quando se expressa religiosamente e objeto, aquilo que caracteriza o ser Sagrado.Do lado dos crticos e opositores da religio o argumento o mesmo, s muda a forma: a de que a religio uma inveno do homem. Tendo a religio como inveno dos fracos a partir de um ressentimento, est Nietzsche; Carnap deve a inveno a abusos lingusticos; Comte associa ignorncia; para Freud, a sublimao dos instintos em relao s experincias com os pais se projeta em Deus. Ainda os discpulos de Hegel (Feuerbach e Marx) tomaram uma vereda oposta ao mestre. Feuerbach sustenta que Deus s uma ideia para o homem se realizar plenamente e Marx parte da prepotncia do homem como causa da inveno da ideia de Deus. Assim como a religio uma inveno da sociedade capitalista, o homem inventou Deus para justificar sua explorao sobre as classes oprimidas, partindo dessa concepo a seguinte assertiva: a religio pio para o povo.Do lado dos defensores da religio, esto Hegel, para quem a religio um momento lgico, natural da evoluo do Esprito Absoluto oriundo da intuio; Keirkegaard, que coloca a religio na esfera da existncia da vida por intermdio da f; Bergson, que examina a mstica grega, a crist e o profetismo hebreu, colocando o fenmeno religioso como a manifestao humana mais elevada; Maurice Blondel, assumindo o valor objetivo da religio, funda a ao do homem rumo ao infinito como elemento reconhecedor de Deus; William James, cujo fundamento da religio se d atravs da f e suas experincias particulares, somando a base mstica de Bergson e a terica de Blondel; e por fim os alemes, cada qual com seu sistema (Scheler, Rudolf Otto, Schmidt, Guardini, Adam, Paul Tillich, Dessauer, Lang etc.Importante lembrar que Mondin apresenta algumas diferenciaes entre a religio e, entre outros campos, a arte. Ora, se h diferenas, significa que tambm h pontos indissociveis. aqui que entra a Esttica. Se h uma rea que a religio privilegiou foi mesmo a esttica. Ambas esto unidas desde a pr-histria, com o diferencial que a fonte de toda a manifestao artstica a religio. O homem pr-histrico acreditava que, fazendo pinturas e desenhos no interior das cavernas, conseguiria manter a abundncia da caa sempre por perto, pois o esprito dos animais era atrado pelas representaes pictricas. Os dolmens eram construes arquitetnicas em que se circulava com pedras grandes um cadver, com outra cobrindo o corpo, manifestando um carter sacro j nessas construes primitivas claramente funerrias. Assim, as crenas e os ritos cava vez mais foram acompanhando o trajeto do homem, tendo as linguagens artsticas como meio de manifestao esttica privilegiada.Nas pirmides do antigo Egito, percebe-se j um sistema religioso bem coeso e organizado, com inscries e desenhos nas paredes de deuses hbridos, representados por figuras humanas esguias com cabeas de animais, como guia, cobra, chacal. Na Grcia o zoomorfismo foi abandonado por um antropomorfismo que, como o prprio nome diz, era o homem que se colocava como modelo para as representaes escultricas dos deuses. Independente da forma que se dava arte, o fato que a esttica sempre se serviu das crenas, dos ritos, da religio e da teologia de cada perodo para se consolidar. Podemos dizer que a arte foi o meio mais eficaz que o ser humano se serviu para propagar sua religio, independente se a crena era em um nico Deus ou vrios.Invariavelmente, o conceito que mais sustentou a esttica foi o do belo, que elevava as pessoas a Deus, deixando assim a esttica e a religio intrincadamente interligadas, desde a Grcia Clssica at meados do sculo XVIII. A partir da arte crist comea um despojamento de toda "humanidade" e se comea a professar em forma de arte tudo o que os cristos acreditavam, principalmente nas pinturas primitivas das catacumbas, que era o lugar onde os cristos primitivos perseguidos, podiam se reunirem para celebrar aEucaristiarenovando omemorialda ltima Ceia de Jesus. Os temas mais frequentes eram a Virgem Maria, Jesus, os apstolos, smbolos cristos como po, peixe, trigo, uvas, pomba, ovelhas, etc., tudo porque no havia mais a exaltao do ser humano, mas do Deus que se fez homem, com sua divindade e humanidade, passando ento (Jesus) a ser o centro de toda a arte.Nos perodos Bizantino, Romnico e Gtico, somente a forma visual (picturalmente falando) tinham alteraes visuais, pois a temtica no mudava, haja visto que Jesus nunca deixou de ser o centro na vida dos cristos.No Renascimento que a arte comeou a sofrer alteraes mais visveis, incorporando o esprito da poca de descobrimento, de independncia, renovao, de busca, pesquisa e resgate das formas clssicas da arte grega e romana. Os renascentistas se sentiam gregos e romanosrenascidos(da o nomeRenascena), e conseguiram trazer tona toda a cincia, a arte, a filosofia e tudo de bom que esses perodos anteriores tinham produzido. Portanto, o que era considerado belo era o que tinha vnculo esttico com o Classicismo.No Barroco, a tenso entre claro e escuro, o solo do instrumento musical em contraste com a resposta da orquestra e a contraposio do fundo negro com as figuras humanas iluminadas deram toda uma identidade artstica ao Barroco, que esteticamente, era o que podia se considerar "o belo" em voga. E isso refletia o que historicamente estava acontecendo: a resposta da Igreja Catlica frente rebelio protestante.NoRococ, no havia mais preocupaes, a sociedade tinha se estabelecido economicamente e havia uma alegria, uma "leveza" da vida cotidiana. Essa despreocupao se refletiu tambm na arte, onde a religio deixou de ser o foco das obras de arte, dando lugar s paisagens com muitas rvores, o cu azul brilhante, as roupas femininas leves, cores pastis e temas frvolos predominavam as pinturas. Na msica, alguns instrumentos comearam a ganhar destaque, como a flauta, cujas melodias davam um tom mais alegre. O belo portanto, se refletia nesses moldescoletivamente, no havia quem achasse outra forma de expresso artstica mais "bela", pois o costume da poca e a evoluo da cultura mudaram objetivamente o juzo de gosto da sociedade em voga. Depois vieram os movimentos Neoclssico, Romantismo, Realismo, Impressionismo, Pontilhismo, etc., em que notadamente tiveram seus cnones artsticos padronizados, como tambm tiveram outros perodos da histria da arte. Com o advento do Modernismo, mais precisamente na pessoa de Eduard Manet, a esttica se afastou dos temas religiosos tendo, na arte contempornea, a completa ruptura entre esttica e religio.